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Introdução à Sabedoria Gnóstica – Câmara Básica | 19

Associação Cultural Gnóstica Samael-Lakhsmi

Tema 4

O eu psicológico

“Só se podia olhar a Medusa através de um espelho e, portanto (Atenas) lhe presenteou (a Perseu) um escudo
produzido para tal façanha. Perseu o poliu até que o escudo não só cumpria a função que lhe era própria senão que
também servia de espelho.” – V.M. Galeno, sobre a batalha entre Perseu e Medusa (Mitología Griega – p.336)

Vamos estudar neste tema o que é o ego, como e onde ele se expressa e o trabalho para a
sua eliminação.
Como já foi dito, dentro da psicologia gnóstica chamamos de ego ao conjunto de defeitos
psicológicos, complexos, traumas, medos, fobias, vícios, etc. que temos dentro de nós.
O ego está constituído por diversos “eus” psicológicos. Em geral, as pessoas possuem cerca
de 3% de essência livre e os 97% restantes da essência estão dentro dos diferentes eus
psicológicos.

O ego nas diferentes tradições iniciáticas


Através dos mitos e lendas a sabedoria secreta se perpetua na história do mundo, contada
de geração em geração, oculta sob o véu dos símbolos.
As diferentes tradições iniciáticas criaram mitos, lendas e alegorias para representar essa
batalha que existe dentro de cada um de nós.
De maneira geral, todas as lendas sobre monstros terríveis alegorizam ao ego que
carregamos dentro e os guerreiros que os enfrentam representam a consciência em sua luta
por superar essa natureza inferior.
Monstros míticos como a Medusa, o Minotauro, as Fúrias gregas, os demônios vermelhos de
Seth do antigo Egito, o gigante Golias, os exércitos tentadores do Demônio Mara, Ravana,
Satã, o Diabo, todos representam o conjunto de eus psicológicos que carregamos dentro.
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Nas distintas tradições, os heróis, semideuses e sábios são aqueles indivíduos que se lançam
nessa batalha de morte contra si mesmos.

Como surgem os eus psicológicos


Quando a essência desce à matéria e toma uma forma humana, ela vem em busca de
autoconsciência. Porém, ao ingressar no mundo ela é tomada de um esquecimento, e por
sua inocência (ignorância) a essência começa a construir uma percepção distorcida da vida.
Essas pequenas distorções vão se fortalecendo, cristalizando-se na forma de fixações, até o
ponto em que cada fixação vai aprisionando uma parcela de nossa essência, e é assim que
cada um dos eus psicológicos surge.
Cada eu é a personificação de uma resposta fixa a um determinado tipo de situação.
Assim, cada vez que a personalidade interpreta que está diante de um padrão de eventos
(por exemplo: “isso é um elogio”; “estão pisando em cima de mim”; “eu já fiz muito por essa
pessoa”; “essa situação é perigosa”; etc,) ela evoca a expressão do eu que está vinculado
àquele evento. O grande problema disso é que a resposta é fixa, ou seja, o eu vai trazer a
carga emocional que construiu baseada em todas as experiências que já viveu relacionado
àquilo e vai reagir baseado nisso, ao invés de responder ao evento que está acontecendo.
Dizendo isso de outro modo: cada eu é um somatório de experiências passadas, cristalizadas
em recordações, emoções, medos, expectativas que ele mesmo projeta nas situações em que
estão acontecendo.

Os eus são entidades vivas dentro de nós (porque possuem vida, ou essência, dentro de si),
cada um com a sua forma de pensar, de sentir, de atuar, que tem afinidade com um tipo de
evento e até com determinadas pessoas (existem lugares que frequentamos e pessoas com
quem interagimos apenas quando um determinado eu está se expressando).
Cada eu é como uma cápsula do tempo, que no momento que é acionada projeta as suas
memórias, medos e expectativas sobre o evento, levando a pessoa a reviver experiências do
passado, no lugar do que ela realmente está vivendo no instante.
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Assim, por exemplo, se uma criança, aos 8 anos de idade, teve que fazer uma apresentação
diante da turma da escola e sentiu pânico, insegurança e medo, essa experiência fica
encapsulada como um eu, que não amadurece com as demais experiências do indivíduo, de
tal maneira que, mesmo na idade adulta, quando se deparar com o mesmo tipo de evento e
for fazer uma apresentação, a personalidade dessa pessoa aciona aquele mesmo eu e entra
nessa experiência como se tivesse novamente 8 anos de idade, sentindo toda insegurança
que sentiu no passado, mesmo que hoje seja uma pessoa segura de si.

Alguns eus que atuam no dia-a-dia


O ego é dividido em sete grandes grupos que
chamamos de cabeças de legião, que são o orgulho,
a cobiça, a preguiça, a luxúria, a ira, a inveja e a gula.
Cada um desses cabeças é como uma árvore, cujo
tronco (a cabeça de legião) se desdobra em
centenas de manifestações distintas.
A seguir, vamos enumerar algumas das suas
expressões mais comuns.

