Você está na página 1de 1

Formatado: Esquerda: 2 cm,

Direita: 2 cm, Superior: 3 cm,


RECONSTRUÇÃO PALEOAMBIENTAL DE UMA TURFEIRA NA PRAIA DO Inferior: 2 cm
HERMENEGILDO, RS: PALINOMORFOS E DIATOMÁCEAS

PALEOENVIRONMENTAL RECONSTRUCTION OF A PEAT IN Formatado: Fonte: Negrito


HERMENEGILDO BEACH, RS: PALYNOMORPHS AND DIATOMS

Leonardo G. de Lima1, Svetlana Medeanic2, Sérgio R. Dillenburg3 Formatado: À direita

1
Programa de Pós-Graduação em Geociências, Instituto de Geociências – UFRGS paleonardo_7@hotmail.com
2
Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica, Instituto de Geociências – UFRGS svetlana.medeanic@ufrgs.br 3Centro de
Estudos de Geologia Costeira e Oceânica, Instituto de Geociências – UFRGS sergio.dillenburg@ufrgs.br

Na região do balneário do Hermenegildo, extremo sul da Planície Costeira do RS, turfa e lama afloram na face
praial, indicando um caráter transgressivo da linha de costa. Nesta região, a barreira holocênica é formada por depósitos
de dunas eólicas transgressivas que avançam para o interior, recobrindo os ambientes úmidos de retrobarreira. O
progressivo recobrimento destes ambientes, nos últimos 5 ka, resultou no desenvolvimento de uma sucessão vegetal
característica, cujo registro se apresenta hoje na forma de depósitos de turfa. A reconstrução paleoambiental de uma
unidade sedimentar turfácea foi realizada a partir da interpretação das associações de palinomorfos obtidas de três furos
de sondagem, dispostos em um perfil transversal à barreira holocênica, na região da praia do Hermenegildo. A unidade
estudada apresenta uma espessura média de 1m, e próximo à praia interdigita-se com paleossolos formados nas
depressões interdunares.
A partir da análise de palinomorfos (polens e esporos de plantas terrestres e aquáticas e algas clorofilas) e de
diatomáceas foram estabelecidos dois principais estágios (I e II) no desenvolvimento ambiental desta turfeira.O
processamento químico das amostras seguiu as técnicas palinológicas usuais, sem o uso de HF (preservando frústulas de
diatomáceas), e aplicando-se a separação entre substâncias orgânicas e inorgânicas através solução aquosa de ZnCl2.
Estágio I: desenvolvimento inicial de um ambiente paludial, em um corpo de água relativamente raso, com alguma
influência marinha, definido pela freqüência da diatomacea Diploneis smithii aliado à presença da cianobactéria
Spirulina. Posteriormente, passam a dominar ambientes de água doce com freqüentes diatomáceas (Pinnularia
latevittata e Eunotia pectinalis), algas clorofilas (Mougeotia e Spirogyra) e predomínio de plantas aquáticas e mesófilas
(Polygonum hydropiperoides, Cyperaceae, Typhaceae, Juncaginaceae), distribuídas nas bordas e na periferia oeste do
corpo de água. A leste, caracterizando o ambiente de interduna foram freqüentes as espécies de Cyperaceae e Typhaceae,
e muito representativas as plantas halófitas de Chenopodiaceae, assim como freqüências elevadas de cianobactérias.
Estágio II: neste estágio, a redução das espécies aquáticas e perifíticas, juntamente com freqüências elevadas de
escolecodontes e palinomorfos de fungos (Gloma) indicam a ausência de uma lamina d’água permanente. As
diatomáceas (Fragilis crotonensis e Nitzschia) foram extremamente raras. As espécies das famílias Poaceae,
Scrophulariaceae, Asteraceae e Chenopodiaceae foram as mais abundantes. Na porção central do perfil de sondagem,
predominava a pteridófita Osmunda, atualmente rara nesta região e indicando provavelmente temperaturas mais elevadas
durante esse estágio. No interduna, foram abundantes Poaceae e Asteraceae, assim como quantidades anômalas de
cianobactérias (incluindo Anabaena).
Os resultados obtidos sugerem a gênese destes depósitos de turfa a partir do desaparecimento de elementos
marinhos em uma bacia rasa, com posterior estabelecimento e expansão de uma densa cobertura vegetal de banhados de
água doce. A subseqüente redução das condições de umidade proporcionou um aumento da diversidade vegetal,
especialmente das espécies características de dunas e campos.
O material palinológico examinado incluiu cianobactérias, que são indicadores ambientais, até o presente
momento não utilizados nos estudos paleoecológicos do Quaternário. Sua aplicação ampliará os conhecimentos sobre os
paleoambientes da Planície Costeira do RS. Os dados apresentados neste trabalho são de caráter preliminar e
futuramente serão complementados com análises de espículas de esponjas, paleocarpologia e datações de 14C.

Você também pode gostar