Abrir portas onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • Ano XXXI • n.º 10.

163 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,30€

Lewis Estados Unidos

Doug Emhoff, o advogado de
Hamilton sucesso que largou a carreira
para apoiar Kamala Harris
O activista Mundo, 24/25
que igualou Entrevista
o recorde de “A luta pela abolição da
escravatura foi grande. Temos
Schumacher que fazer igual para as prisões”
Desporto, 36/37 Sociedade, 17

Pandemia reforça poder das Finanças

no controlo dos gastos do Estado
Num momento em que as Ænanças tuguesa, mas em que subsiste no rio das Finanças parece decidido a Na proposta de Orçamento do Esta- ministério de João Leão pode mesmo
públicas são chamadas a dar uma Governo o receio de deixar ir longe chamar a si próprio o controlo direc- do para 2021, o valor das dotações atingir um novo máximo histórico
ajuda excepcional à economia por- de mais o valor da dívida, o Ministé- to de uma parte maior das despesas. orçamentais sob controlo directo do Economia, 20/21

RUI SOARES

Covid-19
Viver com RSI Jovens médicos
nos Açores preocupados
com impacto
“Se não fosse na formação
o rendimento, Estágios foram adiados e programas

eu ia pedir esmola adaptados. Adiar o exame pode ser

opção para internos que vão termi-
nar especialidade Sociedade, 14/15
para a cidade”
Destaque, 2 a 5 Alimentação
Maioria das
bolachas e
cereais tem sal
e açúcar a mais
Análise aos rótulos de centenas de
produtos mostra valores acima do
recomendado na Estratégia da Ali-
mentação Saudável Sociedade, 16

Crisálida Vieira, de 21 anos, Jornalismo

de Rabo de Peixe: mudar regras
do RSI obriga a acordo nacional Covid acelerou
crise e deixou
investigação
Antigo ministro de Passos Coelho pede congresso em xeque
extraordinário após aliança do PSD com o Chega Estudo mundial mostra impacto da
pandemia nos media. Redução do
investimento no jornalismo de inves-
Jorge Moreira da Silva quer clariÄcação a tempo das autárquicas Política, 13 e Editorial tigação é generalizado Política, 12

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ESTA
SEXTA-FEIRA
ISNN-0872-1548
2 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Destaque Rendimento Social de Inserção
“Se não
fosse o
rendimento,
como era?
Eu ia pedir
esmola”
Os Açores são a região com a maior
percentagem de beneÄciários de RSI. Os
beneÄciários dão grande importância ao
apoio, que muitas vezes é insuÄciente,
face à complexidade das situações
Reportagem
Rui Pedro Paiva
V
árias casas iguais, peque-
nas, mas de diferentes
cores, com a tinta já escas-
sa. Algumas chegam a
albergar famílias de 14
pesoas. Outras estão com a
porta aberta e há àquelas que não
têm fechadura. Ali, toda a gente se
conhece e, por isso, quem não é de
lá e vai lá, dá logo nas vistas. O bair-
ro Æcou conhecido por uma desi-
gnação cunhada na rua. Um nome
que é só um número: 13.
O Bairro 13 fica em Rabo de Peixe
e é uma das zonas mais pobres de
São Miguel. É ali que Crisálida Vieira
vive, em frente a um pequeno
campo de futebol, com um relvado
sintético já gasto, e com o mar em
pano de fundo. “Eu sempre vivi
aqui e é aqui que gosto de viver”,
começa por dizer ao PÚBLICO, num
tom assertivo e desinibido,
característico dos rabo-peixenses:
“Isso é mais fama que outra coisa...”
Crisálida tem 21 anos, é casada e
tem dois Ælhos: um rapaz com três
anos e uma menina de um ano. É o
Rendimento Social de Inserção (RSI)
que a ajuda a alimentar os Ælhos.
“Se não fosse o rendimento, como é
que era? Eu ia pedir esmola para a
cidade. O abono nã o dá para um
mês...” Recebe um apoio de 430
euros, um valor para quatro pessoas
e que aumentou 80 euros no último
ano, devido ao nascimento do
segundo Ælho. Continua a ser
insuÆciente: “O Æado ajuda a viver.”
O marido de Crisálida é
toxicodependente e não trabalha.
Ela também não tem emprego,
nunca teve, porque precisa de
cuidar dos Ælhos. “Eu vou arranjar
emprego? E os meus dois Ælhos? O
emprego é bom, mas depois sou
despedida e não tenho nem
subsídio nem emprego”, diz. O RSI
é para ela “uma grande ajuda” e
serve para “pagar uma água, uma
luz ou para comprar uma roupinha
para os meninos”. E assim vai
sobrevivendo.
Crisálida foi uma das 15.109
pessoas que receberam o RSI nos
Açores durante o mês de Agosto
(ver gráÆcos em cima com dados de
Setembro). O “rendimento
mínimo”, como ainda se chama
popularmente, tem sido a arma de
arremesso política mais mediática
dos últimos tempos. Sobretudo nos
Açores: a região do país com o
maior número de beneÆciários do
RSI quanto à sua população
residente. Em Agosto, 6,1% da
população açoriana (243 mil
residentes) recebeu o RSI, enquanto
a média nacional foi de 2,0%.
Naquele mês, os beneÆciários dos
Açores representaram 7,2% do
número total do país, mas os
indicadores até têm vindo a baixar.
Em Agosto de 2019 existiam 16.253
beneÆciários (7,8% do total
nacional, equivalente a 6,6% da
população açoriana) e no mesmo
mês, um ano antes, 18.114 pessoas
receberam o rendimento na região
RUISOARES
(8,1% do total nacional e 7,3% da Com nove mil habitantes, Rabo
população regional). de Peixe é a maior freguesia do
Há dois anos que Emanuel faz concelho da Ribeira Grande
parte desses números. Vive a
escassos metros de Crisálida. Tem 23
anos, tem o 9.º ano e é “doméstico”,
6,1%
di-lo sem pejo. “Não tenho problema
nenhum em dizer que ajudo a minha
mãe com as tarefas todas da casa”,
aÆrma. Recebe 180 euros de RSI, um
“apoio muito importante para
ajudar as pessoas”. Chegou a
arranjar barcos numa carpintaria
que, entretanto, fechou. “Não há da população açoriana recebeu
trabalho, está difícil aqui e com a RSI em Agosto, a percentagem
pandemia ainda está pior”, refere. mais elevada no país
Por isso, quanto às possíveis
reduções no apoio, defende que por
2%
uns não podem pagar os outros.
“Muita gente precisa do rendimento.
Há pessoas que o podem utilizar
mal, mas mesmo essas precisam do
dinheiro. Se não fosse o rendimento,
isto andava tudo a matar-se uns aos
outros”.
O valor recebido por Emanuel é foi a percentagem da população
superior ao da média regional, que, nacional que recebeu RSI no
por sua vez, é o mais baixo do país. mesmo mês de Agosto

Top 5 do RSI por distrito
N.º de beneficiários
Porto
Lisboa
Setúbal 21.095
41.471
Açores 14.992
Aveiro 9178
Quantos recebem RSI nos Açores
16.500
16.000
15.724
15.500
15.000
14.500
Set. 2019
E no país: quantos recebem
230.000
220.000
210.000
205.380
200.000
190.000
Set. 2019
Valor médio por beneficiário
Setembro de 2020
O mais baixo O mais alto
130,89
86,11
Açores Viana do Castelo
Fonte: Segurança Social
“As pessoas focalizam-se no facto de
existirem muitos beneÆciários do
RSI nos Açores, esquecem-se que a
prestação por beneÆciário nos
Açores é de longe a mais baixa do
país”, explica ao PÚBLICO
Fernando Diogo, professor da
Universidade dos Açores e
investigador no Centro
Interdisciplinar de Ciências Sociais
da Universidade Nova de Lisboa.
Os números conÆrmam. Nos
Açores, a prestação média por
beneÆciário paga em Agosto foi de
86,7 euros, enquanto o valor da
segunda mais baixa foi de 116,7
euros, registada em Évora. “E por
que é que a prestação nos Açores é
mais pequena? Porque as pessoas
têm outros rendimentos, em maior
número do que no resto pais”,
explica o sociólogo, apontando os
“biscates” e “trabalhos precários”,
relacionados com a “especialidade
produtiva da economia açoriana”,
assente na agricultura, no turismo,
na construção civil e na pesca. Dos
números de Agosto, 45% dos
titulares (a pessoa que recebe o
subsídio em nome da família)
56.795
apresentava moutros rendimentos.
“O RSI é mesmo para os mais
pobres entre os pobres...”
Comer duas vezes por dia
Décia Amaral, de 44 anos, conhece
bem a precariedade de quem
depende dos proveitos do mar. O
marido é pescador e os dias não
têm andando fáceis para quem
anda na pesca. “Ele hoje não
trouxe nada do mar, zero, não
trouxe lula. Ontem ganhou dez
euros. O que é que eu vou fazer
com dez euros para uma casa de
família?”, pergunta.
14.992 Décia já não mora no bairro, mas
vive ali perto, numa das ruas que
dão para o centro da vila. Vai
Set. 2020
esfregando as janelas da casa com
água e sabão, uma prática rotineira
devido à salinidade do mar, mas não
tira a atenção da conversa. Recebe
60 euros mensais de RSI, longe dos
tempos em que chegou a receber
350, e sabe de cor o número do
211.992 diploma que lhe impingiu um corte
no RSI. “Foi o Decreto de Lei
70/2010. Começaram a apertar e a
primeira vítima fui eu. Cortaram o
rendimento por causa da reforma
Set. 2020 dos meus pais”, diz, irritada. Há
nove anos, o seu valor de RSI foi
reduzido por viver em casa do pais.
É lá que mora há 25 anos com o
marido. Sempre foi doméstica
porque “nunca” a chamaram do
centro de emprego, a não ser para
integrar um programa ocupacional
durante nove meses em que fazia
cinco horas por dia para receber
100 euros por mês. “Era uma
injustiça! Se querem que trabalhe,
eu faço as oito horas, mas é para
ganhar um ordenado.”
Enquanto isso não acontece,
PÚBLICO
Décia vai “fazendo contas” para pôr
comida na mesa, quando o peixe
não chega do mar. Contas
diÆcultadas pelas dívidas
acumuladas. “Se conseguir comer
duas vezes por dia, já agradeço a
Nosso Senhor. Se os meus cabelos
fossem oiro, e eu pegasse neles para
vender, ainda era pouco para pagar
as dívidas que eu tenho”, declara
em voz alta e de sorriso aberto.
“Eu cá não recebo nada, já recebi
o rendimento, mas foi há muitos
anos...”, comenta a vizinha Maria
da Graça, que acompanhou a
conversa. Os 250 euros que recebia
de RSI foram-lhe retirados quando
os Ælhos “fugiram da escola”. Tem
57 anos e uma deÆciência motora,
que a impede de trabalhar. Vive
com marido, Ælho, nora e dois netos
e não tem direito a RSI nem pensão
de invalidez nem reforma. A pensão
do marido, de 410 euros, sustenta a
família. “Eu precisava tanto do RSI,
enquanto há outros para aí que têm
e não merecem...”
O lugar é Rabo de Peixe, terra de
heróis sofridos pelo mar, uma das
maiores freguesias da ilha, com uma
realidade demasiado complexa
para caber num estigma. Uma terra
que já se habituou a ser o símbolo
dos problemas dos Açores. Ali
encontra-se de tudo — para o bem e
para o mal —, mas, à medida que o
mar se aproxima, os Çagelos sociais
tornam-se evidentes. E continuam a
persistir, ano após ano.
Com nove mil habitantes, Rabo
de Peixe é a maior freguesia do
concelho da Ribeira Grande,
praticamente o dobro da segunda
maior freguesia. Se São Miguel tem
79% dos beneÆciários de RSI nos
Açores, o concelho da Ribeira
Grande regista 28,8% da região.
Aquele concelho do Norte da maior
ilha açoriana tem também o menor
índice de envelhecimento do país
(36,8%), um dado a ter em conta
para Fernando Diogo, uma vez que
as crianças e jovens “são
especialmente vulneráveis à
pobreza”.
Esse indicador também é
aplicável ao todo regional, porque
os Açores são a região mais jovem e
com mais pobres do país. A taxa de
pobreza no arquipélago é de 31,8%,
já após transferências sociais,
segundo o Instituto Nacional de
Estatística (INE), enquanto a taxa
nacional é de 17,2%. É provável que
a pobreza nos Açores já tenha
aumentado, consequência
inevitável da pandemia da covid-19,
mas a previsão não é conÆrmada
pelo número de beneÆciários. De
Março para Abril, o apoio foi
atribuído a mais 107 pessoas, mas
desde aí tem vindo a diminuir e o
valor de Agosto é inferior ao de
Fevereiro (15.371).
Mas há quem tenha passado a
receber o RSI devido às
consequências da pandemia. João
(nome Æctício) é um exemplo. Tem
33 anos, é de uma freguesia rural de
Ponta Delgada e saiu da escola aos
18 anos com o 11.º ano. Estava ligado
ao sector do turismo há seis anos e
agora está sem trabalho desde
Junho. Recebe um subsídio de 100
euros e sobrevive da “caridade”.
“Nunca pensei vir a estar nesta
situação, sempre me consegui
desenrascar toda a vida...”, diz.
Os 100 euros “são importantes”,
mas “não dão para muito”, nem
para fazer uma vida sozinho. Sem
querer fazer muitas previsões a
longo prazo, João já pensa em voltar
para casa dos pais, sete anos após
ter saído. O dinheiro, esse “não
estica para tudo” e “não está nada
fácil arranjar trabalho”.
Sobre atribuição do RSI, diz que
não percebe “nada de política”, mas
pede “atenção” quando se fala do
rendimento. “Os políticos falam
todos do ‘rendimento mínimo’, mas
depois não saem do Parlamento. As
pessoas não podem falar sem
conhecer a realidade...” A
realidade, essa já é dura há muito
tempo e o pior é que as previsões
não são melhores.
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 3
Perfil do beneficiário
Açores têm a prestação
média mais baixa de RSI
Liliana Borges
M
ulher, solteira, algures
entre os 35 e os 44 anos,
residente em São Miguel e
com um rendimento men-
sal igual ou inferior a 189,66
euros — assim é o perÆl do
beneÆciário de Rendimento Social de
Inserção (RSI) nos Açores, a região
com maior nível de pobreza extrema
no país. Enquanto a média nacional
de beneÆciários do RSI ronda os 3%,
na região autónoma dos Açores o
número dispara para 10,2%. Os salá-
rios baixos, as famílias grandes e o
homem como o “provedor único” da
família ajudam a explicar a exposição
dos açorianos à pobreza (e porque é
nos Açores que o RSI tem a prestação
mais baixa do país, apesar de ser a
região que mais dele depende).
De acordo com os dados mais recen-
tes disponibilizados pelo Instituto da
Segurança Social dos Açores, 61,3%
dos titulares de RSI são mulheres. A
maioria feminina tem sido constante
nos últimos anos, reÇexo da ausência
da mulher do mercado de trabalho,
explica o sociólogogo Fernando Dio-
go, da Universidade dos Açores e
investigador do Centro Interdiscipli-
nar de Ciências Sociais. “Tem havido
uma revolução social silenciosa sobre
o lugar da mulher na sociedade, mas
persiste ainda uma cultura patriarcal.
Além disso, há um elevado trabalho
de cuidadores informais prestado
pelas mulheres”, acrescenta.
Em conversa com o PÚBLICO, o
sociólogo olha para os dados sobre o
número de beneÆciários do RSI nos
Açores que, embora tenham vindo a
diminuir, ainda reÇectem o peso da
agricultura “quando comparado com
o resto do país”, nomeadamente na
Família de Maria da Graça vive
com pensão de 410 euros
produção de leite e nas pescas. Ape-
sar do crescimento do turismo ter
melhorado as condições dos açoria-
nos, “os salários continuam a ser ten-
dencialmente mais baixos do que a
média” do resto do país.
Os números comprovam isso: 8,5%
dos beneÆciários de RSI têm rendi-
mentos de trabalho, mas o valor é tão
baixo que continuam dependentes
desta prestação social. “Os Açores são
a região do país onde as pessoas mais
apresentam outros rendimentos”,
nota Fernando Diogo, que hesita em
chamar a estes rendimentos “salá-
rios” pela sua “instabilidade e irregu-
laridade”. Assim se explica que, mes-
mo com trabalho remunerado, os
açorianos continuem a precisar do
apoio de prestações sociais.
A existência de um rendimento de
trabalho (necessariamente inferior a
189 euros) e o tamanho das famílias
explica por que razão o valor médio
por beneÆciário dos Açores seja o
mais baixo do país: 86,11 euros.
Mas nem todo o arquipélago é igual.
A intensidade de pobreza nos Açores
varia de ilha para ilha e é em São
Miguel que é mais penosa. Com cerca
de 80% da população dos Açores e
com “um problema de transmissão
geracional da pobreza”, a maior ilha
da região concentra 74% do total de
beneÆciários do RSI no arquipélago.
Se no Pico, no Faial, nas Flores e no
Corvo o número de beneÆciários é
inferior à média nacional, 14,1% dos
residentes de São Miguel necessitam
deste apoio, apontam dados de 2019
do Instituto Nacional de Estatística.
O estigma da pobreza
Apesar dos traços gerais desenhados
pelas estatísticas, o especialista des-
taca que “os beneÆciários não são
todos iguais”, até porque os dados
apresentados dizem respeito apenas
ao titular e não à totalidade de bene-
Æciários que acabam por ter acesso
ao apoio nos Açores e entre os quais
“cerca de 33% são crianças e jovens
até aos 15 anos”. Além disso, o valor
que cada beneÆciário recebe pode ir
dos “dez aos 300 euros”. “A incapa-
cidade de dar respostas mais Ærmes”,
explica o professor, “deve-se à ausên-
cia de estudos sobre a pobreza em
Portugal”. “O último grande estudo
sobre o RSI foi feito ainda durante o
Governo de Guterres” e desde então
têm sido feitas apenas “algumas ava-
liações”. “É preciso compreender que
o combate à pobreza não se faz ape-
nas com estas medidas. (...) É preciso
apostar em medidas mais estruturais,
que passam pelo investimento em
educação, na formação e em empre-
go de qualidade”, argumenta.
4 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Destaque Rendimento Social de Inserção
RSI: do “mínimo garantido” à “inserção social”
Quando foi criado em Junho de
1996, o actual Rendimento Social
de Inserção (RSI) tinha o nome de
Rendimento Mínimo Garantido
(RMG) e apoiou 50 famílias de
Quarteira, no Algarve. Hoje, quase
um quarto de século e muitos
avanços e recuos depois, este
complemento protegeu (de
Janeiro a Setembro) uma média
de 96.429 famílias em situação de
pobreza e exclusão social. Mas a
proposta nem sempre é associada
ao combate à severidade da
pobreza por receio de fraude, o
que nos últimos anos se traduziu
em várias mudanças nos critérios
Acordo
Mudar regras do RSI obrigaria a acordo de âmbito nacional
Sónia Sapage
O
acordo de incidência parla-
mentar que a AD-Açores e
o Chega assinaram para
viabilizar um governo de
direita na região propõe a
redução do número de
beneÆciários do Rendimento Social
de Inserção, mas não faz referência
à alteração das regras da sua atribui-
ção. Tal mudança teria de passar
pela Assembleia da República, em
Lisboa, onde PSD, CDS, Chega e Ini-
ciativa Liberal, com os seus 85 depu-
tados, estão muito longe da maioria
necessária para alterar a lei.
“As regras do Rendimento Social
de Inserção — a condição de recurso,
assim como dos direitos e as obriga-
ções — são nacionais”, explica ao
PÚBLICO Pedro Mota Soares, ex-mi-
nistro da Solidariedade, Trabalho e
Segurança Social de Pedro Passos
Coelho e Paulo Portas. “O que é refe-
rido no acordo diz apenas respeito
à Æscalização, que é uma componen-
te que pode, de facto, ser gerida a
nível regional”, acrescenta.
“Os partidos comprometem-se a
criar condições de desenvolvimento
económico, de modo a permitir a
redução, até ao Ænal da legislatura,
do número de beneÆciários do Ren-
dimento Social de Inserção. Não
de elegibilidade e nos montantes
em causa.
1997
A proposta original começou a ser
discutida em 1992 e, dois anos
depois, foi a votos por iniciativa
do PS, mas acabou por ser
chumbada pelas bancadas da
direita. Estávamos no Governo de
Cavaco Silva e seria preciso
esperar que António Guterres
vencesse as eleições em 1995
dizem que vão mudar as regras, mas
que vão reduzir o número através,
nomeadamente, da Æscalização. Isto
pode ser feito a nível regional”, con-
clui Pedro Mota Soares.
Bagão Félix, que também foi
ministro da tutela num Governo de
coligação PSD / CDS, concorda. “O
Rendimento Social de Inserção pode
ser ajustado, não tanto nos valores,
mas nos procedimentos”, defende,
conÆrmando que há margem para
ajustes ao nível da Æscalização, por
exemplo.
O acordo de sete páginas assinado
por José Manuel Bolieiro (PSD-Aço-
res), Artur Lima (CDS-Açores), Paulo
Estevão (PPM-Açores) e Carlos Fur-
tado (Chega-Açores) não tem metas
concretas para a redução dos bene-
Æciários, apesar de André Ventura
ter sugerido um objectivo, durante
a conferência de imprensa em que
anunciou a existência de um acordo:
a redução para metade do valor do
Rendimento Social de Inserção no
horizonte da legislatura (quatro
anos), acompanhada da criação de
um programa de trabalho para os
beneÆciários desta prestação
social.
Sem envolver metas especíÆcas e
deixando de fora do acordo qual-
quer compromisso para alterar as
regras vigentes a nível nacional, o
para o então ministro da
Solidariedade e actual
presidente da Assembleia da
República —, Eduardo Ferro
Rodrigues, apresentar a proposta
para o projecto-piloto. Em Julho
de 1997, um ano depois de ter
sido testado na cidade algarvia, o
programa foi alargado a todo o
país. Mas a decisão não foi
consensual.
2003
Uma das vozes mais críticas foi a
de António Bagão Félix: o então
presidente da Comissão Justiça e
Paz da Conferência dos Institutos
Religiosos de Portugal temia que
a prestação abrangesse quem
não precisasse verdadeiramente
do apoio. Nas eleições seguintes,
em 2002, a vitória de uma
coligação de centro-direita
liderada pelo social-democrata
As regras do RSI são nacionais, diz o ex-ministro Pedro Mota Soares
O que PSD / CDS / PPM
escreveram no
acordo com o Chega
é uma espécie de
declaração de
princípios
Durão Barroso voltou a criar
condições para uma revisão do
complemento. Por isso, foi sem
surpresa que Bagão Félix, quando
assumiu a pasta de ministro da
Segurança Social e do Trabalho,
teve como “prioridade social” a
revogação do Rendimento
Mínimo Garantido e a sua
substituição pelo Rendimento
Social de Inserção. A alteração
pretendeu alterar o paradigma de
responsabilidade colectiva para
um outro de responsabilidade
individual. A mudança introduz
também um regime
ENRIC VIVES-RUBIO
que os partidos assinaram foi uma
espécie de declaração de princí-
pio.
“Os partidos signatários compro-
metem-se, durante a actual legisla-
tura, a criar condições de desenvol-
vimento económico, promoção da
inclusão social, laboral, de compe-
tências pessoais, sociais e proÆssio-
nais, quebrando o ciclo de pobreza,
permitindo desta forma reduzir até
ao Ænal da legislatura, através da
inserção social e laboral, o número
de beneÆciários do Rendimento
Social de Inserção”, refere o texto
sancionatório, que permita
penalizar incumprimentos ou
falsas declarações. As alterações
introduzidas em 2003 deixam cair
também a possibilidade de
acrescer um apoio especial para
compensar as despesas de
habitação ou alojamento e a
renovação automática da
prestação ao final de 12 meses.
2005
Em 2005, José Sócrates torna-se
primeiro-ministro e há uma nova
do acordo celebrado entre a AD-Aço-
res e o Chega.
O documento acrescenta ainda
que esta redução visará apenas
beneÆciários “em idade activa, com
capacidade trabalho e aumentando
a sua colaboração com a comunida-
de onde estão inseridos e Æscalizan-
do de modo eÆciente a sua atribui-
ção, considerando-se para o efeito a
actual situação económica da
região”.
Ao que o PÚBLICO apurou, o que
esteve na mente dos vários partidos
foi sempre a “redução da subsidio-
dependência” através do aumento
da Æscalização ao nível da atribuição
da prestação social. Mudanças mais
profundas obrigariam a um enten-
dimento nacional, que tem sido
rejeitado de parte a parte e que não
garantiria a aprovação no Parlamen-
to de Lisboa.
O mesmo se passa em relação a
uma eventual revisão constitucional:
mesmo que PSD, CDS, Chega e IL se
entendessem em alguns pontos
(André Ventura sinalizou “a redução
do número de deputados e a vonta-
de [do PSD] de fazer uma profunda
reforma no sistema de Justiça”), isso
não bastaria para que as propostas
fossem aprovadas — seriam sempre
necessários dois terços dos votos
dos deputados.
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 5

revisão da proposta: deixam de
ser contabilizado o total dos
rendimentos do agregado familiar
nos 12 meses anteriores ao
requisito para prestação e passa a
contar a totalidade dos
rendimentos do agregado familiar
2010
A direita não venceu, mas nem
por isso o RSI ficou imune à
austeridade e à pressão de
emprego conveniente, de
formação profissional ou de
outras medidas activas de
emprego” também passa a
determinar a cessação da
prestação.
parte do agregado familiar
passaram a receber até 50% (em
vez de 70%) e cada criança até
30% (em vez de um máximo de
50%). No ano seguinte, o valor
encolheu para 179,15 euros. Foi
também durante o Governo PSD /

2012
no mês que precede à solicitação diminuir a despesa pública. Em CDS que a renovação anual voltou
(ou da média dos três últimos, no 2010, o Governo socialista a deixar de ser automática.
caso dos trabalhadores sublinhou o “contexto global de

2016
independentes) e regressa a crise económica e financeira

renovação automática da
prestação ao final de 12 meses.
Mas a percepção social em torno
do Rendimento Social de Inserção
não melhorou ao longo dos anos,
especialmente durante a
campanha legislativa de 2009.
Paulo Portas, então líder do CDS e
candidato da oposição, referia-se
ao apoio social como um
“incentivo à preguiça”, “arbitrário
e fonte de crescentes abusos e
fraudes”.
internacional” para justificar que,
“à semelhança da economia
mundial”, a economia portuguesa
estava a sofrer os impactos
adversos da crise. Na alteração à
lei, o Governo reconheceu a
necessidade de “uma forte aposta
na formação dos beneficiários”,
mas defendeu a exigência de
“maior rigor e eficiência”. As
condições de acesso tornam-se
mais apertadas e os beneficiários
do Rendimento Social de Inserção
passam a ter de estar disponíveis
para executar “trabalho
socialmente necessário” em
entidades públicas ou privadas
sem fins lucrativos. A “recusa de
Em 2012, com o Governo de
direita liderado por Passos
Coelho, o montante atribuído foi
reduzido: o titular passou a
receber no máximo 189,52 euros e
os outros adultos que faziam
Depois dos cortes feitos em 2013,
o Governo de António Costa
aposta numa reposição faseada
do valor de referência do RSI, com
a restituição de 25% do corte em
2013 e a intenção de,
progressivamente, regressar aos
valores de 2011.
2017
Em 2017, passa apenas a ser
exigido a quem requer o RSI que
esteja em situação legal no país,
deixando de haver diferença entre
os cidadãos nacionais e os
estrangeiros. É também a partir
deste ano que a avaliação da
renovação passa a ser feita
automaticamente pela Segurança
Social (dispensando os
beneficiários de fazer um novo
pedido). O valor da prestação
volta a estar indexado ao valor da
pensão social. Liliana Borges

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comprar através da Internet de forma segura e que ainda lhe pode poupar tempo e dinheiro.

Mantenha-se seguro. Se o website não é
seguro, nem vale a pena olhar. Procure
por um desenho de um cadeado na barra
de endereço do lado esquerdo do seu
browser e verifique se o endereço come-
ça com https://.
Evite fazer compras a partir de compu-
tadores públicos ou através de redes Wi-
fi abertas. Os dispositivos públicos po-
dem não ter recursos de segurança
importantes, como por exemplo, um an-
tivírus ou uma firewall, e podem estar ex-
postos à possibilidade de terceiros po-
derem aceder aos dados do meio de
pagamento que utiliza.
Compare preços. A Internet é um univer-
so e é possível encontrar bons negócios.
Procure em diferentes páginas e diferen-
tes fornecedores o mesmo produto e
compare o preço, prazo de entrega e a
credibilidade que, nalguns casos, é ava-
liada por outros consumidores.
Não vá em spam. Desconfie de preços
muito abaixo daqueles que são pratica-
dos no mercado. As empresas procuram
lucro e há sempre um custo de produção
do produto.
Escolha websites de lojas que oferecem
vários recursos. Antes de pagar, dê uma
vista de olhos em fóruns, opiniões e críti-
cas do site em questão. Confira toda a in-
formação de que precisa antes de pagar.
Não guarde os dados do seu cartão. Há
muitas lojas online que permitem guar-
dar os dados do seu cartão de crédito ou
de débito. Até pode ser mais prático, mas
não é recomendável. Isto porque se o
website for atacado por hackers, outros
utilizadores podem ter acesso aos seus
dados. Para diminuir os riscos de fraude,
pode optar por serviços como o PayPal ou
MB NET permitem efetuar pagamentos
online de modo fácil e com segurança.
Se é para oferta, faça a compra com an-
tecedência. Não espere até aos últimos
dias, esteja atento aos prazos de entrega
e inclua sempre possíveis atrasos.
Arrependeu-se ou quer devolver o pro-
duto? Não se preocupe. Enquanto con-
sumidor, tem sempre direitos. Pode de-
volver o produto ao vendedor dentro do
período de cancelamento e o reembolso
do preço de compra e das despesas de
envio, no prazo de 30 dias.
Não menospreze as condições de uso e
políticas de privacidade. Há uma série
de informação que o consumidor deve
saber. Por exemplo, prazos específicos
de entrega ou de reclamações, a recolha
e a partilha de dados pessoais, receber
ofertas no futuro por empresas através
de email. Verifique se está de acordo
com todas estas situações.
6 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020

Espaço público

Ventura já deu a Rio a “moderação”

A
s eleições dos Açores
Editorial provocaram uma
mudança no sistema
político impossível de
imaginar há algum
tempo. A ideia de que os partidos
da direita estavam prontíssimos
Ana Sá Lopes para se aliar à extrema-direita já
tinha sido sugerida por Rui Rio,
quando aÆrmou, na entrevista à
RTP, que tudo podia acontecer, “se
o Chega se moderar”. A minimal
polémica que estas palavras
suscitaram davam a entender que o
PSD estava pronto para a
associação. Já está: em domingo de
recolher obrigatório, o deputado
André Ventura dá uma entrevista à
Lusa em que oferece aquilo que Rui
Rio tinha pedido: a sua
A direita já incluiu “moderação”. Não é preciso mais
o Chega nas suas nada para que uma coligação
pré-eleitoral venha a ser possível.
contas e caminha Ou um lugar de relevo num futuro
alegremente para Governo. A avaliar pelo entusiasmo
a bancarrota política que vai na direita por Ænalmente
agora começar a ver a possibilidade
de chegar ao poder, tudo parece
possível para o partido Chega.
É verdade que nem toda a direita
está de acordo com esta mudança
estrutural que teve como corolário
épico a negociação para o governo
PSD nos Açores. No PÚBLICO,
Pacheco Pereira e Francisco
Mendes da Silva já escreveram
sobre o fenómeno. Na edição
desta segunda-feira, Jorge Moreira
da Silva, claramente atónito,
pede um congresso para definir
política de alianças. Infelizmente,
desconfio de que estas são posições
minoritárias. A direita já incluiu o
Chega nas suas contas e caminha
alegremente para a bancarrota
política.
Então qual é a “moderação” que
Ventura ofereceu a Rui Rio?
Demarcou-se de Salazar e
manifestou-se contra a penalização
do aborto. Quanto ao casamento
gay, apesar de o partido ser contra,
ele defende o princípio legal e
também não defende o princípio
legal. Ou, para o citar ipsis verbis,
desmentindo a entrevista da Lusa
em que se declara a favor do
casamento gay: “Fake news. Em
momento algum disse ser a favor do
casamento homossexual. Falei de
direitos que as pessoas
homossexuais não podem deixar de
ter”.
O que o líder do Chega disse na
entrevista é o seguinte: “A minha
posição pessoal é a de que um casal
de homens ou de mulheres não
deve ter menos direitos do ponto
de vista da sua presença na
sociedade do que um casal
homem-mulher”. Estava feita a
declaração para efeitos de
moderação e, depois, segue-se o
desmentido para satisfazer o
partido.
Este é o procedimento, mas é
muito possível que seja o suÆciente
para Rio Æcar satisfeito.

