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Filosofia

André Puchalski

Filosofia

São Paulo
Rede Internacional de Universidades Laureate
2015
© Copyright 2015 da Laureate. É permitida a reprodução total ou parcial,
desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam
a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º,
inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate
International Universities)

C416s
Puchalski, André

Filosofia, Identidade e Modernidade/ André Puchalski


Salvador: UNIFACS, 2015.

18 p.
ISBN

1. Filosofia.
André Puchalski. II. Título.
CDD: 326.3
Sumário
CAPÍTULO 3 - Identidade e Modernidade

Introdução.................................................................................................................................09

3.1. A Identidade em Questão.......................................................................................................09

3.1.1. Concepção de Modernidade................................................................................................10

3.1.2. O Carater da Mudança na Modernidade Tardia....................................................................11

3.1.3. Descentrando o Sujeito.......................................................................................................13

3.1.4. As Culturas Nacionais como Comunidades Imaginárias..........................................................14

3.1.5. Globalização.....................................................................................................................15

3.1.6. O Global, o Local e o Retorno da Etnia................................................................................16

Síntese.......................................................................................................................................17

Referências.................................................................................................................................18
Capítulo 3 Identidade e Modernidade
Introdução
Imagine que você e seus colegas vão ao Museu de Arte Moderna (MAM). No final da visita,
surgem comentários como “preferia ter ido assistir ao jogo do Palmeiras”, “achei que alguns
quadros estavam colocados de ponta-cabeça” ou “a escultura era apenas um amontoado de
pedras”. São reações comuns, mas por que surgem comentários deste tipo? E se o mesmo
grupo fosse visitar a Capela Sistina, no Vaticano? Será que a reação seria igual? Por quê? O
conhecimento influencia estas análises? De que forma?

Sim. E você entenderá a identidade em questão, ou seja, concepções de modernidade; o caráter


da modernidade tardia; descentrando o sujeito; as culturas nacionais como comunidade
imaginadas; globalização, o globo, o local e o retorno da etnia.

Após este capitulo você será capaz de identificar a finalidade da vida e os elementos que tem
valor na realização dos objetivos.

3.1 A identidade em questão


Em filosofia, a questão da identidade pessoal diz respeito às condições sob as quais uma pessoa
em um momento é a mesma pessoa em outro momento.

A questão filosófica mais saliente que se coloca a respeito da identidade pessoal é a


das condições de persistência das pessoas, mais precisamente das pessoas humanas.
(Pessoas sobrenaturais ou artificiais, se existirem ou vierem a existir, poderão ter
condições de persistência muito diferentes das nossas.) O problema é saber, enfim, em
que circunstâncias os seres como nós começam a existir, continuam a existir e deixam
de existir.
(...)O termo «pessoa», no seu sentido filosófico comum, designa um ser com certas
capacidades mentais sofisticadas, como a racionalidade e a consciência de si. (Daí
a possibilidade de existirem pessoas não-humanas, sem organismos Homo sapiens; e,
já agora, a realidade de seres humanos que não são pessoas.) Disponível em: http://
dpdm.blogspot.com.br/2008/09/glossrio-identidade-pessoal.html> acesso em: 29 jun
2015

Esse conceito de identidade pessoal muitas vezes na filosofia moderna da mente é referido
como problema diacrônico e o problema sincrônico é fundamentado nas características ou
traços de uma pessoa em um certo tempo.

NÓS QUEREMOS SABER!


Compare uma escultura de Michelangelo, um dos principais artistas do Renascimento,
com uma escultura pós-moderna. Em que aspectos o jovem de hoje se diferencia do
modo de vida dos seus pais e avós? Como você avalia esta diferença? Leia o tópico
abaixo e tire suas conclusões. Lembre-se que comparar é mostrar as semelhanças e
diferenças, analisar!

