Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sou grato por todas os professores e professoras que participaram do meu processo de
desenvolvimento enquanto aluno. Do ensino básico ao superior, devo muito a esta classe
de pessoas que se dedica ao ensino e pesquisa. Em especial, ao Prof. Dr. Rafael Barostichi
que, num ano conturbado, pôde contribuir com sua orientação nesta minha etapa de
formação. Simultaneamente, agradeço as pessoas que lutam por um ensino crı́tico e de
qualidade para todos. Assim como agradeço os trabalhadores da UFSCar.
Agradeço e admiro minha mãe Rita Helena Correia, meu pai André Luis Chavari,
minha avó Ângela Salvi Chavari, meu avô José Nicola Chavari (Belo) e todos os familiares
que me permitiram o privilégio do ensino superior. Muito obrigado aos amigues e colegas
feitos pelo caminho, vocês foram fundamentais para o desenvolvimento da pessoa que me
tornei, amo vocês demais. Em particular, sinto imensa gratidão e admiração por minha
companheira de vida Maria Eugênia (Magê), que esteve presente no perı́odo de confecção
deste trabalho.
Este trabalho tem por objetivo principal apresentar uma versão do teorema de Stokes em
variedades, evidenciando o fato de que este resultado generaliza um dos mais importantes
teoremas de toda a Matemática, o chamado teorema fundamental do cálculo.
vii
Sumário
Introdução xi
3 Formas Diferenciais 37
3.1 Álgebra multilinear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2 Produto exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3 k-formas diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.4 Derivada exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5 O teorema de Stokes 67
A Partições da Unidade 75
A.1 Funções “bump” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
A.2 Existência de uma Partição da Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
B Definições prévias 81
B.1 Topologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
B.2 Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
B.3 Álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
B.3.1 Permutações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
ix
Lista de Figuras
Introdução
Por ambientes gerais, fazemos referência às variedades. Objetos estes que possuem
a propriedade de localmente se comportarem como Rn , mas não globalmente. Retas,
planos, cilindros e esferas são exemplos de variedades. Por sua vez, retas e planos são
globalmente euclidianos, mas o cilindro e a esfera não. Pense na cartografia dos mapas
da terra: podemos projetar as coordenadas da terra de diversas maneiras. Em particular,
quando projetamos a terra (esfera) no plano e no cilindro, obtemos dois mapas da terra
diferentes. E aqui reside a essência das variedades, usamos estes mapas para descrever
objetos definidos topologicamente. Curvas, planos, bolas, discos e muitos outros objetos
geométricos são variedades. O gráfico da função f (x) = |x| apesar de ser uma curva,
não é uma variedade suave pois apresenta um bico, mas por outro lado, é uma variedade
topológica. As variedades suaves serão o objeto de estudo durante o texto. Tomamos o
essencial deste assunto e trabalhamos maneiras de fazer cálculo nestes espaços.
existem elementos de naturezas distintas. O termo uv]ba = uv(b) − uv(a) diz respeito a
Rb Rb
um valor sobre um conjunto de dois pontos. E as integrais a udv e a vdu tratam de
valores sobre o intervalo [a, b]. Rearranjando para o mesmo lado os elementos de mesma
natureza e usando a linearidade da integral obtemos
Z b b
u · dv + v · du = u · v .
a a
Mas como u(x) e v(x) são funções que dependem de uma variável real x e du = du/dx e
dv = dv/dx são as derivadas, usando a regra do produto obtemos que d(u·v) = u·dv+v·du.
Podemos escrever então Z b b
d(u · v) = u · v .
a a
Capı́tulo 1
Observação 1.2. Caso X possua várias componentes conexas, é possı́vel que cada compo-
nente seja localmente euclidiana mas com homeomorfismos em Rm com m e n distintos.
Se X é conexo, a dimensão n é necessariamente constante e não varia de ponto pra
ponto. Este conceito de dimensão faz sentido para espaços localmente euclidianos, mas
não intrinsecamente para um espaço topológico.
Exemplo 1.4. O espaço Rn com a topologia induzida pela norma é Hausdorff, possui
base enumerável e é um espaço globalmente euclidiano, pois basta tomar o homeomorfismo
ϕ como sendo a identidade.
2 1. Introdução às Variedades Diferenciáveis
é Hausdorff e possui base enumerável por ser subconjunto de Rm+n . Também é localmente
euclidiano pois tomamos o homeomorfismo como sendo a projeção π : G(f ) → U , cuja
inversa π −1 : U → G(f ) é dada por x 7→ (x, f (x)). Portanto, uma variedade topológica
de dimensão m.
Exemplo 1.6. Seja n ≥ 1. A esfera Sn possui base enumerável e é Hausdorff por ser um
subconjunto de Rn+1 . Sejam N = (0, ..., 0, 1) e S = (0, ..., 0, −1) os polos norte e sul de
Sn . Considere Rn identificado com o hiperplano xn+1 = 0 de Rn+1 e os conjuntos UN =
Sn − {N } e US = Sn − {S}. Via projeção estereográfica, construı́mos homeomorfismos
ϕN : UN → Rn e ϕS : US → Rn dados por
x1 xn
ϕN (x1 , . . . , xn , xn+1 ) = ,...,
xn+1 − 1 xn+1 − 1
x1 xn
ϕS (x1 , . . . , xn , xn+1 ) = ,...,
xn+1 + 1 xn+1 + 1
kyk2 − 1
−1 2y1 2yn
ϕN (y1 , . . . , yn , 0) = ,..., ,
kyk2 + 1 kyk2 + 1 kyk2 + 1
1 − kyk2
−1 2y1 2yn
ϕS (y1 , . . . , yn , 0) = ,..., , .
kyk2 + 1 kyk2 + 1 kyk2 + 1
Vamos utilizar as cartas para colocar estrutura nos espaços. Mas temos de fazer
isso cuidadosamente, de modo que as construções e conceitos não dependam da carta
escolhida. Precisamos que o homeomorfismo ϕ : U → ϕ(U ) seja diferenciável. Por meio
das cartas, podemos ir da variedade para Rn , fazer as contas e voltar com o resultado
para a variedade. Mas como definir diferenciabilidade de uma função definida em espaço
topológico? Por enquanto, uma carta não nos permite falar deste conceito.
Considere então, duas cartas (U, ϕ) e (V, ψ) em um espaço localmente euclidiano X.
Como U ∩ V é um aberto de X e ϕ é um homeomorfismo, a imagem ϕ(U ∩ V ) será
um aberto de Rn , assim como ψ(U ∩ V ). Sobre abertos euclidianos podemos falar de
diferenciabilidade.
Definição 1.7. Dizemos que as cartas (U, ϕU ) e (V, ϕV ) são compatı́veis, se as funções
ϕU ◦ ϕ−1
V : ϕV (U ∩ V ) → ϕU (U ∩ V ) e ϕV ◦ ϕ−1
U : ϕU (U ∩ V ) → ϕV (U ∩ V )
são de classe C ∞ . Estas funções são chamadas de funções de transição entre as cartas.
1. Introdução às Variedades Diferenciáveis 3
Apesar da compatibilidade entre cartas ser reflexiva e simétrica, ela não é transitiva.
De fato, suponha que a carta (U, ϕU ) seja compatı́vel com a carta (V, ϕV ) e que a carta
(V, ϕV ) seja compatı́vel com a carta (W, ϕW ). Então a composição
Lema 1.10. Seja {(Uα , ϕα )}α um atlas em um espaço localmente euclidiano. Se duas
cartas (V, φ) e (W, ψ) são compatı́veis com o atlas {(Uα , ϕα )}α então (V, φ) é compatı́vel
com (W, ψ).
Poderı́amos definir nosso objeto de estudo com sendo uma variedade topológica com
um atlas compatı́vel, mas isto não seria suficiente. Dizemos que um atlas A é um atlas
maximal se não está contido em nenhum atlas maior, ou seja, se A0 é outro atlas que
contém A, então A0 = A.
Exibir um atlas maximal é uma tarefa complicada. Sempre que tivermos um atlas,
podemos gerar seu atlas maximal como segue.
Demonstração. Adicione ao atlas A todas as cartas (Vi , φi ) que são compatı́veis com A.
Pelo lema anterior, elas são compatı́veis entre si. Logo a coleção A0 que contém as cartas
de A e as cartas (Vi , φi ) também forma um atlas. Qualquer carta compatı́vel com o novo
atlas é compatı́vel com o atlas original, e por construção pertence ao novo atlas. Portanto
o novo atlas A0 é maximal. Se C é outro atlas maximal contendo A, então todas as cartas
em C são compatı́veis com A e por construção pertencem à A0 . Logo C ⊂ A0 . Como estes
dois atlas são maximais, C = A0 . Segue que o atlas maximal contendo A é único.
Com este resultado, basta exibir um atlas para garantir a existência de um atlas
maximal. Mas isto não significa que exista apenas um atlas maximal para o espaço, mas
sim que existe um único atlas maximal que contém um atlas dado.
Observação 1.13. Temos de verificar que a dimensão da variedade está bem definida.
Isto significa provar que se M m e N n são variedades diferenciáveis e f : M m → N n é
um difeomorfismo, então m = n. Este fato será provado adiante com a roupagem da
proposição 2.14.
Quando em um contexto estiver subentendido, chamamos uma variedade diferenciável
apenas de variedade. Por uma carta (U, ϕ) em p estamos nos referindo à uma carta na
estrutura diferenciável de M tal que p está em U .
Exemplo 1.15. Qualquer aberto V de uma variedade M é também uma variedade, pois
se {(Uα , ϕ)} é um atlas para M então {(Uα ∩ V, ϕα Uα ∩V )} é um atlas para V .
Exemplo 1.16. Todo espaço vetorial V de dimensão finita n possui uma estrutura natural
de variedade diferenciável. Se {ei } é uma base para V , os elementos da base dual {ri } à
P
base {ei } são as funções coordenadas de uma carta global em V . Ou seja, se v = vi ei ,
temos um homeomorfismo ϕ : V → Rn dado por
que independe da escolha da base. De fato, seja {ξi } outra base para V . A mudança
P
de coordenadas entre estas duas bases é dada por vj = aij ξj e pode também ser
pensada como uma matriz constante não-singular. Isto significa que se considerarmos o
homeomorfismo ϕ relativo as duas bases, obtemos uma função de transição constante e
C ∞ entre estas duas cartas. Portanto com esta carta global, a estrutura diferenciável de
V é dada como a única estrutura diferenciável que contém o atlas {(V, ϕ)}.
1. Introdução às Variedades Diferenciáveis 5
Exemplo 1.18. A esfera Sn é um espaço localmente euclidiano que possui cartas (UN , ϕN )
e (US , ϕS ). Para mostrar a compatibilidade das cartas, note que ϕN (UN ∩US ) = Rn −{0} =
ϕS (UN ∩ US ). As funções de transição
x
ϕN ◦ ϕ−1
S (x1 , . . . , xn , 0) = = ϕS ◦ ϕ−1
N (x1 , . . . , xn , 0)
kxk
são iguais e C ∞ . Portanto A = {(UN , ϕN ), (US , ϕS )} é um atlas para Sn . Então tomamos
a estrutura diferenciável de Sn como sendo o atlas maximal que contém o atlas A.
2
onde A = (aij ), se torna uma função contı́nua em Rn por ser uma função polinomial.
Segue que GL(n, R) = det−1 (R−{0}) é imagem inversa de um aberto por função contı́nua,
portanto sua estrutura diferenciável é dada por ser um aberto do espaço vetorial Mn×n (R).
