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2 SÉRIE
ENSINO MÉDIO
Volume 2

FILOSOFIA
Ciências Humanas

CADERNO DO PROFESSOR
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

MATERIAL DE APOIO AO
CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CADERNO DO PROFESSOR

FILOSOFIA
ENSINO MÉDIO
2a SÉRIE
VOLUME 2

Nova edição

2014 - 2017

São Paulo
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Geraldo Alckmin
Vice-Governador
Guilherme Afif Domingos
Secretário da Educação
Herman Voorwald
Secretária-Adjunta
Cleide Bauab Eid Bochixio
Chefe de Gabinete
Fernando Padula Novaes
Subsecretária de Articulação Regional
Rosania Morales Morroni
Coordenadora da Escola de Formação e
Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP
Silvia Andrade da Cunha Galletta
Coordenadora de Gestão da
Educação Básica
Maria Elizabete da Costa
Coordenadora de Gestão de
Recursos Humanos
Cleide Bauab Eid Bochixio
Coordenadora de Informação,
Monitoramento e Avaliação
Educacional
Ione Cristina Ribeiro de Assunção
Coordenadora de Infraestrutura e
Serviços Escolares
Dione Whitehurst Di Pietro
Coordenadora de Orçamento e
Finanças
Claudia Chiaroni Afuso
Presidente da Fundação para o
Desenvolvimento da Educação – FDE
Barjas Negri
Senhoras e senhores docentes,

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo-
radores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que
permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula
de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com
os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor-
dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação
— Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste
programa, seus maiores esforços ao intensiàcar aç×es de avaliação e monitoramento da utilização
dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas aç×es
de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, àrma seu dever com a busca
por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso
do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb.

Enàm, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orien-
taç×es didático-pedagÓgicas e traz como base o conteÙdo do Currículo 0àcial do Estado de São
Paulo, que pode ser utilizado como complemento à .atriz Curricular. 0bservem que as atividades
ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias,
dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade
da sua escola e de seus alunos. 0 Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas
aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam
a construção do saber e a apropriação dos conteÙdos das disciplinas, além de permitir uma avalia-
ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodolÓgicas em sala de aula, objetivando a
diversiàcação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagÓgico.

Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu


trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar
e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua histÓria.

Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo.

Bom trabalho!

Herman Voorwald
Secretário da Educação do Estado de São Paulo
A NOVA EDIÇÃO
0s materiais de apoio à implementação f incorporar todas as atividades presentes
do Currículo do Estado de São Paulo nos Cadernos do Aluno, considerando
são oferecidos a gestores, professores e alunos também os textos e imagens, sempre que
da rede estadual de ensino desde 2008, quando possível na mesma ordem;
foram originalmente editados os Cadernos forientar possibilidades de extrapolação
do Professor. Desde então, novos materiais dos conteÙdos oferecidos nos Cadernos do
foram publicados, entre os quais os Cadernos Aluno, inclusive com sugestão de novas ati-
do Aluno, elaborados pela primeira vez vidades;
em 2009. f apresentar as respostas ou expectativas
de aprendizagem para cada atividade pre-
Na nova edição 2014-2017, os Cadernos do
sente nos Cadernos do Aluno – gabarito
Professor e do Aluno foram reestruturados para
que, nas demais ediç×es, esteve disponível
atender às sugest×es e demandas dos professo-
somente na internet.
res da rede estadual de ensino paulista, de modo
a ampliar as conex×es entre as orientaç×es ofe- Esse processo de compatibilização buscou
recidas aos docentes e o conjunto de atividades respeitar as características e especiàcidades de
propostas aos estudantes. Agora organizados cada disciplina, a àm de preservar a identidade
em dois volumes semestrais para cada série/ de cada área do saber e o movimento metodo-
ano do Ensino Fundamental – Anos Finais e lÓgico proposto. Assim, além de reproduzir as
série do Ensino Médio, esses materiais foram re- atividades conforme aparecem nos Cadernos
vistos de modo a ampliar a autonomia docente do Aluno, algumas disciplinas optaram por des-
no planejamento do trabalho com os conteÙdos crever a atividade e apresentar orientaç×es mais
e habilidades propostos no Currículo 0àcial detalhadas para sua aplicação, como também in-
de São Paulo e contribuir ainda mais com as cluir o ícone ou o nome da seção no Caderno do
aç×es em sala de aula, oferecendo novas orien- Professor (uma estratégia editorial para facilitar
taç×es para o desenvolvimento das Situaç×es de a identiàcação da orientação de cada atividade).
Aprendizagem.
A incorporação das respostas também res-
Para tanto, as diversas equipes curricula- peitou a natureza de cada disciplina. Por isso,
res da Coordenadoria de Gestão da Educação elas podem tanto ser apresentadas diretamente
Básica (CGEB) da Secretaria da Educação do apÓs as atividades reproduzidas nos Cadernos
Estado de São Paulo reorganizaram os Cader- do Professor quanto ao ànal dos Cadernos, no
nos do Professor, tendo em vista as seguintes Gabarito. Quando incluídas junto das ativida-
ànalidades des, elas aparecem destacadas.
Além dessas alteraç×es, os Cadernos do possibilitando que os conteÙdos do Currículo
Professor e do Aluno também foram anali- continuem a ser abordados de maneira prÓxi-
sados pelas equipes curriculares da CGEB ma ao cotidiano dos alunos e às necessidades
com o objetivo de atualizar dados, exemplos, de aprendizagem colocadas pelo mundo con-
situaç×es e imagens em todas as disciplinas, temporâneo.

Seções e ícones

Leitura e análise Aprendendo a


aprender
Para começo de Você aprendeu?
conversa

?
!

Pesquisa individual Lição de casa

O que penso Situated learning


sobre arte?

Learn to learn Pesquisa em grupo

Homework Roteiro de
experimentação

Pesquisa de Ação expressiva


campo
Para saber mais Apreciação
SUMÁRIO
Orientação sobre os conteúdos do volume 7

Situações de Aprendizagem 10

Situação de Aprendizagem 1 – 0 envelhecimento na sociedade contemporânea 10

Situação de Aprendizagem 2 – Filosofia e racismo 18

Situação de Aprendizagem  – Filosofia e as relaç×es de gênero 27

Situação de Aprendizagem 4 – Filosofia e educação 36

Situação de Aprendizagem 5 – Introdução à bioética 42

Situação de Aprendizagem 6 – A técnica 50

Situação de Aprendizagem 7 – A condição humana e a banalidade do mal 58

Quadro de conteúdos do Ensino Médio 65

Gabarito 66
Filosofia – 2a série – Volume 2

ORIENTAÇÃO SOBRE OS CONTEÚDOS DO VOLUME


Prezado Professor, debates que se formaram em torno do ensino
de Filosoàa e entre aqueles que comp×em os
0 segundo volume dos Cadernos do Profes- poderes pÙblicos em âmbito estadual e federal,
sor e do Aluno de Filosofia do material de o reconhecimento do ensino àlosÓàco como
apoio ao currículo do Estado de São Paulo, necessário para uma formação integral. Mas
prop×e um aprofundamento das reflex×es qual Filosoàa 0 Estado de São Paulo optou,
sobre ética iniciadas no primeiro volume. Nesse em seu currículo, por um ensino àlosÓàco em
sentido, o presente volume traz reáex×es sobre que a presença da tradição não conàgura um
os novos encaminhamentos da ética a partir ensino enciclopédico, mas a percepção de que
das mudanças que ocorreram no decorrer do as diferentes contribuiç×es dos distintos
século XX e que continuam no século XXI. momentos da histÓria da Filosoàa podem cola-
Tais mudanças, em muitos sentidos, converte- borar para uma reáexão mais aprofundada da
ram-se em estados de crise crise dos valores realidade cotidiana. 0 currículo de Filosoàa
morais, crise da razão, crise das formas de enfatiza a importância da reáexão sobre temas
produção e emprego, entre outras. A crise que e problemas para promover a argumentação
se instaura no mundo contemporâneo e que àlosÓàca naquilo que ela tem de fundamental,
perpassa todas as instituiç×es tradicionais pode ou seja, o questionamento sobre os valores em
ser entendida como espaço para a manifesta- vigência, sobre o signiàcado das coisas.
ção de liberdade, uma vez que as dÙvidas que
nos chegam sobre como viver bem no mundo 0 movimento de questionar, tal como é
atual nos remetem para novas possibilidades proposto por todos aqueles que comp×em a
de escolha até então inimagináveis. tradição àlosÓàca, nos mostra que a Filosoàa
não pode ser construída e entendida à parte do
Diante desse amplo e complexo cenário de que ocorre no mundo e em nossa sociedade e
mudanças e de dÙvidas, a Filosoàa como maté- que a atividade filosÓfica se alimenta do
ria escolar, mesmo em países com reconhecida mundo, dos sentimentos e dos movimentos que
tradição em ter Filosofia nos currículos da constituem a sociedade em que vivemos; foi
educação básica, encontrou também seu dessa forma que a Filosoàa, hoje tida como
momento de crise e, entendemos, a consequente tradicional, foi construída. Platão e AristÓteles
possibilidade de se atualizar. As rápidas e cons- são homens do seu tempo que pensaram a
tantes mudanças e a elevação dos valores vol- partir da sua realidade. 0 mesmo pode ser
tados para a esfera da produção e consumo, observado em tantos outros àlÓsofos, como
levaram diferentes sistemas educacionais a Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant e
questionar a relevância do ensino de Filosoàa mais recentemente Martin Heidegger, Hannah
para a formação básica dos estudantes no Arendt, Michel Foucault, Hans Jonas, entre
mundo contemporâneo. No Brasil, temos um outros. TrajetÓrias do pensamento rigoroso,
signiàcativo histÓrico nesse sentido. Sabemos radical e contextualizado, porque foram cons-
que o percurso para que a Filosoàa tivesse a sua truídas com a perspectiva de entender o seu
importância reconhecida foi tortuoso e sempre tempo, os problemas e as contradiç×es que
esbarrou na iutilidadeu da Filosoàa para os caracterizaram a vida humana a partir de um
atuais encaminhamentos da sociedade contem- determinado contexto. Dessa forma, entende-
porânea. Contudo, prevaleceu, nos círculos de mos que, para compreender o nosso tempo e

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contribuir para a histÓria da Filosofia (que mundo em que vivemos e que estamos cons-
entendemos, também se faz nas escolas), a truindo e o mundo que nos foi conàado pelas
reáexão do tipo àlosÓàca deve vincular-se às geraç×es passadas. Nesse contexto, professor,
diferentes linguagens e ciências, deve estar suas intervenç×es, a partir dos seus conhecimen-
atenta à materialidade que faz a nossa socie- tos e experiência, são fundamentais para que os
dade e ao imaginário que nos remete a medos, nossos alunos empreendam uma reáexão digna
desejos e projetos de futuro. É essa perspectiva dos problemas que se apresentam ao nosso
que se sobressai neste volume. Para além das tempo. 0s temas e as reáex×es exigidas neste
ricas contribuiç×es da tradição, o que podemos volume ainda são recentes como temas curricu-
pensar sobre o mundo contemporâneo Quais lares. São temas que, no contexto do constante
são os problemas que se abrem à nossa frente, áuxo de novos eventos, das reáex×es e produ-
mas sobre os quais, por vezes, não paramos ç×es acadêmicas e das atualizaç×es de informa-
para pensar E por que não pensamos sobre ç×es e legislação, oriundas da mídia e dos
esses problemas poderes pÙblicos, não podem ser atualizados a
contento. Nesse sentido, as Situaç×es de Apren-
dizagem propostas neste volume são como um
Conhecimentos priorizados cenário ou uma fotograàa que deve sempre ser
atualizada por você, professor. 0u seja, os con-
Neste volume, você encontrará, nas Situa- teÙdos deste volume, quando chegarem às esco-
ç×es de Aprendizagem, conteÙdos e propostas las, certamente, estarão sem alguma “recente”
de reáexão que abordam o mundo contempo- informação relevante e é por isso, professor, que
râneo e os sentimentos de injustiça que presen- repetimos que este Caderno, assim como qual-
ciamos ou que experimentamos. Nesse contexto, quer outro material de apoio didático, não pode
privilegiamos temas relativos ao envelhecimento ser utilizado adequadamente sem o seu plane-
da população, uma questão recente e da qual jamento, sem as suas constantes intervenç×es.
ainda não nos apropriamos devidamente como Somente a atenção e a constante atualização
sociedade. 0utro tema presente é o racismo, docente permitem a correta utilização deste e de
questão já conhecida e debatida em nossa socie- qualquer outro material.
dade, mas cujos acontecimentos no decorrer do
século XX e no século atual parecem renovar a
problemática. Quest×es relativas às relaç×es de Competências e habilidades
gênero, à inserção das mulheres nas esferas da
produção, do consumo e da participação polí- As Situaç×es de Aprendizagem, a partir dos
tica, fazem parte dos temas deste volume. 0 temas e dos problemas explorados, procuraram
presente volume contempla, ainda, uma reáexão priorizar competências e habilidades ligadas à
sobre a educação e demandas do mundo tecno- argumentação àlosÓàca. Nesse sentido, a estru-
lÓgico. Todos esses temas, organizados em sete tura das Situaç×es de Aprendizagem procura,
Situaç×es de Aprendizagem, perfazem uma de forma elementar, permitir aos alunos recons-
signiàcativa trajetÓria de se pensar o mundo truir racionalmente uma questão, compreender
contemporâneo com a possibilidade e, em mui- e tomar posição diante de eventos, conceitos e
tos sentidos, com a necessidade de dialogar com ideias “materializados” em textos. Essa recons-
a tradição, mas com a perspectiva de novos trução, mesmo que modesta, deve levar o aluno
padr×es de reáexão para as quest×es do nosso à crítica, com a perspectiva de dar nova signià-
tempo. Novos padr×es e atualização das ques- cação aos problemas da tradição àlosÓàca rela-
t×es se fazem necessárias devido ao alargamento cionados, principalmente, à realidade social,
da distância que tem se estabelecido entre o histÓrica e política no contexto atual.

