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RESUMO
Introdução
A moda
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O autoconceito
O símbolo é apropriado quando reforça a maneira pela qual o consumidor pensa sobre
si. Seu comportamento é coerente e consistente com a imagem do que esta pessoa acredita
que é, no seu autoconceito real, ou como queira ser, no seu autoconceito ideal (LEVY, 1959).
Os consumidores preferem produtos com imagens congruentes à sua autoimagem,
porque acreditam que a sua aparência física e posses afetam o seu eu. O aspecto simbólico,
além do funcional, proporciona aos produtos identidade que vai ser avaliada pelos
consumidores como congruente, ou não, com a sua própria imagem (LANDON, 1974;
SOLOMON, 1983; 1996).
O eu não é desenvolvido a partir de processo pessoal ou individual, mas envolve todo
o processo da experiência social. Na aferição das reações dos outros; o indivíduo desenvolve a
sua própria autopercepção. Ele se percebe como acredita que é percebido. Os produtos como
símbolos servem ao indivíduo para trazer significados que causem reações desejadas em
outros indivíduos (GRUBB e GRATHWOHL, 1967). O eu do indivíduo, assim sendo, seria
determinado amplamente pela projeção de como os outros o vêem. SIRGY (1982) afirma que
os consumidores não conseguem distinguir entre os seus próprios sentimentos sobre o produto
e as suas crenças sobre como são vistos pelos outros
A dinâmica do processo de consumo está em se identificar. A lógica deste processo se
constitui na personalização e integração que caminham em paralelo: é o “milagre do sistema”,
do qual fala BAUDRILLARD (1995). Esta integração é o processo pelo qual o indivíduo se
ajusta à sociedade e assim se socializa (AUGRAS, 1967; SOLOMON, 1983; ENGEL et
al.,1995).
Os objetos, que não são linguagem tal como está convencionada, comunicam: as
roupas, o conjunto de estofado da sala, o carro, o próprio corpo significam e emitem
mensagens sobre o indivíduo e o integram à sociedade (BAUDRILLARD, 1973). O ponto
central é o modo pelo qual a pessoa se integra na sociedade ou se marginaliza.
Metodologia da Pesquisa
FIGURA 1
ETAPAS DA PESQUISA
Com base em todos esses aspectos e na literatura consultada, foram gerados os itens de
atitude em relação ao consumo de moda para posterior identificação dos fatores mais
relevantes deste fenômeno.
No primeiro passo para a identificação das estruturas fatoriais subjacentes aos itens de
atitude utilizou-se o procedimento estatístico denominado análise fatorial (SPSS, 1993).
Para a determinação da consistência interna de cada um dos fatores que emergiram da
análise fatorial, foi utilizado o coeficiente alfa de Cronbach. CHURCHILL (1995) considera
os valores entre 0,60 a 0,80 como bons para uma pesquisa exploratória.
A seguir são descritas na TABELA 1 as dimensões identificadas onde constam os
itens de cada fator, seus carregamentos correspondentes, a variância explicada para cada fator
e os seus coeficientes alfa de Cronbach.
O fator Aparecer é o que mais contribui na variância explicada do fenômeno estudado
com 24,1%. Nesta dimensão, o objetivo do consumo de moda é chamar atenção, se destacar
na multidão e com isso ser vitoriosa, seja na conquista amorosa ou simplesmente para ter mais
olhares sobre si do que as outras. O alfa da dimensão é de 0,79.
O fator Ser, composto de quatro itens, expressa a preocupação em atender as pressões
sociais e fazer parte de grupo ao qual se identifique. Questões como segurança e identificação
estão presentes nesta dimensão: “penso, logo me visto”. Como me visto porque convivo,
percebo a roupa de moda como carteira de identidade. Nela dou referência para o meio onde
exerço minhas atividades sobre como sou, o que acredito e o grupo que represento. A
variância explicada deste fator é 8,5%, e o alfa da dimensão é de 0,60.
O fator Parecer é representado por dois itens: charmosa e elegante, e ficar bonita. É a
dimensão de características mais femininas. A vaidade é a força motriz para o consumo de
moda. A variância explicada deste fator é 6,5% e o alfa da dimensão é de 0,64..
O fator Idealizar é voltado para o outro, para o que acredita ser a imagem ideal, a
projeção, também denota insegurança e baixa auto-estima. A variância explicada deste fator é
5,8% e o alfa da dimensão é de 0,49. O valor do coeficiente alfa de Cronbach desta dimensão
está abaixo do recomendado para aceitação, o que pode ser explicado pelo baixo número de
itens (apenas dois) neste fator. Por se tratar de exploratória, decide-se manter a dimensão.
O fator Inovar representa o desejo de mostrar cultura, atualidade, informação. Estar na
moda é “estar por dentro”, é ser in. Moda é informação porque moda é sempre moderna, está
sempre mudando e quem está na moda é moderno. Ser fashion é estar “antenado com o
mundo”. A variância explicada deste fator é 5,5% e o alfa da dimensão é de 0,66.
