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A Atuação Dos Tutores Nos Cursos de Educação A Distância PDF
A Atuação Dos Tutores Nos Cursos de Educação A Distância PDF
RESUMO
Este artigo ressalta a importância e a atuação dos tutores nos cursos de educação a distância e
as funções exercidas por esse profissional, investigando também a proximidade destas com as
funções desempenhadas por um professor.
1 INTRODUÇÃO
O ensino a distância torna-se cada vez mais praticado por muitas pessoas e presente
na rotina dos brasileiros quando nos referimos a educação em nosso país. A modalidade de
ensino a distância, a EAD, surgiu no Brasil no século XIX, com cursos profissionalizantes
feitos por meio de correspondências e assim permaneceu durante muitos anos, até chegar aos
dias atuais. Vários são os fatores que levam alguns estudantes a optarem por essa modalidade,
como, por exemplo, a construção autônoma de seu tempo de estudo, o não-deslocamento de
sua residência para outros espaços, as necessidades constantes de atualizações e capacitações
que o mercado de trabalho exige de determinados profissionais e o vasto campo de meios e
ferramentas que as novas tecnologias oferecem.
A procura por cursos na modalidade a distância nos desperta um olhar crítico sobre o
sistema de educação formal e seu real valor na vida adulta. Compreendemos que as relações
interpessoais entre professores e alunos são extremamente válidas e ricas, mas não depende
somente delas o sucesso de uma carreira profissional, mas sim da construção de conceitos e
conhecimentos advindos da vida acadêmica do próprio aluno.
A denominação “a distância” nos induz a pensar em distância geográfica e
isolamento. No entanto, está aí o ponto chave da EAD, superar qualquer distância, aproximar,
interagir, utilizando para isso meios tecnológicos, como televisão, internet, videoconferência,
telefone, e-mail, entre outros, e o principal, pessoas. Apesar de os professores, coordenadores,
tutores e demais envolvidos nessa modalidade estarem do outro lado, muitas vezes,
visualizadas em fotografias estáticas, estão, em boa parte do tempo, comprometidos no ato de
orientar da melhor forma possível esse aluno “distante”.
Assim, o papel do professor desloca-se do contexto habitual da sala de aula e passa a
interagir com seus alunos por meio de outras formas e materiais tecnológicos, mediando a
construção do conhecimento do aluno. Em parceria com o trabalho do professor em EAD,
encontramos a participação de um individuo que facilitará o percurso do aluno nessa
metodologia, o tutor.
1
Arte-educadora e tutora presencial do curso de Artes Visuais na modalidade a distancia (Ufes). Mestre em
Teatro, Cultura e Educação (Unirio). Bacharelado e licenciatura em Artes Plásticas (Ufes). E-mail:
rejanesleal@hotmail.com
Colabor@ - Revista Digital da CVA - Ricesu, ISSN 1519-8529
Volume 6, Número 22, Fevereiro de 2010
Sob essa ótica, o tutor é tido como o orientador do aluno em EAD e a principal
função que o compete é a de acompanhar a vida acadêmica dos estudantes, apontando
caminhos e encontrando em parceria soluções para determinados problemas ou propostas. O
tutor é o elemento de transição e ligação na relação entre professor e aluno. O valor de sua
atuação está no fato de que esse agente é um facilitador do conhecimento e, por essa ação,
deve estar inteiramente consciente e integrado quanto aos conteúdos, metodologias, matérias,
atividades e, sobretudo, o contexto em que seu aluno está inserido, sua realidade, suas
limitações e principalmente, seu potencial.
Conforme Preti (1996, p. 27), “o tutor, respeitando a autonomia da aprendizagem de
cada cursista, estará constantemente orientando, dirigindo e supervisionando o processo de
ensino-aprendizagem”. É por intermédio dele também que se garante a efetivação do curso
em todos os níveis. Em suma, o tutor é aquele que em muitos momentos representa o curso e
é por isso que autores depositam em sua atuação o sucesso ou não da educação a distância.
