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PERSONAGENS:
Velho Tchin
Crianças
1
2
3
4
5
Fu, o criado
Siu, o criado
O Pequeno Imperador
Chung, o cozinheiro
Lang, o cozinheiro
Senhor da Escuridão
Passarão 1
Passarão 2
Passarão 3
Comediantes do Palácio
Lavradores
Povo
SINOPSE
Numa época de grande prosperidade, num passado indeterminado, a China era governada por
um menino, muito estimado pelo povo, que o chamava respeitosamente de “O Pequeno
Imperador”.
Um dia, quando brincava com seu fiel criado, o Pequeno Imperador captura e prende um
pássaro desconhecido, que o atrai pelo seu canto e pelas suas cores incomuns. A partir desse
momento, todo o país passa a padecer, mergulhado num período de trevas e infertilidade. O
Pequeno Imperador, alheio a essa situação, e também infeliz, tenta em vão divertir-se, isolado
em seu castelo.
Num pesadelo, enormes pássaros estranhos lhe aparecem e o aprisionam, deixando o menino
angustiado. Ele, então, toma conselhos com o comediante do palácio, que o faz refletir sobre o
significado dos sonhos, os desejos e as virtudes.
Meditando sobre esses conselhos, o Pequeno Imperador percebe o êrro que cometera e
liberta o pássaro, de quem nem se lembrava mais, afastando a escuridão que cobria o país e
trazendo de volta a felicidade para si e para o seu povo.
CENA I - AMANHECER
Amanhecer. O povo sai às ruas para a habitual sessão matinal de Tai-Chi. Enquanto praticam,
surge uma criança com um brinquedo, e também começa a praticar, imitando os outros, entre
bocejos e espreguiços. No final, todos se cumprimentam e saem, ficando apenas a criança e o
Velho Tchin.
Entram três lavradores, por lados diferentes. Trazem cestos nas costas, vêm alegres, cantando
e respirando o ar puro da manhã. Encontram-se e se cumprimentam longamente, com muitos
risinhos e gritinhos de alegria. Começam a tirar suas ferramentas dos cestos e iniciam a
plantação.
LAVRADORES - Cavar
Cavar, cavar, cavar
Cavar, cavar, cavar...
Plantar
Plantar, plantar, plantar
Plantar, plantar, plantar...
Depois de um certo tempo, cansados, param e apontam para o sol, indicando que é hora do
almoço. Entra uma mulher com uma criança amarrada nas costas e uma trouxa de comida.
Todos a cumprimentam e se aproximam para ver a criança. Parabenizam o pai (um dos
lavradores), que fica todo orgulhoso. A mulher se despede e sai. Os lavradores apalpam a
trouxa, ansiosos. Sentam-se, tiram toalhas e comida de dentro da trouxa, e juntos erguem a
comida numa oferenda, sérios. Em seguida, comem gulosamente, entre risos e brincadeiras.
LAVRADORES - Comer
Comer, comer, comer
Comer, comer, comer...
Satisfeitos, guardam tudo, espreguiçam. De repente, ouvem um maravilhoso canto de pássaro.
Tentam identificar de onde vem, apontam para um lado e para o outro, ajuntam-se para tentar
ver, mas não conseguem. Felizes, iniciam a colheita.
LAVRADORES - Colher
Colher, colher, colher
Colher, colher, colher...
Muito alegres, mostram uns aos outros o que colhem, e guardam nos cestos. Finda a colheita,
cansados mas felizes, despedem-se alegremente e saem.
FU - (Entra esbaforido, procurando um lugar para se esconder) Já estamos indo, senhor! Não
vale olhar, hein? Conte até dez, majestade!
IMPERADOR - (em off) Está bem! (bem rápido) 1-2-3-4-5-6-7-8-9-10!
SIU - Não, não, majestade, assim não. Devagarinho...
IMPERADOR - Tá...! 1... 2... 3... 4... Pronto?
FU - (Ainda procurando onde se esconder) Não, majestade, ainda não! Até dez!
IMPERADOR - 5... 6... posso ir?
FU - Quase! Quase!
SIU - Mais um pouquinho, senhor! Até dez!
IMPERADOR - 7... 8...
FU E SIU- (Escondendo-se num lugar à vista do público) Pronto!
IMPERADOR - ... 9...
FU - Pronto! Pode vir!
IMPERADOR - Dez! Lá vou eu! (Entra, procurando fu) Fu-u... Siu-u... cadê vocês? (Encontra o
criado, aproxima-se dele e o assusta com um grito) Buu!
FU - Ai! Que susto, majestade!
SIU - Achou! O senhor sempre acha!
IMPERADOR - Vocês se escondem muito fácil, assim não tem graça. Vamos brincar de outra
coisa.
FU - (Cansado) De outra coisa? Olha, não é melhor descansar um pouco, senhor?
SIU – ?! O senhor deve estar muito cansado...
IMPERADOR - Pular corda!
FU - Pular corda... !?!
IMPERADOR - 50 vezes cada um!
SIU - Cinquenta vezes... ?!?
IMPERADOR - Não! Cem vezes! Você começa.
FU - Pular corda? Cem vezes? Mas, majestade, sabe, é que, bem, eu... Ah, por que não
brincamos de “o que é, o que é” ?
SIU – Muito boa idéia!
IMPERADOR - Eu começo!
