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A Integração da Educação Ambiental Formal e Não-Formal:

Milena Goulart Souza Rodrigues1

Aluna do Mestrado em Sistemas de Gestão do Latec/UFF

Renata de Sá Osborne da Costa2

Professora orientadora do Mestrado em Sistemas de Gestão do Latec / UFF

Participação e Cidadania

Resumo

Esse estudo teórico apresenta: recomendações em Educação Ambiental das principais


Conferências Internacionais, as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais e seu tratamento
a temas transversais como o ambiental no ensino da educação formal, e fatos sobre a educação
não-formal no Brasil. Reflete sobre a importância de um sistema educativo em Educação
Ambiental, que contribua na formação do cidadão capaz de participar ativamente na construção
de uma sociedade sustentável.

Palavras-chave: conferências internacionais, Parâmetros Curriculares Nacionais, sistema


educativo, sustentabilidade

1
Endereço: ……………………….Telefone: ………Fax: …………. E-mail
2
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renataosborne@pesagro.rj.gov.br
Abstract

This theoretic study presents: Environmental Education recommendations of the main


International Conferences, the guidelines of the National Curriculum Parameters and its treatment
of transversal themes as the environmental in the formal education setting, and facts about the
non-formal education in Brazil. It reflects on an educative system in Environmental Education
that contributes to instruct a citizen able to participate actively in the construction of a sustainable
society.

Key-words: International Conferences, National Curriculum Parameters, educative


system, sustainability
Introdução

À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para


satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do
espaço e dos recursos. Os rápidos avanços tecnológicos alcançados viabilizaram formas de
produção de bens com conseqüências indesejáveis que se agravam com igual rapidez. A
exploração dos recursos naturais de forma intensa, põe em risco a sua renovabilidade. Após a
Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir da década de 60, intensificou-se a percepção da
humanidade caminhar aceleradamente para o esgotamento ou a inviabilização de recursos
indispensáveis à sua própria sobrevivência, como a água por exemplo. Esse tipo de constatação
gerou o movimento em defesa do meio ambiente, que luta para diminuir o ritmo acelerado de
destruição dos recursos naturais e busca alternativas que conciliem, na prática, a conservação da
natureza com a qualidade de vida das populações que dependem dessa natureza.

Com a inevitável interferência que uma nação exerce sobre a outra por meio das ações
relacionadas ao meio ambiente, a questão ambiental passa a compor a lista dos temas de
relevância internacional. É nesse contexto que se iniciam as grandes reuniões mundiais sobre o
tema. Ao lado da chamada “globalização econômica”, assiste-se a globalização dos problemas
ambientais. Instituiu-se, assim, um fórum internacional em que os países, apesar de suas imensas
divergências, se vêem politicamente obrigados a se posicionar quanto às decisões ambientais de
alcance mundial, a negociar e a legislar, de forma que os direitos e os interesses de cada nação
possam ser minimamente equacionados em função do interesse maior da humanidade.

Esse estudo teve como objetivo fazer uma reflexão sobre as recomendações das
conferências internacionais em Educação Ambiental, o seu ensino formal e não-formal no Brasil
e demonstrar a importância da integração dessas formas complementares na promoção de um
sistema educativo ambiental.
Conferências Internacionais e Educação Ambiental

Pedrini (1998) destaca as conferências realizadas em Estocolmo em 1972, Belgrado em


1975, Tbilisi em 1977, Moscou em 1987, e Rio de Janeiro em 1992 como marcantes na trajetória
da educação ambiental contemporânea.

Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo,


estabeleceram-se o “Plano de Ação Mundial” e a “Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente
Humano”. Nesta declaração foi considerado indispensável um trabalho de educação em questões
ambientais, para jovens e adultos, dispensando a devida atenção aos setores menos privilegiados,
para assentar as bases de uma opinião pública bem informada e de uma conduta responsável dos
indivíduos, das empresas e das comunidades, relativamente à proteção e melhoramento do meio
ambiente em sua dimensão humana. A educação ambiental foi reconhecida como essencial para
solucionar a crise ambiental internacional, e a capacitação de professores assim como novos
métodos e recursos instrucionais foram recomendados.