A = {(Uα × Vβ , ϕα × ψβ )}
−1
(ϕα0 × ψβ 0 ) ◦ (ϕα × ψβ )−1 (u, v) = ϕα0 × ψβ 0 (ϕ−1
α (u), ψβ (v))
−1
= (ϕα0 (ϕ−1
α (u)), ψβ 0 (ψβ (v)))
6 1. Introdução às Variedades Diferenciáveis
é uma função C ∞ pois suas coordenadas o são. E o mesmo segue para (ϕα × ψβ ) ◦
(ϕα0 × ψβ 0 )−1 . Portanto M × N se torna uma variedade de dimensão m + n, com estrutura
diferenciável obtida pelo atlas maximal que contém o atlas A.
ψ ◦ f ◦ ϕ−1 : ϕ(U ∩ V ) → Rn
seja diferenciável em ϕ(p). A função f é dita ser diferenciável, se é diferenciável para todo
ponto em M .
Observação 1.22. Assumimos que f contı́nua para assegurar que f −1 (V ) seja um aberto
de M . Além disso, estamos considerando que f −1 (V ) esteja contido em U para evi-
tar restrições. Como estamos trabalhando em um espaço localmente euclidiano, sempre
conseguimos um aberto menor propriamente contido em U ∩ f −1 (V ).
O que acontece com as outras cartas em p? Mostraremos agora que a definição de
função diferenciável entre variedades independe da escolha das cartas.
Demonstração. Por hipótese, existem cartas (Uα , ϕα ) e (Vβ , ψβ ) sobre p e f (p), respec-
tivamente, tal que ψβ ◦ f ◦ ϕ−1 α é diferenciável em f (p). As cartas (U, ϕ) e (V, ψ) são
compatı́veis com as cartas (Uα , ϕα ) e (Vβ , ψβ ), respectivamente. Sendo assim, ϕα ◦ ϕ−1 e
ψ ◦ ψβ−1 são diferenciáveis. Portanto,
Além de nos dizer o que acontece com as outras cartas em M , o seguinte resultado
nos fornece um critério para verificar a diferenciabilidade de funções entre variedades.
1.1. Funções diferenciáveis entre variedades 7
(ii) Existem atlas A e A0 para M e N , respectivamente, tais que para toda carta (U, ϕ)
em A e para toda carta (V, ψ) em A0 a função
ψ ◦ f ◦ ϕ−1 : ϕ(U ∩ f −1 (V )) → Rn
é diferenciável.
(iii) Para toda carta (U, ϕ) em M e para toda carta (V, ψ) em N a função
ψ ◦ f ◦ ϕ−1 : ϕ(U ∩ f −1 (V )) → Rn
é diferenciável.
Demonstração. (i) =⇒ (iii) : Suponha que (U, ϕ) e (V, ψ) sejam cartas para M e N ,
respectivamente, tais que f −1 (V ) ∩ U 6= ∅. Seja p ∈ f −1 (V ) ∩ U . Então (U, ϕ) é uma
carta sobre p e (V, ψ) é uma carta sobre f (p). Por hipótese, f é diferenciável em p, logo
ψ ◦ f ◦ ϕ−1 é diferenciável em ϕ(p). Como p é arbitrário em f −1 (V ) ∩ U , ϕ(p) é arbitrário
em ϕ(U ∩ f −1 (V )). Portanto ψ ◦ f ◦ ϕ−1 é diferenciável.
(ii) =⇒ (i) : Seja p um ponto em M , (U, ϕ) uma carta sobre p em A e (V, ψ) uma
carta sobre f (p) em A0 . Por hipótese, ψ ◦ f ◦ ϕ−1 : ϕ(U ∩ f −1 (V )) → Rn é diferenciável
em ϕ(p). Logo, por definição, f : M → N é diferenciável em p. Como p é arbitrário, f é
diferenciável.
1. A função f : M → N é diferenciável.
2. Existe um atlas em N tal que para toda carta (V, y1 , . . . , yn ) no atlas, as funções
componentes yi ◦ f : f −1 (V ) → R em relação a carta (V, y) são diferenciáveis.
Demonstração. Sejam (U, ϕ),(V, ψ) e (W, φ) cartas para M , N e P nesta ordem. Note
que
φ ◦ (g ◦ f ) ◦ ϕ−1 = (φ ◦ g ◦ ψ −1 ) ◦ (ψ ◦ f ◦ ϕ−1 ).
Proposição 1.27. Com auxı́lio das proposições anteriores, pode ser mostrado que se
f, g : M → R são funções diferenciáveis, então a soma f + g e a multiplicação f · g são
funções diferenciáveis de M em R.
que leva (ϕ(p), ψ(q)) em ϕ(p), é diferenciável em (ϕ(p), ψ(q)) pois é uma função coorde-
nada. Como (p, q) é arbitrário em M × N , temos que π1 é diferenciável e o mesmo segue
para π2 .
no primeiro e segundo fator, dadas por ip (n) = (p, n) e iq (m) = (m, q) são diferenciáveis.
Observe que (πi ◦ip )(n) = p é uma função constante e (π2 ◦ip )(n) = n é a função identidade
em N . Como ambas são diferenciáveis, pelo exemplo anterior, ip é diferenciável. E o
mesmo segue para iq .
Sendo assim, se existe um difeomorfismo entre duas variedades, podemos pensar que
estas são a mesma variedade. De acordo com as próximas duas proposições, as funções
coordenadas são difeomorfismos, e analogamente, todo difeomorfismo entre um aberto de
uma variedade e um aberto de Rn pode servir como função coordenada.
1.2. Derivadas parciais 9
id ◦ ϕ ◦ ϕ−1 e ϕ ◦ ϕ−1 ◦ id
∂(f ◦ x−1 )
∂f ∂f
(p) = = .
∂xi ∂xi p ∂ri x(p)
∂f ∂(f ◦ x−1 )
Quando p varia em M , podemos escrever = ◦ x como uma igualdade
∂xi ∂ri
entre as funções.
10 1. Introdução às Variedades Diferenciáveis
Proposição 1.35. Seja (U, x) uma carta em uma variedade. Então temos a igualdade
entre funções
∂xi
= δij .
∂xj
∂(xi ◦ x−1 )
∂xi
=
∂xj p ∂rj
x(p)
−1
∂(ri ◦ x ◦ x )
=
∂rj
x(p)
∂ri
= = δij .
∂rj x(p)
fi = yi ◦ f = (ri ◦ y) ◦ f : U → R
sobre a carta (V, y). Definimos a matriz Jacobiana da função f em p relativa às cartas
(U, x) e (V, y) como sendo a matriz
∂fi
.
∂xj
Se M e N possuem a mesma dimensão, o determinante jacobiano det[∂fi /∂xj ] de f em
relação às cartas (U, x) e (V, y) será simplesmente denotado por J(f ).
Exemplo 1.37. Sejam (U, x) e (V, y) cartas em uma variedade M tais que U ∩ V é não
vazio. Seja p um ponto em U ∩ V . Por definição temos que
isto é, a matriz jacobiana da função de transição y ◦ x−1 : x(U ∩ V ) → y(U ∩ V ) em x(p) é
a matriz [∂yi /∂xj ]. Similarmente, a matriz jacobiana de x ◦ y −1 em y(U ∩ V ) é [∂xi /∂yj ].
1.3 Quocientes
Outra maneira de obter variedades diferenciáveis, é criar identificações bem comportadas.
A construção do quociente de um espaço topológico X é delicada e requer tratamento
individual. Na referência [6] encontramos a noção de topologia quociente com todas suas
devidas particularidades. Tratamos aqui, apenas as ideias principais contidas em [1] para
fluir com o texto.
Seja ∼ é uma relação de equivalência em X. O quociente X∼ denota a partição de
todas as classes de equivalência desta relação, e é chamado de quociente de X por ∼. Se
X é um espaço topológico, existe uma maneira de definir uma topologia em X∼ , de tal
forma que a projeção
π : X → X∼
que leva x na sua classe de equivalência [x] seja contı́nua. E fazemos isto como segue.
De fato, o conjunto vazio e o quociente são abertos. Uniões arbitrárias de abertos são
conjuntos abertos, pois
π −1
S S −1
Uα = π (Uα )
e como cada Uα é aberto em X∼ , os conjuntos π −1 (Uα ) são abertos em X, e portanto
a união arbitrária destes é aberta. O mesmo acontece com a interseção finita de abertos,
pois como
π −1
T T −1
Ui = π (Ui )
e cada π −1 (Ui ) é aberto em X, interseções finitas destes também. Esta topologia em X∼
é chamada de topologia quociente. Com esta topologia, a projeção π é automaticamente
contı́nua.
Suponhamos f : X → Y uma aplicação constante em cada classe de equivalência X
da relação ∼ . Então f induz uma função f : X∼ → Y definida por f ([x]) = f (x). A
próxima proposição nos dá um critério para saber quando uma função definida em um
espaço quociente é contı́nua.
Proposição 1.41. A função f é contı́nua se, e somente se, a função f é continua.
π|−1
U : π(U ) → U
ψ : R2 /Z2 −→ S1 × S1
que pega uma classe de equivalência [x, y] ∈ R2 /Z2 e leva no par (e2πix , e2πiy ) ∈ S1 × S1 .
Podemos mostrar que de fato ψ está bem definida e é um difeomorfismo entre variedades.
Para definir novas cartas em T2 podemos usar ψ e a estrutura diferenciável já obtida no
produto S1 × S1 e induzir em R2 /Z2 um atlas a partir do atlas de S1 × S1 . Isto é, se
{(Uα , ϕα )} é um atlas para S1 × S1 , então {(ψ −1 (Uα ), ϕα ◦ ψ)} é um atlas para R2 /Z2 . É
comum que na literatura se encontre a definição do toro T2 como sendo o produto S1 × S1 .
Naturalmente podemos generalizar esta construção para obter o toro Tn de dimensão n.
14 1. Introdução às Variedades Diferenciáveis
Exemplo 1.44. O espaço projetivo real RPn = Rn+1 ∗ ∼ é a princı́pio o quociente dos
n+1
vetores não nulos em R pela relação de equivalência
Em outras palavras, este é o conjunto de todas as retas de Rn+1 que passam pela origem.
Note também que toda reta de Rn+1 que toca a origem intersecta a esfera Sn em um par
de pontos antipodais. Ao restringir a relação para a esfera com a topologia induzida de
Rn+1 , RPn também pode ser pensado como o quociente de Sn pela relação de equivalência
que identifica x com o antipodal −x.
Para definir um atlas em RPn façamos por simplicidade o caso n = 2. Considere
Ui = {[x1 , x2 , x3 ] ∈ RPn : xi 6= 0} para i = 1, 2, 3. De fato {Ui } é uma cobertura aberta
para RP2 , pois cada pré-imagem
que estão bem definidas pois se [y1 , y2 , y3 ] é também um representante para [x1 , x2 , x3 ]
y2 y3 λx2 λx3 x2 x3
ϕ1 [y1 , y2 , y3 ] = , = , = , = ϕ1 [x1 , x2 , x3 ]
y1 y1 λx1 λx1 x1 x1
que é contı́nua. Portanto temos cartas (Ui , ϕi ) que tornam RP2 em um espaço localmente
euclidiano de dimensão 2. Precisamos mostrar que estas cartas são compatı́veis. Considere
a interseção U1 ∩ U2 . Então
1 x2
(ϕ2 ◦ ϕ−1
1 )(x1 , x2 ) = ϕ2 ([1, x1 , x2 ]) = ,
x1 x1
Capı́tulo 2
Uma outra maneira de dar esta definição, que será usada aqui, é considerar um vetor
tangente como uma derivação em um ponto. Veremos que esta caracterização se generaliza
naturalmente e o melhor de tudo: não depende de coordenadas.