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Ebook - Filosofia

3.1.1 Concepções de modernidade


Pós-moderno ou pós-modernismo é o movimento que se inicia a partir de 1950, com as
transformações ocorridas nas ciências, nas artes e na sociedade. Por exemplo, as grandes
mudanças ocorridas na arquitetura e o computador, com todos os seus mais diferentes aplicativos.
Hoje, você é despertado pelo seu relógio digital, que também alerta sobre o trânsito e o tempo.
Durante o seu café, já se conecta como seu micro para ver a agenda do dia: natação às 11h30;
trocar o cartão do banco; trabalho; psicoterapia às 18h30; Shopping às 20 horas; noticiário da
TV às 22 horas; e assim por diante.

O sujeito pós-moderno encontra-se deslocado, fragmentado, não existe mais o sujeito


unificado, amparado em um mundo estável. As âncoras que o mantinham seguro não mais
existem. A identidade está em crise. O sujeito, tendo uma identidade unificada e estável, sente-
se fragmentado. Ele agora é possuidor de várias identidades, porque o modelo cultural que
“formou” a sua identidade se volatizou, tornou-se provisório.

Para contextualizar o sujeito pós-moderno, é preciso distinguir duas concepções de identidade


anteriores à pós-modernidade.

O sujeito do Iluminismo era o sujeito unificado, dotado de razão, de consciência e de ação,


desenvolvido como sendo o único, centrado num núcleo interior, com sua identidade própria.

Figura 1: “La Liberté guidant le peuple”, pintura de Eugène Delacroix, marca a Revolução Francesa, influenciada
pelo Iluminismo. Fonte: www.shutterstock.com.br,2015

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O sujeito sociológico “refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de
que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas formado na relação
com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos
e símbolos - a cultura - dos mundos que ele/ela habitava” (HALL, 2002, p.11). Essa visão se
tornou a concepção sociológica da questão da identidade, formada na “interação” entre o eu e a
sociedade. Ela estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando
ambos mais unificados e predizíveis.

Mas a pós-modernidade abalou os quadros de referência que davam para os indivíduos uma
ancoragem estável no mundo social. Segundo Hall (2002), “as velhas identidades, que por
tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado”.

O sujeito pós-moderno tem a identidade fragmentada de maneira desordenada, em imagens,


dígitos e signos, alimentando-se diuturnamente com o último modelo de micro, IPD, fones etc.,
ouvindo as últimas novidades disponíveis nos shoppings, que poderão saciar alguma angústia ou
minimizar a solidão. Ou, ainda, anunciar a nova exposição de arte niilista, onde poderá também
ouvir uma música new age. O indivíduo considera-se um “hedonista integrado à tecnologia, um
narcisista com identidade móvel, flutuante, liberado sexualmente” (SANTOS, 1988, p.11).

3.1.2 O caráter da mudança na modernidade


tardia
Outro aspecto da questão da identidade está relacionado à globalização e seu impacto sobre a
identidade cultural. Diferentemente das sociedades tradicionais e modernas, na sociedade pós-
moderna os meios de comunicação formam a aldeia global, como algo esférico que envolve o
mundo todo. Por isso a ideia de Globalização. Assim, através da internet, cada indivíduo é um
produtor de informação, que pode interagir imediatamente com outras informações. Já “nas
sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados, porque contêm e
perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço,
inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e
futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas recorrentes” (GIDDENS, 1990, p.
37-8 e HALL, 2002, p. 14-15).

A modernidade é uma constante experiência. Uma constante mudança, gerada pelo constante
exame das práticas sociais e comparada com as informações recebidas sobre estas práticas. Esta
onda de mudanças exige novas e constantes “adaptações” do sistema social e das instituições
modernas em geral, porque atingem todos os cantos do planeta, graças aos complexos meios de
comunicação. Por isso, somos mutantes.

Alguns autores se referem à modernidade como um processo de rupturas e fragmentações internas,


ou um deslocamento que dá lugar a uma pluralidade de centros de poder. Este deslocamento
desarticula identidades estáveis do passado. “A sociedade não é como os sociólogos pensam
muitas vezes, um todo unificado, bem delimitado, uma totalidade. (....) Está sendo constantemente
“descentrada”. (...) As sociedade da modernidade tardia são caracterizadas pela “diferença”. Elas
são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais, que produzem uma variedade
de diferentes “posições de sujeito”’ – isto são identidades – para os indivíduos” (HALL, 2002,
p.17).