CARTAS AO DIRECTOR
Credibilidade
O PÚBLICO com provedor do
Leitor sobe na consideração
dos leitores. O prolongado
hiato entre o desaparecimento
físico do saudoso ex-provedor,
Paquete de Oliveira, não
beneÆciou o “meu” vosso
jornal. A linha editorial do
PÚBLICO não coincide com a
minha, mas nem por tal deixo
de lutar para que tenha vida
longa! Quando o director,
Manuel Carvalho, aqui escreveu
apelando para apoiarmos o
diário, manifestei-lhe âncora e,
se já era seu leitor, passei à
condição de militante
comprador/leitor. Creio na
pluralidade, desde que
encapotados antidemocratas
não aproveitem a democracia
para a destruírem! Esta
também é uma prerrogativa
que, aÆgura-se-me, deve balizar
a actuação do provedor. (…) Ao
PÚBLICO, parabéns pela
mais-valia. A José Manuel
Barata-Feyo, desejo venturas,
rigor e independência na
defesa do leitor, para que a
conÆança, elo fundamental, se
instale.
Vítor Colaço Santos,
São João das Lampas
O “novo” PÚBLICO
Sou, actualmente, assinante do
PÚBLICO e recebo diariamente a
edição impressa em casa.
Comecei a comprar o jornal na
altura da guerra do Kuwait e
continuei a comprá-lo por causa
das tiras do Calvin & Hobbes.
Quando recebo o jornal, olho
primeiro para a última página,
para ler o Bartoon. O Bartoon é
uma parte essencial da minha
leitura diária, pela qualidade
gráÆca, sim, mas sobretudo pela
pertinência, pelo tom mordaz e
inteligente, pelo apurado sentido
crítico. Hoje, tive de procurar o
Bartoon e encontrei-o na página
9, e não no formato original de
tira. Por ser uma leitora Æel e
convicta deste jornal, por ser uma
incondicional apreciadora e
leitora do Bartoon, venho apenas
sugerir (pedir?) que o Bartoon
recupere o seu devido e digno
lugar na última página, que é
aÆnal a outra porta de entrada do
jornal — e que seja sempre
respeitado o formato, visualmente
mais lógico e consequente, da tira
horizontal.
Alexandra Cristóvão
O provedor e algo mais
No dia em que o “novo” PÚBLICO
muda de visual e em que o
Bartoon “ganha” estatuto ao Æcar
junto do editorial, mas perde a
visibilidade que lhe dava a última
página, saúdo o meu jornal,
como é curial. Dito isto, que faço
com gosto, felicito de um modo
especial o regresso do provedor
do Leitor! Coluna especialíssima,
mormente para mim, que sou
um leitor-escritor de cartas e um
vivo apreciador de um
importante diálogo com o jornal
através das duas diferentes vias.
(…) Uma palavra Ænal para o
aumento do espaço, no número
de hoje, das Cartas ao Director. É
para manter? Desejo vivamente
que sim! Por razões óbvias, que
se inferem do que atrás escrevi...
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto
Médicos-operários
A importante reportagem do
PÚBLICO sobre este tema cria
indignação e estupefacção. Como
é possível, em tempos de
pandemia e de falta de
proÆssionais de saúde, em que
tanto se reclama o seu
esgotamento, desprezar e não
aproveitar proÆssionais desta
dimensão humana que até se
sujeitam a trabalhar nas obras ou
em qualquer trabalho para
sobreviverem? Os médicos
acabam por ser vítimas e reféns
dos interesses da sua própria
classe, desprezando o abrir de
oportunidades e alternativas a
colegas que podem servir
dignamente no tão depauperado
SNS, alimentando este ciclo
vicioso. Em vez de se queixarem
de esgotamento da classe,
procurem soluções inclusivas de
quem sonha desempenhar a
proÆssão e não lhes é dada
oportunidade. Olhem, por
exemplo, para estes médicos
venezuelanos, homens e mulheres
de enorme carácter e vontade!
Ricardo Rodrigues, Paço d’Arcos
Massacres
em Cabo Delgado
O faz-de-conta da comunidade
internacional face aos massacres
cometidos pelo Daesh em Cabo
Delgado, Moçambique, é a prova
de que as grandes potências só
actuam se houver interesses
geoestratégicos. Enquanto a ONU é
um centro de emprego e um
vazadouro de dinheiro, o Governo
português é o espelho do
inexistente poder diplomático.
Quando é para condenar ataques
de extremistas em território
europeu, só falta um chorrilho de
lágrimas aos nossos governantes.
Para evocar grandes massacres de
terroristas na Europa, os
deputados portugueses fazem
minuto de silêncio, quando
deveriam fazer horas de protesto
face aos massacres cometidos pelo
Daesh em Cabo Delgado. (…)
Ademar Costa, Póvoa de Varzim

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“A história pertence aos que a prolongam,
não aos que a sequestram” Manuel Vázquez
Montalbán (1939-2003), escritor espanhol
“A república liderada pelo dr. António
de Oliveira Salazar (...) atrasou-nos
muitíssimo em vários aspectos”
André Ventura, líder do Chega
O NÚMERO NESTE DIA 16 DE NOVEMBRO
94
1869 Inauguração oficial do Canal do Suez, no
Egipto 1949 Morre, aos 50 anos, o poeta popular
António Aleixo 1959 Estreia-se, na Broadway, o
musical de Rodgers e Hammerstein Música no
Coração 1994 António Champalimaud
readquire, por 185 milhões de euros (37 milhões
de contos), 80% do Banco Pinto & Sotto Mayor
2003 É inaugurado o Estádio do Dragão. Joga-se
o FC Porto-Barcelona (2-0), na estreia, aos 16
anos, de Lionel Messi 2006 Morre, com 94 anos,
Total de corridas ganhas por Milton Friedman, Nobel da Economia e mentor
Lewis Hamilton na Fórmula 1. da Escola de Chicago 2011 A troika dá parecer
O piloto britânico venceu ontem positivo à 2.ª avaliação do programa de
o seu sétimo título mundial assistência económica e financeira a Portugal
Anderson
& Colman
Ainda ontem
tem
V
Miguel Esteves Cardoso
ivi na Inglaterra
durante os primeiros
anos da era Thatcher,
li grande parte da
biograÆa dela escrita
por Charles Moore e,
não sei por que carga de água, não
escapei a nenhuma das
interpretações sérias e cómicas de
Margaret Thatcher na televisão e no
cinema.
No domingo, comecei a ver a
quarta temporada de The Crown e
detive-me a considerar a
interpretação de Gillian Anderson.
A voz estava perfeita — melhor até
do que Meryl Streep (nunca pensei
escrever estas palavras) — e os
gestos estavam tal e qual, mas há na
versão dela o mesmo defeito que
têm todas as interpretações da sra.
Thatcher: um excesso de
caricatura, movido por três outros
excessos — de distância, de frieza e
de crítica.
A lesa-majestade não se Æca por
aqui. É que, pelas mesmas razões, a
própria Olivia Colman não acerta
na interpretação da rainha Isabel.
Claire Foy acertou.
São três grandes, grandes
actrizes. Não sei explicar o que
aconteceu — mas vou tentar.
Começo por ter de perguntar
quem é que eu sou para estar a
pronunciar-me sobre o rigor destas
duas interpretações?
Tal como elas, só conheço a
rainha e a sra. Thatcher através da
televisão. Só as vi quando elas
tinham consciência de estarem a
ser Ælmadas — ou seja, quando
estavam a representar.
Anderson e Colman limitaram-se
a imitar essa representação. Não
correram riscos, não se atreveram a
adivinhar como seriam aquelas
pessoas quando estavam à vontade.
Anderson apanha os trejeitos da
sra. Thatcher, mas falta-lhe
imaginação, empatia, curiosidade
até.
Não é preciso gostar da sra.
Thatcher — eu também não gostei
nada —, mas é preciso reconhecer
que se tratava de uma pessoa
extraordinária, tão inteligente e
subtil como decidida e apaixonada.
Uma frieza julga outra — mas
enÆm.
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 7
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8 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Espaço público
Um sistema eleitoral, um país em crise
1.
Jorge Miranda
Há dois sistemas eleitorais
básicos: o sistema de
representação maioritária, em
que é eleito quem consegue a
maioria dos votos, e a
representação proporcional, em
que se distribuem os mandatos de acordo
com a proporção de votos obtidos por cada
candidatura. E há depois vários sistemas
mistos.
A representação maioritária impõe-se na
eleição direta do Presidente da República,
como sucede em Portugal, à luz da
Constituição de 1976 (na qual, como se sabe,
se exige maioria absoluta, na primeira
votação). Também é adotada em países em
que, na eleição parlamentar, cada círculo
eleitoral designa um seu representante
(como é, classicamente, o caso da
Grã-Bretanha).
Covid-19: o tempo das coisas
A
Constantino Sakellarides
pandemia tem os seus tempos.
Estamos num dos piores
momentos deste tremendo
desaÆo. A rede de saúde
pública satura-se, os hospitais
enchem-se, nem todos
sobrevivem. Temos que nos defender, e
proteger os outros, do vírus agressor. E, ao
mesmo tempo, viver, resistir, sentir, agir e
imaginar dias melhores que estão para vir.
Percebemos que a pandemia destapou,
por vezes cruelmente, crónicas limitações
dos nossos recursos, instituições,
comportamentos e formas de governação:
na capacidade de envolver e comunicar com
os cidadãos, de partilhar informação sobre
os riscos que nos ameaçam, de responder
aos desaÆos do envelhecimento, de adotar
políticas eÆcazes relativas às proÆssões de
saúde, de analisar, pensar e planear
estrategicamente (também em contexto de
incerteza), de adotar políticas públicas
baseadas no conhecimento cientíÆco, de
aprender com a experiência.
A representação proporcional, com mais
ou menos variações (assim é na Alemanha,
com a chamada representação proporcional
personalizada), está prevista nas eleições
parlamentares na generalidade dos regimes
democráticos.
2. Nos Estados Unidos, porém, a eleição do
Presidente faz-se por um colégio de eleitores,
em função da população de cada Estado e,
em cada Estado, a totalidade dos eleitores é
atribuída ao candidato que tenha Æcado em
primeiro lugar. Por exemplo: num estado a
que caibam 40 eleitores, todos eles são
consignados a quem tenha obtido maior
número de votos, mesmo que a diferença em
relação ao segundo seja mínima.
É um sistema que remonta à Constituição
de 1787, com poucas alterações. Vale a pena
transcrever o essencial do seu art. 2.º:
“Cada Estado designará, pelo modo a fixar
pela sua Assembleia legislativa, um número de
eleitores igual ao número total de Senadores e
Representantes, a que o Estado tiver direito no
Congresso.
Os eleitores reunir-se-ão em cada Estado e
votarão por escrutínio secreto em duas
pessoas, uma das quais pelo menos não terá
residência nesse Estado.
(…)
De tudo isso é preciso guardar boa nota,
rigorosamente, sem condescendências ou
exageros. Porque, dentro de poucos meses,
precisaremos de repensar isso tudo, para
regressar ao futuro e não ao passado.
Mas, agora, este é um outro tempo. Não é o
tempo de avaliações e juízos precipitados.
A Europa é, hoje, um gigantesco tubo de
ensaio: a Alemanha tomou medidas mais
severas com uma incidência (novos casos) de
covid-19 (média de novos casos em 14 dias,
por 100.000 habitantes) de 206 e uma
percentagem de testes positivos de 5%. A
Irlanda atuou fortemente com uma
incidência de 282 e uma positividade de 7%.
Ali próximo, a Inglaterra atuou com 495 e 8%
e a França com 706 e 13%. Ao lado, a Bélgica
fê-lo com 1786 e 25% e um pouco mais longe
a República Checa com 1066 e 28%. As
comparações são ainda diÆcultadas pelo
facto de aquilo que podemos considerar
“medidas mais severas” (diferentes formas
de conÆnamento geral e principalmente
parcial) não se equivalerem bem de um país
para outro. Mesmo atendendo a essas
diÆculdades, os contrastes são notáveis. E
também não é possível ainda começar a
avaliar resultados com alguma segurança.
Neste extraordinário laboratório, Portugal
não parece situar-se entre aqueles que
“responderam” mais tarde. A verdade é que,
nas condições atuais, nenhuma pessoa ou
instituição têm acesso ao extenso manancial
de informação que os Governos de todos os
Na eleição do Presidente, os votos serão
contados por Estados, entendendo-se que à
representação de cada Estado cabe um voto
global; para este efeito, o quórum exigido
compreenderá um ou vários Representantes de
dois terços dos Estados e para a eleição será
necessária a maioria de todos os Estados.
(…)
Será proclamada eleita Presidente a pessoa
que obtiver a maioria absoluta dos votos dos
eleitores designados e, se ninguém obtiver
maioria absoluta, a Câmara dos
Representantes imediatamente escolherá, por
escrutínio secreto, o Presidente entre as três
pessoas mais votadas. Na eleição do
Está aí uma evidente
e profunda crise
da democracia
e uma crise do próprio
sistema constitucional
dos Estados Unidos
países colheram junto das entidades
técnico-cientíÆcas, sociais, económicas e
políticas que lhes foram permitindo
responder à pergunta crítica: “Que conjunto
de medidas são necessárias e quando?”. Sem
deixar também de ser verdade que,
dependendo da natureza e metodologia
desse processo de consulta, é mais ou menos
fácil explicitar o racional subjacente a essas
decisões. O tempo, agora, é de juntar forças
e resistir, ganhar tempo e esperança, até
uma vacina eÆcaz, medicamentos de ação
mais precoce e testes “que se possam fazer
em casa”.
É tempo, agora, de conseguir chegar
junto daqueles que, por uma razão ou
O tempo agora é de
resistir, ganhar tempo
e esperança,
até uma vacina eÄcaz,
medicamentos
de ação mais precoce
e testes “que se possam
fazer em casa”
Presidente, os votos serão contados por
Estados, entendendo-se que à representação de
cada Estado cabe um voto; para este efeito, o
quórum exigido compreenderá um ou vários
Representantes de dois terços dos Estados e
para a eleição será necessária a maioria de
todos os Estados.”
3. Sendo indireta a eleição,
compreende-se bem a consideração estado a
estado, por se estar numa federação (embora
haja muita diferença entre os 13 estados de
1787 e os 50 de agora).
O que não se compreende vem a ser a
representação maioritária por estados, que
levou a que Hillary Clinton tivesse tido mais
três milhões de votos que Donald Trump e
não tivesse sido eleita. E que leva, nestes
dias, a que Joe Biden, com mais de cinco
milhões de votos, ainda pareça estar
dependente de uma recontagem de votos em
alguns estados.
Está aí uma evidente e profunda crise da
democracia e uma crise do próprio sistema
constitucional dos Estados Unidos e da
própria comunidade política. Esperemos
que o sentimento profundo dos cidadãos e o
bom senso acabem por ser mais fortes do
que qualquer nacional-populismo.
Constitucionalista
outra, não estão ainda a fazer o seu melhor
e de apoiar decididamente os que mais
profunda e duramente sentem as
consequências desta crise.
É o tempo, também, para a comunicação
social ajustar-se a este tempo, minimizando
aqueles espaços sem contraditório, onde,
com demasiada frequência, à ignorância
sobre os temas pandémicos, se juntam
juízos precipitados e infundados, que
alimentam formas de polarização social que
o país dispensa.
Os padrões de atuação das nossas
autoridades, nesta fase da pandemia, estão
estabelecidos e diÆcilmente podem ser
signiÆcativamente alterados, a curto prazo,
considerando a extraordinária pressão a que
hoje estão sujeitas. Por isso, este é também o
tempo de, independentemente dos nossos
posicionamentos políticos e de juízos mais
ou menos informados sobre o que correu
melhor ou pior no passado, dar força e
alento aos que nos governam, valorizando
com apreço o seu enorme esforço e
determinação em servir o país em condições
de diÆculdade extrema.
Continuaremos todos a trabalhar para
encontrar a forma justa de aprendermos o
necessário com o que experimentámos. E
não perderemos mais esta oportunidade
para fazer melhor no futuro.
Professor catedrático jubilado
da Escola Nacional de Saúde Pública

BCE coloca em risco a sua independência?
O
Ricardo Cabral
tmar Issing, o primeiro
economista chefe do BCE,
considerado por muitos,
nomeadamente por Paul de
Grauwe, como o pai do euro, i.
e., um dos principais
arquitectos da moeda única, publicou a 3 de
Novembro um artigo, no Project Syndicate,
onde critica a Teoria Monetária Moderna
(TMM) e a perspectiva de que os problemas
actuais, nomeadamente o desemprego e a
recessão económica causados pela pandemia
covid-19, podem ser resolvidos pela
impressão de mais moeda e pela monetização
da dívida pública. Nesse artigo, Issing
considera que o mito da TMM representa uma
ameaça à independência dos bancos centrais
e que a tese subjacente à TMM é banal.
Numa crítica implícita à política seguida
pelo BCE durante os mandatos de Draghi e
agora de Lagarde, Issing defende que os
bancos centrais da actualidade, ao
implementar a TMM com os seus programas
de expansão quantitativa, estão a colocar em
risco a sua independência face ao poder
político porque: por um lado, arriscam-se a
perder o controlo da taxa de inflação; e, por
outro lado, o poder político dificilmente irá
prescindir da possibilidade de monetizar
dívida pública no futuro. Issing considera
inclusive que o poder político já se terá, na
prática, apoderado do poder de criação de
moeda dos bancos centrais.
Otmar Issing argumenta que estudos
demonstram que o controlo da taxa de
inflação foi, no passado, tão mais eficaz
quanto mais independentes eram os bancos
centrais e que foi isso que levou um número
crescente de países desenvolvidos a reforçar a
independência dos seus bancos centrais nos
anos 90.
O primeiro economista chefe do BCE
defende assim posições que fazem parte da
ortodoxia (ou consenso) entre o início dos
anos 90 e até finais da primeira década de
2000.
Issing conta só parte da história
A perspectiva de Issing está associada a um
período relativamente recente e curto da
história económica. Um período que é uma
excepção em termos históricos.
Para já, não é claro, apesar dos numerosos
estudos empíricos nesse sentido, que a queda
das taxas de inÇação no mundo desenvolvido
seja exclusivamente o resultado do reforço da
independência dos bancos centrais.
AÆgura-se que o papel mais determinante terá
sido de outros factores, nomeadamente da
globalização das cadeias de produção (com
especial destaque para a crescente
participação nas mesmas da China e outros
países do Sudeste asiático) que representou
um enorme choque favorável na oferta e
pressionou em baixa os salários e preços do
mundo desenvolvido.
Areia na engrenagem da dívida pública
AÆgura-se ainda que a independência dos
bancos centrais é uma inovação que pode ser
comparada a introduzir areia na engrenagem
da convertibilidade entre dívida pública e
moeda. Uma das principais funções históricas
dos bancos centrais era, na qualidade de
agências orçamentais públicas, ajudar o
soberano a Ænanciar a sua dívida. Os bancos
centrais independentes, pelo contrário,
vieram (e visaram) diÆcultar a
convertibilidade entre dívida pública e
moeda.
É certo, quando a moeda pública estava no
padrão ouro, os Estados podiam enfrentar
diÆculdades em Ænanciar-se.
Mas, a partir do momento em que a moeda
passa a não ser convertível em ouro ou
noutras moedas, os Estados soberanos
ganharam o controlo pleno da
convertibilidade entre dívida pública e a
respectiva moeda, desde que a dívida pública
seja denominada em moeda nacional.
Ou seja, antes dos bancos centrais
independentes, os Estados eram sempre
capazes de assegurar a convertibilidade da
dívida pública em moeda pública e, por
conseguinte, nunca poderiam ser obrigados a
entrar em incumprimento.
A política monetária tradicional
E, tradicionalmente, desde que essas
operações foram descobertas por acidente
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 9
pela Reserva Federal no início dos anos 20,
um dos principais instrumentos de
implementação da política monetária eram
operações de mercado aberto em que o banco
central adquire ou vende dívida pública. Ou
seja, a política monetária consistia em
alterações à composição dos passivos
públicos, de forma a controlar a taxa de juro
de curto prazo para efeitos de política
económica doméstica, como aliás sugerido
por Keynes em numerosas instâncias desde o
início da sua carreira como economista.
Precisamente, um dos contributos de
Keynes foi argumentar que a política
monetária ganharia liberdade e
preponderância como política económica se,
ao invés de estar restrita a assegurar a taxa de
câmbio da moeda para o ouro (como estava
no regime padrão ouro, por exemplo), visasse
Otmar Issing, um dos
principais arquitectos
do euro, defende
posições que fazem
parte da ortodoxia entre
o início dos anos 90
e até Änais da primeira
década de 2000
RUI GAUDÊNCIO
o controlo da taxa de juro de forma a
sustentar a procura agregada doméstica
(sendo, para este efeito, também necessários
controlos aos movimentos de capitais).
Note-se que, se a dívida pública
(denominada na própria moeda) é sempre
convertível em moeda, e se a taxa de juro é
perfeitamente controlável pelo banco central,
então, a dívida pública é sempre sustentável.
O contributo dos bancos centrais
independentes
Se se interpretar a independência dos bancos
centrais como um obstáculo institucional à
convertibilidade entre dívida pública e
moeda, decorrem:
1. Ceteris paribus (tudo o mais constante), as
taxas de juro das dívidas públicas serão mais
altas do que seriam sem bancos centrais
independentes, porque os Estados passam a
estar obrigados a Ænanciar-se, em primeira
linha, junto de intermediários Ænanceiros que
se cobram de uma margem de intermediação
Ænanceira e porque o Banco Central deixa de
poder controlar perfeitamente / deÆnir a taxa
de juro a que os Estados se Ænanciam;
2. Decorre do ponto anterior que, ceteris
paribus, a sustentabilidade da dívida pública
se degrada;
3. Os pontos 1 e 2 só não seriam correctos se
não se veriÆcar a hipótese ceteris paribus, i.e.,
se, em virtude de um banco central
independente e da sua credibilidade: o
comportamento dos governos se altere de tal
forma, que a dívida pública ou a taxa de juro
fossem substancialmente inferiores ao que
seriam num cenário em que o banco central
não é independente; ou resulte uma
tendência de crescimento económico
superior à que seria alcançada se o banco
central não fosse independente, o que se
aÆgura pouco plausível, uma vez que, nesse
caso, seria expectável uma política
orçamental mais expansionista e um maior
nível de produção e emprego.
De volta aos nossos dias…
No presente, não obstante anos de expansão
quantitativa pelo BCE, Portugal e a zona euro
confrontam-se com taxas de inÇação
ligeiramente negativas (i.e., com deÇação). É
difícil, por conseguinte, acreditar na tese de
Otmar Issing segundo a qual essa política
monetária não convencional do BCE é
irresponsável porque resultará
inevitavelmente num aumento das taxas de
inÇação.
Ao contrário do argumentado por Issing, o
problema parece ser que, não obstante as
taxas de juro extraordinariamente baixas
promovidas pelo Banco Central Europeu,
vários Estados-membros estão renitentes em
endividar-se através da adopção de políticas
orçamentais mais expansionistas,
provavelmente ou porque receiam que o BCE
venha em breve a reverter a sua política
monetária, ou porque não acreditam na
possibilidade ou já nem sequer têm a noção
do que signiÆcaria viver com um banco
central não independente.
Professor de Economia do ISEG.
Escreve à segunda-feira
10 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Política Verbas do Plano de Recuperação e Resiliência chegam a partir de 2021
RUI GAUDÊNCIO
Marta Moitinho Oliveira
Portugal vai receber quase 13 mil
milhões de euros em subvenções da
União Europeia (UE) no âmbito do
Plano de Recuperação e Resiliência
para reforçar a ajuda no combate à
crise aberta pela pandemia. A maior
fatia deste pacote vai para melhorar a
resposta da saúde, da habitação e para
resolver vulnerabilidades sociais.
O bolo total chegará a Portugal
entre 2021 e 2026. Mas como? Que
caminho fazem os fundos europeus
até se transformarem nos projectos e
obras que os justiÆcaram? As verbas
que vêm da UE no âmbito dos pacotes
de fundos seguem um conjunto de
passos importantes que servem para
garantir que os dinheiros comunitá-
rios vão para as mãos certas e para
cumprir os objectivos traçados. Aqui
Æca o caminho em nove passos.
1.º Passo
Definir o bolo de dinheiro
atribuído a cada país
Para montar um programa de fundos
europeus como o PT 2020 (em vigor)
ou o PT 2030 (o próximo) é preciso
em primeiro lugar deÆnir o pacote
Ænanceiro que é atribuído a cada país.
Com esta informação, o Estado-mem-
bro assina com a Comissão Europeia
o acordo de parceria, uma espécie de
contrato onde o país diz em que pro-
gramas vai usar o dinheiro e a que
necessidades responde. Nesta fase
está construído uma espécie de armá-
rio (o acordo) onde cada gaveta (os
programas) contém uma verba para
distribuir ao longo dos vários anos do
programa e que obedece a diversas
regras: os regulamentos da Comissão,
as quotas Æxadas para cada política,
entre outras.
2.º Passo
Encontrar o gestor
de cada programa
Depois de deÆnidos os programas,
conhecidos os regulamentos e Æxa-
das as prioridades políticas, é preci-
so ver quem vai ser a entidade gesto-
ra de cada um deles. Cada programa
tem uma verba deÆnida para a assis-
tência técnica, ou seja, para pagar à
Comissão Europeia sublinhou convergência com Portugal à volta do plano de relançamento equipa que vai gerir este programa.
É criada uma estrutura composta
O caminho do dinheiro
por um conselho de administração,
corpo técnico e secretariado, cujos
dirigentes máximos são escolhidos
por concurso público. São estas pes-
que vem de Bruxelas soas que vão acompanhar todo o
programa desde o princípio até ao
Æm. No entanto, há duas partes
importantes pelas quais não são res-
ponsáveis: a entidade gestora não
deÆne prioridades políticas — são os
A partir do próximo ano e até 2026 vão entrar em Portugal ministros responsáveis pelo respec-
tivo programa — e não fazem paga-
quase 13 mil milhões de euros em fundos europeus que serão mentos aos “donos” dos projectos
de investimento.
usados na resposta à crise gerada pela pandemia. O trajecto São entidades gestoras, por exem-
plo, a Agência para o Desenvolvi-
desses fundos pode ser contado em nove passos
mento e Coesão (para projectos do
Ministério do Planeamento), o Com-
pete (para projectos do Ministério
da Economia) ou o Programa de
Desenvolvimento Rural (PDR) 2020
(para projectos do Ministério da
Agricultura).
3.º Passo
Abrir os concursos
Nesta altura, são lançados os concur-
sos para que as entidades privadas
ou públicas se possam candidatar
aos fundos europeus do programa.
O concurso público deÆne um con-
junto de condições: o prazo de apre-
sentação das candidaturas, que tipo
de despesas podem ser Ænanciadas
por estes fundos e a partir de quando
(imediatamente, só depois da apro-
vação da candidatura ou se até
podem ser aceites despesas já efec-
tuadas — o que por vezes acontece
com programas para Ænanciar gastos
com recuperações de intempéries),
que tipo de entidades se podem can-
didatar (só entidades públicas,
empresas com um número-limite de
trabalhadores, entidades sem Æns
lucrativos), se se referem a projectos
com circunscrição territorial, qual o
montante disponível, qual o montan-
te máximo por candidatura e de can-
didatura por beneÆciário.
O concurso público diz ainda em
que medida do programa se insere,
de forma a que quem se queira can-
didatar possa consultar toda a legis-
lação e regulamentos. Além disso,
deÆne os critérios de valoração que
dão pontos às candidaturas, como,
por exemplo, se criam postos de tra-
balho, se apoiam jovens agricultores,
questões que estão relacionadas com
a medida em causa. A informação
sobre o concurso é bastante detalha-
da para que todos os interessados
saibam ao que vão.
4.º Passo
Analisar as candidaturas
A análise das candidaturas só come-
ça a ser feita depois de terminada a
fase de entrega. Primeiro, olhar para
as candidaturas e começar a ordená-
-las com base em duas informações
importantes: ver as que estão com-
pletas e as que não estão — por vezes
faltam papéis relevantes que não
foram entregues — para depois per-
ceber quais delas passam à frente na
classiÆcação por acumularem pon-
tos a favor (como as que, por exem-
plo, criam postos de trabalho ou
apoiam jovens agricultores, uma
questão que está dependente dos
critérios Æxados no concurso). Com
base nesta informação, as candida-
turas começam a ser hierarquizadas.
No entanto, há outro ponto relevan-
te a ter em conta: a restrição Ænan-
ceira. Imaginemos que o projecto em
causa tem um limite de 20 milhões
de euros.
Candidaturas com projectos acima
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 11

deste montante (por exemplo, 30
milhões de euros) são postas de par-
te. São ainda analisados os planos de
negócio das candidaturas para que
seja veriÆcada a viabilidade do pro-
jecto e as possibilidades de alcançar
os objectivos pretendidos. Tendo em
conta todos estes elementos essen-
ciais que servem de base para arru-
mar as candidaturas por ordem, está
construído o ranking e encontrado
o vencedor do concurso, bem como
os possíveis sucessores, caso seja
detectado algum problema. Quando
o vencedor é uma entidade pública
— porque o concurso se dirige a enti-
dades públicas — o concurso tem de
ter o visto prévio do Tribunal de Con-
tas. Esta situação acontece, por
exemplo, nos casos de construção de
um centro de saúde, em que é a
autarquia que se candidata aos fun-
dos europeus.
5.º Passo
Fechar contrato
com o vencedor
Assim que está identiÆcado o vence-
dor do concurso, é feita a assinatura
do termo de aceitação, um procedi-
mento que se faz online, mas que por
vezes pode ser feito de forma presen-
cial, quando se quer dar mais visibi-
lidade pública ao projecto em causa.
Este compromisso é assumido já
com a entidade pagadora. É a partir
deste momento que o vencedor do
concurso começa a pôr de pé o pro-
jecto. Compra os materiais, os equi-
pamentos e tudo o que precisa para
a obra/projecto. Nesta fase, o dono
do projecto adianta o dinheiro nas
compras que vai fazendo, podendo
pedir apenas um adiantamento.
6. º Passo
Chegada das facturas
À medida que vai fazendo pagamen-
tos para concretizar os projectos, o
dono do projecto tem de ir guardan-
do as factura com as despesas que faz.
Só com estes comprovativos conse-
guirá, junto da entidade pagadora,
recuperar o investimento que está a
fazer. Este processo — lança o projec-
to, faz a despesa, guarda a factura e
pede o reembolso — tem de ser feito
durante o tempo de concretização do
projecto que está predeÆnido.
7.º Passo
Confirmar as facturas
Antes de reembolsar as facturas, a
entidade pagadora tem de veriÆcar
Depois de saber se um conjunto de condições está
quanto lhe cabe, o veriÆcado. Por exemplo, não são
reembolsadas despesas com bens
Estado-membro em segunda mão. Além disso, são
assina com a cruzadas as informações dos gastos
previstos na factura com o fornece-
Comissão o acordo dor e com o extracto bancário. O
de parceria, no objectivo é provar que aquele
dinheiro saiu efectivamente da con-
qual explica a que ta bancária do dono do projecto/
necessidades a obra. No entanto, existem excep-
ções, para despesas de valores mais
verba dará pequenos que implicam pagamen-
resposta tos abaixo de 200 euros. Depois de
certiÆcados os detalhes da factura,
as entidades pagadoras entregam o
dinheiro ao beneÆciário. Se ocorrer
alguma suspeita neste processo de
Os dirigentes das pedido de reembolso quanto à boa
estruturas de utilização dos fundos europeus, as
entidades pagadoras têm de enca-
gestão dos minhar o processo para o Ministério
programas são Público, a Æm de veriÆcar se se con-
Ærmam as suspeitas.
escolhidos por
concurso público 8.º Passo
Verificar o cumprimento
dos objectivos
Além da veriÆcação das facturas, há
outros aspectos que têm de ser cum-
pridos relacionados com o cumpri-
mento dos objectivos. Por exemplo:
imagine-se um projecto que tinha
como meta criar 100 postos de traba-
lho, mas só cria 20. Trata-se de um
projecto que Æcou aquém dos objec-
tivos que se propôs e que, tendo sido
contratualizados e não sendo cumpri-
dos, pode originar a devolução de
uma parte dos fundos. No entanto, os
projectos podem ser ajustados à
medida que o tempo passa, por forma
até a adaptá-los a novas conjunturas
económicas. As actualizações dos
projectos têm de voltar a ser aprova-
das pelas entidades pagadoras,
podendo até envolver as entidades
gestoras.
9.º Passo
Pedir o dinheiro a Bruxelas
À medida que vai recebendo as fac-
turas e pagando, o Estado português
pede o reembolso junto dos serviços
da Comissão Europeia, que vai dis-
ponibilizando os fundos. Nesta fase,
as facturas voltam a ser veriÆcadas.
Perante dúvidas, o executivo comu-
nitário recorre ao European Anti-
Fraud Oêce (OLAF) que é a entidade
responsável pela investigação de
casos de fraude que lesam o Orça-
mento comunitário.

