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Lições de Medicina Legal Dr.

Aurélio Rodrigues
TEMA: SEXOLOGIA MÉDICO-LEGAL

SUMÁRIO: EROTOLOGIA FORENSE

Erotologia Forense - é a parte da Medicina Legal que se ocupa das


perversões e crimes sexuais, da exposição ao perigo de contágio e da
prostituição.

DESVIOS DO INSTINTO SEXUAL.


O sexo è uma força incoercível provida pelo criador, constitui juntamente com
a fome, instintos poderosos e primordiais que governam o homem. O primeiro
garante pela reprodução a perpetuação da espécie. E o segundo assegura pela
nutrição, a conservação do organismo, sendo que a fome (exteriorização
fisiológica do instinto nutritivo insatisfeito) exerce poderes discricionários na
economia da vida. Premido pela fome, o homem torna-se agressivo, brutaliza-
se, rompem-se-lhe os travões morais, afrouxa-se-lhe o respeito pela lei, solta
por cima das convenções sociais e a todo custo busca satisfazer-se, sobreviver.
O instinto sexual è tão poderoso quanto o instinto da nutrição e, pode ser
também devastador e motivo de perda de auto domínio.
O sexo è um assunto delicado e embaraçoso, devendo ser tratado, portanto com
uma elegância e decência. Tem sido comum falar de sexo a qualquer pretexto
ou até sem pretexto algum através de falsos conceitos científicos ou
escamoteados por propósitos pouco recomendáveis
Durante milénios, a humanidade foi açulada ininterruptamente a abusar do
sexo, desde o “crescei e multiplicai-vos “ bíblico, até as incontáveis
publicações pornográficas, filmes e peças teatrais obscenas de hoje.
Ao fazer o uso abusivo do sexo, o ser humano dirige a energia proveniente do
espírito – que perflui seu corpo – predominantemente para algumas práticas a
antinaturais, privando o espírito, portanto ele mesmo, da possibilidade de
amadurecer da matéria.
O perigo está no facto de que a juventude ávida de inovações e impregnações
de sexo e erotismo, possa deixar-se arrastar por uma ideologia sexual definida
por alguns como forma de realização mas que na maioria das vezes, os leva a
terríveis frustração.

CONCEITOS
O instinto sexual é a força bio-psíquica que atrai sexualmente dois indivíduos
da mesma espécie. Esta força na prática deve ser harmónica e controlada, de
modo a manter uma estabilidade biológica e psíquica dentro do ordenamento
social. No entanto pode ocorrer alterações ou desvios a este instinto tão
somente natural, podendo até ser considerado uma dádiva de Deus.

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Desvio do instinto sexual é caracterizado por distúrbios qualitativos ou
quantitativos do instinto sexual, podendo existir como sintoma de uma
degeneração psíquica ou como intervenção de factores orgânicos glandulares.
Perversão: originalmente a palavra “perversão” significava todo
comportamento humano contrário as normas sociais existentes. Assim, a
corrupção, o mau carácter e a má índole também seriam perversões. Contudo,
como a humanidade se especializou em inventar os mais escabrosos artifícios
para aumentar seu instinto sexual, perversão passou a ser actualmente
sinónimo de desvio sexual.

CLASSIFICAÇÃO
A classificação mais aceite é a de Alexander Lacassagne:
A. Formas patológicas relativas à quantidade:
a) Aumento ou exaltação:
1. Temperamento genital
2. Onanismo automático – masturbação = coito solitário de Onan.
3. Satiríase -
4. Ninfomania
5. Crises genitais momentâneas
6. Exaltação por motivo de certos actos fisiológicos.
b) Diminuição
1. Frigidez
2. Impotência
3. Ausência congénita do apetite sexual
4. Erotomania
B. Formas patológicas relativas à qualidade:
a) Inversão:
1. Uranismo – homossexualismo masculino
2. Pederastia – homossexualismo
3. Tribadismo – lesbianismo, safismo.
b) Desvio do instinto:
1. Sadismo
2. Necrofilia
3. Vampirismo
4. Bestialidade
5. Fetichismo
Kraft- Ebing classifica os distúrbios da sexualidade do seguinte modo:
I. Paradoxia: Emoção sexual surgida fora da época normal por alterações
anatomopatológicas dos órgãos gerativos.
II. Anestesia: Não há excitação capaz de manifestar o apetite sexual
(abolição do instinto).
III. Parastesia: A excitação sexual só se desperta mercê de excitações
inadequadas (perversão do instinto sexual).

