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Lucas José da Silva

R.A.: 8342538
Bacharelado em Música

Obra escolhida:
A Grande Páscoa Russa

Escrita pelo compositor Rimsky-Korsakov (integrante do Grupo dos Cinco, ao lado de


Balakirev, Borodin, Cui e Mussorgsky) em 1888, como o próprio título diz, é dedicada ao Festival
de Páscoa (e em memória de Mussorgsky e Borodin), a mais importante festividade russa
(comemorada tanto por cristãos como por “pagãos”). Composta em Ré menor, é uma abertura em
um único movimento, dividido em introdução, seção central e coda, sobre temas do Obikhod,
cânticos russos da igreja ortodoxa.

Inicia-se com um tema Lento Místico em 5/4, apresentado pelas madeiras e cordas graves
(violoncelos e contrabaixos) bem rítmicas (em pizzicato) e que reaparecerá futuramente em um 2/2
Allegro Agitato. É uma peça com temas introspectivos mas que também passeia por motivos
jocosos, rítmicos e marciais, com algumas mudanças súbitas de tema e de andamento. Conta com
solos para violino (cadência), flauta, violoncelo, trombone (recitativo) e clarinete.

Quanto à instrumentação, foi escrita para uma orquestra romântica, grande, com as seções de
cordas (vl1, vl2, vla, vlc e cb), madeiras dispostas em 3 flautas (uma trocando com flautim), oboés,
clarinetes (em dó) e fagotes a 2. Metais com quatro trompas em Fá, 2 trompetes em Sib, 3
trombones (o terceiro sendo trombone baixo) e tuba. A percussão com 3 tímpanos afinados em A
(Dominante), D (Tônica) e G (fundamental da Subdominante), glockenspiel, triângulo, prato,
bumbo e tamtam. Conta ainda com a presença de uma harpa.

É tecnicamente interessante, pois as mudanças de fórmula e de andamento exigem um


planejamento gestual e também das ideias musicais que se seguem, para que ressalte a enorme
musicalidade da obra, que varia entre sua delicadeza e suntuosidade, sem que a parte técnica
interfira ou atrapalhe a interpretação. Quanto ao gesto, varia por momentos entre 5, 2, 4, 1 e 3, a
depender do andamento e caráter em questão. As cadências exigem atenção, e os trechos mais
rítmicos (como no Allegro Agitato – 2/2 que se rege ora em 2, ora 3 ou em 1) pedem por domínio
do grupo e das linhas, para que se possa ouvir as sobreposições de temas e os ataques acentuados
dos metais com percussão com precisão e energia, sem desencontros.

Dentre as diferentes gravações dessa peça, as que mais me chamam atenção são a de dois
maestros russos, Vasily Petrenko com a Oslo Philharmonic Orchestra
(https://www.youtube.com/watch?v=E0Tu51CC66I) e a de Valery Gergiev com a Mariinsky
Orchestra (https://www.youtube.com/watch?v=hbDYtAHTQoE), que dá uma cara bem diferente à
obra, se comparada sua interpretação com a de Petrenko. Essas diferenças interpretativas me fazem
tomar consciência das possíveis escolhas de um maestro para a execução de determinada obra, além
de permitir pensar outras alternativas interpretativas durante a análise e o estudo ao piano, e como
transmiti-las à orquestra, em relação às ideias musicais, equilíbrio das linhas e vozes, andamento,
agógica, mudanças de andamento e gestual adotado. Sobretudo, Gergiev exemplifica bem como é
possível transmitir ideias musicais fugindo do tradicional sem perder a unidade da música,
permitindo uma performance mais livre, evidenciando que a música está dentro de sua cabeça, não
só na partitura.

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