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D I R E I TO CO N STITU C I O NAL

Kleber Sales

A PONDERAÇÃO DE PRINCÍPIOS
PELO STF: balanço crítico
20

THE BALANCING OF PRINCIPLES BY THE STF: a critical consideration


Flávio Quinaud Pedron

RESUMO ABSTRACT
Pretende reconstruir a compreensão jurisprudencial do STF The author intends to reshape the STF’s jurisprudential
acerca da relação entre interesses públicos e privados – obtida view on the relationship between public and private
em razão do uso da técnica da “ponderação de princípios” – a interests – brought about through the practice of the
fim de demonstrar que os primeiros não mais podem ter pri- balancing of principles – in order to show that the former
mazia sobre os últimos. may no longer take precedence over the latter.
Alega que a associação do interesse público ao interesse de He states that the connection of public interest with
uma maioria da sociedade se mostra insuficiente sob o prisma a social majority’s interest seems unsatisfactory
de uma democracia pluralista, que garante a inclusão da pers- in the light of a pluralist democracy, that ensures
pectiva de todos. the inclusion of everybody’s viewpoints.
Conclui portanto que a ponderação de interesses, de Robert Therefore, he concludes by remarking that Robert
Alexy, não se configura como resposta adequada ao paradigma Alexy’s balancing of interests does not constitute
procedimental do Estado democrático de Direito. an adequate answer to the procedural pattern
established in the democratic rule of law.
PALAVRAS-CHAVE
Teoria do Direito; Direito Constitucional; jurisprudência – STF; KEYWORDS
ponderação de princípio; interesse – público, privado; Alexy; Law theory; Constitutional Law; Brazilian Supreme
Habermas. Court (STF) – case law; balancing of principle;
public, private – interest; Alexy; Habermas.

Revista CEJ, Brasília, Ano XII, n. 40, p. 20-30, jan./mar. 2008


Em que medida a Constituição de “questões políticas” –, por outro, tal afir- subvertem, a própria legislatura esfa-
1988 importa numa mudança na juris- mação também serviu como forma de cela-se nas mãos da violência; só uma
prudência do Supremo Tribunal Federal? fragilizar a tutela de direitos individuais realidade subsiste: a onipotência do exe-
Em que medida as bases interpretativas em face do poder público (BARACHO cutivo, que a vós mesmos vos devorará,
no Supremo Tribunal Federal foram mo- JÚNIOR, 2004, p. 513). se nos desarmardes da vossa competên-
dificadas após a promulgação da Cons- Com isso, evitava a tutela de direi- cia incontestável em todas as questões
tituição de 1988? Essas são as pergun- tos individuais. E esse não era um de- concernentes à liberdade (RODRIGUES,
tas principais feitas por Baracho Júnior bate novo no Supremo Tribunal Federal. 1991, p. 20-21, grifos no original).
(2004, p. 509), em seu ensaio sobre a Já no governo Floriano Peixoto, no início Dessa forma, como afirma Souza
possibilidade de se identificar uma “nova da República, logo após a implantação Júnior (2004, p. 88), foi-se construindo a
hermenêutica” nos julgados do STF. do Supremo Tribunal Federal, algumas noção de que a condição para o exame
Se é possível identificar alguma for- questões que envolviam ofensas a direi- judicial de questões políticas seria a pos-
ma de inovação no curso da linha de ra- tos individuais não foram por ele apre- sibilidade de lesão a direitos individuais.
ciocínio que o Tribunal vinha tomando, é ciadas, pois, segundo dizia a Corte, eram Em um dos [julgados] mais antigos
de se pressupor também a existência de questões políticas. Em 1893, em estado (HC 3061, julgado em 1911), o Supre-
algo anterior, algo que foi ou está sendo de sítio decretado por Floriano Peixoto, o mo afirmou a possibilidade de conheci-
superado1. Para tal empreitada, faz-se ne- Supremo se recusou a apreciar uma sé- mento judicial do caso político quando
cessária a observância dos julgados não rie de lesões a direitos individuais ao ar- acompanhado de uma questão judiciá-
apenas como casos isolados, mas como gumento de que aquelas questões eram ria. Logo depois, em 1914, aquela corte
“precedentes”, ou seja, como fundamen- políticas e que, portanto, não poderiam resguardou do exame judicial os motivos
tos para as decisões seguintes – prática ser objeto de apreciação pelo Poder determinantes ou as conseqüências po- 21
utilizada pelo STF para possivelmente Judiciário (BARACHO JÚNIOR, 2004, p. líticas dos atos de intervenção nos Esta-
representar uma forma de sistematizar a 512-513). dos. Construiu também o entendimento
sua jurisprudência2.
Mas, diante da história institucio- [...] a noção de prevalência do interesse público sobre o
nal brasileira, esse trabalho pode ver-se interesse privado, mesmo com riscos à violação de direitos
ameaçado: Evidentemente que uma
corte cujo trabalho é constantemente fundamentais, acaba se fortalecendo, principalmente a partir
interrompido por golpes de Estado, tem de 1960, intensificando-se no período autoritário que se seguiu.
maior dificuldade em consolidar uma
orientação jurisprudencial minimamen- Entretanto, havia opositores a essa de que podia o Judiciário conhecer de
te coerente (BARACHO JÚNIOR, 2004, tese, como lembram Rodrigues (1991, p. casos puramente políticos, desde que
p. 510). 20) e Souza Cruz (2004, p. 277). Segun- se alegasse lesão de direito individual
O tema que pode funcionar como do a historiadora, o discurso de Rui Bar- (SOUZA JÚNIOR, 2004, p. 88).
guia dessa tarefa, uma vez que sempre bosa5, na defesa dos direitos individuais, Todavia, a noção de prevalência do
esteve presente, sendo tomado como representa um contraponto necessário interesse público sobre o interesse pri-
um dogma, é a prevalência do interesse ao exercício democrático dos direitos vado, mesmo com riscos à violação de
público sobre o interesse privado. Como políticos: direitos fundamentais, acaba se fortale-
lembra Ávila (2005, p. 171), para a dog- As palavras de Rui Barbosa em cendo, principalmente a partir de 1960,
mática jurídica, seu desenvolvimento te- 1892 indicam essa concepção: “os casos, intensificando-se no período autoritário
órico viria a partir dos estudos do Direito que, se por um lado toca a interesses po- que se seguiu.
Administrativo3, mas com ramificações e líticos, por outro lado, envolvem direitos Vamos ter, especialmente, a partir
influências em outros “ramos” do Direi- individuais, não podem ser defesos à de 1965, com a edição do Ato Institucio-
to, como o Direito Tributário. intervenção dos tribunais, amparo de nal n. 2, decisões do Supremo Tribunal
Se, por um lado, a discussão a res- liberdade pessoal contra as invasões do Federal que importam em negar tutela
peito da supremacia do interesse público executivo. [...] Onde quer que haja um de uma série de direitos individuais,
sobre o privado era posta como um axio- direito individual violado, há de haver fortalecendo a idéia de prevalência do
ma4 – por partir das lições do positivismo um recurso judicial para a debelação interesse público sobre o privado. É o
jurídico, que considerava a separação da injustiça. Quebrada a égide judiciá- que vamos ver em algumas decisões,
rígida entre Direito e Política, excluindo ria do direito individual, todos os diretos como por exemplo, no caso João Gou-
a possibilidade de um tribunal apreciar desaparecem, todas as autoridades se lart, em 1967. De uma maneira geral, as