A. Formas patológicas relativas à quantidade:


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ANAFRODISIA
É a diminuição ou deterioração do instinto sexual no homem devido,
geralmente, a uma doença nervosa ou glandular, podendo acometer indivíduos
jovens e aparentemente sadios, ou como sintoma de pré impotência.
Não se pode admitir a normalidade numa pessoa inteiramente incapaz ao coito,
e sua importância médico-legal está nos casos de anulação de casamento, por
defeito físico irremediável.
FRIGIDEZ
Trata-se do distúrbio do instinto sexual que se caracteriza pela diminuição do
apetite sexual na mulher, devido a vaginismo ou doenças psíquicas ou
glandulares.
Há uma frigidez temporária, e a mulher só alcança um limiar sexual máximo
em torno dos 25 a 30 anos. É também o mais comum dos distúrbios sexuais,
chegando-se até a acreditar não se tratar de casos de anomalia.
Em muitas situações, a culpa cabe ao marido ou aos amantes, que não
procuram levar a mulher ao orgasmo, pelo egoísmo da antecipação, acabando
por torná-la frígida, ou pela forma desastrosa e violente dos primeiros coitos,
criando um verdadeiro horror ao acto sexual.

EROTISMO
Manifesta-se pela tendência abusiva dos actos sexuais. No homem, chama-se
satiríase e, na mulher, ninfomania.
Segundo Moureau de Tours, a satiríase é manifesta por erecção quase
permanente, repetidas ejaculações e excessivo ardor genésico, podendo estar
ou não acompanhada de delírios e alucinações.
A ninfomania ou uteromania pode levar a doente a o crime, ao escândalo e a
prostituição. Há duas formas: uma crónica, menos perigosa, que se caracteriza
por grande exaltação sexual e outra, de forma aguda, de prognóstico sombrio,
levando a loucura ou a morte. Um facto marcante da ninfomania é a doente não
se satisfazer do desejo sexual, transformando, muitas vezes, uma donzela na
última das prostitutas, procurando saciar seus apetites de qualquer maneira,
sejam quais forem as consequências

B. Formas patológicas relativas à qualidade:

AUTO-EROTISMO
É o transtorno no qual o gozo sexual prescinde da presença do sexo oposto. É o
coito sem parceiro, apenas na contemplação de um retracto, de uma escultura
ou na presença de uma pessoa amada. Por isso é chamado de coito psíquico de
Harmond.
Nicéforo refere o caso de uma operária de 14 anos que, na oficina, na presença
das colegas, sem se mover ou se tocar, pensando apenas em coisas eróticas,
chegava a ter quatro orgasmos por dia.
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EROTOMANIA
É uma forma de erotismo extremamente mórbida. O indivíduo é levado por
uma ideia fixa de amor e tudo nele gira de torno desta paixão, que domina e
avassala todos os seus instantes, é a hipérbole do amor platónico. Quase
sempre é casto e virgem e, muito raramente, a erotomania surge como sintoma
isolado.
Um exemplo de erotomania é o de um poeta de Pernambuco, descrito por
Viveiros de Castro (In atentados ao pudor, Rio de Janeiro: Livraria Editora
Freitas Bastos, 1943). Era um moço de talento, de regular instrução, poeta de
fulgurante imaginação, chegando a receber a reverência da crónica de sua terra.
Depois de alguns excessos de alcoolismo e Onanismo, ficou convencido que
uma Americana, muito linda e rica, o amava perdidamente. Falava dessa beleza
e desse amor como extrema ternura. Toda noite, ela lhe surgia casta e pura,
sem que ele ousasse macular nem com um beijo o arminho de sua inocência. E,
se alguém procurasse escarnecer dessa paixão ou duvidasse da existência da
americana, caía ele em estado de furor e de ira terrível. O certo é que ninguém
jamais viu a citada moça.
EXIBICIONISMO
Os portadores deste transtorno são levados pela obsessão impulsiva de mostrar
seus órgãos genitais, sem convite para a cópula, apenas por um prazer
incontrolável. Uma maneira irresistível e curiosa de satisfação sexual.
Procuram quase sempre os mesmos lugares, em horas certas.
Lacassagne apresenta o caso de um moço de 30 anos, de boa família e gozando
de bom conceito social, que ia ás igrejas ao escurecer e, repentinamente, sem
nenhuma palavra ou outro gesto, mostrava os órgãos sexuais as mulheres que
rezavam e, em seguida, desaparecia. Certa noite, foi preso na igreja de São
Roque, quando praticava ao mesmo acto, e confessou que o fazia precedido e
impelido por grande ansiedade. O autor refere que os exibicionistas são quase
sempre do sexo masculino. Relata apenas um caso de mulher.
Há um certo exibicionismo discreto e rudimentar em certas mulheres que
mostram, nos generosos e abundantes decotes e na nudez disfarçada nas roupas
elegantes, partes de seu corpo como forma de chamar atenção e de prazer, e de
torturar os homens.
NARCISISMO
É a admiração pelo próprio corpo ou o culto exagerado de sua própria
personalidade, e sempre com indiferença para com o outro sexo. Mais comum
em mulheres.
O termo deriva-se de Narcisus, aquele que certa vez, vendo reflectida a sua
imagem num lago, apaixonou-se imediatamente por si próprio
Um sinal deste desvio é a preferência por amigos ou amigas muito feias para
contrastar ou realçar sua beleza. Os narcisistas masculinos, quando se casam
procuram sempre uma mulher mais velha e de pouca beleza, e terminam se
contentando em beijar o seu próprio retracto ou se masturbar diante de um
espelho. Tem pouco interesse Médico-Legal.

