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INFLUÊNCIAS DO PROJETO DE PRODUÇÃO E DO PROJETO DE

CANTEIRO NO SISTEMA LOGÍSTICO DA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

Otávio José de OLIVEIRA


M.Sc., Eng., Professor da UNINOVE e UNIBAN - Rua Vasco Cinquini, 70 – Bl.:2B Conj.: 121,
CEP: 02022-130 - São Paulo (SP) – Brasil - Correio eletrônico: otavio@deoliveira.com.br

RESUMO
Este artigo se propõe a discutir, baseado em referencial teórico, as influências que os projetos de
produção e de canteiro possuem sobre o desempenho da atividade logística em um
empreendimento de construção de edifícios.

Far-se-á, inicialmente, uma conceituação da logística e sua aplicabilidade na construção civil.


Logo após tratar-se-á da conceituação e dos aspectos particulares do projeto de produção e do
projeto de canteiro. Quando, então, será feita uma análise conceitual das interdependências entre
a logística na construção de edifícios com estes projetos.

1. PRODUÇÃO ENXUTA
A produção enxuta (lean production), ou nova filosofia da produção, tem seu foco voltado para
melhoria da produtividade e para redução de custos através da diminuição de perdas em todo
sistema produtivo, podendo se dar através de materiais, mão-de-obra, capital e equipamentos.

A filosofia de produção convencional baseia-se no modelo de conversão, conforme descrito por


Koskela (1992), segundo o qual os insumos (inputs) são transformados em um produto (output)
através de processos, onde cada um deles pode ser dividido em subprocessos, que também são
considerados conversões. Ele descreve, ainda, que o valor do produto de um processo está
diretamente associado ao valor de seus insumos e que o custo total pode ser minimizado através
da diminuição dos custos de cada subprocesso que o compõe.

Entretanto, considerando-se os princípios da produção enxuta, podem ser feitas inúmeras críticas
a este modelo tradicional, pois ao enfocar somente as conversões acabam desconsiderando os
fluxos físicos entre elas, que são atividades de movimento, armazenamento e inspeção. Por não
agregarem valor ao produto final, estas atividades devem procurar ser eliminadas ou reduzidas ao
máximo, pois consomem tempo e têm um considerável custo.

O grande diferencial da nova filosofia da produção é que ela entende o sistema como um conjunto
de atividades interligadas e interdependentes de conversão e de fluxo, onde há uma preocupação
que vai além da análise de um processo produtivo estanque e isolado do todo. A conscientização
a respeito da importância da melhoria do fluxo de materiais/informações trouxeram a possibilidade
do surgimento de um novo paradigma para produção, gerando resultados entusiasmadores.

2. CONSTRUÇÃO ENXUTA
Após o amadurecimento e implantação dos conceitos da produção enxuta pela indústria seriadal,
ela finalmente começa ser alvo de interesse dos gerentes da construção civil, dando origem ao
que podemos chamar de construção enxuta. Porém a aplicação desta filosofia no setor construtivo
deve ser objeto de experiências e pesquisas visando adequá-la as particularidades existentes
que, em geral, são fatores dificultadores à implantação de novas ferramentas técnicas e
gerenciais.

A construção civil é caracterizada por altos indicadores de desperdício, produtos com baixa
qualidade, grande ocorrência de patologias construtivas, processos ineficientes e ineficazes e, por
isto mesmo, mostra-se como um campo promissor aos resultados que podem ser obtidos através
da aplicação dos conceitos da construção enxuta.

Para Koskela (1998) um grande benefício gerado pela produção enxuta na construção civil é sua
habilidade em revelar problemas, pois somente através do seu conhecimento é que se pode
envidar esforços para resolvê-los, além de ser mostrar como um importante instrumento para
aumento da eficiência nos processos de produção.

