1,50 € // Segunda-feira, 26 outubro 2020 // Ano 11 // Diário // Número 3325 // Diretor: Mário Ramires // Dir. exec.

: Vítor Rainho // Dir. exec. adjunto: José Cabrita Saraiva // Subdir. exec. : Marta F. Reis // Dir. de arte: Francisco Alves
inevitável

O grande fungagá
da covid
Quase 30 mil pessoas no Grande Prémio de Fórmula 1 em Portimão e
festas num clube privado em Lisboa que fizeram alastrar casos de covid
em Cascais merecem o repúdio de responsáveis. Decisões contraditórias
da Direção-Geral da Saúde causam a confusão
“Se não formos todos por todos não há solução para esta pandemia, que
é algo que se pode tornar uma verdadeira catástrofe”, diz Carlos
Carreiras, presidente da Câmara de Cascais
Para Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina
Geral e Familiar, há que “esclarecer” os portugueses de que “as pessoas
não podem estar juntas”
“CINCO OU DEZ VEZES MAIS PESSOAS TÊM O VÍRUS E NÓS
NÃO SABEMOS. OS NÚMEROS QUE OUVIMOS TODOS OS DIAS
SÃO APENAS OS CASOS CONHECIDOS”, ADMITE RUI NOGUEIRA

Ricardo Araújo Pereira e Cristina Ferreira

cancelam programas por estarem confinados
// PÁGS. 2-3

Orçamento Educação. Açores. Entrevista a Ana Rocha de Sousa.

do Estado nas Criado o primeiro Vasco Cordeiro “Precisei de ir para um lugar
mãos do Partido observatório conquista onde não me conhecessem.
Ecologista para terceiro e último E posso garantir que sofri muito
Os Verdes sobredotados mandato no dia em que se aperceberam”
// PÁG. 4 // PÁGS. 12-15 // PÁG. 32 // PÁGS. 20-23
EDITORIAL
30 mil pessoas
são menos
perigosas
no autódromo
A
que seis ao jantar Radar

Pessoas sem máscara nem

distanciamento social assis-
tiram no sábado ao Grande
Prémio de Fórmula 1, em
Portimão
Vítor Rainho JOSÉ SENA GOULÃO/POOL/AFP

Não quero ser nem sou demagógico e

cometo muitos erros. Por vezes, não cum-
pro as regras emanadas da Direção-Geral
da Saúde pois estou com pessoas em locais
públicos que não devia, apesar de ter os
cuidados mínimos de segurança. Mas,
olhando para o que se passa no espaço
público, sinto-me um cidadão exemplar.
Como foi possível o Governo permitir quase
30 mil pessoas no Grande Prémio de Fór-
mula 1 no circuito de Portimão? Como é
possível haver festas com dezenas ou cente-
nas de pessoas? Perante estas notícias, sin-
to que não cometi nenhum disparate. E é
esse sentimento que passa para a generali-
dade dos cidadãos, que acham que não

Covid-19.
cometem nenhum erro ao estarem num
jantar de uma dezena de amigos. Se o
Governo permite 30 mil pessoas numa
corrida de carros, qual a razão para

A urgência de evitar
não poderem estar dez pessoas juntas
num restaurante?
Percebo que o Executivo de António Costa

ajuntamentos e
queira permitir que os negócios aconte-
çam, mas qual o critério para não deixar
que outros possam faturar? Haverá diferen-
ças entre 30 mil pessoas num autódromo e

50 pessoas num bar ou num restaurante?
O que se passa é que estamos num verda-
deiro fungagá da bicharada no que às
recomendações da Direção-Geral da Saú-
de diz respeito, notando-se um desrespei-
to total pelos especialistas na matéria,
que há muito lutam para que estes dispa-
rates – dos ajuntamentos de pessoas – não
aconteçam. Mas a equipa de António Cos-
ta e de Marta Temido deve estar mais
preocupada com uma agenda que a razão
desconhece. Diga-se o que se quiser, o
Governo tem andado ao sabor do vento e
não tem demonstrado o sentido de Estado
que todos merecem. Ou muito me engano
ou António Costa vai ter de fazer uma
declaração semelhante ao seu homólogo
espanhol, que veio reconhecer que os
casos oficiais no seu país estavam errados
num terço. Costa tem jogado com a covid
com argumentos políticos que não aju-
dam o país. Falem com os especialistas
que eles explicam tudo. É uma vergonha
com a complacência de muitos amigos
informativos.
P. S. Este país é mesmo uma anedota. O
Orçamento vai passar por causa de santuá-
rios de animais? E ainda se discute a euta-
násia. Matem os velhos e os desprotegidos
e deem casinhas para cães e gatinhos.
alertar a população
Aglomerados de pessoas em eventos, tanto num jantar num clube privado,
em Lisboa, como numa prova de Fórmula 1, no Algarve, preocupam
especialistas. Ricardo Mexia diz serem necessárias medidas mais claras.
PEDRO ALMEIDA pisos. Um “jantar com DJ” que familiares. E isso é algo que todos
pedro.almeida@ionline.pt juntou dezenas de pessoas e devemos evitar. Se não formos
sobre o qual diz ter originado todos por todos não há solução
“Respeito” e “responsabilidade um surto de covid-19 em Cas- para esta pandemia, que é algo
cívica” são dois dos pedidos do cais, criando depois várias que se pode tornar uma verda-
presidente da Câmara Munici- “cadeias de transmissão”. deira catástrofe. É um respeito
pal de Cascais, Carlos Carreiras, “Tudo o que seja minorar os acima de tudo pelos outros. E é
endereçados a quem organizou riscos é uma obrigação de cida- tentarmos apurar, cada um de
e esteve presente num evento dania neste momento. Tive nós, os valores éticos que têm
que decorreu, a 15 de outubro, conhecimento dessa situação de estar sempre presentes na
no JNcQUOI Club, um clube pri- em Cascais por via de um con- nossa atitude”, começou por
vado na Avenida da Liberdade, junto de jovens, alguns deles dizer Carlos Carreiras ao i, aler-
em Lisboa – espaço que tem, menores, que ficaram infetados tando também para o facto de
além do clube, dois restauran- e depois, ao irem para outras esta não ser a primeira situação
tes, um dos quais ligado à cul- festas de aniversário, acabaram de contágio em Cascais nos últi-
tura asiática e outro de comida por criar mais cadeias de trans- mos dias.
tradicional portuguesa, com dois missão, nomeadamente para “O que vai na cabeça das pes-

2 —26 outubro 2020


soas que organizam estas fes-
tas só elas sabem, mas o alerta
é para não fazer e não provocar
situações de risco. No início da
semana tínhamos tido outra
situação, que foi também uma
irresponsabilidade, num lar ile-
gal aqui no concelho. Estáva-
mos com uma média que já é
alta, de 40 casos por semana.
Com a situação do lar, aumen-
támos para mais de 60 e agora
com a festa aumentámos para
mais de 80. É bom ter noção de
que quando começamos a atin-
gir estes números, todo o siste-
ma começa a ser posto numa
situação crítica”, atirou.
Questionada pelo i, fonte ofi-
cial do JNcQUOI Club garantiu,
porém, que “todas as normas
da Direção-Geral da Saúde (DGS)
foram cumpridas” e que só tive-
ram conhecimento de uma pes-
soa que marcou presença no
jantar e testou positivo à covid-
19, garantindo ter havido con-
tacto por parte do clube com
todos os que estiveram no even-
to “para recolher informação
sobre o seu estado de saúde”.
No entanto, apesar de sublinhar
que tudo decorreu segundo as
regras estabelecidas, o clube reco-
nheceu que, à semelhança do que
aconteceu em março, “não hesi-
tará em voltar a encerrar portas
caso avalie que essa medida se
revele necessária face à propaga-
ção da doença em Portugal”.
REGRAS DE SAÚDE ‘COM COE-
RÊNCIA’ Além de ter alertado
para a não realização de festas
ou outros eventos que possam
propagar o vírus, Carlos Carrei-
ras apelou ainda às autoridades
de saúde para que sejam claras
na mensagem que é transmiti-
da à população.
“Deve haver uma decisão por
parte das autoridades com coe-
rência, porque muitas das vezes
ficamos confundidos com essas
mesmas decisões. É um alerta,
subscrito também pelo presi-
dente da Câmara do Porto, Rui
Moreira, que alertou para o que
aconteceu no evento de Fórmu-
la 1, em que se viu um ajunta-
mento de pessoas nas banca-
“Tudo o que seja
minorar os riscos
é uma obrigação
de cidadania”,
diz Carlos Carreiras
Rui Nogueira diz
que cinco ou dez
vezes mais pessoas
têm covid-19
e “não sabemos”
das”, aludindo às imagens que
circularam nas redes sociais que
dão conta do incumprimento
do distanciamento social e do
uso obrigatório de máscara, no
sábado, em duas das onze ban-
cadas para assistir ao Grande
Prémio de Portugal, em Porti-
mão, que se realizou entre sex-
ta-feira e ontem, e no qual foi
permitido um máximo de 27500
pessoas – o último dia de prova
contou com reforço de seguran-
ça. Para Ricardo Mexia, presi-
dente da Associação Nacional
dos Médicos de Saúde Pública,
é isso mesmo que falta: rigor
nas regras para travar a propa-
gação da pandemia.
“No momento em que esta-
mos, não é bom estar a propor-
cionar ajuntamentos entre pes-
soas, principalmente pessoas
que não estão a usar máscara,
com todos os riscos que isso
acarreta. Com a proximidade
num evento, é muito difícil evi-
tar a disseminação da doença.
A probabilidade de encontrar-
mos alguém doente, ainda que
assintomático, acaba por ser
superior àquela que tínhamos
há dois ou três meses”, atirou,
deixando claro que a DGS tem
de passar informações transpa-
rentes sobre o que tem de ser
feito pela população.
“Para o ajuntamento de pessoas
falta, de facto, existir uma regra
para que as pessoas percebam o
COVID-19
que é que se pode fazer e o que
é que não se pode fazer. Quando
as regras não existem acaba por
haver um certo sentimento de
incompreensão, ou seja, as pes-
soas têm de perceber porque é
que determinados eventos podem
realizar-se e outros não. Porque
é que os casamentos só podem
ter no máximo 50 pessoas e podem
juntar-se quase 30 mil pessoas
noutro evento? Têm riscos dife-
rentes, mas não é fácil comuni-
car isso e as pessoas perceberem
essas assimetrias”, concluiu.
A informação que chega, por
isso, às pessoas é fundamental.
Para Rui Nogueira, presidente
da Associação Portuguesa de
Medicina Geral e Familiar, há
que “esclarecer” os portugue-
ses que “as pessoas não podem
estar juntas”.
“Não há possibilidade e não é
seguro, além das pessoas da nos-
sa casa. É a única célula relati-
vamente segura. Todas as pes-
soas que estão juntas nestas
características estão em risco.
Qual é a parte que não se perce-
be? Não sei se a DGS cometeu
um erro, mas as pessoas têm de
estar distantes e com máscara.”,
sublinhou ao i, reforçando ain-
da a questão dos assintomáticos.
“Cinco ou dez vezes mais pes-
soas têm o vírus e nós não sabe-
mos. Os números que ouvimos
todos os dias são apenas os casos
conhecidos”, rematou.
Covid-19
obriga
à alteração
da grelha de
programação
Ricardo Araújo
Pereira e Cristina
Ferreira estão
em isolamento.
A pandemia de covid-19 chegou
à televisão e já afetou a grelha
de programação de dois canais
generalistas. Ontem, a emissão
do programa Isto é Gozar Com
Quem Trabalha, de Ricardo Araú-
jo Pereira, na SIC, foi cancelada,
uma vez que o humorista, que
será testado à covid nos próxi-
mos dias, se encontra em isola-
mento após ter tido contacto dire-
to com alguém infetado com o
novo coronavírus. Mas não é caso
único. Esta semana, também não
haverá o Dia de Cristina, que cos-
tuma ser transmitido, uma vez
por semana, na TVI.
“Estou em casa, em isolamen-
to, sozinha, desde sexta-feira. Acom-
panhada pelo Serviço Nacional
de Saúde como qualquer outro
caso que tenha tido um contacto
de alto risco. Assim ficarei duran-
te 14 dias como estipulado. Isola-
mento significa não sair e não ter
contacto com ninguém. Isso seria
comprometer a saúde dos outros.
Só farei o teste durante esta sema-
na tal como aconselhado. Mesmo
que dê negativo terei de cumprir
os restantes dias de isolamento.
E isso é o que cada um de nós deve
fazer. Pelos nossos e pelos outros”,
escreveu, na sua página de Face-
book, a apresentadora, que este-
ve em contacto com a cantora Bár-
bara Bandeira, que testou positi-
vo à covid-19.
Ontem, recorde-se, Portugal
registou 2577 novos casos e 19
mortes por covid-19 nas últimas
24 horas depois de, no sábado,
ter batido o recorde de número
de infetados (3669). Mas, no que
toca aos óbitos, o país voltou a
registar uma morte por covid-19
de uma pessoa entre os 20 e os
29 anos – é a terceira morte nes-
ta faixa etária desde o início da
pandemia.
Além disso, o número de inter-
namentos mantém-se preocupan-
te. Atualmente no país estão inter-
nados 1574 doentes em enferma-
rias, mais 119 do que no sábado,
e 230 nos cuidados intensivos,
mais nove do que no dia anterior.
—26 outubro 2020 3
 A Radar //
OE 2021. Bloco vota
contra o documento
e PAN abstém-se
Orçamento precisa da abstenção de Os Verdes para passar. Decisão vai
ser conhecida na terça-feira. PCP anunciou na sexta que ia abster-se.
SÓNIA PERES PINTO
sonia.pinto@ionline.pt
O Bloco de Esquerda anunciou
que vai votar contra o Orçamen-
to do Estado para 2021. Catari-
na Martins garantiu que o par-
tido deu “todo o apoio ao Gover-
no de que precisou” para
combater a pandemia, mas para
a votação do documento “deci-
diu por unanimidade votar con-
tra a proposta do Orçamento do
Estado tal como está”.
A líder bloquista pediu “bom
senso” em relação ao Orçamen-
to e lembrou que fechou um
acordo com o Governo em
dezembro passado para refor-
çar os meios do SNS e que, mes-
mo sem prever a pandemia, eram
conhecidas dificuldades no sis-
tema de saúde. “Esse acordo não
foi cumprido”. E acrescentou:
“O Governo falhou na saúde. Ou
é em 2021 que salvamos o SNS,
4 —26 outubro 2020
quando temos margem finan-
ceira para a sua grande refor-
ça, ou aceitamos a doença que
o vai consumir”, refere.
Também o PAN anunciou
ontem que vai abster-se na vota-
ção do Orçamento. A garantia
foi dada por Inês Sousa Real,
assegurando que “ninguém vai
ser deixado para trás” e que
espera pelos avanços na espe-
cialidade. “Não podemos abrir
mão das medidas aprovadas em
sede do OE 2020”, disse, tendo
garantido que algumas medi-
das vão avançar, e assim justi-
fica o sentido de voto. “Neste
momento está tudo em aberto
em relação à votação final glo-
bal. O que esperamos é o cum-
primento por parte do PS e do
Governo daquilo que é um con-
junto de preocupações que espe-
ramos ver consagradas na espe-
cialidade. Fica aberta a porta
para se poder trabalhar o Orça-
mento na especialidade”, afir-
mou a deputada.
A responsável afirmou que,
nas negociações com o Gover-
no, o partido “não só exigiu con-
sequências relativamente ao que
ficou inscrito” no Orçamento do
Estado para 2020 como já asse-
gurou que “o Orçamento para
2021 que entrou no Parlamen-
to não será o mesmo que vai sair
no final da discussão em espe-
cialidade”.
E acrescentou: “Embora seja
um caminho mais difícil de per-
correr, o do diálogo e o da cons-
trução de pontes, é um caminho
exigente do qual não nos demi-
timos, no âmbito dos compro-
missos assumidos com as pes-
soas que confiam no PAN e, des-
ta forma, dar resposta às suas
preocupações”, defendeu.
Inês Sousa Real apontou como
objetivo do partido que “este
seja um Orçamento melhor para
o país, para as pessoas, para os
animais e para a natureza”. E,
por isso, “nesta fase, o conteú-
do do Orçamento final está em
aberto e há espaço para avan-
ços em sede de especialidade,
contando que o Governo e o PS
não retrocedam nos compro-
missos já assumidos. Não poden-
do votar a favor deste Orçamen-
to, o PAN vai abster-se na gene-
ralidade”, justificou.
Com a abstenção dos três depu-
tados do PAN – a mesma posi-
ção anunciada na sexta-feira pelo
PCP –, o Governo necessita de
mais duas abstenções para garan-
tir que o documento é viabiliza-
do na primeira votação e passa
para a fase da especialidade.
VERDES ANUNCIAM NA TERÇA O
Partido Ecologista “Os Verdes”
(PEV) vai reunir a sua comissão
executiva na segunda-feira para
“Governo falhou
na saúde. Ou é em
2021 que salvamos
o SNS ou aceitamos
a doença”
PAN diz que
espera pelos
avanços na
discussão na
especialidade
Catarina Martins disse
que o acordo com
Estado para SNS não
foi cumprido, mesmo
antes da pandemia
MIGUEL SILVA
analisar o Orçamento do Esta-
do de 2021 e anuncia o sentido
de voto na terça-feira, ou seja,
poucas horas antes de começar
o debate na generalidade na
Assembleia da República, em
Lisboa.
Recorde-se que o PCP foi o pri-
meiro a anunciar a sua absten-
ção, na sexta-feira. De acordo
com João Oliveira, as “opções
do Governo não vão no sentido”
de medidas que o PCP conside-
ra essenciais, nomeadamente
no que toca a salários, no refor-
ço de proteção social, de incre-
mento de investimento público
e da capacidade de resposta dos
serviços públicos, bem como na
dependência externa. Ainda
assim, considera que a aprova-
ção do Orçamento Suplementar
justifica a postura do Governo
por, na visão do PCP, “determi-
nar o benefício aos grupos eco-
nómicos”.
Também PSD, CDS, Chega e
Iniciativa Liberal já anuncia-
ram o seu voto contra. Aliás, o
partido liderado por Rui Rio
garantiu que o “PSD não deter-
mina o seu voto por amuos ou
pedidos de desculpa”. Em cau-
sa está uma notícia do Expres-
so que revela que o partido “só
viabiliza o Orçamento se Costa
pedir desculpa”. No entanto, o
partido diz que “tal afirmação
não corresponde à ideia trans-
mitida pelo líder parlamentar
ao jornal”, acrescentando que
“deturpar a ideia transmitida
por um entrevistado e, assim,
enganar os leitores, não é sério;
só descredibiliza o jornalismo
e enfraquece a democracia”.
 PORTUGAL