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MIXOSCOPIA
Este transtorno de preferência sexual caracteriza-se pelo prazer erótico
despertado em certos indivíduos em presenciar o coito de terceiros. Alves
Garcia propôs a expressão “teleagnia”- volúpia de ver.
Os Franceses chamam de voyeurs ou voyeures do que derivou o voyeurismo.
Existem em Paris certos locais onde se exibem, num palco, indivíduos em
plena cópula, ou salas com inúmeros buracos de fechaduras para que tais tipos
de anormais se deliciem diante de cenas dessa ordem. Num alto grau de
degeneração refere a literatura médico-legal casos de maridos mixoscopistas
que induzem suas mulheres a copular com amantes a fim de terem satisfação
neste triste e condenável espectáculo visto por eles como formas de prazer
sexual.
FETICHISMO
Esta perversão se apresenta como uma absorção completa de amor por uma
determinada parte do corpo ou por objectos pertencentes a pessoa amada. É
próprio desta perturbação o apego aos olhos, mãos, mamas, cabelos, lenços,
luvas ou qualquer outro objecto pertencente ao ente - querido. Este objecto
deixa de ser uma lembrança para personificar-se e tornar-se elemento
primordial na excitação do sexo.
O fetichismo pode ser:
 Por certas partes do corpo: mãos, pés, olhos, cabelos, nuca,
seios etc.
 Por algumas funções ou emanações orgânicas: Voz, olhar,
odor, modo de caminhar e hábitos.
 Por objectos que se relacionam com o corpo: soutiens,
calcinhas, meias, sapatos, lenços, camisolas etc.
Emílio Laurent em seu livro amor mórbido, relata o caso de um jovem que, ao
conquistar uma mulher a primeira coisa que lhe pedia era beijar-lhe as mãos o
que fazia de forma extravagante. No leito, raramente mantia relações sexuais
normais; satisfazia-se apenas em apertar-lhe demasiadamente a mão e fazer-se
masturbar por ela.