No entanto, a desarticulação de identidades permite também a criação de novos sujeitos, aos


quais Laclau se refere como “recomposição da estrutura em torno de pontos nodais particulares
de articulação” (HALL, 2002, p. 18).

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Agora, um estudo de caso sobre a questão das identidades:

“Em 1991, o então presidente Bush, ansioso por restaurar uma maioria conservadora na Suprema
Corte americana, encaminhou a indicação de Clarence Thomas, um juiz de visões políticas
conservadoras. No julgamento de Bush, os eleitores brancos (que podiam ter preconceitos em
relação a um juiz negro) provavelmente apoiariam Thomas, porque ele era conservador em
termos da legislação de igualdade de direitos. E os eleitores negros (que apoiam políticas liberais
em questão de raça) apoiariam Thomas, porque ele era negro. Em síntese, o presidente estava
“jogando o jogo das identidades” (HALL, 2002, p.18).

Durante as “audiências” em torno da indicação, no Senado, o juiz Thomas foi acusado de


assédio sexual por uma mulher negra, sua ex-colega, Anita Hill. As audiências causaram um
escândalo público e polarizaram a sociedade americana. Alguns negros apoiaram Thomas,
baseados na questão da raça, e outros se opuseram a ele, tomando como base a questão
sexual. As mulheres negras estavam divididas, dependendo de qual identidade prevalecia: sua
identidade como negra ou sua identidade como mulher. Os homens negros também estavam
divididos, dependendo de qual fator prevalecia: seu sexismo ou seu liberalismo. Os homens
brancos estavam divididos, dependendo não apenas de sua política, mas da forma como eles
se identificavam com respeito ao racismo e ao sexismo. As mulheres conservadoras brancas
apoiavam Thomas, não apenas com base em sua inclinação política, mas também por causa
de sua oposição ao feminismo. As feministas brancas, que frequentemente tinham posições mais
progressistas na questão da raça, se opunham a Thomas tendo como base a questão sexual. E,
uma vez que o juiz Thomas era um membro da elite judiciária e Anita Hill, na época do alegado
incidente, uma funcionária subalterna, estava em jogo, nesses argumentos, também questão de
classe social (HILL, 2002, p.19-20).

A questão da culpa ou da inocência do juiz Thomas não está em discussão aqui. O que está
em discussão é o jogo de identidades e suas consequências políticas. Consideraremos os
seguintes elementos:

• As identidades eram contraditórias. Elas se cruzavam ou se “deslocavam mutuamente”;

• As contradições atuavam tanto fora, na sociedade, atravessando grupos políticos estabelecidos,


quanto “dentro” da cabeça de cada um;

• Nenhuma identidade singular – por exemplo, de classe social – podia alinhar todas as
diferentes identidades com uma “identidade mestra” única, abrangente, na qual se pudesse,
de forma segura, basear uma política. As pessoas não identificam mais seus interesses sociais
exclusivamente em termos de classe; a classe não pode servir como um dispositivo discursivo ou
uma categoria mobilizadora, por meio da qual todos os variados interesses e todas as variadas
identidades das pessoas possam ser reconciliados e representados;

• De forma crescente, as paisagens políticas do mundo moderno são fraturadas por identificações
rivais e deslocantes, que advém, especialmente, da erosão da “identidade mestra” da classe e
da emergência de novas identidades, pertencentes à nova base política definida pelos novos
movimentos sociais: o feminismo; as lutas negras; os movimentos de libertação nacional; os
movimentos antinucleares e ecológicos.
Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou
representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganha ou perdida. Ela se tornou
politizada. “Esse processo é, às vezes, descrito como constituindo uma mudança de uma política
de identidade (de classe) para uma política de diferença” (Hall, 2002, p. 20-21).