A conferência realizada em Belgrado, 1975, consolidou o “Programa Internacional de


Educação Ambiental”, gerado pela conferência anterior. Pedrini (1998) descreve que a Carta de
Belgrado “preconizava uma nova ética planetária para promover a erradicação da pobreza,
analfabetismo, fome, poluição, exploração e dominação humanas” (p. 26).

Em 1977, na Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi Georgia,


definiram-se os objetivos da EA e o ensino formal foi indicado como um dos eixos fundamentais
para atingi-los. Nessa conferência definiu-se a Educação Ambiental como:

uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos
problemas concretos do meio ambiente por intermédio de enfoques interdisciplinares e de
uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. (DIAS, 1992,
p.31).

Em 1987, ocorreu a Conferência Internacional sobre Educação e Formação Ambiental em


Moscou. Foi um encontro onde especialistas de 94 países debateram os progressos e dificuldades
encontradas pelas nações na área de Educação Ambiental e propuseram a "Estratégia
Internacional de Ação em Matéria de Educação e Formação Ambiental para o Decênio de 90". A
reunião de Moscou reafirmou os objetivos e princípios orientadores propostos em 1977,
considerados alicerces para o desenvolvimento da Educação Ambiental em todos os níveis,
dentro e fora do sistema escolar.

Na Conferência Rio/92 aprovou-se, entre outros documentos, a “Agenda 21”, que reúne
propostas de ação e estratégias para os países superarem a crise ambiental no próximo século.
Paralelamente à Conferência acontecia na cidade o Fórum Global que teve como um dos seus
resultados, a redação do “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global”.

Em cumprimento às recomendações da Agenda 21 e aos preceitos constitucionais, foi


aprovado no Brasil o Programa Nacional de Educação Ambiental – PRONEA (1994), elaborado
em parceria entre os Ministérios da Educação, Meio Ambiente, Cultura e Ciências e Tecnologia,
que prevê ações nos âmbitos de Educação Ambiental formal e não-formal. O PRONEA forneceu
subsídios para a formulação da Lei n.º 9795/99 da Política Nacional de Educação Ambiental,
considerado um marco legal para a institucionalização da EA no país.

Parâmetros Curriculares Nacionais e o Tema Ambiental no Ensino Formal

No Brasil, a Secretaria de Educação Fundamental – SEF do Ministério de Educação -


MEC criou os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs. Sua intenção era ampliar e aprofundar
um debate educacional, envolvendo a sociedade, sobre as diretrizes básicas de orientação dos
processos de ensino-aprendizagem no ensino fundamental. Foi um processo que contou com a
participação de muitos educadores brasileiros, permitindo assim que fossem produzidos
documentos no contexto das discussões pedagógicas atuais. A primeira versão dos PCNs foi
redigida em 1995, em 1996 essa versão foi encaminhada a 400 profissionais para análise, e a
versão definitiva foi concluída em 1998.

Este conjunto de diretrizes propõe uma educação comprometida com a cidadania


democrática e participativa e, nessa medida, elegem como princípios orientadores da educação
escolar a dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, participação e co-responsabilidade
pela vida social. Os PCNs foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades
regionais, culturais e políticas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir
referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso,
pretendeu-se criar condições, nas escolas, que permitissem aos nossos jovens ter acesso ao
conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício
da cidadania.

A expectativa é de que os PCNs sirvam de apoio ao desenvolvimento do projeto educativo


das escolas, à reflexão sobre a prática pedagógica, ao planejamento das aulas, à análise e seleção
de materiais didáticos e de recursos tecnológicos e, em especial, que possam contribuir para a
formação e atualização profissional dos professores.

As diretrizes definidas pelo MEC incorporaram às áreas clássicas do conhecimento, temas


relevantes do ponto de vista social. Estes temas receberam um tratamento didático que os
introduziu transversalmente no currículo, perpassando dessa maneira todas as áreas de saber. Só
por meio da transversalidade é que se pode contemplar a complexidade e dinâmica que
caracterizam as questões relevantes, tal como elas se expressam na sociedade. O compromisso
com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a
compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal e
coletiva e a afirmação do princípio da participação política. Nessa perspectiva é que foram
incorporadas como Temas Transversais as questões da “Ética, da Saúde, do Meio Ambiente, da
Orientação Sexual, e da Pluralidade Cultural”, por serem consideradas problemáticas sociais
atuais e urgentes, com abrangência nacional e mundial. Os PCNs apresentam os conteúdos de
Meio Ambiente em três blocos gerais: os ciclos da natureza, sociedade e meio ambiente, e
manejo e conservação ambiental.

