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RESUMO-PROPOSTA PARA AS II JORNADAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICAS.

2019

O RESPEITO PELO BEM COMUM, COMO UMA FORMA DE SALVAGUAR A COISA


PÚBLICA. (Res pública)

Orlando A. Tualho, 3º Ano, CPRI.

Este trabalho que se subordina ao tema em epígrafe, é uma investigação que busca compreender
o quanto a falta de respeito pelo bem comum causa problemas e desavenças no seio da sociedade
e nos diferentes estágios da convivência humana. Procura demostrar que o respeito pela coisa
pública é o garante para a consolidação da democracia, a manutenção da Paz na nossa sociedade
e contribui para a criação de uma sociedade cada vez mais justa, pacífica e pacifista. Busca
encontrar formas para conscientizar a sociedade que os problemas que afectam o nosso País
(corrupção, as dívidas ocultas, a injustiça eleitoral, a vandalização de infra-estruturas públicas…)
têm a sua origem no desrespeito e desvalorização do bem comum. Busca soluções para pôr fim a
este flagelo que enferma a nossa sociedade. A investigação tem por objectivo perceber as
motivações por detrás dessas acções e por fim propôr possíveis soluções; tem como relevância a
necessidade de ver Moçambique cada vez mais humano, democrático, pacífico, onde a
convivência humana é cada vez mais harmoniosa, fraterna e onde o desenvolvimento económico,
social e cultural acontece de maneira equitativa com diferenças sociais menos notáveis. O estudo
será baseado na Doutrina Social da Igreja, à luz do pensamento social da Igreja. Usar-se-á uma
abordagem qualitativa para a colecta de dados; serão usadas técnicas como a entrevista,
observação e análise documental.

Palavras-chave: bem comum, sociedade, coisa pública, Paz e Desenvolvimento.

ABSTRACT-PROPOSAL FOR THE II SCIENTIFIC INITIATION DAYS. 2019

THE RESPECT FOR THE COMMON GOOD, AS A WAY OF SAFEGUARDING THE


PUBLIC THING. (Res pública)

This article is subordinated to the theme in epigraph, is an investigation that seeks to understand
how much the lack of respect for the common good causes problems and disagreements within
society and in the different stages of human coexistence. Seeks to demonstrate that respect for

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the public good is the guarantor for the consolidation of democracy, the maintenance of peace in
society and contributes to the creation of an increasingly just, peaceful and pacifist society. The
article seeks to find ways to make society aware that the problems that affect our country
(corruption, hidden debts, electoral injustice, vandalism of public infrastructure…) has its origin
in the disrespect and devaluation of the common things. It seeks solutions to put an end to this
scourge that sickens our society. The purpose of the research is to understand the motivations
behind these actions and to propose possible solutions; and will have the expected results: to see
Mozambique increasingly human democratic, peaceful, where coexistence is harmonious,
fraternal and where economic, social and cultural devepment happens in an equitable way with
less noticeable social differences. The study will be based on the church’s social doctrine, the
light of the church’s social thought. A qualitative approach will be used to collect data;
techniques such as interview, observation and documentary analysis will be used.

Keywords: Common good, society, public thing, peace and development.

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INTRODUÇÃO

A coisa pública destina-se a todos e precisa dos cuidados, de espirito humanitário e do amor de
quem de direito para que ela possa servir a todos. Nesta perspectiva, e cientes das constantes
violações de direitos humanos e da legalidade, a usurpação do erário público pelas entidades que
tem acesso, e cientes do mal que essas acções causam na nossa sociedade, propomo-nos a fazer
este estudo procurando levantar o problema, expôr o perigo que disso resulta e por fim tentarmos
buscar possíveis soluções desta anomalia que deixa a sociedade cada vez mais pobre e faz com
que surjam muitos conflitos sociais, políticos e culturais. O ser humano é um ser social, como diz
o filosofo. Portanto, a vida na sociedade implica partilhar tudo com o próximo. Mas quando um
não quer partilhar com os demais, quando os que tem poder são egoístas faz com que os outros
se insurjam e se envolvam em conflitos na tentativa de defender o que lhe é de direito. É daí que,
sentindo-nos solidários levantamos este problema para merecer uma análise de modo a colocar
na cabeça de todos os que estão na posse e administrando algum bem comum a ideia de
conservá-lo e expô-lo para todos se for o caso.

