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Resumo: O objetivo desse texto é fazer uma breve revisão histórica com embasamento teórico das
consequências do racismo sofrido pelo povo negro e a relação dessas consequências com a inserção
deste grupo no espaço conhecido como cultura pop. Procura-se argumentar sobre a questão da
representatividade negra nesses espaços de grande poder de visibilidade, enfatizando a importância de
se construir boas representações e apresentando formas de como tornar isto possível.
Introdução
Desenvolvimento
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servia como uma ferramenta para obscurecer e nublar a consciência coletiva ante as opressões
raciais vigentes.
Enquanto que no Brasil o racismo é velado por conta de toda essa construção
ideológica de falsa “democracia racial”, nos EUA o racismo é explicitado de várias formas.
Consequentemente, nesses tipos de cenário, os negros possuem dificuldades de se
apropriarem e inserirem-se nos mais variados espaços. Neste ensaio, me aterei a escrever
sobre o negro no espaço social chamado de cultura pop, escolha que fiz influenciado por
experiências pessoais que obtive por ser negro e apreciador da cultura pop.
Os negros existem na cultura pop. Não da forma certa ainda, mas estão lá e isso é
resultado de um longo processo de lutas e esforços para inserirmo-nos nessa estrutura:
“Embora os negros e as tradições e comunidades negras apareçam e sejam representadas na
cultura popular sob a forma de deformados, incorporados e inautênticos, continuamos a ver
nessas figuras e repertórios, aos quais a cultura popular recorre, as experiências que ficam por
trás deles.” (HALL, Stuart. 1996. P. 153-154).
Existem muitas dificuldades para se sentir parte desse espaço quando se é negro. Seja
por ser um espaço que em alguns níveis possui um grau de elitismo que só pode ser alcançado
se o indivíduo possui um determinado poder de consumo (vide convenções de cultura pop
como a Comic Con Experience em que o valor da meia-entrada para um dia como sábado
custou 159,99 reais nesta edição de 2018), por ser um espaço em que é difícil encontrar boa
representatividade, por ser um espaço que subaproveita o negro e ainda o restringe a limitadas
narrativas de violência, ódio, crime, escravidão, e todas essas dificuldades são resultado do
racismo que ainda impera sobre a sociedade. Somos condicionados a acreditar que o branco é
superior e que os ideais de beleza, de perfeição, de inteligência, de força, são todos brancos.
Isso é nítido em coisas consideradas até mínimas na sociedade. Você entra numa loja de
brinquedos e o comum é ver bonecos brancos. Você compra um gibi da Turma da Mônica ou
Menino Maluquinho e os únicos negros que consegue achar são Jeremias e Lúcio,
respectivamente. Nos filmes os heróis, heroínas, mocinhos e mocinhas são majoritariamente
brancos. Nesse sentido, enxergo a necessidade de se lutar por representatividade negra.
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Afinal, por que isso importa? Por que a representatividade, como o processo usado
por membros de uma cultura através da linguagem para produzir certo sentido (HALL, Stuart.
2016), exposta num cenário de tanta visibilidade como a cultura pop, tem o poder de quebrar
paradigmas e o status quo na sociedade, fazendo com que o debate sobre o combate ao
racismo se estenda para além da população negra e conscientize a sociedade num espectro
muito mais amplo.
Acredito no poder que a cultura pop (que é a cultura da massa popular e que
atualmente está dominada por muitos produtos advindos do “mundo nerd”) tem de reproduzir
e influenciar a sociedade por seu alto nível de visibilidade no mundo tão globalizado que
temos atualmente. Vejo isto como uma relação simbiótica onde a sociedade alimenta a
produção de objetos tanto concretos quanto abstratos na cultura pop, no mesmo sentido em
que esta mesma sociedade é diretamente influenciada por ela: “A mídia produz amplos efeitos
na sociedade, relacionados a um determinado tipo de poder que se exerce no processo de
administração da visibilidade pública midiático-imagética.” (HALL, Stuart, 2016).
