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O serviço social e a

questão étnico-racial: um
estudo de sua relação
com usuários negros

Elisabete Aparecida Pinto


SOBRE A AUTORA

- Nascida em Amparo - SP
- Professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
- Formada em Serviço Social pela PUC de Campinas (1986), é mestra em
Ciências Sociais Aplicada à Educação pela UNICAMP (1993) e doutora
em Psicologia Social pela PUC de São Paulo (2004).
- Sócia fundadora da FALA PRETA! Organização de Mulheres Negras, na
qual foi vice-presidente e coordenadora da área de pesquisa e
coordenadora geral das coleções FALAS PRETAS.
- Colaboradora Instituto da Mulher Negra, GELEDÉS, Brasil.- 1993 - 1997
- Pró-Reitora de Assuntos Estudantis/ UNIFESP - 2017 a 2020
(Cooperação Técnica)
- Assessora da Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência
Estudantil/UFBA entre abril e dezembro de 2013.
- Coordenadora de Programas de Assistência Estudantil/UFBA entre
dezembro de 2013 e agosto de 2014.
- Coordenadora do Colegiado de Graduação em Serviço Social da
Universidade Federal da Bahia - 2009/ 2013
- Pesquisa na área de avaliação de políticas públicas com recorte étnico-
racial e de gênero
- Coordenadora do NÚCLEO DE ESTUDOS GÊNERO, RAÇA/ETNIA E
GERAÇÃO -NEP-GREG
- Etnicidade, gênero e educação: trajetória
SUA PRODUÇÃO de vida de Laudelina de Campos Mello
(2015)

- Religiões: Tolerância e Igualdade no


Espaço da Diversidade (exclusão e
inclusão social, étnica e de gênero).(2004)

- O serviço Social e a Questão Étnico-


racial: um estudo de sua relação com os
usuários negros (2003)

- Ventres Livres: o aborto numa


perspectiva étnica e de gênero (2002)

- Artigos, capítulos de livro, conferências,


textos em jornais, assessorias, cursos,
produções técnicas diversas.
O SERVIÇO SOCIAL O LIVRO
E A QUESTÃO - Originalmente um TCC - PUC Campinas 1986

ÉTNICO-RACIAL: - Publicado após 17 anos - 2003

UM ESTUDO DE - Ainda no período da publicação do livro, apesar


do crescimento das produções da área não houve
SUA RELAÇÃO a incorporação da dimensão étnico-racial

COM OS - 44% de população não-branca no período; hoje

USUÁRIOS 54%

NEGROS (2003) - hipótese da autora: desde sua criação, a


profissão tem sido "legitimadora dos mecanismos
de alienação e construção de uma consciência
étnica negativa dessa população."(p.97)
Capítulo I. Capítulo II. Capítulo III.
O Serviço Social A Questão Étnico- Considerações
como Prática Racial: decifrando Metodológicas
Social: breve conceitos,
retrospectiva demarcando
histórica desigualdades
Principais correntes teóricas:

A trajetória intelectual da Fatores considerados na pesquisa: (i)


- SS Tradicional ou de ajustamento
questão étnico-racial no a ideologia étnico-racial do
social: dec. 1930/1960 profissional e (ii) a formação
Brasil
- Fase de Transformação social ou de profissional
Reconceituação: a partir dos anos 1960 instrumental - questionário p/ AS e
Números que revelam as
O lugar do negro nas instituições sociais usuários
desigualdades
- Brasil Colônia: proteção social - família categorias p/ identificar visão dos
e Igreja A visão da memória negra usuários negros e ASs: 1) A questão
- Assistência à população negra: étnico-racial no Brasil; 2) O
irmandades e cofrarias negras relacionamento entre profissional e
- A Igreja Católica usuários negros; 3) participação dos
A Formação do Assistente Social usuários negros em grupos de mov.
negro; 4) A política social
- A experiência da autora
Capítulo IV. Capítulo V. Capítulo VI.
O assistente O relacionamento A formação
social e os entre o assistente profissional do
usuários negros social e os assistente social
diante da questão usuários negros
étnico-racial no
Brasil
Relacionamento AS - usuário negro Principais vertentes que nortearam o
- "círculo prático" do racismo (DUSSEL,
-culpabilização do negro; falta de higiene; atuam SS (João B.G. Pinto - 1993)
1982)
de forma a acomodar, assimilar ou conformar; não - A uniformização : paradigma teórico
identificam discriminação entre pobres (redução único; dogmatismo
- quadro explicativo da moral brasileira
ao viés econômico/ de classe) - O ecletismo : colcha de retalhos ou
- nas palavras de Clóvis Moura -visão do profissional: corrobora o minestrone
"verbalização democrática, anti-racista, descompromisso da profissão com a questão - O pluralismo: visão epistemológica e
que convive com um comportamento étnico-racial; desconhecem o tema; já atenderam teoricamente coerente
preconceituoso."(p.118) pessoas vítimas de preconceito racial; - O caos: não há clareza dos campos ou
Visão dos usuários negros sobre relacionamento paradigmas teóricos
- Análise das respostas - visões: com AS
- percebe o AS como fiscalizador e controlador
- dos Assistentes Sociais: crença na - limitações na formação profissional
- representante institucional, que executa a
igualdade e em oportunidades sociais, política
resultando na negação da existência de - Visão do AS sobre a formação
- relacionamento considerado satisfatório, om
qualquer problema. Moral Cristã. educação e humanidade, mas há tratamento profissional e a questão étnico-racial
dos usuários negros: moral cristã - para diferenciado entre negros e brancos (1986)
aceitar os problemas enfrentados pelo - comportamento para receber bom tratamento:
humildade, simpatia e poucos questionamentos - Produção teórica em 1986
estigma da cor.
Capítulo VII. Capítulo VIII.
Os usuários negros: A política social, o
a relação com Conclusões
assistente social e
outros negros e os usuários negros
com grupos
organizados