Eutanásia Misericórdias. Pedidos de ajuda

GNR alerta para
risco de violência
doméstica
PORTUGAL “A violência domés-
tica não é só física ou sexual! A
violência psicológica, financei-
ra, a negligência, o abandono
são outras formas de violência”.
O alerta é da GNR, numa publi-
cação colocada no Facebook. E
a GNR chama ainda a atenção
para que, “quando as vítimas
são idosas”, o papel de “um fami-
liar, amigo ou vizinho pode ser
crucial para que a vítima fale!”.
“O descartável
voltou a invadir
as nossas vidas”
PORTUGAL O ministro do Ambien-
te lamentou o aumento da uti-
lização de materiais descartá-
veis devido à pandemia de
covid-19, mas considerou que é
o único aspeto em que a atual
crise prejudica o que estava a
ser feito a nível ambiental. “Havia
um pensamento claramente libe-
ral e tudo o que tinha a ver com
políticas ambientais foi comple-
tamente descartado”, disse.
Homem de 48 anos
morre em colisão
JP quer que de famílias aumentaram
Marcelo se
pronuncie
Lino Maia já criticara pelo Estado a estas institui- lhança de Manuel de Lemos,
EUTANÁSIA a intervenção do ções. “O Estado não apoia o criticou também a falta de aten-
A Juventude Popular veio Estado na situação setor social, o setor social é ção dado pelo Estado e pelo
apelar a uma intervenção dos lares ao dizer que apoia o Estado”. Orçamento do Estado ao setor
do Presidente da Por seu lado, o padre Lino social. “O OE 2021 passou ao
República sobre a
que este tinha Maia enalteceu o papel de pro- lado deste setor”, lamentou.
eutanásia. Para Francisco “lavado as mãos”. ximidade exercido pelas insti-
Mota, após o chumbo do tuições que representa e assi- ESTADO “LAVOU AS MÃOS” NA
referendo, “o regime não O presidente da União das Mise- nalou o trabalho que tem vin- SITUAÇÃO DOS LARES Esta não
silenciou apenas 95 mil ricórdias Portuguesas (UMP) do a ser desenvolvido, em é a primeira vez que Lino Maia
portugueses que revelou que, devido aos efeitos período de pandemia, pelos tra- faz duras críticas à interven-
subscreveram a iniciativa da pandemia de covid-19, “têm balhadores das instituições, os ção do Estado. Recentemente,
popular para um aumentado” os pedidos de aju- quais são “bem dedicados”. em relação às mortes de doen-
referendo, silenciaram um da das famílias, tendo essa preo- O padre Lino Maia reconhe- tes com covid-19 nos lares, admi-
país e impuseram a cupação sido manifestada ao ceu que a situação pandémica tiu que “pode ter havido viola-
Portugal uma agenda”. Presidente da República. em Portugal não é comparável ção dos direitos humanos”,
De acordo com o Manuel de Lemos falava aos à de outros países, mas, à seme- garantindo que “é preciso nes-
responsável, “é jornalistas no final de uma tes casos fazer averiguações e
obrigatório não confinar o audiência com Marcelo Rebe- ouvir todas as partes envolvi-
debate apenas na lo de Sousa para analisar a atual das, mas podem ter aconteci-
Assembleia da situação pandémica em Portu- do falhas”.
República”, considerando gal, em cujo encontro esteve O presidente da CNIS referiu
que “o silêncio do também presente o presiden- também que o Estado deve agir
Presidente da República te da Confederação Nacional rapidamente para evitar mais
é assustador” e que é das Instituições de Solidarie- mortes, porque “até aqui hou-
fundamental “que não dade (CNIS), padre Lino Maia. ve como que um lavar de mãos
tenha a mesma atitude Manuel de Lemos disse tam- e é importante que haja uma
que os deputados, que bém que existem “muitos exem- maior articulação entre a Segu-
não seja hipócrita, plos” de pessoas a recorrer às rança Social e a saúde”, acres-
desonesto, e que não instituições da UMP, cuja mis- centando que “é preciso tam-
traia o povo que o elegeu. são é apoiar os portugueses bém que se oiça mais as pes-
Espera-se seriedade, e quer nas terras “mais peque- soas que estão no terreno”, uma
não taticismo eleitoral”. ninas” quer nos centros com vez que, “muitas vezes, quem
maior população, criticando a toma as decisões não conhece
ACORDO? falta de atenção que é dada Pe. Lino Maia a realidade”.
O jovem centrista chega
mesmo a questionar se PUB

automóvel esse silêncio não será

BARCELOS Um homem de 48
anos morreu, ontem, vítima de
uma colisão registada entre dois
veículos ligeiros na freguesia de
Chorente, concelho de Barcelos
(Braga), indicou fonte do Coman-
do Distrital de Operações de
Socorros (CDOS) de Braga. A víti-
ma mortal era o condutor de
um dos veículos, tendo sido tam-
bém registado um ferido ligei-
ro, com 20 anos de idade.
Jovem violada e
agredida na Madeira
MADEIRA Uma mulher de 28 anos
“foi agredida e violada no Cani-
ço, na zona da Mãe de Deus”, na
ilha da Madeira, este domingo.
No terreno estiveram os Bom-
beiros Sapadores de Santa Cruz
e a Polícia de Segurança Públi-
ca, que se encontra a investigar
o caso. A vítima foi transporta-
da de ambulância para o hospi-
tal Dr. Nélio Mendonça, onde foi
observada.
“mais um arranjinho do
PS e PSD a pensar nas
eleições presidenciais”.
“O povo português tem o
direito de saber o que
pensa fazer o Presidente
da República com os
diplomas e a sua
inconstitucionalidade, e
qual a sua opinião sobre
o bloqueio democrático
ao referendo”, refere
Francisco Mota.
DEBATE
Recorde-se que PS, BE,
PCP, PEV, PAN, nove
deputados do PSD (entre
os quais Rui Rio) e as
deputadas não inscritas
Joacine Katar Moreira e
Cristina Rodrigues
votaram contra o
referendo. Já Iniciativa
Liberal, CDS e PSD
votaram a favor. O
deputado único do
Chega esteve ausente na
votação.
AVISO N.º 5/2020 (extrato)
| Procedimento de Recrutamento
e Seleção de Estagiários
do Município de Cascais
| ESTÁGIOS PEPAL
(6.ª edição, 2.ª fase)
Na sequência da publicação do Aviso n.º 01/2019, datado de 11 de outubro de 2019, referente ao procedimento de recru-
tamento e seleção de estagiários, no âmbito da 6.ª edição – 2.ª fase do Programa de Estágios Profissionais na Administração
Local (PEPAL) e por ter ficado deserta a referência E, torna-se público, nos termos do n.º 1 do artigo 6.º do Decreto-Lei
n.º 166/2014, de 6 de novembro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 46/2019 de 10 de abril, conjugado com o
estabelecido no artigo 3.º da Portaria n.º 114/2019, de 15 de abril, que se encontra aberto, pelo prazo de 10 (dez) dias úteis
a contar da publicitação do presente aviso na página eletrónica do Município de Cascais, o procedimento de recrutamento
e seleção de estagiários do Município de Cascais, no âmbito da 6.ª edição – 2.ª fase do Programa de Estágios Profissionais
na Administração Local (PEPAL), nos seguintes termos:
Serviço N.º de estagiários Qualificações
DRU/DIEP 1 Licenciatura em Arquitetura
Deverá consultar o Aviso Integral disponível no sítio da Internet do Município de Cascais (www.cascais.pt/sub-area/recur-
sos-humanos), e no Portal Autárquico (www.portalautarquico.dgal.gov.pt), onde pode consultar os requisitos legais e espe-
cíficos do procedimento, os documentos a entregar, os métodos de seleção que serão aplicados, entre outras informações
relevantes.
Cascais, 13 de outubro de 2020.
A Diretora do Departamento de Recursos Humanos
Fátima de Almeida Aviso integral
em
www.cascais.pt

—26 outubro 2020 5


A Radar //
Hotelaria e aviação são alguns dos setores mais afetados pela covid-19
Covid. Pandemia arrasa
turismo: fecha hotéis e
despede na aviação
Rede espanhola Casual Hoteles, com unidades em Lisboa e Porto,
já anunciou encerramentos até 2022. Ryanair também está a despedir.
SÓNIA PERES PINTO
sonia.pinto@ionline.pt
Os efeitos da pandemia são cada
vez mais visíveis no setor do
turismo. Se as perspetivas são
pouco animadoras – o setor pre-
vê uma quebra de 70% a 80%
na taxa de ocupação e uma que-
bra semelhante no que diz res-
peito às receitas, segundo os
números avançados pela Asso-
ciação da Hotelaria de Portu-
gal (AHP) –, a rede espanhola
Casual Hoteles já anunciou que
vai fechar todos os hotéis até
março de 2022.
Este grupo com unidades em
Florença, Porto, Bilbau, Madrid,
Málaga, San Sebastián, Sevilha,
Valência, Cádis e Lisboa justifi-
ca a decisão com as incertezas
6 —26 outubro 2020
que se geraram no setor do turis-
mo devido à crise pandémica.
Recorde-se que a Casual Hote-
les abriu os seus dois primeiros
hotéis no mercado nacional no
ano passado. Trata-se do Casual
Belle Époque Lisboa e do Casual
Inca Porto, e tinha ainda planos
para a abertura de outros dois
hotéis na Invicta em 2020.
Segundo a imprensa espanho-
la, estes encerramentos pode-
rão não ficar por aqui. Mas nos
outros casos – Axel Hotel, Pano-
ram Hotel e Catalonia Hotels –,
a empresa poderá optar por
medidas menos drásticas.
É de referir que a associação
liderada por Raul Martins tra-
çou mais do que um cenário
para o setor. No melhor, as recei-
tas da hotelaria cairão 70% em
relação aos 4,48 mil milhões de
euros registados no ano passa-
do, o que representa uma per-
da de 3,2 mil milhões de euros.
Já no pior, a perda será de 80%,
ou seja, menos 3,6 mil milhões
de euros.
Em relação à taxa de ocupa-
ção, no melhor cenário, ela cai
60%, o que já está praticamen-
te afastado pelos responsáveis
do setor. No cenário conside-
rado mais provável, a taxa de
ocupação cai 70%, com uma
perda de 40,6 milhões de dor-
midas. No pior, a ocupação cai
80%, com menos 46,4 milhões
de dormidas.
AVIAÇÃO TAMBÉM NÃO ESCAPA
Ainda esta sexta-feira, o Sindi-
cato dos Trabalhadores da Avia-
DINHEIRO
DREAMSTIME
ção e Aeroportos (SITAVA) denun-
ciou que a Ryanair e a sua par-
ticipada para as operações de
handling, a Groundlink, estão a
iniciar um processo de despedi-
mento coletivo dos seus traba-
lhadores que, segundo a estru-
tura sindical, está a ser feito “de
forma ilegal”.
Considerando-a uma “comu-
nicação fria, desumana e ilegal”,
os responsáveis do SITAVA admi-
tem, no entanto, que esta atitu-
de do grupo liderado por Michael
O’Leary não é “nada que nos sur-
preenda”, acusando a empresa
de ser “uma parasita da aviação
e da economia nacional, useira
e vezeira de abusos e ilegalida-
des, perante a habitual cumpli-
cidade das autoridades”.
Este anúncio de despedimen-
to surge depois de a companhia
aérea ter anunciado uma redu-
ção para 40% na capacidade de
voos neste inverno em vários
países, entre os quais Portugal,
devido ao impacto da covid-19.
A empresa irlandesa disse ain-
da que as bases em Cork e Shan-
non, na Irlanda, e em Toulouse,
França, vão fechar para a tem-
porada, de novembro a março,
e adiantou que vai reduzir signi-
ficativamente o número de aero-
naves em bases na Bélgica, Ale-
manha, Espanha, Portugal e Vie-
na (Áustria).
Samsung. Presidente
morre aos 78 anos
COREIA DO SUL O presidente da
Samsung Electronics, Lee Kun-hee,
morreu este domingo aos 78 anos,
revelou o grupo sul-coreano. Lee,
que transformou o grupo num
gigante global das telecomuni-
cações, estava acamado desde
um ataque cardíaco, em 2014.
Foi condenado a cinco anos de
prisão em 2017 por corrupção,
pediu recurso e o processo ain-
da está a decorrer.
Uber quer comprar
grupo Free Now
ALEMANHA A Uber quer com-
prar a Free Now – antiga MyTa-
xi, resultado da joint venture do
grupo BMW e da Daimler AG –,
tendo oferecido mais de mil
milhões de euros. Segundo a
revista alemã Manager Maga-
zin, a Daimler está disposta a
vender, mas o presidente da
BMW estará interessado em ofe-
recer só uma participação. O
grupo Free Now está em 17 mer-
cados e conta com mais de 41
milhões de utilizadores.
Preço do gasóleo em
mínimos de 4 meses
PORTUGAL Os preços dos com-
bustíveis vão baixar a partir de
hoje, no que será a maior que-
da do mês. O preço da gasolina
deverá cair um cêntimo para
1,387 euros por litro e a mesma
queda deverá registar-se no gasó-
leo para 1,197 euros por litro, um
valor mínimo desde meados de
junho – isto numa altura em que
o Banco Mundial garante que o
preço do petróleo vai-se manter
baixo além de 2021.
CTT reabrem 20.ª
loja. Agora é Cuba
PORTUGAL Os CTT – Correios de
Portugal vão reabrir hoje a 20.a
loja em sede de concelho, no
âmbito do compromisso públi-
co da empresa. Desta vez abri-
rá portas a loja de Cuba, no dis-
trito de Beja. A empresa diz, no
entanto, que não existe um cro-
nograma definido para a reaber-
tura de lojas, que está dependen-
te de “uma análise detalhada de
todas as variáveis envolvidas”,
refere em comunicado.

Espanha e Itália temem
o regresso do pesadelo
Espanha e Itália, em tempos o epicentro da pandemia de covid-19
na Europa, apertaram restrições face à segunda vaga.
JOÃO CAMPOS RODRIGUES
joao.rodrigues@ionline.pt
Recolher obrigatório das 11 da
noite até às seis da manhã, proi-
bição de reunião com mais de
seis pessoas, possibilidade de
fecho de fronteiras das regiões
mais afetadas: o estado de emer-
gência, com restrições à escala
nacional, volta em força a Espa-
nha, decretou este domingo o
Governo de Pedro Sánchez, depois
de meses a tentar conter a pan-
demia com medidas locais, nas
grandes cidades e arredores, em
Madrid e Barcelona. As medi-
das estarão em vigor pelo menos
15 dias, mas teme-se que pos-
sam ser necessárias durante
meses, talvez até maio.
“A situação por que estamos a
passar é extrema”, avisou o pri-
Depois do pior, em março, Espanha e Itália bateram de novo recordes este mês
meiro-ministro espanhol, peran-
te as câmaras, este domingo. “É
a mais séria do último meio sécu-
lo”, assegurou. Dias antes, Espa-
nha tornou-se o primeiro país
europeu a ultrapassar a marca
do milhão de casos registados
de covid-19, com mais de 10 mil
casos registados no domingo –
rapidamente, a marca foi pas-
sada por França também.
Na altura do anúncio do esta-
do de emergência, já mais de
metade dos executivos das comu-
nidades autónomas pediam ao
Governo espanhol que declaras-
se de novo o estado de emergên-
cia. Agora, a dureza das medi-
das ficará a seu cargo, podendo
até as autoridades locais deci-
dir fechar fronteiras com as
regiões em seu redor se a situa-
ção se agravar.
A situação epidemiológica pare-
ce estar pior até que em março,
quando Madrid foi obrigada a
usar o Palácio do Gelo como
morgue improvisada. Nesse mês,
o número máximo diário de con-
tágios registado foi pouco mais
de 10 mil; na quinta-feira, foram
quase 23 mil. Ainda assim, uma
das grandes preocupações do
Governo espanhol é não forçar
a paralisação económica do país.
Contudo, não é só Espanha que
teme o regresso do pesadelo. Itá-
lia, em tempos o epicentro da
pandemia de covid-19 na Euro-
pa, enfrenta uma segunda ron-
da da pandemia e já aumentou
as restrições. Desde esta segun-
da-feira até 24 de novembro, os
restaurantes e bares italianos
vão passar a fechar às 18h, os
ginásios, cinemas e piscinas
MUNDO
públicas vão encerrar e 75% dos
estudantes com mais de 14 anos
passarão a ter aulas online. Tam-
bém será obrigatório o uso cons-
tante de máscara, inclusivamen-
te ao ar livre,
Durante meses, após o pior,
com os casos a aumentar por
toda a Europa, a Itália foi uma
exceção, com a pandemia rela-
tivamente sob controlo. Contu-
do, nos últimos dias houve um
aumento exponencial de infe-
ções – em 24 de setembro hou-
ve menos de 1800 novos casos
registados, este sábado foram
mais de 19 mil. “Sofreremos um
pouco este mês, mas estamos a
cerrar os dentes com estas res-
trições e seremos capazes de
respirar de novo em dezembro”,
declarou o primeiro-ministro
italiano, Giuseppe Conte.
Em março, o mundo assistiu
com horror às imagens de enter-
ros em massa em Bérgamo, na
Lombardia, que teve quase cin-
co mil casos no sábado. Agora,
o epicentro do surto italiano é
Milão, a poucas dezenas de qui-
lómetros de distância. “Temos
medo que o pesadelo regresse”,
disse Luca Remondini, dono de
um bar em Bérgamo, a um repór-
ter do Observer. “As coisas estão
calmas neste momento, mas
estamos tão próximos de Milão,
e regiões próximas como o Pie-
monte e a Ligúria não estão em
grande forma também”.
OSCAR DEL POZO/AFP
Círculo próximo
de Pence infetado
WASHINGTON O vice-presidente
dos EUA, Mike Pence, vai conti-
nuar no trilho de campanha, ape-
sar de pelo menos cinco dos seus
funcionários, incluindo o seu
chefe de gabinete, Marc Short,
terem dado positivo à covid-19
no sábado. As regras do Centro
de Controlo e Prevenção de Doen-
ças (CDC na sigla em inglês) impli-
cariam que Pence teria de estar
14 dias de quarentena.
Gangster irlandês
capturado
VALÊNCIA A polícia espanhola
acredita ter encontrado a pisto-
la usada para assassinar a jor-
nalista irlandesa Veronica Gue-
rin na villa do gangster John
Gilligan, em Alicante. Guerin
era conhecida por expor senho-
res do crime e atividades crimi-
nosas de nacionalistas irlande-
ses, até que foi abatida num
semáforo, em 1996. Gilligan era
o principal suspeito, mas esca-
pou a uma condenação e vivia
uma vida de luxo em Espanha.
Erradicado ninho de
vespas assassinas
WASHINGTON O primeiro ninho
de vespa-mandarina – a chama-
da vespa assassina – encontrado
nos EUA, em Washington, foi
erradicado com um aspirador,
anunciaram as autoridades. O
ninho desta espécie invasora, de
origem asiática, a maior vespa
conhecida, capaz de matar pes-
soas e destruir vorazmente ninhos
de abelhas, foi encontrado atan-
do pequenos rádios a especíme-
nes encontrados no Canadá.
Morreu a mulher
mais velha
REINO UNIDO A mulher mais
velha do Reino Unido, Joan
Hocquard, morreu, no sábado,
aos 112 anos, no lar de idosos
onde vivia, em Dorset. Joan
nasceu no dia 29 de março de
1908 e foi técnica de ambulân-
cia durante a II Guerra Mun-
dial, ajudando milhares de pes-
soas. Quando a questionavam
sobre o segredo da sua longe-
vidade, recusava a ideia de fazer
alguma dieta especial.
—26 outubro 2020 7
Ensino

