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IV Censo de águia-pesqueira invernante na Península Ibérica

13 de Janeiro de 2024

Fotografia de José Freitas

1. O Censo
1.1 - Origem
Apesar de a águia-pesqueira ser considerada uma espécie invernante regular em
Portugal continental, até Janeiro de 2015, ano do primeiro “Dia da águia-pesqueira”, não
tinha decorrido qualquer censo para conhecer melhor a sua invernada no nosso país.
Motivados pela perspetiva de conseguir obter mais informação acerca do tamanho da
população invernante e da sua área de distribuição, um grupo de ornitólogos, por
intermédio da plataforma “Aves de Portugal”, decidiu realizar em Janeiro de 2015 o
primeiro censo nacional de águias-pesqueiras invernantes. Esta iniciativa foi baptizada
como “Dia da águia-pesqueira”.

1.2 - Edições seguintes


O censo repetiu-se em 2016, coincidindo com um censo similar do lado espanhol,
mais precisamente na Comunidade Autónoma da Andaluzia, organizado pelos “Amigos
del Águila Pescadora”, coordenados pela Fundación Migres.
A partir de 2017 o censo tornou-se ibérico, permitindo assim estudar a invernada da
espécie a uma maior escala. Desde então o censo voltou a ser realizado nos anos de 2019
e 2022, último ano de recenseamento da espécie na Península Ibérica. Estas três edições
contaram uma coordenação ibérica, estando a Fundación Migres responsável por
coordenar as contagens em Espanha e o portal “Aves de Portugal” em Portugal.
Os resultados de cada edição poderão ser consultados na Tabela 1.
Imagem 1 - Contagens realizadas no rio Tejo durante o censo de 2022.

1.3 – Resultados de cada edição do censo até 2022


Tabela 1 – Resultados distritais e nacionais obtidos em cada uma das edições do censo.

Distrito/País 2015 2016 2017 2019 2022


Aveiro 13 a 15 18 23 a 29 20 a 23 19 a 24
Beja 2a3 1 3a6 3 7
Braga 1 2 3 3 2
Bragança 0 0 0 0 0
Castelo Branco 0 0 0 0 0
Coimbra 6 3a4 2a3 4a5 11 a 13
Évora 2 6 5a6 2 2
Faro 10 a 14 14 a 17 24 a 30 31 a 34 36 a 41
Guarda 0 0 0 0 0
Leiria 0 1 1 2 4
Lisboa 10 a 11 14 a 16 18 a 19 28 a 35 9 a 13
Portalegre 2a3 3a4 5 4 2
Porto 0 0 1 0 0
Santarém 8a9 40 a 43 39 a 42 53 a 55 39 a 44
Setúbal 16 a 17 31 a 36 29 a 38 22 a 27 34 a 42
Viana do Castelo 1 2 2 3 3
Vila Real 0 0 0 0 0
Viseu 0 0 0 0 0

Total Portugal 71 a 82 135 a 150 155 a 185 175 a 196 168 a 197

Total Península
- - 359 a 389 430 a 446 390 a 419
Ibérica
Marrocos - - - 49 -
Mapa 1 – Áreas e respectivos números mínimos de águias-pesqueiras registadas na
Península Ibérica no censo de 2022.

2. O Censo em 2024
2.1 - Objectivo
Este censo tem como objectivo quantificar a população invernante de águia-
pesqueira na Península Ibérica, dando seguimento aos censos já realizados no passado. À
semelhança da edição anterior, em 2022, a Fundación Migres ficará responsável por
coordenar o censo em Espanha e o “Aves de Portugal” em Portugal.
A continuação deste tipo de trabalhos permitirá, a médio-longo prazo, compreender
qual a evolução das populações desta espécie a nível ibérico, e em particular em território
nacional. Indirectamente dar-nos-á também informação sobre a situação da espécie nos
países de onde são oriundas as aves invernantes em território ibérico.

2.2 Metodologia
Durante o período de invernada, a águia-pesqueira frequenta essencialmente zonas
húmidas, tanto litorais, onde se incluem os estuários e as lagoas costeiras, como no
interior, no qual se destacam as albufeiras e os cursos de rios caudalosos. Assim, pretende-
se mobilizar os observadores para os vários locais com potencial de ocorrência de águias-
pesqueiras.
À semelhança das edições anteriores, as áreas de ocorrência da espécie foram
divididas em dois grupos tendo como referência o número de aves que aí poderão invernar
(consultar o mapa disponibilizado pela coordenação nacional):
• áreas de prioridade 1 (etiqueta vermelha) – áreas onde em edições anteriores
foram registados, pelo menos, cinco indivíduos.
• áreas de prioridade 2 (etiqueta azul) – áreas de menor tamanho onde em anos
anteriores foram registados, até, quatro indivíduos ou aquelas que apesar de não
terem registo histórico da sua presença poderão reunir condições para a sua
invernada.