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3.1.3 Descentrando o sujeito
Segundo alguns autores, a identidade moderna não ocorreu simplesmente por uma desagregação,
mas pelo deslocamento das identidades. Na modernidade tardia, ocorreram pelo menos cinco
descentramentos, como veremos a seguir:

1º. Descentração referente às tradições do pensamento marxista. Marx afirma que “os homens
fazem a história, mas apenas nas condições que lhes são criadas”. No entanto, os “leitores” e
“autores” de Marx “argumentavam que o marxismo, corretamente entendido, deslocara qualquer
noção de agência individual” (HALL, 2002, p. 35). E, ainda que os indivíduos não sejam agentes
históricos, agem em condições históricas criadas.

2º. A teoria da descoberta do inconsciente de Freud afirma que “nossas identidades”, nossa
sexualidade e a estrutura dos nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e
simbólicos do inconsciente. O inconsciente funciona de acordo com uma “lógica” muito diferente
daquela da Razão. Ela arrasa o conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma
identidade fixa e unificada – o “penso logo existo” do sujeito de Descartes (HALL, 2002, p.36). A
identidade, portanto, é formada ao longo da vida e não é algo inato.

Figura 2: Sigmund Freud (1856-1939), autor da teoria da descoberta do inconsciente, em 1885. www.shutterstock.
com.br,2015

3º. O trabalho do linguista estrutural Ferdinand Saussure afirma que a língua é um sistema
social e não um sistema individual. Ele argumenta que “nós não somos, em nenhum momento,
os “autores” das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua. (...)
Nos posicionamos no interior das regras da língua e dos sistemas de significado de nossa cultura”
(HALL, 2002, p.40).

4º. O trabalho do filósofo e historiador francês Michel Foucault destaca o “poder disciplinar”,
por meio do qual o governo regula e vigia as populações a partir de diferentes instituições criadas
por ele, tais como escolas, hospitais etc. Segundo Foucault, o objetivo do “poder disciplinar”
consiste em manter “as vidas, as atividades, o trabalho, as infelicidades e os prazeres do indivíduo”,
assim como sua saúde física e moral, suas práticas sexuais e sua vida familiar, sob estrito controle
e disciplina, com base no poder dos regimes administrativos, do conhecimento especializado dos

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profissionais e do conhecimento fornecido pelas “disciplinas” das Ciências Sociais. Seu objetivo
básico consiste em produzir “um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil” (HALL,
2002, p.42). Em sua obra “1984”, George Orwell ilustra o “poder disciplinar”.

5º. O impacto do feminismo como movimento social e também como posicionamento teórico.
O movimento feminista traz novas contestações sobre a vida familiar e sexual, a divisão doméstica
do trabalho, o trabalho doméstico etc. Ele promove a ressignificação das identidades de homens
e mulheres.

Figura 3: O movimento feminista descon-


strói a imagem universal da mulher. Fonte:
www.shutterstock.com.brbr,2015

6º. Descentração ou deserção da família. A família


não é mais o foco da existência individual. O Jovem sai de casa para morar sozinho, casa e logo
se divorcia.

7º. A deserção da religião. As religiões antigas perdem terreno para as novas seitas que
nascem a cada dia, prometendo curas e bens materiais. O indivíduo busca menos as religiões
coletivas, apegando-se mais à astrologia, ao esoterismo, etc. O homem pós-moderno é mais
psicológico que religioso.

3.1.4 As culturas nacionais como comuni-


dades imaginadas

Como as identidades culturais nacionais são afetadas pela globalização? A cultura do país em
que nascemos é a principal fonte da identidade cultural, porque cria sentimentos de lealdade e
de identidade. Cada país possui um sistema de educação e símbolos construídos ao longo da
vida do indivíduo, de acordo com os elementos a seguir:

• Narrativa da nação – Fornece todo o processo de formação cultural da nação, por meio
da literatura nacional, eventos históricos, heróis, triunfos, derrotas e desastres, a fim de fornecer
e preservar a tradição e a herança dos antepassados, para que a cultura seja vista como um
processo de continuidade e evolução.

• Ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade – “A


identidade nacional é representada como primordial – está lá, na verdadeira natureza das coisas,
algumas vezes adormecida, mas sempre pronta para ser “acordada” de sua “longa, persistente
e misteriosa sonolência” para reassumir sua inquebrantável existência”.