Além do tema transversal “meio ambiente” ser tratado dentro na escola em todas as
disciplinas e em projetos interdisciplinares, recomenda-se não limitar o seu ensino ao espaço da
escola. Os PCNs afirmam que as escolas devem fazer contato com instituições compromissadas
com as questões inseridas nos temas transversais e que desenvolvem atividades nesse sentido.
Esse contato com postos de saúde, organizações governamentais e não governamentais, grupos
culturais e empresas privadas são uma rica contribuição, principalmente pelo vínculo que
estabelecem com a realidade.
[...] é preciso buscar formas de a escola estar mais presente no dia-a-dia da comunidade e
também o inverso, isto é a presença da comunidade no cotidiano da escola [...], de modo que
a escola, os estudantes e os professores possam se envolver em atividades voltadas para o
bem-estar da sua comunidade, desenvolvendo projetos que repercutam dentro e fora da
escola. (BRASIL, 1998, p.32-33).

O tratamento da temática ambiental em sua complexidade e potencialidade, como


recomendado pelos PCNs, pode vir a significar uma conquista importante nas escolas, desde que
os profissionais saibam desenvolver esse trabalho. Mas, não podemos pensar a adoção dos PCNs
como uma reunião de normativas em um modelo fechado e impositivo, e sim em um conjunto de
sugestões que precisam ser analisadas criticamente à luz de cada realidade sócio-escolar.

Considerando o projeto educativo específico de cada escola, os PCNs destacam que por
meio da Educação Ambiental se ensina e se aprende. Que essa prática é um elemento
indispensável para transformação da consciência ambiental e que pode levar a mudanças de
valores e comportamentos que podem ter importantes conseqüências sociais. Por ser a questão
ambiental não apenas um conjunto de temáticas que dizem respeito à proteção da vida no
planeta, mas também à melhoria da qualidade de vida das diferentes comunidades, ela enfatiza o
papel imprescindível da participação popular na resolução dos problemas responsáveis pela crise
ambiental. Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação sempre vinculados à
realidade cotidiana da sociedade.

Assim, a grande tarefa da escola é proporcionar um ambiente saudável e coerente com


aquilo que se pretende que os alunos apreendam, para que possa de fato, contribuir para a
formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de
agir nesse sentido.

Educação Ambiental Não-Formal

A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, institui a Política Nacional de Educação Ambiental,


reconhecendo-a como componente essencial e permanente da educação nacional. Distingue
juntamente com seu caráter formal o caráter não-formal, ou seja, a educação ambiental não
oficial que já vinha sendo praticada por educadores, pessoas de várias áreas de atividades e
instituições, obrigando ao poder público em todas as suas esferas a incentivá-la. Aborda também
a educação informal, que é aquela transmitida por meios de comunicação, através de matérias
veiculadas pela mídia, que induz à assimilação de comportamentos ou atitudes, e que fornece
materiais para discussão crítica. Essa regulamentação incentiva à implementação do processo
educativo de forma descentralizado e em todos os níveis, federal, estadual e municipal.

Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental, entende-se educação ambiental não-


formal como “ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as
questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente”
(p. 205). Para tal, o poder público incentivará: campanhas educativas realizadas pelos meios de
comunicação de massa; a participação em parceria de escolas, universidades, organizações não-
governamentais, empresas públicas e privadas no planejamento e execução de programas
educacionais; a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; a
sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; a
sensibilização dos agricultores; e o ecoturismo. (DIAS, 2001).
Ao tratar da complexidade do meio ambiente, que depende das interações de fatores
econômicos, sociais, históricos, culturais e políticos, a educação não-formal auxilia na formação
do cidadão. Ela se dirige a todas as idades, e oferece espaços alternativos e ricos para o
aprendizado. Um programa educativo dessa natureza proporciona um aprendizado diferente do
tradicional e incrementa a participação comunitária, auxiliando no crescimento individual e
coletivo. Por isso, todos devem incentivar a educação ambiental não-formal para o
desenvolvimento de uma sociedade sadia e coerente com os princípios básicos de preservação do
meio ambiente.