ZOOM // O FUTU
B
DOS SOBREDOTAD
8 —26 outubro 2020
URO Cerca de 3% a 5% da população portuguesa
é sobredotada, mas nas escolas ainda falha
a identificação. Chegou agora o Observatório para

DOS
a Sobredotação e Talento que os quer identificar,
dar-lhes resposta e formar professores.
TEXTOS Rita Pereira Carvalho
FOTOGRAFIA Dreamstime

—26 outubro 2020 9

 B Zoom // Ensino
Educação.
Criado
o primeiro
observatório
para
sobredotados
O primeiro Observatório para a Sobredotação e Talento
pretende identificar os alunos sobredotados e formar
os professores para garantir que existe inclusão
destas crianças e jovens.
RITA PEREIRA CARVALHO
rita.carvalho@ionline.pt
Números exatos não existem. Não se
sabe ao certo quantos alunos sobredo-
tados frequentam as escolas portugue-
sas, mas estima-se que entre 3% a 5%
da população tenha esta característi-
ca. “Não estão é identificados” estes
alunos, alertou ao i Alberto Rocha, pre-
sidente da Associação Nacional para o
Estudo e Intervenção na Sobredotação
(ANEIS), sediada em Braga.
Em Portugal, há poucos estudos sobre
as especificidades e sobre as necessi-
dades destes alunos, mas esta é uma
realidade que pode mudar nos próxi-
mos anos. É que há pouco mais de um
mês foi criado o Observatório para a
Sobredotação e Talento, um projeto da
Associação Nacional para o Estudo e
Intervenção na Sobredotação, e o pri-
meiro na área da sobredotação em Por-
tugal. O objetivo é fazer um levanta-
mento das crianças e jovens sobredo-
tados que frequentam os
estabelecimentos escolares do país,
10 —26 outubro 2020
conhecer a realidade em que estão inse-
ridos e criar mecanismos para garan-
tir a inclusão destes alunos.
No âmbito deste observatório, e até
ao final deste ano, a ANEIS espera ter
pronto um kit de sobredotado para dis-
tribuir por oito distritos. Numa fase ini-
cial, serão distribuídos os kits, em for-
mato tecnológico, pelas escolas de Bra-
ga, Porto, Évora, Lisboa, Coimbra, Viseu,
Açores e Madeira. “O objetivo é chegar
a todas as escolas do país”, explicou
Alberto Rocha, acrescentando que o kit
é um conjunto de orientações para que
os professores consigam identificar os
alunos sobredotados. “O kit terá ins-
trumentos de despiste, vídeos de demons-
tração e exercícios que podem fazer
com os alunos. É um conjunto de fer-
ramentas para que os professores pos-
sam fazer a identificação”. Com este
kit, e feita a identificação dos alunos, a
ANEIS espera começar a dar formação
aos professores para que estes consi-
gam responder às necessidades das
crianças e jovens.
Só depois da identificação, defendeu
o presidente da ANEIS, é que podem concorda com as medidas e atenção
ser criados os mecanismos certos. Acon- dadas aos alunos com mais dificulda-
tece, por exemplo, que “alguns casos des de aprendizagem, mas alerta para
são confundidos com hiperatividade” a urgência em criar as mesmas medi-
por falta de conhecimento e estes jovens das para os alunos que têm mais capa-
“são incompreendidos”. Alberto Rocha cidades. “Devemos puxar os que estão
abaixo da média para cima, mas não
podemos puxar os que estão acima da
média para baixo, para ficarem na
média”, explicou.
A proposta para a criação de um obser-
vatório semelhante ao atual já tinha sido
feita ao Parlamento, mas sem sucesso.
Sobredotados têm uma Aliás, o Observatório para a Sobredota-
capacidade acima da ção e Talento é um dos projetos vence-
média, um forte dores do programa “Cidadão Ativ@s”,
apoiado pela Fundação Calouste Gul-
potencial criativo e uma benkian e pela Fundação Bissaya Bar-
elevada persistência reto. “Fizemos o esforço de levar a ideia
à Assembleia da República, porque era
importante para proteger estas crian-
A maioria dos ças e jovens. Não foi possível, mas na
sobredotados vai altura Direção-Geral da Educação pediu
trabalhar para o um guia com um conjunto de estraté-
gias”, explicou Alberto Rocha, acrescen-
estrangeiro quando tando que a ida ao Parlamento “deu
termina o curso alguns frutos, mas muito pouco” com-

parado com aquilo que é necessário. O
guia “Altas capacidades e sobredotação”
foi construído em 2017 e, já nesse ano,
eram dadas pistas para a identificação
de um aluno sobredotado.
“Em termos de definição, não é consen-
sual”, avançou o presidente da ANEIS.
Aliás, existem várias teorias para definir
uma pessoa sobredotada. No entanto, é
o modelo dos Três Anéis, desenvolvido
em 1986 pelo psicólogo Joseph Renzull,
que esta associação destaca. Um aluno
sobredotado junta “uma capacidade aci-
ma da média, um forte potencial criati-
vo e uma elevada persistência”.
A IDADE NÃO É UM LIMITE E EXISTEM MUI-
TOS MITOS Para perceber que os anos
podem não ser sinónimo de nível esco-
lar, Alberto Rocha dá o exemplo de
Rafaela Oliveira, uma jovem que aos
15 anos começou a frequentar o Ensi-
no Superior, na Escola Superior de Músi-
ca e Artes do Espetáculo (ESMAE) e, ao
mesmo tempo frequenta o curso de
Ciências a nível do Ensino Secundário.
No entanto, só é possível conciliar o
Ensino Secundário com o superior se sível que estes alunos avancem até dois
o aluno estiver na área das artes. “Exis- anos. Ou seja, um aluno pode transitar
te um decreto-lei para as artes, mas do 5º ano para o 7º ano. Como explicou
para as outras áreas académicas isso a ANEIS, há crianças que aprendem a
não existe”. ler muito antes da entrada para a esco-
À exceção do ensino secundário, é pos- la, ou fazem cálculos matemáticos des-
de muito cedo. Nestes casos, é consi-
derado fundamental que os alunos sejam
incentivados e ajudados. “É essencial
que eles possam participar e possam
questionar”. Além disso, a sobredota-
ção não é, necessariamente, sinónimo
de um desempenho acima da média
Sobredotados têm uma em todas as áreas: “Pode ser uma sobre-
capacidade acima da dotação numa área muito especifica, a
média, um forte matemática, por exemplo, e depois ser
normal, dentro da média, nas outras
potencial criativo e uma áreas”, explicou o presidente da asso-
elevada persistência ciação responsável pelo primeiro obser-
vatório em sobredotação em Portugal.
Para estes alunos é necessária flexi-
A maioria dos bilidade e, para isso, a ANEIS disponi-
sobredotados vai biliza o “programa de enriquecimento
trabalhar para o em domínios da aptidão, interesses e
socialização” para as crianças e jovens
estrangeiro quando caracterizados como sobredotados.
termina o curso Segundo o programa disponibilizado
Associação alerta para
mitos sobre sobredotados.
Por exemplo, um
sobredotado pode não
ter um desemprenho
acima da média
em todas as áreas
DREAMSTIME
ao i, a idade não interessa, e o progra-
ma está dividido em cinco partes –
humanidades e literatura, história e
arte, ciência, tecnologias, engenharia,
arte e matemática, e ainda inteligên-
cia emocional e competências sociais
e emocionais. O objetivo é que exista
sempre um estímulo e que o aluno sin-
ta que está a aprender, de acordo com
a área que mais lhe interessar.
A Associação Nacional para o Estudo
e Intervenção na Sobredotação já acom-
panhou mais de 300 crianças e um dos
indicadores que considera mais preo-
cupantes é que a maior parte dos jovens
sobredotados que terminam o curso
superior vão trabalhar para o estran-
geiro. “Cerca de 90% destes jovens não
estão em Portugal, porque lhes foram
dadas condições que cá não existem.
Estamos a desperdiçar talento por fal-
ta de estratégia”, alertou Alberto Rocha,
sublinhando a importância da criação
do observatório, para que possam ser
definidas estratégias, não só para o pre-
sente destas crianças e jovens, como
também para o seu futuro.
—26 outubro 2020 11
 B Zoom // Solidariedade

Bom dia, Radar:

o combate à solidão
na terceira idade
Portugal está no top-3 de países mais envelhecidos do mundo.
Devido à pandemia, os lares e os centros de dia fecharam,
deixando os nossos idosos cada vez mais sozinhos. Quem olha
pelos mais velhos? Quem os ajuda a combater a solidão e lhes
dá uma palavra amiga? A resposta é dada pela comunidade.
JOANA FAUSTINO 02
joana.faustino@ionline.pt

Laurinda Barata Duque e Aurora Coelho,

que prefere que a tratem por Lolita, vivem
sozinhas. São ambas viúvas e, enquanto a
primeira tem 86 anos, a segunda tem 81.
Como, devido à pandemia, os centros de
dia estão fechados, as suas rotinas têm
sido cada vez mais monótonas. Para que-
brar essa falta de ritmo, a Junta de Fre-
guesia do Areeiro convidou-as para irem
“tomar um chá e conversar um bocadi-
nho”. Durante a conversa é possível sen-
tir o peso da idade e da solidão, e isso refle-
te a realidade a que cada vez mais idosos
estão sujeitos.
No município de Lisboa são vários os
projetos que pretendem quebrar esta rea-
lidade. O Radar e o Olá, Bom Dia são dois
deles. No Radar é feito um levantamento
das pessoas com mais de 65 anos que vivem
em Lisboa sozinhas ou acompanhadas por
alguém da mesma faixa etária. Essas pes-
soas são depois acompanhadas por rada-
res comunitários, como cafés e farmácias,
por exemplo, situados perto do local onde
os idosos residem. O Olá, Bom Dia é um
projeto mais personalizado. Todas as
manhãs, a dona Cremilde telefona aos ido-
sos referenciados pela Junta de Fregue-
sia do Areeiro para que eles possam con-
versar por alguns minutos.
PROJETO RADAR O projeto Radar existe
em Lisboa desde 2018. A ideia surgiu de
um programa homónimo que existia já
na cidade de Barcelona. É um programa
da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
(SCML) que pretende identificar pessoas
com mais de 65 anos que vivam em situa-
ção de isolamento ou apenas com outras
da mesma faixa etária. O projeto desen-
volve-se em larga escala, principalmente
através da sua abrangente rede de parcei-
ros. Entre eles estão a Gebalis, empresa
que gere o parque habitacional municipal
de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa,
juntas de freguesia e a Polícia de Seguran-
ça Pública (PSP). Hugo Gaspar afirma que
a PSP é um “parceiro importantíssimo”
porque a data de início do projeto “coin-
cidiu com uma altura em que a polícia
12 —26 outubro 2020
andava a dizer ‘não abram a porta a nin-
guém’ e muitos seniores levaram isto à
letra”. Quando acompanha as equipas de
rua, a PSP permite que haja um “desblo-
queio” por parte dos idosos e que estes se
sintam mais à vontade.
COMO É FEITO ESSE APOIO? Este projeto
funciona através dos mais de 2300 rada-
res comunitários que existem no municí-
pio de Lisboa. Farmácias, mercearias e
comércio local, associações e coletivida-
des, por exemplo, podem ter essa função.
O único requisito necessário é “a vonta-
de”, afirma Hugo Gaspar, um dos coorde-
nadores da iniciativa. A função dos rada-
res comunitários é o acompanhamento
contínuo feito no seio da comunidade. Para
alguns idosos, o processo de contar as suas
vulnerabilidades torna-se mais fácil quan-
do um recetor é “uma cara amiga”. Mui-
tos deles nem se apercebem que têm alguém
a olhar por eles e que nota a sua falta “quan-
do não vão ao café ou à farmácia”.
O objetivo é que se dê “uma mudança
estrutural na forma como a comunidade
se organiza”, conta Nivaldo da Silva, um
dos colaboradores da Santa Casa que efe-
tua as ações de rua. A par destas ações, a
plataforma Radar faz a monitorização dos
idosos através de chamadas telefónicas.
Quando as chamadas não são atendidas
por diversas vezes e não é possível esta-
belecer contacto, os colaboradores diri-
gem-se às casas dos idosos para se certi-
ficarem de que nada de errado se passa.
Sérgio Cintra, administrador da Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa, afirma ao
i que este projeto só funciona se, enquan-
to indivíduos, todos “tivermos a preocu-
pação de olhar pelos nossos vizinhos e pela
família”. Caso contrário, “não é a polícia,
nem a junta de freguesia, nem a Santa
Casa da Misericórdia que resolvem”.
São já 30 mil os idosos que estão inseri-
dos no programa, sendo 65% mulheres.
Este número representa apenas um quar-
Cerca de 30 mil idosos
lisboetas estão inseridos
no projeto Radar
e a grande maioria
são mulheres
Hugo Gaspar garante
que o único requisito
para se ser um radar
comunitário
“é a vontade”
 01

03 to dos lisboetas que vivem nestas condi- 01 Nivaldo da Silva

ções. Hugo Gaspar, o diretor de Núcleo e Inês Gonçalves são
da Unidade de Missão “Lisboa, cidade de dois dos colaboradores
todas as idades”, na qual se insere o pro- do projeto Radar
grama, afirma que o objetivo é que, num
futuro próximo, esse número aumente 02 O Radar vai a casa dos
para o dobro. idosos que são
monitorizados caso não
OLÁ, BOM DIA A par do projeto Radar, tam- consigam contactá-los
bém a Junta de Freguesia (JF) do Areei- por chamada telefónica
ro fornece um apoio continuado aos ido-
sos que vivem em situação de isolamen- 03 As farmácias servem como
to na freguesia. Neste caso, o contacto é radares comunitários e
feito por uma profissional da junta que reparam logo se os idosos
telefona diariamente aos idosos para garan- deixam de aparecer
tir que está tudo bem. Fernando Braamcamp,
o presidente da junta, afirma que criou o
projeto “Olá, Bom Dia há cerca de dez anos,
quando [ouviu] falar de muitos idosos a
morrerem em casa sem que ninguém se
desse conta disso”.
Cremilde Cerqueiro é quem se encarre-
ga de, todos os dias, contactar os 50 ido-
sos residentes no Areeiro que estão refe-
renciados no programa. “É indescritível
falar com uma pessoa que se está a lamen-
tar, às vezes a chorar, e depois saber que
consegui deixá-la a rir”, conta a funcioná-
ria da JF do Areeiro. Há pessoas que con-
tacta diariamente e outras apenas de dois
em dois dias “porque nem sempre tenho

continua na página seguinte >>

—26 outubro 2020 13

 B Zoom // Solidariedade
04 Fernando Braamcamp
(presidente da Junta de
Freguesia do Areeiro) à
esquerda e Sérgio Cintra
(administrador da SCML)
em contacto com um
Radar Comunitário
05 Laurinda Barata Duque é
uma das idosas
monitorizadas pelo projeto
Radar
06 Lolita Coelho vive sozinha
e foi ao Centro de Dia do
Alto Pina, no Areeiro,
tomar um chá.
>> continuação da página anterior
disponibilidade”, assume Cremilde. Mas
a assistente da junta sente que a relação
que tem com os idosos é quase “como se
fossem parte de uma família alargada” e,
por isso, quando passa um dia sem lhes
ligar, “eles ficam preocupados e fazem-me
o Olá, Bom Dia a mim”
Este trabalho é feito pela mesma funcio-
nária há já seis anos e as conversas podem
durar apenas cinco minutos ou até uma
mesmo uma hora. Fernando Braamcamp
admite que teve um cuidado especial em
tentar “encontrar a pessoa com o perfil
exato para cumprir essa função, mas a
Cremilde é mesmo essa pessoa”.
A Junta de Freguesia do Areeiro alia o
programa Olá, Bom Dia às mais varia-
das atividades para manter a terceira
idade mental e fisicamente sã. Da pintu-
ra à cerâmica, da hidroginástica ao tai
chi, não há espaço para dizer que “não
há nada para fazer”. A Academia Sénior
do Areeiro já chegou a ter perto de 300
idosos inscritos nas aulas, mas este ano,
devido à pandemia e ao consequente
medo de sair de casa, são apenas 89 os
alunos inscritos este ano. Cremilde con-
ta inclusivamente ao i o episódio de “uma
senhora a praticar tai chi, que fez este
ano uns belos 99 anos, e um dia, duran-
te o período de confinamento, me ligou,
14 —26 outubro 2020
aborrecida, porque estava urgentemen-
te a precisar de ir à hidroginástica”.
SEMPRE EM MOVIMENTO O tai chi é feito
todas as sextas-feiras às dez horas da manhã
no ginásio ao lado da Junta de Freguesia
do Areeiro. Antes da pandemia eram 30 alu-
nas de cada vez; agora, o número máximo
é de apenas dez. Ao entrarmos no ginásio,
é-nos pedido que nos descalcemos. O prof.
Eduardo Coelho costuma dar a aula para
cinco idosas que, apesar da sua aparente
fragilidade, são uma “força da natureza” no
que toca a dominar esta arte marcial. A aula
começa com uma música relaxante em que
somos capazes de detetar o som de água a
correr. O objetivo principal não é chegar ao
domínio da arte marcial, mas sim “treinar
a capacidade de concentração como se fos-
se meditação em movimento”, conta o pro-
fessor ao i. Os movimentos são feitos a um
ritmo lento a que, ao som da água, se jun-
ta a voz do professor: “Inspira, leva o braço
atrás, roda a anca, expira”.
A dona Lucília, apesar de viver sozi-
nha, não sente o peso da solidão. Pelo
contrário, sente-se acarinhada por toda
a gente da comunidade. “Todos eles
gostam muito de mim”, afirma a qua-
se centenária. Cremilde Cerqueiro con-
ta a história de quando “a dona Lucí-
lia partiu cinco costelas, em agosto do
ano passado. Em setembro tínhamos
uma viagem marcada à Madeira e a
bacaninha lá foi”.
No edifício ao lado são dadas aulas de
pintura. O número de alunos também é
reduzido – neste dia, foram apenas qua-
tro. A prof.a Salomé acompanha as pinto-
ras recreativas em cada quadro que fazem.
Ao olharmos para eles, é praticamente
impossível detetar que são feitos por pes-
soas de terceira idade, sendo a exatidão
dos traços notória.
COMO UMA FAMÍLIA Ao trabalhar há meia
dúzia de anos neste serviço da junta de
freguesia, Cremilde confessa que criou
uma ligação muito forte com as pessoas
com quem fala diariamente. Todas as con-
Cremilde Cerqueiro
dá diariamente
os bons-dias a vários
idosos residentes
no Areeiro
Fernando Braamcamp
criou o projeto
Olá, Bom Dia
há cerca de dez anos
versas que tem são confidenciais e os ido-
sos sabem-no, o que os faz ver na voz do
Olá, Bom Dia um porto de abrigo: “Só divul-
go à assistente social se sentir que a pes-
soa não está bem e precisa de outros cui-
dados”, garante Cremilde. Uma dessas
pessoas é Maria Aliete. A sexagenária é
utente do programa desde 2014 e rece-
ber “aquela chamada amiga todas as
manhãs é uma grande alegria”. A idosa
assume que, apesar de viver sozinha, não
se sente assim porque “a dona Cremilde
é como se fosse família”.
Na parede da sua sala, Cremilde tem
expostos inúmeros quadros feitos pelos
alunos do curso de pintura da Academia
Sénior: “Eu não quero que ninguém diga
que só estou aqui pelo que me oferecem,
tanto que digo para não me darem nada,
mas como é que recuso quando fazem isto
para mim?”
A relação de Cremilde com cada um dos
idosos que atende é especial e adequada
a cada uma das pessoas: “Há pessoas a
quem posso contar uma anedota e outras
a quem não posso, depende. As conversas
são diferentes com todas as pessoas”. A
assistente assume que tem de ter um cui-
dado especial com cada um dos idosos e
que, por vezes, é difícil ajudá-los porque
“sentem vergonha de pedir ajuda”.
Algumas das pessoas que são ajuda-
das pelo Olá, Bom Dia estão também
04

