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RESUMO
Este artigo se propõe a discutir, baseado em referencial teórico, as influências que os projetos de
produção e de canteiro possuem sobre o desempenho da atividade logística em um
empreendimento de construção de edifícios.
1. PRODUÇÃO ENXUTA
A produção enxuta (lean production), ou nova filosofia da produção, tem seu foco voltado para
melhoria da produtividade e para redução de custos através da diminuição de perdas em todo
sistema produtivo, podendo se dar através de materiais, mão-de-obra, capital e equipamentos.
Entretanto, considerando-se os princípios da produção enxuta, podem ser feitas inúmeras críticas
a este modelo tradicional, pois ao enfocar somente as conversões acabam desconsiderando os
fluxos físicos entre elas, que são atividades de movimento, armazenamento e inspeção. Por não
agregarem valor ao produto final, estas atividades devem procurar ser eliminadas ou reduzidas ao
máximo, pois consomem tempo e têm um considerável custo.
O grande diferencial da nova filosofia da produção é que ela entende o sistema como um conjunto
de atividades interligadas e interdependentes de conversão e de fluxo, onde há uma preocupação
que vai além da análise de um processo produtivo estanque e isolado do todo. A conscientização
a respeito da importância da melhoria do fluxo de materiais/informações trouxeram a possibilidade
do surgimento de um novo paradigma para produção, gerando resultados entusiasmadores.
2. CONSTRUÇÃO ENXUTA
Após o amadurecimento e implantação dos conceitos da produção enxuta pela indústria seriadal,
ela finalmente começa ser alvo de interesse dos gerentes da construção civil, dando origem ao
que podemos chamar de construção enxuta. Porém a aplicação desta filosofia no setor construtivo
deve ser objeto de experiências e pesquisas visando adequá-la as particularidades existentes
que, em geral, são fatores dificultadores à implantação de novas ferramentas técnicas e
gerenciais.
A construção civil é caracterizada por altos indicadores de desperdício, produtos com baixa
qualidade, grande ocorrência de patologias construtivas, processos ineficientes e ineficazes e, por
isto mesmo, mostra-se como um campo promissor aos resultados que podem ser obtidos através
da aplicação dos conceitos da construção enxuta.
Para Koskela (1998) um grande benefício gerado pela produção enxuta na construção civil é sua
habilidade em revelar problemas, pois somente através do seu conhecimento é que se pode
envidar esforços para resolvê-los, além de ser mostrar como um importante instrumento para
aumento da eficiência nos processos de produção.
O autor salienta ainda que o setor de construção sofre de um mal endêmico em relação
gerenciamento dos problemas relacionados ao cliente, projeto e funções da produção, não
conseguindo integrá-los de maneira eficaz. Esta situação produz um cenário onde as técnicas da
produção enxuta podem ser mostrar como uma importante ferramenta para minimização de
problemas relativos aos mais diversos agentes do sistema construtivo.
3. LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO
A logística na construção trata-se de um processo multidisciplinar aplicado a determinada obra
que visa garantir o abastecimento, armazenagem, processamento e disponibilização de recursos
materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes de produção e a
gestão dos fluxos físicos de produção. Tal processo se dá através das atividades de
planejamento, organização, direção e controle, tendo como principal suporte o fluxo de
informações, antes e durante o processo produtivo (Silva e Cardoso, 1998).
Cardoso (1996) apresenta uma subdivisão para a logística aplicável às empresas construtoras
classificando-a, quanto ao seu alcance, em: logística de suprimentos (externa) e logística de
canteiro (interna). Esta subdivisão permite identificar com maior clareza as principais atividades
associadas à logística em uma obra.
A logística de canteiro trata da gestão dos fluxos físicos e dos fluxos de informações associados à
execução de atividades no canteiro. As atividades mais importantes são: gestão dos fluxos físicos
ligados a execução (planejamento detalhado dos fluxos de execução dos serviços e dos seus
mecanismos de controle), gestão da interface entre os agentes que interagem no processo de
produção de uma edificação (informações e interferência entre os serviços) e gestão física da
praça de trabalho (implantação do canteiro, movimentação interna, zonas de estocagem, zonas de
pré-fabricação e atendimento aos requisitos de segurança).