FU - Mas da outra vez já foi o senhor que começou...
IMPERADOR - Então vamos tirar na sorte.
FU - Dois ou um?
IMPERADOR - Não. Jo-Ken-Po.
SIU - Ah, senhor... jo-ken-po não... esse eu não entendo direito...
IMPERADOR – É fácil, já te ensinei tantas vezes... Vamos fazer que eu explico, tá? Um, dois e...
OS DOIS - Jo-Ken-Po!
(O Imperador põe “pedra” e Siu põe “papel”)
IMPERADOR - Ganhei! Ganhei! Eu ganhei!
SIU – Ele ganhou.
FU - Ué...! Mas o papel não embrulha a pedra?
IMPERADOR - Não! A pedra rasga o papel! Mas você não entende mesmo, hein, Fu? Eu
começo. O que é, o que é que só as corujas têm, e nenhuma outra ave pode ter?
FU - Deixa eu ver... as corujas têm... as outras aves não têm...
SIU – As corujas têm... as outras aves não tem...
FU - Não sei, senhor.
IMPERADOR - Corujinhas!
FU - Puxa vida! ? mesmo! Corujinhas!
SIU - Só as corujas podem ter! Muito engraçado.
(Ouve-se o canto de um pássaro)
IMPERADOR - Sssshiiiiuuuu! Estão ouvindo?
FU - O quê, majestade?
IMPERADOR - Esse canto...!
SIU - É um pássaro!
FU - Ah, sim... Estou ouvindo! Uma beleza, não?
IMPERADOR - Olha ele lá!
SIU - Onde, majestade?
IMPERADOR - Alí, no jardim!
FU - Não estou vendo, senhor...
IMPERADOR - Agora foi para lá!
FU - Ah, estou vendo!
SIU – Também vi.Que bonito!
IMPERADOR - Que pássaro é aquele?
SIU - Eu nunca vi igual...!
FU - Não sei, majestade, também nunca vi... É lindo!
SIU - E como canta!
IMPERADOR - E as cores! Engraçado... ele muda de cor!
FU - É mesmo! Numa hora ele é dourado como se o sol refletisse numa pepita de ouro, no
instante seguinte é prateado como a lua de primavera...
IMPERADOR - Depois fica vermelho, depois azul... mistura todas as cores...
SIU - Mesmo eu, que já não tenho olhos tão bons, estou encantado! É inacreditável!
IMPERADOR - Olhe! Pousou na janela! Vamos atraí-lo para dentro!
FU - Mas como, majestade? Ele vai voar!
IMPERADOR - Comida! Vá lá na cozinha e traga uns grãos de trigo, depressa!
FU – Você não ouviu o que a magestade pediu?
SIU – Mas ele mandou você!
FU – Agora!
SIU – Está bem, estou indo.
IMPERADOR - Depressa!Vamos! Rápido, antes que ele fuja!
SIU - Pronto, majestade! (Volta, com a mão em concha)
IMPERADOR - Vamos fazer uma trilha!
FU - Uma trilha... !?!
IMPERADOR - Quieto, Fu!
(O Imperador dispõe alguns grãos no chão, em trilha, e em seguida ser afasta um pouco e se
agacha. Fu o acompanha. Notas musicais indicam que o pássaro está percorrendo a trilha de
trigo)
(Fu tenta pegar o pássaro, ele voa para um lado e para o outro. Depois de alguma correria, Fu
consegue pegá-lo e o segura dentro do chapéu)
(Relutante, Fu obedece e colocam o pássaro na gaiola. Uma luz se acende e o pássaro canta
divinamente)
IMPERADOR - Pit, pit, pit... ué... parou de cantar? Pit, pit, pit... nem muda mais de cor... Por
que será? Canta, canta! (irrita-se) Vamos! Cante para o seu Imperador! Cante! Droga de
pássaro!
(Cobre a gaiola)
CHUNG - (Entra com uma bandeja) Pronto, pronto, pronto, senhor. Aquí está.
LANG - Espero sinceramente que o nosso Pequeno Imperador aprecie.
CHUNG - Pato assado com cerejas!
FU - Hummmm! Creio que ele gostará! ?
SIU - É seu prato preferido! (Sai de cena, anunciando)
FU - Pato assado com cerejas!
(Até o final do almoço, Fu leva os pratos para o imperador e volta para pegar outros que Chung
foi buscar na cozinha)
Música forte. Surge o Senhor da Escuridão, um vulto negro, de longa capa e máscara escura.
Ergue os braços, comanda o vento e apaga a luz do sol. O tempo esfria e as flores caem.
Destrói as plantações. Rodeia o Imperador, que encolhe-se no trono. Gritos de medo, choro de
crianças. O Senhor da Escuridão se retira, vitorioso.
Entram três lavradores, assustados. Jogam seus cestos no chão, olham a plantação destruída.
Lamentos, choros, gestos de desespero. Vasculham o chão, não encontram nada. Um deles
colhe um graveto e os demais avançam sobre ele. Brigam. Ao final, o graveto está destruído.
Saem de cena xingando-se e insultando-se.
(Três passarões entram, pulando e guinchando, dão voltas e mais voltas pelo palco, sempre
muito agitados)
FU - Os comediantes do palácio!
COMEDIANTE 1 - Mandou vos chamar, Pequeno Imperador?
COMEDIANTE 2 – Aqui estamos!