Preferivelmente a visitas deverão acontecer durante o dia 13 de Janeiro para reduzir


ao máximo a duplicação de indivíduos (isto porque se sabe que as aves se deslocam entre
diferentes massas de água). As contagens poderão decorrer um dia antes, dia 12, ou um
dia depois, dia 14, em situações pontuais ou então em áreas que fiquem muito distantes
de áreas que foram censadas no dia 13.
Cada área de prioridade 1 contará com um(a) coordenador(a), que será o
responsável pela organização da equipa que aí irá censar a espécie. O(a) coordenador(a)
fará também a ligação entre a coordenação nacional e os voluntários.
Preferencialmente, a equipa de cada uma destas áreas deverá iniciar as contagens
durante o período de maré baixa e à mesma hora. Aconselha-se a que cada observador
permaneça no local que está a censar cerca de 3 horas e, sempre que possível, que aponte
a hora e o comportamento de cada ave que observe: ave pousada, ave em voo (direcção
de voo, i.e. de onde veio e para onde foi). Estes dados serão muito importantes para o
cálculo final do número total de indivíduos da área em causa.
As áreas de prioridade 2 ao albergarem um menor número de águias-pesqueiras,
normalmente menos de 5 indivíduos, não irão contar com um coordenador de área. Para
estes locais, cada voluntário(a) deverá visitar a área e registar o número de águias-
pesqueiras que encontrar. Por exemplo, em albufeiras pequenas é aconselhável selecionar
um ponto de observação que permita procurar águias-pesqueiras em toda a sua extensão.
Já em albufeiras muito grandes e muito recortadas, o aconselhável será selecionar vários
pontos de observação para conseguir uma melhor cobertura. Sugere-se que o(a)
voluntário(a) invista cerca de 30 minutos em cada ponto de observação.
Na impossibilidade de obter um número total exacto de indivíduos, aconselha-se que
o resultado final seja apresentado sob a forma de intervalo, com um número mínimo e
máximo de aves registadas. Isto apenas acontecerá quando não há a certeza de serem aves
diferentes, isto é, quando existe a possibilidade de duplicação.

2.3 Comunicação dos resultados


Nas áreas de prioridade 1 as contagens serão comunicadas ao coordenador da
respectiva área. Nas de prioridade 2 os(as) voluntários(as) poderão reportar os resultados
pelos diversos canais de divulgação do censo, em especial o Facebook, o Fórum Aves de
Portugal e o email da organização [geral@avesdeportugal.info].
2.4 Coordenação nacional do censo:
João Tomás – Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria,
Lisboa, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu.
Gonçalo Elias – Portalegre, Beja, Évora, Faro e Setúbal.

2.5 Lista de coordenadores das áreas de prioridade 1:

Área Coordenador(a)
Ria de Aveiro Daniel Santos - portugalselvagem.pt
Estuário e vale do Mondego Luís Silva
Vale do Tejo (Abrantes até VFX) José Freitas e Paulo Alves
Estuário do Tejo (lezírias) Humberto Matos
Estuário do Tejo (restante área) Pedro Nicolau
Estuário do Sado Carlos Pacheco e Carlos Miguel
Ria Formosa Miguel Rodrigues

2.6 Páginas de interesse e contactos


Sugere-se também a consulta ao tópico dedicado a esta espécie no Fórum Aves:
https://aves.forumeiros.com/t33255-iv-censo-de-aguia-pesqueira-invernante-na-
peninsula-iberica-13-de-janeiro.
Para mais informações sobre o censo poderão contactar directamente o coordenador
de cada área de prioridade 1 ou então a organização do censo através do email
geral@avesdeportugal.info
3. A águia-pesqueira
3.1 No mundo e Europa
A águia-pesqueira (Pandion haliaetus) é uma das espécies de rapina mais
cosmopolitas do mundo, encontrando-se distribuída por todos os continentes,
exceptuando a Antárctida. Contudo, existem autoridades que consideram a população
australiana como uma espécie distinta, a Pandion cristatus. Na Europa, a espécie
reproduz-se principalmente no centro e no norte do continente, havendo depois
populações pequenas e fragmentadas ao longo dos países mediterrânicos (Espanha, Itália
e principalmente nas ilhas mediterrânicas).

3.2 Em Portugal
A águia-pesqueira foi relativamente comum como espécie nidificante no princípio
do século XX (22-30 casais reprodutores estimados), apresentado nessa época uma
distribuição alargada ao longo da costa rochosa, desde a Estremadura (possivelmente
incluindo o Pinhal de Leiria) até à costa sul algarvia (zona de Albufeira).
Ao longo do século XX registou-se uma progressiva diminuição da população
reprodutora, sendo apontada como causa principal a pressão humana, quer pelo aumento
das áreas urbanas e turísticas quer pela degradação dos locais de nidificação. No início da
década de 1990 restavam dois casais, e a partir do ano de 1998 a águia-pesqueira deixou
de nidificar regularmente em território nacional.
No ano de 2015 registou-se um caso de reprodução na Costa Vicentina, num local já
utilizado no passado. Nas últimas duas décadas a presença desta espécie em Portugal tem
ocorrido essencialmente nos períodos de migração pós-nupcial e de invernada. A partir
de 2011 decorreu na albufeira de Alqueva um projecto de reintrodução, tendo-se
verificado a nidificação de 1-2 casais nessa zona em anos recentes e também na albufeira
de Morgavel.

3.3 Identificação
A águia-pesqueira é uma grande ave de rapina, que à distância parece preta e
branca. Contrariamente a outras aves de rapina, tem uma silhueta de aspecto
"quebrado", o que fica a dever-se ao ângulo formado pelas asas abertas. Vista por
baixo, a brancura da plumagem é evidente, destacando-se os "punhos" pretos (Imagem
1). As partes superiores são acastanhadas. O padrão da cabeça é característico, devido à
presença de uma máscara preta, que é facilmente visível quando a ave está pousada
(Imagem 2).
Fotografia de José Freitas

Fotografia de José Freitas

Imagem 2 – Águia-pesqueira em voo (em cima) e pousada (em baixo).

3.4 Habitat
A águia-pesqueira frequenta essencialmente zonas húmidas, tanto litorais
(nomeadamente estuários e lagoas costeiras) como no interior (albufeira e cursos de rios
caudalosos).

Organização:

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