LUBRICIDADE SENIL
A manifestação sexual exagerada em determinadas idades, é sempre sinal de
perturbação patológica, como demência senil ou paralisia geral progressiva.
Em geral a idade da vítima é quase inversa a idade do vitimário. Alguns deles
podem ser ate impotentes, satisfazendo-se apenas em ver e apalpar as partes
sexuais, principalmente de crianças ou, na satisfação de relatar em detalhes as
cenas eróticas.
Um dos nossos mais consagrados romancistas refere-se ao caso de um senhor
de engenho, de 70 anos, que vivia afastado de seus parentes e tinha como
predilecção rezar um terço todas as noites em companhia de mulatinhas
virgens dançando completamente nuas em sua presença.
Essas perversões de sexualidade retiram completamente o senso normal,
ensejando a prática de actos verdadeiramente obscenos em locais públicos e

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abertos. têm grande valor médico-legal devido aos crescentes atentados e a
prodigalidade excessiva contra o património da família.
PLURALISMO
Também chamado de triolismo. Manifesta-se pela prática sexual onde
participam três ou mais pessoas.
Os Franceses chamam-no de “menage a trois” e, no Brasil é conhecido como
“suruba”, em Angola é conhecida como “gera”. Os participantes podem ser
em número variado de pessoas, predominando homens ou mulheres e as acções
se manifestam desde a cópula vaginal até as últimas das perversões sexuais.
Esses distúrbios traduzem um elevado grau de desajustamento moral e sexual.
GERONTOFILIA
A gerontofilia é a atracão de certos indivíduos ainda jovens por pessoas de
excessiva idade. Na maioria das vezes, são do sexo masculino e procuram em
ambientes reservados, mulheres velhas para à prática sexual.
TOPO INVERSÃO
Transtorno que reside na prática de sexo em partes indevidas: ânus, entre as
coxas, entre as mamas, axilas...
Divide-se em
 Felação – Sucção dos órgãos genitais pela mulher; e
 Cunilíngua – Sucção dos órgãos genitais femininos pelo homem.
CROMO-INVERSÃO
É a propensão erótica de certos indivíduos por outros de cor diferente.
ETNO-INVERSÃO
Não deixa de ser uma variante de cromo-inversão e de fetichismo. A etno-
inversão é a manifestação erótica por pessoas de raça diferente. Além de
constituir um tipo raro de distúrbio sexual, não se mostra como problema
médico-legal relevante.
RIPAROFILIA
Essa estranha perversão sexual se manifesta pela atracção de certos indivíduos
por mulheres desasseadas, sujas, de baixa condição social e higiénica. Há
homens que preferem manter relações sexuais com mulheres em época de
menstruação.
DOLISMO
Esta expressão é oriunda de um anglicismo (doll = boneca) e caracteriza-se
pela atracão que o indivíduo tem por bonecas e manequins, vendo-as ou
exibindo-as, ou até mesmo chegando à relação sexual com elas.
DONJUALISMO
Não é uma entidade muito rara. Compõe-se através de uma personalidade que
se manifesta compulsivamente as conquistas amorosas, sempre de maneira
ruidosa e exibicionista, que noutra coisa não reflecte senão numa forma
consciente ou inconsciente de auto-afirmação. Em geral, ocorre no sexo
masculino, e as pessoas não têm a virilidade que tentam aparentar, podendo,
inclusive, ser hipossexuais.
TRAVESTISMO
É um transtorno da identidade sexual. Pode ocorrer entre indivíduos
heterossexuais que se sentem impedidos a vestir-se com roupas de pessoas de
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sexo oposto, facto este que lhes rende gratificação sexual. Em geral esse tipo
de erotopatia, o indivíduo é reservado e comedido e se traveste de maneira
discreta e quase furtiva: muitos deles apenas no recato dos seus lares e para
satisfação somente sua. Havia um deles cujo prazer era apresentar-se aos seus
amigos, em sua casa vestido de bailarina.
UROLAGNIA
É o prazer sexual pela excitação de ver alguém no acto da micção ou apenas
em ouvir o ruído da urina.
Na cidade de Natal contava Milton Ribeiro Dantas que existia um jornalista de
alguma projecção social e intelectual que ao frequentar os cabarés, tinha como
satisfação sexual mandar apenas que a mulher urinasse sobre o seu rosto, o que
lhe proporcionava uma intensa exaltação genésica.
COPROFILIA
É a perversão em que o acto sexual se prende ao acto da defecação ou ao
contacto das próprias fezes.
Os portadores desta inacreditável aberração costumam rondar as latrinas
públicas pelo prazer de observarem o acto de defecar o que lhe provoca
profunda excitação.
Conta-se história de um indivíduo que só atingia o orgasmo após a mulher
defecar sobre o seu peito, daí que sempre mandava a mulher momentos antes
tomar um rigoroso laxativo.
COPROLALIA
Esta anomalia consiste na necessidade de alguns indivíduos em proferir ou
ouvir palavras obscenas a fim de excitá-los. Tais palavras poderão ser ditas
antes do coito no sentido de se estimularem sexualmente. Outras preferem
ouvi-las durante o acto para atingirem o orgasmo.
É muito conhecido o sabor mórbido de certas pessoas em escrever
obscenidades em banheiros públicos ou desenharem figuras imorais. É a musa
latrinalis.
EDIPISMO
É a tendência ao incesto, isto é, o impulso do acto sexual com parentes
próximos.
Kensley notável pesquisador da sexologia chegou a conclusão em seus estudos
de que este mal é raro e quando acontece o autor ou autores padecem de
profundas alterações do carácter sendo mais comum entre personalidades
psicopatas do tipo amoral.
BESTIALISMO
Também é conhecido por Zoofilismo, consiste numa satisfação sexual com
animais domésticos. Indivíduos portadores desta aberração muitas vezes são
impotentes com mulheres. Realizam-se sexualmente com galinhas, patos,
cavalos, vacas ou cabras. É um acto frequente no campo, entre os pastores,
vaqueiros e moços de estrebaria.
Na antiguidade, tais práticas eram punidas severamente. Tal é o caso de uma
senhora que em 1523 em Toulouse, uma mulher e um cão foram surpreendidos
na prática da bestialidade tendo sido queimados.