PERGUNTA DE PARTIDA

Face aos constantes conflitos políticos, étnicos e sociais… que originam, por vezes
espancamentos, detenções, homicídios, etc, o estudo faz a seguinte pergunta de partida:

Qual é a origem dos males que enfermam a sociedade?

PROBLEMATIZAÇÃO

O surgimento de uma guerra civil é ocasionado por uma má administração do poder público
que cria descontentamento no seio da sociedade. O exemplo de Moçambique: quando, depois da
proclamação da independência, a partir de 1975, o governo da FRELIMO adopta um regime de
orientação comunista (o socialismo), e começa o autoritarismo do partido único, onde os direitos
fundamentais foram postos em causa. Surge como resposta a Guerra dos 16 anos, onde as Forças
militares do partido RENAMO opunham-se ao Governo no poder. Guerra que dizimou muitas
vidas humanas e levou o Pais ao fundo do abismo da pobreza. É o poder público que foi
administrado sem respeitar os direitos fundamentais, que coloca em causa a integridade da
pessoa humana.

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Injustiça eleitoral, marca principal do processo eleitoral moçambicano, segundo a média. (O
Pais, STV, etc) Em todas eleições a oposição queixa-se da ocorrência de fraude eleitoral no
processo. Esta situação fez com que a oposição exigisse a revisão da lei eleitoral para que cada
Partido político podesse governar na Província onde viesse a ganhar. Aqui estamos perante o
desrespeito da vontade popular, onde os Órgãos eleitorais não dependem do resultado que sai das
mesas de voto. Mas sim, eles conseguem fabricar resultados dentro das Instituições e validar
como se fossem verdadeiros. Dentre muitas situações do género, temos o caso ocorrido na
Autarquia da Matola aquando da realização das eleições de 10 de Outubro de 2018, reclamado
pelo Consórcio Votar Moçambique e publicado pelo jornal O Pais: “O consórcio votar
Moçambique monitorou o processo eleitoral nas 53 autarquias - em todas as suas fases - e não
gostou do que viu. “As organizações que fazem parte do consórcio são de opinião que as eleições
não foram livres, justas nem transparentes”, resumiu Edson Cortez, director executivo do CIP,
uma das organizações que integram a Votar Moçambique e que apresentou o relatório do
consórcio sobre as eleições…”. ( O Pais: 17 de Outubro de 2018 22h52) No mesmo dia o canal
televisivo, STV, publicou as denúncias feitas pelos observadores eleitorais que afirmaram não
reconhecer os resultados validados naquele Conselho Autárquico confirmando desta maneira as
reclamações do Partido RENAMO sobre o assunto.

O caso actual das dívidas ocultas, onde dirigentes mal-intencionados levaram dinheiro
estrangeiro em forma de dívida com garantias do Estado, e usaram de maneira indevida, para fins
individuais. Nota-se aqui o total desrespeito pelo bem comum no momento em que eles levam
dinheiro em nome dos Moçambicanos e não aplicam para os projectos que visam garantir o bem-
estar dos beneficiários, situação que deixa o Pais endividado com os EUA e com outras Nações
por onde passaram a cometer os mesmos ilícitos. No momento em que se faz um empréstimo em
nome de um Estado ou em nome de uma Organização, aquele empréstimo passa a pertencer a
comunidade em causa, e consequentemente, será pago pela colectividade. Quando um dirigente
ou grupo de dirigentes se beneficia desse valor sem o consentimento da colectividade
destinatária, estamos perante o desrespeito pelo bem comum. Estamos a falar do caso das
famosas dívidas de EMATUM que no princípio foram aprovadas e apelidadas de Dívidas
soberanas, que num passado muito recente a mesma Instituição que aprovou, veio anular.

