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Capitulo3 PDF
Capitulo3 PDF
COMO SE PREPARAR
PARA A NEGOCIAÇÃO
DE DÍVIDAS
CAPÍTULO 3
Direitos e deveres do consumidor endividado
Numa daquelas confusões da vida, Juliana pagou a parcela
mínima do cartão de crédito e usou o “rotativo”, que é pagar o
mínimo ou parcelar a fatura. No mês seguinte, sofreu uma queda
na escada do prédio onde mora e acabou ficando vários meses
sem trabalhar. Autônoma e sem qualquer reserva financeira para
emergências, ela entrou no cheque especial e ainda precisou
fazer um empréstimo no banco para pagar o aluguel e outras
contas.
Segundo ela, pessoas endividadas estão emocionalmente abaladas e acabam aceitando qualquer
negociação. “Isso pode levar a um ciclo eterno de endividamento, comprometendo a capacidade do
indivíduo sair dessa situação”, explica a dra Vera. Ela foi assessora executiva do Procon/SP e, com base
na longa experiência que tem na área, dá orientações que podem ajudar o consumidor endividado a
conhecer melhor seus direitos e deveres.
Antes, vamos entender o papel do crédito em nossa sociedade, aprender a identificar os sinais de alerta do
endividamento, os fatores que podem levar ao descontrole das dívidas e as consequências que isso pode
provocar.
Crédito é bom, mas precisa saber usar
No entanto, é preciso cautela na hora de usar. O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo e
elas, agora, estão batendo recordes históricos. De acordo com dados do Banco Central, em 15 de outubro
de 2015, os juros do empréstimo pessoal não consignado chegavam a até 850% ao ano em algumas
instituições financeiras. No cheque especial, a 520% ao ano. E no rotativo do cartão de crédito, a 816%!
Confira um exemplo do que você paga quando pede R$ 1.000,00 emprestados de uma instituição
financeira no Brasil:
Sinal de alerta
Se você precisa recorrer ao crédito para pagar as contas
normais, ou seja, os gastos são maiores do que sua renda
mensal e você usa o cheque especial ou o rotativo do cartão
de crédito, por exemplo, cuidado! Você pode estar caminhando
para uma situação em que não conseguirá dar conta de pagar,
entrando no chamado superendividamento.
Causas do superendividamento
Principais consequências
Agora, vamos olhar algumas questões que fazem parte da rotina de pessoas que estão
endividadas e precisam renegociar com os credores.
A regra de ouro: conhecer bem a dívida
Leia o contrato e fale com o credor para detalhar a composição da dívida, incluindo: valor inicial, honorários
cobrados, juros, valor total ao final do prazo contratado e o que você já pagou. Uma opção é usar a Calcula-
dora do Cidadão do Banco Central para simular financiamentos com prestações fixas e a correção de valo-
res. A calculadora está disponível aqui: http://www.bcb.gov.br/?calculadora
Se o credor dificultar o acesso à informação, procure um serviço de reclamação do órgão regulador da área:
o Banco Central, no caso dos bancos, e a Anatel, no caso de empresas de telefonia, por exemplo.
“O consumidor tem o direito a esmiuçar a informação sobre a dívida”, reforça Vera Lúcia Remedi.
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Exigir a compra de um seguro para obter ou renegociar um crédito ou o limite do
cheque especial. Essa prática é chamada de venda casada e é proibida pelo Código
de Defesa do Consumidor.
2 Débito em conta corrente de valor que ultrapasse 30% do seu rendimento mensal ou,
no caso do empréstimo consignado, 35%. Há uma série de ações judiciais favoráveis
a consumidores que tiveram retenção de salário depositado em conta superior a
esses percentuais. Se você ganha R$ 1.000,00 líquidos, o valor total do débito não
pode ultrapassar R$ 300,00 ou R$ 350,00 no consignado.
3 Pressão para a renegociação imediata da dívida, por telefone, sem que seja feita a
análise prévia de sua capacidade de pagamento. “Não há segurança na negociação
pelo telefone e, depois, fica mais difícil renegociar. Não aceite em hipótese alguma
que isso seja feito pelo telefone”, alerta a dra. Vera.
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Oferta de linhas de crédito mesmo quando você está endividado. Muitas vezes, o
consumidor já está comprometido com uma instituição financeira e ela continua
oferecendo crédito, provocando um agravamento da situação. Portanto, se o que
você ganha não comporta mais uma parcela, não se deixe levar.
Se fizer uma compra e se arrepender, você poderá fazer a devolução do produto (sem uso) no
prazo de 7 dias.
Se deixar de pagar três prestações consecutivas de um bem que adquiriu - um carro ou geladeira,
por exemplo -, o credor pode entrar com um pedido de busca e apreensão para ter o bem de volta.
Se receber uma carta de cobrança dizendo que está sujeito à penhora de bens, tenha claro que não
podem ser penhorados: salário, imóvel único da família, móveis e utilidades domésticas, como
geladeira e fogão, e poupança de até 40 salários mínimos que seja anterior à dívida.
Planeje o pagamento das dívidas: faça seu orçamento pessoal, considerando o que você precisa
para viver e o que você pode destinar para o pagamento dos credores.