• Invenção da tradição – “A tradição inventada significa um conjunto de práticas de natureza


ritual ou simbólica, que busca inculcar certos valores e normas de comportamentos através da

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repetição e implica, automaticamente, em continuidade com um passado histórico adequado”
(HALL, 2002, p.54). É o exemplo da pompa que rodeia a monarquia britânica nas cerimônias
públicas.

• Mito fundacional – Trata-se de uma história inventada para explicar e entender a origem de
um povo e da nação. Por exemplo, a história da Grécia antiga narrada pelos helenos.

As identidades nacionais foram construídas com o sangue das grandes batalhas e das conquistas
que subjugaram ou destruíram muitos povos. Os espanhóis na América espanhola devastaram
a cultura dos incas, astecas e maias, entre outras. Os portugueses subjugaram e dizimaram as
inúmeras tribos indígenas (aimorés, tamoios, nhambiquaras etc.). O mesmo ocorreu com os
povos africanos “colonizados” pelos europeus. Os colonizadores se impunham não somente pela
força, mas exerciam a hegemonia cultural sobre os colonizados.

Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como


constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou
identidade. Elas são atravessadas por profundas divisões e diferenças internas, sendo
“unificadas” apenas através do exercício de diferentes formas de poder cultural. Entretanto
– como nas fantasias do eu “inteiro” de que fala a psicanálise lacaniana – as identidades
nacionais continuam a ser representadas como unificadas (HALL, 2002, p.62).

NÓS QUEREMOS SABER!


Ouve-se com muita frequência que a juventude da década de 1970 e 1980 era bem
mais engajada que a juventude atual. Você concorda com esta afirmação? Quais são os
fatores que geraram uma possível mudança na juventude atual?

3.1.5 Globalização
Para melhor entendimento de globalização, “partiremos do pensamento de Marshall McLuhan
e sua aldeia global. Veremos ainda as transformações e críticas às transformações geopolíticas
das últimas décadas do século XX, com a emergência de outros termos, como mundialização
ou planetarização que, mais que contestar a ideia global, buscam adequá-la às dinâmicas
econômicas, sociais e culturais contemporâneas” (DUARTE, 1988, p.18).

A Globalização, portanto, é o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista,


presidido por técnicas de informação.

Segundo Milton Santos, “a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de
técnicas. Ela é o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global.
(...) Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade
da técnica; a convergência dos momentos; a cognoscibilidade do planeta; e a existência de
um motor único na história, representado pela mais-valia globalizada. Um mercado global
utilizando esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa” (SANTOS,
2000, p.24).

Já para McGrew (apud Stuart Hall, 2002, p.67), “globalização se refere àqueles processos,
atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando
comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em
realidade e em experiência, mais interconectado” (HALL, 2002, p.67).

A globalização tem consequências sobre as identidades culturais. Ela ocasiona, por exemplo, a

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Ebook - Filosofia

desintegração das identidades nacionais. Os indivíduos são programados, porque tudo “está
organizado” e planejado para o sucesso nas compras. Surgem já outras identidades como
resistências à globalização.

Para alguns teóricos, os efeitos da globalização enfraqueceram os movimentos nacionais de


identidade cultural, porque há certo desleixo no olhar da cultura nacional, em comparação com
o constante reforçamento da “cultura global”. Assim, a cultura global vai aos poucos deslocando
e ofuscando cada vez mais a cultura nacional, até apagá-la.

NÓS QUEREMOS SABER!


Os efeitos da globalização enfraqueceram os movimentos nacionais de identidade
cultural. Como você explica esta afirmação, analisando a realidade brasileira?

3.1.6 O global, o local e o retorno da etnia

“A homogeneização cultural é o grito angustiado daqueles(as) que estão convencidos(as) de


que a globalização ameaça solapar as identidades e a “unidade das culturas nacionais” (HALL,
2002, p.77). Mas esta posição é considerada muito unilateral. É importante levar em conta as
três contratendências principais. Há uma fascinação com “a diferença e com a mercantilização
da etnia e da alteridade” (HALL, 2002, p. 77). O impacto global trouxe também o impacto
“local”, explorando as diferenças locais. É mais provável que a globalização provoque ou produza
novas identificações locais, ao invés de destruir as identidades nacionais. A globalização ainda
é distribuída de modo muito desigual no planeta.