16 2. Fibrados Tangente e Cotangente
Fixando p em U , podemos considerar o vetor v como um operador que age sobre as funções
diferenciáveis. Com uma mudança de notação, escrevemos
vp (f ) = Dfp (v)
(p, v) 7→ vp : F(U ) → R
de um vetor tangente com uma derivação em p da álgebra F(U ). Este será o momento
de usar o óculos da álgebra para falar de vetores tangentes.
2.1. Germes de funções 17
das derivações lineares em um ponto p ∈ Rn . Note que as derivadas parciais ∂/∂ri |p são
derivações em p ∈ Rn .
Lema 2.4. Se c denota o germe de uma função constante igual à c em uma vizinhança
de um ponto p em uma variedade M , então D(c) = 0 para toda derivação D em p.
Demonstração. Observe que D(c) = c · D(1) pela linearidade. Como D é uma derivação
em p,
D(1) = D(1 · 1) = D(1) · 1 + 1 · D(1) = 2 · D(1)
e portanto D(1) = 0.
(p, v) 7→ vp : Fp (Rn )
Segue que v = 0 e portanto o núcleo ker(vp ) = {0}, ou seja, vp é injetora. Para a segunda
parte, seja D uma derivação em p ∈ Rn e f ∈ Fp (Rn ). Tome uma vizinhança V de p e
uma bola aberta B(p, ε) contida em V . Como as bolas abertas possuem formato estrela,
podemos aplicar o teorema B.4. Segue que existem funções diferenciáveis g1 (x), . . . , gn (x)
definidas em B(p, ε) tais que
n
X
f (x) = f (p) + (xi − pi )gi (x)
i=1
2.1. Germes de funções 19
Esta proposição nos diz que a base canônica {ei } de Rn está em correspondência com
a base {∂/∂xi |p } de Dp (Rn ). Com esta identificação, cada vetor tangente (p, v) pode ser
escrito como
X ∂
v= vi .
∂xi p
Observamos também, que este resultado nos diz que o espaço tangente possui a mesma
dimensão que a variedade em questão, no caso Rn . Acontece que isto se translada para
qualquer variedade também. Isto motiva a definição que estará presente em todo o texto.
v(f ) = v(f ),
20 2. Fibrados Tangente e Cotangente
Observação 2.8. Na medida que for conveniente, omitimos o subı́ndice que faz menção ao
ponto p do vetor vp para escrever simplesmente v. A notação Xp também será usada para
representar vetores em Tp M . Fazemos isso sempre lembrando que estamos sobre pontos
quaisquer.
dfp : Tp M → Tf (p) N
Observe que faz sentido aplicar v na função h ◦ f pois esta é uma função diferenciável de
M em R. Ainda precisamos mostrar que dfp (v) é uma derivação linear em p. De fato,
é uma combinação linear dos elementos da base de Tf (p) (Rn ). Seja fi = yi ◦ f . Podemos
encontrar os aij aplicando ambos os lados de (2.1) à yi . Por um lado temos que
∂ ∂ ∂fi
dfp (yi ) = (yi ◦ f ) = .
∂xj p ∂xj p ∂xj p
Pelo outro,
n n n
X ∂ X ∂yi X
akj (yi ) = akj = akj δik = aij .
k=1
∂yk f (p) k=1
∂yk f (p) k=1
Exemplo 2.12. Com a regra da cadeia, podemos calcular a diferencial da função idM
em um ponto p de M. Por definição,
Observação 2.15. Segue desta última proposição, que se tivermos um difeomorfismo entre
duas variedades conexas M m e N n , então m = n. Isto mostra que a dimensão da variedade
está de fato bem definida.
2.3. Fibrado Tangente 23
Definimos uma topologia em T U declarando que os abertos serão aqueles que tornam
e um homeomorfismo, isto é, X ⊂ T U é um aberto se, e somente se, ϕ(X)
ϕ e é aberto em
n 2n
ϕ(U ) × R considerado com a topologia induzida de R . Seja A a estrutura diferenciável
de M . Então a coleção
e−1 (W ) : W é um aberto de ϕ(U ) × Rn e (U, ϕ) ∈ A}
B = {ϕ
forma uma base para a topologia de T M , que torna este conjunto em um espaço localmente
euclidiano de dimensão 2n, Hausdorff e com base enumerável. Além disso, a coleção
Ae = {(T U, ϕ)
e : (U, ϕ) ∈ A}
forma uma atlas para T M . Portanto, T M torna-se uma variedade cuja estrutura dife-
renciável é dada pelo atlas maximal que contém o atlas A.
e A prova destas afirmações será
omitida aqui. O leitor interessado pode encontrá-las em [1] na Seção 12 do Capı́tulo 3.
Vamos agora introduzir os fibrados vetoriais para justificar o nome “fibrado” dado à
T M e começar a estudar campos vetoriais.
Dada qualquer função π : E → M entre variedades e um ponto p em M , chamamos a
imagem inversa
π −1 ({p})
ϕ : π −1 (U ) → U × Rn
e : T U → U × Rn
ϕ
Observação 2.21. A condição π ◦ s = idM diz que para cada p em M , a função s leva p
na fibra Ep sobre p.
X π
M −→ T M −→ M
p 7−→ Xp 7−→ p
TM
s(M)
s(p)
s
p
M
onde cada ai (p) é um número real que depende de p. Ao passo que p varia em U , temos
as funções ai : U → R. Observe que para cada ponto p em U os elementos
∂ ∂
,...,
∂x1 p ∂xn p
formam uma base para Tp M . Por outro lado, podemos considerar as seções
∂
: U → TU
∂xi
ϕ(X
e p ) = (x1 (π(Xp )), . . . , xn (π(Xp )), c1 (Xp ), . . . , cn (Xp )).
e ◦ X : U → U × Rn
ϕ
e ◦ X(p) = ϕ(X
ϕ e p ) = (x1 (π(Xp )), . . . , xn (π(Xp )), c1 (Xp ), . . . , cn (Xp )).
Mas por uma caracterização de funções diferenciáveis entre variedades, ϕ e ◦ X será dife-
renciável se suas coordenadas dadas pelas composições x1 ◦ π, . . . , xn ◦ π e pelas funções
coordenadas c1 , . . . , cn em T U . Como ai = ci ◦ X, concluı́mos que ϕ e ◦ X é diferenciável
se, e somente se, as funções ai : U → R são diferenciáveis.
(ii) A variedade M possui um atlas de tal forma que em toda carta (U, x) do atlas, as
funções coeficientes ai são diferenciáveis.
cada ponto
X ∂f
(Xf )(p) = Xp (f ) = ai (p) .
∂xi p
P
Se f e cada ai são funções diferenciáveis em M , a função Xf = ai · ∂f /∂xi também é
diferenciável em M . Neste sentido, dado um campo X ∈ X(M ), temos uma aplicação
F(M ) −→ F(M )
f 7−→ Xf
que é linear e satisfaz a regra de Leibniz, ou seja, uma derivação da álgebra F(M ).
Reciprocamente, toda derivação é proveniente de um e somente um campo vetorial. Pode
ser mostrado que a aplicação
ϕ : X(M ) −→ Der(F(M ))
X 7−→ (f 7→ Xf )
é um isomorfismos de módulos sobre F(M ). Não provaremos este fato, mas isto cabe para
dizer que: assim como vetores tangentes em um ponto p podem ser identificados com as
derivações em p de Fp (M ), os campos vetoriais podem ser identificados com as derivações
da álgebra F(U ). Podemos então pensar os campos vetoriais tanto como seções do fibrado
tangente T M , quanto derivações da álgebra F(M ). Em termos desta ação do campo X
nas funções, temos outra caracterização de campo vetorial diferenciável.
Tp∗ M
30 2. Fibrados Tangente e Cotangente
ϕ(α)
e = (x1 (π(α)), . . . , xn (π(α)), c1 (α), . . . , cn (α)).
Com esta bijeção podemos transferir os abertos de ϕ(U )×Rn , que são dados pela topologia
induzida de R2n , definindo que um subconjunto A ⊂ T ∗ U é aberto se ϕ(A)e é aberto em
ϕ(U ) × Rn . Se A é a estrutura diferenciável da variedade M , para cada domı́nio U de
uma carta em A, tomamos a coleção BU de todos os abertos de T ∗ U . Definimos a coleção
[
B= BU
U ∈A
que torna T ∗ M em uma variedade diferenciável de dimensão 2n. Desta forma, a projeção
π : T ∗ M → M é diferenciável e a tripla (T ∗ M, M, π) é um fibrado vetorial de posto n.
Todas as afirmações acerca do espaço cotangente feitas acima podem ser encontradas em
[2], junto de muitas outras propriedades do fibrado cotangente que não serão tratadas
aqui. Nosso foco será estudar as seções deste fibrado.
2.6. 1-formas diferenciais 31
ω π
M −→ T ∗ M −→ M
p 7−→ ωp 7−→ p
Definição 2.27. Seja f : M → R uma função diferenciável. Definimos a diferencial de f
como sendo a 1-forma df em M tal que para cada p ∈ M e Xp ∈ Tp M
df (Xp ) = Xp (f ).
Em contraste com a definição anterior de diferencial para uma função entre variedades,
comparamos as duas definições. Por um momento, para distinguirmos as duas definições,
vamos denotar o diferencial de uma função entre variedades por f∗p .
Proposição 2.28. Seja f : M → R diferenciável. Então para cada p em M e Xp ∈ Tp M
d
f∗p (Xp ) = (df )p (Xp ) .
dt f (p)
Com isso, toda 1-forma ω em U pode ser escrita em cada ponto como uma combinação
linear
X
ωp = ai (p)(dxi )p
Para encontrar as funções coeficientes, seja p ∈ U . Aplicamos o vetor ∂/∂xj |p nos dois
lados da equação acima
∂f ∂ X ∂ X
= dfp = a i (p) · (dxi )p = ai (p) · δij = aj (p)
∂xj p ∂xj p ∂xj p
com funções coeficientes ai : U → R. Vamos derivar um critério que, assim como para
campos vetoriais, vai nos permitir saber se uma 1-forma é diferenciável em termos de seus
coeficientes. Uma carta (U, ϕ) na estrutura diferenciável de M induz uma carta (T ∗ U, ϕ)
e
em T ∗ M dada por
ϕ(α
e p ) = (x1 (π(αp )), . . . , xn (π(αp )), c1 (αp ), . . . , cn (αp ))
temos que ai = ci ◦ α.
α c
→ T ∗U −
U− →i
R (2.3)
Segue pela proposição 1.25, que ω é diferenciável se, e somente se, cada ai é C ∞ em U .
(ii) A variedade M possui um atlas de tal forma que em toda carta (U, x) do atlas, as
funções coeficientes ai relativas à base local {dxi } são diferenciáveis.
(iii) Para toda carta (U, x) em M , as funções coeficientes ai relativas à base local {dxi }
são diferenciáveis.
Demonstração. Será omitida aqui, dado que é semelhante à prova da proposição 2.22.
Como as funções coeficientes ∂f /∂xi são diferenciáveis, pela proposição anterior df é uma
1-forma diferenciável.
para cada p em M . Acontece que ω(X) vai nos ajudar a caracterizar a diferenciabilidade
de uma 1-forma. Mais que isso, vai nos permitir observar uma dupla personalidade sobre
as formas. A priori definimos formas diferenciais pontualmente e não em campos vetoriais,
como sugere a notação ω(X). A primeira das propriedades, diz respeito à linearidade de
ω(X) sobre as funções diferenciáveis.
34 2. Fibrados Tangente e Cotangente
Demonstração. A prova consiste apenas do fato que ω(f X)(p) só depende do valores de
cada aplicação no ponto. Se p ∈ M ,
b : X(M ) → F(M )
ω
dada por X 7→ ω(X). Que por sua vez nos permite identificar as 1-formas com aplicações
F(M )-lineares. Esta outra maneira de ver uma 1-forma será usada quando conveniente.