Analisando todas essas informações há de se apontar os resultados de tanto esforço em
se lutar por representatividade. O sucesso da Marvel Studios “Pantera Negra” de 2018,
dirigido por Ryan Coogler (Fruitvale Station: A Última Parada, Creed), é evidência direta de
que uma nova era tem se instaurado para nós negros e nerds (ou Blerds: Black + Nerds, nos
EUA). O filme arrecadou cerca de US$ 1,3 bilhão mundialmente (custou US$ 200 milhões),
foi premiado com quatro troféus no MTV Movie & TV Awards, recebeu cinco estatuetas no
Saturn Awards, concorreu em seis categorias (Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino,
Melhor Direção de Arte, Melhor Filme, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som) no
Oscar 2019 (premiação que e venceu em três, levando as estatuetas de Melhor Figurino,
Melhor Design de Produção e Melhor Trilha Sonora Original. Ruth E. Carter, a responsável
por criar os figurinos sensacionais do filme cuidadosamente inspirados por elementos
culturais de diversos povos africanos, se tornou a primeira mulher negra a ser indicada e
ganhar o prêmio na categoria de Melhor Figurino. “Pantera-Negra” foi o primeiro filme do
gênero “super-heróis” a concorrer no Oscar o prêmio de Melhor Filme, o primeiro do gênero
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composto por um elenco de maioria negra e, paralelamente, foi o primeiro super-herói negro
do mainstream (que é um conceito que expressa a ideia de moda principal ou popular) das
HQ’s, sendo pioneiro de mais de um modo. Curiosamente, o personagem surgiu como
coadjuvante em 1966 na revista de número 52 do Quarteto Fantástico, ganhando seu título
solo somente a partir de 1973. Nos Universo Cinematográfico Marvel (MCU), o personagem
também surgiu como coadjuvante em Capitão América – Guerra Civil (2016), terceiro filme
do Capitão América. Nick Fury, James Rhodes (Máquina de Combate), Heimdall e Sam
Wilson (Falcão), são exemplos de outros personagens negros que haviam estreado antes do
“Pantera Negra” no universo dos filmes, mas diferente do último, todos eles ficaram limitados
ao papel de coadjuvantes.
Raramente uma produção com tanta visibilidade, um blockbuster, apresenta um
elenco majoritariamente negro numa posição de independência e prestígio como a que vemos
representada pelos membros de Wakanda. Estamos acostumados a ver negros sendo
estereotipados em filmes de comédia, hiper-sexualizados em romances, extremamente
descartáveis em filmes de terror, cometendo crimes ou matando seus semelhantes em filmes
de ação e geralmente sendo coadjuvantes em filmes sobre sua própria história. Vemos uma
subversão de padrões em alguns filmes ao longo dos anos (como “Um Príncipe em Nova
Iorque”, “Spawn – O Solado do Inferno”, “Steel – O Homem de Aço” e “Blade – O Caçador
de Vampiros”), mas com uma visibilidade e expressão muito pequenas.
De modo diferente, o caso de “Pantera Negra”, é quase único. T’Challa, o
personagem que carrega o manto do Pantera Negra após a morte de seu pai, é o soberano de
Wakanda, uma nação extremamente avançada tecnologicamente. Ela guarda em seu território
um elemento alienígena chamado de Vibranium com propriedades diversas e que fez com que
Wakanda pudesse se desenvolver segura e afastada do processo de colonização e
imperialismo efetuado por povos brancos de outros continentes. Wakanda é um país habitado
por negros que não são descendentes de escravos do sistema cruel executado pelos europeus!
Eles possuem suas próprias formas de educação, cultura, religião, idioma, escrita, comércio,
agricultura, transporte e tecnologia. Wakanda é carregada de alguns elementos futuristas,
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Conclusão
Dessa forma, tomando como principal exemplo o filme Pantera-Negra, conclui-se que
a questão da representatividade negra não é algo que deva ser trabalhada de qualquer forma
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ou por qualquer pessoa. Sua execução nos filmes e outros produtos da cultura pop é uma
poderosa ferramenta na luta contra o racismo, mas tal ação deve ser empreendida por nós, os
próprios negros. Nós entendemos nossas subjetividades, entendemos a forma como somos,
lutamos contra o racismo estrutural todos os dias nos negando a verdade sobre o quanto
somos belos da forma como fomos feitos pra ser. Nós negros somos as melhores pessoas pra
tratarmos do modo como queremos e devemos ser representados. É por isso que produções
como Pantera Negra, Todo Mundo Odeia o Chris, Super Choque, Atlanta e Homem-Aranha
no Aranhaverso (protagonizado por Miles Morales, um menino negro, ganhou o Oscar de
melhor animação nesse ano de 2019) funcionaram tão bem. Os nomes por trás dessas
produções são de pessoas negras como Ryan Coogler, Chris Rock, Dwayne McDuffie e
Donald Glover. Precisamos de oportunidades para que pessoas negras trabalhem nas
produções, dando assim acesso para o público negro estar fortemente inserido na cultura pop.
Precisamos de oportunidades para diretores, atores, produtores, roteiristas e showrunners
negros. Precisamos de oportunidades. Só assim o acesso dos negros à cultura pop será
facilitado, a boa representatividade será efetuada de forma mais acentuada e o combate ao
racismo, principalmente nas mídias, ganhará novos contornos.
Referências
FANON, Frantz. PELE NEGRA MÁSCARAS BRANCAS. Salvador: EDUFBA, 2008
FREYRE, Gilberto. Casa–grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da
economia patriarcal. 49ª Ed. São Paulo: Global, 2004. (Original de 1933)
HALL, Stuart. Que “negro” é esse na cultura negra? In: HALL, Stuart (Org.). DaDiáspora:
identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG,2003, p. 335-349.
Mundo Estranho, CCXP. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/mundo-estranho/veja-o-quanto-aumentaram-os-precos-dos-ingressos-
da-ccxp-2018/>. Acesso em 13 de dezembro de 2018.
SKIDMORE, Thomas. Preto no Branco: Raça e Nacionalidade no
Pensamento Brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
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