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Filosofia – 2a série – Volume 2

Metodologia e estratégias niàcativo. Enàm, mesmo que a abordagem do


tema proposto no Caderno não seja adequada
Esse material tem como elemento central para algumas das suas turmas, ao elaborar
desencadeador das reflex×es filosÓficas as uma nova Situação de Aprendizagem, consi-
Situaç×es de Aprendizagem, cuja sequência dere o modelo e os pressupostos de sequência
didática apresenta diferentes momentos o didática apresentada neste material.
momento em que os alunos podem expor os
seus conhecimentos prévios sobre determi-
nado assunto, o de sensibilização sobre a Avaliação da aprendizagem
reflexão que será exigida, o de questiona-
mento, que tem o sentido de ampliar e apro- Reaàrmamos a indicação posta no primeiro
fundar a reáexão sobre o tema, as atividades volume deste Caderno, ou seja, procure estar
que permitem ao estudante adquirir certos sempre atento aos processos de aprendizagens
pré-requisitos para poder exercitar a sua prÓ- dos alunos, às necessidades, aos avanços e às
pria reflexão e, finalmente, o momento de diàculdades – e não apenas ao que o aluno apre-
avaliar. Todos esses momentos fazem parte de senta na prova bimestral. Procure não reduzir o
uma estratégia que, por meio de temas e pro- processo de avaliação a uma Ùnica prova ou
blemas dispostos nas disciplinas que comp×em atividade, pois a avaliação da aprendizagem
a Filosoàa e no arcabouço teÓrico acumulado como parte de um processo formativo deve ser
na histÓria da Filosoàa, pretende desenvolver constituída de diferentes atividades e estas
nos alunos habilidades e competências ligadas requerem do docente constante atenção e sem-
à argumentação. Essa estratégia deve ser con- pre um retorno para o estudante. No contexto
siderada diante da realidade que se apresenta deste volume, considere se os alunos, a partir do
a cada turma. As formas de sensibilizar ou de tema proposto, foram capazes de identificar
incentivar os estudantes a falar sobre o tema palavras centrais e seus signiàcados diante do
podem variar e, certamente, o professor sabe tema apresentado; se foram capazes de identià-
a melhor forma de sensibilizar seus alunos em car os problemas apresentados em cada Situa-
relação a algum tema. Essa consideração tam- ção de Aprendizagem; se ao ler um texto
bém cabe ao texto da tradição àlosÓàca esco- àlosÓàco, conseguiram identiàcar os conceitos
lhido para ampliar e aprofundar a reáexão e e a linha argumentativa do àlÓsofo; se foram
às atividades que visam exercitar a reconsti- capazes de, a partir desse contato, reconhecer a
tuição da questão proposta e, dessa forma, a relevância do problema e da contribuição da
análise e a crítica. Todas as sugest×es de sen- tradição àlosÓàca; se foram capazes de identià-
sibilização, textos, exercícios e avaliação pro- car o problema proposto como um problema
postos neste Caderno são referenciais que atual, da sua realidade e, ànalmente, até que
devem ser avaliados por você mediante as ponto eles conseguiram avançar para uma reáe-
condiç×es apresentadas pelas turmas. Con- xão e argumentação do tipo àlosÓàca.
tudo, considere sempre a importância de uma
sequência didática para preservar os pressu- Por àm, dentro desse pequeno espaço que
postos de uma educação democrática, no que nos cabe no planejamento das suas aulas,
se refere aos momentos de sensibilização, de esperamos contribuir para o fortalecimento,
manifestação dos alunos acerca dos seus cada vez mais necessário, do conteÙdo das
conhecimentos prévios. Atente para os docu- aulas de Filosoàa na rede pÙblica do Estado
mentos norteadores do ensino desta disci- de São Paulo.
plina, que enfatizam a necessidade de se
trabalhar com textos àlosÓàcos de modo sig- Bom trabalho!

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SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 1
0 EN7E-HECIMENT0
NA S0CIEDADE C0NTEMP0R§NEA

Esta Situação de Aprendizagem tem o obje- lação. Nesse contexto, podemos pensar no
tivo de provocar uma reáexão sobre como as processo de envelhecimento da população e em
políticas pÙblicas podem contribuir para dimi- como as pessoas que envelhecem sofrem com
nuir as diferentes situaç×es de violência que a falta de recursos e tratamentos adequados à
ferem o princípio de dignidade humana. sua condição. Mas não podemos nos esquecer
das aç×es, que mesmo tímidas e ainda insuà-
É fato que a eàcácia de determinadas polí- cientes, permitem de certa maneira superar
ticas pÙblicas pode ser contestada pelas condi- situaç×es que contrariam a perspectiva de um
ç×es adversas que encontramos em nosso envelhecimento digno.
cotidiano, nas diversas situaç×es de áagrante
desrespeito ao princípio de dignidade humana, Nesse sentido, esta Situação de aprendiza-
muitas vezes gerada pelos poderes instituídos gem é um convite para pensar o envelheci-
ou, então, quando o poder pÙblico deixa de mento, a forma como temos lidado com a
intervir. Contudo, não podemos negar alguns condição da velhice e como as políticas pÙbli-
avanços no âmbito de políticas que visam pro- cas podem promover uma relação mais digna
piciar um tratamento mais adequado à popu- com essa fase da vida.

Conteúdos e temas: velhice; estatuto do idoso; burocratização da vida.


Competências e habilidades: construir argumentação consistente e elaborar propostas para inter-
venção solidária na realidade, respeitando valores humanos; analisar a condição de envelhecimento
na sociedade contemporânea.
Sugestão de estratégias: exercícios de reáexão, escrita e leitura.
Sugestão de recursos: textos disponíveis nos Cadernos e outros textos que o professor julgar adequados
e pertinentes.
Sugestão de avaliação: pesquisas, quest×es de compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas
e outros trabalhos que o professor julgar pertinentes e adequados.

Sondagem e sensibilização – Ouvir idosa? As pessoas idosas demandam um tra-


e dialogar tamento especial?

Sugerimos uma indagação nesta etapa da Essas quest×es podem fomentar um debate
sensibilização Em que momento considera- sobre o processo de envelhecimento, pelo qual
mos uma pessoa idosa? De que modo trata- todos nÓs passamos ou passaremos ao longo
mos uma pessoa quando a consideramos da vida.

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Filosofia – 2a série – Volume 2

Nesse debate, os alunos devem expor seus Ler e dialogar – Velhice e humilhação
conhecimentos e suas impress×es sobre os pro- social
cessos de envelhecimento e suas consequências
para a vida das pessoas. Agora que você trabalhou com os alu-
nos algumas reáex×es sobre a velhice,
Em seguida ao debate, você pode convidar você pode fazer a leitura do texto
os alunos a pesquisar em dicionários de -íngua reproduzido a seguir e na seção -eitura e aná-
Portuguesa os signiàcados das palavras idoso lise de texto do Caderno do Aluno, bem como
e velho. solicitar a realização das atividades a ele rela-
cionadas. No excerto destacado, são feitas con-
Com base nos resultados da pesquisa, será sideraç×es sobre as situaç×es de humilhação
possível iniciar uma reáexão e uma discussão existentes em nossa sociedade. A intenção é
sobre os sentidos dessas palavras, seus usos fomentar uma reáexão sobre tais situaç×es de
característicos e o preconceito que pode advir humilhação social para, na prÓxima etapa, tratar
delas. propriamente a questão do envelhecimento.

Humilhação social
A humilhação é uma modalidade de angÙstia que se dispara a partir do enigma da desigualdade
de classes. AngÙstia que os pobres conhecem bem e que, entre eles, inscreve-se no nÙcleo de sua sub-
missão. 0s pobres sofrem frequentemente o impacto dos maus-tratos. Psicologicamente, sofrem
continuamente o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa “vocês são inferiores”. E o que é
profundamente grave a mensagem passa a ser esperada, mesmo nas circunstâncias em que, para nÓs
outros, observadores externos, não pareceria razoável esperá-la. Para os pobres, a humilhação ou é
uma realidade em ato ou é frequentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-
-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. 0 sentimento de não possuírem direitos,
de parecerem desprezíveis e repugnantes, torna-se-lhes compulsivo movem-se e falam, quando falam,
como seres que ninguém vê.
G0NÇA-7ES FI-H0, José M. Humilhação social um problema político em Psicologia. Psicologia USP, São Paulo, v. 9,
n. 2, 1998. Disponível em http//XXX.scielo.br/scielo.php scriptsci@arttextpidS0103-65641998000200002lngptnrmiso.
Acesso em 2 dez. 2013.

1. 0 sentimento de humilhação limita-se às 4. Há momentos em que as instituiç×es e o


situaç×es de desigualdade social poder pÙblico humilham as pessoas (por
exemplo àlas, mau atendimento médico-
2. Dê um exemplo de situação de humi- -hospitalar, impunidade diante de práti-
lhação vivenciada por você ou outra cas de exclusão etc.). Como as instituiç×es
pessoa. Qual é a principal causa para o deveriam funcionar para evitar que as pes-
sentimento de humilhação no exemplo soas passem por situaç×es desse tipo
destacado
Para um melhor entendimento do tema, suge-
3. 7ocê acredita que àngir que não tem rimos ter em mãos uma breve biografia de
importância ou agir violentamente resolve Simone de Beauvoir. Procure apresentar aos
o sentimento de humilhação Por quê alunos as ideias dessa pensadora, usando, espe-

11
cialmente, o livro A velhice (5. ed. Tradução proporcionar a rapidez no atendimento, será que
Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro é também suficiente para garantir segurança,
Nova Fronteira, 2003). -embramos que a relação conforto e atenção 0utro exemplo é a gratui-
entre velhice e humilhação pode ser tratada por dade no transporte coletivo, mas quem viaja de
meio de outras referências que você queira apre- Ônibus sabe que, muitas vezes, suas condiç×es
sentar aos alunos. não são adequadas para transportar quem tem
um corpo frágil.
Simone de Beauvoir procurou reáetir sobre
a exclusão dos idosos em sua sociedade, mas do Além do desamparo quanto às condiç×es
ponto de vista de quem sabia que iria se tornar materiais, a desconsideração para com opini×es
um deles, como quem pensava o prÓprio des- e emoç×es dos idosos também deve ser analisada
tino. Para ela, um dos problemas da sociedade para a superação das condiç×es de humilhação
capitalista está no fato de que cada indivíduo sofrida por eles em nossa sociedade.
percebe as outras pessoas como meio para a
realização de suas necessidades proteção, No texto A velhice, Simone de Beauvoir escreveu
riqueza, prazer, dominação, pouco compreen- que o idoso é uma espécie de objeto incômodo,
dendo e valorizando as necessidades alheias. inÙtil, e quase tudo que se deseja é poder tratá-lo
como quantia desprezível. Essa aàrmação pode ser
Esse processo aparece com nitidez em nossa apresentada aos alunos para motivar um debate
relação com os idosos. Em seu livro, a pensa- sobre as situaç×es em que os idosos são expostos
dora demonstra que há uma duplicidade nas indevidamente, em postos de saÙde, hospitais, ins-
relaç×es que os mais jovens têm com os idosos, tituiç×es ànanceiras, supermercados ou no trans-
uma vez que, na maioria das vezes, mesmo porte pÙblico. Nesse momento, você poderá tecer
sendo respeitado por sua condição de pai ou de consideraç×es e fomentar o debate sobre o que os
mãe, trata-se o idoso como uma espécie de ser alunos pensam ser correto no que se refere ao tra-
inferior, tirando dele suas responsabilidades ou tamento ao idoso e sobre qual é o tratamento que
encarando-o como culpado por sobrecarga de efetivamente dispensamos ao idoso em nosso coti-
compromissos que imputa a àlhos ou netos. diano, seja no ambiente familiar ou nos locais
pÙblicos. Será que o nosso discurso é compatível
Mesmo em situaç×es de proteção ao idoso, com as nossas aç×es É possível que, mesmo ado-
pode-se ter processos de humilhação quando, tando um discurso de respeito ao idoso, acabamos
sem a devida atenção sobre as reais condiç×es no dia a dia desrespeitando o direito preferencial
que apresentam para resolver com autonomia nas àlas, nos meios de transporte, ou mesmo tra-
seus problemas, os mais jovens passam a subes- tando a condição da pessoa idosa como uma
timá-los, assumindo tarefas em seu lugar. situação depreciativa, quando nas conversas usa-
mos os termos “velho” ou “velha” como forma de
Quando não se respeita uma pessoa em sua desvalorizar e menosprezar
integridade emocional, intelectual e material,
ela é excluída da sociedade pelos governos,
pelas instituiç×es, pelas famílias, pelas pessoas Ler e dialogar – A importância
em geral. E os que mais sofrem com isso são das políticas públicas para a
as crianças e os idosos. consolidação da democracia
Em vários lugares, como bancos e supermer- 0 idoso é ser humano, portanto, é cidadão,
cados, há caixas preferenciais para idosos, mas, merecedor de direitos sociais. Contudo, foi
mesmo que essa iniciativa seja suàciente para necessária a elaboração de um documento que