Segundo Iranita Sá (1998, apud MACHADO, 2004, p. 2), “a tutoria como método
nasceu no século XV nas universidades, onde foi usada como orientação de caráter religioso
aos estudantes, com o objetivo de infundir a fé e a conduta moral”. Posteriormente, no século
XX, o tutor assumiu o papel de orientador e acompanhante dos trabalhos acadêmicos, e é com
esse mesmo sentido que foi incorporado aos atuais programas de educação a distância.
A atuação dos tutores nos cursos de EAD é um dos principais pontos de reflexão
deste artigo. Atualmente, a formação de tutores é um grande desafio para a modalidade a
distância, na medida em que esse profissional tem ganhado maior relevância por parte de cada
vez mais autores, que salientam sua importância para o sucesso dos cursos de EAD.
Este trabalho pretende, a partir de pesquisas teóricas, ressaltar a importância dos
tutores na EAD, reforçando quais são as funções que eles exercem nessa modalidade e que
proximidade mantêm com as funções desempenhadas por um professor. Por isso, levantamos
questões como “O tutor seria um orientador acadêmico?” e “Já que os tutores são tão
importantes para os cursos em EAD, existe por parte dos gestores desses cursos preocupações
quanto à formação e capacitação desses profissionais?”.
modalidade. Assim, as bases legais para a EAD no Brasil foram estabelecidas pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996),
regulamentada pelo Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005.
A lei 9.394/96 assegura aos jovens e adultos que não puderam concluir sua vida
escolar em idade regular o direito de prosseguir seus estudos por meio da educação a
distancia. Cabe ressaltar a participação do Poder Público no incentivo ao desenvolvimento e
veiculação de programas de ensino a distância e de educação e capacitação de professores,
assim como a regulamentação dos requisitos para a realização de exames e registro de
diplomas relativos aos cursos de educação a distância.
Além disso, cabe ao Poder Público a concessão de canais com finalidades
exclusivamente educativas e o provimento de custos de transmissão em canais comerciais de
radiodifusão sonora e de sons e imagens, entendendo que a educação a distância necessita de
um tratamento diferenciado ao do ensino regular.
Tratando a EAD como modalidade educacional, as relações de ensino e
aprendizagem entre alunos e professores devem ocorrer como nos outros sistemas
educacionais formais. Dessa forma, a EAD prevê a obrigatoriedade do momento presencial,
seja nas avaliações dos alunos, nos estágios, nas apresentações ou nas defesas de trabalhos de
conclusão de curso.
Em um parecer geral dessa lei, percebe-se a preocupação por parte dos órgãos
federais quanto à qualidade dos cursos oferecidos em EAD no que tange ao credenciamento
de instituições que ofertam essa modalidade, assim como a autorização, a renovação e o
reconhecimento dessas instituições.
Desse modo, a quantidade de oferta não pode vir desprovida de qualidade, pois,
mesmo tendo em nossa época uma diversidade maior de meios e tecnologias à disposição, de
nada adiantará ao estudante e a sua formação integral se os métodos e meios não passarem por
uma sistematização criteriosa dos órgãos públicos responsáveis.
Grandes conquistas ocorreram e trouxeram à modalidade a distância maior
valorização e, consequentemente, maior procura. As novas tecnologias surgidas no século XX
aproximaram regiões e possibilitaram maior interação entre professores e estudantes,
contribuindo de forma positiva para o crescimento e a difusão dessa modalidade.
O desenvolvimento da tecnologia permite a criação e o enriquecimento de novas
propostas em EAD, proporcionando maior agilidade no estudo de conteúdos, na confecção de
projetos educacionais virtuais, na interatividade, na socialização de saberes e também pessoas
e na participação simultânea dos agentes envolvidos, como professores, tutores e alunos.
No entanto, mesmo com a legalidade e a supervisão das autoridades governamentais
e dos esforços de várias instituições, ainda existe resistência e questionamentos quanto à
qualidade do ensino a distância, a aceitação de diplomas dessa modalidade no mercado de
trabalho e à desistência ou abandono da continuidade dos estudos de alguns alunos
matriculados, de quem são exigidos disciplina e organização do tempo dedicado ao estudo.
Além desses fatores que ameaçam a popularização da EAD, existe ainda as dificuldades por
parte de alguns estudantes em lidar com as novas tecnologias e o analfabetismo virtual.