Mesmo assim, ao longo do texto vamos entender porque ela é tão necessária.
Se f : M → N é uma função diferenciável entre variedades, a diferencial
dfp : Tp M → Tf (p) N
f ∗ (ω + η) = f ∗ ω + f ∗ η
f ∗ (h · ω) = f ∗ h · f ∗ ω.
Capı́tulo 3
Formas Diferenciais
Nos permitimos levar as construções da álgebra linear para os fibrados e obter propriedades
dos campos e das 1-formas diferenciais. O próximo passo é levar a álgebra multilinear para
as fibras. De maneira semelhante ao capı́tulo anterior, traçamos as propriedades das k-
formas diferenciais para poder demonstrar o teorema de Stokes. Algumas demonstrações
serão omitidas, com indicação da página é claro. As k-forma serão objetos assim como
as 1-formas, só que k-multilineares e alternadas. Esta segunda condição nos ajudará a
observar precisamente as propriedades da derivada em dimensões maiores. No Apêndice
B.3.1 encontramos a definição de uma permutação e suas propriedades.
f :Vk →R
(T1 + T2 ) ⊗ S = T1 ⊗ S + T2 ⊗ S
T ⊗ (S1 + S2 ) = T ⊗ S1 + T ⊗ S2
(c · T ) ⊗ S = T ⊗ (c · S) = c · (T ⊗ S)
(T ⊗ S) ⊗ L = T ⊗ (S ⊗ L)
forma uma base para o espaço Lk (V ), que por sua vez tem dimensão nk .
que será chamado de fibrado tensorial de ordem k. Omitimos aqui a construção deste uma
vez que pode ser encontrada em [2]. Observe que L1 (T M ) = T ∗ M é o próprio fibrado
cotangente. Uma seção ω : M → Lk (T M ) é chamada campo tensorial de ordem k.
Em uma carta (U, x) de uma variedade M n , para p ∈ U temos que (dx1 )p , . . . , (dxn )p
é uma base para Tp∗ M . Portanto, o produto
é uma base para Lk (Tp M ). Representando assim, cada k-tensor ωp ∈ Lk (Tp∗ M ) em uma
carta (U, x) como uma combinação linear
n
X
ωp = ωi1 ,...,ik (p) · (dxi1 )p ⊗ · · · ⊗ (dxik )p
i1 ,...,ik =1
com funções coeficientes ωi1 ,...,ik : U → R relativas à base de seções locais dxi1 ⊗ · · · ⊗ dxik
para Lk (T U ). Estamos particularmente interessados nos k-tensores alternados, que iremos
agora definir e usufruir durante todo o texto.
T (v1 , . . . , vi , . . . , vj , . . . , vk ) = −T (v1 , . . . , vj , . . . , vi , · · · , vk ).
Isto é, a troca de duas posições inverte o sinal da igualdade. Segue disso que, se dois vetores
vi e vj são iguais para i 6= j, denotando estes apenas por v, aplicamos transposição de i
com j e obtemos
T (v1 , . . . , v, . . . , v, . . . , vk ) = −T (v1 , . . . , v, . . . , v, . . . , vk ).
40 3. Formas Diferenciais
No momento, não está claro qual a dimensão de Λk (V ) para k > 1. Com alguns novos
conceitos, nos permitiremos descobrir. Dado T ∈ Lk (V ), definimos um novo k-tensor
1 X
A(T )(v1 , . . . , vk ) = sgn(σ)T (vσ(1) , . . . , vσ(k) ).
k! σ∈S
k
1 X
A(T ) = sgn(σ)σT.
k! σ∈S
k
A razão para a presença do fator 1/k! na definição normaliza a expressão quando T já
é um k-tensor alternado. A próxima proposição estabelece as propriedades do operador
de alternalização, cuja demonstração pode ser encontrada em [3] nas páginas 78-79.
1
α∧β = A(α ⊗ β).
k!s!
3.2. Produto exterior 41
Pela proposição 3.7 acima, o produto exterior é de fato alternado. É bilinear uma
vez que o produto tensorial satisfaz esta propriedade. A associatividade é um pouco
complicada mas também segue para o produto exterior. Mais ainda, o produto exterior é
anticomutativo: se α é um k-tensor alternado e β é um s-tensor alternado, então
α ∧ β = (−1)ks · β ∧ α. (3.1)
(α1 + α2 ) ∧ β = α1 ∧ β + α2 ∧ β
α ∧ (β1 + β2 ) = α ∧ β1 + α ∧ β2
(c · α) ∧ β = α ∧ (c · β) = c · (α ∧ β)
α ∧ β = (−1)ks β ∧ α
(α ∧ β) ∧ γ = α ∧ (β ∧ γ)
1
α1 ∧ · · · ∧ αr = A(α1 ⊗ · · · ⊗ αr ).
d1 ! · · · dr !
onde cI ∈ R. Aplicando ambos os lados da equação por eJ , onde J = (j1 < · · · < jk )
temos que
X X
0= cI αI (eJ ) = cI δij = cJ ,
I∈Ik,n I∈Ik,n
pois dentre todos os multi-ı́ndices I ∈ Ik,n , existe apenas um igual a J. Portanto cada aJ é
linearmente independente. Para mostrar que estes geram o espaço Λk (V ), seja ω ∈ Λk (V ).
Afirmamos que
X
ω= ω(eI )αI .
I∈Ik,n
P
De fato, seja g = I ω(eI )αI . Pela k-linearidade e pela propriedade alternada, se dois
k-tensores coincidem em eJ , então são iguais. Mas
X X
g(eJ ) = ω(eI )αI (eJ ) = ω(eI )δij = ω(eJ ).
I∈Ik,n I∈Ik,n
Segue que {αi1 ∧· · ·∧αik : 1 ≤ i1 < · · · < ik ≤ n} é uma base para Λk (V ). A dimensão (3.2)
é dada pelas escolhas que temos ao tomar k elementos distintos dentre n números.
Quando dois dos ı́ndices i1 , . . . , in forem iguais, por α ser alternado, α(vi1 , . . . , vin ) = 0.
E só será diferente de zero para ı́ndices todos distintos. Ou seja, podemos considerar que
a n-upla I = (i1 , . . . , in ) corresponde à uma permutação em In,n . Desta forma, ij = σ(j)
para j = 1, . . . , n e podemos escrever
que possui estrutura de fibrado vetorial, e será chamado de fibrado exterior de ordem k
da variedade M . Uma seção ω de Λk (T M ) é uma função
ω π
M −→ Λk (T M ) −→ M
p 7−→ ωp ∈ Λk (Tp M ) 7−→ p
que associa para cada ponto de M , um k-tensor alternado sobre o espaço tangente naquele
ponto. As seções do fibrado exterior Λk (T M ) serão especialmente chamadas de k-formas
ou k-formas diferenciais em M . As 1-formas em particular, foram justamente definidas
como seções T ∗ M . Se η é uma seção do fibrado exterior Λs (T M ), podemos definir uma
nova seção ω ∧ η do fibrado exterior Λk+s (T M ) pontualmente como
Uma vez que Λk (T M ) torna-se em um fibrado vetorial diferenciável, faz sentido falar de
k-formas diferenciáveis. Dizemos que uma k-forma é diferenciável, se é diferenciável como
seção de Λk (M ). Seja (U, x) é uma carta em M n e p ∈ U . Como o conjunto
onde a união {dxi1 ∧ · · · ∧ dxik } é considerada como base de seções locais do fibrado
exterior. Simplificadamente na notação multi-ı́ndice escrevemos
X
ω|U = ωI · dxI ,
I∈Ik,n
P
(i) dfj = (∂fj /∂xi )dxi .
b X(M ) × · · · × X(M ) −→
ω F(M )
(X1 , . . . , Xk ) 7−→ ω(X1 , . . . , Xk )
que para k campos vetoriais em M associa uma função diferenciável dada pontualmente
por (3.4). Semelhante ao que acontece com as 1-formas, esta aplicação é multilinear sobre
3.3. k-formas diferenciais 45
ω(X1 , . . . , f Xi , . . . , . . . , Xk ) = f · ω(X1 , . . . , Xi , . . . , Xk ).
{b
ω : X(M ) × · · · × X(M ) → F(M ) : ω
b é k-F(M )-linear}.
A princı́pio as formas são objetos que aplicamos em pontos, com esta identificação consi-
deramos uma dupla personalidade para as formas. Uma vez que {∂/∂xi |p } é base de Tp M
e {(dxi )p } é sua base dual para ponto p ∈ M sobre uma carta (U, x), obtemos a seguinte
igualdade
∂ ∂
dxi1 ∧ · · · ∧ dxik ,..., = δIJ .
∂xi1 ∂xik
Podemos caracterizar as k-formas diferenciáveis de várias maneiras, em particular
olhando as funções coeficientes.
P
Lema 3.14. Seja (U, x) uma carta em M . Uma k-forma ω = aI dxI em U é dife-
renciável se, e somente se, as funções coeficientes são diferenciáveis em U .
1. A k-forma ω é diferenciável em M .
2. A variedade M possui uma altas que para toda carta (U, x) no atlas, os coeficientes
P
aI de ω = aI dxI em relação ao sistema dxI são diferenciáveis.
P
3. Para carta (U, x) da variedade, os coeficientes aI de ω = aI dxI em relação ao
sistema dxI são diferenciáveis.
Nos apoiamos sobre a álgebra multilinear para poder falar de k-formas diferenciais.
Em particular, as k-formas diferenciais são k-tensores sobre as fibras da variedade. Logo,
podemos definir o pullback aqui também. Suponha que f : M → N é uma função
diferenciável entre variedades. Em cada ponto p ∈ M a diferencial
dfp : Tp M → Tf (p) N
é uma aplicação linear entre os espaços tangentes. Logo, para cada p ∈ M a diferencial dfp
induz um k-tensor em Λk (Tp M ) a partir de um dado k-tensor em Λk (Tf (p) N ). O pullback
f ∗ ωf (p) de ωf (p) ∈ Λk (Tf (p) N ) por f , como antes, é o k-tensor em Λk (Tp M ) definido por
f ∗ (ω + η) = f ∗ ω + f ∗ η
f ∗ (c · ω) = c · f ∗ η
f ∗ (ω ∧ η) = f ∗ ω ∧ f ∗ η.
Até o momento não podemos afirmar que o pullback de uma k-forma diferenciável
é diferenciável, a não ser para k = 0, 1. A próxima seção nos ajudará a entender que
este fato é valido também para k > 1. Denotamos por Ωk (M ) o conjunto das k-formas
diferenciais em M . O espaço
Mn
∗
Ω (M ) = Ωk (M n )
k=0
Observação 3.18. Observe que estamos somando até a dimensão da variedade M n . For-
malmente poderı́amos somar infinitamente. Acontece que as k-formas em M com k > n
são nulas. De fato, ao menos duas das 1-formas dxiα serão iguais e pela associatividade
do produto exterior, terı́amos como resultado uma k-forma nula.
3.4. Derivada exterior 47
que é uma (k+1)-forma em U . Acontece que para uma 0-forma esta definição coincide com
a diferencial de uma função. Mais ainda, por sua representação ser dada por elementos
de uma base, ela é única em (U, x). Independe da carta também pois se (V, y) é outra
P P
carta em M , em U ∩V temos aI dxI = bJ dyJ . Portanto depende apenas da estrutura
diferenciável da variedade. Este operador que leva k-formas em (k + 1)-formas em U será
denotado por dU . Se ω é uma k-forma em M , definimos a derivada exterior de ω em M
como sendo a (k + 1)-forma
(dω)(p) = dU (ω|U )(p),
onde p é um ponto em uma carta (U, x) qualquer de M . Antes de concluir que a derivada
exterior também é única na variedade, destacamos o seguinte resultado.