12
Filosofia – 2a série – Volume 2

detalhasse sua condição de cidadão com direitos 0s direitos pronunciados no Estatuto, no


assegurados – o Estatuto do Idoso –, já que, entanto, sÓ podem se converter em realidade
historicamente, não os temos tratado com a na medida em que conhecemos este docu-
devida dignidade. mento, reconhecemos seu significado e sua
importância e o colocamos em prática.
0 Estatuto do Idoso é um marco na constru-
ção de uma política pÙblica voltada para as -eia com os alunos um trecho do Esta-
pessoas que envelhecem, ou seja, que têm suas tuto do Idoso e o excerto do artigo
vidas modificadas pela passagem dos anos. “Envelhecer com dignidade”. Em
Segundo Márcia Cristina de 0liveiraa, docu- seguida, para enriquecer a reáexão, você poderá
mentos como o Estatuto do Idoso marcam um acrescentar as informaç×es relativas ao peràl da
processo de qualiàcação da nossa democracia, população idosa no Brasil a partir dos dados da
pois promovem a ampliação dos direitos e per- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
mitem o crescente reconhecimento por parte da 2011 (Pnad 2011). 0s três textos estão disponí-
sociedade de que as diferenças e as especiàcida- veis a seguir e na seção -eitura e análise de texto
des dos diversos grupos sociais devem ser reco- do Caderno do Aluno, bem como a atividade
nhecidas e respeitadas. que o segue.

Texto 1 – Estatuto do Idoso


T±TU-0 I
Disposiç×es Preliminares
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 2º 0 idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta -ei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saÙde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual, espiritual e social, em condiç×es de liberdade e dignidade.
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder PÙblico assegurar ao
idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saÙde, à alimentação, à educação, à
cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convi-
vência familiar e comunitária.
Parágrafo Ùnico. A garantia de prioridade compreende
I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos Órgãos pÙblicos e privados
prestadores de serviços à população;
II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais pÙblicas específicas;
III – destinação privilegiada de recursos pÙblicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso;
I7 – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais
geraç×es;

a
0-I7EIRA, Márcia C. Envelhecer com dignidade sentidos de uma cidadania possível. In Revista dos direitos da pessoa idosa compromisso de
todos por um envelhecimento digno no Brasil. Edição especial. p. 32. Presidência da RepÙblica; Secretaria de Direitos Humanos Brasília/ DF,
2011. Disponível em http//portal.mj.gov.br/sedh/3cndpi/doc/Revista@DireitosPessoa@Idosa.pdf. Acesso em 23 abr. 2014.

13
7 – priorização do atendimento do idoso por sua prÓpria família, em detrimento do atendimento asilar,
exceto dos que não a possuam ou careçam de condiç×es de manutenção da prÓpria sobrevivência;
7I – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na pres-
tação de serviços aos idosos;
7II – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informaç×es de caráter educativo
sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;
7III – garantia de acesso à rede de serviços de saÙde e de assistência social locais.
IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela -ei nº 11.765, de 2008).
Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade
ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
[...]
CAP±TU-0 I7
Do Direito à SaÙde
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saÙde do idoso, por intermédio do Sistema ¼nico de
SaÙde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das
aç×es e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saÙde, incluindo a atenção
especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
[...]
f 2º Incumbe ao Poder PÙblico fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente
os de uso continuado, assim como prÓteses, Órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habili-
tação ou reabilitação.
f 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saÙde pela cobrança de valores diferenciados
em razão da idade.
[...]
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o
Órgão de saÙde proporcionar as condiç×es adequadas para a sua permanência em tempo integral,
segundo o critério médico.
[...]
CAP±TU-0 X
Do Transporte
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes
coletivos pÙblicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados
paralelamente aos serviços regulares.
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça
prova de sua idade.
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por
cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencial-
mente para idosos.
[...]
T±TU-0 7
Do Acesso à Justiça

14
Filosofia – 2a série – Volume 2

CAP±TU-0 I
Disposiç×es Gerais
[...]
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos
atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
[...]
§ 3º A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração PÙblica, empresas
prestadoras de serviços pÙblicos e instituiç×es financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defen-
soria PÙblica da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência
Judiciária.
§ 4º Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas,
identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis.
[...]
BRASI-. Estatuto do Idoso. -ei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.
Disponível em http//XXX.planalto.gov.br/ccivil@03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em 3 dez. 2013.

Texto 2 – Envelhecer com dignidade

Podemos afirmar, portanto, que já possuímos um conjunto de estudos, leis e instituiç×es capazes de
imprimir a mudança necessária em nossas sociedades naquilo que tange a compreensão do que seja viver
e conviver em contextos nos quais ser idoso/envelhecer não pode significar abandono, doença, pobreza.
Envelhecer não pode significar perda de direitos, mas a incondicional reafirmação dos mesmos.
0-I7EIRA, Márcia C. Envelhecer com dignidade sentidos de uma cidadania possível. In Revista dos direitos da
pessoa idosa compromisso de todos por um envelhecimento digno no Brasil. Edição especial.
p. 32. Presidência da RepÙblica; Secretaria de Direitos Humanos Brasília/DF, 2011. Disponível em
http//portal.mj.gov.br/sedh/3cndpi/doc/Revista@DireitosPessoa@Idosa.pdf. Acesso em 23 abr. 2014.

Texto 3 – Peràl da população idosa no Brasil

Ao analisar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2011 (Pnad/IBGE), a


Secretaria de Políticas de Previdência Social constatou que 82,1% dos idosos brasileiros estão prote-
gidos pela Previdência Social brasileira contra 81,73% em 2009.

Isso representa 19,3 milh×es de pessoas com 60 anos ou mais, cerca de 1,6 milh×es a mais do que
o registrado na Ùltima Pnad. No caso dos homens dessa faixa etária, a proteção chega a 86,7% (9,01
milh×es) e para as mulheres idosas, o percentual de cobertura chega a 78,6% (10,3 milh×es).

A maior parte dos idosos protegidos recebia aposentadoria, grupo em que preponderavam os
homens. 0s homens também eram maioria entre os não beneficiários que contribuíam para a
Previdência Social, fato explicado, principalmente, por se depararem com requisitos mais eleva-
dos de idade e tempo de contribuição para o requerimento de aposentadorias.

15
Dentre os pensionistas e beneficiários que acumulavam pensão e aposentadoria, prevaleciam
as mulheres, que em média possuem expectativa de vida mais elevada e tendem a mais frequen-
temente usufruir de pens×es deixadas por seus cônjuges.
Linha da pobreza- 0 impacto das transferências previdenciárias sobre a pobreza se concentra
na população idosa, tendo em vista o foco da Previdência Social na garantia de renda para o
trabalhador em idade avançada. Muito embora a redução da pobreza decorrente da expansão da
Previdência seja percebida em todas as faixas etárias, a renda previdenciária favorece, sobretudo,
aqueles com idade superior aos 55 anos – a partir dessa idade nota-se uma significativa expansão
da diferença entre o percentual de pobres com e sem as transferências previdenciárias.
Portanto, a pobreza diminui com o aumento da idade, chegando ao limite inferior de 10%
para a população com 70 anos de idade ou mais. Caso as transferências previdenciárias deixassem
de ser realizadas, haveria um ponto a partir do qual a pobreza voltaria a aumentar, chegando a
quase 70% para a população com idade acima de 70 anos.
0 estudo também revela que o pagamento de benefícios previdenciários impediu que 23.708.229
de brasileiros, de todas as faixas etárias, ficassem abaixo da linha da pobreza. Sem os repasses da
Previdência Social a quantidade de pobres seria de 74,97 milh×es de indivíduos – redução de 12,8
pontos percentuais na taxa de pobreza. Considerando como condição de pobreza o rendimento
domiciliar per capita inferior a meio salário mínimo, estima-se em 51,26 milh×es a quantidade de
pessoas em condição de pobreza em 2011 (considerando rendas de todas as fontes).
Caso não houvesse esse mecanismo de proteção social, o percentual de pessoas pobres, aos 50
anos, chegaria a 30% e, no caso de brasileiros com 70 anos de idade, superaria a 65%. Com base
nos dados, verifica-se que o sistema previdenciário brasileiro consegue fazer com que a taxa de
pobreza entre os idosos seja cerca de três vezes inferior à taxa média da população. 0s segurados
com 70 anos ou mais, por exemplo, estão abaixo de 10% da linha de pobreza estimada.
[...]
B-0G da Previdência Social. PNAD 2011 avança cobertura previdenciária entre idosos.
Disponível em http//blog.previdencia.gov.br/ p4603. Acesso em 17 dez. 2013.

Depois da leitura e das suas consideraç×es, negar, entretanto, que a terceira idade já se cons-
você poderá pedir aos alunos que produzam um titui como preocupação para autoridades e para
texto reflexivo sobre a condição do idoso em toda a sociedade e conta com legislação que
nossa sociedade considerando as reáex×es sobre favorece sua luta pela conquista de direitos.
as ideias de Simone de Beauvoir, sintetizadas
anteriormente, e o fragmento de José Moura
Gonçalves Filho, apresentado no início desta Avaliação da Situação de
Situação de Aprendizagem. Nesse texto, os alu- Aprendizagem
nos devem considerar as condiç×es objetivas,
vividas por aqueles que envelhecem, e o que é Para avaliação desta Situação de Aprendi-
assegurado formalmente pelo Estatuto do Idoso. zagem, sugerimos as quest×es a seguir, que
podem ser respondidas individualmente e em
Finalizamos a Situação de Aprendizagem, folha avulsa, para que você possa analisar.
mas não o assunto, que é muito rico e complexo,
com a consciência de que as políticas de saÙde 1. Com base nos trechos apresentados do
e renda ainda deixam a desejar. Não se pode Estatuto do Idoso, responda 7ocê já pre-