A corrupção a vários níveis, um fenómeno claro que resulta do desrespeito pelo bem comum.
Este mal acontece, na maioria das vezes quando os responsáveis de alguma Instituição canalizam
algum bem a outrém, que a princípio não tinha direito, em detrimento dos legítimos
beneficiários, em virtude de terem recebido valores monetários ou favores da parte do
beneficiário. Pode ocorrer em situações em que o bem pertence ao Estado ou a um agrupamento,
onde os responsáveis pela distribuição do respectivo bem usufruem sem merecimento de o fazer,
que muitas das vezes ocasiona rebeliões e, ou desavenças entre a colectividade e os que tutelam
tais instituições. A corrupção em Moçambique teve a sua génese no tempo do partido único, na

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governação do saudoso presidente Samora Moises Machel ( 1933-1986). Os empregados das
lojas do povo constataram que a vida do povo dependia daquelas lojas. Dai que preferiram tirar
proveito da situação: quando as mercadorias se esgotavam, para a aquisição eles cobravam
ilicitamente aos utentes. São essas cobranças que ocasionam o surgimento da corrupção no nosso
Pais. Por isso o saudoso Samora Machel reclamava e denunciava e condenava nos seguintes
termos:

Através das lojas do povo o estado encarrega-se de vender tudo: agulhas, botões, alfinetes,
amendoim a escudo, o petróleo a quinhenta, o lenço, a capulana, o quilo de arroz, a garrafa de
óleo, a barra de sabão, o corte de cabelo, o arranjo das unhas. É tarefa do Estado esta? A
transformação duma loja, loja privada em loja do povo, significava na altura, pôr o letreiro: Loja do
Povo. Já é loja do povo. Porque tem o letreiro, já é loja do povo. Vender a mercadoria que estava
la dentro da loja até acabar. Manter a loja, depois, sem mercadoria, fazer delas focos de
corrupção, centro de boçalismo, covil de ladrões…” Machel ( 1933-1986)

Quando os funcionário públicos descobriram que os empregados das lojas do povo tinham
ganhos a mais com as cobranças ilícitas, decidiram adoptar. Adoptando, a corrupção de alastra,
das lojas do povo as instituições do Aparelho do Estado. Isso esta claro nos descursos de Samora
Machel, que dizia:

O inimigo actua no nosso Pais. Infiltrou-se e instalou-se. Ele está em pontos estratégicos da nossa
economia: nos portos, nos transportes rodoviários, ferroviários, marítimos e aéreos; nas empresas,
nas fabricas, nos hospitais, nas lojas, nos diversos sectores da nossa economia. O inimigo instalou-
se nos sectores sensíveis do Aparelho do Estado: nos Ministérios e nos Governos Provinciais.
Porque alguns responsáveis se deixaram embalar por relatórios falsos, Relatórios triunfalistas,
Relatórios que escamodeiam a realidade. Porque alguns responsáveis são sensíveis a adulação,
gostam de ser adulados; sensíveis ao servilismo, sensíveis ao lambe botas, sensíveis ao beija-mão,
perderam a sensibilidade para os problemas do povo. Ficaram insensíveis às queixas do povo.
Comprometem-se, perdem o martelo, abandonam o leme, perdem o controlo, não dirigem…
(Machel, 1933-1986)

Noutra ocasião Samora disse:

…nós não lutamos para libertar os ladrões. Não é verdade? Não lutamos para transformar o nosso
País em País de ladrões. Ouviram? Transformar o nosso País em País de indisciplinados. Não era
isso. País de preguiçosos. Não era isso. Desleixados, sujos. Não era isso. Era para conquistarmos a
nossa dignidade, a nossa personalidade. É ou não é? (Machel, 1933-1986)

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No âmbito de avaliação e monitoria, com o intuito de combater a corrupção e outros males que
emergiam naquela altura, ele fazia visitas surpresas as instituições. Nisto, entrou na APIE, e
depois de lá sair disse em pleno comício:

O monstro APIE. Conhecem? Entramos na APIE. O que é que encontramos? Encontramos um


covil de bandidos; um antro de corrupção; um centro de humilhação do povo; encontramos uma
base do inimigo para destruir as nossas conquistas; encontramos um centro difusor de boatos para
denigrir a revolução. A APIE está entregue a lacaios dos antigos donos dos prédios; entregue a
buçais, selvagens, marginais que se comportam como portos… (Machel, 1933-1986)

Passagem automática no ensino primário, que consistiu na abolição de reprovações de alunos


que tivessem mau aproveitamento pedagógico, situação que criou preguiça aos alunos e aos
professores. Esta situação afectou todos os sistemas e subsistemas de ensino. Onde, por exemplo:
nas escolas de condução o instruendo deixou de se interessar pela teoria, passou a se interessar
pela prática. Chegando a prática preferia sair rápido e ser submetido aos exames. Quer dizer: o
instruendo pagava o “refresco para não ficar muito tempo com as aulas teóricas; pagava o
“refresco” para não ficar tanto tempo com as aulas práticas e era submetido aos exames.
Chegado aos exames parava o “refresco” para não chumbar e já estava na rua a conduzir. Não
conhece as regras elementares do trânsito. A consequência disso: muito sangue nas nossas
estradas. É a educação das futuras gerações que foi colocada em causa.