O autor salienta ainda que o setor de construção sofre de um mal endêmico em relação
gerenciamento dos problemas relacionados ao cliente, projeto e funções da produção, não
conseguindo integrá-los de maneira eficaz. Esta situação produz um cenário onde as técnicas da
produção enxuta podem ser mostrar como uma importante ferramenta para minimização de
problemas relativos aos mais diversos agentes do sistema construtivo.

3. LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO
A logística na construção trata-se de um processo multidisciplinar aplicado a determinada obra
que visa garantir o abastecimento, armazenagem, processamento e disponibilização de recursos
materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes de produção e a
gestão dos fluxos físicos de produção. Tal processo se dá através das atividades de
planejamento, organização, direção e controle, tendo como principal suporte o fluxo de
informações, antes e durante o processo produtivo (Silva e Cardoso, 1998).

Cardoso (1996) apresenta uma subdivisão para a logística aplicável às empresas construtoras
classificando-a, quanto ao seu alcance, em: logística de suprimentos (externa) e logística de
canteiro (interna). Esta subdivisão permite identificar com maior clareza as principais atividades
associadas à logística em uma obra.

A logística de suprimentos trata da provisão dos recursos materiais e humanos necessários à


produção de edifícios. Entre as atividades mais importantes estão: planejamento e processamento
das aquisições, gestão de fornecedores, transporte dos recursos até a obra e manutenção dos
recursos materiais previstos no planejamento.

A logística de canteiro trata da gestão dos fluxos físicos e dos fluxos de informações associados à
execução de atividades no canteiro. As atividades mais importantes são: gestão dos fluxos físicos
ligados a execução (planejamento detalhado dos fluxos de execução dos serviços e dos seus
mecanismos de controle), gestão da interface entre os agentes que interagem no processo de
produção de uma edificação (informações e interferência entre os serviços) e gestão física da
praça de trabalho (implantação do canteiro, movimentação interna, zonas de estocagem, zonas de
pré-fabricação e atendimento aos requisitos de segurança).

4. PROJETO NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

4.1 Projeto do Produto


Em linhas gerais o projeto deve informar o design e as características físicas do produto, deve
permitir a introdução de inovações tecnológicas, reduzir a existência de problemas patológicos,
garantir as características de qualidade, racionalidade e construtibilidade do empreendimento
gerando, dessa forma, reflexos positivos na adequação ao uso, redução do lead time total de
construção e redução dos custos finais.
Melhado (1994) define projeto como sendo a atividade ou serviço integrante do processo de
produção, responsável pelo desenvolvimento, organização, registro e transmissão das
características físicas e tecnológicas especificadas para uma obra, a serem consideradas na fase
de execução.

Novaes (1998) ressalta dois conceitos para projeto: estático – referente ao projeto como produto,
constituído como elementos gráficos e descritivos, ordenados e elaborados de acordo com a
linguagem apropriada, destinado a atender às necessidades da etapa de produção; e dinâmico –
que confere ao projeto um sentido de processo, através do qual soluções são elaboradas e
compatibilizadas, assumindo um caráter tecnológico e gerencial (projeto de produção).

4.2 Projeto de Produção


O desempenho do projeto durante a fase de execução dos serviços está associado à forma como
este é interpretado pela equipe de produção e, além disto, ao nível de comunicação que o mesmo
possui. De nada adianta o projeto ser possuidor de boas técnicas construtivas se estas não forem
comunicadas de forma inteligível ao pessoal da execução (Nascimento e Formoso, 1998).

Franco e Agopyan (1995) destacam que as informações contidas em projetos são muito
importantes, pois o planejamento da execução dos serviços é baseado nestas informações e se
elas não guardarem um determinado grau de precisão de detalhes coerente com a execução,
muitas varáveis incontroláveis serão introduzidas no processo construtivo e no próprio
planejamento da execução dos serviços.

Simultaneamente ao detalhamento do produto deve-se realizar o detalhamento do planejamento


operacional da produção, onde, preferencialmente, devem participar os representantes dos
diversos agentes que direta ou indiretamente influenciam na fase de execução do
empreendimento, além daqueles indivíduos ligados a atividade de projeto propriamente dita.