16
Filosofia – 2a série – Volume 2

senciou algum desrespeito ao que está dis- de aula desta Situação de Aprendizagem. Além
posto no documento disso, podem pesquisar sobre o tema na biblio-
Resposta aberta, que depende das experiências do aluno e teca ou internet para então produzir sua síntese
da sua postura observadora das cenas do cotidiano. Contudo, motivada pelas quest×es
espera-se que ele tenha condições de relacionar o texto do
Estatuto com as condições concretas enfrentadas pelos ido- f Quais são as principais situaç×es de humi-
sos no dia a dia. lhação sofridas por idosos em nossa socie-
dade e quais as políticas pÙblicas que já
2. Com base nos artigos que você leu do Esta- existem e colaboram para a superação de
tuto do Idoso, quais deles você entende que tais situaç×es 0 que ainda precisa ser
estão em vigor atualmente aperfeiçoado em termos de atendimento
Resposta aberta, que depende das experiências do aluno e ao idoso
de sua postura observadora das cenas do cotidiano. Con-
tudo, espera-se que ele tenha condições de relacionar,
por exemplo, as placas de assento preferencial no trans- Recursos para ampliar a perspectiva
porte público e os avisos de atendimento preferencial em do professor e do aluno para a
filas e em outros locais, como formas de procurar atender compreensão do tema
alguns pontos do Estatuto; e que, no entanto, tais indica-
ções não são suficientes para o atendimento do que está Livros
posto no Estatuto.
BEAU70IR, Simone. A velhice. 5. ed. Tradu-
3. A constatação da falta de acesso a direitos ção Maria Helena Franco Monteiro. Rio de
sociais pode trazer que tipo de sensação Janeiro Nova Fronteira, 2003.
A humilhação é uma das sensações que podem advir da
constatação da falta de acesso a direitos sociais. Essas situa- CACHI0NI, Meire; NERI, Anita -iberalesso;
ções provocam a sensação, naqueles que a sofrem, de serem 70N SIMS0N, 0lga R.M. As múltiplas faces
repugnantes e desprezíveis. Ou seja, que estão à parte da vida da velhice no Brasil. Campinas, SP Alinea Edi-
em sociedade, que não são desejados ou que podem ser tora, 2008. (Coleção velhice e sociedade).
facilmente descartados como coisas sem utilidade.
Sites
Professor, no Caderno do Aluno,
na seção 7ocê aprendeu , foi pro- ID0S0 no Brasil. Disponível em http//
posta a redação de um texto reáe- XXX2.sescsp.org.br/sesc/hotsites/pesquisa
xivo sobre o envelhecimento. 7ocê pode idosos2007/prefacio.asp. Acesso em 2 dez.
aproveitá-lo para compor a avaliação, se acre- 2013. Este site apresenta uma pesquisa atual
ditar que é pertinente. Nesse caso, você poderá sobre idosos no Brasil realizada pela Funda-
pedir aos alunos que façam a atividade pro- ção Perseu Abramo em parceria com o Sesc.
posta em folha avulsa.
RE7ISTA dos direitos da pessoa idosa com-
promisso de todos por um envelhecimento
Proposta de situação de recuperação digno no Brasil. Edição especial. Presidência
da RepÙblica; Secretaria de Direitos Huma-
Caso alguns alunos apresentem diàculdades nos Brasília/DF, 2011. Disponível em
para elaborar as reáex×es solicitadas, podem http//portal.mj.gov.br/sedh/3cndpi/doc/
contar com mais tempo para realizarem, pela Revista@DireitosPessoa@Idosa.pdf. Acesso
segunda vez, as leituras dos textos e das notas em 23 abr. 2014.

17
SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 2
FI-0S0FIA E RACISM0

0 objetivo desta Situação de Aprendizagem destacaremos a posição de Michel Foucault


é estabelecer uma discussão sobre o racismo. Em sobre o racismo como resultado de uma bio-
um primeiro momento, veremos, a partir do política. Propomos, ainda, que o aluno tome
fragmento de um artigo de 0ctavio Ianni, algu- contato com o texto do sociÓlogo Jair Batista
mas consideraç×es sobre como o racismo tem se da Silva, que considera a especificidade da
manifestado na nossa sociedade; em seguida, realidade brasileira em relação ao racismo.

Conteúdos e temas: racismo; racismo no Brasil.

Competências e habilidades: construir argumentação consistente sobre a superação de preconceitos;


analisar a importância dos valores éticos na reáexão sobre racismo; reconhecer e questionar
práticas racistas.

Sugestão de estratégias: exercícios de reáexão, escrita e leitura de textos.

Sugestão de recursos: textos disponíveis nos Cadernos e outros textos que o professor julgar adequados
e pertinentes para o tratamento do tema.

Sugestão de avaliação: pesquisas, quest×es de compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas


e outros trabalhos que o professor julgar pertinentes e adequados.

Sondagem e sensibilização – Ouvir e textos propostos para essa reáexão possibilitem


dialogar a revisão e/ou aprofundamento do entendimento
do que é o racismo e de como ele se manifesta na
Professor, para iniciar a reflexão proposta nossa sociedade, bem como de suas consequên-
para esta Situação de Aprendizagem, sugerimos cias; com isso, esperamos atualizar o debate
a seguinte questão O que é racismo? Certamente, sobre o assunto.
os alunos têm uma ideia geral sobre as principais
características do racismo e de como ele se mani-
festa em nossa sociedade. Fazer o aluno pensar Ler e dialogar – O que é racismo
sobre o tema e expor o conhecimento prévio que
ele tem do assunto é fundamental. Entendemos ApÓs essa primeira exploração do
que a resposta a essa questão pode desencadear tema, sugerimos a leitura do frag-
uma discussão para introduzir o tema. Depois mento do artigo “A racialização do
dessa primeira abordagem, você pode pedir para mundo”, de 0ctavio Ianni, reproduzido a
os alunos redigirem, com suas prÓprias palavras, seguir e no Caderno do Aluno na seção -eitura
uma deànição de racismo. Essa primeira deàni- e análise de texto. Esse fragmento servirá de
ção deverá ser revisitada no ànal desta Situação base para a problematização da presença do
de Aprendizagem para ser reelaborada a partir racismo em nossa sociedade e tem sentido de
do que for tratado. Esperamos que, ao ànal, os auxiliar na compreensão do tema.

18
Filosofia – 2a série – Volume 2

A racialização do mundo
0 século XX pode ser visto como um vasto cenário de problemas raciais. São problemas inseridos
mais ou menos profundamente nas guerras e revoluç×es, nas lutas pela descolonização, nos ciclos de
expansão e recessão das economias, nos movimentos de mercado da força de trabalho, nas migraç×es, nas
peregrinaç×es religiosas e nas incurs×es e tropelias turísticas, entre outras características mais ou menos
notáveis da forma pela qual o século XX pode ser visto, em perspectiva geo-histÓrica ampla. São proble-
mas raciais que emergem e desenvolvem no jogo das forças sociais, conforme se movimentam em escala
local, nacional, regional e mundial. Ainda que muitas vezes esses problemas pareçam Ùnicos e exclusivos,
como se fossem apenas ou principalmente “étnicos” ou “raciais”, a realidade é que emergem e desenvolvem
no jogo das forças sociais, compreendendo implicaç×es econômicas, políticas e culturais.
[...]
No século XX tem ocorrido várias ondas de racialização do mundo. Tanto a primeira e a segunda
grandes guerras mundiais, como a guerra fria, são épocas de intensa e generalizada racialização das
relaç×es entre coletividades, tribos, povos, naç×es ou nacionalidades. Na medida em que as guerras
mesclam-se e desdobram-se em revoluç×es nacionais ou revoluç×es sociais, tornam-se ainda mais acen-
tuadas as desigualdades, divergências e tens×es que alimentam os preconceitos, as intolerâncias, as
xenofobias, os etnicismos ou os racismos. Ao lado dos preconceitos de classe, casta e gênero, emergem
ou reaparecem os preconceitos raciais.
0corre que “raça”, ao lado de “casta”, “classe” e “nação”, tornou-se uma categoria frequentemente
utilizada para classificar indivíduos e coletividades, por meio da qual procura-se distinguir uns e
outros, nativos e estrangeiros, conhecidos e estranhos, naturais e exÓticos, amigos e inimigos. Essa é
uma histÓria antiga.
[...]
Começa principalmente com o mercantilismo, ou a acumulação originária, e desenvolve-se pelos
séculos seguintes, alcançando tribos, naç×es e nacionalidades. Em diferentes modalidades, conforme os
conquistadores europeus sejam portugueses, espanhÓis, holandeses, franceses, ingleses ou outros, as mais
diversas e distantes tribos, naç×es e nacionalidades foram sendo alcançadas, conquistadas, associadas,
subordinadas ou classificadas. Em alguns séculos, todo o mundo foi desenhado e todos os povos classi-
ficados selvagens, bárbaros e civilizados, povos histÓricos e povos sem histÓria, naç×es industrializadas
e naç×es agrárias, modernas e arcaicas, desenvolvidas e subdesenvolvidas, centrais e periféricas.
[...]
Neste ponto cabe um esclarecimento indispensável, ainda que em forma breve. “Etnia” é o conceito
científico habitualmente utilizado para distinguir os indivíduos ou as coletividades por suas caracte-
rísticas fenotípicas; ao passo que “raça” é o conceito científico elaborado pela reflexão sobre a dinâ-
mica das relaç×es sociais, quando se manifestam estereÓtipos, intolerâncias, discriminaç×es, segregaç×es
ou ideologias raciais. A “raça” é construída socialmente no jogo das relaç×es sociais. São os indivíduos,
grupos ou coletividades que se definem reciprocamente como pertencente a “raças” distintas1.

[...]
Esse o contexto em que a 0rganização das Naç×es Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESC0) desenvolveu, a partir de 1948, todos os seus programas de debates e estudos sobre as
tens×es e os conflitos, tendo em vista a “compreensão internacional”, e destacando-se o programa de
estudos sobre as tens×es raciais. Em vários momentos a UNESC0 reuniu cientistas e pensadores,

1
Cf. Park (1950); Fernandes (1978); Banton (1979); Ianni (1988).

19
originários de diferentes países e inspirados em distintas perspectivas científicas e filosÓficas, de modo
a refletir sobre as tens×es raciais. As declaraç×es de 1950, 1951, 1964 e 1967 sintetizam muito bem a
preocupação com essa problemática e o empenho em diagnosticar e combater as manifestaç×es de
xenofobia, etnocentrismo, anti-semitismo e todas as formas de racismo, presentes e ativas em escala
local, nacional, regional e mundial1.
Note-se, no entanto, que as implicaç×es raciais das guerras e revoluç×es continuam a desenvolver-se
posteriormente, independentemente do desfecho das lutas travadas. 0s problemas raciais, com as suas
implicaç×es sociais, econômicas, políticas e culturais, continuam a desenvolver-se na ¦frica do Sul,
±ndia, Indonésia, Caribe e 0riente Médio, entre outras naç×es e regi×es. Também no -este Europeu,
na RÙssia, na China e no Japão, assim como nos Estados Unidos, Canadá e Europa 0cidental eles se
criam ou ressurgem. Na trama das relaç×es sociais, tanto se criam e recriam as diversidades e as
identidades como as desigualdades. A fábrica da sociedade, em níveis micro, macro e meta, produz
todo o tempo a modificação e a reiteração, a integração e a fragmentação, a complementaridade e a
antinomia ou a harmonia e a contradição.
[...]
2
Cf. Klineberg (1951); Cantril (1951); UNESC0 (1973); Bernard  Pear  Aron  Angell (1957).

IANNI, 0ctavio. A racialização do mundo. Tempo Social; Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 8, n. 1,
p. 1-23, maio de 1996. Disponível em http//XXX.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/
edicoes/v081/a@racializacao.pdf. Acesso em 3 dez. 2013.

Com base nesses recortes do texto Recomendamos, em seguida, dis-


proposto e conforme proposta da cutir as contribuiç×es de Michel
seção Pesquisa individual do Caderno Foucault para ampliar o debate
do Aluno, sugerimos uma pesquisa sobre os ter- sobre o tema. Antes de iniciar a leitura do
mos xenofobia, etnocentrismo e supremacismo texto reproduzido a seguir e na seção -ei-
branco e uma reáexão sobre como esses termos tura e análise de texto do Caderno do Aluno,
podem explicar certas situaç×es que acontecem recomendamos que fale um pouco desse
na sociedade contemporânea. Nessa pesquisa, os filÓsofo e contextualize sua obra. 0 frag-
alunos devem consultar os professores de HistÓ- mento que segue foi extraído de uma obra
ria, Geograàa e Sociologia para dar exemplos de que traz aulas dadas por Foucault no Collège
conáitos racistas no mundo contemporâneo. A de France. 0 trecho escolhido para enrique-
partir desses dados, os alunos devem compor um cer o estudo desse tema faz parte da aula
texto sobre as ocorrências de racismo em conái- dada no dia 17 de março de 1976 e trata do
tos atuais. racismo moderno.