05

06 notificadas na plataforma Radar mas,

sendo os projetos de caráter diferente
– um de acompanhamento diário e mais
pessoal e outro com uma maior compo-
nente institucional –, isso não se torna
um problema.
Cremilde Cerqueiro acredita que uma
pessoa é o conjunto daquelas que a rodeiam
e, por isso, em relação aos elogios que
fazem ao seu trabalho, responde: “Eu sou
boa porque eles são bons. Os meus uten-
tes são os melhores do mundo”. Ao seu
lado está sentada Maria Aliete, que foi bus-
car máscaras fornecidas pela junta. A ido-
sa comove-se e responde a este comentá-
rio com um simples “a dona Cremilde é a
melhor do mundo”.
César Laranjo, o responsável pela comu-
nicação da Junta de Freguesia do Areei-
ro, diz que o projeto Radar se assemelha
bastante àquele promovido pela sua fre-
guesia, “mas com uma estrutura mais
forte”. A base de ambos é a comunicação
em rede e o objetivo final é mudar a manei-
ra como a comunidade olha para os seus
seniores. “É uma pena que não se expan-
da para o resto de Lisboa”, assume César,
“porque não é uma coisa muito compli-
cada ou que envolva muitos custos: bas-
ta pôr as pessoas certas a fazer as coisas
certas”. O responsável pela comunicação
conclui: “Era preciso que houvesse cem
Cremildes”.

—26 outubro 2020 15

 B Zoom // Finanças pessoais

APRENDA A POUPAR E, A PARTIR DAÍ, ESCOLHA O MELHOR PRODUTO EM QUE PODE INVESTIR

DIA Depósitos
a prazo
Certificados
de aforro e CTPC
Obrigações
do Tesouro
MUNDIAL Se a sua simplicidade é uma A perda de atratividade dos Até há bem pouco tempo,

DA das vantagens, a taxa de

remuneração oferecida torna
depósitos a prazo está a levar os
aforradores portugueses a
adquirir obrigações do Tesouro
(OT) era um bom negócio, já

POUPANÇA
No dia 31
comemora-se o
Dia Mundial da
Poupança. Por isso,
esta é a altura ideal
para fazer contas e
pensar onde pode
investir. O certo
é que nem sempre
há margem para
amealhar e a taxa
de poupança das
famílias continua
a atingir níveis
mínimos. Não
existem soluções
este produto financeiro menos
atrativo devido à queda da taxa
da Euribor em todos os prazos.
Apesar de ter vindo a perder
adeptos nos últimos anos
devido às taxas de juro que
apresenta, continua a ser um
dos instrumentos de poupança
preferidos dos portugueses. A
maioria dos depósitos estão a
pagar, em média, uma taxa
anual líquida próxima do zero.
Mas se é certo que não existe
nenhuma aplicação financeira
que esteja 100% isenta de
risco, também é verdade que há
aplicações que comportam um
risco maior do que outras. Se
analisarmos a escala de risco
dos vários produtos financeiros
disponíveis para os aforradores
e investidores, os depósitos
estão entre as aplicações mais
seguras e, no pior cenário e se
o banco falir, os clientes podem
recorrer ao Fundo de Garantia
de Depósitos até 100 mil euros
olharem cada vez mais para os
produtos de poupança do
Estado. Neste universo, os
Certificados do Tesouro
Poupança Crescimento (CTPC) –
que vieram substituir os
Certificados do Tesouro
Poupança Mais – são o produto
que mais interesse tem
despertado. No caso do aforro, a
taxa de remuneração é calculada
com base na média dos valores
da Euribor a três meses
observados nos dez dias úteis
anteriores, acrescida de 1%.
Como a Euribor está atualmente
em valores negativos, a taxa de
juro para novas subscrições de
certificados de aforro (série E) foi
fixada em 0,516% brutos.
Já nos CTPC, a taxa de juro é
crescente: no primeiro e segundo
anos são pagos 0,75%
(remuneração bruta), que sobem
para 1,05% no terceiro ano,
1,35% no quarto, 1,65% no
quinto e 1,95% no sexto, até
que era uma das formas mais
rentáveis de aplicar as
poupanças de médio ou longo
prazo com capital garantido.
Mas o certo é que as OT
ganharam uma nova vida
quando, em 2016, o Estado
lançou as Obrigações do
Tesouro de Rendimento
Variável (OTRV), uma vez que
este produto é o principal
instrumento do Estado para
satisfazer as suas
necessidades de
financiamento. O certo é que
este produto de poupança tem
invertido a tendência de
desinvestimento em títulos de
dívida que as famílias
portuguesas vinham traçando.
Em relação ao risco, é
semelhante ao dos
certificados, ou seja, só há
risco de perder capital se o
Estado entrar em
incumprimento.

milagrosas, mas há
pequenos truques
que pode seguir de
forma a conseguir
pôr algum dinheiro
de parte no final do
mês. A partir daí, só
precisa de selecionar
o melhor produto
de investimento de
forma a rentabilizar
essa verba extra.
O i dá uma ajuda.
SÓNIA PERES PINTO
sonia.pinto@ionline.pt
por banco e por titular.
De acordo com a Deco,
“tipicamente, os depósitos a
prazo até 12 meses, que podem
ser mobilizados
antecipadamente, são a melhor
opção para esta primeira fase
da poupança. Embora as
rentabilidades atuais não sejam
particularmente atrativas, o
capital está garantido e a
liquidez é imediata. Tenha,
porém, em atenção a ficha de
informação normalizada do
depósito, para confirmar se
pode levantar o dinheiro antes
do fim do prazo, em caso de
necessidade”.
atingir no último ano 2,25%. A
taxa de juro a partir do segundo
ano é acrescida de um prémio
correspondente a 40% do
crescimento médio real do PIB, a
preços de mercado nos últimos
quatro trimestres conhecidos no
mês anterior à data de
pagamento de juros.
Em setembro, o investimento em
certificados aumentou 124
milhões de euros, de acordo com
os últimos dados do Banco de
Portugal. O investimento nos
certificados do Tesouro
aumentou 116 milhões de euros
no mês passado para um total de
17 367 milhões. Já os tradicionais
certificados de aforro totalizaram
12 173 milhões de euros em
setembro, um aumento de oito
milhões face ao mês anterior.

