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As pressões sobre o emprego

Clemente Ganz Lúcio1

Aumentarão nos próximos meses e ao longo de 2021 as pressões sobre o


emprego. As frágeis respostas da economia brasileira mobilizarão uma dinâmica de
aumento do desemprego, do desalento e da precarização.
Antes da crise sanitária o desemprego já era muito alto, predominava a
geração de ocupações precárias, o desalento era crescente e havia um contingente
alto de ocupados que faziam jornada parcial. A crise do COVID-19 impôs a
paralização de muitas atividades produtivas e exigiu que milhões de pessoas
praticassem o isolamento social para protegerem a vida, provocando uma rápida e
intensa recessão econômica.
Nesse contexto, em poucas semanas, houve movimentos de magnitudes
jamais vistas na dinâmica do mundo do trabalho no Brasil. Segundo o IBGE, cerca de
11 milhões foram para a inatividade, sem trabalhar ou procurar emprego; outros 8
milhões foram para o trabalho em casa (home office); quase 10 milhões tiveram seu
contrato de trabalho suspenso ou redução da jornada de trabalho. Outros 13 milhões
continuaram desempregados.
Milhares de empresas paralisaram parcial ou totalmente suas atividades.
O auxílio emergencial e as medidas de proteção dos empregos evitaram uma
tragédia social e econômica maior. Entretanto, essas medidas estão desconectadas
de uma estratégia governamental que deveria estar, intencionalmente, mobilizando a
retomada virtuosa da atividade econômica, articulando investimento público e privado,
geração imediata de emprego e de renda, crédito, entre outros.
Para os trabalhadores, na medida que se encerram as medidas emergenciais
de garantia de renda, retorna a urgente necessidade de um posto de trabalho. Para as
empresas que não fecharam ou faliram, de forma mais dramática para as micro e
pequenas, há o ajuste das contas e as dívidas para pagar. Certamente acontecerão
novas falências, fechamentos e queima de capital de milhares de empresas.
Há pressões de todos os lados por postos de trabalho nas atividades que estão
sendo retomadas ou que estão ampliando a contratação. São inúmeras as iniciativas
para a retomada ou para o início de trabalho autônomo ou por conta-própria.
Entretanto, tudo depende de uma demanda de consumo que está travada, decorrente
da queda dos salários, do fim das transferências de renda, dos cortes dos gastos
públicos e dos investimentos.
Aumentará muito o atual contingente de desempregados, que já soma 13
milhões de pessoas que ativamente procuram um posto de trabalho. Cerca de 11
milhões de pessoas que foram para a inatividade devem voltar procurar uma
ocupação. Há outros 5,8 milhões de pessoas que precisam de um posto de trabalho e
que se encontram desalentadas. Há quase 6 milhões de pessoas que trabalham
jornada parcial. Há aqueles que foram para o isolamento e que precisarão voltar a

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Sociólogo, consultor, professor e assessor das Centrais Sindicais. (2clemente@uol.com.br).

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trabalhar. Tudo isso somado resulta em um contingente potencial de mais de 30
milhões de pessoas que poderão passar a pressionar o mercado de trabalho. Uma
pequena parte encontrará um posto de trabalho na atividade produtiva a ser retomada
ou ampliada. A maior parte, entretanto, aumentará nos próximos meses a fila do
desemprego estrutural e de longa duração, com taxas de desemprego oculto podendo
se aproximar dos 30%!
Haverá movimentos entre aqueles que se encontram empregados e que
poderão passar a compor a fila dos desempregados. O fim do home office, ou a
permanência parcial ou total, ou a demissão, afetará a vida de quase 8 milhões de
trabalhadores. O encerramento da suspensão do contrato de trabalho ou o fim da
redução da jornada de trabalho, medida que atingiu mais de 9 milhões de pessoas,
poderá colocar parte desse contingente no desemprego.
Grandes e médias empresas já estão demitindo ou anunciando plano de ajuste,
como decorrência dos impactos da crise ou para continuar as transformações
tecnológicas ou as mudanças na estratégia de negócio. Os resultados líquidos serão
contra os empregos.
A legislação trabalhista autoriza demissão em massa sem assistência sindical,
assim como garante legalidade aos novos postos de trabalho precarizados,
terceirizados, temporários, uberizados, jornada parcial ou contrato por hora.
A dinâmica social e econômica próxima futura será de dura e prolongada
adversidade para as trabalhadoras e os trabalhadores.

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