Segundo Melhado (1994), o projeto de produção é:

“... um conjunto de elementos de projetos elaborados


de forma simultânea ao detalhamento do projeto
executivo, para utilização no âmbito das atividades de
produção em obra, contendo as definições de
disposição e seqüência de atividades de obra e
frentes de serviço; uso de equipamentos; arranjo e
evolução do canteiro de obras; dentro outros recursos
vinculados às características e recursos próprios da
empresa construtora”.

O projeto de produção, segundo Ferreira (1998), deve coadunar-se com as quatro grandes etapas
do planejamento da produção: planejamento estratégico da produção do empreendimento,
planejamento tático da produção, planejamento operacional da produção e detalhamento do
planejamento operacional da produção.

4.3 Projeto de Canteiro


O projeto do canteiro de obras pode ser considerado como um dos elementos que integram o
projeto de produção e segundo Ferreira (1998), é o serviço integrante do processo de construção
responsável pela definição do tamanho, forma e localização das áreas de trabalho, fixas e
temporárias; e das vias de circulação, necessário ao desenvolvimento das operações de apoio e
execução, durante cada fase da obra, de forma integrada e evolutiva, de acordo com o projeto de
produção do empreendimento, oferecendo condições de segurança, saúde e motivação aos
trabalhadores e permitindo a execução racionalizada dos serviços.

A definição das fases do canteiro de obras deverá ser feita de acordo com o anteprojeto
arquitetônico, metas, requisitos e diretrizes, condicionantes da produção, processo construtivo,
plano de ataque1, cronogramas de materiais e mão-de-obra; e em função dos principais marcos
existentes que impliquem em alterações substantivas na alocação de espaço no canteiro de
obras.

Podem ser considerados marcos importantes no transcorrer da execução de uma obra, em função
das substanciais alterações que ele produzem no lay out do canteiro, no planejamento da
execução, nos cronogramas de materiais e equipamentos e mesmo no cronograma de
desembolso financeiro, os seguintes itens: liberação da primeira laje, execução da pavimentação
da periferia, instalação da grua, instalação de elevadores de carga e de pessoal, início dos
serviços de alvenaria, início dos serviços de revestimento, retirada da grua após a conclusão da
estrutura ou da alvenaria, instalação de elevadores permanentes, retirada dos elevadores da obra
e término da obra molhada2.

O bom desempenho do projeto de canteiro está estritamente relacionado à qualidade (precisão,


volume e velocidade) das informações obtidas junto às etapas de desenvolvimento dos projetos
do produto e da produção, onde são gerados elementos que vão nortear sua confecção, como por
exemplo, a previsão dos fluxos dos processos construtivos e os cronogramas de materiais e mão-
de-obra.

5. INFLUÊNCIAS DOS PROJETOS DE PRODUÇÃO E DE CANTEIRO NA LOGÍSTICA


DA CONSTRUÇÃO
Os projetos de produção e de canteiro são os instrumentos que permitem a construtora planejar e
desenvolver eficientemente a logística no canteiro de obra. As informações neles contidas
subsidiam o planejamento, operação e verificação das atividades logísticas na construção de
edifícios (abastecimento, armazenagem, processamento e disponibilização de recursos materiais),
informando quando, onde e como as atividades de produção serão realizadas, indicando a
quantidade de insumos a ser utilizada em cada etapa, permitindo a programação da mão-de-obra
e auxiliando no desempenho do sistema de informações.

Estas características facilitam o desenvolvimento das atividades da logística de suprimentos, pois


permitem a identificação antecipada das necessidades de material e mão-de-obra facilitando o
planejamento e processamento das aquisições e otimizando o gerenciamento dos transportes até
a obra.