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Desenhada e Música. Realizador dos filmes de animação
“Diário de uma Inspectora”, “My Music” e "28 de Outubro"
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12 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Política
Covid agrava crise dos media e deixa
jornalismo de investigação em risco
Maria Lopes
O panorama de redução do
investimento em trabalhos
de investigação observa-se
por todo o mundo, alertam
investigadores
Não é de agora a crise dos media, mas
a pandemia de covid-19 veio acelerá-
-la e a primeira consequência é a cada
vez maior escassez de meios Ænancei-
ros para fazer investigações jornalís-
ticas aprofundadas. A que se soma a
diminuição do número de proÆssio-
nais dedicados à investigação nas
redacções e a “crescente falta do tem-
po necessário para prosseguir traba-
lhos de investigação complexos”. E
os jornalistas têm cada vez mais diÆ#
culdade em “cumprirem o seu papel
de vigilantes (watchdog) do poder”.
Como se contorna o problema e se
trava a erosão do sector que é um dos
pilares da democracia? Com medidas
políticas para os media, com a actua-
ção mais participativa dos órgãos de
comunicação de serviço público. As
conclusões são do projecto The Media
for Democracy Monitor 2020 (Monito-
rizando o Contributo dos Media para
a Democracia), em que participam
investigadores do Euromedia
Research Group (EMRG), que anali-
saram a situação em 18 países de qua-
tro continentes.
A covid-19 só agravou a já difícil
situação dos media. A redução da
investigação é generalizada, ainda que
existam países onde a quebra é menos
acentuada. E o recurso à subsidiação
pública tem sido uma das poucas
soluções em diversos Estados.
Em Portugal, “a generalidade dos
meios de comunicação reconhece
que a situação económico-Ænanceira
é muito difícil e que os recursos para
o jornalismo de investigação são
escassos”. “Ainda assim, recordam
que os jornalistas têm sido decisivos
na descoberta e denúncia de alguns
dos casos de maior impacto público
no passado recente”, assinala o comu-
nicado do EMRG, que realça que até
as televisões procuram “manter
maior atenção ao jornalismo investi-
gativo, seja através de programas
semanais, seja através de reportagens
de média duração que se tornaram
frequentes nos noticiários da noite”.
Ainda assim, além de algumas man-
chetes próprias, a comunicação social
portuguesa, devido à sua pequena
dimensão, depende muito das agên-
cias e o jornalismo de investigação
tende a concentrar-se em quatro a
cinco órgãos, nota o EMRG.
A imprensa (sobretudo, mas tam-
bém as televisões) tem apostado na
participação em consórcios interna-
cionais de investigação, que se reve-
laram fundamentais para processos
como o Luanda Leaks ou o Novo Ban-
co. “Todos os recentes escândalos
políticos e económicos do país têm
sido revelados publicamente por jor-
nalistas”, vinca o estudo.
Entre os media portugueses consul-
tados, a Renascença admitiu ter limi-
tações nos recursos materiais, embo-
ra ainda assim procure não depender
muito das agências e apostar nos con-
teúdos próprios. O PÚBLICO foi no
mesmo sentido: “A ambição e missão
de um jornal como o nosso exigiria
muito mais recursos, tanto humanos
como materiais”, aÆrmou a direcção
ao investigador Joaquim Fidalgo, da
Soluções ensaiadas
Equipas especializadas e subsídios públicos
Têm sido várias as soluções a que os
media e os Estados recorrem. Na Fin-
lândia, Islândia, Países Baixos e Bél-
gica, houve políticas de subsidiação
para investigação em projectos jor-
nalísticos de qualidade. Mas, na Fin-
lândia, a empresa de serviço público
decidiu manter tudo como estava na
equipa que se dedica a trabalhos de
investigação.
Já na Suécia, alguns media priva-
dos de âmbito nacional “tentam
Estudo internacional
18
países foram considerados:
Alemanha, Austrália, Áustria,
Bélgica, Canadá, Chile, Coreia
do Sul, Dinamarca, Finlândia,
Grécia, Hong Kong, Islândia,
Itália, Países Baixos, Portugal,
Reino Unido, Suécia e Suíça
Participação em consórcios
internacionais de jornalistas
tem obtido resultados
canalizar 10% dos seus orçamentos
editoriais para trabalhos e investiga-
ção”, mas os regionais e locais não
têm essa disponibilidade Ænancei-
ra.
Na Dinamarca, os jornalistas sinali-
zaram também um esforço dos maio-
res órgãos de comunicação social
para manterem equipas especíÆcas
dedicadas a trabalhos de investiga-
ção. E no Reino Unido, a braços com
as consequências económicas do
Universidade do Minho, responsável
pela parte portuguesa do estudo.
O Expresso e o Correio da Manhã
mostraram-se mais optimistas. O
segundo garantiu ter “todos os recur-
sos necessários para produzir” o seu
modelo de jornal e que “nunca uma
investigação foi abandonada por falta
de recursos materiais”. O Expresso
aÆrmou ter “recursos suÆcientes” ,
incluindo para fazer reportagem e
investigação. A isso não será alheio o
facto de ter sinergias com a SIC, a TV
também do grupo Impresa. Canal
que, tal como a RTP, desenvolveu
uma equipa de investigação porque
nos últimos anos as peças de formato
maior (10 a 15 minutos) têm cada vez
mais audiência, tanto nos noticiários
como em programas semanais.
RUI GAUDÊNCIO
“Brexit”, a que se somam as da covid-
-19, apesar de haver ainda alguma
dinâmica na produção de trabalhos
jornalísticos de investigação, vão-se
sentindo cada vez mais as pressões
Ænanceiras.
É o que acontece na Austrália, como
identiÆca o estudo: reduziram-se os
meios em geral, mas as televisões e
as rádios (sobretudo as primeiras)
ainda conseguem apresentar resul-
tados.
“Fake”. André
Ventura nega
ter defendido
casamento gay
Liliana Borges
André Ventura, líder e fundador do
Chega, negou ontem ter defendido o
casamento entre pessoas do mesmo
sexo. As declarações do deputado no
Twitter surgiram depois de a agência
Lusa ter publicado uma entrevista a
Ventura, na qual reproduz a respos-
ta dada pelo deputado quando ques-
tionado sobre os direitos entre pes-
soas do mesmo sexo. No Twitter,
André Ventura reconhece que falou
“de direitos que as pessoas homos-
sexuais não podem deixar de ter”,
mas não diz quais e nega ter dito ser
a favor do casamento homossexual.
Apesar de na entrevista admitir ter
posições diferentes das das bases do
partido, nomeadamente em relação
à interrupção voluntária da gravidez
(Ventura defende a despenalização),
o líder diz que as incongruências
entre as suas posições e o programa
partidário do partido apontadas são
“um ataque” ao Chega.
Quando questionado sobre o que
sentiria se o seu Ælho fosse homosse-
xual e casasse “nos mesmos termos
em que casam outras pessoas”, Ven-
tura disse à Lusa concordar com
exactamente os mesmos direitos atri-
buídos a uma união entre um homem
e uma mulher, apesar de respeitar
que “a maior parte do partido tenha
outra [posição] e entenda que o casa-
mento não deva existir exactamente
nos mesmos termos”. “A minha posi-
ção pessoal é a de que um casal de
homens ou de mulheres não deve ter
menos direitos do ponto de vista da
sua presença na sociedade do que
um casal homem-mulher.”
Ventura afastou ainda qualquer
simpatia relativamente ao regime do
Estado Novo ou saudosismo pelo
ditador Salazar (mas, segundo a Lusa,
os seus assessores Æzeram questão
de retirar das estantes os livros sobre
Salazar, para que não Æcassem regis-
tados nas imagens da entrevista).
“Não é preciso Salazar nenhum em
esquina nenhuma”, mas antes uma
IV República, defendeu na entrevis-
ta, onde deixou críticas ao ditador.
“A maior parte do tempo, também
não resolveu [os problemas do país]
e atrasou-nos muitíssimo em vários
aspectos. Não nos permitiu ter o des-
envolvimento que poderíamos ter
tido, sobretudo no quadro do pós-II
Guerra Mundial. Portugal poder-se-ia
ter desenvolvido extraordinariamen-
te e Æcámos para trás, assim como os
espanhóis”, aÆrmou. E acrescentou
que “não é preciso um Salazar em
cada esquina, é preciso é um André
Ventura em cada esquina”.

Que é feito do meu partido?
Opinião
Jorge Moreira da Silva
Há momentos em que o choque é
tão intenso e gera uma repulsa tão
grande que, evitando dar margem
a qualquer impulsividade,
deixamos passar umas horas ou
dias na vã esperança de que boas
justiÆcações possam ser,
entretanto, aportadas. Não foi
infelizmente o caso. As
justiÆcações entretanto dadas pela
direção nacional do PSD
adensaram a minha perplexidade e
entristeceram-me ainda mais.
Acredito na importância de
fazermos uso permanente, seja no
plano individual, seja no âmbito das
instituições que integramos ou
representamos, de uma bússola
ética e moral que nos oriente em
qualquer jornada. Não acredito
numa visão tecnocrática ou
oportunista da política. Não
acredito que a ética se resuma à lei
ou ao maior denominador comum
entre os vários interesses em
conÇito.
A minha pertença ao PSD
decorre, precisamente, da
possibilidade de, através da partilha
de um quadro identitário de valores
e princípios, poder, livre e
conscientemente, formular
políticas que sirvam o interesse
comum. Essa identidade comum
acomoda, naturalmente, a
diversidade de opiniões quanto às
orientações estratégicas e estas
vão-se progressivamente ajustando
a leituras modernas da sociedade.
Mas isso não permite qualquer
transgressão quanto ao património
identitário do partido. Quando isso
ocorre, signiÆca que o partido
mudou o seu quadro de valores e,
consequentemente, mudou de
natureza. Já é outra coisa.
Vamos, pois, ao essencial.
1. Quem ganha governa. Fui
contra a solução nacional
“geringoncica”, em 2015, e sou
contra a solução regional de 2020.
Continuo a achar que a solução de
2015, sendo constitucionalmente
legítima, foi politicamente imoral,
defraudando as expectativas dos
eleitores. Não mudei de opinião.
Ainda sou da velha escola.
Entendo que o segundo partido
mais votado, em vez de gerar uma
coligação negativa para derrubar o
governo liderado pelo partido mais
votado (como aconteceu em 2015)
ou gerar uma coligação positiva de
governo excluindo o partido mais
votado (como aconteceu agora nos
Açores), deve sim permitir que o
partido mais votado constitua um
governo minoritário, através de
abstenção no programa de governo,
assim como no primeiro
orçamento. Não é necessário ter
maiorias absolutas para ter
estabilidade política. Compete a um
governo minoritário, mas também à
oposição, ir encontrando ao longo
da legislatura soluções de
compromisso para as políticas
públicas.
2. Não se fazem acordos com
partidos xenófobos, racistas,
extremistas e populistas. Com
partidos que propalam propostas
incompatíveis com a dignidade
humana. Ponto! Claro que não se
pode impedir esses partidos de
viabilizar as nossas propostas ou o
nosso programa de governo. Essa é
uma liberdade que lhes é conferida
e não depende da nossa opção nem
das nossas ações. Coisa diferente é o
papel que tenhamos em aceitar ou,
pior ainda, promover tais acordos.
E aí os limites são claros. Não se
conversa, informal ou formalmente,
e muito menos se negoceia com
esses partidos. Mesmo que o
conteúdo do acordo não ultrapasse
as nossas linhas vermelhas
ideológicas conceptuais, não existe
democracia ou princípios a la carte;
e a simples circunstância de nos
sentarmos à mesa ou de aceitarmos
um acordo, mesmo de mínimos,
com tais partidos de
extrema-direita, degrada
inexoravelmente a nossa reputação
e a nossa credibilidade, violentando
o nosso ADN. Repudio o relativismo
ético. O que sobra depois disso?
3. O (mau) exemplo dos outros
não serve de padrão nem de
atenuante. O PS perdeu as eleições
legislativas de 2015 e,
perversamente, arquitetou uma
solução de governo contranatura
com partidos anti-Europa,
antiglobalização, anti-NATO,
antiliberdade de iniciativa. Esteve
mil vezes errado. A nossa obrigação
é combater essa deriva
principiológica e não imitá-la. E
muito menos exponenciar essa
deriva, negociando o apoio de um
partido populista, anti-sistema,
racista e xenófobo.
4. Tenho a melhor opinião de José
Manuel Bolieiro — conheço-o há
quase 30 anos. Competente,
corajoso, integro e solidário. Será
um excelente presidente do Governo
Regional. Também conheço
suÆcientemente bem a realidade
açoriana para compreender a
vontade de promover uma urgente
renovação política ao Æm de 24 anos
de frustrante governação liderada
pelo PS. Mas isso acabaria por
ocorrer naturalmente nos tempos
próximos, depois do excelente
resultado alcançado agora pelo PSD.
O problema está no efeito que esta
negociação nos Açores (e, pelos
vistos, com algum envolvimento
direto das direções nacionais) terá
nos próximos atos eleitorais. Os
eleitores Æcaram com legítimas
dúvidas quanto à possibilidade de
serem celebrados acordos
pós-eleitorais nas autárquicas e nas
legislativas entre o PSD e o Chega. A
simples circunstância de existir essa
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 13
ADRIANO MIRANDA
Estamos perante
uma traição ao
quadro de valores
e princípios do
PSD (...) Considero
necessária a
realização de um
congresso
extraordinário do
PSD para deÄnição
da nossa política
de coligações
dúvida — inteiramente legítima por
parte de quem vota — terá um efeito
devastador no eleitorado moderado
de centro e no eleitorado jovem.
Além da magna e irredutível questão
dos princípios, não deixa de ser
surpreendente que, no plano tático,
o PSD tenha, com esta opção,
entregado o centro ao PS, oferecido
a direita moderada ao Chega e
branqueado a operação de derrube
do governo que em 2015 venceu as
eleições.
5. Estamos perante uma alteração
radical do posicionamento
ideológico e programático do PSD e
uma traição ao seu quadro de
valores e princípios. Estamos
perante uma metamorfose de uma
Política
amplitude tão grande que, num
momento já muito frágil do sistema
partidário (apenas cerca de 20% dos
portugueses conÆam nos partidos),
pode iniciar um processo de
acelerada degradação da base
eleitoral do PSD. Os partidos não
são eternos e esta decisão pode ter
atirado o PSD para a liga dos
partidos de 15-20%, facto ainda mais
grave atendendo à urgência de
avançarmos no país com uma nova
vaga de reformas e de
transformações estruturais que
superem as consequências
económicas e sociais da pandemia e
ultrapassem os constrangimentos
endémicos que nos impedem de
crescer sustentavelmente há
décadas. Como poderá ser o PSD
portador desse novo projeto
político — aberto, moderno,
cosmopolita, inovador, arejado —
se, aos olhos dos eleitores, nos
aproximamos agora daqueles que
são portadores de visões perversas,
sectárias, retrógadas e baÆentas da
sociedade?
Não me resigno com esta deriva e
não acredito que os militantes do
PSD partilhem da opção estratégica
traduzida no acordo PSD-Chega. E
tenho a certeza de que esta opção
não está legitimada pelas linhas
programáticas do PSD, atualizadas
em 2012, nem pela moção
estratégica que elegeu o líder do
PSD.
Assim, estes valores e princípios
do PSD — personalismo, primado da
dignidade da pessoa, igualdade de
oportunidades, combate à exclusão,
tolerância, garantia de integridade
física e mental, e não discriminação
étnica e social — não são, de modo
algum, compatíveis com quaisquer
vizinhanças políticas com o Chega e
com as suas grotescas propostas.
O assunto é, pois, muito grave.
Não nos devemos limitar a
expressar a nossa opinião e com
isso aliviar a nossa consciência. As
circunstâncias exigem
consequências. Assim, considero
necessária a realização de um
congresso extraordinário do PSD
para deÆnição, bem antes das
eleições autárquicas e legislativas,
da nossa política de coligações e
entendimentos. É imprescindível
clariÆcar esta questão de
identidade, não do PSD, mas da sua
atual direção.
Da minha parte, bater-me-ei pela
interdição de qualquer tipo de
entendimento, pré ou pós-eleitoral,
tanto em eleições autárquicas como
legislativas, com o Chega. Por uma
questão de caráter, sem o que a
política não vale a pena.
Militante do PSD
14 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Sociedade Há estágios adiados e programas tiveram que ser adaptados
Pandemia está
a comprometer
formação de
jovens médicos
Adiar a data do exame pode ser opção
para internos a terminar a especialidade.
ACSS admite “medidas excepcionais”
Ana Maia
Ordem dos Médicos, coordenadores
de internatos e comissões de internos
estão preocupados com a formação:
houve estágios adiados, programas
adaptados e ainda a incerteza sobre
se se mantém ou não a data normal
de exame para quem termina a espe-
cialidade no Ænal do ano. A Adminis-
tração Central do Sistema de Saúde
(ACSS) diz que “estão a ser estuda-
das”, pela Ordem dos Médicos, Con-
selho Nacional do Internato Médico
e Ministério da Saúde, “medidas
excepcionais e transitórias que per-
mitam a adequação dos prazos pre-
vistos” para que os jovens médicos
do último ano da formação especia-
lizada “não sejam prejudicados”.
“Temos centenas de estágios que
foram desmarcados e há diÆculdades
em remarcar muitos deles. Por exem-
plo, no bloco operatório, posso ter
dois internos de cada vez a assistir
numa cirurgia cardíaca. Se o estágio
foi desmarcado, no próximo, não
poderei ter quatro internos ao mes-
mo tempo. Há internos de ginecolo-
gia que não operam desde Março”,
aponta Alexandre Valentim Louren-
ço, presidente da secção regional do
Sul da Ordem dos Médicos.
“Estamos a comprometer, por
ausência de decisão, a formação dos
futuros médicos”, aÆrma, salientan-
do que “o Conselho Nacional do
Internato Médico, com o apoio da
Ordem dos Médicos, emitiu há um
mês um parecer para que se possa
alargar a data do exame para Maio”,
em vez de ser entre Fevereiro / Mar-
ço como habitualmente. O risco é
que os jovens médicos “cheguem ao
Æm da especialidade e não sejam tão
autónomos como deveriam”. Refere
que os internos no penúltimo ano de
formação poderão ser os que mais
problemas terão de enfrentar devido
a diÆculdades futuras na marcação
de estágios à medida que mais for-
mandos avançam de ano. Quanto
aos que terminam a especialidade, a
falta de deÆnição da data de exame
cria “uma enorme ansiedade”.
Alexandre Valentim Lourenço
lamenta ainda que muitos internos
da formação geral continuem desvia-
dos “para funções gerais e adminis-
trativas” ou alocados praticamente
em exclusivo à saúde pública na rea-
lização de inquéritos epidemiológi-
cos e contactos telefónicos. Dá o
exemplo dos Açores, “onde estão a
fazer pré-triagem de covid numa ten-
da à porta do hospital” e não Æzeram
estágios em Medicina Geral e Fami-
liar, Pediatria e Medicina Interna.
A ACSS explica que “estão a ser
estudadas pela Ordem dos Médicos,
pelo Conselho Nacional do Internato
Médico e pelo Ministério da Saúde,
com o acompanhamento da ACSS,
medidas excepcionais e transitórias
que permitam considerar a activida-
de clínica realizada pelos mesmos
[médicos internos da formação
geral] no contexto das medidas
necessárias para enfrentar a covid-
19, para efeitos de realização dos
blocos formativos previstos”.
“Mudança muito grande”
Inês Urmal, interna do terceiro ano
de Medicina Interna e membro da
Comissão de Internos do Centro Hos-
pitalar Lisboa Central, fala de “uma
mudança muito grande a todos os
níveis nestes últimos meses”. “Hou-
ve estágios cancelados, outros adia-
dos sem data de remarcação. Todos
os internos viram a formação com-
prometida”, diz, apesar de a pande-
mia também lhes dar muita aprendi-
zagem como a de união e organiza-
ção, que levou cerca de 300 internos
a juntarem-se nas colheitas e nas
enfermarias covid. A jovem médica
fala “numa assimetria” provocada
pela pandemia, com alguns internos
com formação reduzida e outros a
acumular trabalho diário no comba-
te ao novo vírus em áreas como
medicina interna e infecciologia.
E não há grande perspectiva que
a situação do país possa melhorar
nos próximos tempos. “Não sabemos
como vai ser feita a reprogramação
O alerta é da Ordem dos Médicos: “Estamos a comprometer, por ausência de decisão, a formação dos futuros”
Covid faz mais 76
mortos em Portugal
P
ortugal registou mais 76
mortes e 6035 casos de
covid-19. No total, o país
tem 3381 óbitos e 217.301
casos confirmados. Os dados
foram divulgados ontem pela
Direcção-Geral da Saúde, mas
dizem respeito à totalidade do
dia de anteontem. O número
de doentes internados voltou
a aumentar (depois de ter
descido na sexta-feira): há
mais 131 doentes internados,
2929 no total. Destes, 415
estão nos cuidados intensivos
(mais dois). Mais de 66% dos
novos casos foram registados
na região Norte (4022), onde
também se registou grande
parte das mortes de sábado
(44). Em Lisboa e Vale do Tejo,
há mais 1137 casos (18%) e 19
mortes. Há mais 3410 casos
activos de infecção (num total
de 88.854) e mais 2549
cidadãos recuperados.
Desde o início da
pandemia, 125.066
pessoas já se curaram
da doença.
Sofia Neves
do internato. Nas comissões de inter-
nos, tem sido um assunto altamente
debatido”, diz, referindo-se às dife-
rentes opiniões dos internos entre
adiar ou não as épocas de exames e
estender ou não a formação.
Também João Castro Nunes é
interno do terceiro ano, mas neste
caso de anestesiologia no IPO de Lis-
boa. Elemento da Comissão de Inter-
nos, salienta que esta unidade tem a
particularidade de ser covid free e,
por isso, a pandemia acabou por ter
efeito de outra forma. “Fazem-se
estágios noutros hospitais para se ter
uma abordagem mais vasta e houve
hospitais mais afectados pela pande-
mia. Tem-se tentado conciliar vagas
para estágios e só com boa vontade
se tem conseguido”, explica. No seu
caso, já teve um estágio que acabou
adiado e teve de regressar à unidade
onde faz formação.
Por outro lado, tem visto colegas
serem mais requisitados para lidar
com a covid, como a área dos ras-
treios. “Tem havido uma perturba-
ção muito grande na formação.”
Preocupa-o “não haver uma aborda-
gem comum de área para área e
g capacidades formativas já no máxi-
d hospital para hospital”.
de
“Não sabemos o que nos
espera, o que gera muita
ansiedade. Houve redução
de actividade, menos
doentes, menor disponibi-
lidade dos superiores que
415
Total de doentes internados
em unidades de cuidados
intensivos, um novo máximo
da pandemia em Portugal
estão preocupados com a gestão de
outros problemas”, acrescenta.
Efeito dominó
Todos os anos, o SNS recebe internos
que vão iniciar formação e que se
juntam aos que já estão a fazer a
especialidade, que pode durar qua-
tro a seis anos, dependendo da área.
Cada especialidade tem vários está-
gios em diversas áreas e hospitais,
que não só aquele onde o jovem
médico está a ser formado. A dura-
ção de cada um dos estágios também
é variável, sendo uns opcionais e
outros obrigatórios, havendo tempos
mínimos e máximos a cumprir. Tudo
isso tem de ser conjugado e, com as
mo, qualquer sobreposição de inter-
nos pode funcionar como um cho-
que em cadeia que os coordenadores
de internato têm de gerir.
O director do internato do Centro
Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa dá
um exemplo do impacto que a pan-

MÁRIO CRUZ/LUSA
” clínicos
demia teve. “No hospital de dia, pos-
so ter até 20 doentes e quatro internos
— este é um estágio de seis meses obri-
gatório — e, neste momento, tenho
seis doentes. Como posso formar
internos?”, questiona o psiquiatra Rui
Durval, aÆrmando que “é preciso ter
coragem para avançar com os prazos
da formação”. “Este atraso na forma-
ção, que se estende em dominó, vai
complicar as coisas.”
“Não podemos abdicar dos estágios
obrigatórios”, aÆrma João Estrada,
director de internato em Lisboa e Vale
do Tejo. O médico acredita que have-
rá um consenso no adiamento do
prazo do exame, dando mais dois
meses aos jovens médicos para com-
pletarem algum dos estágios em que
se possam sentir mais frágeis. “A
covid condicionou negativamente a
formação, mas não acho que de uma
forma que coloque a qualidade em
causa”, considera João Estrada, lem-
brando que ao longo da formação
existem várias avaliações intercalares
nas quais o interno pode não passar.
Ou seja, os médicos formados “esta-
rão aptos” para tratar os doentes.
Quanto aos internos da formação
geral, João Estrada refere que “foram
cumpridos os mínimos” do programa
e que se “Æzeram coisas fabulosas do
ponto de vista da proximidade com
os doentes”. Esta foi uma das coisas
que a pandemia trouxe, “uma expe-
riência única” de humanização.
Novo coronavírus
Mais 77 concelhos
com novas restrições
M
ais 77 concelhos vão
entrar hoje na lista dos
concelhos com regras
mais apertadas para
enfrentar o avanço da
pandemia de covid-19 em
Portugal. Viseu, Faro e Évora
estão entre os que entram na
lista que passará a ter 191
concelhos, onde o teletrabalho
é, em princípio, obrigatório e à
semana há uma proibição de
circular na via pública entre as
23h e as 5h. Na passada
sexta-feira, sete concelhos
saíram da “lista vermelha”,
enquanto aí permaneceram
outros 114. Oito meses depois
da chegada da pandemia a
Portugal, o primeiro-ministro
António Costa justificou as
medidas do estado de
emergência com o facto de o
país estar numa situação pior
do que aquela que estava na
primeira vaga.
Cadeia de Lisboa com
81 reclusos infectados
O
Estabelecimento Prisional
de Lisboa contabiliza 81
reclusos e oito
trabalhadores infectados
com o novo coronavírus,
enquanto na cadeia de
Guimarães existem 23 presos
e quatro funcionários com
testes positivos para o
SARS-CoV-2. Os números
foram actualizados na tarde de
ontem pela Direcção-Geral de
Reinserção e Serviços
Prisionais, que dá conta de
que ainda se aguardam
resultados de alguns rastreios
realizados na prisão da capital.
Nas duas cadeias, foram
activados os respectivos
planos de contingência, tendo
os serviços prisionais
determinado o isolamento dos
infectados “genericamente
assintomáticos”, que estão s
ser acompanhados por
pessoal clínico.
Recolher obrigatório
Às 14h de sábado, 80% dos
portugueses estavam em casa
Mariana Oliveira
Os portugueses cumpriram o reco-
lher obrigatório que vigorou a partir
das 13h de anteontem como resposta
ao aumento de casos e de interna-
mentos devido à covid-19. Isso mesmo
indicam os dados recolhidos pela
empresa PSE, que monitoriza os
movimentos de 3670 pessoas através
de uma aplicação de telemóvel,
números esses que mostram que, às
14h de anteontem, 80% dos portugue-
ses se encontravam em casa. Mais de
metade das pessoas (55%) não chega-
ram sequer a sair da residência duran-
te todo o dia, um valor que no sábado
anterior se Æcou pelos 42%.
Os dados da mobilidade foram
divulgados ontem através de um
comunicado da empresa, que revela
que, entre o meio-dia e as 14h, 22%
dos portugueses regressaram a casa,
onde no início do recolher obrigató-
rio, às 13h, estavam já 73% dos parti-
cipantes que integram a amostra. O
número é bastante diferente do regis-
tado no sábado anterior, que, àquela
hora, contabilizava na residência cer-
ca de 50% dos portugueses. O mesmo
mostram as imagens das ruas deser-
tas nas principais cidades do país.
Nuno Santos, administrador da
PSE, considera que estes números
mostram que os portugueses cumpri-
ram o recolher obrigatório, notando
que só 121 dos 278 concelhos do con-
tinente estiveram em conÆnamento
este Æm-de-semana. “Nas zonas urba-
nas, a percentagem de pessoas que
estavam em casa à tarde foi na ordem
dos 90%”, especiÆca. Mesmo assim,
lembra que o nível de pessoas que
permaneceu todo o dia em casa foi
bastante inferior aos 70% registados
nos sábados de Abril.
O administrador da empresa acre-
dita que a percentagem de pessoas
em conÆnamento vai subir este
domingo, o dia de descanso por exce-
lência, onde é tradicional um maior
recolhimento das pessoas. Ao domin-
go, a esmagadora maioria do comér-
cio fecha mesmo sem o recolher obri-
gatório, que começou às 13h e se
prolonga até às 5h de segunda-feira.
Expressivo da mudança de com-
portamento dos portugueses anteon-
tem, sublinha Nuno Santos, foi o fac-
to de o pico de regresso a casa ter
ocorrido por volta da hora do almoço,
e não antes do jantar, como no Æm-
-de-semana anterior. Entre os que
saíram de casa anteontem, 64% Æze-
ram-no nas proximidades da residên-
cia, ou seja, percorreram menos de
20 quilómetros ao longo do dia.
Entre a passada segunda-feira e
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 15
Confinamento a partir de cada hora até às 5h
Em %
120
100 94 95 96 97
89 91
83 84 86
80 80
73
14 de Novembro
60
7 de Novembro
40
20
0
6h 7h 8h 9h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h 19h 20h 21h 22h 23h
Fonte: Empresa PSE PÚBLICO
sexta, a primeira semana deste telemóveis de 3670 pessoas com mais
segundo estado de emergência, tam- de 15 anos das regiões do Grande Por-
bém se sentiu um aumento das pes- to, Grande Lisboa, litoral norte, litoral
soas que Æcam em casa. A percenta- centro e distrito de Faro. Os dados são
gem pré-pandemia variava entre os recolhidos via GPS e os responsáveis
25 e 28%, um numero que tem osci- da empresa garantem que a amostra
lado na última semana entre os 33 e é representativa da sociedade portu-
os 34%. Mesmo assim longe dos dias guesa. Para um universo de quase
úteis de Abril, em que ultrapassou os sete milhões de residentes nas regiões
60%. estudadas, a margem de erro do estu-
Os dados da PSE são recolhidos a do é de 1,62% para um intervalo de
partir de uma aplicação instalada nos conÆança de 95%.
AVISO
1. Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 47.º da Lei n.º 19/2012,
de 8 de maio, torna-se público que a Autoridade da Concorrência recebeu, em 10
de novembro de 2020, uma notificação prévia de uma operação de concentração
de empresas apresentada ao abrigo do disposto no artigo 37.º do referido diploma.
2. A operação de concentração em causa consiste na aquisição, pela SIT S.p.A.
(SIT), do controlo exclusivo sobre a Janz – Contagem e Gestão de Fluídos, S.A.
(Janz CGF).
3. As atividades das empresas envolvidas são as seguintes:
• SIT – Empresa cotada no segmento MTA da Borsa Italiana, e ativa no fabrico
(i) de componentes e sistemas para o controlo, regulação e segurança de
aparelhos a gás para aquecimento doméstico, cozinha e grandes instalações
de restauração; (ii) de contadores de gás estáticos, ligados e controlados
remotamente.
• Janz CGF – Empresa ativa na (i) produção e fornecimento de contadores de
água residenciais e seus componentes; na (ii) distribuição de contadores de
água industriais; e na (iii) produção peças de precisão para outras aplicações
não relacionadas com água. Através da Unidade de Negócio de Água da
Resopre a empresa fornece serviços de reparação de contadores de água.
4. Quaisquer observações sobre a operação de concentração em causa devem
identificar o interessado e indicar o respetivo endereço postal, e-mail, n.º de telefone
e fax. Se aplicável, as observações devem ser acompanhadas de uma versão não
confidencial, bem como da fundamentação do seu caráter confidencial, sob pena de
serem tornadas públicas.
5. As observações devem ser remetidas à Autoridade da Concorrência, no prazo
de 10 dias úteis contados da publicação do presente Aviso, indicando a referência
Ccent. n.º 40/2020 – SIT/ Janz CGF, através do e-mail adc@concorrencia.pt ou
para o endereço abaixo indicado.
Autoridade da Concorrência
Avenida de Berna, n.º 19,
1050-037 Lisboa
E-mail: adc@concorrencia.pt
16 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Sociedade
A ingestão em excesso de sal e açúcar está associada a doenças com grande prevalência em Portugal, como o excesso de peso e hipertensão
Há açúcar e sal a mais nas bolachas
e cereais de pequeno-almoço
Ana Maia
Estudo do Instituto Nacional
de Saúde Dr. Ricardo Jorge
mostra valores acima do
recomendado na maioria
dos produtos testados
A maioria das bolachas e dos cereais
de pequeno-almoço tem níveis de
açúcar e sal acima do recomendado
pela Estratégia Integrada para a Pro-
moção da Alimentação Saudável
(EIPAS). Dos produtos analisados no
ano passado por uma equipa de inves-
tigadores do Instituto Nacional de
Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), “98,3%
das bolachas e 89,2% dos cereais de
pequeno-almoço estavam rotulados
com teores de sal e/ou açúcar supe-
riores aos desejáveis”.
A EIPAS, que envolve vários minis-
térios, entrou em vigor a 30 de
Dezembro de 2017 e já levou à assina-
tura de acordos com a indústria ali-
mentar e de distribuição para a refor-
mulação de vários alimentos, com o
objectivo de reduzir o sal e o açúcar
dos mesmos. As metas deÆnidas para
este ano estabeleciam teores máxi-
mos de açúcar de 5g/100g para ali-
mentos sólidos e teores máximos de
sal de 0,2g/100g para sopas e pratos
principais e de 0,3g/100g para os res-
tantes alimentos.
A ingestão em excesso de sal e açú-
car está associada a doenças com
grande prevalência em Portugal,
como o excesso de peso e obesidade
e hipertensão. O último Inquérito Ali-
mentar Nacional e de Actividade Física
(2015-2016) revelou um consumo
médio nacional de açúcares simples
de 84 gramas por dia e 7,4 gramas de
sal por dia.
Para este trabalho, os investigado-
res do Departamento de Alimentação
e Nutrição do Insa usaram a informa-
ção constante dos rótulos disponibi-
lizados online por duas cadeias de
supermercados. A recolha de dados
ocorreu durante 2019 e foram anali-
sados 594 bolachas e 167 cereais de
pequeno-almoço.
As medianas de valores encontra-
dos para as bolachas foram de
25g/100g para o açúcar e de 0,7g/100g
para o sal. Já nos cereais de pequeno-
-almoço, as medianas foram de
21g/100g para o açúcar e de 0,5g/100g
para o sal. Ou seja, em ambos os pro-
1,7%
Só 1,7% das bolachas e 10,8% dos
cereais analisados cumpriam os
teores máximos de açúcar e sal
recomendados pela EIPAS
DR
dutos, quer para o açúcar , quer para
o sal, os valores estavam acima do
recomendado.
Resultados analisados, apenas 113
(19%) das bolachas analisadas cum-
prem a recomendação da EIPAS de
teor máximo de açúcar de 5g/100g. E
só 77 bolachas (13%) o fazem em rela-
ção aos valores máximos recomenda-
dos para a quantidade de sal. No caso
dos cereais de pequeno-almoço, 25
(15%) estão dentro do valor recomen-
dado de açúcar e 63 (37,7%) fazem-no
em relação ao teor máximo de sal.
Ainda mais pequeno é o número
de bolachas e de cereais de pequeno-
-almoço que cumprem em simultâ-
neo os teores máximos de açúcar e de
sal recomendados pela EIPAS. No
caso das bolachas, são “apenas dez
(1,7%)” e, nos cereais, “apenas 18
(10,8%)”, refere o estudo publicado
no Boletim Epidemiológico Observa-
ções. Porém, “demonstra que é pos-
sível atingir as metas propostas, pelo
menos para algumas subcategorias
destes produtos, e que é desejável
uma reformulação progressiva pela
indústria, tendo em consideração o
elevado consumo destes alimentos”,
destacam os investigadores.
“Esforço da indústria”
Melhoria
nos iogurtes,
leites e
refrigerantes
Ana Maia
No boletim é publicado um outro
estudo, realizado pela mesma equipa
do Insa, que avaliou o teor de açúcar
de iogurtes sólidos e líquidos, leites
aromatizados e refrigerantes. À seme-
lhança da outra análise, também nes-
ta os dados foram recolhidos em sites
das principais cadeias de distribuição
alimentar durante 2019.
Do total de 305 iogurtes sólidos
avaliados, “55 apresentaram teores
de açúcar total (rotulado) de acordo
com as recomendações da EIPAS para
2020, de 5g/100g”, refere o docu-
mento. A mediana de açúcar das
amostras foi de 11,5g/100g. Quanto
aos iogurtes líquidos, a mediana de
açúcar dos 208 analisados foi de
11g/100g. Mas, neste caso, porque a
informação nutricional é rotulada
por 100g, não foi possível compará-la
com os 2,5g/100ml recomendado
como teor máximo de açúcar pela
EIPAS. Apesar de os valores não
serem perfeitos em muitos dos pro-
dutos analisados, a boa notícia é que
as medianas de açúcar por 100 gra-
mas registadas agora são inferiores às
detectadas no estudo de 2018, “o que
revela um esforço da indústria no
sentido da redução”. Nos 31 leites
aromatizados avaliados, “a mediana
foi de 9,3g/100ml e o valor mínimo
o b s e r v a d o c o r re s p o n d e u a
4,1g/100ml, encontrando-se ainda
acima do valor desejado de
2,5g/100ml”.
Quantos aos 169 refrigerantes con-
siderados no estudo, “a mediana para
o teor de açúcar foi de 4,5g/100ml,
veriÆcando-se que 47 cumprem as
recomendações (2,5g/100ml)”. “Nes-
ta categoria, veriÆcou-se que nos
produtos com baixo teor de açúcar
este componente foi parcial ou total-
mente substituído por adoçantes”,
salienta o estudo, no qual se reco-
menda que se possam fazer “novos
estudos que avaliem o impacto do
aumento da exposição/consumo de
adoçantes, atendendo aos limites
máximos admissíveis”.
Os investigadores consideram que
“o esforço para a redução do teor de
açúcar adicionado terá que conti-
nuar, especialmente para as catego-
rias dos iogurtes, o que evidencia a
colaboração da indústria alimentar
na melhoria dos produtos destas
categorias que disponibiliza ao con-
sumidor”. Também nos refrigerantes
a mediana apurada “indica a neces-
sidade de a indústria baixar este valor
para se atingir a meta da EIPAS”.