A globalização pode apresentar as seguintes consequências:

• “A globalização caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais, embora


isso ainda esteja dentro da lógica da compreensão espaço-tempo”;

• A globalização é um processo desigual e tem sua própria “geometria de poder”;

• “Ocidental, mas as identidades estão em toda parte, sendo relativizadas pelo impacto da
compressão espaço-tempo”.

A globalização e a aproximação dos povos trouxe uma acentuada desigualdade econômica e


social. Os empresários, por exemplo, podem aumentar os seus lucros, reduzindo os custos com
mão de obra barata:

O mercado livre global afetou a capacidade de seus países e sistemas de bem-estar


social para proteger seu estilo de vida. Em uma economia global, eles competem com
homens e mulheres de outros países que têm as mesmas qualificações, mas recebem
apenas uma fração dos salários vigentes no Ocidente e sofrem nos seus próprios países
as pressões trazidas pela globalização do que Marx chamava “o exército de reserva
dos trabalhadores”, representado pelos imigrantes que chegam das aldeias das grandes
zonas globais de pobreza. Situações desse tipo não antecipam uma era de estabilidade
política e social (HOBSBAWN, 2007, p.12).

NÃO DEIXE DE LER...


Para continuar os estudos sobre o tema Globalização, não deixe de ler: “HOBSBAWN,
Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia de Letras, 2007”.

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Síntese
As mudanças geradas pelas grandes conquistas tecnológicas colocam as identidades em
questionamento.
Síntese

Observe que é a modernidade que gera:

• A descentralização do sujeito;

• A desintegração das culturas nacionais;

• A fragmentação da identidade em signos e imagens;

• Sujeito com várias identidades. A identidade torna-se histórica e não mais biológica;

• O surgimento da “aldeia global”, devido às tecnologias de comunicação. A Globalização


desloca e ofusca a cultura nacional;

• Período de rupturas, fragmentações, desarticulações e também um processo de recomposição;

• A falta de identificação com a classe social;

• Novos movimentos sociais: feminismo; lutas negras; movimentos ecológicos etc.;

Ocorreu um deslocamento das identidades e não uma desagregação, segundo alguns autores,
assim como uma nova concepção da vida familiar, ocasionada pelo feminismo.

A modernidade ainda é responsável por:

• A deserção da religião de cunho mais tradicional e apego a movimentos mais individuais, mais
psicológicos que religiosos;

• Os grandes desequilíbrios ecológicos, que ameaçam a Terra;

• O surgimento do Mercado Global – capitalismo;

• O impacto global que expõe as diferenças locais e acentua a desigualdade social e econômica;

• O surgimento das zonas globais de pobreza.

Podemos perceber que muitas foram as mudanças ocorridas.

Segundo Woodward (2000), a complexidade da vida moderna exige que assumamos diferentes
identidades, o que pode gerar conflitos. Podemos viver, em nossas vidas pessoais, tensões entre
nossas diferentes identidades quando aquilo que é exigido por uma identidade interfere com as
exigências de uma outra.

Diante da modernidade e globalização, o sujeito se apresenta de formas diferentes. A sociedade


não é um lugar seguro e bem delimitado como muitos, há tempos, podiam pensar. Há oscilações,
mudanças de posturas, de posicionamentos, frente às novas realidades. Os jogos de identidades
acontecem a todo tempo e a todo momento.

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Ebook - Filosofia

Referências Bibliográficas
DUARTE, Fábio. Global e local no mundo contemporâneo – integração e conflito em
escala global. São Paulo: Moderna, 1988.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São Paulo:


Editora Universidade Estadual Paulista, 1991.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tadeu da Silva; Guacira


Lopes Louro. 7ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

HOBSBAWN, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. Trad. José Viegas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.

SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós moderno. São Paulo: Brasiliense, 1998.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência


universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.

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