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TABELA 1
DIMENSÕES IDENTIFICADAS DA ATITUDE EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE
MODA
DIMENSÕES F1 F2 F3 F4 F5 % % ALFA
EXPLICADA ACUMULADA
APARECER 24,1 24,1 0,79
1.Competir e conquistar 0,73
2.Seduzir 0,69
3.Ser extravagante 0,67
4.Transformar 0,67
5.Ser notada 0,66
6.Ser diferente 0,50
SER 8,5 32,6 0,60
1.Sentir-se segura 0,69
2.Dar referência sobre o eu 0,67
3.Representar o meio 0,58
4.Parecer o que é 0,54
PARECER 6,5 39,2 0,64
1.Sentir-se charmosa e elegante 0,81
2. Ficar bonita 0,77
IDEALIZAR 5,8 45,0 0,49
1.Parecer o que gostaria de ser 0,82
2.Mostrar competência 0,57
INOVAR 5,5 50,5 0,66
1. Inovar 0,79
2. Ser atual 0,59
que se acha menos dominante, a G5 é a que se acha mais desagradável e a G1 a que se acha
menos desagradável.
Para a interpretação dos grupos, utilizou-se mitos femininos do cinema. As escolhidas
pertencem a uma época do cinema onde os personagens representados sempre seguiam um
determinado estereótipo, ao ponto de as características pessoais dos papéis que representavam
serem confundidas com as próprias atrizes.
TABELA 2
CARACTERIZAÇÃO DOS GRUPOS
ITENS DE AUTOCONCEITO
ITENS G1 G2 G3 G4 G5 G6 F p
AUDREY MARLENE DORIS INGRID BETTE GRACE
HEPBURN DIETRICH DAY BERGMAN DAVIS KELLY
n=42 n=29 n=24 n=20 n=20 n=25
26,3% 18,1% 15% 12,5% 12,5% 15,6%
1. Rude 1,19 1,03c 1,12 1,00a 1,55a,b,c 1,00b 4,64 0,00
a,b,c b a,d d
2. Agitada 2,42 3,24 1,70 1,55 2,75 2,20c 8,54 0,00
3. Dominante 2,07c 3,24a,b,c,d 1,66a 1,75b 2,35 2,12d 7,86 0,00
4. Indulgente 1,35d 2,17a,b,c,d 1,12a 1,15b 1,25c 1,44 5,73 0,00
5. Desagradável 1,00a 1,06e 1,00b 1,00c 1,45a,b,c,d,e 1,00d 5,07 0,00
6. Contemporânea 2,50d,h 3,31a,b,c,d 1,87c,g 1,75b,f 1,05a,e,h 3,20e,f,g 23,59 0,00
7. Antiga 1,07 c 1,00a 1,16e 1,10d 2,05a,b,c,d,e 1,00b 12,57 0,00
b a,b a
8. Informal 1,54 2,62 1,37 1,75 1,95 1,92 4,58 0,00
9. Modesta 1,26c 1,10a 1,29d 1,50e 3,00a,b,c,d,e 1,24b 22,33 0,00
Legenda: a, b, c, d, e, f, g representam os grupos onde as diferenças foram significativas pelo teste de Scheffé
TABELA 3
CARACTERIZAÇÃO DOS GRUPOS
ASPECTOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS(%)
Para identificar que dimensões de atitude, em relação à moda, estão ligados cada
grupo resultante da tipologia do autoconceito, aplicou-se a técnica one-way ANOVA
associada ao teste de Scheffé, com o objetivo de identificar onde estão as diferenças
significativas entre os diversos grupos.
A TABELA 4 apresenta os resultados das médias dos itens componentes de cada fator
de atitude relativa à moda, correspondentes aos diversos grupos identificados pela análise de
cluster, bem como o resultado da comparação entre os mesmos.
Os itens da dimensão aparecer não apresentam diferença significativa para os grupos
de classe social.
Na dimensão aparecer, a mulher Marlene Dietrich apresenta diferenças significativas
(F=4,60; p<0,01) para o item seduzir em relação à mulher Doris Day e mulher Ingrid
Bergman.
Na dimensão parecer no item ficar bonita, existe diferença significativa entre a mulher
Marlene Dietrich e a mulher Bette Davis (F=4,72; p<0,01). Também é identificada a diferença
entre estas duas mulheres para o item charmosa e elegante com (F=7,59; p<0,01).
Na dimensão inovar identificou-se diferença significativa entre a mulher Marlene
Dietrich e a mulher Bette Davis para o item ser atual com (F=5,15; p<0,01).
As Marlene Dietrich são as mais direcionadas pelo itens da dimensão aparecer,
principalmente no que se refere a sedução, ao contrário das Doris Day e as Ingrid Bergman
que não querem aparecer, muito menos seduzir pela forma de vestir, pelo menos não declaram
a intenção.
As Bette Davis são as menos preocupadas com questões básicas femininas como ficar
bonita e ser charmosa, elegante. Na dimensão do parecer, elas ficam sozinhas com este
posicionamento. Para as Marlene Dietrich ficar bonita é das questões mais importantes, no
que as seguem em ordem: as Grace Kelly, as Doris Day e as Audrey Hepburn. Ser charmosa e
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TABELA 4
RELAÇÃO ENTRE OS GRUPOS E AS DIMENSÕES DE ATITUDE RELATIVA À
MODA
Considerações finais
Referências bibliográficas
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