(iii) d2 = 0.
A prova para estas propriedades pode ser encontrada em [2] na página 211. Não
será crucial uma vez que nosso objetivo agora é estabelecer formalmente a definição de
derivada exterior em uma variedade e observar sua existência e unicidade como acima.
deg(D(ω)) = deg(ω) + m.
Definição 3.21. Uma derivada exterior em uma variedade M é uma aplicação linear
D : Ω∗ (M ) → Ω∗ (M ) que satisfaz
(ii) D2 = 0
Observação 3.23. Poderı́amos ter definido um operador local, dizendo que se duas formas
ω1 e ω2 coincidem em um aberto U , então (Dω1 )|U = (Dω2 )|U . Em particular, isto nos
diz que (Dω)|U = D(ω|U ).
3.4. Derivada exterior 49
0 = D(0) = d(ρω) = Dρ ∧ ω + ρ · Dω = Dω
Em cada carta (U, x) em M temos uma única dU definida. A derivada exterior d está
bem definida uma vez que dU é única para toda carta (U, x). Segue pela propriedade local
da antiderivação, que se D é uma antiderivação em M , então D coincide com a derivada
exterior d definida acima. Em resumo, observamos que existe uma única antiderivação da
álgebra Ω∗ (M ), especialmente chamada derivada exterior de M , que por sua vez generaliza
a diferencial de uma função e só depende da estrutura diferenciável da variedade. Para
demonstração do próximo teorema, ver [1] páginas 213-214.
d : Ω∗ (M ) → Ω∗ (M ).
f ∗ (dh)(X) = dh(f∗ X)
= f∗ X(h)
= X(h ◦ f )
= d(h ◦ f )(X)
= d(f ∗ h)(X).
Como a igualdade vale para todo campo X, segue o resultado para k = 0. Para o caso
k ≥ 1 faremos por indução finita sobre o grau k. Suponha que o resultado vale para as
(k − 1)-formas. Seja ω ∈ Ωk (N ), (V, y) uma carta sobre f (p) em N n e p ∈ M . Em V
temos então que
X X
ω= aI · dyI = aI · dyi1 ∧ · · · ∧ dyik
I∈Ik,n I∈Ik,n
50 3. Formas Diferenciais
f∗
Ω∗ (N ) −→ Ω∗ (M )
d↓ ↓d
f∗
Ω∗ (N ) −→ Ω∗ (M )
é comutativo. Não nos interessa muito por ora saber o que significa e como trabalhar com
essa estrutura. Vamos agora definir a multiplicação interior para espaços vetoriais e levar
para as fibras como de costume.
Para k = 1 definimos iv α = α(v) que é uma constante real. E para um tensor α de ordem
zero, uma constante, definimos iv α = 0.
iv : Λk (V ) → Λk−1 (V )
restrito aos k-tensores alternados. Esta operação satisfaz duas propriedades semelhantes
da derivada exterior. São elas
1. iv ◦ iv = 0,
é uma função diferenciável por 3.15 (iv). Para 1-formas temos que iX ω = ω(X) e iX f = 0
para funções f em M . Pelo comportamento da multiplicação interior em cada ponto da
variedade, a aplicação iX : Ω∗ (M ) → Ω∗ (M ) é uma antiderivação de grau −1 em M que
satisfaz iX ◦ iX = 0. A demonstração detalhada destes fatos consta em [1] Seção 20.4.
52 3. Formas Diferenciais
53
Capı́tulo 4
Neste capı́tulo vamos definir o conceito de integral em uma variedade. Começamos des-
crevendo a orientação que estes objetos carregam de três formas equivalentes. Uma forma
de grau máximo sempre positiva na variedade, caracteriza uma orientação. Assim como
a existência de um atlas orientado para a variedade. Ao longo do capı́tulo, consideramos
alguns resultados, apenas mencionando a página onde consta a demonstração do mesmo.
Alternando entre [1] e [2], com poucos exemplos, continuamos a considerar as condições
sobre as quais podemos integrar.
4.1 Orientação
Em um espaço vetorial V de dimensão finita, dizemos que duas bases ordenadas
{u1 , . . . , un } e {v1 , . . . , vn } são equivalentes se o determinante da matriz mudança de
base entre elas, que é descrita pelos coeficientes aij da equação
n
X
uj = aij vi ,
i=1
α1 ∧ α2 ∧ α3 (e1 , e2 , e3 ) = 1 > 0.
O mesmo acontece com a base {∂/∂xi } do espaço tangente Tp (Rn ) cuja base dual é
{(dxi )p }. O tensor (dx1 )p ∧ · · · ∧ (dxn )p determina a orientação positiva de Tp (Rn ) pois
∂ ∂
(dx1 )p ∧ · · · ∧ (dxn )p ,..., = 1 > 0.
∂x1 p ∂xn p
Assim como levamos as construções da álgebra linear para fibrados, podemos levar o
conceito de orientação de um espaço vetorial para as fibras. Orientar uma variedade, é
associar continuamente em cada ponto p ∈ M uma orientação do espaço tangente Tp M .
Pedimos a continuidade para que de fato, a orientação escolhida não mude drasticamente
em vizinhanças de p, como formaliza a seguinte definição.
Exemplo 4.3. O espaço Rn é orientável neste sentido, pois os campos ∂/∂u1 , . . . , ∂/∂un
formam uma base global de seções diferenciáveis, em particular contı́nuas, para Rn .
A próxima proposição será apenas enunciada, mas tange ao fato de que se uma varie-
dade possui várias componentes conexas, é possı́vel obter ao todo mais de duas orientações
para a variedade. O resultado diz então, que para as variedades conexas obtemos apenas
duas orientações.
Proposição 4.4. Uma variedade conexa orientável possui exatamente duas orientações.
Lema 4.5. Uma orientação [(X1 , . . . , Xn )] em uma variedade M n será contı́nua se, e
somente se, todo ponto p ∈ M possui uma carta (U, x) em que
Teorema 4.6. Uma variedade M n é orientável se, e somente se, existe uma n-forma
diferenciável sempre positiva em M .
Assim como vimos para tensores, para cada orientação ξ = [X1 , . . . , Xn ] em uma variedade
orientável conexa M , associamos a classe de equivalência da n-forma ω em M tal que
56 4. Integração sobre Variedades
ξ 7−→ [ω]
é de fato bijetiva sobre uma variedade conexa. E considerando uma componente conexa
de cada vez, esta bijeção vale também. Em resumo, orientar uma variedade é o mesmo
que escolher uma n-forma positiva em M . Dizemos então que uma n-forma ω em M
determina a orientação [X1 , . . . , Xn ] se ω(X1 , . . . , Xn ) > 0. Chamamos esta de forma
orientada em M . Neste sentido, uma variedade orientada pode ser descrita por um par
(M n , [ω]) onde [ω] é a classe de equivalência de uma n-forma orientada em M .
Dado um difeomorfismo f : (M, [ω]) → (N, [ω 0 ]) entre variedades orientadas, dizemos
que f preserva a orientação se
[f ∗ ω 0 ] = [ω],
Existe outra importante definição de orientação em uma variedade. Esta também será
equivalente às definições anteriores, e será de grande utilidade para o texto.
Definição 4.8. Um atlas em M n é dito ser orientado se para qualquer duas cartas (U, x)
e (V, y) no atlas, o determinante jacobiano det[∂yi /∂xj ] é positivo em U ∩ V .
Teorema 4.9. Uma variedade é orientada se, e somente se, possui um atlas orientado.
Esta definição induz uma relação de equivalência no conjunto dos atlas orientados em
M . O conjunto das classes de equivalências desta relação, assim como anteriormente, está
identificado com o conjunto das orientações em M . Ou seja, temos três critérios para
falar de variedades orientadas.
4.2. Variedades com Bordo 57
(i) M é orientável,
Hn = {(x1 , . . . , xn ) ∈ Rn : xn ≥ 0},
considerado com a topologia induzida de Rn , será nosso modelo de variedade com bordo.
Denotamos por int(Hn ) e ∂(Hn ) o interior e bordo topológicos de Hn . Observe que o
bordo ∂(Hn ) está naturalmente identificado com Rn−1 .
Temos dois tipos de conjuntos abertos em Hn . Os usais de Rn e aqueles que tocam
o bordo. Como este será nosso modelo de variedade com bordo, as funções de transição
entre as cartas serão funções de Hn em Hn . Em abertos de Rn sabemos dizer quando
esta é diferenciável, mas para abertos que intersectam o bordo ainda não. Por isso,
vamos estender o conceito de função diferenciável para contemplar domı́nios arbitrários em
variedades. Exceto por esta particularidade, os mesmo conceitos vistos sobre variedades
permanecem iguais.
Definição 4.15. Uma função f : S → S 0 é dita ser um difeomorfismo se for uma bijeção
diferenciável cuja inversa g : S 0 → S seja diferenciável.
58 4. Integração sobre Variedades
f (p) ∈ V 0 = f (U 0 ) ⊂ S.
Está mostrado que para todo f (p) ∈ S, existe um aberto V 0 ⊂ N que contém f (p) e está
contido em S, ou seja, S é aberto.
ϕ : U → ϕ(U ) ⊂ Hn .
Uma variedade topológica de dimensão n com bordo é um espaço Hausdorff, com base
enumerável e localmente Hn .
D = {(x, y, 0) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1} ⊂ R3
que é uma variedade de dimensão 2 com bordo ∂D ' S1 . No sentido topológico, D possui
interior vazio em relação à R3 . Logo sua fronteira topológica é vazia. Estes conceitos
estarão em correspondência se a variedade em questão for um espaço topológico fechado
de dimensão n em Rn , como é o caso da esfera
S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 ≤ 1}.
60 4. Integração sobre Variedades
ψ 0 ◦ ϕ0−1 : ϕ0 (U ∩ V ∩ ∂M ) → ψ 0 (U ∩ V ∩ ∂M )
Definição 4.26. Seja M uma variedade com bordo e p ∈ ∂M . Dizemos que um vetor
tangente Xp ∈ Tp M é um vetor interior se Xp ∈
/ Tp (∂M ) e existe um > 0 e uma curva
0
C : [0, ) → M tal que C(0) = p e C (0) = Xp . Um vetor Xp ∈ Tp M é dito ser um vetor
exterior, se −Xp é um vetor interior.
Esta definição caracteriza vetores que apontam para dentro ou para fora da variedade.
Por exemplo, ∂/∂y|p é um vetor interior à H2 e −∂/∂y|p é um vetor exterior em um ponto
p do bordo ∂H2 . Um campo vetorial ao longo do bordo ∂M é uma função X que associa
a cada ponto p do bordo um vetor Xp em Tp M . Se (U, x) é uma carta sobre p em M n ,
4.2. Variedades com Bordo 61
Proposição 4.27. Seja M n uma variedade com bordo. Então existe um campo vetorial
ao longo do bordo ∂ formado apenas por vetores exteriores.
Demonstração. Seja {(Uα , ϕα )} um atlas para M onde cada ϕα = (xα,1 , . . . , xα,n ). Ob-
serve que em cada Uα o campo vetorial Xα = −∂/∂xα,n é diferenciável e exterior à Uα .
Tome uma partição da unidade {ρα } em ∂M subordinada à cobertura Uα ∩ ∂M . Então
P
definimos o campo vetorial X = ρα Xα que é diferenciável e de fato, exterior ao longo
do bordo ∂M .
