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04/04/2005
Alessandra Moraes Teixeira
Mestre em Direito das Obrigações pela UNESP
Professora de Direito Civil e Processo Civil da UNIP
Advogada na Grande São Paulo - SP
www.alessandramoraes.com
EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA .... VARA CÍVEL DA COMARCA DE .......
FULANA DE TAL ..., (nacionalidade), (estado civil), (profissão), nascida a ................, portadora
da cédula de identidade RG n.º.................. e CPF n.º.............. e seu convivente BELTRANO DE
TAL..., (nacionalidade), (estado civil), (profissão), nascido a .........., portador da cédula de
identidade RG n.º................ e CPF n.º.............., ambos residentes e domiciliados a
Av. ............................, Condomínio ..................., Cidade de ..........-....., vêm por meio de
advogados “in fine” assinados (mandato anexo), que receberão as intimações de estilo a
Rua ................ n.º..., Cidade de ......-......., mui respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, propor a presente
em face de CONDOMÍNIO ................., pessoa jurídica inscrita junto ao CNPJ sob nº..................,
com sede a Estrada ................, Cidade ........-....,, o qual deverá ser citado, na pessoa de seu
Síndico ou procurador nomeado para tanto, o que fazem nos termos do que lhe autorizam o artigo
1277, “caput”, de nosso Novo Código Civil e artigo 461 do Código de Processo Civil, bem como
pelas razões de fato e de direito que seguem expostas:
I – DOS FATOS:
Ocorre que há alguns metros (no máximo cem metros) de sua nova casa, está instalado o salão
de festas do condomínio, conhecido por seus moradores como “Salão de Cristal”.
Tal designação, como Vossa Excelência poderia imaginar, deve-se ao fato de que aquele salão
possui paredes de vidro e aberturas laterais onde se localizam as caixas de som, sem qualquer
proteção acústica, conforme demonstram as fotos que a esta acompanham.
Repare Excelência, que a forma como foi construído aquele espaço festivo (provavelmente muito
adequada para os anos 60, época em que as festas e eventos sociais dificilmente passavam das
22:00 horas da noite) é absolutamente imprópria para os dias de hoje, tempo em que nossos
filhos, netos e sobrinhos saem de casa para ir às festas às 23:00 horas.
Rotineiro então que sons e ruídos altíssimos, a cada novo evento, sejam ouvidos sempre após às
22:00 horas, horário em que o silêncio deveria ser absolutamente respeitado naquele ambiente
residencial.
Apesar de referido comportamento social ser “natural” em nossos dias, também é perfeitamente
legítimo que os moradores de um condomínio RESIDENCIAL anseiem por descanso e
tranqüilidade, principalmente no lugar que escolheram como refúgio das buzinas, do trânsito e do
stress do dia-a-dia das grandes cidades.
É preciso registrar que os autores são pessoas de idade (o requerente varão tem hoje 69 anos),
não obstante isso ainda levam vida de atividade intensa, pois trabalham na empresa da família, e
assim, quando estão em casa, principalmente aos finais de semana (dias em que aquele salão é
mais utilizado) necessitam do descanso que lhes revigora a saúde.
Ademais Excelência, o altíssimo ruído que se ouve vindo daquele local, incomoda e perturba não
só os autores, mas também outros moradores daquele condomínio, conforme é possível atestar
pelas cartas que alguns deles já enviaram ao réu, pedindo providências (doc.anexo).
Repare, nobre julgador, que, não é preciso ser um “expert” em instalações sonoras para verificar
que aquele prédio não tem estrutura adequada para viabilizar sua utilização festiva sem
incomodar o sono e a tranqüilidade das propriedades vizinhas, haja vista que é praticamente uma
área aberta (veja-se novamente as fotos que a esta acompanham).
Não vemos, portanto, outra alternativa para restabelecer a tranqüilidade e possibilitar aos autores
seu merecido descanso, senão providenciando obras de isolamento acústico daquele local.
Nem se diga que bastaria notificar os moradores de que devem guardar silêncio naquele ambiente
após às vinte e duas horas, posto que, tal “advertência” desde sempre esteve inscrita no
regulamento do réu, mas como alertamos, as festas ali realizadas (e aliás na maior parte dos
locais festivos de nossa sociedade) começam rotineiramente após aquele horário.
Muito menos, seria remédio, apenas multá-los, uma vez que tais multas acabariam por ser
incorporadas ao custo do aluguel do salão, o que manteria aquela locação, ainda mais barata do
que a de um espaço fora da área do condomínio.