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ONANISMO
É o impulso obsessivo à excitação dos órgãos genitais, comum na puberdade.
Atingido a fase adulta tem conotação de psicopatia. É o coito solitário de
Onan. Esta denominação no entanto é imperfeita, porque essa personagem
praticava tão-somente o coito interrompido, a fim de fugir de uma descendia
que não fosse sua conforme os costumes hebraicos.
Certos autores inexplicavelmente equiparam a masturbação ao coito vaginal o
que fisiológica e psicologicamente é inconcebível pelo seu carácter antinatural.
O nanismo desaparece sem vestígios desde que o jovem se inicie numa vida
heterossexual normal. No em que tal facto ultrapassa essa idade, persistindo
como única forma de prazer, torna-se ele uma inversão sexual ou um sintoma
de sérios distúrbios mentais, principalmente entre os deficientes mentais e
certos esquizofrénicos.
NECROFILIA
Um dos tipos mais torpes de perversão sexual. Manifesta-se pela obsessão e
impulsão de praticar actos sexuais com cadáveres. Muitos destes indivíduos
chegam a penetrar nos cemitérios e violar os corpos retirados dos túmulos.
Segundo Alfrânio Peixoto o carácter comum dessas perversões é que são todas
dependentes de uma alteração psíquica mais ou menos pronunciada. Desse
modo nem sempre esses pervertidos têm identidade própria e são mistura de
vários sintomas ou síndromas degenerativas. A Necrofilia combina-se ao
sadismo, que se combina com o Fetichismo que se mescla com os topo-
inversões.
O caso mais célebre é o de Sargento Bertrand, que relatado por Legrand de
Saúde, aquele exumava e mutilava os defuntos em seguida mantinha relações
sexuais com os mesmos, delitos confessados depois de preso, ao declarar de o
terem impedido de continuar a praticar tais delitos.
SADISMO
É o desejo e a satisfação sexual realizada com sofrimento da pessoa amada
exercido pela crueldade do pervertido indo muitas vezes até a morte. Esse
nome deve-se ao Marques Sade, que praticou e fez apologia desta aberração
em Les crimes de l’amour e Justine et Juliette.
Existe um sadismo simbólico quando o indivíduo procura maltratar outrem
através de insultos, incriminações dando a si uma satisfação de fundo erótico.
O sadismo classifica-se em três graus:
 Grau I – Pequeno Sadismo - consiste em dar
beliscões, injúrias e insultos.
 Grau II – Médio Sadismo – atinge a integridade
corporal mais acentuadamente com açoites, agulhadas
e bofetões;
 Grau III – Grande Sadismo – pode ir até o homicídio
pelo prazer sexual encontrado no acto.
Existem finalmente outros que para aumentar sua excitação recorrem a tortura
ou a morte de animais.