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questões que envolviam a segurança nacional, se pautavam teorema de Arrow (Arrow’s theorem)7 para assegurar que toma-
pela idéia de prevalência do interesse público sobre o privado das de posição que parecem envolver uma discricionariedade
(BARACHO JÚNIOR, 2004, p. 514). seriam melhores se deixadas a cargo da decisão estatal (polí-
Essa interpretação permaneceu, contudo, com o advento da tica), representativa do interesse público. Todavia, tal posição
Constituição da República de 1988. Como afirma Baracho Júnior pode parecer por demais cética e, até mesmo, ingênua – por
(2004, p. 514), basta analisar a decisão proferida na ADI n. 47, que vezes, autoritária – ao imaginar que o Estado seja capaz de cor-
tratou da interpretação do art. 100 da Carta Magna, estabelecendo porificar todos os anseios e desejos de uma sociedade. Além
que à exceção dos créditos de natureza alimentícia, a execução do mais, vale aqui o alerta de Sarmento (2005, p. 27), já que tal
contra a fazenda pública se fará através de precatório6. tese pode representar uma forma de ressurreição das “razões
De uma maneira geral, para os publicistas, mas principal- de Estado”, colocando-se como obstáculo intransponível para o
mente para os administrativistas, o princípio da supremacia do exercício de direitos fundamentais8.
interesse público sobre o particular se apresenta como um prin- A outra proposta que identifica o público ao componente
cípio implícito na ordem jurídica brasileira e seria usado para majoritário também se mostra delicada. Tomando como refe-
justificar uma série de prerrogativas titularizadas pela Adminis- rência aplicada dessa concepção a decisão proferida no julga-
tração Pública. Isso ocorre por se entender que esta seria a “tu- mento do RE. n. 153.531-8, de Santa Catarina, fica claro que o
tora” e a “guardiã dos interesses da coletividade” (SARMENTO, interesse público aqui é igualado a uma maioria da sociedade.
2005, p. 24). Como conseqüência, verifica-se a existência de Ao examinar o questionamento de se a “farra do boi” – prática
uma verticalidade na relação entre a Administração Pública e os de alguns descendentes de açoreanos residentes em Florianó-
administrados, de modo que o desequilíbrio seria sempre em polis – representaria um risco para a segurança dos participantes
favor do Estado. e uma ação cruel para com os animais, Baracho Júnior afirma:
Mas o que se pode considerar como interesse público? O Supremo Tribunal Federal trabalha com dois funda-
Talvez a questão devesse ser mais bem problematizada pelos mentos para dizer que o Estado de Santa Catarina deveria
publicistas, que muitas vezes igualam a dimensão do público à atuar, através da Polícia Militar, no sentido de reprimir a farra
coletividade e, outras vezes, ao estatal (governamental). do boi. O primeiro argumento é que os animais estariam sub-
Para Bandeira de Mello (2003, p. 57) – valendo-se das li- metidos à crueldade. O art. 225 da Constituição, inc. VII, diz
ções de Alessi (1960, p.197, apud MELLO, 2003), seria possível que o Estado não deverá tolerar crueldades contra animais. O
distinguir dois tipos de interesse público: interesse público pri- segundo fundamento é o mais curioso desta decisão, porque
22 mário e interesse público secundário (SARMENTO, 2005, p. 24; é exatamente a prevalência de uma visão majoritária sobre
BARROSO, 2005). Nessa ótica, identifica-se o interesse primário a de uma coletividade [minoritária]. Há uma idéia de que as
como sendo a razão de ser do Estado ou como os interesses tradições de um grupo minoritário não podem prevalecer so-
gerais da coletividade; já o segundo tipo representa os interes- bre as tradições que não são compartilhadas pela maioria da
ses particulares que o Estado possui como pessoa jurídica e não sociedade brasileira. As expressões utilizadas no voto vencedor
mais como expressão de uma vontade coletiva. Logo, alguns são ilustrativas, pois os descendentes de açoreanos são com-
administrativistas buscam fazer uma ponte entre o interesse pú- parados a uma “turba ensandecida” que adota procedimentos
blico primário e o bem comum como forma de afirmação de estarrecedores (2004, p. 516).
sua superioridade em face do interesse privado. Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal deixou de obser-
var a dimensão hermenêutica envolvida na questão. Tomando
[...] definir o interesse público como interesse apenas a posição de um observador sociológico, compreendeu-
geral de uma coletividade e contrapô-lo a um se que o interesse público aqui seria o de proteger os animais
de uma prática violenta. Todavia, [...] esta idéia de violência não
interesse privado limitado ao perímetro das existe para os açoreanos. Os descendentes de açoreanos que
vivências experimentadas pelos indivíduos fora faziam da farra do boi uma celebração anual, não associavam
do alcance da polis [...] é insuficiente. à manifestação uma idéia de violência que nós, que não so-
mos descendentes de açoreanos, associamos. Este é um dado
Binenbojm (2005, p. 137) faz uma crítica precisa à tentativa importante, pois, na Espanha, por exemplo, em práticas seme-
de alguns juristas de justificar a supremacia do interesse público lhantes, a idéia de violência não está associada. Dificilmente
como princípio norteador da ação administrativa. Nesse sentido, a tais práticas seriam atribuídas a uma “turba ensandecida” na
supremacia do interesse público atuaria como garantia de proteção, Espanha. Muito menos seriam os procedimentos considerados
inclusive do interesse privado, já que impediria o Estado de atuar como estarrecedores (BARACHO JÚNIOR, 2004, p. 517).
a favor de interesses privatísticos, desviando-se dos fins coletivos. Assim, pode-se perceber que a associação do interesse pú-
Todavia, a corrente a que se filia Di Pietro (2004, p. 69-70) nada blico ao interesse de uma maioria da sociedade mostra-se insu-
esclarece sobre a relação público/privado; além do mais, os pro- ficiente sob o prisma de uma democracia pluralista, que garante
blemas por ela apontados não são resolvidos nesse plano, mas no a inclusão da perspectiva de todos os envolvidos.
plano dos princípios da impessoalidade e da moralidade. Logo, definir o interesse público como interesse geral de
Salles (2003, p. 58) reconhece a dificuldade de se chegar a uma coletividade e contrapô-lo a um interesse privado limitado
um conceito de fácil assimilação, haja vista a natureza genérica ao perímetro das vivências experimentadas pelos indivíduos fora
que o conceito deve assumir para abranger uma pluralidade do alcance da polis (SARMENTO, 2005, p. 30) é insuficiente. Pri-
de interesses dispersos pela sociedade. Dessa forma, vale-se do meiro, porque não pode o indivíduo ignorar a dimensão impos-

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ta pela vida em sociedade; sua casa não nega o seu caráter indispensável, daí a to, é essencial para evitar que o sujeito
pode servir como metáfora da ilha imagi- necessidade de sua reconstrução; e, em constitucional se fixe em identidades que
nada por Crusoé, ou ser entendida como segundo lugar, o sujeito constitucional permaneçam tão condensadas e abstra-
uma fortaleza que coloque o público na sempre envolve um hiato porque ele tas ao ponto de aplainar as diferenças
porta da rua, pois o processo de sociali- é inerentemente incompleto, e então que devem ser levadas em conta se a
zação acontece concomitantemente com sempre aberto a uma necessária, mas identidade constitucional deve realmen-
o processo de individualização9. Sarmen- impossível, busca de completude. Con- te envolver tanto o eu quanto o outro
to (2005, p. 47) lembra que a sociedade seqüentemente, o sujeito constitucional (2003, p. 50).
contemporânea é por demais complexa encontra-se constantemente carente Dessa forma, dentro de uma mesma
para se apoiar em pilares estanques. Vive- de reconstrução, mas essa reconstru- sociedade, há não apenas uma identidade
se em um tempo que imprime um novo ção jamais pode se tornar definitiva ou coletiva, mas diversas e até mesmo con-
sentido à concepção de espaço público, completa. Da mesma forma, de modo correntes, de modo que uma interpreta-
que não vem mais associada unicamente consistente com essa tese, a identida- ção da Constituição que considere apenas
ao elemento estatal10. de constitucional deve ser reconstruída uma identidade, por mais majoritária que
A pergunta sobre qual é o interesse em oposição às outras identidades, na seja, pode lançar complicações para o
da coletividade leva, então, a outra: quem medida em que ela não pode sobreviver desenvolvimento da democracia. Afinal a
é a coletividade?, ou a outra pergunta ain- a não ser que pertença distinta dessas identidade constitucional, embora aberta
da mais radical: quem é o povo?, que já últimas. Por outro lado, a identidade às diversas identidades coletivas, não se
motivou um importante ensaio do jurista constitucional não pode simplesmen- confunde com nenhuma delas.
alemão Müller (1998). Nesse trabalho, te dispor dessas outras identidades, Todavia, como o próprio julgamento
Müller alerta para a figura do povo como devendo então lutar para incorporar e do RE n. 153.531-8 revelará, a noção de
um ícone. Com igual precisão, Carvalho transformar alguns elementos tomados interesse público não foi tomada como
Netto (2003, p. 84) lembra que o concei- de empréstimo. Em suma, a identidade um dogma, mas sim compreendida de
to de povo é por demais “gordo”, isto é, do sujeito constitucional só é suscetível maneira a ter de se “compatibilizar” com
pode ser manipulado ao sabor de conve- de determinação parcial mediante um o interesse privado pela via da utilização.
niências políticas. processo de reconstrução orientado no Para tanto, conforme inspiração no Direi-
Outro importante trabalho é o texto sentido de alcançar um equilíbrio entre to alemão, mais exatamente na tradição
de Rosenfeld sobre a Identidade do Su- a assimilação e a rejeição das demais da jurisprudência de valores alemã, o STF 23
jeito Constitucional (2003). Por meio das identidades relevantes acima discutidas fez uso da técnica da ponderação, por
reflexões do professor da Cardozo School (2003, p. 23-27). meio da qual: [...] Quanto maior o grau
of Law, pode-se compreender o conceito
de povo como um eterno hiato, aberto a [...] como o próprio julgamento do RE n. 153.531-8 revelará, a
um processo dinâmico de elaboração e noção de interesse público não foi tomada como um dogma,
revisão. É justamente no seu fechamento
como conceito que se encontra o perigo mas sim compreendida de maneira a ter de se “compatibilizar”
para a democracia: com o interesse privado pela via da utilização.
Esse rápido olhar inicial sobre a
identidade constitucional, bem como so- Para isso, Rosenfeld utiliza três ins- de não satisfação ou de afetação de um
bre o sujeito e a matéria constitucionais trumentos teóricos: princípio, tanto mais tem que ser a im-
revela que é bem mais fácil determinar A negação, a metáfora e a meto- portância da satisfação do outro (ALEXY,
o que eles não são do que propriamente nímia combinam-se para selecionar, 1997, p. 161, tradução livre)11.
o que eles são. Ao construir essa intui- descartar e organizar os elementos per- Como observa Souza Cruz (2004, p.
ção, esse insight, exploro a tese segundo tinentes com vistas a produzir um discur- 160), o pensamento utilitarista serve de
a qual, em última instância, é preferível so constitucional no e pelo qual o sujeito base para a ponderação12; todavia seus
e mais acurado considerar o sujeito e a constitucional possa fundar sua identi- defensores alegam que o “princípio” da
matéria constitucionais como uma au- dade. A negação é crucial à medida que proporcionalidade seria capaz de impedir
sência mais do que como uma presen- o sujeito constitucional só pode emer- a escolha arbitrária, vinculando o opera-
ça. Em outros termos, a própria questão gir como um “eu” distinto por meio da dor jurídico ao uso de meios adequados
do sujeito e da matéria constitucionais exclusão e da renúncia. A metáfora ou e proporcionais. Um desses defensores é
é estimulante porque encontramos um condensação, por outro lado, que atua o jurista de Kiel, Alexy (1997). Entretanto,
hiato, um vazio, no lugar em que busca- mediante o procedimento de se desta- o presente trabalho sustentará a tese de
mos uma fonte última de legitimidade e car as semelhanças em detrimento das que, no pensamento de Alexy, ainda per-
autoridade para a ordem constitucional. diferenças, exerce um papel unificador siste uma dificuldade em assimilar com-
Além do mais, o sujeito constitucional chave ao produzir identidades parciais pletamente o giro hermenêutico-prag-
deve ser considerado como um hiato em torno das quais a identidade cons- mático13, por ainda buscar no método
ou uma ausência em pelo menos dois titucional possa transitar. A metonímia a expressão de uma racionalidade capaz
sentidos distintos: primeiramente, a ou deslocamento, finalmente, com a de neutralizar toda a complexidade ine-
ausência do sujeito constitucional não sua ênfase na contigüidade e no contex- rente à linguagem (ALEXY, 1998, p. 32;