Orgulho
• Arrogância (prepotência, sentimento de superioridade)
• Auto-importância (preocupação com o que os outros pensam)
• Vaidade (necessidade de chamar a atenção para si, ser notado)
• Baixa autoestima (sentir-se incapaz ou que não é merecedor)
• Mentira (para que não nos julguem ou que não nos critiquem)

Ira
• Agressividade (quando as coisas não saem como esperado)
• Reclamação (ofender, agredir com palavras)
• Vingança (para que as pessoas “sintam o que estou sentindo”)
• Impaciência (se irritar porque as coisas não saem no seu tempo)
• Ironia (ferir com sutileza)

Preguiça
• Desordem (falta de higiene, de si, da casa, nas suas coisas)
• Procrastinação (adiar compromissos de forma irracional)
• Conformismo (apatia, não se importar com o que lhe faz mal)
• Negligência (não cumprir com as responsabilidades que assume)
• Impontualidade (atrasar-se com frequência)
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Luxúria
• Conquistador (prazer ao fazer outras pessoas se apaixonarem)
• Fetiche sexual (desvio do fluxo natural da energia criadora)
• Exibicionismo (necessidade de atrair a atenção sexualmente)
• Ciúmes (medo de que a pessoa que amamos busque outra)
• Puritanismo (aversão ao sexo, como algo sujo, pecaminoso)

Gula
• Exagero (excessos ao comer, beber ou fazer algo agradável)
• Vícios (bebida, cigarro, drogas, jogos, novela, série...)
• Acumulação (querer ter mais do que necessita)
• Colecionador (um tipo de acumulação específica, refinada)
• Ansiedade (ânsia por novidade, por anestesiar-se, distrair-se)

Inveja
• Comparação (querer o que o outro tem – gera competividade)
• “Inveja branca” (toda inveja é ruim e prejudicial)
• Crítica (geralmente o eu que critica sente algum tipo de inveja)
• Hipocrisia (dissimular, fingir, para que não o descubram)
• Traição (enganar ou fazer o que for preciso para ter o que quer)

Cobiça
• Consumismo (necessidade de compensar frustrações)
• Ânsia por poder (desejo de mandar nos outros, ser obedecido)
• Apego (fixação por coisas em que se identifica muito)
• Materialismo espiritual (cobiçar poderes psíquicos)
• Idolatria (identificação com um personagem, artista, marca, etc.)
Estes são apenas alguns exemplos, para que tenhamos uma vaga ideia. Como diz o poeta
Virgílio: “Nossos defeitos são tantos que nem que tivéssemos mil línguas e palato de aço,
conseguiríamos enumerá-los”.

Por que devemos eliminar os eus


Cada um dos diferentes eus que temos nos fazem mal, porque nos tiram o poder de escolha
diante das situações; causam sofrimentos, para nós e para as pessoas à nossa volta; e
consomem muita energia, que serviria para despertarmos a consciência e para construirmos
a estrutura interna que um dia pode permitir que nosso Real Ser se expresse em nós.
Eliminar o ego não é fácil, é um trabalho de autoconhecimento e de transformação que dura
toda a vida, sustentado com consistência.
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Método para eliminar o eu: a morte em marcha

A primeira coisa para começar a trabalhar sobre si é ter a firme resolução de querer mudar.
Para isso, é essencial que a pessoa mude a percepção de si mesma no sentido de
compreender que dentro dela existem muitas pessoas, ou eus psicológicos.
Quem começa a se auto-observar é porque se deu conta que precisa sair do piloto-
automático, para então despertar e corrigir-se.
Cada vez que a pessoa percebe a presença de uma reação impulsiva, baseada em um padrão
inconsciente, é sinal que aquilo é um eu.
Ao perceber o eu se expressando, é fundamental não se identificar com ele, recordar de si
mesmo e sentir profundamente que não quer mais seguir permitindo que esse eu siga
crescendo, causando-nos sofrimento.
Então, ao não querer mais aquilo, utilizamos uma prática chamada morte em marcha:
invocamos mentalmente o poder de nossa Divina Mãe Devi Kundalini e entregamos a ela
esse eu, pedindo a sua morte, com palavras simples, que saem do coração (por exemplo:
“Minha Mãe, desintegra esse defeito, elimina isso de dentro de mim”).
Nossa Mãe Divina é a presença sagrada do Eterno Feminino dentro de nós. Assim como
nosso corpo possui um pai e uma mãe, nossa alma também tem um Pai Interno e uma Mãe
Divina, que lhe protegem e guiam, em todas as existências.
Todas as tradições iniciáticas da antiguidade adoraram à Mãe Divina, sob a forma de Maria,
Stella Maris, Parvati, Maha Lakshmi, Durga, Atenas, Rea, Tonanztin, Ísis, etc. – ou seja, a
expressão do fogo espiritual a que os hindus chamam de Devi Kundalini Shakti e os judeus,
Shekinah.
Em nossa Mãe Divina se encontra a síntese máxima da sabedoria, amor e poder e só ela
possui o poder para desintegrar nossos eus psicológicos.
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