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MASOQUISMO
É o prazer sexual através do sofrimento físico ou moral.
É uma prática mis frequente nas mulheres. O grande escritor Jean-Jaques
Rousseau padecia desse mal que o descreveu em suas confissões. Diz que aos
oito anos de idade, foi severamente punido com correcção corporal pela sua
educadora experimentando uma emoção voluptuosa que lhe despertava o
desejo de ser batido novamente. São suas, estas trágicas palavras “ajoelhar-me
aos pés de uma amante imperiosa obedecer as suas ordens pedir perdão das
faltas que não cometera era para mim gozos divinos”

PIGMALIANISMO - É o amor anormal pelas estátuas.

PEDOFILIA É uma perversão sexual que se apresenta pela predilecção


erótica por crianças indo desde os actos obscenos até a pratica de
manifestações libidinosas denotando graves comprometimentos psíquicos e
morais dos seus autores.

HOMOSEXUALISMO É a prática de acto sexual entre indivíduos do mesmo


sexo.
Ele pode ser:
Homossexualismo Masculino – também chamado de uranismo ou pederastia,
é uma das formas mais comuns de transtorno da identidade sexual. É uma
prática antiga pois que na Caldeia o mais antigo berço da civilização,
encontram-se os primeiros sinais dessa conduta.
Há nesta inversão sexual, uma gradação variável desde os indivíduos
verdadeiramente afeminados até os que têm apetência viril.
Segundo Havelock – Ellis, o coito anal nem sempre está presente entre eles,
atingindo apenas 50% podendo ser activos ou passivos.

DISTINÇÃO ENTRE HOMOSSEXUALISMO, INTERSSEXUALISMO,


TRANSEXUALISMO E TRAVESTISMO
Interssexualismo ou sexo dúbio: O indivíduo
apresenta-se com genitália externa e/ ou interna
indiferenciadas como se a natureza não tivesse se
definido sobre o sexo.
Transexualismo: O indivíduo é um inconformado com
o seu estado sexual. Geralmente não admite prática
homossexual.
Travestismo: A pessoa sente-se gratificada com uso de
vestes, maneirismo e atitudes do sexo oposto. São
tendentes a homossexualismo.
 Homossexualismo feminino: Também chamado safismo, lesbianismo
ou Tribadismo. É muito mais comum do que se pensava. Vai desde os ciúmes
perseguidores até a prática de acto libidinosos.

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Tal como na inversão masculina, existem graus variados que vão desde os
tipos masculinizados (feições hábitos disfarces e maneiras de se portar) até os
tipos femininos delicados e ternos nos quais jamais se poderia pensar numa
inversão sexual.
Também podem ser activas e passivas e muitas vezes essa inversão começa nos
colégios, internatos, presídios, conventos e até nos prostíbulos, pelas amizades
estreitas e continuadas.

TRANSEXUALISMO
De todos os transtornos da identidade sexual, o transexualismo é aquele que
mais chama atenção, pela sua complexidade e pelos seus desafios às questões
morais, sociais e jurídicas. Roberto Farina (In Transexualismo, São Paulo:
editora Nova Lunar, 1982) define-o como uma pseudo-síndrome psiquiátrica
profundamente dramática e desconcertante, na qual o indivíduo se identifica
com o género oposto. Trata-se de uma inversão psicossocial, uma aversão e
uma negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a protestarem e
insistirem numa forma de cura através da cirurgia de reversão sexual,
assumindo assim, a identidade do seu desejado género.

FROTEURISMO
Palavra derivada do Francês “frotter”, que significa “esfregar” ou “roçar”. O
frouterista sente um impulso irrefreável de se encostar em mulheres ou de
afagá-las eroticamente em lugares públicos.