“A luta pelo Ɗm
da escravatura
foi grande. Temos
de fazer igual
para as prisões”
Entrevista
Joana Gorjão Henriques
Manuel Hipólito Almeida
dos Santos Presidente da
Obra Vicentina de Auxílio
aos Reclusos defende,
em livro, o fim das prisões
O título do livro que acaba de lançar
vai directo ao assunto: A Abolição
das Prisões. Em edição de autor
disponível em e-book no site da
Leya, Manuel Hipólito Almeida dos
Santos, 74 anos, presidente da Obra
Vicentina de Auxílio aos Reclusos
(OVAR), defende isso mesmo: o Æm
das prisões, que descreve como
“desumanas, anacrónicas,
assustadoras, medonhas, medievais
e violentas”. Com textos do próprio,
que há 40 anos visita prisões, esteve
à frente da Amnistia Internacional e
é há muito um activista pelos
direitos humanos. O livro compila
escritos de outros autores como
sociólogos, padres e bispos.
Diz a dada altura que ainda não
conheceu um caso em que,
colocando-se nas circunstâncias
em que o crime foi cometido,
pudesse ter feito melhor do que
o recluso. Esta abordagem
humanista não é, como sabemos,
partilhada por muitos, incluindo
na própria Igreja. O seu
posicionamento, dirigindo uma
obra de solidariedade católica,
tem-lhe causado problemas?
Tenho notado um aumento da
sensibilidade. Procurei sensibilizar
o próprio bispo do Porto, com
quem tive uma reunião há cerca de
um mês, para que na diocese
houvesse um órgão especíÆco para
a questão prisional — uma pastoral
penitenciária. E Æcou muito
sensível, já publicou dois textos a
chamar a atenção para o problema
e para a necessidade de se rever o
posicionamento que a comunidade
tem para com as prisões. Em muitos
casos, o crime é uma questão de
sobrevivência. Há casos em que
não. Assistimos esta semana à
acusação da morte daquela criança,
Valentina — é evidente que estamos
perante uma situação atroz, mas
não é a prisão que vai impedir que
isso se veriÆque. Trata-se de um
problema de desumanização,
característico deste modelo de
sociedade.
Ao Æm de 40 anos de
experiência, diz que não se
vislumbra utilidade nas prisões.
Que exemplos concretos
sustentam este posicionamento?
A prisão per si não respeita os
direitos humanos universalmente
consagrados — o direito à saúde, que
é muito mal tratado; o direito às
comunicações, o direito a que a
pessoa se relacione com a família e
os amigos; o direito à vida privada,
não há privacidade entre reclusos…
É desumana. É anacrónica porque
não persegue os Æns que lhe estão
atribuídos. O nosso Código Penal
diz que as prisões têm por Æm a
protecção jurídica dos bens da
sociedade e a reabilitação dos
reclusos, mas nada disto é feito.
A reincidência nas prisões é
superior a 50%. A maioria dos
crimes contra o património e
contra as pessoas são para obter
dinheiro para comprar droga. A
droga representa cerca de 80% da
origem de todos os crimes que
levam a que as pessoas sejam
presas, é o maior contribuinte para
a população prisional. Tem que se
ter uma abordagem diferenciada e
contextualizar a droga no seu
enquadramento legal — há 50 anos,
a droga não tinha tipiÆcação penal,
não havia punição. É um crime
recente no nosso ordenamento
jurídico e adquiriu, perante a
opinião pública, um estigma tal,
que hoje é vista como demónio. O
enquadramento legal das drogas,
como se fez com o tabaco e o
álcool, é absolutamente
necessário.
Quer dizer que se devem
discriminalizar todas as drogas?
Defendo o enquadramento legal das
drogas, isso ia reduzir a população
prisional e muito. Temos legalizadas
práticas com efeitos nocivos que,
em alguns casos, são piores do que
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 17
NELSON GARRIDO
as drogas. A ‘Raspadinha’ está a ser
uma forma de lapidação do
património das pessoas.
As drogas são um problema
criminal e social. Devíamos ter uma
O enquadramento dinâmica de alerta para as
dependências no sistema de ensino,
legal das drogas, na comunicação social, na
como se fez com sociedade, para sensibilizar as
pessoas para que tomem a iniciativa
o tabaco e o álcool, de não ficarem dependentes de
é absolutamente qualquer produto que lhes retire a
liberdade de decisão. Aliás, o tabaco
necessário tem uma dependência fortíssima e
não é proibido, tem é alertas — e
esses alertas têm de ser feitos para
Importa muito todas as outras dependências.
mais prevenir Diz que as prisões só agudizam o
problema da criminalidade. Por
a prática de crimes que defende tão veementemente
do que restaurar a abolição das prisões?
Porque são ineÆcazes. São
os seus danos. ineÆcazes porque não previnem a
A aposta tem de prática de novos crimes, não fazem
o ressarcimento dos danos às
ser na prevenção vítimas e não promovem a
ressocialização do recluso. Se são
ineÆcazes, para que existem?
No 25 de Abril, Depois, custam muito dinheiro. O
havia 3000 presos orçamento que está em discussão
na Assembleia da República para
em Portugal, hoje 2021 prevê mais de 300 milhões de
temos 12 mil — euros para o sistema prisional.
Que poderiam ser aplicados na
como é que isto se justiça restaurativa e na
pode justiÄcar? prevenção?
Sociedade
Gosto mais de chamar justiça
preventiva, que inclui a justiça
restaurativa — é muito mais
importante prevenir a prática de
crimes do que restaurar os danos
dos crimes. A grande aposta tem de
ser na prevenção.
Qual o grau de realismo com que
isso poderia ser executado?
O caminho para a abolição das
prisões não é para amanhã; é um
caminho que tem de ser trilhado,
no sentido que se possa
proporcionar à sociedade um
sentimento de segurança de que a
prática de crimes irá diminuir
substancialmente, fruto da
política de prevenção e
sensibilização, no sentido de os
próprios cidadãos não terem
dentro deles estímulo ou
tendência para a prática de
crimes. É evidente que vão Æcar de
fora deste lote algumas pessoas.
Há pouco, falei de 80% de
reclusos ligados às drogas, restam
20%; nessa percentagem de 20%,
está uma quantidade signiÆcativa de
pessoas inimputáveis. Temos na
sociedade muitas pessoas em
estado psíquico desequilibrado.
Para estas pessoas, a prisão não é
solução e têm de ser tratadas em
estabelecimentos de saúde. Temos
cerca de 90% de reclusos, entre
drogas e inimputáveis, que estão lá
indevidamente porque é um
problema de saúde pública.
Na prática, como é que o
caminho da abolição seria feito?
A intervenção dos poderes públicos
é fundamental. Em Julho, Agosto e
Setembro, falei com a esmagadora
maioria dos partidos, com o
Governo e com o presidente da
Assembleia da República. Encontrei
receptividade em todos para
trilharmos este caminho que irá
melhorar muito o grau civilizacional
da vida em sociedade.
Compara esse caminho com o
que se fez em relação à
escravatura.
Há 200 anos, a escravatura estava
enraizada na sociedade. A luta pela
abolição da escravatura foi grande.
Levou a que houvesse uma
burguesia e uma grande quantidade
de pessoas a abdicarem de terem
trabalhadores não pagos. Não foi
fácil, passou por fases e ainda hoje
temos uma forma de escravatura
moderna. A pena de morte era um
espectáculo público. Retirar ao
povo o espectáculo de ver as
pessoas serem supliciadas na praça
pública não foi fácil. Temos de fazer
o mesmo para a abolição das
prisões.
Não sou apologista do regime
derrubado com o 25 de Abril. Mas,
nessa altura, havia três mil presos
em Portugal, hoje temos 12 mil —
como é que num regime
democrático se pode justiÆcar?
Houve um crescendo de um modelo
repressivo, de intolerância, que é
inaceitável.
18 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Local Conferência sobre mobilidade
Os dados sobre utilização de velocípedes não deixam dúvidas de que houve um aumento expressivo nestes tempos de pandemia
Com ou sem
Abel Coentrão
Antes da criação da ciclovia na Ave-
nida Almirante Reis, em Lisboa, o
restrições, a número de mulheres identiÆcadas
nas contagens de ciclistas que usa-
vam a rua andava nas duas por hora,
o que não chegava a 3% do total.
covid vai Actualmente, elas são cerca de 30, a
cada hora, em média, representando
27% do total de utilizadores de bici-
pedalar pela
cleta e um sinal inequívoco, para o
município, de que o investimento da
cidade em infra-estrutura e noutras
iniciativas de apoio à mobilidade em
Velo City 2021
duas rodas está a valer a pena, ao
aumentar a sensação de segurança.
A ciclodiversidade, uma das formas
de medir o impacto das políticas de
mobilidade e de gestão do espaço
público é precisamente a grande
palavra-chave da conferência mun-
dial Velo City 2021, que, ainda sob o
espectro da covid-19, se realizará em
Maior conferência mundial sobre a Junho, em Lisboa.
O novo coronavírus transferiu para
bicicleta e a sua utilização chega a a Internet muitas conferências e deba-
tes, mas do ponto de vista da mobili-
Portugal num ano que ainda se prevê dade ciclável, fez precisamente o
atípico, cavalgando uma vaga de contrário, ao trazer para a rua, diaria-
mente, bicicletas que andavam a
investimentos na mobilidade ciclável ganhar pó nas garagens ou que só
saíam para passeios dominicais. Mais,
entre vontade de pedalar por lazer no
momento em que foi permitido o des-
conÆnamento, ou necessidade abso-
luta de encontrar uma alternativa ao
transporte público, para regressar ao
trabalho, milhões de pessoas, em
todo o planeta, puseram a indústria
sem pernas para a subida vertiginosa
da procura nas lojas. Não foi apenas
em Portugal e, apesar do reajusta-
mento, ainda hoje, a espera por uma
bicicleta nova pode ser longa.
Os dados sobre utilização de velo-
cípedes não deixam dúvidas de que
este período estranho em que vive-
mos provocou, ou está a ser acompa-
nhado, de uma mudança de compor-
tamentos. Seja pela pesquisa de rotas
urbanas no Google, seja através dos
contadores instalados em ciclovias de
muitas cidades, o aumento é expres-
sivo. Em Portugal, a empresa Comp-
teur, que comercializa contadores,
contabilizou, com base nos registos
de seis concelhos, um crescimento de
25% entre Setembro de 2019 e Setem-
bro de 2020. A tendência é global, e,
em resposta, como o PÚBLICO já noti-
ciou, foram sendo anunciados
2300km de ciclovias temporárias,
por toda a Europa, metade das quais
MIGUEL MANSO
já foi instalada, segundo a monitori-
zação que vem sendo feita pela Euro-
pean Cyclists Federation (ECF).
Por tudo isto, no início de Junho, a
covid-19 vai marcar a conferência
que a ECF organiza com o município
de Lisboa, admitiu ao PÚBLICO Mor-
ten Kabell, o vice-presidente desta
organização. Que vem alertando
para a urgência de uma aposta estru-
tural na mobilidade ciclável, ou não
houvesse outra crise, a climática, a
vencer, nos anos que se seguem. Ain-
da na semana passada, durante um
debate que juntou o vice-presidente
da Comissão Europeia, Frans
Timmermans, e autarcas de várias
capitais europeias, entre eles o por-
tuguês Fernando Medina, a ECF lan-
çou, com a associação europeia de
fabricantes de bicicletas e compo-
nentes (CIE) um apelo: que os mem-
bros da UE aloquem, no total, dez mil
milhões de euros para investimento
nesta área nos respectivos Planos de
Recuperação e Resiliência.
No início do mês passado, a ECF foi
olhar para os planos nacionais de
Energia e Clima 2021-2030 dos 27 paí-
ses europeus, e, apesar de ter detec-
tado um aumento, generalizado, na
atenção e importância dada ao con-

Ciclodiversidade e outros temas
A
té ao próximo dia 20 de
Novembro, estão abertas
as inscrições para a
submissão de artigos para
a Velo City 2021, que tem como
tema genérico a
ciclodiversidade, mas se
organiza em torno de cinco
grandes áreas de debate.
Diversidade e
mobilidade urbana
Não há uma bicicleta, da mesma
forma que não há um utilizador
de bicicleta, mas pessoas com
necessidades distintas, que
podem ser satisfeitas com um
sistema de partilha de
velocípedes, bicicletas
convencionais ou eléctricas,
cargo-bikes, para a logística
urbana e familiar, bicicletas
dobráveis, triciclos e outros
modelos adaptados a idosos e
pessoas com dificuldades de
mobilidade, etc. A Velo City olha
para a diversidade de usos
possíveis como um desafio para
os decisores, que ainda têm de
gerir a entrada na cidade de
outras formas de
micromobilidade (como as
trotinetes), a mobilidade
pedonal, entre outras.
Economia e Turismo
A organização quer debater os
impactos económicos da
utilização da bicicleta na cidade,
em termos de turismo, logística
urbana — pessoal e empresarial
— num contexto de
transformação da cidade, em
que o teletrabalho aumentou
para níveis nunca vistos. E
perceber, por exemplo, o papel
da indústria de produção de
velocípedes no
desenvolvimento económico,
entre outras questões.
Redesenhar a cidade
e a política
O actual boom de utilização de
bicicleta traz à luz as
desigualdades na alocação do
espaço urbano entre os vários
modos de deslocação e exige a
melhoria da infra-estrutura
ciclável. Neste aspecto,
pretende-se discutir o tipo de
intervenções, formas de recolha
de dados e monitorização dos
usos do espaço que possam
encorajar o aumento da
mobilidade ciclável e o
redesenho da cidade em favor
da sustentabilidade da vida
urbana.
Comunidade
e co-criação
Qual o papel das comunidades
de activistas da bicicleta na
redefinição das políticas de
mobilidade e dos usos do
espaço público? Que
importância têm projectos que
levam as crianças à escola e
adultos ao trabalho em duas
rodas, que juntam pessoas a
praticar desporto e conhecer a
cidade, para esta
transformação? E pode ela
acontecer sem incluir mais
mulheres e sem se assumir
como um factor de igualdade
social e justiça espacial?
Saúde e resiliência
climática
Metidos numa crise
pandémica que provocou a
maior redução de emissões
de gases com efeito de estufa
da história recente, fomos
confrontados com ambientes
urbanos despoluídos e uma
noção, mais clara, do
impacto e da
insustentabilidade do nosso
modelo dominante de
mobilidade na saúde, no
ambiente, no acesso ao
espaço e na segurança de
circulação. E no meio disto,
em muitas cidades,
passou-se a acreditar que a
bicicleta é uma das chaves
para resolver alguns destes
problemas.
tributo potencial da mobilidade ciclá-
vel para a redução de emissões de
gases com efeito de estufa, em com-
paração com versões preliminares
destes documentos, continua a con-
siderar que este subsector da mobili-
dade está sub-representado nas pro-
postas até agora conhecidas.
Para alcançar o objectivo da neu-
tralidade carbónica em 2050, as
emissões do sector dos transportes
têm de ser reduzidas em 90% com-
parando com 1990, recorda a ECF.
“Não há outra maneira exequível de
a UE atingir essa neutralidade de
emissões sem uma grande mudança
em direcção a uma maior aposta no
uso da bicicleta”, escreve esta orga-
nização, assinalando que um redirec-
cionamento dos investimentos para
o modo ciclável “poderia cortar as
emissões de CO2 do transporte urba-
no em quase 7% em 2030”.
É neste enquadramento que a Velo
City chegará a Lisboa, sob o lema da
Ciclodiversidade. Gente de meio
mundo, se nada o impedir, aterrará
na capital com vontade de discutir as
transformações urbanas que, da
Colômbia aos EUA, aqui perto na
União Europeia, ou na longínqua Aus-
trália, e em muitos outros países,
estão a ocorrer à boleia deste meio de
transporte. Que, apesar da inovação
tecnológica, segue, no geral, o mes-
mo princípio e desenho das chama-
das safety bikes, já com pneus de bor-
racha que se vulgarizaram na última
década do século XIX.
Tanto ou mais que os países, são as
cidades que parecem liderar esta cor-
rida à mobilidade ciclável. Quando
lhe pedimos que dê um exemplo,
para lá dos incontornáveis holande-
ses e dinamarqueses, que estão qui-
lómetros à frente, a Morten Kabell
ocorre-lhe Bogotá — “ter 10% de des-
locações em bicicleta, naquela cidade
é espantoso”, sorri — e Paris. Graças
ao ímpeto da autarca Anne Hidalgo,
a capital francesa acelerou, durante
a pandemia, a sua ambição de garan-
tir uma infra-estrutura ciclável segu-
ra, como parte de uma estratégia mais
lata, o Bairro do Quarto de Hora, que
pretende minimizar o uso do automó-
vel, ao garantir que boa parte da
população tem acesso, a pé, de bici-
cleta, ou de transporte público, aos
serviços de que precisa.
Sabendo o quanto dependemos,
ainda, do automóvel, muitos vatici-
naram que a estratégia a derrotaria,
nas eleições autárquicas deste ano.
Mas não só isso não aconteceu como
a pandemia, ao pôr, lá como cá, a
população a salivar por uma oportu-
nidade de usufruir da rua, acabou por
encher muitas dessas vias cicláveis
com novos utilizadores. Paris, tal,
como num certo sentido, Lisboa, à
escala portuguesa, mostram que, se
é possível mexer com hábitos enrai-
zados em locais difíceis, mais fácil se
tornaria alterar uma mobilidade ain-
da assente no transporte motorizado
individual noutros espaços urbanos
de menor complexidade.
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 19
Investimento
Associações querem
o país a pedalar lado
a lado com Lisboa
Abel Coentrão
Ao longo da nossa história, houve
sempre quem dissesse que, no plano
da atenção e investimento do Estado,
o país era Lisboa, e o resto era paisa-
gem, mas no caso da mobilidade
ciclável, a capital não está a sugar
recursos que poderiam ser distribuí-
dos pelo território nacional, mas a
direccionar uma parte das suas recei-
tas para investir na transformação da
cidade, roubando protagonismo ao
automóvel, reforçando a oferta de
transporte público e, em paralelo,
recuperando espaço para o peão e
para a bicicleta.
O nível de investimento realizado por
Lisboa para apoio à aquisição de bici-
cletas — que vai ser prolongado no
tempo — tem sido superior aos apoios
disponibilizados pelo próprio Gover-
no para todo o país. O vereador da
mobilidade, Miguel Gaspar, elogia,
ainda assim, o empenho do executivo
liderado por um ex-autarca, António
Costa, que desenvolveu, no Ministé-
rio do Ambiente, um conjunto de
políticas que favorecem uma altera-
ção no padrão de mobilidade das
principais zonas urbanas do país.
Insiste, tal como já o Æzera o ministro
Matos Fernandes, ao PÚBLICO, que
cabe aos autarcas marcar o ritmo da
mudança. E Lisboa, mais do que nos
valores de investimento, quer, assu-
me, liderar pelo exemplo.
Num momento em que se discute o
Orçamento de Estado para 2021, par-
tidos como Os Verdes e as associações
no terreno pedem que o Estado ace-
lere a concretização da Estratégia
Nacional para a Mobilidade Activa
Ciclável e não se Æque pelo apoio à
construção de ciclovias interconce-
lhias e à aquisição de velocípedes —
Autarquias são incentivadas a criar ciclovias
que tem tido um sucesso maior no
caso das biclas eléctricas, dado o seu
custo. Esta sexta-feira, a Federação
Portuguesa de Cicloturismo anunciou
ter entregado aos partidos um con-
junto de 18 medidas que poderiam
ajudar Portugal a chegar bem mais
cedo que 2030 ao objectivo de ter 7%
das deslocações em duas rodas, e
uma das mais relevantes é a criação
de incentivos Ænanceiros para quem
opte por este modo de transporte.
A FPCUB, uma das parceiras da orga-
nização da Velo City de 2021, propôs
que o OE do próximo ano preveja um
prémio de 24 cêntimos por quilóme-
tro pedalado para quem se desloque
para o trabalho de bicicleta. Tal como
noutros países, a federação admite
que exista um tecto para este incen-
tivo, que poderia andar nos 600 euros
por ano e por pessoa. Também a
MUBI, outra associação envolvida no
congresso, e a Zero propuseram, num
comunicado conjunto, que o Governo
avance, “o mais brevemente possí-
vel”, com um programa deste tipo,
para além de pedirem, como a
FPCUB, um reforço das verbas para
aquisição de bicicletas convencionais,
eléctricas e cargo-bikes.
No Parlamento, há várias propostas
de alteração, na especialidade, ao OE
aprovado na generalidade. Uma
delas, de Joacine Katar Moreira,
defende, precisamente, a criação de
um regime de incentivos. Em linha
com o que as associações vêm recla-
mando, Os Verdes querem que as
despesas de reparação de bicicletas
sejam dedutíveis no IRS e que o IVA,
na aquisição de velocípedes, desça de
23% para 13%. Na Europa, discute-se
a eventualidade de o IVA passar para
zero, como forma de puxar ainda
mais pela mobilidade ciclável.
NUNO FERREIRA SANTOS
20 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Economia Orçamento do Estado para 2021
Pandemia
reforça poder
das Finanças
sobre o OE
OE 2021 aumenta o volume de despesas
que tem de passar pelo crivo do ministro
das Finanças para serem executadas
Sérgio Aníbal
Num momento em que as Ænanças
públicas são chamadas a dar uma
ajuda excepcional à economia, mas
em que subsiste no Governo o receio
de deixar ir longe demais o valor da
dívida, o Ministério das Finanças
parece decidido a chamar para si pró-
prio o controlo directo de uma parte
maior das despesas.
Na proposta de Orçamento do Esta-
do para 2021, que entra esta segunda-
-feira na última semana de debate e
votações na Assembleia da República,
o valor das dotações orçamentais sob
controlo das Finanças — que incluem
rubricas como a dotação provisional,
a reserva orçamental ou as cativações
— pode atingir, assim que seja oÆcial-
mente conhecido o valor das cativa-
ções, um novo máximo, num sinal de
que João Leão quer assegurar que
tem a capacidade para, num cenário
de grande incerteza, adaptar a evolu-
ção das contas públicas à realidade
que vier a encontrar.
Seja nas cativações, seja em rubri-
cas como a dotação provisional, a
reserva orçamental ou as dotações
centralizadas para Æns especíÆcos, a
última palavra antes da concretização
da despesa cabe ao ministro das
Finanças. Ao contrário de outras des-
pesas, que Æcam a cargo dos ministé-
rios onde foram orçamentadas, aqui,
o titular da pasta das Finanças tem de
dar a sua autorização prévia.
É uma centralização do poder em
relação a uma parte da despesa que
tem, ao longo dos anos, ajudado os
governos a travarem derrapagens
indesejadas nas contas públicas e a
atingirem metas orçamentais.
Nos primeiro anos da anterior legis-
latura, numa altura em que Portugal
tentava ganhar credibilidade junto
dos mercados e de Bruxelas, Mário
Centeno, com o contributo do então
secretário de Estado do Orçamento
João Leão, aumentou em particular o
volume das cativações. Em 2017, estas
atingiram os 1474 milhões de euros, o
que, somado às dotações provisio-
nais, reserva orçamental e dotações
para Æns especíÆcos, colocou o total
das dotações sob controlo das Finan-
ças nos 2946 milhões de euros.
Em 2018, quando as cativações se
tornaram o objecto preferido das crí-
ticas dos partidos da oposição, o
Governo reduziu-as para 1069
milhões, mas o total das dotações sob
controlo das Finanças até aumentou,
atingindo um máximo de 3002
milhões, um valor correspondente a
3,3% da despesa efectiva total das
Administrações Públicas.
Em 2019, com as Ænanças públicas
numa situação mais confortável, a
centralização da tomada de decisão
esbateu-se. Mas, agora, a pandemia
voltou a inverter a tendência.
Em 2020, depois de um orçamento
inicial em que as despesas sob con-
trolo das Finanças voltavam a dimi-
nuir, o executivo reforçou-as no orça-
mento suplementar, principalmente
por via de um aumento da dotação Dotações orçamentais iniciais sob controlo das Finanças “Nesta fase, tem de haver uma
provisional (uma rubrica do orça- Em milhões de euros grande coordenação entre as
mento destinada a fazer face a despe- Finanças e o Ministério da
Dotação provisional Cativações
sas não previstas) de 330 para 630 Economia”, defende Paulo Trigo
milhões de euros. E não se sabe ainda Reserva orçamental Dotações centralizadas para fins específicos Pereira
se as cativações se Æcarão pelos 572 3500
milhões previstos no OE 2020 porque
o Governo ainda não publicou o 3000 para já o total das dotações orçamen-
decreto-lei de execução orçamental 500 tais sob controlo do Ministério das
onde normalmente se acrescentam 2500 Finanças ascende a 2455 milhões de
novas cativações, num valor aproxi- 515 euros, sem contar com as cativações,
mado de 400 milhões de euros. 2000 para as quais o Governo ainda não
Para 2021, de acordo com a análise apresentou um valor.
1500 572*
ao OE 2021 publicada esta quinta-fei- Se se assumir que elas são iguais às
ra pelo Unidade Técnica de Apoio do OE inicial de 2020 (o que está esta-
1000
Orçamental (UTAO), as despesas cuja belecido na lei do OE 2021 é exacta-
gestão Æca centralizada nas Finanças mente igual ao OE 2020), as dotações
500
aumentam consideravelmente. centralizadas chegariam a 3027
Isso acontece porque algumas das 1440 milhões de euros, um valor que
0
medidas excepcionais adoptadas em supera o anterior máximo de 3002
resposta à pandemia Æcam classiÆca- 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 milhões de euros registado em 2018.
*Para as cativações em 2021 foi assumido um valor igual ao do orçamento
das nas dotações centralizadas para Ainda assim, em percentagem da des-
inicial do ano anterior
Æns especíÆcos. É o caso dos 200 pesa efectiva, o valor de 2021 seria de
Fonte: UTAO, PÚBLICO
milhões de euros destinados ao pro- 2,7%, um pouco menos que o de
grama “IVAucher”, com que o Gover- 2018.
no pretende apoiar os sectores do espécie de almofada, a cargo das euros, mais 472 milhões do que no
turismo e da restauração. E, para Finanças, para o combate à crise. ano passado. Vantagens e desvantagens
além disso, o Governo reserva tam- Isto ajuda a que, só em dotações Junta-se os 500 milhões de euros Algumas entidades como a UTAO
bém 500 milhões de euros para des- centralizadas para Æns especíÆcos, o inscritos na dotação provisional e os têm, nas análises que fazem aos orça-
pesas imprevistas da pandemia, uma OE tenha previstos 1440 milhões de 515 milhões da reserva orçamental e mentos, assinalado a tendência para
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 21

DANIEL ROCHA

Coronavírus
Estados limitaram queda dos
rendimentos no segundo trimestre
Sérgio Aníbal
Nos meses em que, no início da pan-
demia e das medidas de conÆnamen-
to, a actividade económica mais caiu
a pique, os rendimentos das famílias
começaram também a ressentir-se.
Mas, ainda assim, revelaram na gene-
ralidade dos países avançados,
incluindo Portugal, um comporta-
mento menos negativo do que o PIB,
um resultado que é explicado pelas
medidas mitigadoras postas em prá-
tica pelos Estados.
Os dados apresentados pela Orga-
nização para a Cooperação e Desen-
volvimento Económico (OCDE) na
passada quinta-feira para 20 dos
seus Estados-membros revelam bem
de aumento do desemprego, se regis-
tasse no total um aumento do rendi-
mento disponível das famílias. Nos
EUA, ao mesmo tempo que o PIB per
capita caiu 9,1% em termos homólo-
gos, o rendimento disponível per
capita aumentou 10,1%.
O caso português
Noutros países, nomeadamente na
Europa, as opções de medidas foram
outras, na maior parte dos casos com
apoios ao estilo do layoff simpliÆcado
aplicado por Portugal, em que os
trabalhadores que viram a sua
empresa parar continuaram a rece-
ber, com o apoio do Estado, parte do
seu salário. Assim, apesar de ter per-
mitido que a queda fosse menor que
a queda do PIB, não se conseguiu
evitar uma descida do rendimento
disponível.
Portugal é um desses exemplos: o
PIB per capita caiu 13,9% em termos
homólogos no segundo trimestre e
o rendimento disponível per capita
diminuiu 3%.
Portugal foi, entre os países anali-
sados, um dos que registou uma
diferença mais acentuada entre os
dois indicadores, o que revela que os
apoios do Estado, embora não impe-
dindo uma quebra do rendimento
disponível das famílias, produziram
ainda assim um efeito mitigador
signiÆcativo.
No terceiro trimestre, pode vir a

uma centralização da gestão orça-
mental. Na análise feita à proposta
de OE para 2021, os técnicos do Par-
lamento alertam ainda para a exis-
tência de outros instrumentos, clas-
siÆcados como “não convencionais”
que também dão ao Ministério das
Finanças um poder acrescido.
O OE, diz a UTAO, “dá ao ministro
das Finanças o poder discricionário
de impedir a aquisição de serviços
nos casos em que a Assembleia da
República tenha previamente apro-
vado o Ænanciamento necessário
para tal execução” e estabelece res-
trições adicionais à utilização de
dotações aprovadas para serviços
como estudo, pareceres ou consul-
toria.
Em relação a estes instrumentos,
é sugerido ao Parlamento “uma reÇe-
xão sobre a manutenção na propos-
ta de lei de disposições extremamen-
te intrusivas na gestão corrente das
unidades orgânicas da Administra-
ção Central e da Segurança Social”.
Paulo Trigo Pereira, economista
especialista em Ænanças públicas e
ex-deputado eleito pelo PS, assinala
que, nesta questão, há teoricamen-
te vantagens e desvantagens num
modelo de gestão orçamental mais
centralizado. “A principal vantagem
é o maior controlo orçamental, a
desvantagem é uma menor autono-
mia e alguma ineÆciência na aplica-
ção dos recursos”, aÆrma. “Em
tempos normais, sou favorável a um
modelo mais descentralizado, cami-
nhar para aí é o caminho correcto.
Mas em tempos excepcionais,
defendo o modelo mais centraliza-
do”, diz o economista, assinalando
que, no caso actual, o país tem de
ter presente que, provavelmente a
partir de 2022, terá de voltar a cum-
prir as regras orçamentais europeias
e que, por isso, “é preciso algum
controlo”.
Ainda assim, Paulo Trigo Pereira
alerta: “Nesta fase, tem de haver uma
grande coordenação entre as Finan-
ças e o Ministério da Economia, por-
que em princípio a Economia está
mais a par das necessidades da eco-
nomia e deve estar a monitorizar
sectorialmente o que está a aconte-
cer no país. As Finanças sabem pou-
co o que está a acontecer no país”,
aÆrma.
-3%
a diferença que, no arranque desta assistir-se a uma evolução bem dife-
crise, é possível observar em dois rente destes indicadores. Com o PIB
indicadores normalmente sincroni- per capita a recuperar parte do ter-
zados. reno perdido, a evolução do rendi-
Ao mesmo tempo que o PIB per mento disponível pode ser agora
capita (que mede a produção reali- No segundo trimestre, o PIB per menos favorável, à medida que o
zada na economia por habitante) capita caiu 13,9% em termos desemprego cresce e os apoios do
registou, durante o segundo trimes- homólogos em Portugal, e o Estado diminuem.
tre, uma queda recorde, o rendimen- rendimento disponível per Por exemplo, nos EUA, já não se
to disponível per capita desceu de capita diminuiu 3% irá sentir o efeito da transferência de
forma bem mais moderada na gene- dinheiro feita para as famílias.
ralidade dos países e em alguns casos BRYAN WOOLSTON/REUTERS
até continuou a subir.
Na OCDE, em média, o PIB per capi-
ta caiu em termos homólogos 10,6%.
Mas, ao mesmo tempo, o rendimento
per capita das pessoas até subiu 5,3%.
A explicação, diz a própria OCDE na
nota em que divulga os dados, está
nas medidas de apoio anticovid adop-
tadas pelos governos.
Neste capítulo, dois países desta-
cam-se: o Canadá e os EUA, este últi-
mo inÇuenciando de forma muito
signiÆcativa o resultado registado no
total dos países da OCDE. Nestes dois
casos, a opção dos governos foi,
durante o segundo trimestre do ano,
realizar uma transferência única de
dinheiro para as famílias, algo que
conduziu a que, mesmo num cenário Apoios elevaram rendimentos nos EUA, mesmo com o desemprego
Rendimento cai menos que o PIB
Variação homóloga no 2.º trimestre de 2020, em %
PIB per capita Rendimento disponível per capita
15
10
5 5,3
0
-5
-3,0
-10
-15 -10,6
-13,9
-20
Rei. Esp. Por. Fra. Chil. Itá. Áus. Bél. Can. OCDE Esl.* Ale. EUA Rep. Paí. Sué. Aus.** Din. Irl. Nor. Fin.
Unido Che. Baix.
*Eslovénia **Austrália
Fonte: OCDE PÚBLICO
22 • Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020