Ademais, tais soluções coercitivas não impediriam o seu descumprimento, e principalmente não
evitariam o desgaste físico e mental a que estão sendo submetidos os autores e demais
moradores da redondeza, o que só pode ser resolvido por uma SOLUÇÃO FÍSICA E DEFINITIVA
PARA O PROBLEMA.
Destarte, o único modo para ELIMINAR O CONFLITO é SEM DÚVIDA, OBRIGAR AO RÉU QUE
PROVIDENCIE OBRAS DE ISOLAMENTO ACÚSTICO DAQUELE SALÃO DE FESTAS, assim
harmonizando o interesse de todos, não só dos que NECESSITAM DE DESCANSO E DE REPOUSO,
mas também daqueles que desejam se confraternizar com amigos e parentes em circunstâncias
festivas.
Como tal solução é adiada pelo representante do réu, que apesar de inúmeras vezes procurado,
jamais efetivou qualquer ato em busca daquela providência, não restou aos autores outra
alternativa, senão o de passarem pela árdua via do Poder Judiciário, em busca da proteção aos
seus legítimos interesses.
II - DO DIREITO:
Conforme narramos, os autores, desde que passaram a residir próximo àquele local, solicitaram
ao representante do réu as medidas necessárias para manter o sossego e a tranqüilidade naquela
cercania, entretanto até a presente data, ou seja, há mais de um ano, têm recebido apenas
desculpas, o que sem dúvida não lhes devolve as noites mal dormidas, muito menos elimina os
problemas de saúde que só se agravaram em virtude daquela perturbação sonora constante.
O malefício causado à saúde pelo excesso de ruído é algo reconhecido por médicos e cientistas,
bem como pelas próprias autoridades governamentais.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA em sua Resolução nº001 de 8 de março de
1990, deixou registrado que:
A referida NBR 10.151/1987 estabelece que o critério básico de ruído para áreas residenciais deve
ser de 45 dB, nível que em circunstâncias festivas é ultrapassado excessivamente.
Nem se permita, nobre julgador, a defesa da idéia de que a NBR 10151/1987 é norma meramente
técnica, eis que ela tem sido a referência, inclusive judicial, para a análise do que é perturbação
sonora ou não.
Vejamos:
“Em qualquer horário o ruído elevado é pertubador. Um pulso de som de 90 dB de apenas 20s
desenvolve 80s de constrição periférica nos vasos sanguíneos. Dr. Guilherme (1991),
otorrinolaringologista da Escola Paulista de Medicina (EPM), estima em 30 % de perda da audição
nos jovens que usam "walkmen", toca-fita ou toca-disco duas horas por dia a níveis próximos de
100 dB. Já outro especialista, Dr. Cataldo, Diretor da Escola de Fonoaudiologia Izabela Hendrix de
Belo Horizonte, tem constatado surdez súbita e irreversível em pessoas que assistem concertos de
rock a mais de 100 dB, por efeito de vaso-espasmos no ouvido interno”.
(in “Efeitos da Poluição Sonora no Sono e na Saúde em Geral – Ênfase Urbana” – ICB – UFMG –
30.161-970 – Belo Horizonte – MG).
Vê-se porque os autores, que já passaram quase um ano tentando solucionar amigavelmente a
questão, já não suportam mais conviver com tal desrespeito, flagrante violação aos seus direitos a
paz e tranqüilidade, bem como ao ordenamento jurídico em vigor.
Analisemos:
O Novo Código Civil, a respeito do direito de vizinhança, esclarece que este deve ser exercido sem
abusos, estabelecendo junto ao artigo 1277, “caput”:
Observemos:
“Art.1279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho
exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis.”
Decidindo pela necessidade de providenciar alterações na estrutura local, sempre que esta cause
algum tipo de dano, nosso 2º Tribunal de Alçada Civil, estabeleceu:
No mesmo sentido: Apelação com Revisão 564.796-00/1 - 10ª Câmara - Relator Juiz ARALDO
TELLES - J. 26.4.2000.
Nobre julgador, é facilmente perceptível que aquela deletéria interferência no sono e descanso dos
autores, bem como de seus vizinhos (que em momento oportuno poderão testemunhar) pode ser
eliminada pelo réu, bastando para tanto que realize obra de isolamento acústico daquele local,
utilizando para tanto seu Fundo de Reserva (atualmente de aproximadamente R$.......... _ ..........
mil reais _ conforme se atesta pelos dois últimos demonstrativos de receitas e despesas do réu), o
qual é projetado exatamente para viabilizar obras e reparos extraordinários para propiciar o
conforto, sossego e tranqüilidade dos seus condôminos, e diga-se, constituído exatamente pela
mensal contribuição destes.