Com relação à logística de canteiro, inúmeros benefícios podem ser sentidos com a utilização
desses projetos, pois percebe-se um melhor mapeamento e, conseqüentemente, melhor
desempenho do gerenciamento dos fluxos físicos ligados a execução, uma suavização dos
problemas que, em geral, ocorrem nas interfaces entre os diversos agentes durante o processo
produtivo e uma substancial redução do desperdício em função de uma praça de trabalho mais
organizada, sinalizada e, principalmente, com um cronograma de execução das atividades e um
cronograma de movimentação de materiais facilitando enormemente o controle da atividade
logística dentro do canteiro.

Por fim, espera-se que um sistema logístico bem implantado e gerenciado, baseado em
informações de qualidade advindas dos projetos de produção e de canteiro, permita a redução do
remanuseio, movimentação e perdas de materiais, transforme o canteiro em bom cartão de
visitas, reduza os riscos de acidentes, crie maior motivação junto aos funcionários e proporcione
um substancial aumento da competitividade.

6. CONCLUSÃO
Pode-se concluir através deste estudo teórico que as relações entre a etapa de projeto e a
atividade de produção, mais especificamente o sistema logístico, devem ser objeto de estudos
mais aprofundados face ao grande potencial de contribuição que a harmonização desses
elementos pode proporcionar a construção como um todo.
O conceito de lean construction está gradativamente sendo utilizado na construção civil e
assumindo um importante papel estratégico na melhoria do processo produtivo, fato demonstrado
pelos resultados recentemente obtidos e pela maneira como o setor vem se comportando em
relação ao tema.

É fato que ainda há um longo caminho a ser trilhado, porém os primeiros resultados positivos já
estão despontando após primárias experiências com o assunto, confirmando a viabilidade desta
teoria e sinalizando para uma nova ferramenta de aumento da competitividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARDOSO, F. F. Importância dos estudos de preparação e da logística na organização dos
sistemas de produção de edifícios: alguns aprendizados a partir da experiência francesa. In:
1º SEMINÁRIO INTERNACIONAL LEAN CONSTRUCTION – A CONSTRUÇÃO SEM
PERDAS. Anais. São Paulo, 1996.

FERREIRA, E. A. M. Metodologia para elaboração do projeto do canteiro de obras de


edifícios. São Paulo: EPUSP, 1998 (Tese de Doutorado).

FRANCO, L. S.; AGOPYAN, V. Implementação da racionalização construtiva na fase de


projeto. São Paulo: Caderno Técnico – USP, 1995.

KOSKELA, L. Lean construction. VII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO


AMBIENTE CONSTRUÍDO – QUALIDADE NO PROCESSO CONSTRUTIVO. Florianópolis,
1998.

______. Process improvement and automation in construction: opposing or complementing


approaches? 9th International Symposium on Automation and Robotics in Construction.
Tokio, 1992.

MELHADO, S. B. Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação ao caso das


empresas de incorporação e construção. São Paulo: EPUSP, 1994 (Tese de Doutorado).

NASCIMENTO, C. E.; FORMOSO, C. T. Método para avaliar o projeto do ponto de vista da


produção. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO
– QUALIDADE NO PROCESSO CONSTRUTIVO. Florianópolis, 1998.

NEVES, R. M. Algumas estratégias de produção adotadas pelas empresas de construção


civil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Niterói: UFF, 1998.

NOVAES, C. C. Diretrizes para garantia da qualidade do projeto na produção de edifícios


habitacionais. São Paulo: EPUSP, 1996 (Tese de Doutorado).

SILVA, F. B.; CARDOSO, F. F. A importância da logística na organização dos sistemas de


produção de edifícios. VII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO – QUALIDADE NO PROCESSO CONSTRUTIVO. Florianópolis, 1998.

Notas:
1
Segundo Ferreira (1998), o plano de ataque consiste na estratégia de execução da obra com a definição
das etapas iniciais e de sua seqüência construtiva.
2
Encerramento dos trabalhos com argamassa.

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