Ensino sobre Direitos Humanos às crianças sem incluir deveres que as crianças tem para com
os pais, para com o lar onde ela vive, para com os mais velhos, para com a sociedade. Situação
que faz com a criança cresça libertina, sem respeito e malcriada.

Legalização do aborto

Na concepção da Igreja Católica, “o fecto é um cidadão” e justifica-se pelo facto de que é a partir
do fecto que se obtém um adulto. O Artigo 40, nº 1 da Constituição da República confirma dando
Direito à vida a todo o cidadão Moçambicano, nos seguintes termos: “Todo o cidadão tem direito
à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou
desumanos”. Todos adultos vieram do fecto. E se estes fossem abortados não teríamos nenhum
adulto. Os que agora são dirigentes já passaram da fase do fecto e se fossem abortados, não
teríamos dirigentes. Os legisladores já passaram da fase do fecto e se fossem abortados, não
teríamos legisladores. O Documento sinodal (2019), reafirma o empenho da Igreja em defender a
vida "desde a concepção até o seu fim"(Sínodo de Amazónia, 06-27 de Outubro de 2019).

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OBJECTIVOS

GERAL

 Investigar a origem dos conflitos a vários níveis.

ESPECÍFICOS

 Procurar soluções dos problemas que surgem na nossa sociedade


 Conscientizar a sociedade sobre a necessidade de valorização do bem comum
 Apelar para o combate de todas as formas de apropriação e desrespeito do bem comum.

JUSTIFICATIVA

O estudo justifica-se pela aparente diferença social que a nossa sociedade vive, pelos conflitos
político-militares, sociais, étnicos, tribais e culturais, a corrupção, as dívidas ocultas que nos
assola de tempo em tempo que são fruto egoísmo, da falta de partilha, falta de amor ao próximo e
a ausência de solidariedade e subsidiariedade. Em suma, frutos do desrespeito pelo bem comum.

DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Bem comum é o conceito generalizado de muitas áreas do conhecimento e da cultura da


humanidade que define os benefícios que podem ser compartilhados por várias pessoas,
participantes de um determinado grupo ou de uma comunidade. Segundo os princípios do bem
comum, quando um determinado objecto ou uma situação qualquer é partilhado e traz algum
benefício a todos, pode ser considerado um bem comum.

Na concepção dos filósofos Platão e Cícero, o bem comum constitui o que é considerado um


sinônimo de interesse comum, quando as pessoas se voltam para a preservação dos valores e dos
bens que possam proporcionar a felicidade dos homens, como um todo.(Mondin, 1982)

No Livro I da Política, Aristóteles afirmou que o homem é político por natureza. É somente
através da participação como cidadãos da comunidade política, ou polis, prestados pelo Estado,
que os homens podem alcançar o bem comum da comunidade através do engajamento activo
com a política, seja como funcionário público, como participante na deliberação de leis e justiça,
ou como um soldado defendendo uma nação.(Ibdin)

A noção do bem comum foi novamente retomada nos séculos 16, na obra mais famosa de
Maquiavel: O Príncipe. Maquiavel sustentou que, para se garantir o bem comum, iria depender

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da existência de cidadãos virtuosos, ou seja, “cidadãos que estejam dispostos a sacrificar parte da
sua liberdade se esse sacrifício se converter em benefício da comunidade na qual estão
inseridos”. Maquiavel então desenvolveu a noção de virtude para indicar a qualidade de
promover o bem comum através do ato de cidadania, seja através de acção militar ou política.