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2003, p. 139; 1997, p. 98; 1997b, p. 136)14. (ÁVILA, 2004, p. 30; SILVA, 2005, p. 32), o que difere na natu-
A partir dessa ótica, tanto o interesse público quanto o inte- reza de obrigações absolutas das regras. Por isso o autor afirma
resse privado podem ser considerados à luz de princípios. Alexy existir uma dimensão de peso entre princípios – que permanece
(1998, p. 9) concorda com a compreensão de regras e princí- inexistente nas regras – principalmente nos chamados “casos
pios como espécies de normas jurídicas – o que leva à necessi- de colisão”, exigindo para a sua aplicação um procedimento de
dade de empreender uma digressão sobre uma compreensão ponderação (balanceamento). Destarte, em face de uma coli-
do Direito para além de um mero conjunto de regras15. são entre princípios, o valor decisório será dado a um princípio
que tenha, naquele caso concreto, maior peso relativo, sem que
[...] os princípios que prescrevem a proteção isso signifique a invalidação do princípio compreendido como
tanto do interesse público, de um lado, quanto de peso menor. Em face de outro caso, portanto, o peso dos
princípios poderá ser redistribuído de maneira diversa19, pois
do interesse privado, de outro, deverão ser nenhum princípio goza antecipadamente de primazia sobre os
ponderados por meio do “princípio” da demais20. É desta forma que Alexy (1998, p. 12) apresenta a
proporcionalidade [...] distinção fundamental entre regras e princípios:
[...] princípios são normas que ordenam que algo se re-
Partindo dessa premissa, lembre-se de que freqüentemen- alize na maior medida possível, em relação às possibilidades
te a distinção entre ambos os standars normativos se dá em jurídicas e fáticas. Os princípios são, por conseguinte, man-
razão da generalidade dos princípios frente às regras. Isto é, damentos de otimização que se caracterizam porque podem
muitos autores compreendem os princípios como normas de ser cumpridos em diferentes graus e porque a medida de seu
um grau de generalidade relativamente alto, ao passo que as cumprimento não só depende das possibilidades fáticas, mas
regras seriam dotadas de uma menor generalidade16. Contudo, também das possibilidades jurídicas. [...]. Por outro lado, as re-
tal abordagem quantitativa, levada adiante por autores como gras são normas que exigem um cumprimento pleno e, nessa
Del Vecchio e Bobbio, mostra-se insuficiente à luz do pensa- medida, podem sempre ser somente cumpridas ou não. Se
mento desenvolvido já em Esser17, como demonstra Galuppo uma regra é válida, então é obrigatório fazer precisamente o
(2002, p. 170-171). Essa tese é denominada por Alexy (1998, que se ordena, nem mais nem menos. As regras contêm por
p. 9) como a tese fraca da separação, de modo que uma tese isso determinações no campo do possível fático e juridicamen-
forte, como a que o autor pretende adotar, considera a distinção te (ALEXY, 1998, p. 12, grifos no original, tradução livre)21.
24 como qualitativa. Logo, pode-se perceber que a generalidade Mas como explicar a natureza de mandamentos de otimi-
não é um critério adequado para tal distinção, pois é, quando zação22 atribuída aos princípios? Ou, de outra forma, como uma
muito, uma conseqüência da natureza dos princípios, sendo in- norma pode ter sua aplicação em diferentes graus? Para Alexy
capaz de proporcionar uma diferenciação essencial (GALUPPO, (1998, p. 14, 1997, p. 138), isso pode ser explicado quando se
1999, p. 137). compreende que princípios podem ser equiparados a valores.
Afirma-se, então, que regras, diferentemente dos princí- Uma concepção sobre valores – isto é, axiológica – dirá Alexy
pios, são aplicáveis na maneira do tudo-ou-nada (all-or-nothing- (1997, p.139), traz uma referência não no nível do dever-ser
fashion)18. Isso significa dizer que, se uma regra é válida, ela (deontológico), mas no nível do que pode ou não ser conside-
deve ser aplicada da maneira como preceitua, nem mais nem rado como bem. Os valores têm como características a possibili-
menos, conforme um procedimento de subsunção silogístico dade de valoração, isto é, permitem que um determinado juízo
(SILVA, 2002, p. 25). Todavia, o principal traço distintivo com re- possa ser classificado, comparado ou medido. Destarte,
lação aos princípios é observado quando, diante de um conflito Com a ajuda de conceitos de valor classificatório se pode
entre regras, algumas posturas deverão ser tomadas para que dizer que algo tem um valor positivo, negativo ou neutro; com
apenas uma delas seja considerada válida (ÁVILA, 2004, p. 30). a ajuda de conceitos de valor comparativo, que a um objeto
Como conseqüência, a outra regra não somente não será con- que se deve valorar corresponde um valor maior ou o mes-
siderada pela decisão, mas deverá ser retirada do ordenamento mo valor que outro objeto e, com ajuda de conceitos de valor
jurídico, como inválida, salvo se não for estabelecido que essa métrico, que algo tem um valor de determinada magnitude
regra está em uma situação que excepciona a outra – trata-se (ALEXY, 1997, p. 143, tradução livre)23.
do critério da excepcionalidade das regras. Um exemplo é for- Todavia, apesar de dizer que princípios podem ser equi-
necido pelo próprio Alexy (1997b, p. 163-164): uma lei estadual parados a valores, Alexy (1997, p. 147) dirá que princípios não
proibia o funcionamento de estabelecimentos comerciais após são valores. Isso porque os princípios, como normas, apontam
as 13h; concomitantemente, existia uma lei federal estendendo para o que se considera devido, ao passo que os valores apon-
esse funcionamento até as 19h. Nesse caso, o tribunal constitu- tam para o que pode ser considerado melhor24. Dessa forma,
cional alemão solucionou a controvérsia, apoiando-se no câno- mesmo tendo uma operacionalização idêntica aos valores, ain-
ne da hierarquia das normas, de modo a entender pela validade da assim os princípios apresentam uma diferença básica frente
da legislação federal. aos valores25.
Já os princípios, por sua vez, não são determinantes para Para concluir, dirá que, se alguém estiver diante de uma
uma decisão, de modo que somente apresentariam razões em norma que exige um cumprimento na maior medida do possí-
favor de uma ou de outra posição argumentativa (ALEXY, 1998, vel, estará diante de um princípio; em contrapartida, se tal norma
p. 9-10); logo, apresentam obrigações prima facie, na medida exigir apenas o cumprimento em uma determinada medida, ter-
em que podem ser superadas em função de outros princípios se-á uma regra. Logo, a diferença se centraria em um aspecto da