Tal obrigação de fazer, a qual o réu, até o presente momento, por razões de “conveniência
interna”, se furtou, pode ser determinada por esse juízo, conforme nosso Código de Processo Civil,
disciplina em seu artigo 461:
“Art.461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências
que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§1º A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível
a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente..
§2º A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art.287).
§3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receito de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia,
citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão
fundamentada.
§4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-
lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§5º. Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá
o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de
multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de
obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.
Isto posto, por tudo que expuseram os requerentes, e por não terem encontrado outro meio de
ver seu direito à tranqüilidade e descanso resguardados, senão através da presente medida
judicial, pedem seja a mesma julgada procedente, por externar pretensão legal, justa e legítima.
Com a reforma processual civil de 1994 ingressou em nosso sistema jurídico o instituto da
antecipação de tutela que passou a ser previsto no art.273, do Código de Processo Civil, medida
esta que constitui providência de natureza mandamental que tem por objetivo antecipar total ou
parcialmente os efeitos da sentença de mérito pretendida pelo autor.
Não obstante aquela genérica previsão, a mesma reforma processual, fez adentrar ao nosso
sistema também a possibilidade de concessão liminar da pretensão, nas obrigações de fazer ou
não fazer, como a dos presentes autos, facultando ao juiz a sua concessão “inaudita altera pars”
ou mediante audiência de justificação prévia.
“Art.461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências
que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
.........................................................................................................
§3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receito de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia,
citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão
fundamentada.”
Repare Excelência, que os autores vieram em buscar de algo vital a qualquer ser humano: o seu
direito ao sono e ao repouso, elementos indispensáveis à manutenção da saúde física e mental do
Homem.
Assim, parece-nos que deflui da lógica que, ter de aguardar o resultado final da demanda para ver
restabelecidas suas noites de sono é exigir dos autores um sacrifício excessivo, dado o estado de
irritabilidade e “stress” que acarreta cada utilização sonora daquele “espaço”.
Pelo exposto, é a presente, para requerer a esse juízo, que LIMINARMENTE, LIMITE A UTILIZAÇÃO
daquele local, denominado “Salão de Cristal”, determinando que o RÉU deixe de utiliza-lo após às
vinte e duas horas (horário em que pelas próprias regras do condomínio deveria prevalecer o
silêncio), sob pena de incidir em multa de R$5.000,00 (cinco mil reais) para cada oportunidade em
que descumprir tal obrigação.
Desde logo, ressalta que tal medida não acarretará ao réu qualquer prejuízo irreversível, posto
que não é pessoa jurídica dedicada à exploração de diversão ou casa noturna, ao contrário sua
finalidade social é a manutenção da harmonia e tranqüilidade de seus condôminos.
Ademais Excelência, prejuízo material só seria aferido pelo réu, caso viesse a desrespeitar a
ordem judicial em questão.
Isto posto, vê-se que todos os elementos comungam para a necessária concessão liminar!!!
Não obstante isso, caso Vossa Excelência entenda necessária a realização de Audiência de
Justificação prévia, desde já, junta rol de testemunhas que poderão confirmar os fatos aqui
apresentados.
A) A citação do Condomínio réu, através de mandado, na pessoa de seu representante legal, a fim
de que desejando, ofereça contestação, fazendo constar do mandado em questão, as advertências
da revelia;
B) A concessão de liminar “inaudita altera pars” para que desde logo seja determinada a
interdição parcial daquele local denominado “Salão de Cristal” (cuja propriedade e administração
são titularizadas pelo Condomínio-réu) a fim de que, até o julgamento final da presente demanda,
nenhum evento seja realizado após as vinte e duas horas naquele local, sob pena de aplicar-se
multa diária de R$5.000,00 (cinco mil reais) pelo inadimplemento.
C) Que, ao final, esse juízo, com ou sem a resposta do réu, prolate sentença condenando o réu à
obrigação de providenciar obra de isolamento acústico do espaço comum denominado “Salão de
Cristal”, no prazo máximo de 60 (sessenta dias), sob pena de não cumprida voluntariamente
aquela obrigação seja a mesma realizada as suas expensas.
D) Requer ainda, a condenação dos requeridos, nas custas processuais despendidas pelos autores,
bem como em honorários advocatícios a serem fixados por esse juízo.
Protesta provar o que alega, pelos documentos que a esta acompanham, bem como pela oitiva de
testemunhas ora arroladas.
Termos em que,
Aguarda deferimento.
Local - Data.
ROL DE TESTEMUNHAS:
Fonte: Escritório Online