O estudo foi feito em Moçambique, na base de consulta da bibliografia existente sobre a matéria
de respeito pelo bem comum, sobre o respeito pelo próximo e resolução de conflitos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A sociedade forma-se por meio de relações interpessoais saudáveis, como dizia São Francisco de
Assis, cit por Larrannaga (1978, Pag. 135): “Os irmãos devem reverenciar-se e honrar-se sem
murmuração”. Para que os irmãos se reverenciem e se honrem sem murmuração é necessário que
se respeitem mutuamente. Quem respeita não opta por vias de egoísmo; quem respeita partilha;
quem respeita conta com o próximo. Larranaga diz, ainda: “O respeito é a atitude primeira e
elementar, nas relações interpessoais duma comunidade”. Segundo o autor, “a falta de respeito
chama-se, vulgarmente por murmuração e cientificamente por violência compensadora”. A
murmuração envenena rapidamente as melhores intenções de qualquer comunidade. Mas para
que não haja murmurações é necessário que as entidades responsáveis pelo património público
enveredem por práticas de inclusão.

O bem comum tem um destino e tem destinatário. Para que o uso do bem comum não crie atrito
no seio da sociedade há necessidade de distribuí-lo sem descriminação. Como se afirma na obra
da Diocese de Quelimane, intitulada: O Cristão no Mundo (1993),

…os bens da terra estão destinado para o uso de todos os homens, para que todos possam viver
dignamente, conforme as exigências próprias e da própria família. Isto significa que grandes
companhias exploradoras do território, não poderão ir contra o direito de todos possuírem e
participarem dos bens da terra. Mesmo o direito a propriedade privada, válido e necessário, deve
ter limites: deve estar submetido ao direito do uso comum, ao destino universal dos bens.

Isto se inspira na Encíclica de São João Paulo II, intitulada: Sollicitudo Rei Socialis (SRS)

É necessário recordar mais uma vez o princípio típico da Doutrina Social da Igreja: os bens deste
mundo são originariamente destinados a todos. O direito a propriedade privada é valido e
necessário, mas não anula o valor de tal princípio. Sobre a propriedade, de facto, esta subjacente

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“uma hipoteca social”, quer dizer, nela é reconhecida, como qualidade intrínseca, uma função
social, fundada e justificada precisamente pelo princípio do destino universal dos bens. (SRS, 42).

Quando as entidades responsáveis pela proteção, conservação e manutenção do bem comum não
cuidam dos bens públicos que foram confiados, limitam-se simplesmente a usa-los
indevidamente, gera conflitos e por vezes Guerras.

Aliado a isso, está a colocação contida em: “Documentos Pontifícios e Episcopais (DPE),
intitulado: A Igreja no Mundo, Doutrina Social da Igreja”, que cita o Livro do Géneses:
“Multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a”, (Gn 1, 28). E acrescenta:

“Logo desde a primeira página, a Bíblia ensina-nos que toda a criação é para o homem, com a
condição de ele aplicar todo o seu esforço e inteligência em valorizá-la e, pelo seu trabalho, por
assim dizer, completá-la em seu serviço. Se a terra é feita para fornecer a cada um os meios de
subsistência e os instrumentos do progresso, todo o homem tem direito, portanto, de nela encontrar
o que lhe é necessário”, (DPE, 1975, Pag. 297)

O Concílio Vaticano II, (CVII) na Constituição Apostólica, Gaudium Et Spes (GS), esclarece nos
seguintes termos: “Deus destinou a terra e tudo o que nela existe ao uso de todos os homens e de
todos os povos, de modo que os bens da criação afluam com equidade às mãos de todos, segundo
a regra da justiça, inseparável da caridade”, (GS, n. 69,§ 1.) Portanto, a finalidade primária de
todos os bens é o homem. Por isso, nenhum homem tem direito de apropriar-se de um bem, nem
criar leis que impeçam os outros a beneficiar-se dos bens estatais.
A responsabilidade de perseguir o bem comum compete, não só as pessoas consideradas
individualmente, mas também ao Estado, pois que o bem comum é a razão de ser da autoridade
politica. Na verdade, o Estado deve garantir a coesão, unidade e organização a sociedade civil da
qual é expressão, de modo que o bem comum possa ser conseguido com o contributo de todos os
cidadãos e para todos. (Sapato, Cunlela & Maria, 2014, Pag. 48).

A comunidade política e a sociedade civil, embora reciprocamente ligadas e interdependentes, não


são iguais na hierarquia dos fins. A comunidade política está essencialmente ao serviço da
sociedade civil e, em ultima análise, das pessoas e dos grupos que a compõem. A sociedade civil,
portanto não pode ser considerada um apêndice ou uma variável da sociedade: antes, ela tem a
preeminência, porque justifica radicalmente a existência da comunidade politica. (Sapato, Cunlela
& Maria, 2014, Pag. 49).