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estrutura dos princípios e das regras, de Dos julgamentos morais de Ste- gras (regra de adequação, regra da ne-
uma maneira morfológica, fazendo com venson, destacou as distintas formas cessidade e regra da proporcionalidade
que regras sejam aplicadas de maneira de argumentos e de argumentações. em sentido estrito). Essas sub-regras são
silogística e princípios, por meio de uma Da filosofia lingüística de Wittgenstein, estruturadas de maneira a funcionar su-
ponderação ou balanceamento (ALEXY, observou que a linguagem normativa cessiva e subsidiariamente, mas nunca
2003; SILVA, 2002, p. 25). não poderia ser reduzida à linguagem aleatoriamente30; por isso nem sempre
Assim, os princípios que prescrevem descritiva, ao passo que da teoria dis- será necessária uma análise de todas as
a proteção tanto do interesse público, de cursiva de Austin aproveitou os aspectos três sub-regras31.
um lado, quanto do interesse privado, de performativos da linguagem e sua rela- Em termos claros e concretos, com
outro, deverão ser ponderados por meio ção com os dados da realidade. subsidiariedade quer-se dizer que a
do “princípio” da proporcionalidade26, Da teoria metaética de Hare, desta- análise da necessidade só é exigível se,
para que se possa atingir um resultado cou o esforço na comensurabilidade de e somente se, o caso já não tiver sido
em face de um caso concreto. Portanto, valores, ao exigir que o juiz não apenas resolvido com a análise da adequação;
o próximo passo da presente explanação se colocasse na posição do réu, mas que e a análise da proporcionalidade em
é analisar melhor o mecanismo da pro- levasse a sério todos os interesses da- sentido estrito só é imprescindível, se o
porcionalidade teorizado por Alexy. Para queles que de alguma forma pudessem problema já não tiver sido solucionado
isso, deve-se lembrar que nem princípios ser afetados pela decisão, enquanto da com as análises da adequação e da ne-
nem regras são capazes de regular, por filosofia psicológica de Toulmin aprovei- cessidade (SILVA, 2002, p. 34).
si mesmos, suas condições de aplicação, tou a concepção da existência de regras Afonso da Silva alerta que, no Brasil,
de modo que o jurista de Kiel reconhece no discurso moral que permitiam um difundiu-se o conceito de adequação
a necessidade de promover uma com- exame racional. como aquilo que é apto a alcançar o re-
preensão da decisão jurídica regrada por Da Teoria da Argumentação Moral sultado pretendido (SARMENTO, 2000,
uma teoria da argumentação (ALEXY, de Baier notou que a argumentação p. 87; MENDES, 1994, p. 371). Todavia,
1997b, p. 173)27. A partir disso, o sistema prática possui regras distintas da argu- trata-se de uma compreensão equivo-
jurídico, além de conter regras e princí- mentação desenvolvida nas ciências na- cada da sub-regra, derivada da tradu-
pios, comporta um terceiro nível, no qual turais, mas que ambas devem/podem ção imprecisa do termo alemão fördern
são feitas considerações sobre um proce- ser taxadas como atividades racionais. como alcançar, em vez de fomentar, o
dimento – seguindo o modelo da razão Por sua vez, da Teoria do Consenso da que seria mais correto. Nessa leitura: 25
prática – que permitiria alcançar e asse- Verdade de Habermas, ele percebeu Adequado, então, não é somente
gurar a racionalidade de aplicação jurídi- que as ações são jogos de linguagem e o meio com cuja utilização um objetivo
ca (CHAMON JUNIOR, 2004, p. 103). que num discurso é possível depurar-se é alcançado, mas também o meio com
A argumentação jurídica é vista argumentos válidos de argumentos in- cuja utilização a rejeição de um objetivo
por Alexy (1998, p. 18) como um caso válidos, em razão de sua aceitabilidade é fomentada, promovida, ainda que o
especial da argumentação prática geral, numa “situação ideal de discurso”. objetivo não seja completamente rea-
ou seja, da argumentação moral. Sua
peculiaridade, contudo, está na série de [...] no Brasil, difundiu-se o conceito de adequação como aquilo
vínculos institucionais que a caracteriza, que é apto a alcançar o resultado pretendido [...]. Todavia,
tais como a lei, o precedente e a dog-
trata-se de uma compreensão equivocada da sub-regra,
mática jurídica28. Mas mesmo esses vín-
culos – concebidos como um sistema derivada da tradução imprecisa do termo alemão fördern
de regras, princípios e procedimento como alcançar, em vez de fomentar [...].
– são incapazes de levar a um resultado
preciso. As regras do discurso serviriam Contudo, ao entender que tal situa- lizado. Há uma grande diferença entre
apenas para que se pudesse contar com ção dificilmente ocorreria factualmente, ambos os conceitos, que fica clara na
um mínimo de racionalidade. Tudo, para Alexy estipulou o critério de Hare como definição de Martin Borowski, segundo
Alexy (1998, p. 18-19), gira em torno de condição mínima de sua teoria. Da Te- a qual uma medida estatal é adequada
um problema referente à racionalidade oria da Liberação Prática da Escola de quando o seu emprego faz com que o
jurídica. Como não é possível uma teoria Erlanger, observou a necessidade da “objeto legítimo pretendido seja alcan-
moral de cunho substantivo, somente se padronização da linguagem. çado ou pelo menos fomentado”. Des-
pode apelar para as teorias morais pro- Finalmente, da Nova Retórica de sa forma, uma medida somente pode
cedimentais, que formulariam regras ou Perelman assumiu a idéia de que não ser considerada inadequada se sua
condições para a argumentação ou para é possível definir um único resultado utilização não contribuir em nada para
uma decisão racional29. como correto e duradouro, dando aber- fomentar a realização de objetivo pre-
Para desenvolver sua teoria da argu- tura a um criticismo heurístico (2004, p. tendido (SILVA, 2002, p. 36-37).
mentação, o professor alemão irá proce- 165-166). Pode-se tomar o exemplo da ADC n.
der a uma minuciosa análise de diversas Todo esse instrumental teórico con- 9-6 (racionamento de energia), como for-
teorias, retirando delas o que considera tribuirá para estruturar o procedimento ma de esclarecer melhor o conteúdo da
notável, como lembra Souza Cruz: da ponderação a partir de três sub-re- regra da adequação: para impedir o risco