Proposição 4.28. Seja M n uma variedade orientada com bordo. Se ω é uma forma
orientada em M e X é um campo vetorial exterior ao longo de ∂M , então iX ω é uma
(n − 1)-forma diferenciável positiva em ∂M .
Segue desta proposição que ∂M é orientável, pois existe uma (n − 1)-forma positiva
em ∂M . Definimos então a orientação do bordo em ∂M como sendo dada pela forma
orientada iX ω. Ainda temos que verificar se a orientação do bordo depende da escolha da
forma orientada ω e do campo exterior X.
Mas observe que dxσ(n) (∂/∂xn ) = δσ(n)n , logo os termos que sobrevivem da soma são
aqueles que σ(n) = n. Isto é o mesmo que considerar as permutações em Sn que fixam n,
ou seja, estamos atualmente sobre as permutações em Sn−1 e portanto
X
i−∂/∂xn ω(X1 , . . . , Xn−1 ) = (−1)n · sgn(σ) · dxσ(1) ⊗ · · · ⊗ dxσ(n−1) (X1 , . . . , Xn−1 )
σ∈Sn−1
Isto nos diz que a orientação do bordo ∂Hn é (−1)n vezes a orientação natural de Rn−1 .
Exemplo 4.31. O intervalo fechado [a, b] ⊂ R possui a orientação induzida pelo campo
vetorial d/dx, com forma orientada dx. Na extremidade do ponto b, o vetor d/dx|b é
exterior. E portanto a orientação neste ponto de bordo é dada por id/dx (dx) = 1. Na
extremidade a, o vetor −d/dx|a é exterior, e portanto a orientação neste ponto de bordo
é dada por i−d/dx (dx) = −1.
4.3 Integração
No que tange os conceitos iniciais do cálculo, até então não falamos diretamente sobre
integração. Agora será o momento para relembrar o que é substancial, para então cons-
truir um modelo de integração que atue em variedades. Estamos acostumados a integrar
funções, mas aqui será um pouco diferente. Vamos definir a integral de uma forma dife-
rencial primeiro em Rn e depois para variedades. Em particular, daremos um significado
para a notação dx1 · · · dxn que aparece nas integrais do cálculo.
Fixado um sistema de coordenadas euclidiano, as n-formas em R podem ser identifi-
cadas com as funções em Rn , uma vez que toda n-forma pode ser escrita como
para uma única função f em Rn . Se ω tem suporte compacto, então f também tem.
Podemos então levar a integral de Riemann para as n-formas em Rn .
4.3. Integração 63
Definição 4.32. Seja ω = f (x) · dx1 ∧ · · · ∧ dxn uma n-forma diferenciável em um aberto
U ⊂ Rn , considerado com um sistema de coordenadas x1 , . . . , xn . A integral de ω sobre
um subconjunto A ⊂ U é definida como a integral de Riemann de f (x)
Z Z Z
ω= f (x) · dx1 ∧ · · · ∧ dxn = f (x) dx1 · · · dxn ,
A A A
onde dx1 · · · dxn e dy1 · · · dyn são notações que fazem menção às coordenadas em U e V ,
respectivamente.
Mas por outro lado, o teorema de mudança de variáveis nos dá que
Z Z Z
ω= f dx1 · · · dxn = (f ◦ ϕ) · det[∂ϕj /∂yi ] dy1 · · · dyn
V V U
dependendo se ϕ preserva ou reverta a orientação. Esta equação nos mostra que a integral
de uma n-forma em Rn não depende de coordenadas, desde que tomemos cuidado com a
orientação.
Seja M n uma variedade orientada, com um atlas orientado {(Uα , ϕα )} que gera a
orientação de M . Vamos denotar por Ωkc (M ) o espaço das k-formas diferenciais com
suporte compacto em M . Suponha que (U, ϕ) seja uma carta no atlas de M . Se ω ∈
Ωnc (U ) é uma n-forma com suporte compacto em U , então como ϕ : U → ϕ(U ) é um
difeomorfismo, (ϕ−1 )∗ ω é uma n-forma com suporte compacto em ϕ(U ) ⊂ Rn . Definimos
a integral de ω em U como sendo
Z Z
ω := (ϕ−1 )∗ ω.
U ϕ(U )
R
Logo a integral U ω em uma carta U do altas está bem definida e independe da escolha
de coordenadas em U . Por definição, o operador de integração é linear, e age nas formas
linearmente também. Ou seja, se ω, η ∈ Ωnc (U ), então
Z Z Z
ω+η = ω+ η.
U U U
Observe que estamos pedindo uma propriedade muito forte: o suporte de ω precisa estar
4.3. Integração 65
contido no domı́nio de uma carta, e em geral isto não acontece. O que fazemos então, é
usar as partições da unidade (para a definição desses objetos, ver Apêndice). Escolha uma
partição da unidade {ρα } subordinada à cobertura {Uα } de uma variedade M n orientada.
Como ω ∈ Ωnc (M ) possui suporte compacto e a coleção dos suportes da partição da
unidade é localmente finita, apenas finitos ρα ω são não-nulos e portanto
X
ω= ρα ω
α
é uma soma finita. Acontece também que ρα ω é uma n-forma em M com suporte compacto
contido em Uα , simplesmente pois
R
Observe que faz sentido calcular esta soma, tanto por ser finita, tanto pela integral Uα ρα ω.
A princı́pio esta definição depende do atlas e da partição da unidade. Para que esta
integral esteja bem definida, precisamos mostrar que ela independe da escolha do atlas
orientado e da partição da unidade.
Seja {Vβ } outro atlas orientado para M e {µβ } uma partição da unidade subordinada
à cobertura {Vβ }. Acontece que a coleção das interseções dos Uα com os Vβ com as
restrições de ϕα e ψβ à estas interseções
onde supp(ρα µβ ) ⊂ Uα ∩ Vβ . Então, podemos integrar tanto por um atlas quanto pelo
outro, assim obtemos que
XZ XXZ XXZ
ρα ω = ρ α µβ ω = ρα µβ ω.
α Uα α β Uα α β Uα ∩Vβ
Observe que esta soma é simétrica, no sentido de comutar com o atlas e a partição da
66 4. Integração sobre Variedades
provando que a integral de ω sobre M está bem definida, isto é, não depende da partição
da unidade e do atlas dado.
Observação 4.35. Sejam M n e N n variedades e f : M → N um difeomorfismo. Se ω é uma
n-forma com suporte compacto em N , então f ∗ ω é uma n-forma com suporte compacto
em M . Sabemos então que Z Z
f ∗ω = ± ω,
M N
Proposição 4.36. Seja ω ∈ Ωnc (M ) uma n-forma com suporte compacto em uma varie-
dade orientada M n . Se −M denota a mesma variedade com a orientação oposta, então
Z Z
ω=− ω.
−M M
Esta abordagem na integração sobre variedades pode ser estendida para variedades
com bordo também. Ela possui a virtude da simplicidade e é de grande utilidade para
provar teoremas. Entretanto, não é tão prática para calcular de fato as integrais. Uma
n-forma multiplicada por uma partição da unidade raramente pode ser integrada numa
expressão fechada. Para poder calcular tais expressões, precisamos considerar integrais
sobre conjuntos parametrizados. Não faremos isto aqui uma vez que nosso objetivo prin-
cipal é provar o teorema de Stokes.
Observação 4.37. Se M é uma variedade 0-dimensional, então na verdade M é um conjunto
finito de pontos. Mas como orientar uma variedade deste tipo? Basta definir em cada
ponto uma orientação, dada por +1 ou −1. De fato, uma 0-forma em M é uma função
ω : M → R que a cada ponto associa um número. Definimos então a integral de uma
0-forma ω em uma variedade 0-dimensional como sendo a soma dos pontos orientados
positivamente, menos a soma dos pontos orientados negativamente
Z X X
ω= f (pi ) − f (qi ).
M
67
Capı́tulo 5
O teorema de Stokes
Aprendemos que não podemos integrar funções f : M → N entre variedade mas sim,
formas diferenciais. Simplesmente porque estas se comportam como esperado, no sentido
da mudanças de variáveis, sendo equivalente ao modelo encontrado no cálculo. Definida
a integral de uma forma em uma variedade, percebe-se a necessidade da orientação para
a integração, assim como a importância do suporte compacto e das partições da unidade.
E por melhor que seja do ponto de vista teórico, esta definição tem o problema de ser
muito difı́cil usar no sentido prático. Ela nos permite demonstrar teoremas e observar
propriedades importantes das variedades, porém, se toda vez tivermos que construir uma
partição da unidade, considerar um atlas orientado e integrar as formas multiplicadas
pelas funções “bump”, precisarı́amos de muito tempo para chegar num resultado. Por
isso, terı́amos de considerar domı́nios mais “fáceis”de integrar. Não será nosso foco aqui,
uma vez que queremos entender como se comportam as formas diferenciais e a integrais
juntas. Este é o inı́cio de uma jornada extensa nos campos da geometria diferencial e
topologia algébrica conforme [2], [5], [7] e [1].
Seja M n uma variedade orientada com bordo e a inclusão i : ∂M → M . Se ω é
uma (n − 1)-forma diferenciável em M , a restrição ω|∂M = i∗ ω de ω ao bordo ∂M pode
ser pensada como o pullback de ω pela inclusão. Cometemos um abuso de notação e
escrevemos simplesmente Z Z
ω= i∗ ω.
∂M ∂M
Observação 5.2. O lado direito desta equação faz sentido, uma vez que dω é uma n-forma
com suporte compacto em M , justamente pela propriedade de localização da diferencial.
O lado esquerdo também, dado que ∂M é uma variedade de dimensão n−1 com orientação
induzida da variedade M .
68 5. O teorema de Stokes
Isto significa que precisamos mostrar que o resultado vale apenas para uma carta cujo
suporte da forma ω esteja contido no domı́nio desta carta. Seja ω ∈ Ωcn−1 (U ) e (U, ϕ)
carta coordenada de M . Usando a definição de integral e sabendo que o pullback comuta
com a diferencial, temos que
Z Z Z
−1 ∗
dω = (ϕ ) dω = d(ϕ−1 )∗ ω.
U ϕ(U ) ϕ(U )
i ϕ−1
ϕ(∂U ) −→ ϕ(U ) −→ U
5. O teorema de Stokes 69
Por fim, observe que a composição (ϕ−1 ◦ i) é de fato a inversa da restrição de ϕ ao bordo
∂U pois, mais uma vez, ϕ−1 é um difeomorfismo que leva pontos de bordo de Hn em
pontos de bordo de U . Logo, temos que
Z Z Z
(ϕ −1 ∗
◦ i) ω = (ϕ|−1 ∗
∂U ) ω = ω.
ϕ(∂U ) ϕ|∂U (∂U ) ∂U
Em suma, ao provar o teorema para as formas cujo suporte está contido no domı́nio de
uma carta, mostramos que o teorema de fato depende da mesma propriedade, mas para
abertos de Hn . Mostremos então que vale
Z Z
ω= dω.
∂Hn Hn
note que muitos dxj vão anular o produto correspondente, e só permanece os ı́ndices
j = i. Já o sinal (−1)i−1 significa que trocamos de posição o dxi em cada i para poder
escrever dx1 ∧ · · · ∧ dxn . Ao integrar esta expressão, estamos, de fato, com uma integral
de Riemann em Rn
Z n Z
X
i−1 ∂fi
dω = (−1) dx1 · · · dxn .
Hn i=1 Hn ∂xi
70 5. O teorema de Stokes
e portanto
Z Z Z
∂g ∂f
dω = dxdy − dxdy
H2 H2 ∂x H2 ∂y
Z ∞Z ∞ Z ∞ Z ∞
∂g ∂f
= dx dy − dy dx
0 −∞ ∂x −∞ 0 ∂y
Z aZ a Z a Z a
∂g ∂f
= dx dy − dy dx,
0 −a ∂x −a 0 ∂y
E portanto obtemos Z Z a
dω = f (x, 0)dx.