Que é o racismo?
[...] Com efeito, que é o racismo É, primeiro, o meio de introduzir afinal, nesse domínio da vida
de que o poder se incumbiu, um corte o corte entre o que deve viver e o que deve morrer. No contínuo
biolÓgico da espécie humana, o aparecimento das raças, a distinção das raças, a hierarquia das raças,
a qualificação de certas raças como boas e de outras, ao contrário, como inferiores, tudo isso vai ser
uma maneira de fragmentar esse campo do biolÓgico de que o poder se incumbiu; uma maneira de
defasar, no interior da população, uns grupos em relação aos outros. Em resumo, de estabelecer uma
cesura que será do tipo biolÓgico no interior de um domínio considerado como sendo precisamente

20
Filosofia – 2a série – Volume 2

um domínio biolÓgico. Isso vai permitir ao poder tratar uma população como uma mistura de raças,
ou, mais exatamente, tratar a espécie, subdividir a espécie de que ele se incumbiu em subgrupos que
serão, precisamente, raças. Essa é a primeira função do racismo fragmentar, fazer cesura no interior
desse contínuo biolÓgico a que se dirige o biopoder.
De outro lado, o racismo terá sua segunda função [...] o racismo vai permitir estabelecer, entre a minha
vida e a morte do outro, uma relação que não é uma relação militar e guerreira de enfrentamento, mas
uma relação do tipo biolÓgico “quanto mais as espécies inferiores tenderem a desaparecer, quanto mais
os indivíduos anormais forem eliminados, menos degenerados haverá em relação à espécie, mais eu – não
enquanto indivíduo mas enquanto espécie – viverei, mais forte serei, mais vigoroso serei, mais poderei
proliferar”. [...]
A raça, o racismo, é a condição de aceitabilidade de tirar a vida numa sociedade de normalização.
Quando vocês têm uma sociedade de normalização, quando vocês têm um poder que é, ao menos em
toda a sua superfície e em primeira instância, em primeira linha, um biopoder, pois bem, o racismo é
indispensável como condição para poder tirar a vida de alguém, para poder tirar a vida dos outros. A
função assassina do Estado sÓ pode ser assegurada, desde que o Estado funcione no modo do biopo-
der, pelo racismo. [...]
É claro, por tirar a vida não entendo simplesmente o assassínio direto, mas também tudo o que
pode ser assassínio indireto o fato de expor à morte, de multiplicar para alguns o risco de morte ou,
pura e simplesmente, a morte política, a expulsão, a rejeição, etc. [...]
F0UCAU-T, Michel. Em defesa da sociedade curso no CollÍge de France (1975-1976).
Tradução Maria Ermantina Galvão. São Paulo Martins Fontes, 1999. p. 304-306.

A leitura desse texto deve ser acompa- morte. Cite exemplos em que a omissão do
nhada e enriquecida com as suas considera- Estado pode signiàcar a morte direta ou
ç×es. -embramos que o tema é complexo e indireta de uma parcela da população.
não pode ser esgotado com as breves referên-
cias desta Situação de Aprendizagem. ApÓs
a leitura e seus comentários, sugerimos que Ler e reáetir – Racismo no Brasil
os alunos respondam às seguintes quest×es,
disponíveis também no Caderno do Aluno. 0 texto do sociÓlogo Jair Batista da
Silva, especialista em racismo no Bra-
1. Quais são as duas funç×es do racismo, sil, disponível a seguir e também na
segundo Foucault seção -eitura e análise de texto do Caderno do
Aluno, apresenta-nos uma visão geral do pro-
2. A referência ao “biolÓgico” aparece mais blema. Proponha a leitura do texto, explicando
de uma vez no fragmento selecionado. Em à classe o racismo brasileiro multiforme, desta-
que sentido o biolÓgico se relaciona com o cando que a reáexão àlosÓàca pode ajudar na
tema estudado compreensão e no questionamento de causas e
formas de superação das manifestaç×es racistas
3. 0 texto refere-se à função assassina do presentes em nossa sociedade. Professor, o texto
Estado e que tal função não se restringe prioriza o racismo em relação à população negra,
“ao assassínio direto”, mas que rejeitar e mas vale a pena mencionar, nesse contexto, o
ignorar as necessidades de um contingente racismo e as práticas discriminatÓrias das quais
da população pode representar risco de são vítimas os povos indígenas e os ciganos.

21
Nesse sentido, propomos que questione os alunos da igualdade racial. Povos ciganos. Dispo-
sobre as condiç×es materiais de manutenção da n í v e l e m   h t t p  / / s e p p i r. g o v. b r /
vida, entre eles, acesso à saÙde e à moradia, bem comunidades- tradicionais /povos-de-
como as condiç×es de prática e conservação da cultura-cigana. Acesso em 19 fev. 2014.
cultura dos povos citados. Para responder a essas f FUNDAÇ«0 Joaquim Nabuco. Ciganos no
quest×es, sugerimos as fontes a seguir Brasil. Disponível em http//basilio.fundaj.
g o v. b r / p e s q u i s a e s c o l a r / i n d e x .
f FUNAI. Os índios. Disponível em http// php optioncom@contentvieXarticleid
XXX.funai.gov.br/indios/fr@conteudo.htm. 914%3Aciganos-no-brasilcatid38%3Aletra
Acesso em 19 fev. 2014. cItemid1. Acesso em 19 fev. 2014.
f DHNET. Declaração Universal dos Direitos
dos Povos Indígenas. Disponível em http// A pesquisa sobre os povos ciganos e indí-
XXX.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/indios/ genas pode ser muito instrutiva para comple-
decindio.htm. Acesso em 19 fev. 2014. mentar as informaç×es do texto a seguir e
f SECRETARIA de políticas de promoção ajudar nas suas explicaç×es.

A particularidade do racismo no Brasil


Para oprimir e submeter, especialmente os negros, o racismo no Brasil não necessitou de regras
formais de discriminação, de desigualdade e de preconceito racial. 0 racismo como ideologia emprega
e se alimenta de práticas sutis, de nuances e de representaç×es que não precisam de um sistema rígido
e formalizado de discriminação. Ao contrário das experiências norte-americana ou sul-africana que
estabeleceram regras claras de ascendência mínima para definir seus grupos sociais, nas quais, por
exemplo, uma gota de sangue negro era mais que suficiente para macular a suposta pureza racial dos
brancos. As formas de classificação racial e a eficácia do racismo no Brasil nutriram-se sempre das
formas mais maleáveis, mais flexíveis para atingir suas vítimas, porém essas sutilezas não deixam de
ser igualmente perversas e nocivas para os indivíduos e coletividades atingidos.
De qualquer forma, essa sutileza, que informa o tipo de racismo presente no Brasil, segue de mãos
dadas com as premissas de ideolÓgica “democracia racial” que pretende afirmar e defender a inexis-
tência do racismo, precisamente porque no país não há posiç×es ou locais sociais que negros não
possam ocupar. Não há cargo, posto de trabalho, lugar, emprego, profissão etc. em que os negros não
possam competir. Todavia, basta uma breve observação na paisagem social para se verificar que a
democracia racial ainda não chegou para os negros. Eles são minoria nas posiç×es de maior reconhe-
cimento, nas profiss×es melhor remuneradas, nos segmentos de melhor renda etc. Especialmente a
mulher negra, que ocupa uma posição social extremamente desvantajosa quando comparada com o
conjunto da população branca do país. Frequentemente ela exerce atividades de menor reconhecimento
social, menor retorno salarial e de menor exigência de qualificação.
Para transformar essa situação, tão comum na paisagem social do Brasil, torna-se necessário a
adoção de amplas políticas pÙblicas que busquem minimizar as brutais desigualdades de renda, esco-
laridade, emprego, moradia, saÙde etc. que afetam mais diretamente os negros. 0 que sugere uma
substantiva transformação do desenho e da execução das políticas formuladas pelo Estado. Transfor-
mação que garanta efetivamente à maioria da população, especialmente aquela afrodescendente, o
acesso aos elementares direitos de cidadania. Por exemplo, a ampliação das oportunidades de ensino
deve vir acompanhada de mecanismos de manutenção dos estudantes nas instituiç×es de ensino.
Pelo que se disse, reconhecer a existência e a eficácia da forma de racismo praticada no Brasil
significa lutar para alcançar para a maioria da população brasileira, e para a população afrodescen-

22
Filosofia – 2a série – Volume 2

dente, em especial, o reconhecimento social de serem sujeitos portadores de direitos e igual dignidade
humana. Reconhecimento que o racismo e a tão decantada, mas jamais praticada, democracia racial
brasileira, insistem, sobretudo, em negar aos negros brasileiros.
SI-7A, Jair B. Racismo e sindicalismo no Brasil reconhecimento, redistribuição e ação política das centrais sindicais
acerca do racismo no Brasil (1983-2002). Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Campinas Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Unicamp, 2008.

Para reáetir sobre as quest×es a seguir, grupo ficará responsável por assistir a um
disponíveis no Caderno do Aluno, os alunos canal durante um perío do estipulado por
deverão retomar o que foi discutido sobre o você, conforme a disponibilidade do grupo.
racismo no Brasil e responder Sua posição 7ocê poderá dividir a programação da T7
ainda é a mesma? Você havia pensado sobre entre os alunos, para que cada grupo analise
as questões levantadas pelo autor? Quais são o conteÙdo conforme os itens apresentados
as informações presentes no texto que auxi- no quadro a seguir, também disponível no
liam você a pensar melhor sobre o racismo ou Caderno do Aluno, ou outros que você julgar
a rever sua posição? mais adequados.

A partir das repostas dos alunos, apre- Com o resultado da pesquisa em mãos, os
sente uma síntese destacando as ideias cen- alunos devem ler e interpretar os dados obtidos
trais do texto. sobre os programas de televisão e redigir sua
prÓpria deànição de racismo no espaço desti-
nado à atividade no Caderno do Aluno, consi-
Dialogar – Práticas racistas derando a reáexão em sala de aula e os textos
estudados nesta Situação de Aprendizagem.
Para iniciar esta etapa, propomos a
Pesquisa em grupo, indicada no A habilidade geral a ser exercitada con-
Caderno do Aluno, que solicita a siste na identiàcação de práticas racistas que,
análise de programas de televisão. Sugerimos na maioria dos casos, acabam naturalizadas
a formação de grupos, segundo o nÙmero dos em nossa sociedade e podem ser encontradas,
canais de T7 aberta de sua cidade. Cada inclusive, em nÓs mesmos.

Nome do programa de TV:

Tipo de programa: ( ) diversão ( ) informação ( ) comercial

Quantas pessoas aparecem no programa?

Quantos negros e indígenas ( ) negros ( ) indígenas


havia na programação?

( ) apresentador
Como eles aparecem? ( ) convidado/entrevistado
( ) outro. Qual

23
Uma recomendação importante para traba- 0 racismo não apenas mata, mas deixa
lhar esse tema é evitar a possibilidade de cons- morrer e faz matar. Por isso a escola deve valo-
trangimento entre os alunos. Também é rizar atitudes antirracistas, para construir
fundamental orientar a classe de que a Situa- consciência e favorecer práticas de valorização
ção de Aprendizagem não tem o propÓsito de da vida. Assim, o antirracismo se traduz em
estabelecer oposiç×es entre brancos, negros e duas condiç×es; uma ética e outra política. A
indígenas, mas de denunciar as situaç×es his- condição ética trata de reáetir sobre si para não
tÓrico-sociais de discriminação e exclusão de cometer a violência. A condição política se
parcela da população do nosso país. ocupa de evitar aç×es racistas de outras pes-
soas e exigir que as autoridades promovam a
É importante observar que, quando exibi- inclusão das vítimas, participando ou se soli-
mos as diferenças, de modo que ninguém seja darizando com grupos representativos dessa
agredido ou excluído ou colocado em uma minoria – que é minoria no usufruto dos seus
condição de inferioridade, não se trata de direitos e não em termos de nÙmeros.
racismo. Dizer que André é negro, Paulo é
branco, Mário é loiro etc. não significa Para não se comprometer com o racismo, é
racismo. Dizer que -uísa tem um cabelo tran- preciso ser antirracista, pois, quem não se op×e
çado muito bonito e Márcia tem um cabelo ao racismo diretamente coloca-se em uma
loiro dourado, não é racismo. No entanto, opção de banalidade e omissão em relação às
usar essas diferenças para discriminar ou ten- vítimas, e ainda colhe os frutos do racismo. Se
tar humilhar ou “diminuir” o outro consiste a vítima não combate o racismo, então, vai
em racismo. colher os frutos da discriminação.