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de questionamento judicial, principalmente dos arts. 14 a 18 da das pelo governo, o STF teria de considerar a medida escolhida
MP n. 2.152-2 – que disciplinava as metas de consumo de energia como desproporcional e, por isso, declarar a inconstitucionali-
elétrica e previa as sanções no caso de descumprimento –, foi dade da Medida Provisória n. 2.152-2.
proposta a ADC n. 9-6, visando à declaração de constitucionali- O último passo a ser verificado, a proporcionalidade em
dade, com efeitos vinculantes. O STF entendeu, em sede de me- sentido estrito, apenas acontecerá depois de verificado que o
dida cautelar, que estava demonstrada a proporcionalidade e a ato é adequado e necessário (ALEXY, 1998, p. 31). Por isso [...],
razoabilidade das medidas tomadas pelo governo. Como lembra o exame da proporcionalidade em sentido estrito, que consiste
Afonso da Silva, o teste de adequação da medida deveria se limi- em um sopesamento entre a intensidade da restrição ao di-
tar “ao exame de sua aptidão para fomentar os objetivos visados” reito fundamental atingido e a importância da realização do
(2002, p. 37). Assim, embora fosse questionável o fato de essas direito fundamental que com ele colide e que fundamenta a
medidas tomadas serem as mais adequadas, para o constitucio- adoção da medida restritiva (SILVA, 2002, p. 40).
nalista, mostra-se inegável – devido ao caráter coercitivo – que as Segundo Sarmento (2000, p. 89), há aqui um raciocínio
medidas levariam os consumidores a economizar energia elétrica baseado na relação custo/benefício da norma avaliada, isto é,
e, mesmo que sozinhas não possam solucionar o problema de o ônus imposto pela norma deve ser inferior ao benefício que
interrupção do fornecimento de energia elétrica, as medidas to- pretende gerar. A constatação negativa deve ser tomada, portan-
madas mostram-se capazes de colaborar para que o objetivo seja to, como um juízo pela inconstitucionalidade do ato. Todavia,
atingido. Por essa observação, elas poderiam ser consideradas para que uma medida seja reprovada no teste da proporcio-
adequadas nos termos exigidos pela proporcionalidade. nalidade em sentido estrito, não é necessário que ela implique
Mas elas poderiam passar também pelo crivo da regra de a não-realização de um direito fundamental. Também não é
necessidade? Esta afirma o seguinte: Um ato que limita um necessário que a medida atinja o chamado núcleo essencial
direito fundamental é somente necessário caso a realização de algum direito fundamental. Para que ela seja considerada
do objetivo perseguido não possa ser promovida, com a mes- desproporcional em sentido estrito, basta que os motivos que
ma intensidade, por meio de outro ato que limite, em menor fundamentam a adoção da medida não tenham peso suficien-
medida, o direito fundamental atingido (SILVA, 2002, p. 38). te para justificar a restrição ao direito fundamental atingido. É
Segundo Sarmento, impõe (sic.) que o Poder Público adote possível, por exemplo, que essa restrição seja pequena, bem
sempre a medida menos gravosa possível para atingir a de- distante de implicar a não-realização de algum direito ou de
terminado objetivo (2000, p. 88). Assim, a adequação exige um atingir o seu núcleo essencial. Se a importância da realização
26 exame absoluto do ato, ao passo que a necessidade, um exame do direito fundamental, no qual a limitação se baseia, não for
comparativo (ALEXY, 1998, p. 30), isto é: suficiente para justificá-la, será ela desproporcional (SILVA,
Suponha-se que, para promover o objetivo O, o Estado 2002, p. 41).
adote a medida M1, que limita o direito fundamental D. Se hou- No exemplo que até agora foi desenvolvido, o STF, por
ver uma medida M2 que, tanto quanto M1, seja adequada para olvidar-se de examinar a necessidade das medidas do governo,
promover com igual eficiência o objetivo O, mas limite o direito prejudicou a análise da proporcionalidade em sentido estrito.
fundamental D em menor intensidade, então a medida M1, utili- Mas, em um outro exemplo – ADI n. 855-2 (pesagem de bo-
zada pelo Estado, não é necessária (SILVA, 2002, p. 38). tijões de gás), a exigência de pesagem dos botijões de gás na
presença dos consumidores foi considerada adequada pelo STF.
[...] mesmo se o STF levasse a sério a Também pode ser considerada por Afonso da Silva (2002, p.
ponderação – o que foi demonstrado que não 40-41) necessária, pois a medida alternativa apresentada – pe-
sagem por amostragem –, embora pudesse restringir em menor
ocorre, conforme a técnica desenvolvida por Alexy escala a livre-iniciativa das empresas distribuidoras de gás, não
–, poder-se-ia considerar essa uma resposta pareceu ter a mesma capacidade de fomentar a proteção do
consumidor. Assim, pode-se avançar para a análise da propor-
adequada ao paradigma procedimental do cionalidade em sentido estrito: verificar se a proteção ao consu-
Estado democrático de Direito? midor se justifica em face da limitação à liberdade de iniciativa
sofrida pelas empresas distribuidoras de gás. Para Afonso da
Voltando ao exemplo do julgamento da ADC n. 9-6, Afonso Silva (2002, p. 41), o peso maior deveria ser dado à proteção
da Silva considera que as medidas tomadas pelo governo po- do consumidor, todavia o entendimento do STF pendeu para
dem ser consideradas adequadas, por ajudarem a promover a uma solução inversa.
economia de energia. Mas o exame da necessidade exige que, Evidenciar-se-ia, então, uma mudança em termos de com-
primeiro, identifiquem-se os direitos que serão limitados. Mui- preensão do Supremo Tribunal Federal sobre a questão da su-
tos, então, poderiam ser apontados como direitos possivelmen- premacia do interesse público. Todavia, os julgados existentes
te lesionados: direito de acesso a um serviço público, direito de ainda revelariam que o dogma persiste; o que se teria admitido
igualdade, direito à livre-iniciativa, direito ao trabalho, e, em últi- seria apenas a relativização por meio da técnica de pondera-
ma análise, o direito a uma vida digna (SILVA, 2002, p. 38-40). ção da supremacia do interesse público em algumas situações
O passo seguinte seria identificar medidas alternativas que especiais, mas com um caminho aberto para a revisão dessa
também pudessem satisfazer os objetivos da medida gover- compreensão (BARACHO JÚNIOR, 2004, p. 520). Cattoni de Oli-
namental32. Se fosse demonstrada a existência – o que é bem veira, entretanto, apresenta outra leitura desse quadro:
plausível – de medida tão (ou até mais) adequada que as toma- O (sic.) que eu discordo, em princípio, é quanto à afirma-