Novaes (1998) ressalta dois conceitos para projeto: estático – referente ao projeto como produto,
constituído como elementos gráficos e descritivos, ordenados e elaborados de acordo com a
linguagem apropriada, destinado a atender às necessidades da etapa de produção; e dinâmico –
que confere ao projeto um sentido de processo, através do qual soluções são elaboradas e
compatibilizadas, assumindo um caráter tecnológico e gerencial (projeto de produção).
Franco e Agopyan (1995) destacam que as informações contidas em projetos são muito
importantes, pois o planejamento da execução dos serviços é baseado nestas informações e se
elas não guardarem um determinado grau de precisão de detalhes coerente com a execução,
muitas varáveis incontroláveis serão introduzidas no processo construtivo e no próprio
planejamento da execução dos serviços.
O projeto de produção, segundo Ferreira (1998), deve coadunar-se com as quatro grandes etapas
do planejamento da produção: planejamento estratégico da produção do empreendimento,
planejamento tático da produção, planejamento operacional da produção e detalhamento do
planejamento operacional da produção.
A definição das fases do canteiro de obras deverá ser feita de acordo com o anteprojeto
arquitetônico, metas, requisitos e diretrizes, condicionantes da produção, processo construtivo,
plano de ataque1, cronogramas de materiais e mão-de-obra; e em função dos principais marcos
existentes que impliquem em alterações substantivas na alocação de espaço no canteiro de
obras.
Podem ser considerados marcos importantes no transcorrer da execução de uma obra, em função
das substanciais alterações que ele produzem no lay out do canteiro, no planejamento da
execução, nos cronogramas de materiais e equipamentos e mesmo no cronograma de
desembolso financeiro, os seguintes itens: liberação da primeira laje, execução da pavimentação
da periferia, instalação da grua, instalação de elevadores de carga e de pessoal, início dos
serviços de alvenaria, início dos serviços de revestimento, retirada da grua após a conclusão da
estrutura ou da alvenaria, instalação de elevadores permanentes, retirada dos elevadores da obra
e término da obra molhada2.
Com relação à logística de canteiro, inúmeros benefícios podem ser sentidos com a utilização
desses projetos, pois percebe-se um melhor mapeamento e, conseqüentemente, melhor
desempenho do gerenciamento dos fluxos físicos ligados a execução, uma suavização dos
problemas que, em geral, ocorrem nas interfaces entre os diversos agentes durante o processo
produtivo e uma substancial redução do desperdício em função de uma praça de trabalho mais
organizada, sinalizada e, principalmente, com um cronograma de execução das atividades e um
cronograma de movimentação de materiais facilitando enormemente o controle da atividade
logística dentro do canteiro.
Por fim, espera-se que um sistema logístico bem implantado e gerenciado, baseado em
informações de qualidade advindas dos projetos de produção e de canteiro, permita a redução do
remanuseio, movimentação e perdas de materiais, transforme o canteiro em bom cartão de
visitas, reduza os riscos de acidentes, crie maior motivação junto aos funcionários e proporcione
um substancial aumento da competitividade.
6. CONCLUSÃO
Pode-se concluir através deste estudo teórico que as relações entre a etapa de projeto e a
atividade de produção, mais especificamente o sistema logístico, devem ser objeto de estudos
mais aprofundados face ao grande potencial de contribuição que a harmonização desses
elementos pode proporcionar a construção como um todo.
O conceito de lean construction está gradativamente sendo utilizado na construção civil e
assumindo um importante papel estratégico na melhoria do processo produtivo, fato demonstrado
pelos resultados recentemente obtidos e pela maneira como o setor vem se comportando em
relação ao tema.
É fato que ainda há um longo caminho a ser trilhado, porém os primeiros resultados positivos já
estão despontando após primárias experiências com o assunto, confirmando a viabilidade desta
teoria e sinalizando para uma nova ferramenta de aumento da competitividade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARDOSO, F. F. Importância dos estudos de preparação e da logística na organização dos
sistemas de produção de edifícios: alguns aprendizados a partir da experiência francesa. In:
1º SEMINÁRIO INTERNACIONAL LEAN CONSTRUCTION – A CONSTRUÇÃO SEM
PERDAS. Anais. São Paulo, 1996.
Notas:
1
Segundo Ferreira (1998), o plano de ataque consiste na estratégia de execução da obra com a definição
das etapas iniciais e de sua seqüência construtiva.
2
Encerramento dos trabalhos com argamassa.