Por tudo isso, é importante identificar o 7ocê pode solicitar aos alunos que
racismo feito sem palavras e que pode ser expresso realizem a Pesquisa individual pro-
nas mais variadas formas de linguagem. posta no Caderno do Aluno sobre
os seguintes temas literatura, religião, mÙsica,
Ter amigos negros, ciganos ou índios não culinária, dança, artes plásticas e manifesta-
faz de ninguém menos racista. Ser filho ou ç×es populares da cultura afro-brasileira. Por
parente, também não. 0 que impede uma pes- exemplo uma histÓria de orixás, alguns passos
soa de ser racista é entender que o racismo é da capoeira, poemas, histÓrias, mÙsicas,
um mal cruel e excludente, que relega as víti- penteados, vestimentas e express×es correntes
mas à pobreza material e à destruição de seus na língua portuguesa e falada no Brasil. Além
valores e de sua cultura. de utilizar livros e a internet para essa pesquisa,
eles poderão entrevistar pessoas conhecidas
A relação do racista com a sua vítima que possam contar histÓrias sobre a cultura
apoia-se, diretamente, no pensamento de africana e sobre os afrodescendentes no Brasil.
dominação de um povo sobre outro, de um As informaç×es deverão ser apresentadas con-
indivíduo sobre o outro. A atitude racista é forme a sua orientação.
uma atitude de dominação, característica dos
processos de colonização que empreenderam Professor, propomos agora que os
diferentes impérios ao longo da histÓria da alunos realizem a Pesquisa em grupo
humanidade. A dominação dos europeus con- proposta no Caderno do Aluno,
tra africanos e americanos levou à escraviza- dividida em duas fases. Na primeira fase suge-
ção de negros e índios, uma histÓria que tão rimos que busquem na internet casos signiàca-
bem conhecemos no Brasil. tivos de manifestação de racismo. Para iniciar

24
Filosofia – 2a série – Volume 2

a discussão, você pode relembrar os seguintes 0 propÓsito desse exercício é proporcionar


acontecimentos aos alunos uma visão mais ampla da questão
racial. Se por um lado vivemos em uma socie-
f A morte do índio pataxÓ Galdino Jesus dos dade em que o racismo, lamentavelmente, ainda
Santos, em decorrência de graves queimadu- vigora, por outro, há que se considerar a postura
ras que sofreu enquanto dormia em um de luta contra o racismo, que tem conseguido
ponto de ônibus em Brasília, em 1997. Na signiàcativos avanços em nossa sociedade.
ocasião, cinco jovens de classe média alta
atearam fogo no índio, segundo eles, por
“brincadeira”. Em sua defesa, alegaram que Avaliação da Situação de
queimaram o índio por engano, pensando Aprendizagem
que se tratava de um mendigo. (Fonte
http//noticias.r7.com/brasil/noticias/ Para avaliação desta Situação de Aprendi-
tragedia-de-indio-galdino-queimado-vivo- zagem, você pode propor aos alunos que res-
em-brasilia-completa-15-anos-20120420. pondam às quest×es a seguir
html. Acesso em 2 jan. 2014.)
f A prisão do professor de Harvard, Henry 1. 0 racismo é um problema exclusivamente
-ouis Gates Jr., ocorrida em 2009. Ao brasileiro Justiàque sua resposta.
chegar de uma viagem, o professor teve Espera-se que, com base nos textos e nos resultados das pesqui-
problemas com a fechadura da porta de sas, os alunos demonstrem o entendimento de que o racismo é
sua casa e solicitou o auxílio do motorista um problema mundial. Para justificar a resposta, os alunos podem
da companhia de carros que costumava citar problemas relacionados ao racismo em outros países.
contratar, que o ajudou a abrir a porta à
força. Uma vizinha, branca, desconàou 2. Comente a seguinte aàrmação “Não há
da situação e chamou a polícia. Na sua cargo, posto de trabalho, lugar, emprego,
denÙncia aàrmou que havia dois negros proàssão etc. em que os negros não possam
tentando arrombar a porta de uma casa competir. Todavia, basta uma breve obser-
vizinha. A polícia prendeu o professor, vação na paisagem social para se veriàcar
mesmo apÓs sua identificação. (Fonte que a democracia racial ainda não chegou
http//g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,, para os negros. Eles são minoria nas posi-
MU-1238187-5602,00-PR0FESS0R ç×es de maior reconhecimento, nas proàs-
DE HAR7ARD E PRES0 S0-T0 s×es melhor remuneradas, nos segmentos
E ACUSA P0-ICIA DE RACISM0. de melhor renda etc.”.
html. Acesso em 2 jan. 2014.) Resposta aberta que depende das reflexões geradas a partir
dos resultados das pesquisas e das leituras efetuadas pelos alu-
Em uma segunda fase, os alunos devem nos. Contudo, espera-se que, em geral, eles observem que o
procurar identificar em fontes diversas os racismo no Brasil apresenta mecanismos sutis de exclusão e
movimentos e os grupos que combatem o que a legislação e os mecanismos norteadores que procuram
racismo, bem como as aç×es do poder pÙblico evitar posturas e atitudes racistas, apesar da sua importância,
e a promulgação de leis que visam abolir atitu- ainda não são suficientes para um tratamento social e cultural
des racistas. Eles podem pesquisar informaç×es mais equânime para todos os brasileiros.
sobre algumas aç×es que procuram limitar
atitudes de cunho racista, como a presença de 3. Com base nos dados que seguem e nos
um artigo na Constituição para esse àm; os textos estudados nesta Situação de Apren-
documentos produzidos pela 0NU, Unesco dizagem, escreva um texto sobre as atuais
etc.; a -ei no 10.639/03, entre outros. características do racismo no Brasil.

25
“Em comparação com o Censo realizado Professor, no Caderno do Aluno,
em 2000, o percentual de pardos cresceu de na seção 7ocê aprendeu , foram
38,5% para 43,1% (82 milh×es de pessoas) propostas algumas quest×es. 7ocê
em 2010. A proporção de negros também poderá aproveitá-las para compor a avaliação,
subiu de 6,2% para 7,6% (15 milh×es) no se acreditar que são pertinentes. Nesse caso,
mesmo período. Esse resultado também você poderá pedir aos alunos que façam a ati-
aponta que a população que se autodeclara vidade em folha avulsa.
branca caiu de 53,7% para 47,7% (91
milh×es de brasileiros).
Propostas de situações de
0 analista socioeconômico do IBGE, Jeffer- recuperação
son Mariano, aàrma que essa mudança de
cenário faz parte de uma mudança cultural 0s alunos que não conseguiram alcançar
que vem sendo observada desde o Censo de os objetivos desta Situação de Aprendiza-
1991. [...] gem, seja pela ausência da aquisição de
conteÙdo, seja pelo baixo desempenho nos
0 Censo Demográàco de 2010 apontou a exercícios de reflexão, devem ser direciona-
grande diferença que existe no acesso a dos para a recuperação. Eles deverão reto-
níveis de ensino pela população negra. No mar a leitura dos textos propostos, e outros
grupo de pessoas de 15 a 24 anos que fre- textos e/ou vídeos que tratam do assunto.
quentava o nível superior, 31,1% dos estu- -embramos que, muitas vezes, oferecer
dantes eram brancos, enquanto apenas outras fontes e materiais pode ser significa-
12,8% eram negros e 13,4% pardos. [...] A tivo para a melhor compreensão do tema.
nova publicação também traz um dado
conhecido os brancos continuam rece- Além disso, você pode pedir a eles que
bendo salários mais altos e estudando mais reescrevam, com suas palavras, os argumen-
que os negros (pretos e pardos). [...]” (Fonte tos centrais de um dos textos filosÓficos
Censo 2010 mostra as características da incluídos neste Caderno ou disponíveis no
população brasileira. Portal Brasil, 2 jul. livro didático.
2012. Disponível em http//XXX.brasil.
gov.br/educacao/2012/07/censo-2010-mostra-
as-diferencas-entre-caracteristicas-gerais- Recursos para ampliar a perspectiva
da-populacao-brasileira. Acesso em 2 jan. do professor e do aluno para a
2014.) compreensão do tema
É importante que o aluno considere, em sua redação,
os textos estudados e os dados indicados para a questão. Livros
Nesse sentido, espera-se que os alunos observem que há
uma maior aceitação e um crescente reconhecimento da APPIAH, KXame A. Na casa de meu pai. 2. ed.
condição racial no Brasil, embora os dados apontem que Tradução 7era Ribeiro. Rio de Janeiro Con-
o Brasil ainda é racista e discriminatório. Espera-se, ainda, traponto, 2007. Texto excelente que opta por
que os alunos reconheçam que, apesar das recentes polí- criar uma Filosoàa africana a partir de proble-
ticas afirmativas – que são um passo importante para a mas pÓs-coloniais. Discute racismo, movi-
melhoria das condições sociais, culturais e econômicas de mento prÓ-negro, ¦frica, biologia racial e
uma parte significativa da população brasileira –, ainda há outros temas de for ma rigorosamente
muito a ser feito no que se refere à questão racial no Brasil. àlosÓàca.

26
Filosofia – 2a série – Volume 2

Cadernos de cinema do professor. Publicação da Cultura e a Secretaria da Educação do


da FDE, 2010, com indicaç×es de àlmes que Estado de São Paulo. Um dos propÓsitos
poderão ser analisados com os alunos. desse projeto é introduzir debates e discuss×es
sobre as relaç×es entre ¦frica e Brasil. 0s
MEMMI, Albert. O racismo. Tradução Natér- vídeos disponibilizados apresentam aspectos
cia Pacheco e Manuela Terraseca. -isboa histÓricos, socioculturais, linguísticos e polí-
Editorial Caminho, 2003. ticos a ser trabalhados em sala de aula.

SARTRE, Jean-Paul. Reáexões sobre o racismo. P0RTA curtas. Disponível em http//
6. ed. Tradução Jacob Guinsburg. São Paulo portacurtas.org.br. Acesso em 2 dez. 2013.
Difusão Europeia do -ivro, 1968. Traz vários curtas-metragens sobre o tema
racismo (como o Xadrez das Cores) e outros
Sites assuntos. Além disso, oferece todo o apoio
didático-pedagÓgico para os professores,
¦FRICA em nÓs e na sala de aula. Disponível incluindo D7Ds com material para escola – o
em http//XXX.rededosaber.sp.gov.br/ projeto “Curta na Escola”.
portais/Not%C3%ADciasConte%C3%BAdo/
tabid/369/language/pt-BR/IDNoticia/828/ SCIE-0. Disponível em http//XXX.scielo.
Default.aspx. Acesso em 18 dez. 2013. 0 org. Acesso em 2 dez. 2013. Há mais de 104
projeto ¦frica em NÓs e na sala de Aula é artigos acadêmicos de diversas áreas sobre
resultado de uma parceria entre a Secretaria racismo.

SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 3
FI-0S0FIA E AS RE-AǺES DE G®NER0
0 objetivo desta Situação de Aprendiza- mento de 0lympe de Gouges, Simone de
gem é discutir as diferenças sociais entre Beauvoir e Michel Foucault. Esperamos com
homens e mulheres e atualizar o debate acerca esse tema e com os textos disponíveis atuali-
das quest×es de gênero. Nesse contexto, pro- zar os alunos sobre esse debate tão presente
curamos abordar alguns aspectos do pensa- na nossa sociedade.

Conteúdos e temas: relaç×es de gênero e funç×es sociais de homens e mulheres.

Competências e habilidades: construir argumentação consistente; analisar a importância dos valores éticos
na reáexão sobre a condição da mulher e sobre semelhanças e diferenças entre homens e mulheres.

Sugestão de estratégias: exercícios de reáexão, escrita e leitura.

Sugestão de recursos: textos disponíveis nos Cadernos e outros textos que o professor julgar adequados
e pertinentes para o tratamento do tema.

Sugestão de avaliação: pesquisas, quest×es de compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas


e outros trabalhos que o professor julgar pertinentes e adequados.

27
Sondagem e sensibilização – Ouvir e 0 primeiro fragmento faz parte de uma
dialogar obra publicada pela Coordenadoria da
Mulher do município de São Paulo. Nele,
Para iniciar a sensibilização, uma primeira Alicia H. Puleo problematiza as posiç×es
abordagem pode considerar a experiência que dos filÓsofos Jean-Jacques Rousseau e
os alunos trazem sobre o tema proposto. 7ocê Immanuel Kant no que se refere às diferen-
pode suscitar a reáexão dos alunos levantando ças entre homens e mulheres; para esses
as seguintes quest×es Quais são as semelhanças pensadores, o livre desenvolvimento e a
e diferenças entre homens e mulheres na atuali- autonomia tinham sentido apenas para os
dade? Há consequências práticas para essas homens e não para as mulheres. Destacamos
semelhanças e diferenças em termos de papéis que a posição desses àlÓsofos não tira o valor
assumidos na sociedade? Os papéis sociais assu- de suas obras; inclusive, essa perspectiva
midos por homens e mulheres sempre foram os excludente sÓ pôde ser identiàcada, exposta
mesmos? É possível observar mudanças no decor- e criticada porque mulheres e homens se
rer da história? Esperamos, com essas perguntas, apropriaram da ousadia de saber por si mes-
instigar os alunos a pensar no papel que se mos, sem tutela, conforme demanda dada
espera de homens e mulheres na sociedade con- pelo prÓprio Kant em seus escritos. 0
temporânea e veriàcar se eles percebem alguma segundo fragmento foi extraído da obra His-
alteração nesses papéis, a partir dos seus conhe- tória da vida privada no Brasil. Ele apresenta
cimentos prévios e das suas experiências. alguns pontos do Decálogo da Esposa, publi-
cado na Revista Feminina, em 1924, mas
acreditamos que vale a pena ler todos os
Ler e dialogar – 'ilosoàa e gênero itens na obra citada. Esse fragmento ilustra
a perspectiva de uma revista feminina que,
ApÓs essa primeira abordagem, suge- em pleno século XX, procura atrelar a
rimos a leitura dos dois fragmentos “satisfação de ser mulher” ao “sucesso” no
de textos propostos a seguir e repro- casamento, deixando entender que esse
duzidos também na seção -eitura e análise de suposto “sucesso” deriva da submissão da
texto do Caderno do Aluno. mulher ao homem.