ANÚNCIO M/F Universidade do Minho

Serviço de Recursos Humanos

Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a contratação de

um Técnico Superior, na modalidade de Contrato de Trabalho a Termo Resolutivo Incerto,
ao abrigo do Código do Trabalho, para Instituto de Polímeros e Compósitos, da Escola de Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto
Engenharia, sob Ref.ª CTTI- 54/20-IPC(1).
processo de recrutamento de pessoal em regime de con- processo de recrutamento de pessoal em regime de con-
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir Licenciatura em Economia, e Mestrado em Economia Industrial ou áreas afins. trato de trabalho por tempo indeterminado para a Divisão trato de trabalho por tempo indeterminado para a Divisão
Formação complementar comprovada em análise de projetos de investimento, e experiência de Informática – Núcleo Sistemas e Informação da Reito- de Informática – Núcleo Comunicações e Sistemas da
profissional relevante e comprovada em Instituições Públicas.
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 17/11/2020 a 23/11/2020. ria da Universidade Nova de Lisboa para: Reitoria da Universidade Nova de Lisboa para:
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em • 1 vaga de especialista de informática (m/f), referência
https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
• 1 vaga de especialista de informática (m/f), referência
O Administrador, Prof. Doutor Carlos Alberto Menezes CT-34/2020-Especialista Informática-DI-NSI, ao qual CT-33/2020-Especialista Informática-DI-NCS, ao qual
podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as
condições fixadas no aviso disponível no endereço: condições fixadas no aviso disponível no endereço:
http://www.unl.pt/nova/nao-docentes http://www.unl.pt/nova/nao-docentes

O prazo para submissão das candidaturas decorre no O prazo para submissão das candidaturas decorre no
período de 16 a 23 de novembro de 2020. período de 16 a 23 de novembro de 2020.
Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto
processo de recrutamento de pessoal em regime de contrato
de trabalho a termo resolutivo certo para a Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para:
CONSELHO DIRETIVO CONSELHO DIRETIVO

• 1 vaga de Especialista de Informática (m/f), referência: AVISO AVISO

Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação
CT/ND-009/2020-DII;
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
ao qual podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexerce a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
condições fixadas no aviso disponível no endereço: ycom fins lucrativos;
ynão estando licenciado;
https://www.fct.unl.pt/faculdade/concursos/nao-docentes y
y
funciona sob a propriedade de Maria do Carmo Soares Gomes;
está instalado em Rua José Ernesto Sousa, n.º 20, Quinta do Chiado, 2810-319 Almada.
Porque ordenamos o encerramento do estabelecimento
O prazo-limite para submissão das candidaturas é de 6 dias O Instituto da Segurança Social, EP ordenou o encerramento, através da Deliberação n.º 207/2020,
de 2020-11-05, porque o estabelecimento estava em atividade com deficiências graves nas
úteis a contar da data da publicação do presente anúncio. condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e conforto, representando
um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qalidade de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Local e prazo de afixação do aviso
Associação de Jardins-Escolas Este aviso deve estar afixado durante 30 dias na entrada principal do estabelecimento.
Consequência da não afixação do aviso
João de Deus Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou
coação sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE O Presidente - Rui Fiolhais
Encerramento administrativo imediato e urgente
O Instituto da Segurança Social confirmou o encerramento administrativo imediato e urgente de um
estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexerce a atividade de ERPI;
com fins lucrativos;
y
ynão estando licenciado;
yfunciona sob a propriedade de Paula Cristina Valongo Jorge;
yestá instalado na Calçada dos Moinhos (junto ao tabuleiro da A5), em Queijas, 2790-451 Queijas.
Porque ordenamos o encerramento do estabelecimento
O Instituto da Segurança Social, confirmou através da Deliberação n.º 206/2020, de 5 de novembro
de 2020, o ato de encerramento da Autoridade de Saúde, da Unidade de Saúde Pública do
Agrupamento de Centros de Saúde de Lisboa Ocidental e Oeiras, nos termos do seu Relatório de
Visita de 04/09/2020, porque o estabelecimento estava em atividade com deficiências graves nas
condições de instalação, funcionamento, salubridade e segurança, representando um perigo atual e
iminente para os direitos dos utentes e a sua qalidade de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Local e prazo de afixação do aviso
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias na entrada principal do estabelecimento.
Consequência da não afixação do aviso
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou
coação sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Rui Fiolhais - Presidente

ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

Convidamos os Senhores Associados da Associação Jardins-Escolas
CONSELHO DIRETIVO
João de Deus para se reunirem em Assembleia Geral Ordinária na AVISO AVISO
sede social no Museu João de Deus e com recurso à plataforma ZOOM,
no próximo dia 30 de novembro do corrente ano, pelas 15H30, a fim de Técnico(a) Superior do Serviço Social Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação
deliberarem sobre a seguinte ordem de trabalhos: /Recrutamento (M/F) O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
1º - Leitura e aprovação da ata da Assembleia Geral anterior; (extrato) yexerce a atividade de Lar de idosos (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) e Centro de Dia;
2º - Apreciação e Votação da Previsão Orçamental e Plano de ycom fins lucrativos;
Torna-se público que, por deliberação do Conselho de Administração de ynão estando licenciado;
Atividades para o Exercício de 2021; 29 de outubro de 2020, se encontra aberto, pelo prazo de 2 dias úteis, yfunciona sob a propriedade de Delirecordações - Alojamento Local, Unipessoal, Lda.;
3º - Informações de interesse para a Associação; yestá instalado em Rua de S. Silvestre, n.º 57, 2350-348 Riachos.
a contar da data de publicitação do presente extrato, o procedimento
Porque ordenamos o encerramento do estabelecimento
4º - Diversos. concursal com vista ao recrutamento e seleção de 1 Técnico(a) Supe- O Instituto da Segurança Social, EP ordenou o encerramento, através da Deliberação n.º 210/2020,
rior do Serviço Social para celebração de Contrato Individual de Traba- de 2020-11-05, porque o estabelecimento estava em atividade com deficiências graves nas condições
Não comparecendo à hora marcada o número legal de sócios, a lho a Termo Resolutivo Certo por quatro meses para fazer face à COVID-19 de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e conforto, representando um perigo
Assembleia funcionará às 16 horas com o número de sócios presentes. (Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro e Despacho n.º 9719/2020, de 8/10). potencial para os direitos dos utentes e a sua qalidade de vida.
Os requisitos, gerais e especiais e o perfil de competências exigido, a com- Consequências do incumprimento da deliberação
Encontram-se à disposição dos senhores associados na sede social Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
os documentos exigidos no ponto 6. do Artigo 60º, do Decreto-Lei posição do júri, os métodos e critérios de seleção e outras informações de responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
nº172/A/2014, de 14 de novembro. interesse para apresentação das candidaturas e para o desenvolvimen- Local e prazo de afixação do aviso
to do procedimento concursal em apreço, constam da publicitação inte- Este aviso deve estar afixado durante 30 dias na entrada principal do estabelecimento.
Lisboa, 12 de novembro de 2020 gral do aviso de abertura, inserto na página eletrónica do Centro Hospita- Consequência da não afixação do aviso
O Presidente da Assembleia lar da Póvoa de Varzim/Vila do Conde, EPE, in www.chpvvc.min-saude.pt Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou coação
sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será sujeito a
Eng. Júlio Moraes Sarmento de Barros O Presidente do Conselho de Administração procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Av. Álvares Cabral, 69 • 1250-017 LISBOA • Telef.: 213 960 854 • Fax.: 213 964 182 • email: associacao@escolasjoaodeus.pt • www-joaodeus.pt Dr. José Gaspar Pinto de Andrade Pais O Presidente - Rui Fiolhais

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Departamento
de Defesa pode
ter uma mulher
a cheƊá-lo
Joe Biden está a ponderar escolher
Michèle Flournoy, de 59 anos, para pôr
à frente do aparelho militar dos EUA
Ana Gomes Ferreira
O Presidente eleito dos Estados Uni-
dos Joe Biden, que os analistas dizem
estar a preparar um gabinete inclusi-
vo, pode fazer história e nomear uma
mulher para cheÆar o Departamento
de Defesa. O nome apontado como
provável para o lugar pela imprensa
americana é o de Michèle Flournoy,
que fez carreira no Pentágono.
Considerada uma moderada, mas
defensora de uma forte cooperação
militar internacional, Michèle Flour-
noy, de 59 anos, já teve vários cargos
no Pentágono desde 1990, foi conse-
lheira de Bill Clinton e subsecretária
da Defesa entre 2009 e 2012, quando
Barack Obama era Presidente.
Segundo o The Washington Post,
Flournoy esteve também na adminis-
tração da Booz Allen Hamilton, uma
empresa do sector da defesa, o que
pode criar alguns obstáculos à sua
conÆrmação no Congresso, caso seja
nomeada. Mas, prossegue o jornal, as
suas posições moderadas deverão
garantir apoio nos dois lados do
espectro político (democrata e repu-
blicano) do Senado.
Desde que Biden, o candidato do
Partido Democrata, venceu as elei-
ções presidenciais de 3 de Novem-
bro, que outros nomes têm sido
falados para o lugar, como o do Jeh
Johnson, que foi secretário do Inte-
rior de Obama. Mas os analistas
salientam que, perante a promessa
de Biden em constituir um gabinete
governativo inclusivo, tudo aponta
para que pela primeira na História
dos EUA seja uma mulher a assumir
a Defesa.
O próximo secretário da Defesa
enfrenta dois desaÆos imediatos: gerir
a participação do aparelho militar na
frente interna no combate ao corona-
vírus — o The Guardian diz que podem
ser chamados para a operação de dis-
tribuir a vacina, quando esta estiver
disponível —, e ajudar a reconstruir a
reputação internacional dos Estados
Unidos, abalada com a fuga do multi-
lateralismo da Administração Trump,
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 23
Eleições EUA 2020 Mundo
KEVIN LAMARQUE/REUTERS
que chegou a considerar retirar os
EUA da NATO.
“Seja quem for o próximo Presi-
dente — disse Michèle Flournoy em
Março, num fórum do think tank Hud-
son Institute, citada pelo LA Times —
um dos itens no topo da agenda vai
ser tentar mudar a percepção” de que
os EUA já não são um aliado conÆável.
Acautelou, porém, que não se devem
fazer mudanças drásticas nem vai
acontecer de um momento para o
outro: “Penso que não vai ser fácil
nem acontecer da noite para o dia.
Recuperar a conÆança vai dar muito
trabalho e demorar anos. (...) E uma
das tendências mais perigosas, sobre-
tudo quando há mudança de partido
[na Presidência] é assumir que tudo
o que o antecessor fez está errado”.
Nas entrevistas ou palestras que
deu nos últimos anos, sabe-se que
Flournoy considera a China o maior
desaÆo dos EUA nos próximos anos.
E, perante os cortes no orçamento do
Pentágono, assumiu o que o país cor-
re o risco de perder para Pequim a
vantagem tecnológica que teve duran-
te décadas. Por outro lado, apoiou a
decisão de Trump em limitar a pre-
sença de tropas americanas no Afega-
nistão e disse, citada ainda pelo LA
Times, que os EUA devem envolver-se
mais no combate ao terrorismo nesta Joe Biden num passeio de ções para a sua conÆrmação no Con- ministérios). Mas terá também que
região do mundo e menos nos assun- bicicleta e, em baixo, Michèle gresso devido a acusações de violên- responder à ala progressista do Par-
tos internos dos países. Flournoy, que pode tornar-se na cia doméstica. tido Democrata, que deseja um gover-
Seja ou não Flournoy a escolhida, primeira mulher a chefiar o Mattis, Esper e Miller têm experiên- no inclusivo, mas menos moderado
o próximo secretário da Defesa tem aparelho militar dos EUA cia militar, Flournoy não. para tentar fazer avançar programas
também que apaziguar toda a estru- Esper foi afastado por não concor- em algumas áreas.
tura militar, que viveu um período dar com o Presidente Trump sobre o Outra mulher, Susan Rice, que foi
conturbado durante toda a Adminis- envio de tropas para travar os protes- conselheira de Segurança Nacional e
tração Trump e não só devido do aos tos que eclodiram em todo o país após embaixadora dos EUA na ONU duran-
cortes orçamentais. Trump teve e cinco a morte do afro-americano George te a Administração Obama, é de
secretários da Defesa em quatro o anos: Floyd às mãos de um polícia. momento o nome mais falado para
Jim Mattis, Patrick Shanahan (interi- Biden enfrenta outros desaÆos na ocupar o Departamento de Estado
no) e Mark Esper que foi despedido
pedido tarefa de escolher o seu gabinete. (negócios estrangeiros).
neste mês de Novembro já depois ois das Perante um país partido ao meio Biden ainda não conÆrmou qual-
presidenciais e substituído interina-
terina- (78,659 milhões de votos para Biden, quer nome do futuro governo dos
mente por Christopher Miller. Esper 71,105 milhões para o Presidente EUA — anunciou apenas que Ron
está duas vezes nesta contabili- li- Donald Trump), e depois da promes- Klain será o seu chefe de gabinete na
dade, pois já tinha sido interinoo sa de “não ser um Presidente que Casa Branca. No sábado, foi abordado
uma vez, quando Shanahan n divide, mas um que une”, tenderia a por jornalistas quando dava um pas-
teve que se retirar da corrida ao
o escolher moderados, como Flournoy, seio de bicicleta e disse: a equipa está
lugar já durante a fase de audi-di- para as secretarias (equivalentes a quase fechada.
24 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Mundo Eleições EUA 2020
Doug, o advogado
de sucesso que
largou a carreira
para apoiar Kamala
Pela primeira vez na sua História, os EUA vão testemunhar
uma inversão nos papéis de género no topo do Governo. Doug
Emhoæ, marido da vice-presidente, vai dedicar-se à função
oÄciosa de “segundo-cavalheiro”. Jill Biden, mulher do
Presidente, vai continuar a dar aulas de Inglês na universidade
Alexandre Martins
A
oportunidade falhada por
Hillary Clinton, há quatro
anos, para quebrar a bar-
reira invisível que continua
a existir entre as mulheres
e o topo da Casa Branca,
foi compensada, há duas semanas,
com uma avalancha de primeiras
vezes na eleição da dupla Joe Biden
e Kamala Harris como Presidente e
vice-presidente dos EUA.
Harris tem sido o centro das aten-
ções, por ser a primeira mulher e a
primeira descendente de negros e
de indianos a assumir a vice-presi-
dência dos EUA. Mas também há
quem esteja atento ao que vai fazer
o marido de Harris nos próximos
quatro anos.
A partir de 20 de Janeiro de 2021,
ug
de
Doug Emhoè, de 56 anos, será o pri-
meiro “segundo-cavalheiro” em 231
anos de história eleitoral no país, e o
primeiro cônjuge judeu de um Presi-
dente ou vice-presidente dos EUA.
Na quarta-feira, Emhoè anunciou
que vai abandonar a empresa de
advogados onde trabalha para se
dedicar em exclusivo a apoiar a car-
reira política da sua mulher — e para
incentivar outros homens a fazerem
o mesmo.
Foi isso que o marido da vice-pre-
sidente eleita dos EUA disse a Atticus,
uma criança de nove anos que lhe
perguntou, um dia antes da eleição,
qual seria a reacção dele se a sua
mulher fosse eleita. “Bem, em pri-
meiro lugar, vou dizer Yay”, respon-
deu Emhoè, num vídeo gravado pelo
site Fatherly. “A seguir, vou continuar
a fazer o que faço sempre. Vou apoiá-
KEVIN LAMARQUE/REUTERS
-la, porque é muito importantente que
os homens, e também os meninos eninos
pequenos, apoiem as mulheress fortes
e maravilhosas que têm na sua ua vida.
É isso que eu vou fazer, e espero
ero que
tu também o faças, Atticus.”
“Casado com uma política” ”
Doug Emhoè conheceu Kamala la Har-
ris em 2013, num encontro arranja-
ranja-
do por uma das melhores amigasmigas
da então procuradora-gerall do
estado da Califórnia. Ele estavaava
separado há pouco tempo e tinha ha
dois Ælhos adolescentes; e ela la
andava ocupada de mais com m
processos e acusações.
(Os primeiros encontros pre-re-
parados por amigos e familiares ares
são uma característica comum um na
dupla que vai governar os EUA UA nos
ambém
próximos quatro anos. Foi também
dessa forma que Joe Biden e Jilll Jacobs
se conheceram, em 1975, quando ndo Jill
estava no meio de um divórcio io e Joe
ainda recuperava da morte da pri-
meira mulher, Neilia Hunter, r, e da Doug Emhoff
Ælha Naomi, com um ano de idade.)
dade.) conheceu a
Kamala Harris e Doug Emhoèmhoè è já mulher num
tinham carreiras de sucesso quando encontro às
se conheceram — ele como directorirector cegas
numa das maiores empresas dee advo- organizado pela
gados dos EUA, a Venable, e depois melhor amiga de
como sócio numa das maiores res do Kamala Harris.
m-se em
mundo, a DLA Piper. Casaram-se
2014, ainda antes de a carreiraa políti- Jill Biden
ca da vice-presidente eleita dosos EUA também
dade.
ter arrancado a toda a velocidade. conheceu o
A oportunidade de Harris surgiu marido num
em 2015, quando a senadora Barbara encontro
Boxer, da Califórnia, fez um anúncio
núncio arranjado
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 25

tam a lentidão com que as distâncias

entre homens e mulheres na política
Casa Branca
dos EUA têm sido encurtadas. Só em
1992 foram abertas casas de banho Jill Biden chega a primeira-dama
para mulheres na câmara do Sena-

É muito importante
imp
do; e só a partir de 1993, após um
protesto de duas senadoras, é que o
dos EUA para modernizar a função
Senado autorizou as mulheres a usa-
homens,
que os hom rem calças.
CARLOS BARRIA/REUTERS

e também oos meninos “Há décadas que estamos à espera

desde tipo de troca de papéis de
António Saraiva Lima

pequenos, aapoiem as

A
género”, disse Kim Nalder, professo- no novo, vida nova — mas,
ra de Ciência Política na Universida- em parte, sozinha. É desta
mulheres fofortes de do Estado da Califórnia em Sacra-
mento, à Associated Press. “Há mui-
forma que a futura primei-
ra-dama dos Estados Uni-
e maravilho
maravilhosas que to simbolismo num homem que dá dos, Jill Biden, encara a eta-

têm na sua um passo atrás numa carreira de

vida. EEspero
tu tam
também
o faças
Doug Emhoff
inesperado: aao Æm de 24 anos,
não ia recandidatar-se
r a
um quinto
q mandato, e
deixava a porta aberta
deixa
para uma candidatu-
par
ra v viável da então
procuradora-geral do
proc
estado.
esta
“Foi a primeira vez
“F
que me dei d conta de que
estava casado com uma políti-
ca”, disse Doug Em Emhoè num perÆl
publicado pela revrevista Marie Claire,
em Outubro, sobre
sobr a chegada de
Harris ao Senado dosdo EUA, em Janei-
ro de 2017.
Emhoè è está long
longe de ser o primei-
ro marido de uma mulher
m com uma
carreira de destaque
destaqu na política dos
EUA. Mas vai ser o primeiro a usar
esse papel à escala
escal nacional para
inverter o estereó
estereótipo, contando
para isso com o contraste
con do exem-
plo da mulher de Joe Biden, Jill
Biden. Ele vai larga
largar a carreira pro-
Æssional e aproveitar
aproveit o novo tempo
de antena para pro
promover o acesso à
Justiça das popula
populações mais desfa-
vorecidas; e ela querq continuar a
trabalhar todos os dias, a dar aulas
de Inglês numa escola
es pública na
Virgínia.
Tirando as excep
excepções que foram
pontuando décadas passadas, só nos
últimos anos começou
come a ser comum
olhar para as banbancadas das duas
câmaras do Congre
Congresso dos EUA e ver
mais do que uma mão-cheia de
mulheres.
Após as eleições de Novembro de
2018, o Senado passou
pas a contar com
26 senadoras e 74 senadores. Foi a
primeira vez, desd
desde 1789, que 25%
das bancadas do Senado
Se foram ocu-
padas por mulhere
mulheres.
E, entre os 435 lulugares na Câmara
dos Representantes,
Representante estão hoje 101
mulheres — uma barreira
ba que só pas-
sou dos dois para o os três dígitos em
2014.
Há muitos outros marcos que ates-
sucesso para apoiar a carreira da sua
mulher.”
Doug Emhoè não é, simplesmen-
te, o marido da próxima primeira
vice-presidente dos EUA; é também,
com a sua presença constante nas
campanhas eleitorais de Kamala Har-
ris (primeiro como candidata à
nomeação pelo Partido Democrata,
e depois como candidata a vice-pre-
sidente), um fervoroso activista na
luta contra os estereótipos de género
na política.
“Quero ver mais mulheres nos car-
gos públicos, e quero que mais
homens apoiem as suas companhei-
ras e que lhes proporcionem um
ambiente de oportunidade para o
sucesso”, disse Emhoè, em Outubro,
ao site NowThis News.
“Momala”
E a dinâmica de casal entre Emhoè e
Harris, pouco comum nos EUA e na
generalidade dos países, não se resu-
me à forma como gerem as suas car-
reiras proÆssionais.
Em acções de campanha e em foto-
graÆas partilhadas nas redes sociais,
é habitual ver-se a ex-mulher
x-mulher de
Doug, Kerstin Emhoè, a apoiar a ami-
ga Kamala Harris. E sempre
mpre ao lado
dos seus Ælhos, Cole e Ella,
lla, enteados
de Harris — a quem chamam
mam “Moma-
la”, um trocadilho entre tre o nome
he mamaleh,
Kamala e a palavra iídiche
que signiÆca “mãezinha”.a”.
do Joe Biden
Talvez por isso, quando
e Kamala Harris surgiramm juntos pela
primeira vez como a dupla
pla do Par-
ncorrer à
tido Democrata para concorrer
Casa Branca, em Agosto, to, Doug
omentá-
Emhoè foi alvo de um comentá-
rio nunca antes feito em público
sobre o cônjuge de um dos dois
principais governantes dos
os EUA:
“Doug, tu também vais apren-
lguém
der o que signiÆca ser alguém
que derruba barreiras”, dis-
se Biden, quando salienta-ta-
va as características de
Kamala Harris.
“Eu não sou excessiva--
mente político”, disse
Doug Emhoè à Marie
Claire, em Outubro,
numa antevisão do que
pode vir a ser a sua mar-
ca na cultura norte-ame-
ricana. “Sou excessiva--
mente marido dela.”
pa que iniciará a partir do
dia 20 de Janeiro, quando o marido e
candidato declarado vencedor das
presidenciais nos EUA, Joe Biden,
tomar o lugar de Donald Trump na
Casa Branca, e ela própria assumir a
função desempenhada nos últimos
quatro anos por Melania Trump.
Tal como o fez entre 2009 e 2017,
quando Joe ocupou o posto de vice-
-presidente na Administração Obama
e ela deu aulas na faculdade comuni-
tária de Northern Virginia, Jill, profes-
sora de carreira, doutorada em Edu-
cação e especializada em Língua
Inglesa, pretende continuar a ensinar,
a receber um salário e a manter a sua
independência proÆssional.
“Ensinar não é apenas o que ela
faz, é o que ela é”, lembrou Joe Biden
no seu discurso de vitória.
Os desaÆos securitários, protoco-
lares e de agenda que esse desejo
levanta podem torná-lo, no entanto,
inexequível. Mas, se forem ultrapas-
sados, Jill Biden tornar-se-á na primei-
ra primeira-dama dos EUA a deter
este título, ao mesmo tempo que
mantém um emprego remunerado
fora da residência presidencial.
Este cenário traria um novo propó-
sito à função, que corporizaria, só por
si, uma declaração política muito pró-
pria da mulher do próximo Presiden-
te dos EUA — a da mulher indepen-
dente, que não abdica da sua carreira
por causa do trabalho do marido.
“As primeiras-damas do passado
não passaram pela experiência da
grande maioria das mulheres nos
EUA, que têm uma vida familiar e
uma vida proÆssional. Esta pode ser
uma grande oportunidade para Jill
Biden ser um verdadeiro modelo para
as americanas”, disse Katherine Jelli-
son, professora na Universidade de
Ohio que estuda o papel das mulheres
na política norte-americana, em
declarações ao site The Hill.
“É incrivelmente
incrivelm importante para
uma mulher ter te a sua própria identi-
dade, especia
especialmente quando se é
casada com um político. A ideia de se
desistir de uma vida inteira por causa
do marido parece-me
par antiquada”,
sublinha Kate A Andersen Brower, jor-
nalista e autora de livros sobre Presi-
dentes e primeiras-damas
prime dos EUA,
citada pela ABC
ABC.
Segundo o B Bureau of Labor Statis-
tics e pelo Ce Census Bureau — duas
agências govern
governamentais americanas
de estatística — quase metade da mão-
-de-obra do p país é composta por
mulheres e cercac de um terço das
mulheres com emprego são mães.
“Ao continuar
conti a integrar o mer-
cado de trabalho
tr remunerado,
junta-se à maioria de mães do
país que também fazem parte
dessa realidade”,
rea atesta Kristin
Rowe-Finkbeiner, directora
Rowe-F
executiva
execut da organização
femin
feminista MomsRising.
“Est
“Estaria a dar o exemplo e
es exemplo é impor-
esse
ta
tante”.
Independentemente
de conseguir conjugar
ou não os dois trabalhos
o cerebral.
e tendo em conta as iniciativas que
tem promovido ao lado do senador,
primeiro, vice-presidente, agora
chefe de Estado, tudo aponta para
que Jill Biden, de 69 anos, volte a
oferecer algum protagonismo à fun-
ção de primeira-dama.
Apesar da posição de destaque
que vários membros do clã familiar
tiveram na Administração Trump,
Melania foi uma primeira-dama
reservada e comedida. Cabendo à
Ælha mais velha do Presidente,
Ivanka, o grosso do protagonismo
político e mediático, Melania Trump
dedicou parte do seu tempo na Casa
Branca à campanha Be Best, promo-
vendo valores relacionados com a
saúde mental infantil e defendendo
medidas contra o bullying online e o
consumo de drogas.
Jill Biden deverá recuperar o esti-
lo mais participativo e proactivo de
Michelle Obama ou Laura Bush —
sem querer ir tão longe como Hillary
Clinton, politicamente envolvida
nos planos da Administração de Bill
Clinton, particularmente na propos-
ta de reforma da saúde.
Com Bush, Biden partilha a pro-
Æssão e o gosto pela educação, que
será um dos pilares da sua interven-
ção, dentro ou fora da sala de aula.
E com Obama juntou forças para
promover outra iniciativa que lhe é
cara, focada no acompanhamento
e apoio às famílias dos militares em
serviço ou veteranos de guerra.
A terceira prioridade de acção de
Jill Biden também é expectável e
tem a ver com a prevenção, cons-
ciencialização e investigação de
doenças cancerígenas, tema que
acompanha, desde que fundou a
Biden Breast Health Initiative, em
1993, e vivenciou um das grandes
tragédias da sua vida, em 2015 — a
morte de Beau Biden, Ælho do mari-
do, aos 46 anos, devido a um cancro
26 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Mundo Série Agenda Europa
Depois de Nice e Viena, UE quer “acelerar”
coordenação no combate ao terrorismo
Sofia Lorena
Assoberbada pela
pandemia, UE confronta-se
com a necessidade
de reagir à ameaça
do terrorismo jihadista
Face à sucessão de atentados — subúr-
bio parisiense de ConÇans-Sainte-Ho-
norine, Nice, Viena —, o combate ao
terrorismo saltou de novo para o topo
das prioridades das instituições. A
urgência Æcou demonstrada ao longo
da semana passada: na terça-feira,
Emmanuel Macron e Sebastian Kurtz
promoveram uma minicimeira dedi-
cada ao tema a partir do Eliseu; a ses-
são plenária do Parlamento Europeu,
que começou no mesmo dia, incluiu
um debate sobre “combate ao terro-
rismo e direito à liberdade de expres-
são e de educação” com a comissária
dos Assuntos Internos, Ylva Johans-
son; e na sexta-feira o mesmo tema
dominou o Conselho de Ministros do
Interior.
“Precisamos de uma resposta
comum, coordenada e rápida”, disse
Macron, dando o tom. “Começou um
trabalho metódico”, acrescentou,
depois do debate de terça-feira.
A 9 de Dezembro, a Comissão Euro-
peia vai lançar a nova agenda de com-
bate ao terrorismo. Um dia depois,
arranca a cimeira de chefes de Estado
e de Governo, onde se espera um
acordo dos 27 para o reforço da estra-
tégia. Entretanto, Macron avançará
A UE no combate ao terrorismo global
Opinião
Nuno Melo
A UE aplica parte relevante dos
seus recursos Ænanceiros,
técnicos e logísticos no combate
ao terrorismo. Mas, pela sua
natureza, o fenómeno implica
articulação permanente e
investimento à escala global.
A morte do professor francês
Samuel Paty, decapitado por um
terrorista tchetcheno, chocou e
justiÆcou, com todo o sentido,
pelo signiÆcado do acto e pela
barbárie, primeiras páginas em
todo o mundo. Mas 50
moçambicanos anónimos,
com uma proposta de revisão do acor-
do de livre circulação de Schengen.
Na base deste “trabalho metódico”
com que se pretende “acelerar” a
resposta comum está uma revisão das
iniciativas dos últimos anos. É preciso
colmatar lacunas e perceber o que
falta para que legislação importante
seja Ænalmente aprovada no Parla-
mento Europeu ou para que os Esta-
dos-membros implementem directi-
vas ou ponham em prática decisões
Samuel Paty, professor francês de 47 anos, foi degolado por mostrar caricaturas do profeta Maomé
igualmente decapitados, numa
aldeia transformada em campo
de extermínio por um grupo com
ligações ao Estado Islâmico no
Norte do país, não mereceram,
infelizmente, destaque
proporcional.
Tratando-se de um país
membro da CPLP, com ligações
históricas a Portugal, choca
perceber que não seja a UE a
liderar no terreno a reacção que
Moçambique pediu, substituída
pela Commonwealth, que intuiu
melhor a importância
geoestratégica da intervenção.
Por isso, sobre o caso interpelei o
comissário europeu Matgaritis
Schinas e solicitei um debate de
urgência no Parlamento
Europeu.
O terrorismo islâmico vive de
há muito tomadas em Bruxelas.
Os atentados que abalaram França
em 2015, o ataque contra o semanário
satírico Charlie Hebdo, em Janeiro, e
a carniÆcina em Paris, a 13 de Novem-
bro, agilizaram o trabalho em curso
e contribuíram para os progressos da
última legislatura, com o PE a criar
uma comissão especial sobre terro-
rismo que analisou as deÆciências da
luta antiterrorista e propôs uma série
de medidas a adoptar. Só que a com-
fanáticos motivados pelo
extremismo, apostados na
destruição dos valores de
referência das sociedades
ocidentais, Ænanciados por
esquemas camuÇados em
paraísos Æscais, e que utilizam
plataformas digitais sediadas em
países não-vinculados pela justiça
europeia.
Para combater esta conjugação
de diÆculdades, a UE aposta em
mecanismos como o PNR —
pensado para detectar terroristas
em trânsito aéreo, através da
análise dos registos de
identiÆcação dos passageiros, a
directiva da Interoperabilidade,
de que fui relator no Parlamento
Europeu, destinada a tornar
acessíveis às forças de segurança
de diferentes países dados de que
plexidade da máquina europeia leva
a que passem anos desde que uma
ideia começa a ser debatida até que
se transforme em regulamentação
aprovada, ou entre a aprovação e a
adopção por parte dos membros.
Na intervenção da semana passada
no PE, a comissária Johansson apelou
aos eurodeputados para chegarem
rapidamente a acordo sobre a pro-
posta de regulação para prevenir a
disseminação de conteúdo terrorista
YOAN VALAT
reciprocamente dispõem, mas
actualmente não conhecem, o
E-Evidence, de que sou
relator-sombra, pensado para
conhecimento de meios de prova
existentes em plataformas
digitais, hotspots instalados nas
fronteiras externas da UE para
identiÆcação de pessoas
originárias de países terceiros, ou
a Frontex — Agência Europeia de
Fronteiras e Guarda Costeira —,
agindo em articulação com a
Europol.
No prelo, estão também outras
iniciativas relacionadas com
acções contra a radicalização, a
cooperação com países terceiros
e o acesso a dados encriptados. O
caminho faz-se andando.
Eurodeputado do CDS-PP
online, que obrigará as plataformas
digitais a retirar conteúdos extremis-
tas no prazo de uma hora depois de
serem avisadas pelas autoridades —
uma ideia evocada pela primeira vez
em 2017 e que continua em discussão
entre o Parlamento e os Estados.
“Quem combate o crime e adminis-
tra a justiça tem diÆculdades acresci-
das no combate ao terrorismo”, diz o
eurodeputado do CDS-PP Nuno Melo,
que é membro da Comissão das Liber-
dades Cívicas, Justiça e Assuntos
Internos e foi nos últimos anos relator
de propostas importantes nesta área.
“Estamos a falar, no plano político, de
aspectos que são fundamento de
debates profundos, por exemplo, a
protecção de dados”, diz, lembrando
que “o chamado PNR, o registo de
identiÆcação de passageiros, estava a
‘marinar’ no Parlamento quando
aconteciam atentados em Paris”.
O mesmo se passou em relação à
“interoperabilidade, que é tornar
interoperáveis informações que as
polícias têm mas em diferentes países
e que funcionam em comportamen-
tos estanques”, diz Nuno Melo, um
regulamento de que foi relator e que
o PE aprovou Ænalmente o ano passa-
do. Johansson pediu precisamente
aos Estados-membros que acelerem
o trabalho para garantir a total inter-
operabilidade dos seus sistemas de
informação até 2023. E lembrando
que o atirador de Viena tentou com-
prar armas na Eslováquia e tinha con-
tactos na Alemanha e na Suíça, subli-
nhou também as falhas no Sistema de
Informação Schengen e a necessidade
de os Estados-membros implementa-
rem a Directiva PNR.
Também o reforço da agência Fron-
tex, decidido em Abril de 2019 e que
prevê instalar dez mil agentes nas
fronteiras externas da UE, só estará
operacional em 2027.
Entre as propostas abordadas nas
últimas semanas está um novo refor-
ço dos poderes e dos meios da Euro-
pol, um código de cooperação policial
na UE, um reforço do Ænanciamento
europeu para a protecção de espaços
públicos ou a criação de um “verda-
deiro Conselho de Segurança Inter-
no”. Mas onde há mais trabalho por
fazer é na prevenção e no combate à
radicalização e é por isso que a comis-
sária Johansson vai apresentar já no
dia 24 um Plano de Acção para a Inte-
gração e a Inclusão.
Com o
apoio de:

Presidente interino do Peru
demite-se após duas mortes
João Ruela Ribeiro
Pressionado pelas ruas
e pela demissão de 13
ministros, Manuel Merino
deixa a chefia do Estado
que assumira na terça-feira
O Presidente interino do Peru, Manuel
Merino, não resistiu à pressão popular
e política, e apresentou ontem a sua
demissão, menos de uma semana
depois de ter assumido o cargo na
sequência da destituição do anterior
chefe de Estado, Martín Vizcarra.
Merino estava pressionado tam-
bém pelo Congresso e pelo próprio
Governo, com vários ministros a apre-
sentarem a demissão desde sábado.
O Congresso tinha dado ao Presiden-
te interino um ultimato para que se
demitisse por sua iniciativa. Caso con-
trário, seria convocada uma sessão
para o fazer, explica o El País.
Na sua comunicação ao país, Meri-
no reconheceu estar perante “uma
das maiores crises políticas” e ape-
lou à “paz e unidade de todos os
peruanos”. No sábado, dois manifes-
tantes morreram em confrontos com
a polícia durante a repressão a um
protesto em Lima contra a destitui-
ção de Vizcarra. Uma das principais
exigências dos manifestantes era a
demissão de Merino, que assumiu a
cheÆa de Estado por ser presidente
do Parlamento.
Governador de Cabo Delgado diz que não houve
decapitação de 50 pessoas em Outubro
Ana Gomes Ferreira
Não houve massacre na
aldeia de Muatide, disse
Valige Tauabo, recordando
que a notícia sobre 53
jovens degolados é de Abril
O governador da província moçam-
bicana de Cabo Delgado, Valige
Tauabo, desmentiu as notícias que
davam conta do rapto e decapitação
de 50 pessoas por islamistas radi-
cais em Outubro, na aldeia de Mua-
tide, no distrito de Muidumbe.
Tauabo, que fez as declarações na
quarta-feira, frisou que houve ata-
ques em Outubro e Novembro, mas
o massacre com esta dimensão
aconteceu em Abril.
“Acredito na luta frontal contra a
corrupção, os corruptos não nos
podem representar, acredito que o
poder é para servir a todos e não a
poderes subalternos”, declarou Meri-
no, num discurso a partir do palácio
do Governo de Lima.
Na segunda-feira, Vizcarra foi des-
tituído por “incapacidade moral”. Em
causa estava a suspeita de envolvi-
mento do Presidente num esquema
de corrupção em 2014, numa altura
em que era governador. Vizcarra nega
todas as acusações e disse considerar
ilegítimo o processo do seu afasta-
mento. Os últimos quatro chefes de
Estado peruanos foram todos desti-
tuídos por suspeitas de envolvimento
Manifestantes em Lima exigiram a demissão de Merino
“O massacre de 53 jovens ocorreu
no dia 6 de Abril”, disse o governador,
explicando que as vítimas, da aldeia
de Xitaxi, foram degoladas “por se
recusarem a ser recrutadas para as
Æleiras do grupo armado” que identi-
Æcou como Província Centro-Africana
do Estado Islâmico.
“A violência dos jihadistas preocu-
pa-nos muito, porque, de facto, os
ataques terroristas estão a causar
muitos danos físicos e morais, pois os
terroristas queimam casas, destroem
bens públicos e causam lutos”, disse
Tauabo, citado pela agência Fides,
ligada aos missionários católicos. O
governador disse ainda que neste
momento nenhuma parte do territó-
rio é controlada pelos insurgentes.
Há três anos que Cabo Delgado, no
Norte de Moçambique, vive um con-
em casos de corrupção, sempre com
a participação da construtora brasi-
leira Odebrecht, uma das que estão
no centro da Operação Lava-Jato.
Protestos sangrentos
A destituição do Presidente foi mal
recebida por grande parte da popula-
ção que se manifestava nas ruas e no
sábado organizou um grande protes-
to em Lima, a capital, para denunciar
o que disseram ser um “golpe de Esta-
do parlamentar”. A crise aprofundou-
-se com a morte de dois manifestantes
em confrontos com a polícia.
A Amnistia Internacional denun-
ciou a violência excessiva por parte
da polícia para reprimir os protestos,
PAOLO AGUILAR/EPA
TANZÂNIA
ZÂMBIA
Mocímboa
Cabo da Praia
Delgado
MALAWI
ZIMBABWE
OCEANO
ÍNDICO
MOÇAMBIQUE
ÁFRICA
DO SUL
Maputo
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 27
incluindo a utilização de armas de
fogo contra a população. Pelo menos
102 pessoas Æcaram feridas, das quais
63 foram hospitalizados, e há 41 desa-
parecidos, segundo o gabinete do
provedor de justiça. Nove pessoas
apresentavam feridas de bala.
A demissão de Merino, que havia
tomado posse na terça-feira, tornou-
-se rapidamente numa matéria con-
sensual. Em algumas horas, 13 minis-
tros apresentavam a demissão e o
Congresso virava as costas a Merino,
selando o seu destino. O Presidente
interino perdeu o apoio das bancadas
da Aliança para o Progresso (APP),
Somos Peru, Podemos Peru e Frente
Ampla, que tinham votado a favor da
destituição de Vizcarra, diz o jornal
El Comercio.
Também os governadores regionais
se juntaram aos críticos, acusando
Merino de ser “politicamente respon-
sável pelos actos de violência”.
O futuro político do Peru regressa
às mãos dos deputados. O Congresso
vai agora negociar a cheÆa da nova
Administração, que deverá manter-se
em funções até Julho de 2021 e cuja
escolha deverá recair num dos pou-
cos deputados que votaram contra a
destituição de Vizcarra. A nova crise
política peruana surge numa altura
em que o país sul-americano atraves-
sa um período de forte recessão eco-
nómica, a par do impacto da pande-
mia de covid-19, que fez mais de 35
mil mortos até ao momento.
Çito armado que já fez mais de duas
mil mortes e está a causar uma grave
crise humanitária. O Governo moçam-
bicano calcula que mais de 400 mil
pessoas tenham fugido da província
e a Amnistia Internacional diz que 712
mil precisam de ajuda.
O bispo de Pemba, Luiz Fernando
Lisboa, citado pela agência noticiosa
Fides, ligada aos missionários católi-
cos, disse que o conÇito está a inten-
siÆcar-se. “Para se ter uma ideia, nos
últimos dois dias, o distrito de Mui-
dumbe sofreu sete ataques em sete
aldeias”. Adiantou que em Outubro,
entre 13 e 14 mil pessoas chegaram
aos campos de refugiados de Metuge,
muitas em 200 pequenos barcos.
”Quem foge de barco Æca três, quatro,
cinco dias no mar, chegando com
fome e desidratado”, disse o bispo.
Sociedade
Em 12 dias de conflito, 20 mil
pessoas fugiram para o Sudão
Guerra
na Etiópia
chega
à Eritreia
João Ruela Ribeiro
O Tigré conÆrmou ontem que as suas
forças bombardearam o aeroporto da
capital da Eritreia, que acusa de estar
a apoiar o exército etíope. Os gover-
nos de ambos os países negam estar
a combater em conjunto.
O conÇito que opõe o Exército etío-
pe e as forças militares do Tigré —
região no Norte etíope, que faz fron-
teira com a Eritreia e o Sudão — está
agora próximo de se tornar uma guer-
ra com implicações internacionais,
conÆrmando os piores receios.
O presidente da Frente de Liberta-
ção do Povo Tigré (FLPT), o partido
que governa o Tigré, Debretsion
Gebremichael, reivindicou o ataque,
acusando as forças da Eritreia de
apoiarem o Exército etíope. “Enquan-
to as tropas estiverem aqui a lutar,
iremos visar qualquer alvo militar
legítimo e iremos atacar”, aÆrmou
Gebremichael, acrescentando que as
suas forças militares estão a combater
“16 divisões” da Eritreia.
O primeiro-ministro etíope, Abiy
Ahmed, negou estar a ter a coopera-
ção militar da Eritreia e garantiu que
o exército é capaz de atingir os seus
objectivos “por si só”. O Governo eri-
treu não emitiu qualquer declaração
sobre o assunto. Os dois países envol-
veram-se num conÇito entre 1998 e
2000, numa altura em que a Etiópia
era governada pela FLPT. Um acordo
de paz foi assinado em 2018, promo-
vido por Ahmed, que se tornou o
primeiro líder do país da etnia oromo
e ganhou por isso o Nobel da Paz.
A Eritreia é um dos países mais
fechados do mundo, com uma socie-
dade permanentemente mobilizada
para a guerra. A CIA calcula que o país
tenha cerca de 200 mil soldados.
28 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Cultura Prémio Europa Nostra para a Binaural Nodar
Uma associação
para Ɗxar a
memória do
mundo rural
Binaural Nodar integra projecto europeu
reconhecido com o prémio Europa Nostra
pelo trabalho para preservar o património
das comunidades de montanha
Camilo Soldado Texto
Sérgio Azenha Fotografia
Em 2004, quando a Binaural Nodar
começou a sua actividade, o ponto
de partida foi “a percepção de um
mundo rural que estava a ser reduzi-
do a meia dúzia de chavões como o
artesanato, os ranchos folclóricos e
poucos mais”, introduz o coordena-
dor da associação, Luís Costa. “Havia
uma série de aspectos que estavam
escondidos” e aos quais era preciso
retornar.
E foi essa ideia de retorno — que
signiÆcou também o regresso de Luís
Costa, então economista em Lisboa,
a Nodar, a sua aldeia natal, em São
Pedro do Sul, de onde tinha saído aos
seis anos — que serve de base a uma
associação que se dedica a trabalhar
o património cultural e etnográÆco
da região de Dão Lafões, através das
paisagens sonoras, documentação
etnográÆca audiovisual, da educação
e das artes. “Queríamos ir tentando
escavar, perceber como é que estas
comunidades foram sobrevivendo
ao longo dos séculos, em contexto
de auto-subsistência, mas também
de grande adaptabilidade e resiliên-
cia”, diz.
Década e meia depois desse retor-
no, a associação vê parte desse traba-
lho reconhecido com o prémio Euro-
pa Nostra, uma distinção atribuída
na semana passada à Rede Tramon-
tana III, um projecto composto por
oito parceiros de seis países, que a
Binaural Nodar integra. O prémio na
categoria de investigação foi atribuí-
do pelo “forte exemplo da importân-
cia da pesquisa como motor para
equipar essas comunidades [de mon-
tanha] com as ferramentas necessá-
rias para preservar e celebrar o seu
património”.
O prémio chega num ano comple-
xo. Além de toda a singularidade de
2020, a Binaural tinha Æcado de fora
dos apoios da Direcção-Geral das
Artes pela primeira vez em 15 anos
(uma situação parcialmente revertida
com os apoios extraordinários para
as estruturas culturais por causa da
pandemia), explica o coordenador,
em conversa com o PÚBLICO, no jar-
dim do Museu do Linho, um pequeno
complexo de três edifícios encaixados
no miolo de Várzea de Calde, uma
aldeia do Norte de Viseu, onde a
Binaural está a trabalhar na mais
recente instalação.
Seguir trilhos
“Não digo que estivéssemos desani-
mados, mas sim num ano de reformu-
lação, [de reÇectir] como vamos tra-
balhar daqui para a frente”, acrescen-
ta. Agora, o prémio Europa Nostra dá
ao grupo “um certo alento para seguir
alguns trilhos, nomeadamente para
não abandonar a questão etnográÆ#
Uma aldeia é uma
ca”, que sente que é “a base do traba- malha inÄnita de
lho artístico”.
Sim, porque além de todo o traba-
possibilidades: há
lho de recolha e captação de todas as cruzamentos por
memórias das aldeias que dão corpo
ao arquivo digital da Binaural Nodar,
fazer e muitas
a associação tem vindo a acolher resi- possibilidades de
dência artísticas, para que esses ele-
mentos de preservação de memória
comunicação
que são captados possam alimentar entre estruturas —
as práticas contemporâneas de cria-
ção. É também a partir desse arquivo
culturais,
digital — que conta já com centenas educativas, do
de registos, entre paisagens sonoras,
entrevistas ou gravações de canti-
território — para
gas — que estabelecem a sua relação que o mundo rural
com museus, mas também o seu pro-
jecto educativo, mais orientado para
tenha outro tipo
escolas. de dignidade
“Não podemos estar só a trabalhar
sobre os despojos de um mundo que Luís Costa
aparentemente está em decadência. Coordenador da Binaural Nodar
Temos também de trabalhar com as
novas gerações, mesmo que elas este- tir do que a chegar, mas a Binaural se a pessoa aqui ganha 500 euros e lá destas associações de Portugal, Espa-
jam com a cabeça projectada na cida- pode, enquanto exemplo, “inÇuen- ganha 3 mil? Não podemos ter esse nha, França, Itália, Roménia e Polónia
de”, aÆrma Luís Costa. E esse esforço ciar outros processos”. peso nos ombros, mas estamos cá.” é a intervenção em zonas de monta-
Æno, acredita, pode fazer a diferença, E prossegue: “Não vamos salvar nha, mas todas trabalham de maneira
“mas não é um trabalho de salvação”. coisa alguma nem impedir que as O som dos carros diferente. Há quem se debruce mais
Rejeita a veleidade de querer “inver- pessoas deixem de tomar as suas A Rede Tramontana III é composta sobre a etno-linguística (sotaques,
ter o despovoamento“ de uma região decisões. Como é que vamos dizer a por gente com “ÆlosoÆas parecidas”, dialectos e toponímia), quem apenas
que se habituou a ver mais gente par- alguém que não emigre para a Suíça refere Luís Costa. O ponto comum opere com som e quem aborde a
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 29

Luís Costa coordena a
associação Binaural Nodar, que
integra a Rede Tramontana III
e acaba de ser agraciada
com prémio Europa Nostra.
O último projecto é uma
instalação no Museu do Linho
Lin, por exemplo, partiu desse ponto
comum que é a produção de linho em
vários destes territórios para resultar
numa instalação sonora e visual com
histórias do linho de toda a Europa.
“Outro tema que temos trabalhado
muito com os nossos parceiros são os
carros de vacas: qual é o som, qual a
função que tinham, como é que se
preparava as vacas para poderem
Museu do Linho
O linho como fio
condutor, a paisagem
como continuidade
Camilo Soldado
A história da aldeia de Várzea de Cal-
de, no concelho de Viseu, conta-se
ao ritmo das mulheres que ainda
hoje trabalham no ciclo da produção
do linho, da sementeira à tecelagem,
passando pelo longo e vigoroso pro-
cesso de maçar e tascar a Æbra. A
mais recente instalação audiovisual
da Binaural Nodar, Cor, Coro, Corpo,
que abriu anteontem ao público, no
Museu do Linho de Várzea de Calde,
pega neste processo e estabelece
uma ligação entre paisagem, as rou-
pas das mulheres e as vozes que can-
tam enquanto as mãos trabalham. A
instalação é composta por um vídeo
de pequenos apontamentos, “como
se fosse uma lupa” sobre os tecidos
escolhidos, acompanhada por um
peça sonora que se vai enchendo e
esvaziando de vozes”.
Várzea de Calde mantém activo o
seu Grupo EtnográÆco de Trajes e
Cantes, que tem sido fonte preciosa
do trabalho da Binaural, explica o
coordenador da associação e autor
desta composição sonora e edição de
vídeo. “No dia em que as Ælmagens
foram feitas, gravámos sete canções
que se juntam a umas 40 que já tínha-
mos gravado”, explica. Este trabalho
“parte um bocado desta ideia de que
há um Æo condutor, um Çuxo, que vai
das formas da paisagem à própria
escolha das roupas”, refere.
E o que a Binaural Nodar vai reco-
público no Museu da Várzea de Cal-
de, onde a Binaural tem vindo a des-
envolver vários trabalhos, aborda a
relação da comunidade com as plan-
tas. Montado com paisagens sonoras
e entrevistas a partir de um conjunto
de entrevistas a habitantes da aldeia,
o trabalho que pretende ser um
arquivo de memória digital aborda a
conexão terapêutica, simbólica e
gastronómica entre pessoas e as
plantas que as rodeiam.
A ligação institucional a este
museu (que pertence à autarquia de
Viseu) representa também um efeito
da visibilidade do trabalho da Binau-
ral, diz Luís Costa. “É isso que noto
que há mais gente que nos bate à
porta”, refere o coordenador da
associação que tem trabalhado de
perto com os municípios de Viseu,
Vouzela e Castro Daire.
O que é mostrado
agora é
perpetuado
no tempo, no
sentido em que
Äca registado.
Tentamos fugir

6
associações compõem a Rede
Tramontana III, todas com
”filosofias parecidas” entre
Portugal, Espanha, França,
Itália, Roménia e Polónia
arar um terreno”, diz Luís Costa,
naquela que é uma tradição comum
a vários destes territórios. Uma audi-
ção cuidada, acrescenta, permite
distinguir os vários carros, dependen-
do da madeira utilizada para a sua
construção, dos rodados mais ou
menos oleados e da própria morfolo-
gia do terreno.
No início da conversa, Luís Costa
tinha começado por dizer que a
lhendo serve também para alimentar
o seu arquivo digital, que mantém a a essa ideia
memória de determinado momento.
“É muito interessante voltar atrás
de efémero
dez ou 15 anos” e encontrar sons Luís Costa
diferentes dos mesmos territórios,
explica o coordenador, com uma
máquina agrícola que vai laborando
a terra lá ao longe como rumor de
fundo. “O que é mostrado agora em
exposição é perpetuado no tempo,

musicologia para lhe dar uma actua-
lização. Daqui sai também uma troca
de metodologias que enriquece a acti-
vidade de cada um. “Em 2004, já
fazíamos recolhas, mas não estávamos
equipados com todas as ferramentas
conceptuais para fazer boas recolhas,
para catalogar bem os documentos”,
15
anos. Pela primeira vez,
a Binaural ficou fora dos apoios
da Direcção-Geral das Artes
conta. Foram estes contactos que per-
mitiram à associação, que começou
por se instalar em Nodar mas que hoje
tem sede em Vouzela, avançar nos
seus próprios processos.
Estas linhas que ligam as monta-
nhas europeias também alimentaram
a criação artística. O projecto Habi-
Binaural Nodar “olha para uma aldeia
como para uma malha inÆnita de
possibilidades”, numa observação
que vai muito para lá do aspecto
patrimonial. “Há muitos e necessá-
rios cruzamentos por fazer”, defen-
de, “há muitas possibilidades de
comunicação entre estruturas — cul-
turais, educativas, do território —
para que o mundo rural tenha outro
tipo de dignidade em Portugal”. Um
mundo que continua a ser olhado de
lado, com uma estampa ligada ao
Estado Novo, “de zonas pobres depri-
midas e tristes”. Luís Costa não par-
tilha dessa visão e está aqui para a
ajudar a transformar.
no sentido em que Æca registado.
Tentamos fugir a essa ideia de eféme-
ro”, diz.
Nesse exercício de tentar identiÆ#
car as mudanças, activamos sensores
ancestrais. “As pessoas acabavam
por usar os sentidos todos. Por exem-
plo, quando iam à procura de plantas
medicinais, sabiam exactamente
qual era o cheiro e conheciam cen-
tenas de plantas, tinham esse conhe-
cimento profundo”, conta Luís Cos-
ta. Isto demonstra a “memória
impressionante” das pessoas destes
territórios, que a exposição Plantas
Faladas procura preservar. A instalação da Binaural Nodar
A exposição, também aberta ao no Museu do Linho
30 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Cultura
Temporada da Gulbenkian Música
com estreia mundial (e streaming)
Mário Lopes
O maestro John Nelson, o
pianista András Schiff e a
violinista Isabelle Faust
marcam a temporada
2020/2021
Há tradições que se mantêm inalte-
radas, como o Concerto de Ano
Novo, onde não faltarão as valsas
vienenses, ou os Concertos de
Domingo, onde a componente didác-
tica se une à fruição musical. E há
reÇexos óbvios destes tempos de
pandemia, patentes, por exemplo,
no facto de o público só ter acesso
aos concertos das jovens estrelas de
amanhã, que, em Fevereiro, actua-
rão no Dia de Portas Abertas, através
do streaming nas plataformas digitais
da fundação. Eis então a segunda
parte da temporada da Gulbenkian
Música, apresentada esta segunda-
-feira: o aguardado regresso de John
Nelson, os convidados András Schiè
e Isabelle Faust, a estreia mundial de
Reverdecer, de Andreia Pinto-Cor-
reia.
O ano arrancará, naturalmente,
com o Concerto de Ano Novo, prota-
gonizado pela Orquestra Gulbenkian
sob a direcção da maestrina Elena
Scharwz e com a participação da
soprano Siobhan Stagg — 6, 7 e 8 de
Janeiro (às 19h). Três meses depois,
Æm de temporada com o obrigatório
Concerto de Páscoa: A Paixão Segun-
do São João, de J. S. Bach, com o
maestro titular do Coro Gulbenkian,
Michel Corboz. Três apresentações
ue, devi-
(29, 30 e 31 de Março) em que, devi
do às regras impostas pela pande-
mia, que limitam a duração ção dos
espectáculos, apenas será possível
apresentar a segunda parte da Ora-
tória do mestre do barroco.
Entre um momento e outro, o
Coro Gulbenkian protagonizará zará um
ciclo de concertos a capella, lla, aos
domingos, às 12h, de entrada da livre.
Entre um momento e outro, oportu-
nidade para reencontrar o maestro
norte-americano John Nelson, on, cuja
relação de longa data com m a Gul-
benkian se vem concretizando do
tanto em concertos como em m Di
gravações — em 2019, porr
exemplo, convocou o Coro o e 5 de Fevereiro).
Gulbenkian para gravar com ma
Orquestra Filarmónica de Estrasbur-
trasbur-
go, naquela cidade francesa, A Dana-
ção de Fausto, de Berlioz. Dias 25 e
questra
26 de Fevereiro, com a Orquestra
Gulbenkian, tempo para o maestro
regressar a Berlioz (Les nuitss d’été)
é e
fonia de
para nos oferecer a 2.ª Sinfonia
Schumann. No mês seguinte, o maes-
tro costa-riquenho, radicado nos
Em Janeiro, Estados Unidos, Giancarlo Guerrero
oportunidade para entrega-se à Sinfonia n.º 4 de Mahler.
A versão interpretada será a de
o maestro titular orquestra de câmara de Erwin Stein,
da Orquestra num concerto que contará também
com a soprano alemã Julia Kleiter.
Gulbenkian,
Lorenzo Viotti, Estreia mundial
Destaque também para dois artistas
pegar na batuta convidados, o pianista húngaro
And
András Schiè, que chega à Gul-
benk
benkian para protagonizar um con-
certo dedicado a Schubert e Bach (11
e 12 dde Fevereiro), e a violinista ale-
mã Isabelle
I Faust, que trará consigo
o seu octeto para interpretar o Octe-
to em Fá Maior de Franz Schubert
(24 e 25 de Março). Destaque igual-
men
mente para uma estreia mundial: a
de Reverdecer,
Re concerto para violon-
celo e orquestra de Andreia Pinto
Correia, composto no âmbito da par-
Corr
ceria SP-LX, através da qual são pro-
movidas novas criações de compo-
mov
sito
sitores portugueses e brasileiros.
Dirige o maestro Nuno Coelho, o
violoncelista será Jay Campbell (4
vi
Em Janeiro, depois do Concer-
to de Ano Novo, oportunidade
para o maestro titular da Orques-
p através de um streaming que se pro-
tra Gulbenkian, Lorenzo Viotti,
tr
p
pegar na batuta. Dirigirá o pro-
gr
grama “Uma Noite na Ópera”
(d
(dias 13, 14 e 15) e conduzirá a
Or
Orquestra Gulbenkian na 6.ª Sin-
fon
fonia de Tchaikovsky e em
NADIA F. ROMANINI/CORTESIA GULBENKIAN MÚSICA
András Schiff num concerto
dedicado a Schubert e Bach.
Isabelle Faust traz Schubert
Langsammer Satz, de Webern (21 e
22), e também nas Canções de
Mahler e Richard Strauss (27, 29 e 30
de Janeiro).
Os supracitados concertos de
Domingo dividem-se entre Fevereiro
e Março. O primeiro, dia 14 de Feve-
reiro, tem título auto-explicativo,
Mozart para Todos, e o segundo, a 7
de Março, propõe uma Viagem à Hun-
gria através de Lizst, Ligeti, Bartók e
das Danças Húngaras de Brahms. No
mesmo mês, dias 11 e 12, o maestro
José Eduardo Gomes, com o violino
de André Gaio Pereira, dirige um con-
certo pelo qual passarão obras de
Arvo Pärt, Ligeti e Schönberg.
Dia 7 de Fevereiro será o dia atípi-
co da temporada, ou seja, aquele em
que acompanharemos à distância.
Falamos do ciclo “Rising Stars”,
dedicado a estrelas em ascensão
como a percussionista Vanessa Por-
ter, Diana Tishchenko, o Aris Quar-
tet, o barítono James Newby ou Cris-
tina Gómez Godoy, no oboé, a que o
público acederá, não em sala, mas
longará das 11h às 19h.
A pandemia obriga a ajustes e a
alterações de formato, mas, em sala
ou no computador caseiro, a tem-
porada está deÆnida e pronta a
arrancar.
Herdeiros de
Saramago
estreia-se hoje
na RTP 1
Isabel Coutinho
Neste 16 de Novembro, em que se
celebram os 98 anos do nascimento
de José Saramago (1922-2010), estreia-
-se na RTP 1, às 22h30, a série docu-
mental Herdeiros de Saramago, com
autoria do jornalista Carlos Vaz Mar-
ques e realização de Graça Castanhei-
ra.
Dois dos 11 episódios desta série
produzida pela Midas Filmes, Ælmada
em Portugal, no Brasil e em Angola,
e que retrata a obra e o quotidiano
dos 11 escritores de língua portuguesa
já distinguidos com o prémio bienal
que homenageia o Nobel português,
criado pela Fundação Círculo de Lei-
tores em 1999, serão exibidos esta
noite, o que se repetirá todas as sema-
nas até 21 de Dezembro, quando pas-
sará o último.
A ordem pela qual os episódios de
25 minutos serão transmitidos respei-
ta a cronologia da atribuição do pré-
mio. Na estreia, irão para o ar os epi-
sódios que têm como protagonistas
Paulo José Miranda ( 1999) e José Luís
Peixoto (2001), seguindo-se, a 23,
Adriana Lisboa (2003) e Gonçalo M.
Tavares (2005), e, a 30, Valter Hugo
Mãe (2007) e João Tordo (2009). A 7
de Dezembro, é a vez de Andréa del
Fuego (2011) e Ondjaki (2013), a 14,
Bruno Vieira Amaral (2015) e Julián
Fuks (2017), e a 21, Afonso Reis Cabral
(2019). Mas todos os episódios da
série Æcam já disponíveis a partir de
hoje na RTP Play.
Pilar del Río, presidente da Funda-
ção Saramago, na apresentação da
série, lembrou que “estes jovens não
são só vanguarda em Portugal, são
vanguarda na literatura universal” e
notou que, como se percebe na série,
“são pessoas em movimento” e,
“quando estamos em marcha, é pro-
vável que cheguemos”.
“É engraçada essa ideia de movi-
mento”, pegou depois na mesma
ideia o director de programas da
RTP1, José Fragoso, “porque, quando
se pensa em programas de televisão
sobre literatura, temos tendência
para um determinado arquétipo e o
que temos neste projecto foge com-
pletamente e dá essa ideia de vida, de
liberdade, até de movimentos e de
acção”. Em Setembro, Vaz Marques,
explicou ao Ípsilon o que o levou ao
projecto: a escassez de documentos
audiovisuais de escritores portugue-
ses do século XX, de alguns só há tes-
temunho visual em idade avançada.
Aqui são retratos íntimos e afectivos
de alguns dos escritores que estão,
neste momento, a construir o futuro
da literatura em língua portuguesa.