Embora necessária, segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2001), a


educação não-formal recebe poucos recursos para o seu desenvolvimento no Brasil, e com isso há
uma falta de cursos de formação de multiplicadores de educação ambiental não-formal. Há pouca
documentação que descreva resultados concretos de iniciativas nesse sentido, e portanto é
essencial registrar resultados de projetos bem sucedidos para demonstrar a eficácia de tais
esforços quando comparada ao seu custo. Outros problemas apontados são: a resistência por parte
da população devido a fatores tais como idade, cultura, religião, e disponibilidade de tempo; e a
dispersão do público desse tipo de educação que não está concentrado em um espaço
determinado como estão os alunos em um espaço formal escolar.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas, o processo de educação ambiental não-formal
colabora na implementação de alternativas de desenvolvimento que não tenham como resultados
a degradação da natureza, a perda da biodiversidade e a pobreza extrema. Isso porque essa
educação aposta na importância da participação comunitária no planejamento e implementação
de um desenvolvimento econômico e social que respeita a vida. O processo de conscientização
ambiental tende a levar à construção de novas relações entre o ser humano e o meio ambiente.

Conclusão

Em função dos danos ambientais cada vez mais em evidência, são gerados valores e
práticas coletivas no sentido de preservação do meio ambiente, o que possibilita interessantes
espaços para a democracia participativa. Mas a desinformação favorece a falta de consciência
ambiental e o pouco envolvimento do cidadão nesse processo. A Agenda 21, como plano de ação
para o desenvolvimento sustentável, considera a participação da sociedade destacando sua
pluralidade e diversidade como essenciais para a promoção de um modelo de crescimento que
leve em conta tanto a viabilidade econômica quanto a ambiental. Nestes tempos que a informação
representa um papel cada vez mais relevante, a educação ambiental sob todas as formas,
representa uma eficiente estratégia para expandir a participação da população em níveis mais
altos no processo decisório nas políticas públicas, incentivando e motivando o processo de
cidadania.

Ao tratar uma questão tão abrangente como a ambiental, não se pode pensar de uma
forma fragmentada. O pensamento ambiental estabelece relações entre os fatos cotidianos e os
acontecimentos no mundo. Por isso, ao se praticar educação ambiental, os educadores precisam
pensar em parcerias, em um sistema educativo. Nesse sentido a educação comunitária tem muito
a contribuir, que Segundo Kerensky (1982), é um sistema educativo em vez de um sistema de
escolas, porque é a comunidade toda que educa. Por isso, o ensino formal e o não-formal não se
antagonizam, eles se complementam na tarefa educativa. Os ambientes não formais ampliam o
espaço escolar, fazendo de seus espaços mais um laboratório de aprendizagem. Os objetivos são
os mesmos: o desenvolvimento da cidadania local e global, democratização da informação,
participação, e o desenvolvimento de uma sociedade saudável e equilibrada.

É essencial associarmos processos educativos formais aos não formais e às demais


atividades de luta por qualidade de vida e sustentabilidade. São fundamentais projetos que
articulem o trabalho escolar com o trabalho comunitário buscando conhecimento, reflexão e ação
concreta sobre o ambiente em que se vive.

Bibliografia

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: Temas Transversais. – Brasília: MEC, SEF, 1997.

______. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental:


temas transversais. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC, SEF, 1998.

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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Educação Ambiental. Brasília: MMA, 2001.

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992

_____. Educação ambiental: princípios e práticas. 7. ed. São Paulo: Gaia, 2001.

KERENSKY, V. M. Community educators: the high touch people. Boca Raton: Florida
Atlantic University, 1982. (Community Education Bulletin, 4). Folder.

PEDRINI, A. de G. I – Trajetórias da educação ambiental. In: PEDRINI, A. de G. I (Org.).


Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petropólis: Editora Vozes, 1998. p.
21-87.

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