Portanto, não há sociedade política num local onde não existe a sociedade civil, e a existência da
sociedade política é para a administração do bem comum. Ela simplesmente, administra e
canaliza à legítima beneficiaria que a sociedade civil.
Padre Arcanjo Linda Sitimela, na sua obra intitulada: Lógicas de acção e critérios teológicos da
Pastoral social na Diocese de Quelimane (1978-2008), fala-nos da relação entre a caridade e a
justiça. Com efeito, não existe justiça num mundo sem caridade, onde cada um puxa por si e

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ninguém sente pelo sofrimento alheio. Onde há sentimento de egoísmo, há falta de caridade. Para
administrar justiça aos cidadãos é necessário ter sentimento de caridade. Onde não há caridade as
pessoas são condenadas injustamente e são aplicadas penas que violam os direitos fundamentais.
Bento XVI, Papa (2005-2013), afirmou na sua Enciclica intitulada: “Caritas in veritate” nº 7
(trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana), o seguinte:

Ao lado do bem individual, existe um bem ligado à vida social das pessoas: o bem comum. É o
bem daquele «nós-todos» formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios, que se unem em
comunidade social. Não é um bem procurado por si mesmo, mas para as pessoas que fazem parte
da comunidade social. [...] Querer o bem comum e trabalhar por ele é uma exigência de justiça e de
caridade. [...]

Todo o cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que
tem de incidência na polis. Este é o caminho institucional - podemos mesmo dizer político - da
caridade, não menos qualificado e incisivo do que a caridade que vai diretamente ao encontro do
próximo, fora das mediações institucionais da polis. Quando o empenho pelo bem comum é
animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular e político.
Aquele, como todo o empenho pela justiça, inscreve-se no testemunho da caridade divina que,
agindo no tempo, prepara o eterno.

A ação do homem sobre a Terra, quando é inspirada e sustentada pela caridade, contribui para a
edificação daquela cidade universal de Deus que é a meta para onde caminha a história da família
humana. Numa sociedade em vias de globalização, o bem comum e o empenho em seu favor não
podem deixar de assumir as dimensões da família humana inteira, ou seja, da comunidade dos
povos e das nações, para dar forma de unidade e paz à cidade do homem e torná-la em certa
medida antecipação que prefigura a cidade de Deus sem fronteiras. (Bento XVI papa de 2005 a
2013)

O Papa Francisco (2013), na Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium afirma:


A Paz social não deve ser entendida como uma mera ausência de Guerra obtida pela imposição de
uma parte sobre as outras. Também seria uma Paz falsa aquela que servisse como uma desculpa
para justificar uma organização social que silencie ou tranquilize os mais pobres, de modo que
aqueles que gozam dos maiores benefícios possam manter o seu estilo de vida sem sobressaltos,
enquanto os outros sobrevivem como podem. Papa Francisco (2013)

Perante os protestos e reivindicações que acontecem na maior parte dos Estados, Papa Francisco
dá o seguinte conselho: “As reivindicações sociais, que têm a ver com a distribuição dos
rendimentos, a inclusão social dos pobres e os direitos humanos, não podem ser sufocadas com o
pretexto de construir de escritório ou uma paz efémera para uma minoria feliz”. E conclui: “A
dignidade da pessoa humana e o bem comum estão por cima da tranquilidade de alguns que não
querem renunciar aos seus privilégios. Quando esses valores são afectados é necessária uma voz
profética”. (Ibdem).
As entidades políticas têm como função, cuidar o bem comum, para depois canalizá-lo ao
beneficiário, o povo. E não devem se apropriar dele.

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METODOLOGIA
 TIPO DE PESQUISA: Qualitativa, que consistirá na recolha de dados por meio de
analise documental e revisão bibliográfica.
 TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS: Análise documental e revisão bibliográfica.

 TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS: Análise de


conteúdos e triangulação que consistira no uso de múltiplas técnicas de recolha de dados
para investigar o fenómeno, facultando o cruzamento de informação para promover uma
maior reflexão, permitindo também estabelecer ligações entre resultados obtidos por
diferentes métodos, promovendo uma melhor ilustração e compressão dos resultados
Segundo explica Stake (2009).

APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS

Segundo os documentos analisados e os resultados alcançados, o bem comum na nossa sociedade


não é respeitado. Facto que origina o surgimento de problemas como: guerras, corrupção, crise
económica, dívidas ocultas, injustiça eleitoral, queimadas descontroladas, a vandalização e
abandono de infraestruturas públicas. Os Autores consultados, tais como: Papa Francisco (2013),
Sitimela (2017), Sapato, Cunlela & Maria, 2014, Pag. 49), Concilio Vaticano II, (CVII, GS), DPE (1975,
Pag. 297), João Paulo II, in: Sollicitudo Rei Socialis (SRS), Diocese de Quelimane in O Cristao no
Mundo (1993), Larrannaga (1978, Pag. 135), Mondin (1982), deixam muito claros que o destino
universal do bem comum, da coisa pública é a sociedade; o destinatário universal dos bens é uma
pessoa colectiva, e não é uma única pessoa, e nem um grupo de pessoas. Isso atesta que os bens
devem ser destinados a sociedade e não a grupinhos que se regalam de maneira isolada. O
desenvolvimento, o bem estar, a paz devem ser vividos por todos. Estes estados de vida não
devem ser falados pelos poucos que se regalam, mas sim, devem ser vividos por todos.
Larranaga diz que não devemos nos limitar a falar do amor, temos que dar amor ao próximo.
Para Larranaga, não basta dizer: “Eu te amo”. Temos que amar antes de dizer. A pessoa tem que
se sentir amada, antes de nos dizermos que a amamos. Papa Francisco diz que não basta dizer: a
sociedade está a desenvolver, é necessário deixar a sociedade sentir, notar esse desenvolvimento.
Papa Francisco disse, ainda que “os dirigentes devem viver os princípios cristãos. Pois, o cristão
não deve ser egoísta”. Os governantes devem deixar de defender os seus próprios interesses para
salvaguardar o interesse comum. Pois, os governantes existem em função da sociedade civil.
Sem sociedade civil não há governante.

Como dissemos atrás, a paz é um bem comum. Ela não pode estar somente com uma pessoa ou
com um grupo de pessoas. Mas sim, com todos. Uma sociedade dividida, onde um lado há paz,

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outro lado há guerra não pode afirmar que existe em paz. Isso chama-se tranquilidade
momentânea que não dura para sempre, porque vai ser perturbada pelas circunstâncias. Para que
ela chegue a toda a sociedade deve ser conquistada, mantida e partilhada para todos. Mas quando
as instituições que tem a missão de garantir esse bem comum trocam-na pelos bens matérias, ela
escapole e vai para onde a valorizam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES DO ESTUDO


Chegados a este momento, podemos concluir que os problemas que afectam a nossa sociedade
tem origem no desrespeito pelo bem comum, perpetrado pelo egoísmo da parte das entidades que
tutelam esses bens. Essas entidades são pessoas singulares, e ou colectivas, que empenhados a
defender interesses próprios, pessoais ou partidários, desviam o bem comum à destinatários
particulares. É isso que origina conflitos. Para que esses conflitos cheguem ao fim e necessário
que o Estado deixe de ser Laico, passe a ser um Estado religioso, abrace a lei divina; os
governantes devem pautar pelo espírito de solidariedade. Essa solidariedade deve ser praticada e
não se limitar a falar, a convidar os outros a ser solidários. O Estado deve adoptar o princípio de
subsidiariedade como forma de distribuição equitativa da riqueza. A solidariedade e a
subsidiariedade são sinais de manifestação do amor ao próximo. Pois, quem tem amor não busca
os seus interesses, mas sim os interesses da colectividade. Os governantes devem ser pessoas
virtuosas, capazes de se sacrificar para o bem-estar da sociedade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Bento XVI (2005-2013). Encíclica «Caritas in Veritate», n.º 7 (trad. © copyright Libreria
Editrice Vaticana). Italia.
2. Concílio Vaticano II, (1962). Gaudium et Spes. Editorial-A.O. 11º Edição. Braga-
Portugal.
3. Documentos Pontifícios e Episcopais (DPE, 1975). O Cristão no Mundo. Doutrina
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