16 —26 outubro 2020

Plano Poupança
Reforma
A principal vantagem dos PPR
era o benefício fiscal que
proporcionavam, pois permitiam
deduzir 20% das entregas
anuais efetuadas até 300, 350
ou 400 euros, consoante a
idade do subscritor. Mas, desde
2015, as regras mudaram: os
limites são em função da idade
(400 euros até aos 35 anos, 350
euros entre os 35 e os 50 anos
ou 300 euros para quem tenha
mais de 50 anos), conjugados
com os limites das deduções
totais à coleta. A maioria dos
PPR tem capital garantido, por
isso, o perfil de risco é
moderado. Para a Deco, quem
está a menos de dez anos da
reforma não deve aplicar mais
dinheiro em PPR para poder
resgatar aos 60 anos sem
problemas. Já quem tem entre
os 40 e os 55 anos pode
continuar a investir, porque
alguns PPR apresentam juros
mais elevados que os
depósitos.
Bolsa
O investimento direto na bolsa
ainda assusta muitos portugueses.
Pode representar um negócio
rentável, mas o risco é sempre mais
elevado em relação aos outros
produtos de investimento.
O investidor pode fazer a compra
individualmente, quando escolhe
diretamente as ações que deseja,
ou através de fundos de ações, ao
adquirir unidades de participação
de um destes instrumentos. Os
especialistas aconselham os
interessados a fazer este
investimento a prazo (pelo menos a
cinco anos) para ultrapassarem as
flutuações do mercado.
Qual a melhor solução para aplicar
o seu dinheiro? O melhor é ir
investindo de forma periódica e
regular. A tendência dos mercados
financeiros é para valorizarem a
longo prazo. O investimento
periódico e regular permite ainda
expurgar os efeitos da emoção no
investimento. Não vale a pena
tentarmos adivinhar o melhor
momento para investir.
Não se esqueça, no entanto, de
que em momentos de maior
incerteza devemos evitar o
investimento num determinado
ativo. O foco deverá passar por
uma estratégia diversificada em
que apostamos em vários ativos e,
eventualmente, em classes de
ativos distintas.
Não se esqueça da regra “dividir
para reinar”: ao escolher títulos de
diferentes países e setores
consegue reduzir as flutuações do
investimento.
Tenha em conta o intermediário
financeiro: uma opção acertada
pode significar uma poupança de
muitos euros, pois a eleição do
melhor intermediário financeiro
depende do seu perfil de investidor.
Ouro
O ouro continua a ser visto
como um bom investimento de
refúgio no caso de uma grave
crise mundial e de colapso do
sistema financeiro. No entanto,
esta vantagem só se aplica ao
metal em termos físicos já que,
no que toca ao investimento em
produtos financeiros
associados ao ouro (fundos,
ETF, entre outros), é preciso ter
em conta que a cotação desta
matéria-prima é extremamente
difícil de prever.
Há ainda outras desvantagens
que estão associadas ao seu
potencial de valorização e à
especulação no mercado. E, ao
contrário do que possa pensar,
quando decidir vender as
barras, nada garante que ganhe
dinheiro. Por exemplo, quem
comprou ouro em 2011 ou 2012
e tente vender agora apenas
recuperará pouco mais de
metade do valor aplicado. Se
considerarmos as comissões e
as margens praticadas pelos
bancos, a perda será ainda
mais agravada. É muito
provável que mesmo num
período de subida da cotação
internacional do ouro, não
consiga um melhor preço pelas
barras, dado o diferencial que
existe entre o valor da venda e
o da compra.
Mas, independentemente da
forma escolhida para investir no
metal precioso – desde tê-lo
nas mãos, comprando moedas
e barras, ou investindo em
produtos financeiros com
exposição ao ouro –, o
investidor deve ter sempre em
consideração o horizonte
temporal, que deve ser
encarado numa perspetiva de
longo prazo, e as perdas
potenciais do investimento, já
que, nos últimos tempos, o ouro
tem vindo a perder o seu brilho.
Outras regras
a seguir
Faça um mapa
de receitas e despesas
• O primeiro passo para avaliar a
saúde das suas finanças é saber
para onde está a ir o dinheiro.
Faça um mapa de receitas e
despesas, apontando
diariamente todos os encargos,
do empréstimo da casa ao café.
Só fazendo uma lista exaustiva
das despesas vai ser possível
avaliar o caminho que o seu
dinheiro está a tomar. Além
disso, será ainda possível avaliar
o peso das diferentes despesas
no orçamento familiar, de forma
a reequilibrar as contas lá de
casa.
Avalie a sua capacidade de
endividamento
• Este indicador é cada vez mais
importante para os bancos
quando um cliente pede um
empréstimo, ou seja, é a
chamada taxa de esforço. E o
que significa isto? Na prática,
não é mais do que verificar
quanto pesam os créditos no seu
orçamento. Quanto menor for o
peso dos créditos no orçamento
familiar, melhor. Por isso,
verifique o que acontece no seu
caso. Se os créditos ultrapassam
os 40% e prevê que esse valor
aumente, tenha atenção, porque
está na zona de alerta.
Conheça o seu estado financeiro
• Financeiramente saudável,
equilibrado, endividado ou
sobre-endividado: qual o seu
estado? Este indicador é o ideal
para avaliar a sua situação atual.
Ou seja, saudável será quem
poupa mais de 20% do
rendimento mensal.
Financeiramente equilibrado
será quem põe de parte até 20%
do rendimento mensal.
Endividados serão os que não
conseguem poupar, ou seja,
gastam tudo o que ganham. Por
fim, os sobre-endividados serão
os que gastam mais do que
ganham e já não conseguem
pagar as dívidas.
—26 outubro 2020 17
 C Opiniões
CONTA CORRENTE
Luís Filipe Vieira, pelo futuro
O Benfica é hoje mais Benfica do que era há uns anos. Tem mais vitórias do que costumava ter, mais modalidades,
maior diversidade de género, mais património, maior valorização da memória e mais sementes de futuro.
António Galamba
O Sport Lisboa e Benfica vai a eleições na
quarta, depois de uma campanha eleitoral
em que os incumbentes ultrapassaram várias
linhas vermelhas da preservação da ima-
gem do clube, do tom para tentar fazer valer
as suas posições e dos fins que parecem jus-
tificar todos os meios. A indução de bota-
abaixo, de populismo de circunstância e de
impreparação para a liderança do clube,
amplificada pela realidade virtual das redes
digitais, só não foi maior porque a equipa
de futebol não ajudou. Ganhou os jogos e
com sinais positivos em relação a anos ante-
riores, em termos de nota artística. Teria
sido a cereja no topo do bolo da utilização
de todos os argumentos dos adversários do
clube, de alguma imprensa e de outras tan-
tas elites para fustigar Vieira e o clube.
A campanha eleitoral em que muitos subli-
nham o passado de resgate, posicionamen-
to e liderança patrimonial, desportiva e
financeira do clube para apoiar a recandi-
datura do atual presidente, evidência que
Luís Filipe Vieira deve ganhar pelo futuro.
Há um argumento de circunstância, da
atual crise pandémica e dos seus impactos,
em que importará ter na liderança do clu-
be equipas com experiência e conhecimen-
to das dinâmicas existentes e dos pilares
de suporte de um projeto desportivo e
empresarial. Nenhuma das outras candi-
daturas tem o músculo e a maturidade para
enfrentar o atual cenário e o pós-pande-
inevitável
www.ionline.pt
DIRETOR
Mário Ramires
DIRETOR EXECUTIVO
Vítor Rainho
DIRETOR EXECUTIVO ADJUNTO
José Cabrita Saraiva
SUB-DIRETORA EXECUTIVA
Marta F. Reis
DIRETOR DE ARTE
Francisco Alves
18 —26 outubro 2020
mia. A mudança como a manutenção não
são fins em si mesmos. São impulsos orien-
tados para a concretização num determi-
nado contexto. Não é um fala-barato caro
ou um bota-abaixo empedernido, em regis-
to mono, que vão orientar-se para uma rea-
lidade estéreo que conjuga a existência de
vários mundos. Quem não fez ou quis dei-
xar de fazer não o fará na exigência da atual
conjuntura.
Há um argumento estrutural. O Benfica
é hoje mais Benfica do que era há uns anos.
Tem mais vitórias do que costumava ter,
mais modalidades, maior diversidade de
género, mais património, maior valoriza-
ção da memória e mais sementes de futu-
ro. O mandato que termina resgatou a pro-
priedade do Estado e da BTV para o acer-
vo do clube e consolidou o caminho de
posicionamento de liderança dos proces-
sos desportivos em Portugal. Podemos não
ganhar sempre, mas há condições para o
sucesso como nunca. Ao invés de algumas
narrativas, não há milagres, o caminho é
mesmo o do trabalho sustentado, por ten-
tativa e erro ou acerto – algo que outros
nunca estiveram dispostos a fazer, com
humildade, ou fizeram-no na fast-food, com
mão-de-obra mal paga. O Benfica não pode
ser um palco para egos, elites ou gente à
procura daquilo que não tem na vida, com
recurso ao “vale-tudo” e aos protagonistas
de desqualificados “vale-tudo”, como acon-
teceu com a partilha nas redes sociais de
uma reprodução de uma imagem de Hitler
com a cara do atual presidente por alguém
da candidatura de Noronha Lopes. O Sport
Lisboa e Benfica é demasiado importante
para os sócios, os adeptos e a sociedade por-
tuguesa para se poder sujeitar a uma nova
deriva Vale e Azevedo ou similar. Só Luís
Filipe Vieira, Rui Costa e a restante equipa
estão em condições de prosseguir o essen-
cial do caminho percorrido, consolidar o
CONSELHEIRO EDITORIAL José António Saraiva
REDATORES PRINCIPAIS Afonso de Melo e Felícia Cabrita
EDITORA EXECUTIVA Sónia Peres Pinto EDITORES Joana
Andrade e Luís Claro POLÍTICA Cristina Rita SOCIEDADE
Joana Faustino, Maria Moreira Rato, Pedro Almeida e Rita
Pereira Carvalho
ECONOMIA Daniela Soares Ferreira e João Amaral Santos
INTERNACIONAL João Campos Rodrigues e Hugo Geada
CULTURA Cláudia Sobral, Diogo Vaz Pinto e Mariana Madrinha
DESPORTO Laura Ramires IMAGEM Miguel Silva (Fotógrafo),
Bruno Gonçalves (Fotógrafo), Mafalda Gomes (Fotógrafa),
Óscar Rocha (Infográfico), Ana Gonçalves (Gráfica), João
Sousa (Gráfico), Miguel Peixe Dias (Gráfico), Fátima
Albuquerque (Pós-produção de imagem) Júlio Rodrigues (Pós-
produção de imagem)
GESTÃO DE CONTEÚDOS Carmen Guilherme,
Cristiana Reis e Inês Martins
REVISORA Maria Eugénia Colaço
ADJUNTA DIREÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Carolina Silva
ASSISTENTE DIREÇÃO E REDAÇÃO Margarida Alexandre
posicionamento alcançado, corrigir os erros
e continuar a lançar as sementes de um
futuro sustentável e ganhador.
Há um argumento de diversidade e coe-
são. O universo do SLB é diversificado, nun-
ca poderá ser das elites que, para terem sin-
tonia com o povo, se reúnem ao balcão de
uma rulote das bifanas com uma mini na
mão, em condescendência alcoólica, ou dos
que fazem da exclusão e do bota-abaixo
uma forma de estar na vida. Só Luís Filipe
Vieira garante a preservação da diversida-
de com o foco no clube, no trabalho e na
obtenção dos resultados – aliás, como se
constata pelas equipas que apresenta ao
sufrágio dos sócios.
O Benfica é alvo de muitas invejas, da arbi-
trariedade, de distorções do funcionamen-
to de sistemas da sociedade portuguesa e
da ganância mediática de quem sabe que
uma notícia do clube é um leitor, um ouvin-
te ou um telespetador a mais. Não pode
estar capturado nem capturar, tem de afir-
mar de forma sustentada os seus interes-
ses num país como Portugal, com noção
de um contexto desportivo, económico,
social e cultural que é o que é – conjugan-
do a memória com o futuro, os negócios
com a identidade, a diversidade com o foco,
tradição e inovação, paixão com profissio-
nalismo, mas sempre com noção de que
existem linhas vermelhas de ação e de inter-
ação, internas e externas.
O Benfica é um clube democrático e trans-
parente. Viu devassada e truncada uma
década de comunicações internas, viu divul-
gados contratos com jogadores deposita-
dos na Federação Portuguesa de Futebol
com impactos na gestão do plantel, tem os
média a socorrerem-se do clube para aumen-
tar as vendas, tem assembleias-gerais escru-
tinadas como nenhum outro, em que há
quem confunda liberdade de expressão
com insulto, como se se tratasse de uma
ADMINISTRAÇÃO Mário Ramires
(Presidente do Conselho de Administração)
DIREÇÃO GERAL Mário Vaz Ramires
FISCAL ÚNICO José Maria Ribeiro da Cunha
DEPARTAMENTO FINANCEIRO Susana Pires (TOC)
DEPARTAMENTO COMERCIAL E MARKETING
António João Ramires – Dir. Comercial
(antonio.ramires@newsplex.pt) Tel: 917167170,
Ana Vaz Ramires – Dir. Marketing (ana.ramires@newsplex.pt)
Tel: 916491914)
PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Mário Silva (Diretor)
DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA Hugo Marques (Diretor),
Bruno Ferreira e Miguel Branco
DEPARTAMENTO JURÍDICO E DE RECURSOS HUMANOS
Gonçalo Guérin (Diretor) e Fátima Esteves, Ana Rodrigues (RH),
Pedro Ferreira (Apoio Logístico)
e Egualdina Pereira (Serviço limpeza)
rede social qualquer ou de uma mesa de
café, e até tem um pseudo-arauto de mais
democracia que, em véspera das eleições
e em desespero da falta de onda de mudan-
ça, em estado de baixa-mar, procura anu-
lar as outras duas candidaturas concorren-
tes contra Luís Filipe Vieira.
O Benfica é um porta-aviões em que alguns
enunciam propostas de gestão de um bar-
co a remos, sem noção da realidade, do que
deve ser o posicionamento e do que são as
disponibilidades, apesar do caminho de res-
gate, posicionamento e liderança construí-
dos. Terá sempre de melhorar em muita
coisa, mas a partir da consolidação do que
foi construído, nunca a partir da sua implo-
são, para modelos que já tivemos no pas-
sado e que outros têm no presente. Quar-
ta-feira, como em qualquer instituição demo-
crática, os sócios dirão de sua justiça.
Por mim, será Luís Filipe Vieira, pelo
futuro.
NOTAS FINAIS
VOO DA ÁGUIA. Lá de cima olha-se e não se
acredita no que se vê. O contágio por covid-
19 alastra, o novo normal é a incapacidade
de antever, de estabelecer normas inteligí-
veis e de haver critérios uniformes, em vez
do arbítrio. Sim aos ajuntamentos na Fór-
mula 1, não a tanta coisa. Era preciso sen-
so e critério, algo incompatível com a nave-
gação à vista. O tal porta-aviões conduzido
como barco a remos.
SEJA ONDE FOR. O país que se sobressalta
com os escândalos também consegue fazê-
lo por boas razões. Quase não tivemos ciclis-
mo de competição nas nossas estradas, mas
vibrámos com as prestações fabulosas do
João Almeida e do Rúben Guerreiro no Giro
de Itália. Com trabalho e perseverança, é
possível surpreender.
Escreve à segunda-feira
PROPRIETÁRIO/EDITOR
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Tagus Park. Núcleo Central, sala 362 a 373
2740-122 Porto Salvo, OeirasNIPC 513766073,
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o n.º 513766073, Capital Social 150.000 euros, Detentores
de mais de 10% do capital: Mário Ramires Registo ERC 223939
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IMPRESSÃO Sogapal DISTRIBUIÇÃO VASP
Depósito legal 293616/09 Registo ERC 125624
TIRAGEM MÉDIA 14 000 exemplares.
OPINIÃO
A “aldeia” do Parque
das Nações
A imagem não abona quanto à sensibilidade social dos dias que correm,
interpelando tanto a política como a cidadania, num espaço que se julgaria
expressão plena de modernidade e bem-estar social.
Carlos Pinto
Ontem, manhã cedo, encostadas aos blocos confi-
nantes com a pala de Siza no Parque das Nações,
uma boa meia dúzia de casotas montadas com tol-
dos e panos cuidadosamente unidos abrigavam pes-
soas que ali tinham passado a noite e daí a pouco
iriam despertar para novo dia.
Como se de pequena-“aldeia”-dos-sem-abrigo-do-
Parque-das-Nações, em último recurso, se tratasse.
Próxima de blocos habitacionais de elevado valor,
a imagem não abona quanto à sensibilidade social
dos dias que correm, interpelando tanto a política
como a cidadania, num espaço que se julgaria expres-
são plena de modernidade e bem-estar social.
É certo que não se vislumbra em parte alguma do
mundo a sociedade urbana perfeita e isenta da rea-
lidade de quem fica para trás ou é vítima das cri-
ses regulares, bem como das excecionais, como
aquela que vivemos.
Mas a indiferença perante este fenómeno de um
ser humano não ter o básico, e apenas encontrar
como acolhimento a rua, deixa marca a quem olha
esta realidade.
Portugal é hoje também esta “aldeia” do Parque
das Nações, uma das muitas espalhadas pelo país.
E é aqui que o discurso político precisa de serie-
dade e de maior conformidade com o dia-a-dia nas
arenas institucionais.
Ainda esta semana se ouvia o responsável das
Finanças puxar do argumento de que austeridade
diabólica é com os outros, que ele e o partido que
o fez ministro, obviamente, não representam e não
praticam.
É difícil não detetar um estado de negação aventu-
reiro nesta conduta que, até bater na parede, há de
insistir na tentativa de iludir almas e pensamentos.
A mensagem que estas declarações passam é a de
que a política em Portugal está hoje desligada da
realidade do quotidiano, em que as empresas pagam
salários sem produção, algumas despedem sem
alternativa, e as famílias consomem sem a contra-
partida da mais-valia produtiva de que o consumo
seria subsequente consequência, enquanto o minis-
tro produz discurso como se este facto merecesse
apenas a ficção declarativa.
Um brutal equívoco político-institucional vive o
nosso país para que não se aborde a questão de
Estado das democracias parlamentares modernas,
a que só uma solução política maioritária de Gover-
no daria resposta, interpelando o sentido mais con-
vencional de uma base político-social alargada,
empenhada e programática.
No atual estado de jogo de sombras à esquerda,
julgam os protagonistas ter encontrado soluções
para o presente que, na sua essência, apenas garan-
tem poder para subsistirem na área do poder, mas
não para “governarem” o país naquilo que devia
ser condição sine qua non para um melhor futuro:
a realização das reformas em agenda que, no pre-
sente, condicionam o estado do país nas próximas
décadas.
E se, ainda assim, vigora este espírito na produ-
ção afirmativa do atual Governo, não menos aca-
démica se não também omissa, é a conduta que
vem da oposição.
Incapaz de perceber que a situação é comparável
a uma declaração de guerra pela arma pandémi-
co-sanitária, destroçando a confiança e segurança
nos fundamentos que se tinham como garantidos
pelo Estado, nada se alterou para os protagonistas
políticos também da oposição que não fosse a con-
tinuidade de avaliação e previsão como se tudo não
passasse de vicissitudes circunstanciais, o que Por-
tugal vive nos diversos planos do desastre econó-
mico e social.
É facto que entre muitas “irreversibilidades” hoje
absurdas que a Constituição trouxe até aos nossos
dias, uma delas é a criação de uma espécie de tem-
po “sanitário” entre a eleição presidencial e a dis-
solução da Assembleia da República, permitindo o
arrastar de impasses como o que vivemos no pre-
sente.
Com a consequente invocação, como tem feito o
Presidente da República, de que seria quase aven-
tura haver eleições parlamentares durante uma
crise sanitária.
Pobre América, com milhares de novos infetados
todos os dias, mas que sai à rua também todos os
dias para discutir tudo e não teme envolver o cor-
po mais ativo da sociedade na avaliação do que tem
feito Trump e pretende fazer Biden.
Aqui é diferente. Na nossa democracia, o tempo
pouco vale e a voz do povo parece ser temida por
quem fala em seu nome, quando o povo devia dizer…
Um Parlamento que rejeita a consulta sobre a
eutanásia – um tema não delegável (pela natureza
civilizacional) nem sequer discutido nas últimas
eleições –, mas é capaz de determinar restrições
de direitos, liberdades e garantias, como a limita-
ção de circulação entre concelhos, talvez mereça
o quadro político-institucional de extravagâncias
averiguadas, com as consequências sociais que por
aí se encontram.
Afinal, as causas da “aldeia” no Parque das Nações
no outono de 2020 são mais profundas que o sim-
ples olhar pode julgar.
Jurista
TAP: Governo
não pode votar
país à penumbra
Os portugueses, por via dos seus
impostos, já colocaram duas de
quatro tranches na companhia aérea,
num valor que, até fevereiro,
ascenderá a 1200 milhões de euros.
Cristóvão Norte
Foi sexta-feira conhecida a convocatória para a
assembleia-geral da TAP na qual, entre outras
deliberações societárias, a empresa pública Par-
pública assumirá, na íntegra, todas as responsabi-
lidades financeiras da TAP inerentes à dívida ban-
cária existente. Em concreto, tal operação repre-
senta que se alargue o perímetro de
responsabilidades do Estado em 73,9 milhões de
euros, para um total de 156 milhões de euros,
desonerando o acionista privado que detém 22,5
% das ações e que vê, para este efeito, a sua res-
ponsabilidade reduzida a zero.
É incompreensível que o processo TAP esteja a
ser conduzido com tamanha opacidade. Os por-
tugueses, por via dos seus impostos, já coloca-
ram duas de quatro tranches na companhia
aérea, num valor que, até fevereiro, ascenderá a
1200 milhões de euros. Sabem apenas, ademais,
que o Estado assumirá responsabilidades contin-
gentes na ordem dos 500 milhões de euros em
2021, as quais estão refletidas na proposta de
Orçamento do Estado.
Desconhecem tudo o resto: o plano de reestrutu-
ração, como e em quê estão a ser aplicadas as
verbas entregues à TAP, se haverá mais dinheiros
públicos envolvidos; e nem as sucessivas ques-
tões dirigidas ao Governo, bem como a audição
ao ministro das Infraestruturas e Habitação a
este respeito, a qual teve lugar na semana passa-
da, aclararam a penumbra em que os portugue-
ses vivem sobre esta matéria, compreensivelmen-
te receosos de que este processo seja um sumi-
douro inesgotável de recursos públicos, a
lembrar outros pesadelos bem recentes em que
foram minuciosamente ocultados aos contribuin-
tes as desastrosas consequências de decisões
imponderadas e não sujeitas ao devido escrutínio
público. É imperioso que o Governo venha escla-
recer as razões desta operação, o que a determi-
na, bem como outras decisões cuja natureza
envolva quaisquer impactos nas responsabilida-
des presentes ou futuras do Estado português.
Deputado do PSD
—26 outubro 2020 19
 Entrevista

D
Mais

Ana Rocha de Sousa (n. 1978) tornou-se conhecida dos portugueses a partir da sua
participação na série Riscos, da RTP. Depois de, em 2007, ter desaparecido do
pequeno ecrã, rumou a Londres, para estudar realização. Depois de duas curtas,
Listen, a sua primeira longa-metragem, estreou-se na secção Horizontes do
Festival de Cinema de Veneza, onde foi distinguida com seis prémios.

20 —26 outubro 2020

Ana Rocha de Sousa.
“O cinema é uma arma e vou
atrás disso, faço uso disso”
CLÁUDIA SOBRAL (Texto)
claudia.sobral@ionline.pt
BRUNO GONÇALVES (Fotografia)
bruno.goncalves@ionline.pt
“A vida não é o que parece”. Ao longo de
uma hora de conversa, Ana Rocha de Sou-
sa vai regressando a esta ideia a espaços.
Para falar de si, do percurso que, afasta-
da de holofotes, foi construindo até em
setembro ter regressado ao pequeno ecrã,
não como atriz mas como notícia, como
realizadora do filme português seis vezes
premiado em Veneza, mas também da
realidade que retrata em Listen: a das
famílias injustiçadas pela mão pesada e
cega do sistema de proteção de menores
britânico. O seu lugar no cinema encon-
trou-o naquela que pode ser também a
sua função: a de arma política. “Entrego-
me a este filme não tentando criar uma
revolução contra tudo e contra todos, mas
chamando pelo menos a atenção para que
isto acontece. E peço a todas as pessoas
que tiverem dúvidas sobre isso que pes-
quisem, porque o que vão encontrar é
devastador, profundamente devastador”.
A entrevista foi feita na segunda pessoa.
Comecemos mesmo pelo início, pelo
dia em que te cruzaste com a notícia
que te levou a fazer este filme...
Tinha acabado o mestrado em cinema
em dezembro de 2013 e tinha decidido
parar durante um tempo, porque esta-
va grávida. A minha filha nasceu em mar-
ço de 2014. No início de 2016 – ela era
pequenina ainda – confrontei-me com
duas coisas: a questão de precisar de vol-
tar àquilo que era o meu projeto de cine-
ma, porque tinha abdicado de tudo e
mais alguma coisa para ir estudar para
fora. Portanto, tinha de recomeçar esse
processo para que não ficasse pendura-
do. Já tinha sido mãe, tinha dedicado
aquele início essencial à maternidade e
tinha de voltar a trabalhar. E estava nes-
sa busca quando me apercebo de um
caso real, uma notícia real, de uma mãe
portuguesa a viver no Reino Unido a
quem retiram um bebé de dias.
Que veio desenterrar todo este tema,
esta questão, porque esse caso estava
muito longe de ser único...
Esse processo aconteceu comigo simul-
taneamente. Não esperei para saber de
mais casos. Aquele foi o que fez com que
começasse a procurar e a encontrar e a
perceber que isto acontece efetivamen-
te a muitas famílias, inclusivamente ingle-
sas. A primeira reação foi “isto não é pos-
sível”. E há muita gente que fica no “ai,
não é possível”; eu estranhei e continuei
e percebi que efetivamente acontece.
Que há muitas nuances, muitas questões
que são muito questionáveis.
Nesta lógica da proteção do superior
interesse da criança e de a querer
proteger tanto que…
… que se entra num extremo em que pes-
soas absolutamente inocentes são leva-
das pela maré.
E em que o superior interesse da
criança não está já, de forma alguma, a
ser protegido...
Pelo contrário. Porque o superior inte-
resse da criança também pode ser na
grande maioria dos casos que aquelas
famílias pudessem ser apenas apoiadas
e restabelecidas e ajudadas pela Segu-
rança Social, em vez de acusadas. Esse
apoio poderia ser absolutamente funda-
mental e conciliador nalguns casos. A
verdade é que não é essa a postura. Hoje
em dia, a postura do sistema britânico é
precisamente a retirada imediata [das
crianças aos pais] mediante previsões de
futuros danos físicos ou psicológicos…
Hipotéticos...
“Nunca vi em parte nenhuma
alguém ser julgado por crimes que
ainda nem sequer ocorreram”
“Direitos humanos são direitos
humanos. Agora é no Reino Unido,
para a próxima pode ser noutro país”
“Acho que é levantando questões
que se muda o mundo,
não acatando e seguindo”
Hipotéticos, com base no futuro. Nunca
vi em parte nenhuma do mundo alguém
ser condenado, julgado, o que for, por cri-
mes que ainda nem sequer ocorreram,
só pela possibilidade de eventualmente,
um dia, quem sabe, talvez. Isto foi o que
me fez fazer este filme. Acho que se per-
cebe que a partir do momento em que
nos confrontamos com uma lei assim tor-
na-se muito complicado porque basta um
relatório de um assistente social para um
juiz no Tribunal de Família, porque mais
de 90% das vezes o juiz do Tribunal de
Família segue as indicações dos assisten-
tes sociais… acho profundamente cho-
cante. Ainda para mais quando começa-
mos a perceber que há assistentes sociais
que paralelamente têm agências de ado-
ção, um conceito que nós nem sabemos
o que é. Alguma vez em Portugal alguém
sabe o que é uma agência de adoção?
Listen agora em sala, o i
Sabemos o que são agentes de atores. E
rapidamente se percebe porque é que lá
sabem: porque isto envolve dinheiro, por-
que há famílias que são pagas pelo Esta-
do para tomar conta daquelas crianças.
E só isso já me levanta outras questões.
O meu filme nem sequer vai a esse limi-
te de falar dessas questões…
… que acabam por estar presentes, de
alguma forma...
Estão lá, são referidas, mas o filme nem
sequer se foca numa situação…
… mas percebe-se que há todo um
sistema a alimentar-se disto.
Exato.
E que há pessoas que ganham…
Há pessoas a ganhar com isto. Não é uma
coisa que explore e há uma razão para não
explorar isso: iria ser acusada muito facil-
mente e muito rapidamente de uma teo-
ria da conspiração. E, mesmo não sendo,
acho que é preciso ir-se a uma coisa de
cada vez. Isto acontece, isto existe, e exis-
te com famílias absolutamente inocentes,
famílias que são apanhadas no meio de um
turbilhão que vai ganhan-
do uma forma cada vez
maior. Tentei que o fil-
me não fosse panfletá-
rio mas que, ao mesmo
tempo, seja honesto com
aquilo que acontece. E
há coisas em que não
posso defender o siste-
ma porque não acho que
seja defensável.
A verdade é que é
difícil acreditar-se
num sistema que age
desta forma.
Mais do que falar com
pais e mães, isto perce-
be-se falando com pro-
fissionais que trabalham na área. Perce-
be-se quando se vê uma assistente social
a dizer: “Desisti do meu trabalho porque
percebi na pele o que estava a fazer aos
outros. Até ali, limitava-me a fazer o tra-
balho que tinha de fazer”.
É mesmo uma história que conheces?
Sim. Há uma assistente social que desis-
tiu do seu trabalho precisamente por-
que foi mãe e, no seu sentido de respon-
sabilidade e de maternidade, sentiu que
andava triste, foi ao médico e desabafou
com o médico que tinha receio de estar
a entrar numa depressão pós-parto. Só
por verbalizar isto, ficou sinalizada.
E é esse momento, em que se coloca
tudo em causa quando nos toca a nós.
Sabendo com toda a convicção e toda
a certeza que eras pura e
simplesmente uma mãe preocupada
com a tua saúde mental.
À primeira
longa-metragem, Ana
Rocha de Sousa fez-se
ouvir em Veneza. Com
conversou com
a realizadora.
Que tipo de pesquisa foi feito para o
filme, exatamente?
Numa primeira fase faço uma pesquisa
em Portugal, muito online, através de fon-
tes que foram também revistas com a aju-
da de um amigo ligado ao jornalismo e
que me ajudou a aprender a distingui-las.
Depois disso – e isso foi uma coisa de que
fiz sempre questão – foi juntar pessoas de
lá ao processo, para garantir que tudo isto
estava blindado e que não estávamos a
cometer nenhuma atrocidade nem a trans-
formar pequenas coisas em coisas avas-
saladoras. Mais tarde juntei duas pessoas
ao guião, que são até produtoras do filme,
que residem lá e que, sim, fizeram todo
esse trabalho de uma pesquisa imensa
com pessoas no local, com instituições,
associações, para se juntarem efetivamen-
te e nos ajudarem a garantir que não pas-
sava nada errado ou injusto.
E, a partir daí, munida de tudo isso,
escreves esta história desta família
que é ficcionada mas que imagino que
com pedaços de histórias reais – ou
que, não o sendo, poderiam ser.
Sim. As personagens são ficcionadas, a
família em si, de facto, não existe. Exis-
tem variadíssimos casos e existem casos
muito mais chocantes do que este.
Como foi construído esse equilíbrio de
deixar de lado partes da realidade
para que esse lado de real não se perca
na forma como é percebido e
apreendido.
É só isso. É agarrar nessas histórias ver-
dadeiras que parecem maus guiões de
ficção, e isto é mesmo verdade. E dá um
descrédito à dor destas famílias absolu-
tamente avassalador. Ainda por cima
quando colocamos na balança um país
como Inglaterra, onde achamos impos-
sível isto ter lugar. Portanto, é agarrar
nisso tudo e perceber que a vida, efetiva-
mente, não é aquilo que parece, e lidar
com isso, agarrar nisso da forma mais
subtil que se conseguir, mas também não
perdendo aquilo que é fundamental e que
é muito importante mostrar. É que, efe-
tivamente, há uma bola de neve que cres-
ce e que é impossível de parar neste fil-
me como em milhares de histórias de
milhares de famílias. Histórias em que
tudo aponta para que a verdade seja uma
e, afinal, não é. Isto acontece muito mais
vezes do que aquilo que achamos. Fazer
este filme é precisamente tentar trazer
o crédito a essas famílias, a essas dores,
e tentar chegar às pessoas com um tema
que as toque mas que não as assuste de
tal modo que venham apenas dizer que
enlouqueci porque, efetivamente, não.
continua na página seguinte >>
—26 outubro 2020 21
 D Mais // Entrevista