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ção de parte da doutrina atual segundo constituinte permanente; e, por fim, e) pendentes o bastante, em razão de uma au-
tonomia privada que esteja equanimemente
a qual, recentemente, o STF estaria rela- olvida-se da racionalidade comunicativa, assegurada; mas também no fato de que só
tivizando o “princípio da supremacia do uma vez que todo o raciocínio é pauta- poderão chegar a uma regulamentação capaz
interesse público”, ao ponderar, usando do por uma racionalidade instrumental, de gerar consenso, se fizerem uso adequado
de sua autonomia política enquanto cidadãos
como critério a proporcionalidade, inte- deixando a aplicação jurídica a cargo de
(HABERMAS, 2002, p. 294).
resse público (estatal) e interesse priva- um raciocínio de adequação de meios a 4 Como lembra Ávila (2005, p. 176): Axioma
do. Não penso assim. Há uma tendência fins, ficando em segundo plano a ques- (usado, originalmente, como sinônimo de
jurisprudencial a se relativizar, isto sim, a tão da legitimidade da decisão jurídica; postulado) denota uma proposição cuja ve-
racidade é aceita por todos, dado que não é
distinção entre questões políticas e ques- exatamente por isso o raciocínio sobre a nem possível nem necessário prová-la. Por isso
tões jurídicas, com conseqüências para ponderação acaba por cair em um deci- mesmo, são os axiomas aplicáveis exclusiva-
a compreensão da separação de pode- sionismo de cunho irracionalista, isto é, mente por meio da lógica, e deduzidos sem a
intervenção de pontos de vista materiais.
res, para o papel do STF, para a práxis ausência de uma racionalidade comuni- 5 Como lembra Souza Júnior (2004, p. 89), a
e para a metódica constitucionais. Por cativa (HABERMAS, 1998, p. 332)36. figura de Rui Barbosa foi determinante para o
exemplo, ao considerar que, no exercício Essas críticas servem para fomentar a desenvolvimento do debate sobre as questões
políticas, pois propunha um diálogo franco
do controle concentrado, o STF exerce discussão e sinalizam para a necessidade entre os grandes poderes do Estado, estipu-
“tarefas não somente jurídicas mas po- de uma compreensão do Direito à luz do lados em textos formais, de um lado, e, de
líticas”, ele é “legislador negativo”, mas paradigma procedimental do Estado de- outro, os direitos individuais, taxativamente
assegurados. A interpretação judicial desem-
também “legislador positivo”, ainda que mocrático de Direito. Por isso, a propos- penha, neste diálogo, a missão de mediação
excepcional, em prol de um “interesse ta habermasiana desponta como a mais com o objetivo de evitar as possíveis colisões.
público ou social maior” (2006, p. 12). adequada. Mas as razões de tal opção Se os poderes exercidos extrapolam o círculo
de competências, ou se direitos individuais são
A partir dessa crítica surge uma transbordam os limites do presente artigo, feridos, a intervenção judicial é legítima. Se
questão: mesmo se o STF levasse a sério devendo ser exploradas em outro estudo. se quer debater a existência constitucional de
a ponderação – o que foi demonstra- uma faculdade administrativa ou legislativa,
também o judiciário será o assunto.
do que não ocorre, conforme a técnica
NOTAS 6 Lembra Baracho Júnior (2004, p. 514-515): Nes-
desenvolvida por Alexy –, poder-se-ia 1 Torna-se muito comum a afirmação de uma ta [ADI], o Supremo Tribunal Federal interpretou
considerar essa uma resposta adequada mudança hermenêutica no Direito brasilei- o art. 100 de uma maneira que contraria os pró-
ao paradigma procedimental do Estado ro. Ver, por exemplo, os trabalhos de Streck prios anais da Assembléia Nacional Constituin-
(2003) e Barroso e Barcelos (2004), que vêm te. O constituinte pretendeu retirar os créditos
democrático de Direito? desenvolvendo diversas pesquisas sobre o que de natura alimentícia desta forma de execução, 27
Cattoni de Oliveira (2004, p. 535), seria essa “nova interpretação” assumida pelo qual seja, a execução através de precatórios. O
pautando-se no pensamento de Ha- Supremo Tribunal Federal em seus julgados. Supremo Tribunal Federal, entretanto, afirmou
2 Na Suprema Corte americana é possível iden- que a única especificidade que decore do art.
bermas (1998, p. 327-333), apresen- tificar nitidamente alguns períodos nos quais 100 da Constituição é a possibilidade dos cré-
tará uma resposta negativa à questão. houve a consolidação de determinados prin- ditos de natureza alimentícia terem prioridade
Como problemas que pesem contra a cípios de interpretação constitucional, como em relação a outros créditos contra a fazenda
o período de prevalência do devido processo pública. Assim, os créditos alimentícios terão
sua utilização pode haver os seguintes: substantivo, entre 1905 e 1937, o período da sempre prioridade na ordem de pagamento
a) ao se admitir uma compreensão dos Corte de Warren, a partir de 1954, até 1969, em relação a outros créditos.
princípios jurídicos como mandamentos que foi um período fortemente interventivo 7 Segundo Salles (2003, p. 59), Kenneth J. Arrow
em relação às leis estaduais. Ou, ainda, a su- demonstrou [seu teorema] no começo da dé-
de otimização, aplicáveis de maneira gra- prema Corte da Década de 1990, que é uma cada de 60. Arrow tomou hipoteticamente três
dual, Alexy emprega uma operacionaliza- Suprema Corte fortemente preocupada com o indivíduos com poder para tomar uma decisão
ção própria dos valores: isso faria, então, princípio federativo e, por outro lado, abando- e, considerando que cada um deles tem uma
na, em certa medida, os direitos fundamentais ordem de preferências diferentes, demonstrou,
com que os princípios perdessem a sua
como principal foco de sua atuação, possibili- matematicamente, que o cruzamento dessas
natureza deontológica, transformando o tando que os estados tenham maior liberdade preferências individuais pode levar a decisões
código binário do Direito em um código de atuação legislativa em questões que impor- inteiramentes aleatórias, dependendo de fato-
tam em restrição ao exercício de tais direitos res estruturais do processo decisório.
gradual33; b) como conseqüência desse
(BARACHO JÚNIOR, 2004, p. 511). 8 Aragão (2005, p. 7) alerta para o risco de que
raciocínio, o Direito passaria a indicar o 3 Nesse sentido, encontra-se a lição de Bandeira supostos “interesses públicos” sejam utilizados
que é preferível, em vez de o que é de- de Mello (2003, p. 60): Trata-se de verdadeiro pelo Estado como forma de justificar restrições
vido34; c) o Direito – como pretensão de axioma reconhecível no moderno Direito Pú- aos direitos fundamentais. Cita, para tanto, dois
blico. Proclama a superioridade do interesse precedentes norte-americanos: no primeiro,
universalidade sobre a correção de uma da coletividade, firmando a prevalência dele Dennis vs. United States, esse dogma possibi-
ação – então, não mais pode ser consi- sobre o do particular, como condição, até litou restrições à liberdade de manifestação de
derado como um “trunfo”35, como quer mesmo da sobrevivência e asseguramento idéias que fossem consideradas esquerdistas; no
deste último. Todavia, essa afirmação parte, outro, Korematsu vs. United States, permitiu que
Dworkin, nas discussões políticas que en- ainda, de uma compreensão paradigmática do cidadãos norte-americanos de origem japonesa
volvam o bem-estar de uma parcela da Direito que se olvida do atual paradigma pro- ficassem confinados em campos de concentra-
sociedade; desnatura-se, portanto, a tese cedimental do Estado democrático de Direito. ção durante a Segunda Guerra Mundial.
Como será explorado, no quarto capítulo, Ha- 9 Ver Habermas (1990, 1987, tomo II) e Ferreira
de Rawls (2003, p. 199; 1996, p. 171) so- bermas (1998) busca reconstruir os princípios (2000).
bre a prevalência do justo sobre o bem; do Estado de Direito e da democracia para 10 De fato, se no Estado Liberal o público corres-
d) além disso, a tese de Alexy nega a dife- lançar uma compreensão não mais dicotômica pondia ao Estado e o privado a uma socie-
da relação público/privado, mas, ao invés dis- dade civil regida pelo mercado, considerada
renciação entre discursos de justificação so, equiprimordial. Para o filósofo alemão: Os como o locus em que indivíduos perseguiam
e discursos de aplicação, transforman- cidadãos só podem fazer um uso adequado egoisticamente seus interesses particulares,
do a atividade judiciária em um poder de sua autonomia pública quando são inde- robustece-se agora um terceiro setor, que é