A série de que se fala agora?
É a vez The Queen’s Gambit
Uma menina prodígio do xadrez, um relato sixties sobre dependência, sobre ser
rapariga. Já está no top das preferências dos espectadores em Portugal
Joana Amaral Cardoso
The Queen’s Gambit é um de dois tipos
de fenómeno da NetÇix: não foi alta-
mente promovida, não tinha grande
expectativa à sua volta e torna-se a
série que tanta gente recomenda. Um
passa-palavra tanto analógico quanto
digital está em curso sobre uma série
que espelha como, entre os ecrãs que
nos rodeiam e perfazem a experiên-
cia televisiva actual, são os do strea-
ming os que se predispõem à possibi-
lidade de jogar à apanhada com sur-
presas quando tanto solicita o clique
do espectador.
O outro tipo de fenómeno strea-
ming é o que envolve outra rainha e
que se estreou ontem — The Crown é
uma megaprodução, foi amplamente
publicitada, está cheia de nomes
sonantes da velha guarda do cinema
e televisão e é uma espécie de loja-
-âncora no grande centro comercial
NetÇix. A sua rainha é de prestígio e
tem pedigree; esta rainha tomba com
mais ou menos facilidade e só se sacri-
Æca em último caso. The Queen’s Gam-
bit é uma série sobre xadrez, feminis-
mo e dependência.
Baseada no livro de 1983 de Walter
Tevis, é uma minisérie de sete episó-
dios centrada em Beth Harmon, uma
menina que sobrevive à mãe, à adop-
ção e aos orfanatos e que se revela um
prodígio do xadrez. Protagonizada
por Anya Taylor-Joy, é realizada e
escrita por Scott Frank (nomeado
para dois Óscares por Logan e Roman-
ce Perigoso, de Steven Soderbergh).
“São sete horas em que eu cresço,
jogo xadrez e combato os meus demó-
nios. Espero que as pessoas se aguen-
tem até ao Æm”, disse a actriz à revis-
ta Interview. Entretanto, a sua jogada
de mestre prende a atenção.
Minisérie de sete episódios
centrada em Beth Harmon
(protagonizada por Anya
Taylor-Joy): uma menina que se
revela um prodígio do xadrez
The Queen’s Gambit estreou-se a 23
de Outubro e começou a ganhar trac-
ção entre críticos e espectadores,
que, não sendo triunfantemente
unânimes, reconhecem a qualidade
da produção, da direcção de arte,
dos Ægurinos — e o vício. O vício de
ver mais uns quantos episódios e o
retrato do vício, sob a forma de tran-
quilizantes, que vai pintando a série
com tons de surrealismo e onirismo
e permite manter fachadas, tão
importantes naqueles Ænais dos anos
1960 que habita.
Menina-mulher
Outra das características deste mun-
do de streaming e ecrãs de telemóveis,
computadores, Smart TV e quejandos
é que, se a NetÇix não revela dados
sobre as audiências dos seus títulos,
agora mostra quais os dez mais popu-
lares em cada país. E lá está ela, à
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 31
ecrãs
NETFLIX
altura da escrita deste texto: The
Queen’s Gambit no número 1, a série
mais popular entre os espectadores
da plataforma em Portugal.
A sua actriz já é um fenómeno e
sê-lo-á provavelmente mais (tem na
calha uma prequela de Mad Max),
mas é a construção da personagem,
e das que a rodeiam (interpretadas
pela actriz/realizadora Marielle
Heller, Thomas Brodie-Sangster,
Moses Ingram, Harry Melling ou Bill
Camp), que está a cativar os especta-
dores. Preparou-se a fundo para
representar alguém que cresce entre
os 15 e os 21 anos e que representa a
sua versão de uma mulher emancipa-
da. “Ela compreende tão bem o seu
génio, que não compreende por que
é que alguém pensaria que o facto de
ser rapariga a menoriza, o que é uma
forma maravilhosa de interagir com
o mundo”, explica na Interview.
Guia
publico.pt/streaming
Estreias da semana
HBO PORTUGAL
Small Axe
Segunda-feira
Steve McQueen, o realizador
britânico, ruma ao streaming para
uma série de antologia feita de
basicamente cinco Ælmes. Pela
primeira vez, atira-se, com a
ajuda de actores como John
Boyega ou Letitia Wright, à vida
negra em Inglaterra, focando-se
na comunidade originária das
Antilhas em Londres entre 1969
e 1982.
HBO PORTUGAL
Twin Peaks
Quarta-feira
O clássico do início dos anos 1990,
uma criação de David Lynch a
meias com Mark Frost, chega à
HBO. São as duas primeiras
temporadas, feitas na altura, e a
sequela de 18 episódios de 2017.
TVCINE EMOTION
Schitt’s Creek
Quinta-feira, 22h10
Entre 2015 e 2020, esta série
cómica da dupla canadiana de pai
e Ælho Eugene e Dan Levy
centrou-se numa família abastada
que Æcou sem dinheiro e se viu
obrigada a viver num motel. Com
a lenda da comédia Catherine
O’Hara, a série limpou os Emmy
este ano: ganhou sete.
DISNEY +
The Real Right Stuź
Sexta-feira
A história dos Mercury Seven, os
primeiros astronautas americanos
no espaço, foi contada no livro
The Right Stuè, de Tom Wolfe, de
1979, que, quatro anos depois, deu
origem ao Ælme homónimo de
Philip Kaufman. Em Outubro,
estreou-se uma nova adaptação
televisiva a cargo de Mark Laèerty.
Este documentário conta a
história verdadeira.
FILMIN
O Colapso
Sexta-feira
Nesta criação do colectivo francês
Les Parasites, relevante para os
dias que correm, a sociedade
colapsa de um dia para o outro. O
que é que as pessoas fazem
quando tudo o que conheciam
desaparece? Respostas em oito
episódios de 25-30 minutos.
32 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Guia
Cinema
EM ESTREIA
Amor Fati
De Cláudia Varejão. POR. 2020.
101m. Documentário.
O título vem de uma frase latina
ligada aos Ælósofos estóicos. “Amor
fati“ signiÆca “o amor ao destino“,
a ideia de que tudo o que acontece
na vida, bom ou mau, acontece por
um motivo. Este Ælme é uma
manifestação dessa ideia.
Apostando numa abordagem
emocional às pessoas que Ælma,
Cláudia Varejão (“No Escuro do
Cinema Descalço os Sapatos“,
“Ama-San“) constrói um mosaico
para olhar o quotidiano de
indivíduos muito diferentes -
irmãs, mães e Ælhas, donos e
animais, famílias -, que se tornam
de certa forma parecidos por
estarem ligados por algum tipo de
amor. A autora descreve-o como
uma “celebração da vida“, mas
também um olhar íntimo sobre
vozes interiores que fazem de cada
um de nós quem somos.
Casa Grande
De Fellipe Barbosa. Com
Marcello Novaes, Suzana Pires,
Thales Cavalcanti. BRA. 2014.
115m. Drama. M12.
Pertencente a uma família da classe
alta do Rio de Janeiro, Jean, de 17
anos, foi habituado a tudo o que o
dinheiro pode comprar. Vive com
os pais e a irmã numa enorme casa
com seguranças, estuda num dos
melhores colégios da cidade e é
servido por empregados atentos a
todas as suas necessidades. O que
ele ainda não sabe é que tudo
aquilo está prestes a mudar. Os
pais, afundados em graves
problemas Ænanceiros, há muito
que se esforçam por manter as
aparências. Quando Jean dá por si
a fazer o trajecto de casa para a
escola de autocarro, vai conhecer
um mundo totalmente diferente do
seu. Nesse mundo está a bela
Luiza, uma jovem da classe média
por quem ele se apaixona.
EM CARTAZ
Listen
De Ana Rocha de Sousa. Com
Lúcia Moniz, Sophia Myles, Ruben
Garcia, Kiran Sonia Sawar,
António Capelo. GB/POR. 2020.
73m. Drama. M14.
O drama vivido por uma família
portuguesa emigrada no Reino
Unido, a quem os serviços sociais
Cartaz, críticas, trailers e passatempos em cinecartaz.publico.pt
A lista completa
de salas e filmes Ao vivo
em cartaz em
cinecartaz.publico.pt
O realizador italiano Matteo
Garrone assina esta adaptação ao
cinema do famoso conto de Carlo
TEATRO Em destaque
Collodi sobre Pinóquio, o boneco
de madeira que ganha vida e sonha A Confissão de Lúcio
tornar-se um menino de verdade. LISBOA Centro Cultural de
Belém. De Mário de Sá-Carneiro.
Trolls: Tour Mundial Enc. André Murraças. Com
De Walt Dohrn, David P. Smith. Francisco Goulão, Isac Graça e
retiram a guarda dos três Ælhos, Com Anna Kendrick (Voz), Justin João Cachola. De 12/11 a 16/11, às
que consideram em risco de sofrer Timberlake (Voz), Rachel Bloom 19h. 12,50€. M/12
danos emocionais. Desesperados, (Voz), Sam Rockwell (Voz). EUA. Amor, obsessão, loucura e
os pais tentam provar que são 2020. 90m. Comédia. M6. suicídio são os ingredientes desta
capazes de cuidar das crianças, Os trolls são pequenas criaturas novela, escrita por Mário de
antes que seja demasiado tarde. cuja alegria é diariamente Sá-Carneiro e apresentada como
demonstrada em cantigas, danças uma “incursão pela mente Manoel de Oliveira Fotógrafo
O Capital no Século XXI e abraços. Nesta aventura, Poppy e humana, passada entre a Lisboa Uma exposição que reúne mais
De Justin Pemberton. FRA/Nova Branch descobrem algo espantoso: dos cafés literários e a Paris de uma centena de fotografias,
Zelândia. 2019. 103m. há outros mundos povoados por boémia e aristocrática, numa tiradas entre fins dos anos 30 e
Documentário. M14. trolls além do seu e cada um dos espiral decadente”. meados dos 50, na sua maioria
Editado, pela primeira vez, em clãs é devoto do seu estilo musical inéditas, encontradas no
2013, o livro “O Capital no Século preferido. Heading Against The Wall arquivo pessoal de Manoel de
XXI“ é um estudo em que o LISBOA Lux e online (Teatro do Oliveira, depositado em
economista Thomas Piketty analisa Salma e o Grande Sonho Bairro Alto e redes sociais). Serralves. A curadoria é de
a dinâmica da repartição dos De Carlos Gutiérrez Medrano. De Cão Solteiro & André António Preto, director da Casa
rendimentos e da riqueza nos Com Camila Amezcua (Voz), Godinho. Com Cecília do Cinema Manoel de Oliveira.
países desenvolvidos. Depois de se Rocco Amezcua (Voz), Connor Henriques, Greg Wohead e PORTO Museu de Serralves -
ter transformado num Andrade (Voz). MEX. 2019. 88m. Paula Sá Nogueira. De 13/11 a Casa do Cinema. De 23/10 a
“best-seller“, é agora transposto Animação. M6. 16/11, às 19h. 12€. M/16. 18/4. Todos os dias, das 10h às
para o grande ecrã. Salma, que nun
nunca conheceu os pais Duração: 1h40m. 18h (sábado e domingo, até às
biológicos, vive há muito com a sua Integrado no Alkantara Festival, e 19h; dias 21 e 22/11 encerra às
Pinóquio amável família adoptiva.
a Mesmo parte da programação do Teatro 13h). 12€
De Matteo sabendo que os progenitores já do Bairro Alto no espaço nocturno
Garrone. nã
não estão entre os lisboeta, um espectáculo que leva
Com vi
vivos, ela nunca a palco conceitos/preocupações
Federico
to
Ielapi, Roberto
per
perdeu a esperança de
o e
os encontrar no
como intimidade, informação ou
censura. Sem regras nem guião
FESTIVAL
co
Benigni, Rocco trad
tradicional festival do Æxo, três intérpretes respondem a FIIN 2020 - Festival
Papaleo, D
Dia dos Mortos, em perguntas, partilhando Internacional de Imagem
Massimo que se acredita que informações que oscilam entre o de Natureza
TA.
Ceccherini. ITA. os que já partiram excesso e o necessário e onde nem VILA REAL Teatro de Vila Real.
2019. 125m. visi
visitam os seus sempre está visível a linha que De 16/11 a 22/11. Grátis
Drama. M12. familiare
familiares mais queridos. separa a verdade da Æcção. Sensibilizar para a protecção do
património natural em três frentes
A Ratoeira artísticas: cinema, fotograÆa e
As estrelas Jorge
Mourinha
Luís M.
Oliveira
Vasco
Câmara
LISBOA Teatro Armando
Cortez. Enc. Paulo Sousa Costa.
desenho. É esta a missão do
festival. Chega à quarta edição com
De Yellow Star Company. Com uma programação que, embora
Ruy de Carvalho, Ângelo ajustada aos constrangimentos do
Rodrigues, Beatriz Barosa, Elsa momento, não prescinde de exibir
Galvão, Filipe Crawford, curtas-metragens num subfestival
Amor Fati mmmmm mmmmm — Henrique de Carvalho, Luís sobre o tema, de premiar trabalhos
O Capital no Século XXI mmmmm mmmmm mmmmm Pacheco e Sofia de Portugal. nas suas áreas de alcance e de
Até 30/11. Segunda, às 20h; espalhar exposições por Vila Real,
Listen mmqmm mmmmm mmmmm
quinta a sábado, às 21h; culminando numa gala FIIN’All
O Ninho — mmmmm mmmmm domingo, às 18h30 (excepto 21 online.
Notre Dame de Paris — mmmmm mmmmm e 22/11). 17€ a 20€. M/12.
Duração: 1h30m.
mmmmm mmmmm
On the Rocks
Pinóquio
—
mmmmm — mmmmm
Adaptação portuguesa da peça da
grande dama do crime, do policial
EXPOSIÇÕES
Pig-Porco mmmmm mmmmm — e do mistério Agatha Christie. René Lalique e a Idade do Vidro.
Esteve dezenas de anos Arte e Indústria
Quatro Contos de Gabriel Abrantes mmmmm — mmmmm
consecutivos em exibição em LISBOA Museu Calouste
Rebecca — a a Londres, desde a estreia em 1952. Gulbenkian — Galeria do Piso
O Sal das Lágrimas mmmmm mmmmm mmmmm Tudo se passa num pequeno hotel Inferior. De René Lalique.
onde um hóspede é assassinado De 30/10 a 1/2. Todos os dias
a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
e... todos são suspeitos. (excepto terça), das 10h às 18h
Mais sugestões em lazer.publico.pt
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 33

Guia

Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas,
bridge e sudoku em
publico.pt/jogos

(dias 21 e 22/11, das 9h30

às 12h). Grátis
Jóias, jarras e objectos de decoração
estão presentes na centena de
peças da autoria do mestre vidreiro
e joalheiro (1860-1945), num
percurso ancorado em dois
momentos importantes da sua
carreira: a Exposição Universal de
1900 e a Exposição Internacional
de Artes Decorativas e Industriais
Modernas de 1925. A curadoria é de
Luísa Sampaio.
Vintage Pub - A Memória
das Farmácias
LISBOA Museu da Farmácia.
De 16/10 a 31/1. Todos os dias,
das 10h às 19h (21 e 22/11, das
10h às 13h). Grátis
A mostra reúne anúncios de
medicamentos da década de 1960,
publicados no Grémio Nacional das
Farmácias, que representava o
sector farmacêutico durante a
ditadura. Dividida em quatro
secções — Corpos Sãos, Pelas
Crianças, De Bom Humor e Nunca
Esquecidos —, a publicidade procura
“não só valorizar a estética de cada
um, mas também as histórias e
lembranças por detrás de cada
anúncio”, refere o comunicado.
PRÓXIMOS DIAS
Terça Teatro O Balcão (Porto,
Teatro Nacional São João); Ned
Kelly (Cacém, Auditório Municipal
António Silva); As Troianas (Braga,
Theatro Circo); Prelúdio ao Rei
Lear (Almada, Teatro Municipal
Joaquim Benite) Quarta Dança
Coreografia - NANT 2020 (Viseu,
Teatro Viriato) Teatro Jogo do Fim
(Caldas da Rainha, Teatro da
Rainha); Maria, A Mãe (Lisboa,
Teatro da Trindade) Quinta
Música Adriana Calcanhotto (Vila
Nova de Famalicão, Casa das
Artes) Outros O Fabuloso Circo
de Natal (Porto, Alfândega do
Porto - Immersivus Gallery)
ÚLTIMOS DIAS
Cruzadas 11.163
Horizontais: 1. Tolerância. 2. Dispositivo de circulação extracorporal que permite substituir
temporariamente a função do coração e dos pulmões. Incógnita (fig.). 3. Interjeição
designativa de alívio. Lavrei. Nome masculino. 4. Tranquilidade pública. Criatura.
5. Associação das Nações do Sudeste Asiático. Emite a sua opinião. 6. Interjeição designativa
de dor. Igualmente. 7. Quilograma (abrev.). Euro (abrev.). Oportunidade. 8. Lewis (...),
conquistou o sétimo título mundial de Fórmula 1 e igualou Schumacher. Pátria de Abraão.
9. Inerente. «Se esta semana é curta, (...) dias traz a outra». 10. Autoridade Tributária e
Aduaneira. Coluna monolítica destinada a ter inscrição. 11. Redução de leste. Conduziram.
Verticais: 1. Dar upas (a cavalgadura). Respeitante ao osso hióide. 2. Aquilo que se não deve
dizer porque é injusto ou ilícito. N´Golo (...), jogador francês, marcou um golo e afastou
Portugal da final a quatro da Liga das Nações. 3. Numeração romana (600). Figura de
elocução em que se subentende na oração uma palavra já expressa noutra. 4. Alguma.
Suspiro. Sufixo (inflamação ou mineral). 5. Sophia (...), aos 86 anos, protagoniza o filme Uma
Vida à sua Frente. Ligação (fig.). 6. Estrada Nacional. Nomenclatura de Unidade Territorial. A
minha pessoa. 7. Resultado feliz. Megan (...), autora do livro Super Digestão. Tudo o que
precisa de comer e fazer para a saúde do seu aparelho digestivo. 8. Letra grega
correspondente a n. Prefixo (sobre). Filha de filha ou filho. 9. Letra grega correspondente ao X.
Viagem. Possuir. 10. País de origem de médicos que em Portugal são operários.
11. Procedo. Forte afeição. Antes do meio-dia.
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Deodoro. Sem. 2. Erse. Arfada. 3. Sr. Sam. Ágil. 4. Porto. Abate. 5. Er. EUR. Aa.
6. Rigor. LIV. 7. Mi. Afacia. 8. Conato. Açor. 9. Areca. ONU. 10. Cm. Aiola. Dm. 11. Outro. Ósseo.
Verticais: 1. Despir. Ceco. 2. Erro. Imo. Mu. 3. Os. Regina. 4. Destro. Arar. 5. Ao. Rateio. 6. RAM. Foco.
7. Or. Aula. Aló. 8. Fábrica. As. 9. Saga. Viço. 10. Edita. Aonde. 11. Malear. Rumo.
João Fanha/Luís A.Teixeira © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
Problema 11.000
Dador: Norte surpreendido com a balda de uma Dificuldade: Fácil
Vul: NS espada por parte de Este. Como
não quis ceder uma vaza a copas
NORTE para Oeste, tentou a passagem a
Ƅ A2
Ɔ AK10832
ouros. Foi para o cabide assim
que Oeste fez o Rei de ouros e
Ƈ J5
ƅ Q54 voltou a jogar paus, Este pode
fazer quatro vazas a paus.
OESTE ESTE
O jogador em Sul fez um erro Solução do
Ƅ Q54 Ƅ 108763 problema 10.098
Ɔ Q976 Ɔ5 mental. Não antecipou a questão
Ƈ K83 Ƈ 62 de evitar dar a mão a Oeste.
ƅ 982 ƅ AJ1076 Como lhe basta fazer cinco vazas
SUL a copas para atingir as nove vazas
Ƅ KJ9 necessárias para cumprir, tudo o
Ɔ J4
Ƈ AQ10974 que havia a fazer era jogar o 2 de
ƅ K3 espadas na terceira vaza do jogo
(logo após o Rei de copas sobre a
Dama de Oeste) para jogar o 4 de
copas para o 8 do morto. Mesmo
Oeste Norte Este Sul que Este faça esta vaza, o
1Ɔ passo 2Ƈ contrato está garantido.
passo 2Ɔ passo 3ST Problema 11.001
Todos passam Considere o seguinte leilão: Dificuldade: Médio
Oeste Norte Este Sul
Leilão: Equipas ou partida livre. 1Ɔ passo 1Ƅ
Carteio: Saída: 9ƅ. Qual a melhor
linha de jogo?
passo 2Ɔ passo ?

Teatro Festival de Teatro de
Viana do Castelo 2020 (Viana do
Castelo, Teatro Sá de Miranda.
Até dia 18) Festival Quinzena
Gastronómica da Aguardente
DOC Lourinhã (Lourinhã. Até dia
22) Expos Budonga; Metafísica
(Lisboa, Galeria Zé dos Bois. Até
dia 28)
lazer@publico.pt
Solução: Numa mesa de partida
livre, o jogador em Sul, conhecido
por “puxar” sempre o carteio para
si, preferiu jogar 3ST em vez do
melhor contrato de quatro copas.
Tal como o leilão, também o
carteio deixou muito a desejar.
Jogou um pequeno pau do morto,
Este o 10 e Sul fez a vaza com o
Rei de paus. Seguiu-se o Valete de
copas que Oeste cobriu com a
Dama e Norte com o Rei. Quando
o carteador decidiu bater de
seguida o Ás de copas, foi
O que marcaria, com a mão
seguinte?
ƄAQ1072 ƆKJ3 Ƈ2 ƅA1043
Solução do
Resposta: Marque quatro ouros. É problema 10.099
um Splinter, mostra um singleton
a ouros e um bom apoio a copas.
Se o parceiro não tiver “valores
perdidos” no naipe de ouros, o
cheleme será viável.
34 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Guia
CINEMA
Technoboss
TVCine Edition, 22h
Luís Rovisco (Miguel Lobo
Antunes) é director comercial de
uma empresa de equipamentos de
segurança. Divorciado há anos e
prestes a entrar na tão ansiada
reforma, reencontra casualmente
Lucinda, uma antiga paixão que
tentará recuperar a todo o custo.
Esse encontro dá-lhe uma nova
esperança no futuro e uma
vontade enorme de ser feliz.
Estreado mundialmente na secção
competitiva do Festival de Cinema
de Locarno (Suíça), Technoboss é a
terceira longa de Æcção com
assinatura de João Nicolau.
O Cavaleiro das Trevas
Fox, 22h15
Depois de Batman: O Início, o
homem-morcego, interpretado
por Christian Bale, regressa para
continuar a lutar contra o crime,
desta vez, tendo como inimigo o
malogrado Heath Ledger no papel
de Joker. Em colaboração com o
tenente Jim Gordon (Gary
Oldman) e com o procurador
Harvey Dent (Aaron Eckhart),
depois tornado o vilão Duas Caras,
Batman limpa Gotham dos
criminosos... Até a cidade
mergulhar no caos criado pelo
maquiavélico e genial Joker.
Realizado por Christopher Nolan,
o Ælme Æcou marcado pela morte
de Ledger, que teve em Joker o seu
último grande papel — seria
distinguido com o Óscar de
melhor actor secundário. O
Cavaleiro das Trevas ganhou
também uma estatueta dourada
pela edição de som.
Tom na Quinta
RTP2, 23h52
Tom é um jovem publicitário que
chega a uma zona rural do
Quebeque (Canadá) para assistir
ao funeral de Guillaume, o
namorado. Percebe que a mãe
dele nunca ouviu falar de si —
tão-pouco da homossexualidade
de Guillaume. O segredo é
mantido por Francis, o Ælho mais
velho, um homem violento que
está decidido a manter as
aparências. Durante o tempo
passado naquele lugar, Tom é
obrigado a menosprezar a sua dor,
fazendo-se passar por um simples
amigo. Mas a decisão de esconder
quem é tem consequências
aterradoras, que farão dele a
maior vítima daquela encenação.
Xavier Dolan Ælma e protagoniza
este thriller psicológico, com
banda sonora de Gabriel Yared,
que adapta a peça homónima de
Michel Marc Bouchard. Ganhou o
Prémio Fipresci no Festival de
Veneza.
Televisão Os mais vistos da TV
Sábado, 14
Futebol - L. das Nações
% Aud. Share
RTP1 27,3
Telejornal RTP1 14,0
Terra Nossa SIC 13,4
Bem Me Quer TVI 12,3
Primeiro Jornal SIC 11,1
FONTE: CAEM
RTP1 RTP2
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da 7.00 Espaço Zig Zag 10.18 Ruas com
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.15 História e Memória: Chiado, Lisboa
Fabrico Internacional: Couro Azul 10.44 Último Tango em Halifax 11.38
14.48 A Nossa Tarde 17.30 Portugal Maravilhas da China: O fascínio pela
em Directo 19.08 O Preço Certo porcelana azul e branca 12.10 Judi
Dench no Bornéu Selvagem 12.58 Os
Daltons 13.06 Chovem Almôndegas
13.17 Tufão 13.31 A Ilha dos Desafios
19.59 Telejornal 13.53 Folha de Sala 14.00 Sociedade
Civil: Jovens e as eleições nos EUA
15.01 A Fé dos Homens 15.34 E2 -
21.00 Outras Histórias 21.33 Joker Escola Superior de Comunicação
Social 16.02 Vida Selvagem: As
vespas dos Camarões 16.56 Espaço
22.27 Herdeiros
iros Zig Zag 20.29 Cidades Antigas
de Saramago: o: Escondidas: Atenas 21.21 Hora da
Paulo José Sorte - Lotaria Nacional
Miranda e José
sé
Luís Peixoto
21.30 Jornal 2
22.04 Folha de Sala
23.36 Soldado Milhões
22.08 Heróis Silenciosos
0.22 Prova Oral
1.53 Crimes Graves
3.18 O Sábio
SIC
6.00 Edição da Manhã 9.00 Alô 22.58 Visita Guiada: Tavira 23.52 Tom
Portugal 10.00 Casa Feliz 13.00 na Quinta 1.36 Esec-Tv 2.03
Primeiro Jornal 14.30 Rainha das Sociedade Civil: Jovens e as eleições
Flores 15.30 Júlia 18.20 Viver a Vida nos EUA 3.05 Euronews 5.46 Lusitana
18.50 Êta Mundo Bom Paixão
19.57 Jornal da Noite TVI
6.00 Os Batanetes 6.30 Diário da
21.40 Nazaré
é Manhã 10.15 Você na TV!
13.00 Jornal da Uma
14.55 Destinos Cruzados 16.00 A
Tarde É Sua 18.15 Big Brother - A
Revolução: Última hora 19.15 Big
Brother - A Revolução: Diário
22.30 Terra Brava
23.15 Golpe de Sorte 19.57 Jornal das 8
0.00 Totalmente Demais 21.50 Bem Me Quer 22.57 Amar
Demais 0.00 Big Brother - A
0.50 Passadeira Vermelha Revolução: Extra 2.00 Big Brother - A
Revolução: Ligação à casa 2.37 A
2.30 Linha Aberta Outra
RTP1 17,6%
43,7
RTP2 0,8
24,8 SIC 15,4
TVI
24,0
22,6 13,0
Cabo
24,1
37,6
TVCINE TOP
14.45 Os Órfãos de Brooklyn 17.05 Le
Mans ‘66: O Duelo 19.40 A Vida de Um
Campeão 21.30 Mulherzinhas 23.45
Vita & Virginia 1.35 Kursk
FOX MOVIES
14.09 Tombstone 16.18 Boneca
Mecânica 17.49 Barb Wire: Bela e
Perigosa 19.18 O 5.º Elemento 21.15
Assalto ao Arranha-Céus 23.19 Desafio
Total 1.11 Blow Out - Explosão
CANAL HOLLYWOOD
13.25 Um Sonho Possível 15.40 Homem
Demolidor 17.35 Para Além da Máscara
19.20 Dá & Leva 21.30 Battleship:
Batalha Naval 23.35 Apanha-me Esse
Gringo 1.10 Repo Men: Os Cobradores
AXN
18.40 S.W.A.T.: Força de Intervenção
22.00 L.A.’s Finest: Polícias de Los
Angeles 23.35 Gotti - Um Verdadeiro
Padrinho Americano
FOX
17.15 C.S.I Miami 18.50 Chicago P.D.
20.29 Hawai Força Especial 22.15 O
Cavaleiro das Trevas 1.02 Foge
DISNEY
17.19 Lab Rats 18.03 Anfibilândia 18.25
Cry Babies Magic Tears 18.31 Gravity
Falls 19.16 Os Green na Cidade Grande
20.05 Sadie Sparks 20.30 Anfibilândia
20.55 Lab Rats 21.45 Gabby Duran Alien
Total 22.10 Jessie 23.00 Coop & Cami
DISCOVERY
17.30 Alasca: A Última Fronteira 19.15
Desmontar a História
HISTÓRIA
17.41 Os Líderes do Nazismo 19.09 II
Guerra Mundial, Momentos Chave 20.51
11 de Setembro: a Bordo do Air Force
One 22.15 Washington 23.36 América:
Momentos Decisivos 0.58 Mundos
Perdidos
ODISSEIA
17.28 Mundos Inexplorados com Steve
Backshall 18.18 O Veterinário de
Yorkshire 19.02 Guerreiros do Ar 19.54
Porta-Avioes em Guerra 21.38 Mestres
da Engenharia 22.30 Mega Barcos 0.12
Mestres da Engenharia
DOCUMENTÁRIO
Herdeiros de Saramago
RTP1, 22h27
Estreia, com episódio duplo. A
série vai ao encontro dos 11
escritores galardoados com o
Prémio Literário José Saramago,
atribuído de dois em dois anos
desde que foi instituído em 1999,
um ano depois da nobelização de
Saramago. Seguindo a ordem
cronológica, abre com Paulo José
Miranda, premiado por Natureza
Morta. Segue-se José Luís Peixoto,
autor de Nenhum Olhar. Depois
das antestreias nos festivais
IndieLisboa e Curtas Vila do
Conde, Herdeiros de Saramago
chega à televisão no dia em que
José Saramago faria 98 anos. Tem
autoria de Carlos Vaz Marques e
realização de Graça Castanheira,
que quiseram, “na primeira
pessoa do singular, documentar
de um modo próximo — em
retratos íntimos e afectivos —
alguns dos escritores que estão,
neste momento, a construir o
futuro da literatura em língua
portuguesa”. Adriana Lisboa,
Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo
Mãe, João Tordo, Andréa del
Fuego, Ondjaki, Bruno Vieira
Amaral, Julián Fuks e Afonso
Cabral protagonizam os próximos
capítulos (para ver até 21 de
Dezembro, à segunda-feira).
SÉRIE
Soldado Milhões
RTP1, 23h36
Primeiro de três episódios da
versão em minissérie do Ælme de
guerra realizado por Gonçalo
Galvão Teles e Jorge Paixão da
Costa, segundo um argumento de
Mário Botequilha. É a história de
Aníbal Augusto Milhais ( João
Arrais em jovem; Miguel Borges
em adulto), um soldado do Corpo
Expedicionário Português que se
tornou um herói da I Guerra
Mundial. Contrariando ordens
superiores e armado apenas com
uma metralhadora, enfrentou
sozinho sucessivas ofensivas
alemãs, garantindo a retirada de
vários companheiros
INFANTIL
Super Wings
Panda, 19h30
Estreia da quinta temporada. Jett,
Dizzy, Donnie, Astra e muitas
outras aeronaves prestáveis,
simpáticas e algo trapalhonas
estão de volta. Há mais
encomendas para entregar a
crianças de todo o mundo,
culturas a descobrir e aventuras à
espera — agora, na companhia de
novos parceiros: os super pets.
 Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 35

Guia

loja.publico.pt
Meteorologia Iniciativas lojaonline@publico.pt
210 111 010/020

PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA

Viana do Castelo
Bragança Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira
17º
12º
16º
13º 20º 14º 21º 12º 20º 12º 18º
4º
Braga
18º
9º Vila Real Índ. UV: médio Índ. UV: médio Índ. UV: baixo Índ. UV: médio
15º Porto Vento: fraco Vento: fraco Vento: fraco Vento: fraco
17º
2-3m 18º 7º Humidade: 85% Humidade: 87% Humidade: 83% Humidade: 72%
11º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 18º Mauna Loa, Havai Portugal
19º 10º 21º
12º 12º Partes por milhão
Porto Muito
(ppm) na atmosfera Bom
Coimbra
Coimbra Bom
21º Semana 1 Nov. 411,7
12º Castelo Branco
Última semana − Lisboa Médio
19º 409,86
Leiria 11º Há um ano
20º Há dez anos 388,03 Fraco
14º Évora
Nível de segurança 350
280 Mau
Santarém Nível pré-industrial Faro
Portalegre
22º
12º 20º
10º SOL LUA
Lisboa 15 Nov.- 05h07
20º 22 Nov. - 04h45
13º Évora
Setúbal 21º Nascente Poente 30 Nov. - 09h30 Nascente Poente
20º 12º
13º
07h21 17h22 8 Dez. - 00h37 08h42 18h35

Sines Beja EUROPA

Helsínquia
20º 22º Oslo
17º 12º Estocolmo
14º
2-2,5m Talín

Riga
Copenhaga

Dublin Vílnius
Berlim
Amesterdão
Sagres Londres Varsóvia
21º
15º Bruxelas
20º Faro Praga
17º Paris Viena
19º Budapeste
Zurique
1m

Açores Milão

Roma
Corvo
Istambul
Madrid
Lisboa
Flores Graciosa
21º 18º Atenas
19º 14º
São Jorge 20º Terceira 2,5m
1,5-2m 15º