Lúcia Moniz, Ruben García

e a britânica Sophia Myles
protagonizam Listen, um filme com
produção de Rodrigo Areias
e coprodução do Reino Unido,
onde foi rodado, nos subúrbios
de Londres

>> continuação da página anterior

Esta questão do cuidado na exploração

da dor é muito importante, acho.
De cada vez que fizemos esse exercício
estivemos a colocar-nos no papel destes
pais. Que é: o que é que podem dizer?
Na realidade, por lei, nem sequer podem
dizer nada. Por lei, estão obrigados ao
silêncio pela suposta proteção do supre-
mo interesse da criança. E é absoluta-
mente devastador imaginar o que será
ter de passar por isto e nem sequer poder
indignar-se publicamente.
Isso também está no filme.
Claro que está. E esse silêncio está lá e
está por todo o lado. Está na internet, por-
que há pais que não conseguem e que
arriscam tudo e colocam online – não sei
até que ponto é que fazem bem ou mal.
Alguns deles são, efetivamente, presos e
depois não conseguem fazer mais nada.
Mas também se não disserem, se nunca
ninguém disser… como é que é? Acho que
é um estado de revolução que é necessá-
rio. E é nesse sentido que me entrego a
este filme. Não tentando criar uma revo-
lução contra tudo e contra todos, mas
chamando, pelo menos, a atenção para tes portugueses, é a história deles, é pago artística. Quando se está a fazer um fil- go aperceber-me de determinadas coi-
que isto acontece. E peço a todas as pes- por Portugal, pelo ICA, pela RTP… me destes, não, não pode. Podemos fil- sas e chegar a casa e perguntar “que
soas que tiverem dúvidas sobre isso que … mas cumpre uma missão no Reino mar em Portugal? Não, não podemos. A horas são, o que é o jantar?”. Talvez um
pesquisem, que pesquisem profundamen- Unido também. resposta é simples. dia esteja exausta e faça o que me ape-
te. Porque o que vão encontrar é devas- Cumpre uma missão, mas não é só no Interessa-te mais este cinema? tece e vai estar tudo bem de certeza. O
tador, profundamente devastador. Reino Unido. Cumpre uma missão no A partir do momento em que percebo importante é fazermos o que nos vai
O filme é feito em coprodução com mundo porque direitos humanos são que, efetivamente, o cinema é uma arma, fazendo sentido e que nos vai movendo.
Inglaterra e, não apenas por isso, direitos humanos. Agora é no Reino Uni- é fundamental poder ir atrás disso e fazer E agora que este filme me transformou
também pela história, pelo elenco, as do, para a próxima pode ser noutro país uso disso, numa perspetiva de humani- tanto e me fez descobrir tantos cami-
duas línguas em que é falado, é um filme qualquer. Quando estamos a falar de dade. Se me sinto melhor com isso? Sin- nhos, parece-me só uma loucura não
que podemos dizer entre dois países. direitos humanos a nacionalidade, a mim, to. Não precisa de se sentir toda a gen- seguir este, que me move tanto.
É um filme dos dois, não sendo. É um fil- não me interessa. E, depois, sou absolu- te, há pessoas que, se calhar, também Isto vai dar ao lugar onde estavas a
me português e que conta com o apoio tamente apologista da verdade e da sin- não precisam de se sentir ou deixar de tentar chegar quando falavas neste
de uma coprodução em Inglaterra. Para ceridade do cinema. Não significa que se sentir assim, mas talvez tenha senti- filme como um filme…
mim é muito importante sublinhar isso, tenha de ser sempre assim, o cinema do que, para mim, fosse essencial isso. … no land.
porque não deixo de ser portuguesa a pode ser absolutamente construído e E isso tem variadíssimas razões, que Exato. Não é que não seja dada no
partir do momento em que vivo em Ingla- uma expressão absoluta e unicamente começam por ter um histórico na famí- cinema português atenção a questões
terra cinco, dez, 15, 20 anos. Não deixo lia relacionado com a justiça. Portanto, sociais, pelo contrário, mas não
de ser portuguesa por estar a falar inglês tudo o que é justiça e injustiça mexe-me deixamos de poder inscrever este
todos os dias, não deixarei de ser nunca. com as entranhas, e para se fazer um fil- filme na linha do…
Portanto, não há razão para, a partir do me tem de se fazer um filme que nos … realismo social britânico. Isso tem a
momento em que um filme é também mexa com as estranhas. Porque fazer ver com a história.
falado em inglês – e não é só, também é
“Estudei três anos um filme é um processo tão pesado que… Mas há maneiras de contar as
muito falado em português –, ou por ser na London Film School. … tem de vir do que nos move, do lugar histórias. E existe essa influência.
filmado em Inglaterra e ter essa partici- Quando entramos numa onde temos o coração. Há, isso claro que há. Não especificamen-
pação e esse apoio inglês, deixar de ser Exatamente. E, depois, sempre tive um te de realizadores, mas sim, existe uma
português. Este filme nasceu num quar- escola de artes, lado provocador, um lado de questionar, escola. Não se pode ignorar que estudei
to no Areeiro, comigo a escrever desen- viramos discípulos” de ir atrás, de tentar perceber. Sempre três anos na London Film School. Venho
freadamente, de forma quase visceral, fui aquele espírito meio indomável para das Belas Artes, estudo aqui, mas quan-
meio em agonia, e, portanto, choca-me quem uma resposta simples não basta. do me vou embora e a partir do momen-
imenso essa possibilidade de sequer se “Precisei de ir para um Uma resposta com ponto final, normal- to em que entro na London Film School
achar que é possível o filme não ser por- lugar onde não me mente, para mim, não vai resultar, não – e também não é por acaso que a esco-
tuguês. E se não fosse por tudo isto que
acabei de dizer que fosse pelo facto de
conhecessem. E posso sou aquela pessoa de “ah, pronto, está
bem” ou de “sim, sim”, não. Acho que é
lho –, sei que existe todo um peso histó-
rico nessa passagem. Como em qualquer
ser uma história de um ponto de vista garantir que sofri no dia levantando questões que se muda o mun- escola de artes: quando entramos, vira-
absolutamente português. São emigran- em que se aperceberam” do, não acatando e seguindo. Não consi- mos discípulos.

22 —26 outubro 2020


Mesmo que não queiramos.
E é exatamente esse o caso. É absoluta-
mente inconsciente. Percebo isso, mas é
a mesma coisa que pensar no trabalho
da Paula Rego – não querendo comparar-
me com ela, comparando só a perspetiva
de lugar – e se pinta diferente por viver
em Londres. Com certeza que pintará.
Dizias que a London Film School não
foi ao acaso. Porque não estudaste
cinema aqui?
Porque não podia ter estudado cinema
aqui. É essa a sensação que tenho. É pre-
ciso perceber que entro nas Belas Artes
e ainda não era a menina dos Riscos.
Começo a filmar com 17 ou 18 anos, mas
demorou um tempo a vir para o ar. Por-
tanto, quando vem para o ar, eu já estou
nas Belas Artes. A transformação que
existe na vida da noite para o dia acon-
tece quando já estou nas Belas Artes. E
não, não podia. Se a miúda dos Riscos se
candidatasse à Escola Superior de Tea-
tro e Cinema, provavelmente não ia entrar.
Não ia. Aliás, houve um histórico, que
aconteceu quando já era uma menina
assim e assado, de não entrar. Não em
cinema, mas em teatro.
Precisaste de ir para um lugar onde as
pessoas não fizessem ideia de quem
eras, do que tinhas feito antes?
Sim, precisei. E posso garantir que sofri
muito no dia em que se aperceberam.
Aperceberam-se muito tempo depois,
porque não disse a ninguém, mas aper-
ceberam-se, através do Facebook e, aci-
ma de tudo, numa viagem que faço com
amigas que vêm cá e que, de repente, se
apercebem de que as pessoas sabem
quem sou. Essa história é maravilhosa,
e é a primeira vez que estou a contá-la,
porque elas vieram passar a Páscoa, fica-
ram uma semana em minha casa, e estra-
nharam imenso. Acharam inicialmente
que era uma questão de ser um país
pequeno, um sítio pequeno, mas depois
começou a ser demasiado e começaram
a perceber que não era normal.
Sentes estes anos todos depois, agora
que o filme se estreou e ganhou vários
prémios em Veneza, que esse
preconceito que sentias, que te levou a
achar que não haveria em Portugal
lugar para a menina dos Riscos
estudar cinema, continua a existir?
Nalgumas pessoas, sinto que existe uma
diferença. É impossível não sentir dife-
rença porque, de repente, sinto um abra-
ço coletivo, e isso é muito bonito. Se con-
tinuo a sentir algumas coisas, às vezes.
Se vou senti-las sempre, sim, acho que
vou. Também não interessa. Acho que
está tudo bem. A vida é como é. Sinto
muito como missão esta coisa de mos-
trar que a vida nem sempre é o que pare-
ce. E é engraçado pensar-se que isso não
está só no filme, está também em mim
enquanto pessoa. Aquela coisa de olhar-
mos e de acharmos que fazemos uma
radiografia... não. Nem a vida é sempre
aquilo que parece, nem as pessoas são
sempre aquilo que parecem.
Já não odeio
as segundas-feiras
DIOGO VAZ PINTO
HOJE
Cinema
O Homem da Câmara de Filmar
Onde: Fórum Municipal Luísa Todi – Setúbal
Quando: 21h Preço: 4€
■ Este é um manifesto de Dziga
Vertov, o realizador mais radical e
futurista da vanguarda soviética
dos anos 20, onde predomina a
força da montagem e dos efeitos
experimentais. O filme, feito a
partir de imagens da vida quoti-
diana das cidades de Kiev, Mosco-
vo e Odessa, liberta-se das lingua-
gens habituais do teatro e da lite-
ratura para constituir uma
narrativa universal e que resulta
numa peça artística independen-
te, sem recorrer a intertítulos, his-
tória ou atores.
AMANHÃ
Concerto Julius Berger / Margarita Höhenrieder
Onde: CCB – Centro Cultural de Belém Quando: 19h Preço: 15€
■ No decorrer das comemorações em honra de Beethoven, Margarita
Höhenrieder e Julius Berger juntaram-se ao coro de celebrações, repro-
duzindo todas as suas obras originais de piano e violoncelo no disco
Beethoven: Complete Works for Piano & Cello (2020, Solo Musica).
Estas obras ficaram entregues às melhores mãos: juntando duas perso-
nalidades de renome mundial, multipremiadas, que têm vindo a moldar
como poucos outros o património musico-cultural – tanto como intér-
pretes como pedagogos.
QUARTA QUINTA
Cinema Concerto
Sessão Especial: João Lobo “Simorgh”
A Herdade Onde: Galeria Zé dos Bois (ZDB), Lisboa
Onde: Nimas, Lisboa Quando: 19h Preço: 8€
Quando: 21h Preço: 5€
■ Albano Jerónimo, o protagonis- ■ Em contracorrente pausada
ta deste filme de Tiago Guedes, vai com o culto mais ou menos assu-
estar à conversa com Paulo Bran- mido do mediatismo e da
co, o produtor. Esta é a saga de sobreexposição, João Lobo é nas
uma família proprietária de um calmas um dos bateristas mais
dos maiores latifúndios da Europa, interessantes e graciosos a ope-
na margem sul do rio Tejo, fazen- rar em solo europeu. Sem se
do o retrato da vida histórica, polí- colar de forma presa a qualquer
tica, social e financeira de Portu- linguagem específica – mesmo
gal, dos anos 40. que seja o jazz o portal.
—26 outubro 2020 23
 D Mais // Banda Desenhada
LEITOR DE BD
Uma rapariga estranha
RICARDO
ANTÓNIO ALVES
Os Passageiros do
Vento – 1. A Rapariga
no Tombadilho
Texto E desenho:
François Bourgeon
Editora Meribérica / Liber,
Lisboa, s.d.
24 —26 outubro 2020
S
Série iniciada em 1979 na
revista francesa Circus,
publicada pela editora
Glénat, de Grenoble, logo
granjeou a melhor atenção
de público e crítica, sendo o
autor, François Bourgeon (Paris, 1945)
distinguido no ano seguinte com o Prémio
Alfred (o pinguim de Zig e Puce) para
melhor desenhador, no Festival de
Angoulême. Os passageiros do vento revelam
no mesmo autor o melhor que uma BD pode
oferecer: um argumento consistente, um
estilo rico, cheio de recursos e o modo
criativo e dinâmico como a conjugação de
texto e desenho se harmonizam numa
prancha, processo que está para a BD como
o enquadramento e a montagem estão para
o cinema.
O tempo é o último quartel do século XVIII,
pouco antes da Revolução Francesa; o
espaço é o Oceano Atlântico, com algumas
analepses relativas ao percurso da
protagonista, a partir daqui uma figura
icónica, personagem inesquecível da BD
global. A Rapariga no Tombadilho é o
primeiro de uma série de cinco álbuns
publicados até 1984. A capa mostra-nos uma
jovem e estranha mulher empoleirada à
noite e à chuva no cordame dum barco que
se adivinha de grande porte – uma forte
imagem de apresentação duma nova BD. A
bordo do “Foudroyant”, embarcação de 74
canhões da Marinha Francesa, capitaneado
por Benoît de Roselande, um aristocrata
pouco competente como marinheiro, duas
jovens mulheres vão resguardadas da
tripulação, até serem avistadas
fortuitamente por um grumete bretão, o
rapaz Hoël. Agnes e Isa, duas aristocratas,
uma rica outra pobre, a segunda
acompanhando a primeira, não são quem
dizem ser, mas estão amarradas a uma falsa
identidade, por uma brincadeira que correu
mal. A vítima e heroína é Isabeau, a rapariga
da capa, insurrecta, aprendeu a usar de toda
a manha, violência, argúcia e dissimulação
que lhe permita sobreviver num mundo de
homens, em que da mulher se espera apenas
o exercício das funções de fêmea. Mas Isa
não tem nenhuma dessas vocações, pelo
contrário, é libérrima, o que dará ensejo ao
autor de enveredar por um erotismo à época
transgressor, embora elegante.
Um dos grandes méritos de Bourgeon é a
forma como encaixa a informação histórica
na narrativa, a erudição com que emprega
os termos técnicos de navegação, não apenas
no nomear de tudo o que compõe um grande
veleiro de guerra, como também as
manobras navais, incluindo tática de
combate. A informação flui com
naturalidade, e é assim que podemos
perceber as tensões sociais que anos mais
tarde iriam desembocar na violência
revolucionária dos sans-culottes, do povo
miúdo, ou o mundo antagónico que opunha
tradicionalistas e iluministas, nos diálogos e
picardias travados entre o capelão e o
médico de bordo.
Bourgeon trabalha numa sequela centrada
numa descendente de Isa, que já aqui
noticiámos. Os Passageiros dos Vento é uma
série cuja presença é imprescindível numa
biblioteca essencial de banda desenhada.
Um dos grandes méritos
de Bourgeon é a forma
como encaixa a informação
histórica na narrativa, a
erudição com que emprega
os termos técnicos
de navegação
BDTECA
Balada para Sophie. Um
concurso de jovens pianistas,
oriundos da mesma localidade,
um de família rica, outro filho
dum funcionário modesto,
cruzam-se pela primeira vez em
1933, num concurso de jovens
talentos, em que apenas um foi
premiado. Em 1997, uma
jornalista entrevista o primeiro,
tecendo uma narrativa com a
presença dum espetro tornado
rival 64 anos antes. Texto de
Filipe Melo – também pianista de
jazz – e do argentino Juan Cavia.
Edição Tinta da China, Lisboa,
2020.
Umbra #2. Segundo número da
publicação periódica pela editora
do mesmo nome, com quatro
histórias de fantasia e realidades
alternativas: O coração atómico
de Jan, do canadiano Simon
Roy; Camping Gás, de Pedro
Moura, Filipe Abranches e
Bárbara Lopes; Duas espadas,
de Pedro Moura e Jorge Coelho;
e Os pesadões, com nova
legendagem, do malogrado
Fernando Relvas (1954-2017).
Pratt. Os Escorpiões do
Deserto é outra série maior de
Hugo Pratt, iniciada em 1969,
logo após Corto Maltese. Apesar
de reminiscências pessoais,
familiares e dum precário
domínio italiano em África, o
relato é feito por Koinsky, um
oficial polaco a combater com os
ingleses. A Ala dos Livros está a
publicá-la em três volumes,
tendo saído o segundo, incluindo
Um Fortim em Dancália e
Conversa Mundana em
Mulhoule.
 PUB