- Reflexões sobre as políticas sociais - ideologia da democracia racial (moral
O Assistente Social é visto como específica brasileira para pensar conflitos
- Os microgrupos étnicos
"mediador na relação Estado x setores étnicos) ao "credo norte-americano" - dilema
excluídos"; americano: liberdade, igualdade, justiça e
- Pilares da formação de As políticas Sociais são caracterizadas a oportunidade para todos;
microgrupos étnicos: cor da pele, partir do Neoliberalismo: prioriza o - Não reconhecimento do racismo no país;
posição social e sistema de quantitativo em detrimento do qualitativa - Formação nitidamente eclética; falta de
valores. que ela caracteriza como cultura, etnia. clareza para pensar as políticas sociais,
Existência de legislações para proposta político-pedagógica do currículo
- A visão dos usuários negros o embranquecimento: esterilização de não apresentava avanços na questão étnico-
mulheres negras racial;
sobre o "outro negro"
- A visão do assistente social sobre a - Processo de alienação e negação
política social para o negro - Proposta para o SS
- Usuários negros e sua atuação "tocar no assunto é racismo" é - criar uma nova linguagem e difundi-la no
em grupos de movimento negro incomodo. espaço acadêmico, nas instituições e no
- A visão dos usuários negros sobre a trabalho junto aos movimentos sociais e
política social organizações
Reprodução da ideologia Branca, elitista - incluir as discussões étnico-raciais no
e racista que percebe o negro como currículo,
marginal e inferior.
CÓDIGO DE ÉTICA
DO/A ASSISTENTE
SOCIAL

Lei 8.662/93
d e Regulamentação da Profissão
I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes-autonomia, emancipação e plena expansão dos
CÓDIGO DE ÉTICA indivíduos sociais;
II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de

PRINCÍPIOS toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das
classes trabalhadoras;

FUNDAMENTAIS IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida;
V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure
universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como sua gestão democrática;
VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e
à discussão das diferenças;
VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual;
VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção
de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e
gênero;
IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que
partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as
trabalhadores/as;
X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
SDDA • 2020
orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física.
No banho
Queria a pele limpar
Apagar aquela cor suja
Esfregava com força para branca ficar.
Doía. Doía muito.
E doída seguia.
A cada dia. A cada banho.
A dor sob o chuveiro não era maior
Que a que sentia por dentro.
Cada olhar. Cada piada. Cada insulto.
Sujavam sua alma com o mais imundo racismo.
Voltava para casa querendo ir embora.
Daquele lugar. Daquele mundo. Daquela cor.
Ela não tinha culpa.
Por que eu?
Por que eu?
Por que eu?
Todo dia. Todo banho.
A mesma dor. Toda doída.
Pequena
Sob a água
Chorava sem lágrimas.
Hoje.
Grande.
Ainda chora. Ainda seca.
Mas também grita. Resiste. Luta.
E durante o banho não mais se esfrega.
Sob o cantar das águas do chuveiro
Ela dança consigo mesma.
Se acaricia. Se encobre. Se sente.
Acarinhando a própria pele
Que um dia foi maltratada.
Julgada mal lavada.
Mal amada.
Se banha.
Se ama. (Gisele Ramos - FALA PRETA)

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