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Prevista no artigo 303 do Novo Código de Processo Civil, a tutela antecipada requerida em caráter
antecedente já vem trazendo algumas discussões no meio jurídico.
quarta-feira, 26 de abril de 2017
Uma das grandes alterações trazidas pelo novo Código de Processo Civil é a possibilidade do
ingresso de ação judicial com base apenas no pedido de tutela de urgência.
Neste caso, o legislador buscou regularizar situações em que o direito da parte se mostra na
iminência de perecer se não for tutelado de plano e que a urgência é tão grande que não permite
que a parte disponha de tempo suficiente e razoável para elaborar a petição inicial com todos os
fatos e fundamentos necessários para a demanda principal, de modo a possibilitar o pleito de ação
judicial limitando-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final.
Prevista no artigo 303 do Novo Código de Processo Civil, a tutela antecipada requerida em caráter
antecedente já vem trazendo algumas discussões no meio jurídico.
Conforme disposto na lei processual, recebida a ação de tutela antecipada antecedente, o juiz
pode: (a) deferir o pedido (art. 300,§2) ou b) determinar a emenda da petição inicial no prazo de 5
dias, sob pena indeferimento e da extinção do processo sem julgamento do mérito (303,§6º).
Com o deferimento da tutela antecipada nos termos aduzidos pelo o autor, o juízo o intima para que,
no prazo de 15 dias ou outro prazo estipulado pelo juiz, adite a petição inicial, com a
complementação da sua argumentação e novos pedidos.
A dúvida que surge é se tal prazo para aditamento corre concomitantemente com o prazo de
citação e intimação do réu?
Desta forma, se o réu não agravar da decisão que tenha negado a tutela, a decisão denegatória se
estabiliza e, consequentemente o processo é extinto nos termos do art. 304, §1º, de modo que não
há necessidade, aparentemente, do aditamento da petição inicial, já que a tutela pleiteada se
concretizou. Cadastre-se para receber o informativo gratuitamente
c. Terceira corrente: Intimação do réu antes da intimação do autor para aditar a inicial.
Neste caso, entende-se que é prejudicial a concomitância dos prazos, devendo o réu ser
citado e intimado antes, pois caso o mesmo venha a apresentar recurso de agravo de
instrumento contra a decisão que deferiu a tutela, intima-se o autor para apresentar o
aditamento. Caso contrário, ou seja, o réu não impugne tal decisão, extingue-se o processo,
sem a necessidade da apresentação do aditamento, já que o aditamento da petição não é
compatível com estabilização da medida provisória. Observa-se, portanto, que esta parte da
doutrina, entende que os prazos são sucessivos e dependem de fato condicionante:
interposição de recurso pelo réu.
Outra questão que surge quanto a estabilização da tutela antecipada antecedente diz respeito ao
seu provimento parcial. Não é difícil nos depararmos com decisão que defere parcialmente a tutela
pleiteada. Assim, se o réu não recorrer desta decisão, estaria parcialmente o processo extinto com a
estabilização da tutela deferida? Embora nossos tribunais ainda não tenham se manifestado a
respeito desta hipótese, grande parte da doutrina entende ser inviável a estabilização parcial da
tutela antecedente, pois não faz sentido o juiz não fazer uma cognição exauriente e deixar de
decidir a questão que tenha sido objeto da tutela antecipada.
Outro fator que merece destaque e com certeza alvo de discussão do nosso judiciário é a forma de
impugnação quanto ao deferimento da tutela antecipada antecedente. Embora o art. 304 disponha
que somente torna-se estável a referida tutela se não houver recurso por parte do réu, há
discussões quanto a possibilidade de simples impugnação nos autos do processo por parte do réu
para evitar a estabilização da tutela antecipada antecedente e não somente a interposição do
Recurso de Agravo de Instrumento. Afinal, o réu tem o direito de cognição exauriente da ação bem
como a produção de provas, tudo em consonância com o Princípio da Primazia da solução de
mérito defendido pelo NCPC.
Tal discussão é pertinente, pois evitar-se-ão os inúmeros recursos de agravos que serão distribuídos
perante nossos tribunais, cuja matéria já é defendida por grandes doutrinadores:
O professor Fredie Didier¹ defende que: "Embora o art. 304 do CPC fale apenas em não interposição
do recurso, a inércia que se exige para a estabilização da tutela antecipada vai além disso: é
necessário que o réu não se tenha valide de recurso nem de nenhum outro meio de impugnação da
decisão (...)". Cadastre-se para receber o informativo gratuitamente
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Vale ainda consignar que o art. 304 §2º e §5º do NCPC, dispõe que após estabilizada a tutela
antecipada antecedente as partes têm 2 anos contados da ciência da decisão que extinguiu o
processo, o direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada antecedente. Tal prazo,
entretanto, é motivo de questionamento por parte da doutrina. Humberto Theodoro Junior defende
tratar-se de prazo decadencial, de modo que transcorrido os dois anos, extingue-se o direito das
partes. Outros defendem que tal prazo é inconstitucional, sendo possível o exaurimento até os
prazos do direito material que envolve o objeto da tutela antecipada se extinguirem.
Quanto ao cabimento de ação rescisória contra a decisão que extingue o processo por conta da
estabilização da tutela antecipada antecedente, defende a doutrina, com base em uma
interpretação do artigo 966, §2º, que é possível propor ação rescisória depois de dois anos do seu
trânsito em julgado. Entretanto, em razão da inexistência de coisa julgada na decisão que extingue a
ação por estabilização da tutela antecipada antecedente, a Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrado (ENFAN), aprovou enunciado no sentido contrário:
"Enunciado n. 582. (arts. 304, caput; 5º, caput e inciso XXXV, CF) Cabe
estabilização da tutela antecipada antecedente contra a Fazenda Pública.
Enunciado n. 500. (art. 304) O regime da estabilização da tutela antecipada
antecedente aplica-se aos alimentos provisórios previstos no art. 4º da Lei
5.478/1968, observado o §1º do art. 13 da mesma lei."
Embora, na prática, estejam surgindo questionamento quanto a estabilização da tutela antecipada
antecedente, o instituto beneficia nosso ordenamento jurídico, pois traz celeridade e efetividade nas
decisões, objetivos estes perseguidos por todos nós cidadãos.
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1 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antcipação dos efeitos da tutela. 11. Ed. - Salvador:
Ed. JusPodivm, 2016. P. 617.
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*Danielle Silva Fontes Borges de Freitas é advogada no escritório Coutinho, Lacerda, Rocha, Diniz &
Advogados Associado.