Texto 1 – 'ilosoàa e gênero

[...] A Ilustração é esse momento, que se inicia em fins do século X7II e se estende por todo o século
X7III, em que a razão deixa a prudente atitude cartesiana de se dedicar tão-somente à metafísica e à
ciência e passa, em cheio, a criticar a sociedade e seus costumes. A Ilustração tinha por palavra de
ordem – como o disse clara e contundentemente Kant – “atreva-se a saber”, ou seja, atreva-se a pensar
por si mesmo sem tutores, nem religiosos nem políticos. [...]

Porém, no que diz respeito à conceitualização dos sexos, na maioria dos pensadores ilustrados encon-
tramos profundas contradiç×es em relação a esta palavra de ordem da autonomia. [...] Rousseau, no livro
7 de Emílio, sustenta que toda a educação das mulheres deve estar limitada a seus deveres para com os
homens, “agradar-lhes, ser-lhes Ùteis, fazer-se amar e honrar por eles” [...] “aconselhar, consolar, fazer-lhes
a vida agradável e doce”. Criá-los desde pequenos e cuidar-lhes quando idosos. Mas Rousseau é estudado
como um grande pedagogo, o pedagogo da autonomia, do deixar livremente às crianças desenvolver sua
personalidade. No entanto, esse modelo de desenvolvimento da personalidade em liberdade era para
Emílio, que representa o modelo masculino. Para Sofia, que é o modelo feminino, Rousseau prop×e

28
Filosofia – 2a série – Volume 2

praticamente o contrário defende que não há que deixar que se desenvolva livremente, precisa aprender
a submissão, aprender a viver para outros, a fingir e a manter as aparências. [...]
Kant, pensador da autonomia, sustenta que as mulheres são civilizadoras do homem, sua função
é polir as toscas maneiras do macho. Mas elas mesmas, afirma, não são capazes de julgamento moral
[...]. Como se pode ver, a palavra de ordem “atreva-se a saber”, “atreva-se a guiar-se pelo seu prÓprio
entendimento” de Kant não alcança as mulheres. As estudiosas da Ilustração têm focado em especial
nesse aspecto, concluindo que embora se trate de uma limitação do pensamento que pretende ser
universal, válido para todos, no interior destas teorias haveria uma certa coerência. Há uma contra-
dição entre os grandes princípios proclamados e sua não aplicação às mulheres. Mas, ao mesmo tempo,
assinalam, haveria certa coerência interna porque tanto os liberais, como Kant, quanto os republicanos,
como Rousseau, estão pensando em um modelo de sociedade burguesa no qual as mulheres vão estar
em casa garantindo a infraestrutura do homem produtor, que sai ao mundo do trabalho assalariado
e da política. No âmbito do pÙblico é considerado superior, mas secretamente se apoia num mundo
doméstico no qual se tem marginalizado as mulheres (Cobo, 1995). Podemos afirmar, então, que a
filosofia da modernidade preparou a grande divisão entre o mundo do pÙblico e o mundo do domés-
tico, divisão de esferas na qual ainda vivemos. [...]
PU-E0, Alicia H. Filosoàa e gênero da memÓria do passado ao projeto de futuro. In G0DINH0, Tatau; SI-7EIRA,
Maria -. (0rg.). Políticas públicas e igualdade de gênero. São Paulo Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p. 17-18.
Disponível em http//library.fes.de/pdf-àles/bueros/brasilien/05630.pdf. Acesso em 4 dez. 2013.

Texto 2 – Decálogo da esposa


I – Ama teu esposo acima de tudo na terra e ama teu prÓximo da melhor maneira que puderes;
mas lembra-te que a tua casa é de teu esposo e não de teu prÓximo;
II – Trata teu esposo como um precioso amigo; como a um hÓspede de grande consideração e
nunca como uma amiga a quem se contam as pequenas contrariedades da vida;
III – Espera teu esposo com teu lar sempre em ordem e o semblante risonho; mas não te aflijas
excessivamente se alguma vez ele não reparar nisso;
[...]
7III – Não peças à vida o que ela nunca deu para ninguém. Pensa antes que se fores Ùtil poderás
ser feliz;
[...]
X – Se teu esposo se afastar de ti, espera-o. Se tarda em voltar, espera-o; ainda mesmo que te
abandone, espera-o! Porque tu não és somente a sua esposa; és ainda a honra do seu nome.
E quando um dia ele voltar, há de abençoar-te.
DEC¦-0G0 da esposa. Revista feminina, São Paulo, ano XI, n. 127. p. 68, 1924.

A partir dessas referências e do fato de que casamento, por exemplo, para atuar em proàs-
vemos cotidianamente as mulheres ocupando s×es e postos tradicionalmente ocupados por
os mesmos postos que os homens, podemos homens. Podemos lembrar que, hoje, há mulhe-
pensar que essa condição das mulheres de sub- res trabalhando na construção civil, compondo
missão aos homens já foi superada, pois não a força policial civil e militar, dirigindo ônibus
faltam evidências que mostram que as mulhe- e caminh×es, liderando empresas, exercendo
res saíram da esfera do lar e da dependência do cargos pÙblicos e políticos nas esferas legisla-

29
tiva e executiva etc. São inÙmeros exemplos em relação ao modelo tradicional que colo-
que podemos dar para ilustrar que as mulheres cava mulheres e homens em espaços distintos.
saíram da esfera do lar e ganharam a esfera Há diferentes discursos e práticas que fomen-
pÙblica. Contudo, observar as mulheres ocu- tam uma disposição quase “natural” para
pando os mesmos espaços dos homens não é atividades e funç×es para homens e mulheres
suficiente para entender as diferenças que na sociedade.
ainda permanecem entre homens e mulheres.
Nesse contexto, sugerimos que os
Certamente, já ouvimos nos noticiários de alunos realizem a Pesquisa indivi-
televisão que as mulheres que exercem as dual sugerida no Caderno do Aluno
mesmas funç×es dos homens, em geral, sobre a presença e influência dos meios de
ganham menos; que as mulheres ainda são comunicação no estabelecimento e no reforço
vítimas de violência doméstica; que as meni- de padr×es de comportamento para homens e
nas ainda são as mais lembradas quando se mulheres. Eles devem pesquisar em revistas,
trata de aprender a executar trabalhos propagandas e programas de televisão se há um
domésticos. 0u seja, a perspectiva de atrelar padrão de comportamento esperado para cada
as mulheres a condição inferior e ao espaço um dos gêneros, mesmo que de forma indireta.
doméstico ainda persiste. A pesquisa pode ser apresentada por escrito, na
forma de cartaz/pôster ou oralmente, como
Podemos citar como exemplo as revistas seminário. Espera-se, com esse trabalho, que os
femininas que priorizam pautas voltadas alunos percebam que, apesar das signiàcativas
para decoração da casa, saÙde da família – mudanças pelas quais passou a nossa socie-
mais especiàcamente o cuidado com os àlhos dade, inclusive nas relaç×es entre homens
–, culinária, moda e beleza. Há revistas femi- e mulheres, alguns padr×es e expectativas
ninas cujos editoriais e seç×es dão dicas para acerca do que é normal e apropriado ainda
as relaç×es com seus namorados e maridos, persistem.
indicando comportamentos adequados para
melhorar relacionamentos. Há, ainda, dicas Em seguida a essa primeira abordagem,
para utilizar melhor o dinheiro e conselhos procuraremos destacar que a perspectiva de
para “evoluir” na carreira proàssional, uma mulher submissa encontrou oposição em
vez que, no mundo contemporâneo, as mulhe- diferentes momentos da histÓria. Nesse sen-
res passaram a acumular funç×es – são mães tido, podemos observar que os contemporâ-
e esposas, devem ser proàssionais de sucesso neos de Rousseau, como o àlÓsofo iluminista
e ter independência ànanceira. Quem nunca francês, Jean -e Rond dAlembert, opunham-
ouviu falar de “tripla jornada de trabalho” -se à posição dele e que, principalmente, as
Além das atribuiç×es prÓprias do desempe- mulheres não foram tão submissas quanto se
nho da proàssão, as mulheres, em geral, ainda pode pensar. Dessa forma, podemos aàrmar
arcam com a responsabilidade pela organiza- que a condição de submissão nunca foi ple-
ção e pelo funcionamento da casa, pelo pla- namente aceita e que, historicamente, mulhe-
nejamento, além do acompanhamento da res se destacaram na luta pela igualdade e
educação dos àlhos. pela condição de cidadania.

Dessa forma, podemos notar que a maio- Essa posição pode ser observada no
ria das quest×es relativas ao lar e à criação texto reproduzido a seguir e na seção
dos àlhos é de responsabilidade das mulheres, -eitura e análise de texto do Caderno
mesmo considerando as mudanças ocorridas do Aluno. Trata-se da conclusão da Declaração

30
Filosofia – 2a série – Volume 2

dos Direitos da Mulher e da Cidadã, redigida “Não eram sexistas porque ‘não conheciam
pela jornalista e historiadora feminista 0lympe nenhuma mulher inteligente. 0 eram justa-
de Gouges (1748-1793) em resposta à Declara- mente porque se opunham às reivindicaç×es de
ção dos Direitos do Homem e do Cidadão. Gou- igualdade de outros pensadores e pensadoras
ges defendia a ação política que garantisse de sua época. Suas teorias eram a reação frente
liberdade para todos e, portanto, defendia a às demandas de mudança social”a.
libertação das mulheres e dos escravos das
colônias francesas. Por conta de suas ideias, ela
morreu guilhotinada. -eia-o com os alunos, Dialogar e ler – Funções sociais de
considerando o contexto histÓrico, o vocabu- homens e mulheres
lário e os argumentos.
0 ensaio filosÓfico O segundo sexo, de
Simone de Beauvoir, publicado em 1949, faz
Declaração dos Direitos da Mulher
e da Cidadã uma análise do papel da mulher na sociedade,
negando concepç×es e estudos que discorrem
Mulher, desperta. A força da razão se faz sobre uma essência feminina. Para a autora, a
escutar em todo o universo. Reconhece teus condição da mulher é uma escolha dos homens
direitos. 0 poderoso império da natureza não apoiada pela submissão das mulheres, que
está mais envolto de preconceitos, de fanatis- devem assumir a responsabilidade de mudar a
mos, de superstiç×es e de mentiras. A bandeira situação de submissão, pois são seres livres que
da verdade dissipou todas as nuvens da igno- apenas por escolha prÓpria àcarão submetidas
rância e da usurpação. 0 homem escravo
ao preconceito social. A Ùnica libertação pos-
multiplicou suas forças e teve necessidade de
sível das mulheres virá da política, isto é, da
recorrer às tuas, para romper os seus ferros.
Tornando-se livre, tornou-se injusto em rela- união das prÓprias mulheres. Elas precisam
ção à sua companheira. reunir-se, reconhecer seus problemas, partilhar
ideias; em outras palavras, precisam lutar jun-
G0UGES, 0lympe de. Declaração dos Direitos
da Mulher e da Cidadã (1791). Disponível em
tas. Não há como ser diferente, pois não se
http//XXX.dhnet.org.br/direitos/anthist/mulheres.htm. pode esperar que todos os homens abram mão
Acesso em 19 fev. 2014. dos seus privilégios pelas mulheres. Para a àlÓ-
sofa, não se trata de colocar as mulheres contra
os homens, mas de colocá-las contra o
0bserve que essa declaração é contemporâ- machismo, contra as situaç×es de opressão.
nea à publicação do Emílio (1762), de Rous-
seau. 0u seja, a época de Rousseau conheceu Inicie os debates desta etapa propondo as
posturas e ideias de libertação e de igualdade quest×es O que faz um homem ser homem e
entre homens e mulheres. Destacamos que uma mulher ser mulher – o corpo, o pensamento
Gouges não estava sozinha na sua posição. ou a sociedade? Quem decide as funções sociais
DAlembert atentou para a postura de Rous- da mulher e do homem – o corpo, o pensamento
seau em relação à educação das mulheres, e lhe ou a sociedade?
dirigiu severa crítica. Dessa forma, não é pos-
sível pensar que Rousseau, assim como Kant, Em seguida, sugerimos que leia com
não podem ser julgados pelas suas posturas em os alunos os textos a seguir, repro-
relação às mulheres porque estavam presos a duzidos também no Caderno do
um contexto histÓrico. Segundo Puleo (2004) Aluno.
a
PU-E0, Alicia H. Filosofia e gênero da memÓria do passado ao projeto de futuro. In G0DINH0, Tatau; SI-7EIRA, Maria -Ùcia
da (0rg.). Políticas públicas e igualdade de gênero. São Paulo Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p. 22.