—26 outubro 2020 25


D
Mais
Desporto
Fórmula 1. Valeu a pena
esperar: Hamilton chega
ao trono no Algarve
A Fórmula 1 regressou a
Portugal 24 anos depois. Em
Portimão, o piloto britânico
conquistou a 92.ª vitória da
carreira e tornou-se o piloto
mais vitorioso da história da
categoria rainha do
automobilismo, à frente do
alemão Michael
Schumacher.
26 —26 outubro 2020
Modalidades
LAURA RAMIRES
laura.ramires@ionline.pt
Polémicas à parte sobre o ajuntamento
criado no regresso do grande circo da
Fórmula 1 a Portugal, este domingo mais
de 25 mil pessoas assistiram a uma eta-
pa histórica da modalidade no Algarve.
A dois meses e meio de completar 36
anos, Lewis Hamilton (Mercedes) sagrou-
se o piloto mais vitorioso de sempre da
categoria rainha do automobilismo.
Depois de ter conseguido igualar em
número de vitórias do piloto alemão
Michael Schumacher, ao alcançar o 91.º
triunfo na ronda anterior do Mundial, o
GP Eifel, na Alemanha, ontem, na pri-
meira oportunidade que teve, o britâni-
co aproveitou para se isolar no topo des-
ta lista. Em Portimão, Hamilton deixou
para trás o companheiro de equipa, o
finlandês Valtteri Bottas (Mercedes), a
25,592 segundos e o holandês Max Vers-
tappen (Red Bull) a 34,508, segundo e
terceiros classificados, respetivamente.
Com este resultado, o piloto britânico
somou o oitavo triunfo em 12 etapas, e
está cada vez mais perto do sétimo títu-
lo mundial – mais um registo histórico
na posse do piloto alemão que Lewis pro-
mete igualar brevemente.
“Nunca sonhei estar onde estou hoje.
Não tinha uma bola de cristal quando
escolhi estar com esta equipa [Merce-
des]. Mas aqui estamos. Todos os dias
estamos todos a remar na mesma dire-
ção. É um dia abençoado. Não consigo
encontrar as palavras”, disse após fazer
história na etapa algarvia.
Lewis venceu o primeiro título mun-
dial em 2008 pela McLaren, e os restan-
tes cinco pela Mercedes (2014, 2015, 2017,
2018, 2019).
Nome maior da modalidade nos últi-
mos anos, Hamilton procura cimentar
ainda mais o seu nome com a conquis-
ta do quarto Mundial consecutivo, fican-
do apenas a um da marca de Schuma-
cher (venceu cinco seguidos, entre 2000
e 2004, pela Ferrari).
Numa temporada em que o britânico
tem dado que falar pelos vários recor-
des que já alcançou, destacam-se, além
das vitórias, o maior número de pole
positions (97) e o maior número de
pódios (160).
Na presente edição do Mundial, Lewis
igualou também Schumacher no núme-
ro de vitórias no mesmo Grande Prémio:
o alemão ganhou o GP França 8 vezes;
enquanto o britânico venceu pela oita-
va vez o GP da Hungria.
Hamilton tem ainda a possibilidade
de igualar outra marca notória do ale-
 João Almeida. PORTUGAL 5.ª JORNADA
LINHA LATERAL
Na roda 1
1
Tondela-Portimonense
Nacional-Paços Ferreira
1-0
1-1

do melhor 1
1
Santa Clara-Sporting
FC Porto-Gil Vicente
1-2
1-0
Benfica recebe
Belenenses SAD no
português 5
1
Farense-Rio Ave
Moreirense-Marítimo
0-1
2-1
fecho da 5.ª jornada

de sempre 1
1
Famalicão-Boavista
V. Guimarães-Sp. Braga
2-2
25/10 (20h)
FUTEBOL O Benfica recebe na
noite desta segunda-feira o Bele-

na Volta a Itália 1 Benfica-Belenenses

BTV1 ELEVEN SPORTS 26/10 (20h15) nenses SAD, jogo que vai fechar
a 5.ª jornada da Liga portugue-
CLASSIFICAÇÃO sa. Os encarnados lideram iso-
Almeida terminou Giro J V E D G P
lados a prova, com quatro vitó-
no 4.º lugar, a melhor rias no mesmo número de encon-
1 Benfica 4 4 0 0 13:3 12
tros. FC Porto e Sporting seguem
classificação de sempre 2 FC Porto 5 3 1 1 13:6 10
atrás, com 10 pontos, depois de
de um português. 3 Sporting 4 3 1 0 8:3 10
terem vencido os desafios deste
4 Moreirense 5 2 2 1 5:4 8
fim de semana, ante o Gil Vicen-
5 Santa Clara 5 2 1 2 5:4 7
A 103.ª edição da Volta a Itália em bici- te e Santa Clara respetivamen-
6 Vitória SC 4 2 1 1 2:1 7
cleta terminou este domingo com dois te. A equipa de Petit é atualmen-
7 Braga 4 2 0 2 7:5 6
resultados históricos para Portugal. te 15.ª com apenas uma vitória,
8 Nacional 5 1 3 1 6:6 6
João Almeida (Deceuninck-Quick Step) uma derrota e dois empates.
9 Marítimo 5 2 0 3 7:9 6
terminou a prova italiana de três sema-
10 Rio Ave 5 1 3 1 3:5 6
nas no quarto lugar, garantindo a
11 Famalicão 5 1 3 1 9:12 6
melhor classificação de sempre de
12 Gil Vicente 4 1 2 1 2:2 5
um português no Giro – tendo supe-
13 Belenenses 4 1 2 1 2:2 5
rado a quinta posição de José Azeve-
14 PaçosFerreira 5 1 2 2 4:6 5
do na edição de 2001. Ontem, na últi-
15 Tondela 5 1 2 2 4:8 5
ma etapa da prova, um contrarreló-
16 Portimonense 5 1 1 3 3:6 4
gio de 15,7 quilómetros ganho por
17 Boavista 5 0 3 2 7:10 3
Filippo Ganna, o ciclista das Caldas
18 Farense 5 0 1 4 5:10 1
terminou na quarta posição, apenas Miguel Oliveira
atrás do italiano, campeão mundial à porta do top-5
da especialidade, Victor Campanaerts no GP de Teruel
e Rohan Dennis.
O resultado no crono final permi- MOTOGP Miguel Oliveira (KTM)
tiu ao ciclista da Deceuninck-Quick terminou ontem no sexto lugar
Step ascender do quinto ao quarto o Grande Prémio de Teruel, 11.ª
Aos 35 anos, Hamilton está lugar da geral, ultrapassando o espa- etapa do Mundial de MotoGP.
cada vez mais perto de nhol Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), Oliveira repetiu a classificação
conquistar o sétimo campeonato que fechou o top-5 a 12 segundos. O que já tinha conseguido no GP
do Mundo e tornar-se jovem luso, de 22 anos, foi o atleta de França e na República Che-
o melhor de sempre revelação da prova transalpina, ten- ca, tendo terminado a 12,953
RUDY CAREZZEVOLI /POOL/AFP do liderado a competição durante 15 MELHORES MARCADORES segundos do vencedor, o italo-
dias – outro feito inédito, já que é tam- brasileiro Franco Morbidelli
bém o ciclista português e sub-23 Equipa Golos (Yamaha), mas a apenas 38 milé-
mão, vencedor de 13 corridas numa só estrangeiro com mais dias a utilizar Rodrigo Pinho Marítimo 5 simos de segundo do quinto pos-
temporada (2004). Porém, a missão não a camisola rosa. De relembrar que o Thiago Santana Santa Clara 5 to, do francês Johann Zarco
será assim tão simples, já que para con- corredor de A-dos-Francos chega ao G. Waldschmidt Benfica 3 (Ducati). O piloto almadense
segui-lo precisa de vencer todas as eta- topo da curta carreira num ano que Seferovic Benfica 3 mantém o 10.º lugar (79 pontos).
pas que faltam disputar até ao final da marcou a sua estreia no World Tour Lameiras R. Famalicão 3

temporada, (GP de Itália, GP de Istam-
bul, a dupla jornada no Bahrein e GP
de Abu Dhabi).
No Algarve, Hamilton conquistou defi-
nitivamente o seu lugar ao sol, treze anos
depois de ter subido pela primeira vez
ao lugar mais alto do pódio na categoria
rainha do automobilismo. Em junho de
2007, o britânico conseguiu a sua pri-
meira vitória na Fórmula 1, no Grande
Prémio do Canadá.
Ainda antes de escrever novo capítu-
lo histórico em Portimão, Lewis reve-
lou que não faltará muito tempo para
abandonar as pistas. “Quero continuar
a correr, mas não sei durante quanto
mais tempo. Não passará, certamen-
te, um grande período antes de parar,
pelo que tenho de tentar perceber, len-
tamente, o que o futuro reserva”, afir-
mou à Sky Sports. “Será um futuro
radiante, seja o que for que decidir
fazer, mas também tem de estar ali-
nhado com os tempos, com os meus
valores e também com aquilo que a
equipa planeia fazer”, concluiu o atual
campeão mundial.
3.º
e em Grandes Voltas.
“Foi a minha primeira grande vol- PRÓXIMAS JORNADAS
ta. Só ter terminado já é muito bom, 6.ª JORNADA
mas fazer um quarto lugar na geral
é um sonho tornado realidade” disse 1 Paços Ferreira-FC Porto 30/10 (15h)
já em Milão. “15 dias de rosa é impres- 1 Belenenses-Farense 31/10 (15h30)
sionante, espero um dia voltar a ves- 1 Rio Ave-Moreirense 31/10 (18h)
tir essa camisola”, acrescentou. Além 1 Marítimo-Nacional 31/10 (20h30) Rui Costa em
de Almeida, houve mais um portu- 1 Portimonense-Santa Clara 01/11 (15h) terceiro lugar na
guês a dar cartas no Giro2020: Ruben 1 Gil Vicente-V. Guimarães 01/11 (17h30) sexta etapa da Vuelta
Guerreiro terminou a prova com a 1 Sporting-Tondela 01/11 (20h)
camisola azul e foi o rei da montanha. 1 Sp. Braga-Famalicão 02/11 (18h45) CICLISMO O ciclista português
Foi a primeira vez que Portugal con- 1 Boavista-Benfica 01/11 (21h) Rui Costa (UAE Emirates) foi
quista uma classificação secundária ontem terceiro classificado na
nas Grandes Voltas (Giro, Tour ou 7.ª JORNADA sexta etapa da Volta a Espanha,
Vuelta). Após ter garantido o feito iné- com o equatoriano Richard Cara-
1 Belenenses-Rio Ave 06/11 (20h30)
dito, o ciclista de Pegões disse estar paz (INEOS) a assumir a lide-
1 Moreirense-Paços Ferreira 07/11 (15h30)
com sensação de dever cumprido. rança da geral individual. Num
3 Tondela-Santa Clara 07/11 (15h30)
Recorde-se que Guerreiro venceu a total de 146,4 km entre Biescas
1 Famalicão-Marítimo 07/11 (18h)
9.ª etapa da prova italiana e revela 1 V. Guimarães-Sporting 07/11 (20h30) e Formigal, a etapa foi ganha
que um dos objetivos da carreira pas- 3 Nacional-Gil Vicente 08/11 (15h) pelo espanhol Ion Izagirre (Asta-
sa por vencer pelo menos uma etapa 1 Farense-Boavista 08/11 (15h) na), ao cabo de 3:41.00 horas,
de cada Grande Volta. 1 FC Porto-Portimonense 08/11 (17h30) 25 segundos à frente do cana-
A Volta a Itália de 2020 foi conquis- 1 Benfica-Sp.
BTV1 Braga
ELEVEN SPORTS 08/11 (20h) diano Michael Woods (Educa-
tada por Tao Geoghegan Hart, da Ineos, tion First). Hoje cumpre-se o
que nunca antes, no decorrer da com- *Classificação à hora de fecho do jornal primeiro dia de descanso da pro-
■ L. Campeões ■ L. Europa ■ Descem de divisão
petição, tinha envergado a maglia rosa. Transmissões televisivas: SportTV BenficaTV BTV1
vaELEVEN
espanhola.
SPORTS

—26 outubro 2020 27

 D Mais // Futebol internacional

Espanha. Vitória Real

no clássico e ‘caso
Messi’ mais sério
Real Madrid libertou-se dos fantasmas recentes com triunfo
em Camp Nou. Desde que Cristiano Ronaldo se mudou para
Itália, o argentino não marca ou assiste frente aos merengues.

LAURA RAMIRES tantes depois, por Ansu Fati (8’). O mais

laura.ramires@ionline.pt
Um clássico é sempre um clássico e por
isso mesmo tudo pode acontecer, inde-
pendentemente do histórico recente que
as equipas apresentem. O Real Madrid,
aparentemente em baixo de forma –
depois das derrotas frente ao recém-pro-
movido Cádiz, na Liga espanhola, e depois
ante o Shakhtar Donetsk de Luís Castro,
na estreia na Liga dos Campeões –, foi
este fim de semana até Camp Nou carim-
bar um triunfo (1-3) perante o Barcelo-
na. Apesar da vitória merengue, Lionel
importante clássico espanhol acabou por
ficar resolvido na segunda metade, com
Sérgio Ramos a aumentar a vantagem
através de grande penalidade (63’). Já
com Trincão em campo, lançado por
Ronald Koeman aos 82’, Modric fez o 3-
1 final após trocar as voltas ao guardião
brasileiro Neto.
LÍDER NA SOMBRA DO ATLÉTICO DE MADRID
Com o triunfo, a equipa de Zidane isola-
se na liderança da prova, com 13 pontos,
embora com mais um jogo do que o Atlé-
tico de Madrid, 2.º classificado, com 11. Messi: sexto jogo frente ao Real Madrid em branco LLUIS GENE/AFP

Messi voltou a ser protagonista e tudo Os colchoneros venceram (2-0) o Real

por causa de... Cristiano Ronaldo. Des-
de que o internacional português se trans-
feriu para a Juventus que o avançado
dos blaugranas não regista qualquer golo
ou assistência nos jogos com com o clu-
be da capital vizinha. No sábado, somou
já o seu sexto jogo frente ao Real Madrid
em branco. Em Barcelona, no jogo da
sétima jornada da Liga espanhola, foi
Valverde quem inaugurou o marcador,
logo aos cinco minutos. A vantagem do
atual campeão nacional foi desfeita ins-
Bétis de William Carvalho, titular no
encontro de sábado. No Metropolitano,
João Félix entrou apenas aos 57 minu-
tos, numa altura em que a equipa de
Simeone já vencia com golo de Marcos
Llorente (46’). Suárez fechou as contas
já em tempo de compensação (91’), assi-
nando o seu quarto golo na prova – a par
de Ansu Fati, o uruguaio tornou-se o
melhor marcador da competição.
Já o Barcelona encontra-se em 12.º lugar
na tabela, tendo registado a segunda der-
rota consecutiva na prova (perdeu na visi-
ta ao Getafe, imediatamente na ronda ante-
rior). De sublinhar que o Barcelona viaja
esta quarta-feira até Turim, para medir
forças com a Juventus, na segunda jorna-
da do grupo G da Champions. Após ter tes-
tado novamente positivo à covid-19, o reen-
contro entre Messi e CR7 está ameaçado
e deverá mesmo ficar adiado para o segun-
do jogo entre as duas equipas, em Camp
Nou (8 de dezembro). Barça e Juve divi-
dem neste momento a liderança do agru-
pamento depois de terem entrado a ganhar
na prova, frente ao Ferencváros e Dína-
mo Kiev, respetivamente.
Por Itália destaque para o encontro
entre AC Milan e Roma, que fecha esta
segunda-feira a jornada cinco da Serie
A. Os rossoneri dos portugueses Rafael
Leão e Diogo Dalot lideram a prova com
um saldo 100% vitorioso – são a única
equipa que ainda não perdeu pontos. Já
a Roma de Paulo Fonseca pode ser encon-
trada a meio da tabela transalpina.