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público, mas não estatal. Ele é composto por Mais do que uma distinção baseada no grau positivo, negativo o neutral; con la ayuda de
ONGs, associações de moradores, entidades de de abstração da prescrição normativa, a dife- conceptos de valor comparativos, que a un
classe e outros movimentos sociais, que atuam rença entre os princípios e as regras seria uma objeto que hay que valorar le corresponde un
em prol de interesses da coletividade, e agem distinção qualitativa. O critério distintivo dos valor o el mismo valor que a otro objeto y, con
aglutinando e canalizando para o sistema princípios em relação às regras seria, portan- la ayuda de conceptos de valor métricos, que
político demandas importantes, muitas vezes to, a função de fundamento normativo para a algo tiene un valor de determinada magnitud.
negligenciadas pelas instâncias representativas tomada de decisão (ÁVILA, 2004, p. 27). 24 La diferencia entre principios y valores se redu-
tradicionais (SARMENTO, 2005, p. 48). 18 Muitos autores atribuem a Alexy a originalidade ce así a un punto. Lo que en el modelo de los
11 [...] Cuanto mayor es el grado de la no satis- da distinção entre regras e princípios. Todavia, valores es prima facie lo mejor es, en el modelo
facción o de afectación de un principio, tanto eles se olvidam do importante ensaio publicado de los principios, prima facie debido; y lo que
mayor tiene que ser la importancia de la satis- por Dworkin, Model of Rules, originalmente na en el modelo de los valores es definitivamente
facción del otro. Chicago Law Review n. 35 (1967-1968), sendo, lo mejor es, en el modelo de los principios, de-
12 A popularidade do método da ponderação depois, republicado como o capítulo 2 da obra finitivamente debido (ALEXY, 1997, p. 147).
adquire cada dia mais destaque nos julgamen- Levando os direitos a sério (com tradução para 25 Apenas para demarcar a dissonância, adianta-se
tos proferidos pelo Supremo Tribunal Federal o português pela editora Martins Fontes, em que a tese alexyana é refutada tanto por Dworkin
brasileiro (STF). Tanto assim que Barroso e Bar- 2002). Contudo importa lembrar, mais uma vez, quanto por Habermas, que defendem a impos-
celos (2004, p. 471) e Baracho Júnior (2004, que a distinção dworkiana se pauta pelo prisma sibilidade de equiparar princípios a valores, sob
p. 520) defendem que sua adoção representa lógico-argumentativo, e não por critéiros estru- pena de desnaturar a própria lógica de aplicação
uma mudança no curso da interpretação leva- turais – ou morfológicos. Reconhecendo isso, normativa. Ambos os autores ainda lançarão
da a cabo pelo tribunal, equivalendo à adoção tem-se Sarmento (2000, p. 44). mão não de uma diferenciação morfológica en-
de uma nova hermenêutica na jurisprudência 19 No caso das colisões entre princípios, portan- tre princípios e regras, preferindo o que se pode
do STF. O precedente representado pelo HC to, não há como se falar em um princípio que considerar como uma distinção em razão da
n. 82.424/RS mostra-se como exemplo de apli- sempre tenha precedência em relação a ou- natureza lógico-argumentativa.
cação prática da teoria de Alexy. Isso porque tro. [...] É por isso que não se pode falar que 26 Afonso da Silva (2002, p. 24-27) sustenta que
o caso ganhou notoriedade por examinar um um princípio P1 sempre prevalecerá sobre o seria errônea a referência à técnica da ponde-
suposto conflito entre os princípios da liber- princípio P2 – (P1 P P2) –, devendo-se sempre ração como “princípio da proporcionalidade”.
dade de expressão e da dignidade da pessoa falar em prevalência do princípio P1 sobre o Segundo o autor, [o] chamado “princípio da
humana, envolvendo a acusação de prática de princípio P2 diante das condições C – (P1 P proporcionalidade” não pode ser considera-
racismo durante a publicação de livros anti-se- P2) C (SILVA, 2005, p. 35). do um princípio, pelo menos não com base
mitas. As bases da ponderação foram bem ex- 20 Isso pode ser percebido no julgamento do HC na classificação de Alexy, pois não tem como
plicitadas mediante votos dos Ministros Gilmar n. 82.424/RS. Como já comentado, o STF iden- produzir efeitos em variadas medidas, já que
Mendes e Marco Aurélio. tificou um conflito envolvendo os princípios da é aplicado de forma constante, sem variações.
13 Cabe destacar, desde já, que, diferentemente de dignidade da pessoa humana e da liberdade Dessa forma, tratar-se-ia de uma regra de
Alexy, Dworkin desenvolve sua teoria levando de expressão. Em momento algum, afirmou-se ponderação, aplicável por meio da subsunção,
em conta o giro hermenêutico empreendido que a dignidade da pessoa humana (ou mais bem como suas sub-regras. Ávila (2005) refere-
por Heidegger e Gadamer, sendo que o último exatamente, não-discriminação) seria hierar- se a um dever de proporcionalidade, expres-
28 irá adotar uma postura de ruptura com as po- quicamente superior à liberdade de expressão. são considerada correta por Afonso da Silva,
sições objetivistas de Schleiermacher e Dilthey, Assim, um ou outro princípio pode ser ponde- mas pouco adequada, já que a idéia de dever
radicalizando a experiência hermenêutica e se rado através de sua aplicação gradual no caso remete apenas ao gênero norma jurídica, sem
apoiando principalmente no modo de ser do sub judice. Assim, como bem reconhece o Min. explicitar sua espécie – princípios ou regras.
Dasein (do ser-aí) heideggeriano. Dessa forma, Marco Aurélio em seu voto, as colisões entre Também não se deve confundir proporciona-
a hermenêutica filosófica entende que a com- princípios [sob essa ótica] somente podem ser lidade com racionalidade, como lembra Afonso
preensão humana se orienta a partir de uma superadas se algum tipo de restrição ou de sa- da Silva (2002, p. 28). Muitos juristas tratam
pré-compreensão que emerge da eventual crifício forem impostos a um ou os dois lados. como se fossem termos sinônimos, como se
situação existencial e que demarca o enqua- Enquanto o conflito entre regras resolve-se na proporcionalidade fosse o termo adotado pelos
dramento temático e o limite de validade de dimensão da validade [...], o choque de princí- autores de tradição germânica, ao passo que a
cada tentativa de interpretação (GRONDIN, pios encontra solução na dimensão do valor, razoabilidade tivesse sua difusão na tradição do
1999, p. 159). Os reflexos da percepção de tal a partir do critério da “ponderação”, que pos- common law. Segundo o constitucionalista, a
“consciência histórica” podem ser sentidos no sibilita um meio-termo entre a vinculação e a diferenciação se dá não pela origem, mas pela
pensamento de Dworkin, como lembra Carvalho flexibilidade dos direitos. estrutura. A regra da proporcionalidade no
Netto: Para ele, a unicidade e a irrepetibilidade 21 [...] principios son normas que ordenan que se controle das leis restritivas de direitos funda-
que caracterizam todos os eventos históricos, ou realice algo en la mayor medida posible, en re- mentais surgiu por desenvolvimento jurispru-
seja, também qualquer caso concreto sobre o lación con las posibilidades jurídicas y fácticas. dencial do Tribunal Constitucional alemão e
qual se pretenda tutela jurisdicional, exigem do Los principios son, por consiguiente, manda- não é uma simples pauta que, vagamente, su-
juiz hercúleo esforço no sentido de encontrar no tos de optimización que se caracterizan por gere que os atos estatais devem ser razoáveis,
ordenamento considerado em sua inteireza a que pueden ser cumplidos en diversos grados nem uma simples análise da relação meio-fim.
única decisão correta para este caso específico y porque la medida ordenada de su cumpli- Na forma desenvolvida pela jurisprudência
irrepetível por definição (1999, p. 475). miento no sólo depende de las posibilidades constitucional alemã, tem ela uma estrutura
14 É importante lembrar o comentário de Cattoni fácticas, sino también de las posibilidades ju- racionalmente definida, com subelementos
de Oliveira (2001, p. 77-78) de que, para Alexy rídicas. […] En cambio, las reglas son normas independentes – a análise da adequação,
(2001, p. 17-18), a racionalidade de um discur- que exigen un cumplimiento pleno y, en esa da necessidade e da proporcionalidade em
so prático pode ser mantida se forem satisfeitas medida, pueden siempre ser sólo o cumplidas sentido estrito –, que são aplicados em uma
as condições expressas por um sistema de re- o incumplidas. Si una regla es válida, entonces ordem pré-definida e que conferem à regra
gras ou procedimentos. es obligatorio hacer precisamente lo que or- da proporcionalidade a individualidade que a
15 Aqui é preciso lembrar que Alexy toma como dena, ni más ni menos. Las reglas contienen diferencia, claramente, da mera exigência de
referência de norma o conceito “semântico” de por ello determinaciones en el campo de lo razoabilidade (SILVA, 2002, p. 30). Daí esse au-
norma (GALUPPO, 1999, p. 135-136) presente posible fáctica y jurídicamente. tor afirmar que o STF apenas consegue exercer
já em Kelsen (1999), de modo que compreen- 22 Afonso da Silva (2002, p. 25) alerta que, devi- sua função nos limites da razoabilidade, pouco
de ser a norma o significado extraído de um do à influência das traduções espanholas das ou nada compreendendo sobre a dimensão da
enunciado. obras de Alexy, tornou-se comum referir-se aos proporcionalidade. O órgão judicante, então,
16 Nesse sentido, ver Hart (1994, p. 321-325), em princípios como “mandados de otimização”. apenas mencionaria as sub-regras da propor-
resposta à distinção dworkiana entre princípios Todavia, trata-se de utilização imprópria, prefe- cionalidade, sem, contudo, analisá-las perante
e regras. rindo esse autor a expressão “mandamentos de o caso específico que tem a sua frente.
17 Para Josef Esser, princípios são aquelas nor- otimização”. 27 [...] el agregado del nivel de los principios
mas que estabelecem fundamentos para que 23 Con la ayuda de conceptos de valor clasifica- conduce sólo condicionadamente a una vin-
determinado mandamento seja encontrado. torios se puede decir que algo tiene un valor culación en el sentido de una determinación

