Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CARTOGRAFIA SOCIAL
DA COVID 19
NA CIDADE
DO RIO DE JANEIRO
Jorge Luiz Barbosa, Lino Teixeira e Aruan Braga
1
É preciso considerar, como afirmam instituições e pesquisadoras dedicadas a estudos epidemiológicos
que há uma imensa subnotificação de casos, inclusive devido a baixa testagem. Pesquisadoras, inclusive,
indicam que os casos devem ser multiplicados por 10. Portanto o Brasil teria mais de dois milhões de pessoas
contaminadas.
1ª Edição I 02
A progressão radical da COVID de diversas organizações, cole-
– 19 na cidade do Rio de Janeiro tivos e movimentos sociais, esta-
ganhou uma rápida extensão mos diante de uma tragédia
geográfica. Dos bairros de clas- anunciada, uma vez que a ex-
ses médias com maior renda posição atual ao contágio das
econômica, disponibilidade de pessoas dos bairros da Zona
equipamentos públicos e valori- Norte e Zona Oeste embora
zação imobiliária se prolongou ainda apresentem menores no-
para os subúrbios, favelas e peri- tificações de contágio em rela-
ferias cariocas. Essa expansão e ção aos bairros da chamada
crescimento de contágios agu- Zona Sul da cidade, a letalidade
diza a dramaticidade da pan- é expressivamente maior.
demia ao se mover em direção A tendência, em prazo curtíssi-
aos bairros com a presença con- mo, é o agravamento da trans-
centrada de favelas. Na cha- missão para grupos e territórios
mada Zona Norte, por exemplo, mais vulneráveis e, na sequên-
estão localizados dois grandes cia, a grande probabilidade de
conjuntos de favelas da cidade: óbitos principalmente devido a
Alemão (69 mil habitantes) e limitação de vagas para atendi-
Maré (140 mil habitantes), en- mentos especializados nos hos-
quanto na Zona Oeste as fave- pitais, sobretudo com leitos dis-
las se multiplicaram rapidamen- poníveis em Unidades de Trata-
te a partir dos anos 1990. mento Intensivo.
Como vem sendo exposto em
críticas, manifestos e denúncias
1ª Edição I 03
Neste sentido, se repete a tendên- presentes na dinâmica de contá-
cia de ocorrência de contágio nos gio. As condições de moradia, de
bairros mais ricos na primeira fase infraestrutura básica, de circula-
do contágio e, passado o momen- ção na cidade, entre outros, alia-
to de “importação” do vírus pelas dos à desigual distribuição de
classes de maior renda, ocorre sua renda que empurram as popula-
multiplicação dentro da própria ções de subúrbios, favelas perifé-
cidade, irradiando destes por meio ricas para o trabalho – impossibili-
de equipamentos e infraestruturas tando o isolamento – acentuam
de mobilidade urbana para outros a já acelerada velocidade de
bairros populares, favelas e perife- contágio na direção de territórios
rias. populares.
É justamente nos territórios popula-
res que os maiores impactos da de-
sigualdade socioespacial se fazem
1ª Edição I 04
Os mapas da dispersão do contágio demonstram que no dia 17 de março,
quando o Rio de Janeiro contava 29 casos confirmados, a presença do
contágio estava concentrada sobretudo nos bairros das zonas sul da
cidade e na Barra da Tijuca. No dia 10 de abril, o novo Coronavírus já atin-
gia praticamente todos os bairros da cidade e, além do já esperado au-
mento nos bairros em que se iniciou o contágio, observa-se um rápido cres-
cimento nos subúrbios da Leopoldina e, principalmente, nos bairros da
Zona Oeste. As desigualdades sociais na cidade do Rio de Janeiro impõem
ao movimento de contágio um claro fluxo espacial que pode ser percebi-
do em alguns casos emblemáticos nessa primeira etapa de contágio.
1ª Edição I 05
No terceiro momento mapeado do
contágio, já no dia 03/05, observa-
mos a inversão do número de casos
dos bairros mais ricos para os de
menor renda. Neste movimento de
transferência da maioria do contá-
gio da Zona Sul e Centro para Zona
Nesta etapa, a Zona Oeste se des-
Norte e Oeste demarcam o sentido
taca como o principal centro de
centro-periferia que é a caracterís-
contágio entre as regiões da
tica decisiva do fluxo de contami-
cidade e, como veremos, também
nação numa cidade marcada-
com a maior taxa de letalidade,
mente desigual como o Rio de Ja-
tendo o bairro de classe média/-
neiro.
média alta da Barra da Tijuca como
principal vetor de espalhamento
por contiguidade.
1ª Edição I 06
DESIGUALDADE E LETALIDADE NO
CARTOGRAFIA DA COVID -19
1ª Edição I 07
Mapa 2 – Contágio, óbitos e letalidade COVID 19 no município do Rio de Janeiro
1ª Edição I 08
CONSIDERAÇÕES PROPOSITIVAS
1ª Edição I 09
Ação igualmente urgente Esses são, em linhas gerais, proposi-
está relacionada a medidas ções amplas de uma agenda de
de segurança alimentar para urgências recorrentemente colo-
as famílias que hoje contam cada por organizações, movimen-
exclusivamente com a solida- tos e grupos envolvidos diretamen-
riedade popular. te com a brutalidade das desi-
Deve-se também conter neste gualdades sociais evidenciadas
plano de urgência o fortaleci- com a pandemia global.
mento das ações solidárias de
comunicação, proteção e PLANO DE URGÊNCIA PARA
atendimento que vem sendo FAVELAS E PERIFERIAS
realizadas por organizações e
coletivos em favelas, subúrbios 1. medidas sanitárias básicas
e periferias, tornando-os refe- 2. testagem imediata
rências significativas para 3. ampliação de pessoal, bens e
diagnósticos situacionais, pla- equipamentos nas unidades de
nejamento e acompanha- atenção à saúde
mento das atividades em 4. montagem de hospitais de
cada território. campanha em pontos de fácil
acesso por transporte público
5. criação de espaços de qua-
rentena assistida
6. pagamento de renda mínima
7. ação de segurança alimentar
8. fortalecimento de ações de
solidariedade
1ª Edição I 10
1ª Edição
/OBSERVATORIODEFAVELAS
@DEFAVELAS
@DEFAVELAS
/OBSERVATORIODEFAVELAS