H2 −a
Mas o lado direito desta expressão é justamente a restrição de ω ao bordo ∂H2 , uma vez
que ω = f (x, 0)dx quando y = 0. Segue então que
Z a Z
f (x, 0)dx = ω
−a ∂H2
Qn
supp Hn
Como o suporte de cada fi está em Qn = [−a, a] × · · · × [0, a], a expressão (5.1) se anula
para i < n. E para i = n, ela só não se anula quando xn = 0, ou seja,
Z a
∂fn
dxn = fn (x1 , . . . , a) − fn (x1 , . . . , xn−1 , 0) = −fn (x1 , . . . , xn−1 , 0).
−a ∂xn
Mas fn (x1 , . . . , xn−1 , 0) está identificada justamente com a restrição de ω ao bordo ∂Hn ,
pois em
Xn
ω= fi · dx1 ∧ · · · ∧ dx
c i ∧ · · · ∧ dxn
i=1
todas as parcelas que tem dxn se anulam quando restritas ao bordo. Ou seja,
Z Z
n n
(−1) fn (x1 , . . . , xn−1 , 0) dx1 · · · dxn−1 = (−1) ω.
Qn−1 ∂Hn
Nesta integral, estamos considerando a orientação no bordo ∂Hn como sendo a orientação
induzida por dx1 ∧ · · · ∧ dxn . Mas vimos no exemplo 4.30, que no bordo a orientação não
coincide com a usual. Que por sua vez é dada por (−1)n dx1 ∧ · · · ∧ dxn . Considerando
esta orientação na integral acima, segue que
Z Z
dω = ω.
Hn ∂Hn
d
dω = (u · v) (definição da diferencial)
dx
d d
= (u) · v + u · (v) (regra do produto)
dx dx
= du · v + u · dv. (definição da diferencial)
Teorema 5.5. Seja C uma curva em R3 , parametrizada por r(t) = (x(t), y(t), z(t)) para
a ≤ t ≤ b e seja F = (P, Q, R) um campo vetorial em R3 . Se F = ∇f para alguma função
escalar f : R3 → R, então
Z Z b
F · dr = F (r(t)) · r0 (t) dt = f (r(b)) − f (r(a))
C a
∂f ∂f ∂f
dω = · dx + · dy + · dz = F (r(t)) · r0 (t).
∂x ∂y ∂z
Teorema 5.6. Se D é uma região plana com fronteira ∂D onde P (x, y) e Q(x, y) são
funções reais diferenciáveis em D, então
Z ZZ
∂Q ∂P
P dx + Q dy = − dxdy.
∂D D dx ∂y
Demonstração. Tomamos a variedade M neste caso como sendo a região D com bordo
∂D e ω como sendo a 1-forma P · dx + Q · dy em D. Mas observe que
∂P ∂Q ∂Q ∂P
dω = · dy ∧ dx + · dx ∧ dy = − · dx ∧ dy.
∂y ∂x dx ∂y
Apêndice A
Partições da Unidade
Definição A.1. Dado um ponto p em uma variedade M , por uma função “bump” em p
suportada em U estaremos considerando qualquer função não negativa ρ : M → R que
seja identicamente 1 em alguma vizinhança de p e tenha supp(ρ) ⊂ U .
A definição não pede que tais funções “bump” sejam diferenciáveis, pois na verdade
existem classes destas que não necessariamente são diferenciáveis. Por exemplo, a extensão
nula da função caracterı́stica χI de um intervalo I = (a, b) da reta é uma função “bump”
em qualquer p ∈ I, pois χI é identicamente 1 em uma vizinhança de p e seu suporte está
contido em (a − ε, b + ε) para todo ε > 0. Entretanto, esta função não é contı́nua. A
Figura A.1 abaixo descreve uma função “bump”em 0 ∈ R que seja contı́nua.
0
a b
f (t)
g(t) = .
f (t) + f (1 − t)
Note que o denominador desta função nunca se anula, pois para t > 0 temos que
f (t) > 0 e portanto f (t) + f (1 − t) ≥ f (t) > 0. Para t ≤ 0 temos que f (1 − t) é positiva e
f (t) é nula, logo f (t)+f (1−t) > 0. Como querı́amos, g é uma função escada diferenciável
A.1. Funções “bump” 77
t − a2
t 7→ .
b 2 − a2
t − a2
h(t) = g 2
b − a2
então h será uma função escada diferenciável tal que h(t) = 0 para t ≤ a2 e h(t) = 1 para
t ≥ b2 . Se considerarmos t2 ao invés de t, o gráfico da função h(t2 ) se torna simétrico em
relação à reta t = 0. E finalmente, se considerarmos ρ : R → [0, 1] a função dada por
ρ(t) = 1 − h(t2 )
teremos que ρ é uma bump-fuction em 0 ∈ R suportada por [−b, b]. Para construir uma
função “bump” em qualquer ponto p em R, basta tomar a função ρ(t − p).
kxk2 − a2
ρ(x) = ρ(kxk) = 1 − g .
b 2 − a2
Para construir uma função “bump” em p ∈ Rn basta tomar a função ρ(x − p). Observe
que ρ é diferenciável em Rn pois é uma composição de funções diferenciáveis.
Para construir uma função “bump” em um ponto p de uma variedade M n que tenha
suporte em uma vizinhança V de p, considere uma carta (ϕ, U ) sobre p tal que V ⊂ U .
Como temos as funções “bump” em Rn , primeiro descemos com a carta para ϕ(U ) ⊂ Rn ,
pegamos uma função “bump” em ϕ(p) e subimos para a variedade com esta função.
78 A. Partições da Unidade
fe : M → R
A ideia principal da proposição anterior, é que antes tı́nhamos uma função definida
apenas em um aberto. As funções “bump” nos permitiram estender a função para toda
a variedade. Agora, suponha que tenhamos uma coleção finita desta funções {ρi } com
P
0 ≤ ρi (x) ≤ 1 para todo x em M cuja soma ρi ≡ 1. Então para a extensão fe acima
vale que
X X
fe = 1fe = ρi fe = ρi fe .
Agora as funções ρi fe vão se anular fora de supp(ρi ), ou seja, são funções definidas local-
mente. Suponha também que tenhamos uma coleção de funções {fi } definidas em certos
abertos onde está contido supp(ρi ). Se considerarmos então a função
X
ρ i fi
vamos ter uma função globalmente definida mas que depende de cada fi em cada aberto.
Isto sugere que não precisamos apenas de uma função “bump”, mas uma coleção destas
cuja soma seja identicamente 1. Em geral, não tem-se uma coleção de funções “bump”
P
finita, o que tornaria a soma ρα sem sentido. Agora pense que estas ρα são todas nulas,
A.2. Existência de uma Partição da Unidade 79
salvo para finitos ı́ndices α em cada ponto. Então a soma faz sentido, e esta é a condição
que vamos precisar para definir uma partição da unidade.
Seja {Uα }α∈A uma cobertura aberta para o espaço M . Dizemos que uma partição da
unidade {ρα : M → R}α∈A está subordinada à cobertura {Uα }α∈A se para cada ı́ndice α
tivermos que supp(ρα ) ⊂ Uα .
P
Observação A.5. Note que para a soma ρα ter sentido, não precisamos que a cobertura
seja localmente finita, mas sim, a coleção dos respectivos suportes. Pois assim, cada ponto
p em M possui uma vizinhança que interseca supp(ρα ) apenas para finitos ı́ndices α, o
que significa que ρα (p) 6= 0 apenas para finitos ı́ndices α. Portanto, em cada ponto a
P
soma ρα é finita.
Observação A.6. Suponha que {fα }α∈A seja uma coleção de funções diferenciáveis em
M tal que a coleção dos suportes {supp(fα )}α∈A seja localmente finita. Pela observação
P
acima, a soma fα é de fato uma soma finita em cada ponto. Isto mostra que a função
P
f = fα está bem definida e é uma função diferenciável em M .
Teorema A.8. Considere M uma variedade compacta e {Uα }α∈A uma cobertura aberta
para M . Então existe uma partição da unidade {ρα }α∈A subordinada à cobertura {Uα }α∈A .
Demonstração. Para cada ponto x em M , seja Uα tal que x ∈ Uα e tome uma função
“bump” diferenciável ρx em x suportada em Uα . Como ρx (x) > 0, existe uma vizinhança
80 A. Partições da Unidade
ρi
ρei = P
ρi
P P
teremos que ρei ≡ 1. Como a soma ρi é positiva, ρei (x) 6= 0 se, e somente se, ρi (x) 6= 0.
Logo, supp(ρei ) = supp(ρi ) ⊂ Uα para algum ı́ndice α. Isto apenas mostra que {ρei } é uma
partição da unidade tal que para todo i, supp(ρei ) = supp(ρi ) ⊂ Uα para algum ı́ndice α.
Mas esta partição não nos serve. Precisamos tornar o ı́ndice da partição o mesmo que o
da cobertura.
Para cada ı́ndice i = 1, . . . , m escolha um ı́ndice α(i) ∈ A de tal forma que Vi ⊂ Uα(i) .
Sendo assim, defina para cada α ∈ A
X
ρα = ρei .
α(i)=α
Pegamos todos os i’s que vão em α e somo as respectivas ρei . Note que esta função é
diferenciável, é uma soma finita, é não negativa com supp(ρα ) ⊂ Uα . Se não houver i tal
que α(i) = α, a soma é vazia e definimos ρα ≡ 0. Por construção, temos então que
X X X m
X
ρα = ρei = ρei ≡ 1
α∈A α∈A α(i)=α i=1
pois cada supp(ρei ) ⊂ Vi ⊂ Uα . Portanto, {ρα }α∈A é uma partição da unidade diferenciável
em M subordinada à {Uα }α∈A .
Teorema A.9. Seja M uma variedade topológica e W uma cobertura aberta para M .
Então existe um refinamento localmente finito U de W e uma partição da unidade contı́nua
subordinada à U. Se M é uma variedade diferenciável, a partição da unidade pode ser
tomada C ∞ .
81
Apêndice B
Definições prévias
B.1 Topologia
Os espaços topológicos são a menor estrutura que podemos falar de funções contı́nuas.
Nesta seção trabalharemos alguns conceitos de topologia, preparando uma base para o
terreno das variedades diferenciáveis.
1. X e ∅ estão em Γ.
Definição B.2. Uma base para uma topologia Γ em um espaço X é uma subcoleção
B ⊂ Γ que satisfaz:
Definição B.3. Uma sub-base G para uma topologia Γ em X é uma coleção de subcon-
juntos de X cuja união é igual à Γ. A topologia gerada pela sub-base G é definida como
sendo a coleção Γ de todas as uniões arbitrárias e interseções finitas de elementos de G.
B = U × V : U ∈ Γ1 e V ⊂ Γ2 . (B.1)
Para mostrar que B é de fato uma base para X1 × X2 , observe que a primeira condição
para ser base é imediata, uma vez que X × Y ∈ B. A interseção de dois elementos de B
ainda está em B pois
e a segunda condição segue. Note que esta coleção não é um topologia, pois em geral, a
união de dois elementos de B nem sempre está em B.
Teorema B.4. Se B1 é uma base para a topologia de X1 e B2 é uma base para a topologia
de X2 , então
B = {B1 × B2 : B1 ∈ B1 e B2 ∈ B2 } (B.3)
Podemos expressar a topologia produto em termos de uma sub-base. Para isso, toma-
mos as projeções π1 : X1 × X2 → X1 e π2 : X1 × X2 → X2 . Se U é um aberto de X1 ,
então π1−1 (U ) = U × X2 é um aberto em X1 × X2 . Similarmente, se V é um aberto em
X2 , π2−1 (V ) = X1 × V é um aberto em X1 × X2 . Logo, π1−1 (U ) ∩ π2−1 (V ) = U × V .