Faial
Pico
TEMPERATURAS ºC
São Miguel Min. Máx. Min. Máx.
20º
19º 16º Amesterdão 9 13 Bissau 20 35
1m Atenas 11 19 Buenos Aires 17 23
Ponta Delgada
Berlim 8 12 Cairo 16 24
Sta Maria
Bruxelas 9 11 Caracas 20 27
Madeira Bucareste 2 12 Cid. do Cabo 15 21
Madeira Porto Santo Budapeste 5 8 Cid. do México 10 22
23º Dublin 12 14 Díli 24 33
22º 20º 21º
Estocolmo 8 11 Hong Kong 22 28
1,5m 23º
1,5m
14º Frankfurt 7 12 Jerusalém 11 16
Funchal Genebra 2 11 Los Angeles 14 31
Istambul 7 16 Luanda 24 29
Kiev -4 3 Nova Deli 14 24
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã
Londres 11 12 Nova Iorque 5 12
Leixões m Cascais m Faro m Madrid 9 18 Pequim 7 13
Moscovo -7 -1 Praia 23 30
15h30 3,7 15h05 3,7 15h14 3,6
Oslo 4 10 Rio de Janeiro 23 30
09h14 0,3 08h48 0,4 08h44 0,3
Paris 8 13 Singapura 26 31
Praga 6 10 Sydney 17 22
03h49* 3,7 03h25* 3,7 03h35* 3,6 Roma 10 19 Tóquio 13 22
21h36 0,4 21h09 0,6 21h05 0,4 Viena 7 10 Toronto 2 5
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
36 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
Desporto Mundiais de F1 e MotoGP Ɗcaram a conhecer os seus campeões
O activista
que igualou
o recorde do
rival do ídolo
Com a vitória na Turquia, Lewis
Hamilton sagrou-se heptacampeão do
mundo de Fórmula 1, proeza apenas
conseguida por Michael Schumacher
David Andrade
A 1 de Maio de 1994, dia em que Ayr-
ton Senna morreu, após perder o
controlo do seu Williams na curva
Tamburello do Grande Prémio de
Imola, Lewis Hamilton tinha nove
anos. O jovem inglês, na altura piloto
de karting, soube da morte do brasi-
leiro ao lado do pai, enquanto repa-
ravam um automóvel. Mais tarde,
recordou o dia em que perdeu “o
herói”: “Lembro-me de me distanciar
e procurar um lugar afastado. O meu
pai não me deixava chorar.” A fatídica
corrida em Imola ditou o Æm abrupto
de uma rivalidade que se previa inten-
sa entre Senna e Michael Schumacher,
e o início de uma nova era na Fórmu-
la 1: nesse ano, o alemão venceu o
primeiro de sete títulos mundiais.
Vinte e seis anos depois da morte de
Senna, Hamilton igualou o recorde de
Schumacher e garantiu que continua-
rá a tentar ser um “exemplo para a
próxima geração”.
A história da F1 está repleta de pilo-
tos icónicos. Para muitos, o melhor
de sempre foi Juan Manuel Fangio,
que na década de 50 conquistou por
cinco vezes o título mundial. Nos anos
seguintes, passaram pela prova rai-
nha do automobilismo pilotos que
viraram lendas, como Jim Clark,
Jackie Stewart, Niki Lauda ou Alain
Prost, mas o mítico recorde do argen-
tino parecia destinado a cair nas mãos
de Ayrton Senna.
E foi a ver o brasileiro pilotar de
forma vertiginosa nos circuitos de F1
que Hamilton se inspirou em criança:
“Eu era atraído pelo Senna porque o
seu estilo de pilotar parecia ser dife-
rente de qualquer outra pessoa. Com-
parado com todos os outros, parecia
CLIVE MASON/REUTERS
nunca ter medo, o que para mim era
uma vantagem.”
A morte de Senna fez perdurar por
mais alguns anos o recorde de Fangio,
mas deu início a uma nova era na F1.
Sem o brasileiro e sem os grandes
nomes que marcaram a década de 80
(Prost, Piquet ou Mansell), Schuma-
cher impôs-se com alguma facilidade,
tornando o “circo” aborrecido. Entre
1994 e 2004, o alemão coleccionou
recordes, que apenas não atingiram
números mais expressivos devido a
más opções de Schumacher na gestão
da sua carreira.
No Ænal de 2006, depois de ter per-
dido dois campeonatos consecutivos
para Fernando Alonso, Schumacher
saiu de pista e o espanhol, que até aí
não tinha em Giancarlo Fisichella um
rival à altura na própria equipa, pas-
sou a ter um concorrente directo
dentro da McLaren.
Com apenas 22 anos, Hamilton viu
a escuderia onde Senna conquistou
três títulos mundiais abrir-lhe as por-
tas da F1 e o impacto do jovem piloto
foi imediato: em 2007, no ano de
estreia, o britânico foi vice-campeão,
perdendo por pouco o título para
Räikkönen; em 2008, sagrou-se cam-
peão pela primeira vez.
Os anos seguintes foram, no entan-
to, negativos. Com um McLaren pou-
co competitivo e alguns problemas
dentro e fora das pistas, Hamilton
perdeu protagonismo para outro pilo-
to da nova geração (Sebastian Vet-
tel).
Curiosamente, o ponto de viragem
na carreira do novo heptacampeão
mundial acabou por estar directa-
mente ligado a Schumacher. Em
2009, o alemão tinha regressado à F1
para ajudar a desenvolver os mono- Lewis Hamilton em cima do seu Mercedes a celebrar a conquista de mais um título mundial de F1

lugares da nova Mercedes GP — desde
CLASSIFICAÇÕES 1955 que a ligação do construtor de
Estugarda à F1 se resumia à cedência
de motores — e, quatro anos mais tar-
GP da Turquia
1.º
2.º
L. Hamilton (Mercedes) 1h42m19,313s
Sergio Perez (Racing Point) a 31,633s
de, Schumacher retirou-se deÆnitiva-
mente da competição, cedendo o seu
lugar na equipa a Hamilton.
O que se segue é história. Com um
3.º Sebastian Vettel (Ferrari) a 31,960s casamento perfeito com a marca ale-
4.º Charles Leclerc (Ferrari) a 33,858s mã, o piloto de Stevenage passou a
5.º
6.º
Carlos Sainz (McLaren) a 34,363s
Max Verstappen (Red Bull) a 44,873s
dominar a F1 de forma quase absolu-
ta e, em sete anos, apenas não se
7.º Alexander Albon (Red Bull) a 46,484s
sagrou campeão mundial uma vez:
8.º Lando Norris (McLaren) a 61,259s
em 2016, perdeu o título para Ros-
9.º Lance Stroll (Racing Point) a 72,353s
berg, o seu colega na Mercedes, por
10.º Daniel Ricciardo (Renault) a 95,460s
11.º Esteban Ocon (Renault) a 1 volta
cinco pontos.
Daniil Kvyat (AlphaTauri)
Ontem, depois de Hamilton con-
12.º a 1 volta
13.º Pierre Gasly (AlphaTauri) a 1 volta
quistar o sétimo título mundial ao
14.º Valtteri Bottas (Mercedes) a 1 volta vencer na Turquia a 14.ª prova da
15.º Kimi Räikkönen (Alfa Romeo) a 1 volta época, chegando assim aos 94 triun-
16.º George Russell (Williams) a 1 volta fos em Grandes Prémios, um novo
Mundial de pilotos máximo da modalidade, Vettel, o
1.º Lewis Hamilton (Mercedes) 307 pts
piloto que, a par de Senna, Schuma-
cher e Hamilton, mais impacto teve
2.º Valtteri Bottas (Mercedes) 197
nas últimas três décadas na modali-
3.º Max Verstappen (Red Bull) 170
dade, não teve dúvidas em dizer que
Mundial de construtores
o inglês era “o melhor da nossa era”.
1.º Mercedes 504 pts
Hamilton, no entanto, procura dei-
2.º Red Bull 240
xar a sua marca de uma maneira pou-
3.º Racing Point 154
co habitual no desporto. Tendo sem-
Próxima corrida:
pre Senna como referência, o inglês
GP da Malásia, 25 de Março
recusa comparações com o ídolo —
“jamais sugeriria que sou melhor do
que o Ayrton. Ele é o rei, e sempre
será” — e procura deixar um legado
nos mais jovens, tal como o brasileiro
deixou em si.
Reconhecido activista de causas
94
como o veganismo, a preservação do
ambiente, os direitos dos animais, a
luta contra o racismo — apoiou forte-e-
mente o movimento Black Lives Mat- at-
ter — ou os direitos das mulheres, s,
Hamilton, aos 35 anos, tornou-se um m
Número de vitórias em Grandes ícone a nível mundial. E não escondede
Prémios de F1 na posse de Lewis que quer aproveitar o “palco” que a
Hamilton. O anterior melhor F1 lhe dá para passar a sua mensagem m
registo era de 91 e pertencia a à próxima geração.
Michael Schumacher Logo após vencer na Turquia, o
britânico partilhou uma mensagem m ao circuito
nas redes sociais onde reconhece queue
“igualar o recorde de Michael Schu- u-
163
macher coloca” sobre si “um holofo- o-
te” que não terá “para sempre”: “Por or
isso, enquanto estão aqui, prestandodo
atenção, gostaria de vos pedir que ue
façam a vossa parte para ajudar a
criar um mundo mais igualitário”.
Recordando um “ano imprevisí- sí-
O piloto britânico também vel”, Hamilton confessou que o “lon- n-
detém o recorde de lugares go tempo de inactividade” devido à
no pódio em Grandes Prémios pandemia lhe deu tempo para “real- al-
mente pensar” que “sete campeona- a-
tos mundiais signiÆcam muito”, mas as
“há outra corrida que ainda não ven- n-
73
cemos”. “Prometo que não vou parar ar
de lutar por mudanças. Temos um m te
longo caminho a percorrer, mas vou ou
continuar a lutar pela igualdade no
desporto e no mundo em que vive- e-
mos. Vamos fazer com que as oportu- u-
nidades não dependam do estado do
Com a Mercedes, social ou da cor da pele. Muitos disse-
e-
Hamilton ultrapassou ram-me que o meu sonho era impos- s-
também Schumacher no sível, mas aqui estou eu. Quero que ue
número de triunfos numa saibas que também podes conseguir. ir.
mesma equipa Nunca desistas de continuar a
(o alemão somou 72 na Ferrari) lutar.”
Joan Mir, o campeão
improvável
Jorge Miguel Matias
O piloto espanho sucede ao
seu compatriota Marc
Márquez na lista de
vencedores do Mundial
de MotoGP
Joan Mir não era para ter sido piloto
de motos. Filho de um lojista que
comercializava patins, foi o skate que,
inevitavelmente, o atraiu quando era
criança. Mas esta paixão infantil aju-
dou-o no equilíbrio e na perícia que,
agora, evidencia nas pistas e o levou
ontem a sagrar-se campeão do mun-
do de MotoGP pela primeira vez, ape-
nas cinco anos depois de ter chegado
ao Mundial de motociclismo de velo-
cidade.
Haverá certamente quem desvalo-
rize o título de Mir. Primeiro, porque
foi alcançado numa temporada atípi-
ca e mais curta do que o normal, devi-
do à pandemia — o calendário tinha
previstas 20 corridas e ficou com 14.
Depois, porque foi obtido numa
época em que o crónico campeão
Marc Márquez não esteve praticamen-
te em pista — uma queda no primeiro
Grande Prémio do ano deixou-o KO e
Joan Mir
na volta
de honra
de Valência,
a festejar o seu
primeiro título
mundial
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 37
CLASSIFICAÇÕES
GP Comunidade Valenciana
MotoGP
1.º Franco Morbidelli (Yamaha) 41m22,478s
2.º Jack Miller (Ducati)
3.º Pol Espargaro (KTM)
(…)
6.º Miguel Oliveira (KTM)
Mundial pilotos
1.º Joan Mir (Suzuki)
2.º Franco Morbidelli (Yamaha)
3.º Alex Rins (Suzuki)
(…)
10.º Miguel Oliveira (KTM)
Moto2
1.º Jorge Martin (Kalex)
2.º Hector Garzo (Kalex)
3.º Marco Bezzecchi (Kalex)
Mundial pilotos
1.º Enea Bastianini (Kalex)
2.º Sam Lowes (Kalex)
3.º Luca Marini (Kalex) (Kalex)
Moto3
1.º Tont Arbolino (Honda)
2.º Sergio Garcia (Honda)
3.º Raul Fernandez (KTM)
Mundial pilotos
1.º Albert Arenas (KTM)
2.º Ai Ogura (Honda)
3.º Tony Arbolino (Honda)
Desporto
impediu-o de igualar os históricos sete
títulos mundiais de Valentino Rossi.
E, por último, por ter sido assegu-
rado “apenas” na penúltima prova do
Mundial e com somente uma vitória
no conjunto de corridas realizadas
esta temporada — obtida no passado
a 0,093s fim-de-semana, no Grande Prémio da
a 3,006s Europa, disputado no mesmo circuito
valenciano onde ontem acabou em
a 7,272s sétimo, o suficiente para abrir o cham-
panhe e fazer a festa.
171 pontos A verdade é que os segredos de Joan
142 Mir ao longo deste ano foram a regu-
138 laridade e a consistência. Sete idas ao
pódio em 13 corridas confirmaram a
100 sua superioridade sobre a concorrên-
cia numa época em que, face à ausên-
40m02,225s
cia de Marc Márquez, a luta pelo cep-
a 0,072s
tro de campeão mundial estava mais
a 0,204s
aberta do que nunca. E ontem bastou-
lhe terminar atrás do português
194 pontos
Miguel Oliveira, na sétima posição,
180
para suceder ao seu compatriota na
176
lista de campeões mundiais da cate-
38m17,462s
goria rainha do motociclismo de velo-
a 1,142s cidade, beneficiando ainda do aban-
a 1,297s dono de Fabio Quartararo e de Álex
Rins ter terminado fora do pódio.
170 pontos “Quando assinei com a Suzuki, não
1622 esperava ganhar tão rápido. Esta é
es
159 uma ‘família’ mais pequena e ganhar
um
co
com ela, sempre me disseram, tem
um mérito extra”, desabafou ontem
Mir, conhecedor que o emblema japo-
M
nês é, juntamente com a Aprilia, a
n
marca com o orçamento mais baixo
m
de todo o MotoGP, não possui nenhu-
ma equipa satélite e é composta por
m
ap
apenas 35 pessoas.
O facto de ter sido campeão mun-
di
dial com uma Suzuki é, por isso, um
m
marco na carreira de Mir. O espanhol
su
sucede a alguns nomes míticos do
m
motociclismo que proporcionaram
pá
páginas douradas à marca nipónica e
que há muito tempo não era capaz de
qu
levar um piloto ao topo — a última vez
le
tinha sido há 20 anos, com o norte-
ti
am
americano Kenny Roberts Jr..
“Não sei se ria ou chore, sinto-me
m
muito feliz. Quando se persegue um
so
sonho durante a vida inteira e final-
m
mente ele se concretiza, não se é
capaz de assimilar tudo de imediato”,
ca
disse o espanhol no final da prova de
di
ontem. Aos 23 anos, na sua segunda
on
temporada em MotoGP e a pilotar
um
uma Suzuki, Joan Mir chega ao topo
13 anos após ter trocado o skate pelas
motos, apenas cinco depois da sua
m
es
estreia em Moto3. Melhor do que fez
V
Valentino Rossi — o seu ídolo — que
co
conseguiu a sua primeira coroa seis
an
anos depois da estreia no Mundial,
ta
tal como Marc Márquez, Casey Sto-
n
ner, Kenny Roberts Jr. ou Mick Doo-
h
han. Nada mal para um campeão
im
improvável.
38 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020

Desporto

França continua sem rivais nas Portugal

meias-finais da Liga das Nações
David Andrade
Cumprida a penúltima
jornada da competição,
ainda há sete candidatos
para as três vagas que
restam na final a quatro
Um dia depois de garantir em Por-
tugal a presença nas meias-Ænais da
segunda edição da Liga das Nações,
a França continua sem conhecer o
nome de nenhum dos restantes três
semiÆnalistas da competição.
Ontem, no fecho da penúltima jor-
nada da prova, a Bélgica derrotou a
Inglaterra e vai discutir com a Dina-
marca o primeiro lugar do Grupo 2,
enquanto no Grupo 1, que vai deÆ#
nir quem será o país anÆtrião das
partidas decisivas, a luta continua a
ser a três: a Itália está em vantagem,
mas Países Baixos e Polónia ainda
têm hipótese.
No Grupo 3, a França já ganhou a
luta com Portugal e amanhã já só
faltará decidir se será a Suécia ou a
Croácia a selecção despromovida à
Liga B, mas para as três vagas que
restam nas meias-Ænais da Liga das
Nações, ainda há sete candidatos.
Depois de na véspera a Espanha
ter perdido a vantagem que tinha
sobre a Alemanha ao empatar a um
golo na Suíça — os espanhóis só se
apuram se derrotarem amanhã os
Liga A Grupo 2
Jornada 5
Dinamarca-Islândia 2-1
Bélgica-Inglaterra 2-0
J V E D M-S P
Bélgica 5 4 0 1 12-4 12
Dinamarca 5 3 1 1 6-3 10
Inglaterra 5 2 1 2 3-4 7
Islândia 5 0 0 5 3-13 0
conquista prata
em madison
nos Europeus
STEPHANIE LECOCQ/EPA
tual do Sassuolo, Jorginho na trans- No último dia do Campeonato da
formação de uma grande penalida- Europa de ciclismo de pista, mais
de e Berardi marcaram para a “squa- uma medalha para Portugal, que
dra azzurra”, que conseguiu uma termina a competição que se dispu-
importante vitória (2-0) frente à tou em Plovdiv, na Bulgária, com seis
Polónia, que liderava o grupo. Com pódios. Ontem, o protagonismo per-
este triunfo, a Itália Æca apenas a tenceu aos irmãos Ivo e Rui Oliveira,
depender de si própria: se ganhar que conquistaram a medalha de pra-
na quarta-feira na Bósnia, que já ta na prova de madison — disciplina
está despromovida à Liga B, garante em que cada equipa (habitualmente,
a vitória no grupo e as “meias” em formada por dois elementos) deve
solo italiano. completar mais voltas do que qual-
Apesar da derrota, a Polónia e os quer outra equipa e na qual os ciclis-
Países Baixos, que derrotaram os tas alternam a sua participação
bósnios por 3-1, ainda podem garan- durante a corrida.
tir o apuramento. As duas selecções A dupla portuguesa terminou a
vão defrontar-se em Chorzów e pre- prova com 43 pontos, a oito da Espa-
cisam de vencer e esperar que a nha, que apenas garantiu o título no
Itália não some os três pontos na derradeiro sprint, com a Itália a
Bósnia. fechar o pódio, com 33 pontos.
No Grupo 2, a luta é a dois, depois Os portugueses reentraram na luta
A Inglaterra perdeu com a Bélgica em Bruxelas de a Bélgica colocar a Inglaterra fora pelo pódio a 20 voltas do Ænal, quan-
da corrida. Os belgas receberam e do deram uma volta ao pelotão, feito
alemães em Sevilha —, ontem foi a venceram os ingleses por 2-0 (golos que lhes deu 20 pontos de bónus,
Liga A Grupo 1 vez de a Bélgica e a Itália assumirem
a pole position na luta pelo apura-
de Tielemans e Mertens) e precisam
de um empate na recepção à Dina-
numa corrida marcada pela queda
de um dos ciclistas britânicos.
Jornada 5 mento. marca, que derrotou a Islândia (2-1) Para além da prata de ontem, Portu-
Países Baixos-BósniaHerzegovina 3-1 O Grupo 1, que tem uma impor- com diÆculdade: Eriksen marcou os gal já tinha obtido duas medalhas de
Itália-Polónia 2-0
tância redobrada por ser o que vai dois golos dos dinamarqueses de ouro, conseguidas por Iuri Leitão,
J V E D M-S P deÆnir quem sucede a Portugal na penálti, o último aos 90’+2’. em scratch, e Ivo Oliveira, na perse-
organização da Ænal a quatro — Itá- Nas ligas inferiores, realce para a guição. Iuri Leitão conquistou tam-
Itália 5 2 3 0 5-2 9
lia, Países Baixos e Polónia foram os Hungria, primeiro adversário de bém a prata na eliminação e o bron-
Países Baixos 5 2 2 1 5-3 8
países que se candidataram a rece- Portugal no Euro 2020: os húngaros ze em omnium, enquanto Maria
Polónia 5 2 1 2 5-4 7
ber a fase decisiva da competição —, empataram em Budapeste com a Martins subiu ao último lugar do
Bósnia-Herzegovina 5 0 2 3 3-9 2
é o mais indeÆnido. A vantagem, no Sérvia (1-1) e vão discutir na última pódio na eliminação.
Jornada 6 (18 de Novembro) entanto, é italiana. jornada com a Rússia e a Turquia a A selecção nacional consegue, desta
B. Herzegovina-Itália, Polónia-Países Baixos No Città del Tricolore, casa habi- promoção à Liga A. forma, que todos os quatro ciclistas
que levou a estes Europeus regres-
sem a casa medalhados. “Não estou
Liga B Grupo 1 Liga B Grupo 2 Liga B Grupo 3 surpreendido com as medalhas con-
quistadas e com o nível de desempe-
Jornada 5 Jornada 5 Jornada 5 nho que alcançámos”, declarou no
Roménia-Noruega cancelado Eslováquia-Escócia 1-0 Turquia-Rússia 3-2 Ænal da competição Gabriel Mendes,
Áustria-Irlanda do Norte 2-1 Rep. Checa-Israel 1-0 Hungria-Sérvia 1-1
seleccionador nacional. Lusa
J V E D M-S P J V E D M-S P J V E D M-S P
Áustria 5 4 0 1 8-5 12 Escócia 5 3 1 1 5-3 10 Rússia 5 2 2 1 9-7 8
Noruega 5 3 0 1 11-3 9 Rep. Checa 5 3 0 2 7-5 9 Hungria 5 2 2 1 5-4 8
Roménia 5 1 1 2 4-8 4 Israel 5 1 2 2 6-7 5 Turquia 5 1 3 1 6-6 6
Irlanda do Norte 5 0 1 4 3-10 1 Eslováquia 5 1 1 3 5-8 4 Sérvia 5 0 3 2 4-7 3

Jornada 6 (18 de Novembro) Jornada 6 (18 de Novembro) Jornada 6 (18 de Novembro) Jornada 6 (18 de Novembro)
Inglaterra-Islândia, Bélgica-Dinamarca Irl. Norte-Roménia, Áustria-Noruega Israel-Escócia, Rep. Checa-Eslováquia Sérvia-Rússia, Hungria-Turquia

Liga B Grupo 4 Liga C Grupo 2 Liga C Grupo 3 Liga C Grupo 4

Jornada 5 Jornada 5 Jornada 5 Jornada 5
Bulgária-Finlândia 1-2 Macedónia do Norte-Estónia 2-1 Moldova-Grécia ?-1 Albânia-Cazaquistão 3-1
País de Gales-República da Irlanda 1-0 Geórgia-Arménia 1-2 Eslovénia-Kosovo ?-1 Bielorrússia-Lituânia 2-0

J V E D M-S P J V E D M-S P J V E D M-S P J V E D M-S P

País de Gales 5 4 1 0 4-0 13 Macedónia do Norte 5 2 3 0 9-7 9 Elovénia 5 4 1 0 8-1 13 Bielorrússia 5 3 1 1 8-5 10
Finlândia 5 4 0 1 6-2 12 Arménia 5 2 2 1 8-6 8 Grécia 5 3 2 0 6-1 11 Albânia 5 2 2 1 5-2 8
República da Irlanda 5 0 2 3 1-4 2 Geórgia 5 1 3 1 6-6 6 Kosovo 5 0 2 3 3-6 2 Lituânia 5 1 2 2 3-6 5
Bulgária 5 0 1 4 2-7 1 Estónia 5 0 2 3 5-9 2 Moldova 5 0 1 4 1-10 1 Cazaquistão 5 1 1 3 4-7 4

Jornada 6 (18 de Novembro) Jornada 6 (18 de Novembro) Jornada 6 (18 de Novembro) Jornada 6 (18 de Novembro)
Rep. Irlanda-Bulgária, P. Gales-Finlândia Arménia-Maced. Norte, Geórgia-Estónia Kosovo-Moldova, Grécia-Eslovénia Cazaquistão-Lituânia, Albânia-Bielorrússia
Ivo e Rui Oliveira

Atletismo
Camisola de Carlos
Lopes nos Jogos de
76 na World Athletics
O equipamento que o
português Carlos Lopes usou
nos 10.000 metros dos Jogos
Olímpicos Montreal 76 passou
a fazer parte da Colecção da
World Athletics, anunciou
ontem a Federação
Internacional de Atletismo. Em
1976, Carlos Lopes, que viria a
sagrar-se campeão olímpico
da maratona em Los Angeles
84, conquistou a primeira
medalha olímpica para o
atletismo português, com a
prata nos 10.000 metros.
Futebol
Raphael Guerreiro
dispensado da
selecção nacional
O lateral esquerdo Raphael
Guerreiro foi ontem
dispensado da selecção
portuguesa, devido a
problemas físicos, e vai falhar
o encontro com a Croácia, da
última jornada da Liga das
Nações, que se jogará
amanhã, em Split. Antes de
viajar para a Croácia, a
selecção realizou um treino na
Cidade do Futebol, com os
titulares do jogo com a França
(derrota por 1-0) a fazerem
trabalho de recuperação.
Hóquei em patins
Sporting empata
e é alcançado
no topo pelo Benfica
O Sporting, que era líder
isolado do campeonato
nacional de hóquei em patins,
empatou ontem em Viana do
Castelo com a Juventude (1-1)
e foi alcançado pelo Benfica,
enquanto que os minhotos se
mantêm na nona posição — as
“águias” tinham ganho no
sábado no terreno do Valongo
(2-8). Os “leões”, contudo, têm
um jogo em atraso. O FC Porto,
também com um jogo em
atraso, é quinto, após bater
ontem o Riba d’Ave por 6-0.
Exibição medíocre chegou para
garantir lugar no Europeu de sub-21
David Andrade
Portugal derrotou, no
Algarve, Chipre e assegurou
a presença na fase final
do Campeonato da Europa
no próximo ano
A exibição foi muito fraca contra a
débil selecção de Chipre, mas mes-
mo sem convencer Portugal cumpriu
a sua obrigação e garantiu o apura-
mento para a fase final do Campeo-
nato da Europa de 2021 de sub-21.
No Estádio Municipal da Bela Vis-
ta, em Parchal, os cipriotas coloca-
ram-se em vantagem com um golo
do defesa Panayiotis Artymatas mar-
cado logo no segundo minuto, mas
a selecção portuguesa, que apenas
necessitava de um empate para
garantir a qualificação, deu a volta
ao resultado com golos de Gedson
Fernandes (45'+1’) e Diogo Queirós
(68’).
Três dias depois de vencer sem
problemas a Bielorrússia (3-0), Rui
Jorge mexeu pouco na equipa e apre-
sentou poucas novidades no Algarve:
Thierry Correia ocupou o lugar de
Rafael Nadal e Dominic Thiem com inícios
prometedores nas ATP Finals
Pedro Keul
Foi o início nas Nitto ATP Finals mais
desejado por Rafael Nadal e Dominic
Thiem. Embora uma derrota neste
elitista torneio não signiÆque a elimi-
nação, vencer o primeiro dos três
encontros no grupo dá uma conÆan-
ça fundamental para encarar a sema-
na, recheada de duelos difíceis com
adversários do top-10. Perante o
desolador ambiente de uma Arena
O2 de Londres vazia, Nadal e Thiem
mostraram grande determinação em
encontros com histórias diferentes.
Muito agressivo, a bater na bola
cedo, Nadal foi uma ameaça constan-
te para Andrey Rublev (8.º no
ranking), em especial, na resposta
aos segundos serviços. O número
dois do ranking serviu a grande nível,
perdendo apenas 12 pontos em dez
jogos de serviço e não enfrentou
nenhum break-point, para se impor,
Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020 • 39
Desporto
Diogo Dalot na direita da defesa e portugueses encontravam sempre as
Rafael Leão substituiu Fábio Vieira.
Se a troca de laterais pouco ou nada
Número piores soluções para ultrapassar a
barreira defensiva do adversário.
9
mexia no desenho táctico da equipa, No entanto, em cima do intervalo,
com a entrada do avançado do AC Portugal conseguiu o empate com
Milan no lugar do jogador do FC Por- alguma sorte à mistura. Depois de
to a formação portuguesa ganhava, Thierry Correia ser travado em falta
em teoria, mais capacidade ofensiva. na área, o guarda-redes de Chipre
No entanto, Portugal mostrou-se Presenças de Portugal no conseguiu defender o remate de
uma equipa pouco inspirada e sem Europeu sub-21. O regresso Gedson Fernandes, mas de forma
ideias. acontece q p
quatro anos depois caricata a bola acabou por passar
rtida não podia ser
O início da partida por debaixo do corpo de Antreas
ecção portuguesa.
pior para a selecção Paraskevas e ultrapassar por
Para
Logo no segundo o minuto, Artyma- escassos centímetros a
es
tas, defesa que esta
sta época ainda não
foi utilizado no Anorthosis, anteci-
lin
linha de golo.
Mesmo após o empate,
pou-se a Diogo Leite e colocou Chi- resultado que bastava para
res
tubro foi goleado
pre, que em Outubro
em casa pelos Países
íses Baixos por
Portugal assegurar a presen-
Portu
ça na fase final
fin que vai ser disputada
0-7, na frente do marcador. na Hungria e na Eslovénia, a equipa
A partir daí, Portugal de Rui Jorge não
n melhorou. Manten-
instalou-se no o do o futebol
futebo previsível, os sub-21
meio-campo continuaram a não conseguir tradu-
cipriota, mas ao zir o domíni
domínio na posse de bola em
contrário do que e tinha acontecido o
op ortunidad
oportunidades, mas um lance de
eriores frente à Bie-
nas partidas anteriores par
bola parada decidiu a partida:
uega, os jogadores
lorrússia e Noruega, após um canto, Diogo Quei-
rós,com
rós,completou a reviravolta e
A selecção Portugal vai aagora discutir na quarta-
b-21
portuguesa sub-21 feira a vitór
vitória no Grupo 7 com os
a
bateu a cipriota P aíses Baixos.
Países Baixo
por 6-3, 6-4, em 77 minutos. sagrou o mais novo campeão da pro-
“O primeiro encontro é sempre va desde 2001, lamentou a perda do
traiçoeiro, por isso, é um começo primeiro set, após liderar o tie-break
positivo. O meu serviço funcionou
muito bem esta noite e aproveitei as
por 4/1, mas também a ausência dos
fãs. “Há alguma coisa que falta no
poucas oportunidades que tive na meu jogo e em que tenho de traba-
resposta e estou muito satisfeito”,
aÆrmou Nadal, que também elogiou
lhar, mas o ambiente torna tudo mais
difícil. Sou um jogador que sente a
a boa forma de Rublev, jogador que energia do público e já ganhei muitos
chegou a Londres com o maior encontros por causa desse apoio”,
número de títulos conquistados em disse o grego, que ainda pode termi-
2020, cinco, e venceu mais encon- nar o Grupo Londres 2020 entre os
tros, 40 — 20 vitórias nos últimos 22 dois primeiros lugares e qualiÆcar-se
encontros. para as meias-Ænais, precisando de
As ATP Finals abriram com a ree- derrotar Rublev, amanhã.
dição da Ænal de 2019, então ganha Na jornada de hoje, dedicada ao
por Stefanos Tsitsipas (6.º). Tal Grupo Tóquio 1970, Novak Djokovic
como há um ano, o embate foi deci- (1.º) defronta o estreante Diego
dido em três sets, mas desta vez o Schwartzman (9.º) e, à noite (20h),
grego não superou Dominic Thiem Daniil Medvedev (4.º) joga com Ale-
(3.º), com o vencedor do Open dos xander Zverev (7.º), numa reedição
EUA a vencer, com os parciais de 7-6 da Ænal do Masters 1000 de Paris,
(7/5), 4-6 e 6-3. há duas semanas, ganha pelo pri-
Nadal bateu Andrey Rublev Tsitsipas, que no ano passado se meiro.
40 • Público • Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020

O seu jornal
não acaba aqui.
Continue para
publico.pt

Uma história sobre a perda do sentido das proporções

Xavier Vallat, que disse assim: retroativamente, no quadro de leis noticiou e até Hitler se irritou com a
Consoante “Senhores, há uma razão pela qual feitas à medida. Mas o mais vergonha, mandando o seu
muda não posso votar no Governo do sr. importante é isto: os direitos embaixador em França
Blum: é o próprio sr. Blum. Pela sociais conquistados durante o interromper a fantochada e cortar a
primeira vez, este velho país Governo da Frente Popular só direito. Léon Blum foi
galo-romano será governado por puderam vir a ser considerados simplesmente deportado para a
um judeu. Se o nosso antigo colega crimes porque foram precedidos Alemanha, onde escapou a 150
Georges Weill estivesse aqui, não de anos de intensa retórica política, metros da morte, distância que
deixaria de me acusar, mais uma defendendo a tese de que a semana separava a sua casa-prisão do

Q
Rui Tavares
uando os nazis
invadiram a França, um
amigo deu um conselho
ao ex-primeiro-ministro
Léon Blum: fuja e
exile-se. “Eles atacarão
os socialistas, eles degradarão os
judeus, e você é socialista, é judeu
e, mais do que isso: você é você.”
Quem era Léon Blum? O
primeiro chefe de Governo
socialista de França, líder da
Frente Popular, coligação de
esquerda que governou aquele país
entre 1936 e 1938, hoje conhecida
por ter limitado a semana de
trabalho às 40 horas semanais e
garantido aos trabalhadores o
direito a 15 dias de férias pagas, ou
seja, “dar um pouco de bem-estar e
de tranquilidade àqueles que
através do seu trabalho criam a
verdadeira riqueza”, como disse no
seu discurso de tomada de posse.
Ao abrir-se o debate parlamentar
nessa mesma ocasião, tomou a
palavra um deputado chamado
vez, de antissemitismo, ao estilo de
Hitler. Mas, mais uma vez, ele
estaria errado… Digo, porque
penso assim — e tenho essa
originalidade que por vezes me faz
assumir a tarefa ingrata de dizer em
voz alta o que todos pensam em voz
baixa —, que, para governar esta
nação camponesa que é a França, é
melhor ter alguém cujas origens,
por mais modestas que sejam, se
percam nas entranhas do nosso
solo.”
Xavier Vallat, um veterano que
perdera uma perna em combate e
usava uma pala no olho direito, era
um orador temível, mas não era
levado a sério. Há anos que insistia
que os judeus não se queriam
assimilar em França e que só
poderiam “ser tolerados em doses
homeopáticas”. Mas era tido por
um palhaço e um fanfarrão e, como
o próprio Vallat dizia, não era
nenhum Hitler; apenas alguém que
dizia “em voz alta o que os outros
pensam em voz baixa”...
Léon Blum não fugiu e não se
exilou. E, por isso, quando os nazis
chegaram, Léon Blum foi preso e
metido em tribunal pelo Governo
do antes respeitável marechal
Pétain — no qual Xavier Vallat era
agora ministro.
Mas Léon Blum não foi preso,
nem condenado por ser judeu. Isso
viria mais tarde. Os “crimes” de
que foi acusado foi ter instituído a
semana das 40 horas e as férias
pagas (além de ter permitido a
atividade sindical, a propaganda
dos trabalhadores e ter
nacionalizado a indústria militar).
Esses cinco “crimes” tinham duas
vantagens: eram impossíveis de
negar e tinham sido estabelecidos
das 40 horas e os 15 dias de férias
tinham “enfraquecido a França” e
levado à sua ruína.
Por outro lado, a razão por que
Léon Blum foi atacado com tais
argumentos durante anos, ao passo
que Xavier Vallat pôde ir fazendo
descansado os seus discursos
antissemitas, era ainda outra: é que
a semana das 40 horas e os 15 dias
de férias eram agora uma
realidade, ao passo que os delírios
antissemitas de Vallat,
acreditava-se, não teriam a mínima
hipótese de alguma vez virem a ser
implementados.
O julgamento foi um Æasco
porque Pétain cometeu um erro:
deixou Léon Blum defender-se em
tribunal. Os argumentos da
acusação foram rebatidos um a um
com a sua lógica implacável e a
recordação dos factos de que tinha
sido o próprio atual chefe de
Estado, o marechal Pétain,
enquanto fora ministro da Defesa, a
cortar o orçamento da Defesa em
20%. A imprensa internacional
campo de extermínio de
Buchenwald. Quanto a Xavier
Vallat, o antissemita que antes não
era levado a sério, foi substituído
por outro antissemita mais eÆcaz
em 1942, e veio a morrer
tranquilamente em 1972,
sobrevivendo a Léon Blum em mais
de 20 anos.
Essa é a parte mais conhecida da
história.
A menos conhecida é a que
precisa de ser recordada: a de que
a grande calamidade foi precedida
por uma época na qual se perdeu
todo o sentido das proporções e se
banalizou o discurso de que os
direitos sociais é que eram o
grande problema do país porque
estavam a ser implementados, ao
passo que as arengas de um
antissemita como Xavier Vallat
eram consideradas menos
ameaçadoras porque o homem era
ridículo e nada daquilo tinha a
menor hipótese de vir a acontecer.
Historiador

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