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estricta del resultado. También después de la dos deontológicos: à luz de normas, posso de- ____________. Teoria da argumentação jurídi-
eliminación de las lagunas de apertura a nivel cidir qual é a ação ordenada. Já valores visam ca: a teoria do discurso racional como teoria da jus-
de las reglas quedan las lagunas de indetermi- ao que é bom, ao que é melhor; condicionados tificação jurídica. Trad. de Zilda Hutchinson Schild
nación del nivel de los principios. Sin embargo, a uma determinada cultura, são enunciados Silva. São Paulo: Landy, 2001.
de aquí no podrían inferirse un argumento a teleológicos: uma ação orientada por valores ____________. Derecho y razón práctica. 2. ed.
favor del modelo de la regla e en contra del é preferível. Ao contrário das normas, valores México: Fontamara, 1998.
modelo regla/principio, tampoco si ésta fuera não são aplicados mais priorizados (OLIVEIRA, ____________. Teoría de los derechos funda-
la última palabra. Lo que hasta ahora se ha 2002, p. 90). Em outro texto, lembra o mesmo mentales. Trad. de Ernesto Garzón Valdés. Madrid:
descrito, el nivel de la regla y el de los princi- autor: [...] ou nós estamos diante de uma con- Centro de Estudios Constitucionales, 1997.
pios, no proporciona un cuadro completo del duta ilícita, abusiva, criminosa, ou então, do ____________. El concepto y la validez del de-
sistema jurídico. Ni los principios ni las reglas exercício regular, e não abusivo, de um direito. recho. 2. ed. Trad. de Jorge M. Seña. Barcelona:
regulan por sí mismos su aplicación. Si se Tertium non datur! Como é que uma condu- Gedisa, 1997b.
quiere obtener un modelo completo, hay ta pode ser considerada, ao mesmo tempo, ARAGÃO, Alexandre Santos. A “supremacia do inte-
que agregar al costado pasivo uno activo, como lícita (o exercício de um direito à liber- resse público” no advento do Estado de direito e na
referido al procedimiento, de la aplicación dade de expressão) e como ilícita (crime de hermenêutica do direito público contemporâneo.
de las reglas y los principios. Por lo tanto, racismo, que viola a dignidade humana), sem In: SARMENTO, Daniel (Org.). Interesses públicos
los niveles de las reglas y los principios tienen quebrar o caráter deontológico, normativo, do versus interesses privados: desconstruindo o prin-
que ser completados con un tercer nivel. En un Direito? Como se houvesse uma conduta meio cípio de supremacia do interesse público. Rio de
sistema orientado por el concepto de la razón lícita, meio ilícita? (OLIVEIRA, 2006, p. 6-7, gri- Janeiro: Lumen Juris, 2005.
práctica, este tercer nivel puede ser sólo al de fos no original). É por isso mesmo que esse ÁVILA, Humberto. Repensando o “princípio da su-
un procedimiento que asegura la racionalidad entendimento judicial, que pressupõe a pos- premacia do interesse público sobre o particular”.
(ALEXY, 1997b, p. 173). (Grifo nosso). sibilidade de aplicação gradual, numa maior In: SARMENTO, Daniel. (org.). Interesses públicos
28 Maior detalhamento pode ser obtido pela ou menor medida, de normas, ao confundi-las versus interesses privados: desconstruindo o prin-
leitura do capítulo 3 da obra de Robert Alexy com valores, nega exatamente o caráter obri- cípio de supremacia do interesse público. Rio de
(2001). gatório do Direito. Tratar a Constituição como Janeiro: Lumen Juris, 2005.
29 Em consonância com essa afirmação, tem-se uma ordem concreta de valores é pretender ____________. Teoria dos princípios: da defini-
Souza Cruz (2004, p. 164-165), que observa justificar a tese segundo a qual compete ao ção à aplicação dos princípios jurídicos. 4. ed. São
que Alexy irá divergir da corte constitucional Poder Judiciário definir o que pode ser discu- Paulo: Malheiros, 2004.
alemã, uma vez que esta exige a relativização tido e expresso como digno de valores, pois BARACHO JÚNIOR, José Alfredo de Oliveira. A
de todos os direitos fundamentais, inclusive o haveria democracia, nesse ponto de vista, sob nova hermenêutica na jurisprudência do Supremo
da dignidade humana (ALEXY, 1997, p. 108- o pressuposto de que todos os membros de Tribunal Federal. In: SAMPAIO, José Adércio Leite
109). Assim, a adoção do paradigma proce- uma sociedade política compartilham, ou te- (Coord.). Crise e desafios da Constituição: perspec-
dimental sustenta uma proteção aos direitos nham de compartilhar, de um modo comuni- tivas críticas da teoria e das práticas constitucionais
fundamentais por um aspecto dialógico do dis- tarista, os mesmos supostos axiológicos, uma brasileiras. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
curso e conforme a racionalidade do método mesma concepção de vida e de mundo. Ou, BARROSO, Luís Roberto. O Estado contemporâneo,
de ponderação. o que também é incorreto, que os interesses os direitos fundamentais e a redefinição da supre-
30 Se simplesmente as enunciarmos, indepen- majoritários de uns devem prevalecer, de for- macia do interesse público. In: SARMENTO, Daniel 29
dentemente de qualquer ordem, pode-se ter a ma utilitarista, sobre os interesses minoritários (Org.). Interesses públicos versus interesses pri-
impressão de que tanto faz, por exemplo, se de outros, quebrando assim, o princípio do vados: desconstruindo o princípio de supremacia
a necessidade do ato estatal é, no caso con- reconhecimento recíproco de igual direitos de do interesse público. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
creto, questionada antes ou depois da análise liberdade a todos (OLIVEIRA, 2006, p. 7). (Grifo 2005.
da adequação ou da proporcionalidade em no original). ____________. BARCELLOS, Ana Paula de. O
sentido estrito. Não é o caso. A análise da 35 [...] um direito não pode ser compreendido começo da história: a nova interpretação constitu-
adequação precede a da necessidade, que, como um bem, mas como algo que é devido e cional e o papel dos princípios no direito brasileiro.
por sua vez, precede a da proporcionalidade não como algo que seja meramente atrativo. In: SAMPAIO, José Adércio Leite (Coord.). Crise e
em sentido estrito (SILVA, 2002, p. 34). Bens e interesses, assim como valores, podem desafios da Constituição: perspectivas críticas da
31 A impressão que muitas vezes se tem, quando ter negociada a sua “aplicação”, são algo que teoria e das práticas constitucionais brasileiras. Belo
se mencionam as três sub-regras da proporcio- se pode ou não optar, já que se estará tratan- Horizonte: Del Rey, 2004.
nalidade, é que o juiz deve sempre proceder à do de preferências otimizáveis. Já direito não. BINENBOJM, Gustavo. Da supremacia do interesse
análise de todas elas, quando do controle do Tão logo os direitos sejam compreendidos público ao dever de proporcionalidade: um novo
ato considerado abusivo. Não é correto, contu- como bens e valores, eles terão que competir paradigma para o Direito Administrativo. In: SAR-
do, esse pensamento. É justamente na relação no mesmo nível que esses pela prioridade no MENTO, Daniel (Org.). Interesses públicos versus
de subsidiariedade acima mencionada que caso individual. Essa é uma das razões pelas interesses privados: desconstruindo o princípio de
reside a razão de ser da divisão em sub-regras quais, lembra Habermas, Ronald Dworkin supremacia do interesse público. Rio de Janeiro:
(SILVA, 2002, p. 34). haver concebido os direitos como ‘trunfos’ Lumen Juris, 2005.
32 Afonso da Silva (2002, p. 39-40) destaca que, que podem ser usados nos discursos jurídicos __________________. Racionalização do
durante o julgamento da ADC n. 9-6, deixou-se contra os argumentos de políticas (OLIVEIRA, ordenamento jurídico e democracia. Revista Bra-
de proceder à identificação de medidas alterna- 2002, p. 90-91). sileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 88,
tivas para a crise brasileira de energia, mesmo 36 Nesse sentido, Cattoni de Oliveira (2006, p. dez.2003.
havendo outras soluções que foram apresenta- 5) denuncia que, no caso do HC n. 82.424-2 CARVALHO NETTO, Menelick de. Requisitos prag-
das e discutidas pelos meios de comunicação (Relator Min. Maurício Correia), o raciocínio máticos da interpretação jurídica sob o paradigma
na época. Logo, ficou prejudicada a aplicação de ponderação, que se supunha atingir uma do Estado democrático de Direito. Revista de Direi-
da proporcionalidade neste caso específico. solução objetiva para o caso concreto, acaba to Comparado, Belo Horizonte, v. 3. maio 1999.
33 O Direito, ao contrário do que defende uma por atingir resultados contrários nos votos dos CHAMON JUNIOR, Lúcio Antônio. Tertium non da-
jurisprudência dos valores, possui um código ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio ao tur: pretensões de coercibilidade e validade em face
binário, e não um código gradual: que nor- buscar solucionar a suposta colisão entre digni- de uma teoria da argumentação jurídica no marco
mas possam refletir valores, no sentido de dade humana e liberdade de expressão, toma- de uma compreensão procedimental do Estado de-
que a justificação jurídico-normativa envolve dos como valores. mocrático de Direito. In: OLIVEIRA, Marcelo Andra-
questões não só acerca de o que é justo para de Cattoni de (Coord.). Jurisdição e hermenêutica
todos (morais), mas também acerca de o que constitucional no Estado democrático de Direito.
é bom, no todo e a longo prazo para nós (éti- Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.
cas), não quer dizer que elas sejam ou devam REFERÊNCIAS CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. Jurisdição constitu-
ser tratadas como valores [...](OLIVEIRA, 2002, ALESSI, Renato. Sistema istituzionale del diritto am- cional democrática. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
p. 88-89, grifos no original). ministrativo ilaliano. Milão: Giuffrè, 1960. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administra-
34 [...] normas – quer como princípios, quer como ALEXY, Robert. Constitutional rights, balancing and tivo. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
regras – visam ao que é devido, são enuncia- rationality. Ratio Juris. v. 16. n. 2. jun.2003. DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério.

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