Mesmo com dificuldades e obstáculos, a EAD continua a fazer parte do cotidiano de
muitas pessoas, tomando força, ampliando seu campo de atuação e levando o conhecimento a
parcelas cada vez maiores de pessoas, em diferentes áreas de trabalho, pesquisa e culturas.
Além disso, a educação a distância tem se tornado uma ferramenta ágil e barata no
treinamento e na capacitação de funcionários, consolidando a educação a distância
corporativa.
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A tutoria pode ser entendida como uma ação orientadora global chave para articular
a instrução e o ato educativo. O sistema tutorial compreende, dessa forma, um
conjunto de ações educativas que contribuem para desenvolver e potencializar as
capacidades básicas dos alunos, orientando-os a obterem crescimento intelectual e
autonomia e para ajudá-los a tomar decisões em vista de seus desempenhos e suas
circunstâncias de participação como aluno (SOUZA, et al, 2007, p. 2).
dos alunos de um curso a distância. É ele quem, aos poucos, deve fazer com que os alunos
percebam o quanto o trabalho colaborativo pode ajudar o processo de ensino e aprendizagem.
Sobre o surgimento desse profissional, Preti (apud SILVA, 2008, p. 44) relata que
expectativas do aluno quanto ao curso e aos conteúdos, não demonstrando saber o que não
sabe e mantendo uma relação de troca, na qual alunos e tutor pesquisam e aprendem em
parceria).
Completando as atuações e funções exercidas pelo tutor, Pereira (apud SILVA, 2008,
p. 43) aponta aspectos que contribuem significativamente para a organização e o
desenvolvimento do trabalho de tutoria: 1) o ambiente de ensino e aprendizagem proposto
define o campo de atuação, a modalidade de tutoria a ser adotada e a natureza de sua atuação;
2) o material didático do curso deve ser utilizado a partir de uma concepção pedagógica que
orienta a tutoria, de modo que se possa, ao longo do processo, detectar suas limitações e
possibilidades; 3) a organização do tempo e do percurso para o trabalho de tutoria; 4) o
reconhecimento do contexto institucional em que os alunos estão inseridos, e 5) o
acompanhamento do processo de aprendizagem baseado na intervenção e auxílio aos alunos
em dificuldades de aprendizagem.
Nesse sentido, a atuação do tutor baseia-se em ter, além de capacidades pessoais e
técnicas, consciência sobre a modalidade em que atua (presencial, online, postal, telefônica).
Além disso, é necessário saber utilizar de forma competente as tecnologias de informação e
comunicação, que, certamente, contribuem para desenvolver competências dos alunos e para
gerar colaboratividade entre o grupo. É o entendimento sobre a estrutura e a dinâmica do
material de apoio a ser utilizado que melhor orientará o tutor no processo de aprendizagem
dos alunos, auxiliando e colaborando em possíveis dificuldades.
Conforme Pereira (apud SILVA, 2008, p. 44), é preciso saber administrar níveis
diferenciados de tempo, rompendo com sua lógica linearizada, e revendo formas de
administrar o tempo de tutoria e o tempo que se compartilha nas instituições em que estão
inseridos como tutores. A autora conclui reforçando o diálogo entre a instituição e a equipe de
tutores, para que, de fato, ocorra um processo de formação significativa para o aluno,
ultrapassando a simples certificação.
Considerando as várias teorias existentes atualmente sobre o trabalho do tutor, o
perfil desse profissional e as caracterizações sobre suas diferentes funções no campo da
educação e, em particular, na modalidade a distância, encontramos semelhanças que
aproximam esse ator às funções desempenhadas por um professor-orientador. Indo além,
como ressalta Silva (2008, p. 47),
Autores como Lázaro e Asensi (apud SILVA, 2008, p. 37) definem que
ser tutor é ser professor que se encarrega de atender diversos aspectos que não são
tratados nas aulas. O tutor também é o professor, o educador integral de um grupo
de alunos. A tutoria é uma atividade inerente à função do professor, que se realiza
individual e coletivamente com os alunos em sala de aula a fim de facilitar a
integração pessoal nos processos de aprendizagem; é a ação de ajuda ou orientação
ao aluno que o professor-tutor pode realizar além de sua própria ação docente e
paralelamente a ela.
resoluções e iniciativas, propõe atividades, instiga a reflexão, orienta seus alunos na trajetória
de novos conhecimentos. Assim, em boa parte dessas ações desenvolvidas pelo docente,
consiste também as funções atribuídas a um tutor. O que difere entre esses dois profissionais
da educação é o contexto em que estão institucionalizados e as demandas pedagógicas lhe são
atribuídas.