ESPANHA 7.ª JORNADA INGLATERRA 6.ª JORNADA ITÁLIA 5.ª JORNADA FRANÇA 8ª JORNADA

1 Elche-Valência 2-1 2 Aston Villa-Leeds Utd 0-3  3 Sassuolo-Torino 3-3  4 Rennes-Angers 1-2 
1 Osasuna-At. Bilbau 1-0 + West Ham-Man. City 1-1  3 Atalanta-Sampdoria 1-3  4 Lorient-Marselha 0-1 
1 Barcelona-Real Madrid 1-3 2 Fulham-Crystal Palace 1-2  4 Génova-Inter 0-2  2 PSG-Dijon 4-0 
5 Sevilha-Eibar 0-1 2 Man. Utd-Chelsea 0-0  3 Lazio-Bolonha 2-1  2 Lens-Nantes Adiado 
1 At. Madrid-Bétis 2-0 2 Liverpool-Sheffield Utd 2-1  + Cagliari-Crotone 4-2  5 Montpellier-Reims 0-4 
1 Valladoild-Alavés 0-2 2 Southampton-Everton 2-0  3 Parma-Spezia 2-2  4 Metz-St. Étienne 2-0 
1 Cádiz-Villarreal 0-0 2 Wolves-Newcastle 1-1  3 Benevento-Nápoles 1-2  4 Bordéus-Nimes 2-0 
5 Getafe-Granada 0-1 2 Arsenal-Leicester 25/10 (19h15)  3 Fiorentina-Udinese 3-2  4 Brest-Estrasburgo 0-3 
1 Real Sociedad-Huesca 25/10 (20h) 1 Brighton-West Bromwich 26/10 (17h30)  3 Juventus-Verona 25/10 (19h45)  4 Nice-Lille 1-1 
1 Levante-Celta Vigo 26/10 (20h) 1 Burnley-Tottenham 26/10 (20h)  2 AC Milan-Roma 26/10 (19h45)  2 Lyon-Mónaco 25/10 (20) 

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

J V E D G P J V E D G P J V E D G P J V E D G P
1 Real Madrid 6 4 1 1 9:4 13 1 Everton 6 4 1 1 14:9 13 1 AC Milan 4 4 0 0 9:1 12 1 PSG 8 6 0 2 20:3 18
2 Granada 6 4 1 1 8:8 13 2 Liverpool 6 4 1 1 15:14 13 2 Napoli 5 4 0 1 14:5 11 2 Lille 8 5 3 0 14:3 18
3 Villarreal 7 3 3 1 8:8 12 3 Aston Villa 5 4 0 1 12:5 12 3 Sassuolo 5 3 2 0 16:9 11 3 Rennes 8 4 3 1 16:10 15
4 Atl. Madrid 5 3 2 0 10:1 11 4 Leeds 6 3 1 2 12:9 10 4 Inter 5 3 1 1 13:8 10 4 Marseille 8 4 3 1 11:8 15
5. Real Sociedad 6 3 2 1 10:2 11 5 Southampton 6 3 1 2 10:9 10 5 Atalanta 5 3 0 2 15:12 9 5 Nice 8 4 2 2 11:10 14
6 Cádiz 7 3 2 2 6:6 11 6 Crystal Palace 6 3 1 2 8:9 10 6 Sampdória 5 3 0 2 10:8 9 6 Lens 7 4 1 2 10:10 13
7 Osasuna 6 3 1 2 6:4 10 7 Wolves 6 3 1 2 6:8 10 7 Juventus 4 2 2 0 9:3 8 7 Angers 8 4 1 3 10:16 13
8 Elche 5 3 1 1 5:4 10 8 Chelsea 6 2 3 1 13:9 9 8 Verona 4 2 1 1 4:1 7 8 Bordeaux 8 3 3 2 9:5 12
9 Getafe 6 3 1 2 5:4 10 9 Leicester 5 3 0 2 12:8 9 9 Roma 4 2 1 1 8:7 7 9. Metz 8 3 2 3 9:7 11
10 Bétis 7 3 0 4 7:11 9 10 Arsenal 5 3 0 2 8:6 9 10 Fiorentina 5 2 1 2 11:9 7 10 Monaco 7 3 2 2 10:9 11
11 Eibar 7 2 2 3 5:6 8 11 Tottenham 5 2 2 1 15:8 8 11 Cagliari 5 2 1 2 10:12 7 11 Montpellier 8 3 2 3 13:13 11
12 Barcelona 5 2 1 2 9:5 7 12 West Ham 6 2 2 2 12:8 8 12 Lazio 5 2 1 2 6:9 7 12 Lyon 7 2 4 1 10:7 10
13 Sevilla 5 2 1 2 5:4 7 13 Manchester City 5 2 2 1 8:8 8 13 Benevento 5 2 0 3 9:14 6 13 St. Etienne 8 3 1 4 9:12 10
14 Valência 7 2 1 4 9:11 7 14 Newcastle 6 2 2 2 8:10 8 14 Spezia 5 1 2 2 7:11 5 14 Brest 8 3 0 5 11:18 9
15 Alavés 7 2 1 4 5:8 7 15 Manchester Utd 5 2 1 2 9:12 7 15 Genoa 4 1 1 2 4:9 4 15 Nantes 7 2 2 3 9:10 8
16. Atlético Bilbao 6 2 0 4 4:6 6 16 Brighton 5 1 1 3 9:11 4 16 Parma 5 1 1 3 6:11 4 16 Nimes 8 2 2 4 9:13 8
17 Huesca 6 0 5 1 4:6 5 17 West Bromwich 5 0 2 3 5:13 2 17 Bologna 5 1 0 4 8:10 3 17 Lorient 8 2 1 5 12:15 7
18 Celta de Vigo 6 1 2 3 3:9 5 18 Burnley 4 0 1 3 3:8 1 18 Udinese 5 1 0 4 4:10 3 18 Strasbourg 8 2 0 6 9:16 6
19 Levante 5 1 0 4 5:10 3 19 Sheffield Utd 6 0 1 5 3:9 1 19 Torino 4 0 1 3 7:11 1 19 Reims 8 1 2 5 10:13 5
20 Valladolid 7 0 3 4 5:11 3 20 Fulham 6 0 1 5 5:14 1 20 Crotone 5 0 1 4 5:15 1 20 Dijon 8 0 2 6 4:18 2
■ Liga dos Campeões ■ Liga Europa ■ Descem de divisão Transmissões televisivas: SPORT TV Benfica TV Eleven SportsELEVEN SPORTS
BTV1  Diferido Classificações à hora de fecho do jornal

28 —26 outubro 2020

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—26 outubro 2020 29

 D Mais // Pessoas
Responsabilidade pelo futuro
É uma meia dose de Adele, por favor
■ Adele, 32 anos, mostrou pela primeira vez a sua nova imagem
depois da perda de peso este sábado, dia 24, quando apresentou
o Saturday Night Live, do canal norte-americano NBC. No
monólogo de abertura, aproveitou para fazer referência aos 45
quilos que perdeu no último ano, brincando com a situação. “Sei
que pareço diferente desde a última vez que me viram, mas por
causa das restrições da covid-19, tive que viajar mais leve e trou-
xe apenas metade de mim, então esta é a metade que escolhi”,
disse, o que mereceu vários aplausos por parte da plateia.
O presente de estar presente
■ Iris Davies, de 69 anos,
morreu no hospital de Royal
Glamorgan - no Reino Unido -
infetada pelo novo coronavírus.
A idosa natural de Rhondda, em
Wales, foi descrita pelos
familiares, ao The Sun, como
“um diamante”. A família de Iris
adiantou igualmente que se
encontra de “coração partido”
após ter descoberto que esta
havia comprado e embrulhado
os presentes de Natal dias antes
de perder a vida. A inglesa deu
entrada no hospital para
combater uma gastroenterite e
uma bronquite. No entanto,
mesmo internada, mantinha os
familiares e amigos informados
por meio de atualizações nas
redes sociais, especialmente, o
Facebook. A partir da cama do
hospital, “certificava-se de que o
marido, há 38 anos, Joe, se
alimentava devidamente”.
Chegou mesmo a pagar
entregas de mercearia ao
domicílio para que nada faltasse
ao companheiro. Teve alta
hospitalar, em setembro, mas
acabou por regressar ao
hospital a 6 de outubro com um
teste positivo de coronavírus.
Pouco tempo depois, Iris acabou
por não resistir.
30 —26 outubro 2020
■ Jennifer Aniston utilizou as redes
sociais para mostrar que, à semelhan-
ça de muitos norte-americanos, já
exerceu o seu direito de voto nas elei-
ções presidenciais. A atriz revelou que
votou em Joe Biden e aproveitou a
oportunidade para relembrar a impor-
tância destas eleições, pedindo respon-
sabilidade. “Votei no Joe Biden e na
Kamala Harris porque neste momento
este país está mais dividido do que
nunca. Agora mesmo, alguns homens
no poder estão a decidir o que as
mulheres podem ou não fazer com os
seus próprios corpos. O nosso atual
Presidente decidiu que o racismo não é
um problema. Tem repetidamente e
publicamente ignorado a ciência ...
Muitas pessoas morreram”,começou
por escrever a atriz. “Peço que conside-
rem quem será realmente mais afeta-
do por esta eleição se continuarmos no
caminho em que estamos agora ... As
vossas filhas, a comunidade LGBTQ +,
os nossos irmãos e irmãs negros, os
idosos com problemas de saúde ou os
vossos futuros filhos e netos (que terão
a tarefa de salvar um planeta que a
liderança se recusa a acreditar que
está a causar estragos)”, acrescentou.
“Isto tudo não é sobre um candidato
ou um único problema, é sobre o futu-
ro deste país e do mundo”, disse. A
atriz deixou ainda um recado a quem
não está a levar as eleições a sério.
“Não é engraçado votar no Kanye. Não
sei mais como dizer isto. Por favor
sejam responsáveis”, rematou.
No conforto
do sofá...e do ex
■ Apesar de Carolina
Deslandes e Diogo Clemente se
terem separado em setembro,
a relação dos dois continua
forte. Carolina Deslandes
partilhou no sábado, no
Instagram, a fotografia de uma
noite passada com o ex e os
filhos Santiago, de quatro
anos, e Benjamin, de três, no
conforto do sofá. “Mas ainda
não inventaram platina que
defina isto”, escreveu na
legenda da fotografia.
Famílias pequenas
que ocupam muito
espaço
■ Menos de um ano após a
chegada da primeira filha,
Cameron Diaz e Benjamin
Madden estão de mudança
para uma nova casa em
Los Angeles, nos Estados
Unidos. O imóvel tem sete
quartos, 10 casas de banho
e piscina, e custou
14,7 milhões de dólares,
ou seja, mais de 12 milhões
de euros. Recorde-se que
o casal está junto
desde 2015.
Passatempos
PALAVRAS CRUZADAS
HORIZONTAIS: 1 – Em maior quantidade. Porção de água ou estreito que liga
dois mares. 2 – Vaso para flores ou para ornato. Carícia. 3 – Untar com óleo. Que
tem saúde (fem.). Interjeição designativa de dor. 4 – Caminhava para lá. Os ramos
ou a folhagem das plantas. Grande massa de água salgada. 5 – Prefixo (monta-
nha). Achatado. 6 – Seguir até. A unidade. 7 – Cansar. Ovário dos peixes. 8 – Insig-
nificância (fig.). Nocivo. Elas. 9 – Observei. Prefixo (duas vezes). Campo de
cereais. 10 – Deste, desse ou daquele modo. Fazer estar em silêncio. 11 – Ardósia.
Lavrar.
VERTICAIS: 1 – Planta gramínea que nasce entre o trigo e o danifica. Campo
semeado de favas. 2 – Osso que constitui a saliência da face. Advertência. 3 –
Centésima parte do hectare. Sete mais um. Sétima nota musical. 4 – Irritar. Grace-
ja. Anotação musical para indicar repetição. 5 – Curar. Ódio (ant.). 6 – Território sob
administração portuguesa até 1999, situado na costa sul da China. 7 – Habita-
ções. Faz riscos ou traços em. 8 – Canseira. A minha pessoa. Dividir ao meio. 9 –
Contracção de ‘em’ com ‘a’. Blandícia. Fileira. 10 – Misturar com água. Bater com
vara. 11 – Flavo. Guarnecer de asas.1 – NAzáfama. 11 – Atordoar. Irritar.
SUDOKU
1 | GRAU DE DIFICULDADE ★★★★★ 2 | GRAU DE DIFICULDADE ★★★★★
SOLUÇÕES
4|
HORIZONTAIS: 1 – Gelha. Lida. 2 – Guarnecer de asas. Nome dado ao símbolo @
(Informática). 3 – Articular sons sem sentido. Desdita. 4 – Que é feito de cobre, de
bronze ou de arame. Ente. Preposição (posse). 5 – Sortear. Dá crédito. 6 – Peque-
na embarcação. Bater com vara. 7 – Patrão. Sinal que, no princípio de uma pauta
de música, indica a posição das notas e o grau da sua elevação. 8 – Partícula
apassivante. Que lhe pertence. Qualquer parte do esqueleto dos vertebrados. 9 –
Livre de perigo. Ressonar. 10 – Iguaria de pão migado e fervido em água, tempera-
da com azeite e alho. Estaleiro. 11 – Atordoar. Que é de bronze.
VERTICAIS: 1 – Tabaco em pó para cheirar. Tecido transparente de linho ou algo-
dão. 2 – Servir-se de. Prenúncio de algum perigo. 3 – Vento brando, aprazível.
Boca de um rio. 4 – Regato não permanente. Parte aquosa que se separa do leite
ou do sangue depois de coagulados. 5 – Rosto. Direcção Assistida (abrev.). 6 –
Peça teatral de carácter burlesco. Fazer luras. 7 - Atmosfera. Vegetação espontâ-
nea. 8 – Irritar. Abundantemente. 9 – Fruto da nogueira. Qualidade do que é fresco.
10 – Convento ou mosteiro a que preside abade ou abadessa. Entidade fantástica
brasileira. 11 – Deitar areia em. Verbal.
3 | GRAU DE DIFICULDADE ★★★★★ 4 | GRAU DE DIFICULDADE ★★★★★
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—26 outubro 2020 31
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TEMPO

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HOJE AMANHÃ

16º 18º
NORTE 9º 12º

18º 19º
CENTRO 11º 11º

19º 19º
SUL 12º 11º

22º 20º
AÇORES 18º 16º

24º 22º
MADEIRA 19º 17º

SEMÁFORO

Rúben Guerreiro
Governo socialista está no poder desde 1996 FACEBOOK PS AÇORES O ciclista português foi o
verdadeiro campeão da
montanha, acabando a volta

Vasco Cordeiro conquista terceiro a Itália em bicicleta como o

rei da especialidade. Guer-
reiro junta o seu nome ao de

e último mandato nos Açores

João Almeida, o outro por-
tuguês que animou a corri-
da, que esteve na liderança
durante 15 dias e demons-
trou que é um verdadeiro
campeão. P. 27

O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido

pelo PSD que liderou os Açores entre 1976 e 1996.
SÓNIA PERES PINTO
sonia.pinto@ionline.pt
Vasco Cordeiro, atual presidente do
Governo açoriano, venceu o terceiro e
último mandato das eleições legislati-
vas açorianas. Até ao fecho da edição
ainda não se sabia se teria alcançado
maioria absoluta – alcançada pela pri-
meira vez em 2000 – mas tudo indica-
va que terá perdido. No entanto, as pro-
jeções da Católica apontavam para uma
vitória com 46,4% dos votos, o que se
traduz em 30 deputados no parlamen-
to regional. Ainda assim, o diretor de
campanha do PS/Açores aponta para
uma “grande vitória” socialista. Duran-
te a campanha eleitoral, o candidato
socialista garantia que o voto no parti-
do representava um “rumo firme, sério
e experiente” para superar a pandemia
provocada pela covid-19.
De acordo com as mesmas projeções,
o segundo partido mais votado terá sido
o PSD, com 32% a 36% dos votos, segui-
do do CDS com 3% a 6%. O Chega reúne
os mesmos valores, de 3% a 6%. Segue-
se o Bloco de Esquerda, com 2% a 5%.
O PAN reúne 2% a 3% dos votos, com
CDU, IL e PPM a reunirem 1% a 2% das
intenções de voto totais.
Em 2016, a abstenção nas eleições regio-
nais açorianas atingiu 59,16%, superando
o valor mais elevado até então neste tipo
de sufrágios, 53,34% registados em 2008.
Recorde-se que o PS governa a região
há 24 anos, tendo sido antecedido pelo
PSD, que liderou o executivo regional
entre 1976 e 1996. Nas anteriores legis-
lativas açorianas, em 2016, o PS venceu
com 46,4% dos votos, o que se traduziu
em 30 mandatos no parlamento regio-
nal, contra 30,89% do segundo partido Inês Sousa Real
mais votado, o PSD, com 19 mandatos,
e 7,1% do CDS-PP (quatro mandatos). Com o país à beira da misé-
O BE, com 3,6%, obteve dois mandatos, ria humana, a líder parla-
a coligação PCP/PEV, com 2,6%, um, e o mentar do PAN, que fez o
PPM, com 0,93% dos votos expressos, discurso mais acelerado da
também um. história, diz que o seu parti-
Para estas eleições estavam inscritos do vai contribuir para a
para votar um total de 228 999 eleitores aprovação do Orçamento
e concorreram 13 forças políticas, para do Estado porque os ani-
disputar os 57 lugares na Assembleia Legis- mais de estimação vão ter
lativa da Região Autónoma dos Açores. um santuário. Ámen. P. 04
Nas eleições regionais açorianas exis-
te um círculo por cada uma das nove
ilhas e um círculo regional de compen-
sação, reunindo este os votos que não
forem aproveitados para a eleição de par-
lamentares nos círculos de ilha.

Francisco nomeia primeiro cardeal afro-americano
Wilton Gregory, de 73 anos, arcebispo de
Washington, tornou-se o primeiro cardeal
afro-americano, após ser nomeado pelo
Papa Francisco, este domingo. Tornou-se
conhecido do público como opositor do
porte de armas e, mais recentemente, ao
criticar a visita do Presidente Donald Trump
a um santuário dedicado ao Papa João
Paulo II, no dia seguinte a Trump mandar
varrer manifestantes antirracistas com
gás lacrimogéneo e balas de borracha para
tirar uma foto com uma Bíblia na mão à
frente de uma igreja, em junho.
“Penso que é repreensível que qualquer
espaço católico se permitisse ser tão cla-
ramente mal usado e manipulado de uma
maneira que viola os nossos princípios
religiosos, que pedem que defendamos
os direitos de todos, mesmo dos que dis-
cordam connosco”, declarou na altura
Gregory, um dos 13 cardeais nomeados
no domingo, em declarações citadas por
boa parte dos média norte-americanos.
A nomeação do clérigo contraria a tendên-
cia dos últimos anos, em que as hierarquias
católicas norte-americanas estiveram entre
os principais críticos do Papa Francisco,
liderados pelo cardeal conservador Raymond
Burke. A nomeação de Gregory, que tem
sido um sonoro apoiante da aproximação
do Papa Francisco à comunidade LGBT+,
também é vista como um reforço dessa
nova posição da Igreja Católica.
Marta Temido
A ministra da Saúde é o ros-
to da incompetência gover-
namental, pois os especia-
listas sempre anteviram o
que iria passar-se com a
covid-19, mas o Executivo
de António Costa optou por
esconder a realidade. Não é
que Marta Temido seja a
principal responsável, mas
tem sido conivente com o
seu chefe. PP. 02-03 V. R.