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IBMR

KATIA VASCONCELOS
PATRICIA FRANCO
SONAYRA GASTALDELLI VERONEZI

O RACISMO COMO QUADRO DE ADOECIMENTO E O CUIDADO COMO FORMA


DE RESTITUIÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA
Intervenções em Saúde
Rio de Janeiro
2022
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A estrutura social escravocrata imposta ao Brasil por um ocidente europeu


jamais se esvaiu com a “tão sonhada” abolição. A liberdade veio, ao contrário, como
uma sentença condenatória de abandono e preconceito social.
A desumanização dos corpos negros, fonte do racismo como estrutura da
sociedade brasileira, se mantém nos dias de hoje, com a continuidade do
apagamento da história dos mais diversos povos africanos, com a persistência em
crenças e estereótipos de que pessoas negras são biológica e intelectualmente
inferiores, com a generalização e congelamento da identidade negra e com a
manutenção de uma construção de humanidade em torno de valores eurocêntricos.
A nossa sociedade é, por si só, doente e, como tal, promove o adoecimento da
maior parte de seus integrantes como consequência desta estrutura perversa.
Uma das maiores provas deste fenômeno se dá quando visualizamos os
números referentes à saúde da população negra no território nacional. Segundo
pesquisas feitas pelo Ministério da Saúde, o óbito por suicídio é 45% maior entre
adolescentes e jovens negros. As principais causas associadas são, justamente, a
ausência de sentimento de pertencimento, a auto percepção de “menos-valia”,
sentimentos de incapacidade, rejeição e solidão e a própria violência a qual até hoje
é submetida a população negra no país. É a perpetuação do banzo – esvaziamento
do direito e do sentido da vida (Nascimento, 2017, p. 71) – e do maafa, genocídio
dos povos africanos e afrodescendentes.
Assim, o cuidado como forma de restituição da população negra deve incluir,
imprescindivelmente, um processo de resgate da humanização destas pessoas e o
enfrentamento do racismo como um fenômeno impossível de ser extirpado de forma
imediata, mas que, por outro lado, jamais conseguirá paralisá-las por completo neste
lugar perverso do colonialismo. Há vida e realidades sendo produzidas para além
do genocídio.
Assim, esse cuidado deve buscar o fortalecimento da identidade negra de
forma individual e coletiva, abrangendo o debate e a valoração das origens, da
ancestralidade, das culturas, dos jeitos de ser e viver que são parte inexorável da
história dos afrodescendentes.
Para além, a abordagem da psicologia social comunitária pode constituir
ferramenta valiosa para esse cuidar, visto que o racismo e suas consequências não
atingem somente as subjetividades negras de forma isolada, mas todo um povo.
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Assim, o desenvolvimento de meios de cuidado sob o enfoque da experiência


coletiva pode proporcionar a potencialização tanto dos sujeitos como da própria
coletividade/comunidade.
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REFERÊNCIAS

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