No contexto da EAD, notamos o deslocamento dessas demandas e encontramos os
dois atores, professor e tutor, em uma mudança conceitual, outra forma de mediação, não
mais a da educação formal, professor-aluno, mas sim professor-tutor-aluno. No entanto, essa
transferência de conceitos, ou mesmo troca de palavras, não acarreta perda a nenhum dos
educadores envolvidos, mas sim ganhos e trocas, uma forma colaborativa de se trabalhar em
prol da formação acadêmica dos alunos.
Segundo Azevedo (2008, p. 24),
A autora ressalta ainda que uma aula, sendo o ambiente ou o espaço em que ocorre a
aprendizagem a distância é resultado de um trabalho de equipe, em que os principais
envolvidos (professor, tutor e aluno) procuram, em conjunto, atingir os objetivos com
corresponsabilidade, participação, respeito e bastante diálogo. É importante lembrar também
que, nesse novo cenário, a figura tradicional do aluno passivo à recepção de informações
desaparece e dá lugar ao aluno que busca ampliar seus conhecimentos e procura estar a par
dos vários recursos de estudo que são ofertados nessa modalidade.
Nesse tipo de relação estabelecida em EAD, visualizamos a função do tutor como a de
um professor orientador. Machado (2004, apud SILVA, p. 38) destaca que “a ideia de guia, de
orientador é a que aparece com maior força na definição da tarefa do tutor em EAD”.
Enquanto o professor organiza e transmite os conteúdos a serem pesquisados, o tutor, ciente
desses conteúdos, concentra-se na orientação do processo de aprendizagem de seus alunos. É
nesse fato que se concentra a relevância da atuação do tutor em EAD, pois ele é o sujeito que
promove e estimula o estudo autônomo do aluno e constantemente o assessora e o aconselha,
compreendendo, de um lado, os objetivos propostos no trajeto do curso e, de outro, as
necessidades dos alunos e seus respectivos interesses.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluindo, a forma de pensar o papel do tutor, refletida neste artigo, propõe que
esse profissional tenha por parte dos envolvidos no campo da EAD uma formação de fato
mais significativa, haja vista a importância de sua função. Necessita-se, portanto, repensar os
projetos atuais, propondo que cada instituição na modalidade EAD busque construir um
modelo tutorial que atenda às especificidades locais e regionais, visando à construção de um
ambiente adequado de trabalho, melhores salários, maior tempo de estudo e preparação desse
profissional para que sua ação educativa seja absorvida e bem aproveitada pelo aluno,
trazendo novos sentidos e significados que contribuirão para o sucesso de sua vida acadêmica,
profissional e pessoal.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Adriana Barroso de. Tutoria em EAD para além dos elementos técnicos e
pedagógicos. Palestra apresentada no III Seminário EAD – Ufes – Formação de professores,
tutores e coordenadores de polos para UAB. 22 a 24 set. 2008.
OLIVEIRA, Gleyva Maria S. de. O perfil de tutoria nos projetos de cursos a distância
voltados para a formação de professores do ensino fundamental. Cuiabá: Nead/UFMT,
2002.
Colabor@ - Revista Digital da CVA - Ricesu, ISSN 1519-8529
Volume 6, Número 22, Fevereiro de 2010
SOUZA, Carlos Alberto de; SPANHOL, Fernando José; LIMAS, Jeane Cristina de Oliveira;
CASSOL, Marlei Pereira. Tutoria na educação a distância. Trabalho apresentado no XI
Congresso Internacional da Abed, Salvador, 7 a 9 de setembro de 2004. Disponível em:
<http://www.abed.org.br/congresso 2004>. Acesso em: 15 mar. 2008.