HIPOXIFILIA
Esta palavra significa literalmente, atracção por teor reduzido de oxigénio.
Esse tipo de perversão consiste em tentar intensificar o estímulo sexual pela
privação de oxigénio, seja através da utilização de um saco plástico amarrado
sobre a cabeça ou de alguma técnica de estrangulamento.
CLISMAFILIA
Refere-se á excitação erótica provocada pela injecção de alguma substância no
recto.
paciente.
Consideradas todas essas opiniões, parece não restar dúvidas sobre a
necessidade de uma abordagem psicoterápica, seja ela em que abordagem for,
para o tratamento das chamadas perversões sexuais. Ressaltamos, porém, a boa
indicação dos recursos da clinica psicanalítica para a compreensão da dinâmica
psicológica envolvida na formação e na manutenção dos sintomas de
actividades sexuais de caracter exclusivo, tidas como perversas.
TROCAS INTERCONJUGAIS

ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS

Antes de qualquer análise, é necessário que se faça uma distinção entre


transtorno da preferência sexual, transtorno da identidade sexual e perversão
sexual. Na primeira situação, o indivíduo faz opção por certas práticas sexuais
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que, na intimidade, são toleradas sem maiores censuras como a mixoscopia e o
onanismo. No transtorno da identidade sexual, a pessoa se identifica
sexualmente com o mesmo sexo imitando o seu oposto ou agindo como se fora
igual, como nos casos de homossexualismo e Travestismo, que a sociedade
começa a aceitar como questão de preferência de cada um. E a perversão
sexual, a manifestação mais abjecta da sexualidade, cuja prática denota um
comprometimento moral e psíquico muito grave que justifica maior interesse
médico-legal, como nos casos de bestialismo, da Necrofilia e da Pedofilia.
1. As condutas sexuais atentatórias ao pudor, na sua maioria,
traduzem-se, sob o ângulo médico-legal, por delito de ultraje aos bons
costumes, abuso desonestos, atentados ao pudor, tentativas de violência e, em
menor número agressões que podem levar a lesões graves ou a morte.
Em geral, toda a perversão sexual depende de uma degeneração psíquica mais
ou menos grave. Todo o delito grave de ocorrência sexual deve merecer uma
cuidadosa atenção por parte do perito e do julgador. A criminalidade sexual
quase sempre trás consigo um substrato de perturbação mental.
O importante, portanto, é saber se cada uma dessas anomalias constitui uma
entidade própria ou sintomas de certas morbidades psíquicas para se atribuir
uma quota de imputabilidade compreensível em cada caso particular.
É difícil estabelecer um conceito estrito de anormalidade, pois que essas
pessoas muitas vezes se apresentam com inteligência média ou acima do
normal, conduzindo-se na maioria das vezes, dentro de certos princípios
aparentemente exigidos pela moral, sem atentarem contra a ordem pública.
Raramente atingem o grau máximo da insanidade.
A responsabilidade, em certas circunstancias, se torna tarefa árdua e difícil.
Deverá responder pelos actos quando suas manifestações lhe permitam uma
noção clara de seus direitos e deveres e a atenuação ou irresponsabilidade total
dos doentes que não possuam a capacidade de entendimento fornecida pela
degeneração mental que torna o indivíduo num anti-social ou o predispõe a
reacções que ferem o direito individual ou colectivo.
O conceito de responsabilidade várias vezes tem sido substituído pelo de
nocividade, periculosidade e temibilidade sendo necessário o internamento em
estabelecimentos próprios para tratamento dos portadores destas aberrações.
Não é justo admitir tais pessoas como normais, nem deixar a sociedade exposta
as reacções de tais indivíduos levando a intranquilidade e ao pânico. O
pervertido pode comprometer a segurança social, e o fundamento moderno da
pena baseia-se no critério do remédio e da reparação a sociedade. Reconhecida
a periculosidade no insano, o lugar adequado é o manicómio, onde o bem-estar
público está isento de suas consequências. Não se pode negar que algumas
doenças mentais sejam incuráveis, porém outras se atenuam ou desaparecem.
Os tribunais frequentemente pecam por indulgência quando absolvem um
desses pervertidos sem um exame mais detido de sua periculosidade, inclusive
privando-os da possibilidade de um tratamento recuperador. Outras vezes, a
justiça analisa superficialmente o facto e não o autor, condenando a penas
pesadas pessoas reconhecidamente inimputáveis. Há que existir uma política
penal capaz de traçar uma nítida diferença entre o perverso e o irresponsável.
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Sob o aspecto civil, não se pode deixar de considerar as chamadas cirurgias de
reversão sexual, requeridas pelos transexuais, no sentido de assumirem o sexo
oposto e adquirirem nova identidade.

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