Definição B.13. Uma aplicação f : X → Y entre dois espaços topológicos é dita ser
contı́nua se f −1 (V ) é um aberto em X para todo aberto V em Y .
Dito isso, observamos que a continuidade de uma função não depende apenas da
função, mas também das topologias no domı́nio e contradomı́nio.
Pedir que a inversa de f seja contı́nua, por definição, é pedir que para cada aberto de
U de X, a imagem inversa de U pela inversa f −1 seja aberta em Y . Mas pré-imagem de U
por f −1 é justamente a imagem de U por f . Outra maneira de definir um homeomorfismo
seria considerar uma bijeção f : X → Y tal que a imagem f (U ) é um aberto em Y para
todo aberto U em X. Além disso, um homeomorfismo nos dá uma bijeção não apenas entre
X e Y , mas entre a coleção de abertos destes. Como consequência, qualquer propriedade
de X que é expressada em termos da topologia de X vale também, via homeomorfismo,
para o espaço Y .
84 B. Definições prévias
f −1 (R − {0}) = {p ∈ X : f (p) 6= 0}
Teorema B.19. Um espaço topológico X é compacto se, e somente se, toda coleção C de
subconjuntos fechados de X que possui a propriedade da interseção finita satisfaz
\
C 6= ∅. (B.7)
C∈C
Definição B.20. Dizemos que X possui base enumerável em x ∈ X se existe uma coleção
enumerável B de vizinhanças de x, de tal forma que cada vizinhança de x contenha ao
menos um dos elementos de B. Se X possui base enumerável para todo x ∈ X dizemos
simplesmente que X possui base enumerável.
B.2 Análise
Nos cabe explicitar algumas condições sobre as quais estaremos trabalhando durante o
texto. A parte boa de se trabalhar com Rn está no fato de que as coordenadas globais nos
permitem fazer cálculos sem muitas complicações. Porém, quando se trata de conceitos
intrı́nsecos como vetores tangentes, campos vetoriais, não é tão obvio dizer quando estes
conceitos podem ser definidos sem o uso de coordenadas. A princı́pio, as variedades em
geral não estão “dentro”de Rn . Junto com o fato de não possuir coordenadas globais,
temos o suficiente para notar que não podemos integrar neste ambiente, pois a integral
(Riemann) depende das coordenadas para ser definida. No cálculo isto acontece, graças
à globalidade de Rn que permite uma identificar as n-formas com funções em Rn . Dito
isso, damos a definição principal do texto.
∂j f
(B.8)
∂xi1 · · · ∂xij
que é suave para valores de x positivos e negativos. Resta-nos mostrar que em x = 0 esta
função é C ∞ . Para x < 0 temos que f (k) = 0. Para x > 0 observamos o padrão
1
f 0 (x) = e−1/x ·
x2
00 −1/x 1 2
f (x) = e · −
x 4 x3
(B.9)
000 −1/x 1 6 6
f (x) = e · − +
x 6 x5 x4
..
.
que nos permite mostrar por indução sobre k, para x > 0, que f (k) (x) = f (x) · P2k (1/x)
86 B. Definições prévias
para algum polinômio de grau 2k na variável 1/x. O próximo resultado, cuja demonstração
pode ser encontrada em [10] na página 200, nos diz como encontrar o valor da derivada
neste caso.
Teorema B.24. Suponha que f seja contı́nua em x = a e que f 0 (x) exista para todo x
em alguma vizinhança de a. Suponha também que o limite
existe. Observe que quando x → 0− este limite é zero. Quando x → 0+ temos que
1/x → +∞. Com uma mudança de variáveis escrevemos
Existe uma versão do teorema de Taylor com resto que será utilizada para demonstrar
o isomorfismo entre os vetores tangentes e as derivações em p de Rn . Dizemos que um
conjunto S possui formato estrela em relação a um ponto p ∈ Rn se para todo ponto
x ∈ S, o segmento px está contido em S. Em particular as bolas em Rn são exemplos de
conjuntos com formato estrela em relação ao centro. A prova do seguinte teorema pode
ser encontrada em [1] nas páginas 6-7.
ou seja, a soma inferior nunca diminui e a soma superior nunca aumenta. Segue que
Observe que o valor da integral sempre vai depender do sistema de coordenadas usado
88 B. Definições prévias
para descrever o retângulo, ou seja, esta definição depende das coordenadas. Agora su-
ponha f : A → R limitada em um conjunto limitado A. Definimos a extensão nula de f ,
como sendo a função
f (x) se x ∈ A
fe(x) = .
0 se x ∈/A
Como A é um subconjunto limitado em Rn , existe um retângulo R em Rn que contém A.
Definimos então a integral de Riemann de f sobre um conjunto limitado A como sendo
Z Z
f (x) dx1 · · · dxn = fe(x) dx1 · · · dxn (B.21)
A R
Definição B.28. Um subconjunto A ⊂ Rn possui medida nula se para todo > 0, existe
P
uma cobertura contável {Rj } de A por retângulos Rj de tal forma que vol(Ri ) < .
Teorema B.32. Sejam f : [a, b] → R e F : [a, b] → R funções tais que f 0 (x) = F (x) para
todo x ∈ [a, b]. Se f é integrável em [a, b], então
Z b
f (x)dx = F (b) − F (a).
a
B.3. Álgebra 89
B.3 Álgebra
Começamos com algumas definições técnicas que, por mais que incompletas, nos darão
um norte sobre as propriedades dos espaços considerados. O espaço vetorial V será
considerado sempre com dimensão finita sobre o corpo R. Finalizamos o texto falando de
permutações.
Proposição B.33. Se {e1 , . . . , en } é uma base para um espaço vetorial V , então o con-
junto das funções coordenadas {x1 , . . . , xn } é uma base para V ∗ .
Demonstração. Seja T ∈ V ∗ e v =
P
vi ei um vetor em V . Então
X X
T (v) = vi T (ei ) = xi (v)T (ei ).
Observação B.34. Como consequência deste resultado, temos que dim(V ) = dim(V ∗ ).
Se B = {e1 , . . . , en } é uma base para V , então cada vetor v ∈ V pode ser escrito
unicamente como uma combinação linear
X
v= xi (v)ei
Isto significa que a base dual à base {e1 , . . . , en } é precisamente o conjunto das funções
coordenadas relativas à base {e1 , . . . , en }.
A seguir definimos os conceitos de álgebra, derivação e R-módulo que, no texto, estão
presentes no estudo dos campos vetoriais e das formas diferenciais.
Definição B.35. Uma álgebra sobre um corpo K é um espaço vetorial A sobre K, munido
com uma multiplicação
A×A→A
90 B. Definições prévias
o conjunto das derivações da álgebra A, que é fechado para a adição e multiplicação escalar
e portanto, um espaço vetorial (em geral com dimensão infinita).
µ:R×A→A
(ii) 1R · a = a
(iii) (r + s) · a = r · a + s · a e r · (a + b) = r · a + r · b.
B.3.1 Permutações
Fixado k ∈ Z+ um inteiro positivo, uma permutação do conjunto A = {1, . . . , k} é uma
bijeção
σ:A→A
ou seja, uma nova ordenação da lista 1, . . . , k de sua ordem natural crescente para
σ(1), . . . , σ(k). Descrevemos uma permutação σ por uma matriz
···
1 2 k
σ(1) σ(2) · · · σ(k)
σ = (5 6)(1 2 4 3).
Com este exemplo, conclui-se que toda permutação pode ser escrita como um produto de
ciclos disjuntos.
92 B. Definições prévias
Dizemos que uma permutação é par (ı́mpar) se esta é um produto com um número par
(ı́mpar) de transposições. Sabendo que uma permutação par não pode ser escrita como
um número ı́mpar de transposições e vice-versa, definimos o sinal de uma permutação
σ ∈ Sk como sendo
1 se σ é par
sgn(σ) =
−1 se σ é impar.
(leia da esquerda para a direita: 1 7→ 2 que por sua vez ocupa a posição do próximo 1 7→ 3
e portanto 1 7→ 2 7→ 3). De modo geral, um j-ciclo pode ser escrito como
Esta maneira de escrever a permutação nos ajuda dizendo que um j-ciclo é par (ı́mpar)
se j é ı́mpar (par). Para computar o sinal de uma permutação qualquer, basta fazer a
decomposição desta em um produto de ciclos e fazer a contagem dos sinais.
Uma segunda maneira de computar o sinal de uma permutação, é feita contando-se
o número de inversões. Uma inversão em σ ∈ Sk é um par ordenado (σ(i), σ(j)) onde
i < j mas σ(i) > σ(j). Para encontrar todas as inversões em uma permutação, é suficiente
escanear a segunda linha da matriz da permutação da esquerda para a direita. As inversões
serão os pares (ai , aj ) tais que ai > aj com ai à esquerda de aj .
Exemplo B.40. Considere duas permutações σ1 , σ2 ∈ S5 dadas por
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
σ1 = e σ2 = .
2 4 5 1 3 2 3 4 5 1
As inversões em σ1 são formadas pelos pares (2, 1), (4, 1), (5, 1) ,(4, 3) e (5, 3). E as
inversões em σ2 são formadas pelos pares (2, 1), (3, 1), (4, 1) e (5, 1).
Nosso objetivo agora, é pegar uma permutação qualquer e transformá-la na per-
mutação identidade. Como exemplo, tome a permutação σ1 acima. Para transformar
σ1 na identidade, primeiro precisamos mover o 1 para sua posição inicial, mas para isto
precisamos movê-lo através dos elementos 2, 4 e 5. Se multiplicarmos σ1 à esquerda pelas
transposições (5 1), (4 1) e (2 1) nesta ordem, obtemos
1 2 3 4 5 (5 1) 2 4 5 1 3 (4 1) 2 4 1 5 3 (2 1) 2 1 4 5 3
−→ −→ −→ .
2 3 4 5 1 2 4 1 5 3 2 1 4 5 3 1 2 4 5 3
B.3. Álgebra 93
Ou seja, conseguimos mover o 1 para sua casa inicial. O interessante é que, as trans-
posições que multiplicamos correspondem precisamente com as três inversões que termi-
nam com 1. Como o 2 já está em sua casa inicial, refazendo o processo para o 3 obtemos
2 1 4 5 3 (5 3) 1 2 4 5 3 (4 3) 1 2 4 3 5 1 2 3 4 5
−→ −→ = = id.
1 2 4 5 3 1 2 4 3 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
A partir deste exemplo e com alguns cálculos, podemos mostrar que uma permutação
pode ser escrita também como um produto de inversões. Para então, concluir que uma
permutação é par (ı́mpar) se, e somente se, possui um número par (ı́mpar) de inversões.
95
Referências Bibliográficas
[3] SPIVAK, Michael. Calculus on Manifolds. 1. ed. New York: Addison-Wesley, 1965.
[4] LIMA, Elon L. Curso de Análise. Vol. 2. Rio de Janeiro: IMPA-Projeto Euclides,
1989.
[6] MUNKRES, James R. Topology. 2. ed. New York: Prentice Hall, 2000.
[7] TAO, Terence. Differential forms and integration. Disponı́vel em: www.math.ucla
.edu/∼ tao/preprints/forms.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020.
[8] CONWAY, John B. A First Course in Analysis. Cambridge University Press, 2017.
[9] AUDIN, Michele. Geometry. Berlim: Springer Science & Business Media, 2002.