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Sequência  1.

Fernando Pessoa Outros (Inter)Textos (com tópicos de exploração) 315

manual p. 31

Apócrifo1 pessoano
O eu sentir quando penso
e pensar enquanto sinto
origina um labirinto
onde me perco e convenço
5 de que tudo é indistinto,

do que o mundo se organiza


desorganizadamente
nos recônditos da mente
como uma ideia imprecisa
10 que quando se pensa, sente

e quando se sente, pensa,


numa confusão total,
num processo irracional
em que se esfuma a diferença
15 entre o que é ou não real.

Dos meandros disso tudo


nasce apenas um desejo:
distinguir o que não vejo
e é talvez o conteúdo
20 deste infinito bocejo

a caminho não sei de onde,


à espera não sei de quê.
Quem me ouve? Quem me vê?
A vida não me responde
25 e afinal ninguém me lê.

AMARAL, Fernando Pinto do, 2000. “Uma glosa, um apócrifo e uma cantilena”.
In Poesia Reunida 1990-2000. Lisboa: Dom Quixote (pp. 217-218)

1. não autêntica ou cuja veracidade não foi provada.

Tópicos de exploração do texto Pág. 31


OEXP12 DP © Porto Editora

Associação temática à poesia de Fernando Pessoa ortónimo do manual

• Identificação e confirmação com versos exemplificativos dos temas pessoanos explorados no poema,
em particular o do fingimento artístico.
fotocopiável

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