31
Texto 1 – Sobre o Segundo sexo, de Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir, na obra Segundo sexo, nega um destino biolÓgico, psíquico e econômico para
a mulher na sociedade. Nesse sentido, para a filÓsofa, ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Ao
desenvolver o seu argumento, Beauvoir recorre ao exemplo dos primeiros anos de vida de qualquer
criança. Independentemente do sexo, cada criança vivencia experiências semelhantes nas primeiras etapas
que sucedem o nascimento os primeiros movimentos para conhecer o mundo se dão pelas mãos e pelos
olhos tanto nos meninos como nas meninas. Podemos notar o mesmo balbuciar e os mesmos passos
trôpegos, as mesmas alegrias e dificuldades. Dessa forma, todas as crianças apresentam as mesmas
experiências, carências e prazeres. Se não for pelas vestimentas e/ou enfeites, dificilmente diferenciamos,
à primeira vista, o sexo dos bebês. Contudo, essa primeira diferenciação mais evidente, relativa ao tipo
de roupa e às cores, guarda outras que querem marcar o destino de cada sexo. Meninas e meninos chegam
no mundo com uma “marca social”, imposta para cada sexo. As primeiras brincadeiras pouco diferem,
mas os brinquedos e os jogos são diferentes, assim como a postura exigida para cada brinquedo. Tal
exigência vai aumentando conforme as crianças vão crescendo. Segundo a filÓsofa, para os meninos, a
autonomia é forçada, já pela renÙncia de muitos mimos. Para as meninas, o estímulo à graciosidade e
afagos é ocasião para submetê-las à carência por proteção. 0 que é estimulado nas meninas, é vetado
para os meninos “meninos não choram”, “meninos não se enfeitam”, pois são coisas de “mulherzinha”.
Com o passar do tempo, os meninos são estimulados a se afastarem das atividades relacionadas com a
condição das mulheres e, ao contrário, as meninas são levadas a acompanhar e fazer atribuiç×es como
as das mães. Dessa forma, a condição da mulher não pode ser entendida como um destino dado pela
natureza, mas pela sociedade.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Texto 2 – Ética, sexualidade, política


[...] a ideia de que se deve ter finalmente um verdadeiro sexo está longe de ter sido completamente
dissipada. Seja qual for a opinião dos biÓlogos sobre esse assunto, encontramos, pelo menos em
estado difuso, não somente na psiquiatria, na psicanálise e na psicologia, mas também na opinião
corrente, a ideia de que entre sexo e verdade existem relaç×es complexas, obscuras e essenciais.
Somos, na verdade, mais tolerantes em relação às práticas que transgridem as leis. Porém continua-
mos a pensar que algumas delas insultam “a verdade” um homem “passivo”, uma mulher “viril”,
pessoas do mesmo sexo que se amam. Talvez haja a disposição de admitir que isso não é um grave
atentado à ordem estabelecida, porém estamos sempre prontos a acreditar que há nelas algo como
um “erro”. Um “erro” entendido no sentido mais tradicionalmente filosÓfico uma maneira de fazer
que não é adequada à realidade; [...]
F0UCAU-T, Michel. Ética, sexualidade, política. 2. ed. 0rganização e seleção de
textos Manuel Barros da Motta; tradução Elisa Monteiro, Inês Autran Dourado Barbosa.
Rio de Janeiro Forense Universitária, 2010. p. 84-85. (Coleção Ditos e escritos, 5).

A partir do texto sobre o Segundo sexo, de na histÓria de diferentes povos e nas histÓrias
Simone de Beauvoir, podemos considerar que das sociedades ocidentais. A histÓria tem
não existe uma motivação natural que possa demonstrado que as funç×es de homens e
determinar os papéis de homens e mulheres mulheres têm mudado com o tempo. Elas não
na sociedade. Podemos aàrmar que as ideias são naturais, não há uma essência feminina
de Simone de Beauvoir encontram respaldo ou masculina. Tudo isso é um posicionamento

32
Filosofia – 2a série – Volume 2

para controlar a vida das pessoas. Na maioria brincadeiras de meninos e de meninas


das sociedades ocidentais, os meninos têm de 0 que acontece quando meninos e meni-
ser sempre fortes; e as meninas, sensíveis. nas não aceitam essa tendência 7ocê
consegue pensar nas consequências
Segundo o àlÓsofo francês Michel Foucault,
a determinação do que é certo, errado, normal 7ocê pode encaminhar a discussão
e anormal no âmbito do sexo, do gênero e da explicando aos alunos que, muitas
sexualidade está relacionada com classiàcaç×es vezes, nos encaixamos ou somos
fundadas em identificaç×es e diferenciaç×es encaixados em categorias sociais preestabeleci-
que não são naturais, mas criadas por conven- das. Para satisfazer expectativas, somos forçados
ção social para melhor controlar as popula- ou nos forçamos a assumir um peràl e a tomar
ç×es. Essas classiàcaç×es foram engendradas e determinadas atitudes que, acreditamos, facili-
perpetuadas por meio de diferentes mecanis- tam a nossa inclusão na vida social. Pergunte a
mos do poder, entre eles a produção de saberes eles Dessas categorias sociais preestabelecidas,
e o estabelecimento de disciplinas e discursos quais você acredita que são mais exigidas em
que nos fornecem determinado modo de ver o nossa sociedade? Como pensar e atuar no mundo
mundo e as relaç×es humanas. sem precisar necessariamente aderir a essas cate-
gorias preestabelecidas? Como -ição de casa,
ApÓs a leitura dos textos, conforme pro- sugerimos uma redação em que a turma procure
posto no Caderno do Aluno, solicite à turma responder a essas quest×es tendo como base o
que responda às quest×es a seguir que foi estudado nesta Situação de Aprendiza-
gem, conforme proposta do Caderno do Aluno.
1. Comente o seguinte ditado popular Não se esqueça de orientá-los a escrever sem se
“Atrás de um grande homem, há sempre colocarem em qualquer uma dessas categorias,
uma grande mulher”. que devem ser utilizadas apenas para compre-
enderem o tema.
2. -evando em conta as diferenças no trata-
mento dado pelas famílias aos meninos
e às meninas, que a partir de uma certa Avaliação da Situação de
idade são incentivados a se identificar Aprendizagem
com o que seriam as marcas distintas
do seu sexo, escreva um pequeno texto Como forma de avaliação desta Situação de
respondendo às seguintes quest×es Esse Aprendizagem, você pode propor aos alunos
tratamento diferenciado pode ser credi- que respondam às quest×es
tado apenas aos familiares Pelas suas
experiências e lembranças, a indÙstria 1. -eia a seguir os fragmentos da -ei no
de brinquedos reafirma essa tendên- 11.340, de 07/08/2006 (-ei Maria da Pe-
cia Há brinquedos fabricados especi- nha), e da Declaração dos Direitos da
ficamente para meninos e meninas Há Mulher e da Cidadã

Texto 1 – Lei no 11.340, de 07/08/2006 (Lei Maria da Penha)


Art. 1º Esta -ei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de 7iolência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a 7iolência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela RepÙblica

33
Federativa do Brasil; disp×e sobre a criação dos Juizados de 7iolência Doméstica e Familiar contra a
Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica
e familiar.
Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura,
nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-
-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saÙde física e
mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condiç×es para o exercício efetivo dos direitos à vida, à
segurança, à saÙde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte,
ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária.
BRASI-. Lei no11.340, de 07/08/2006 (Lei Maria da Penha). Disponível em http//XXX.planalto.gov.br/
ccivil@03/@ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 2 jan. 2014.

Texto 2 – Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (1791)


1. A mulher nasce livre e mantém-se igual ao homem em direitos. As distinç×es sociais sÓ devem
ser fundadas no interesse comum.
2. A finalidade de toda associação política é a preservação dos direitos naturais imprescritíveis da
mulher e do homem. Estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e especialmente a
resistência à opressão.
3. 0 princípio de toda soberania reside essencialmente na Nação que nada mais é do que a reunião
da mulher e do homem. Nenhuma instituição e nenhum indivíduo pode exercer autoridade que não
emane expressamente da nação.
4. -iberdade e justiça consistem em restituir tudo o que pertence ao outro; assim, o exercício dos
direitos naturais da mulher não tem outros limites senão aquele que a tirania perpétua do homem op×e
a eles; estes limites precisam ser reformados de acordo com as leis da natureza e da razão.
G0UGES, 0lympe de. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (1791). Disponível emhttp//XXX.dhnet.org.
br/direitos/anthist/mulheres.htm. Acesso em 19 fev. 2014.

1. Com base nos dois fragmentos e em suas a condição da mulher na sociedade bra-
reáex×es sobre o tema, responda sileira contemporânea é satisfatÓria em
relação aos direitos humanos
a) Mesmo tendo sido produzidos em momen- Espera-se que os alunos reconheçam que a condição
tos distintos, os documentos apresentados das mulheres, no contexto da sociedade brasileira, ainda
têm alguma relação Qual não é satisfatória, pois foi preciso promulgar uma lei
Espera-se que os alunos reconheçam que esses documentos, para garantir que as mulheres tenham assegurados seus
mesmo tendo sido redigidos em momentos distintos, demons- direitos e sua dignidade também no contexto familiar.
tram a busca por igualdade de direitos e, portanto, uma preo- A indicação de não violência no contexto doméstico é
cupação com a garantia de cidadania para as mulheres. uma forma de assegurar que as mulheres poderão ter
uma vida social e exercer atividades na vida pública, pois
b) -endo os artigos mencionados da -ei é um direito fundamental que não pode ser alienado pela
Maria da Penha é possível concluir que vontade de outros.

34
Filosofia – 2a série – Volume 2

2. A partir dos textos estudados, comente as propostas algumas quest×es. 7ocê poderá
seguintes aàrmaç×es “0 homem não tem aproveitá-las para compor a avaliação, se acre-
jeito para cuidar de crianças”; “homens ditar que são pertinentes. Nesse caso, você
não choram”; “as mulheres são mais emo- poderá pedir aos alunos que façam a atividade
tivas e sensíveis”. em folha avulsa.
Espera-se que os alunos reconheçam nas afirmações a determi-
nação de diferentes papéis para homens e mulheres e que esses
papéis não são determinações naturais, mas construções sociais. Proposta de situação de
recuperação
3. As passagens que seguem referem-se a dois
registros distintos e a momentos histÓricos 0s alunos que não alcançarem os objeti-
diferentes. 0 primeiro fragmento refere-se vos desta Situação de Aprendizagem podem
à posição do àlÓsofo iluminista Rousseau reler os textos com o apoio do professor
sobre a condição das mulheres e o segundo e, com o aporte de outras fontes, reescrever,
é um recorte de uma revista feminina, publi- com as prÓprias palavras, os argumentos
cada no século XX. A partir desses dois tre- centrais de um dos textos filosÓficos incluí-
chos, identiàque as mensagens de cada um dos nesta Situação de Aprendizagem ou
e discorra sobre como essas passagens se disponíveis em outras fontes utilizadas para
aproximam, mesmo sendo de épocas distin- estudo.
tas, compondo um histÓrico de submissão
das mulheres.
Recursos para ampliar a perspectiva
Fragmento 1 – “a educação das mulheres deve do professor e do aluno para a
estar limitada a seus deveres para com os compreensão do tema
homens, ‘agradar-lhes, ser-lhes Ùteis, fazer-se
amar e honrar por eles [...] ‘aconselhar, con- Livros
solar, fazer-lhes a vida agradável e doce”b.
ANDRE, Serge. O que quer uma mulher? Tra-
Fragmento 2 – “II – Trata teu esposo como dução Dulce Duque Estrada. Rio de Janeiro
um precioso amigo; como a um hÓspede de Jorge ;ahar, 1987. (Coleção Campo freudiano
grande consideração e nunca como uma no Brasil).
amiga a quem se contam as pequenas con-
trariedades da vida”c. BEAU70IR, Simone de. O segundo sexo. 2.
Espera-se que os alunos reconheçam que o teor das mensa- ed. Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro
gens discorre sobre como os papéis das mulheres foram sendo Nova Fronteira, 2009.
construídos no decorrer da história ocidental e que tais papéis,
na medida que restringiam as mulheres às atividades domésti- BUT-ER, Judith P. Problemas de gênero
cas, promoviam a ausência das mesmas na esfera pública. feminismo e subversão da identidade. 4. ed.
Tradução Renato Aguiar. Rio de Janeiro
Professor, no Caderno do Aluno, Civilização Brasileira, 2012. (Coleção Sujeito
na seção 7ocê aprendeu , foram e histÓria).

b
R0USSEAU, Jean-Jacques apud PU-E0, Alicia H. Filosofia e gênero da memÓria do passado ao projeto de futuro. In G0DINH0,
Tatau; SI-7EIRA, Maria -. (0rg.). Políticas públicas e igualdade de gênero. São Paulo Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p.
17-18. Disponível em http//library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05630.pdf. Acesso em 4 dez. 2013.
c
DEC¦-0G0 da esposa. Revista feminina, São Paulo, ano XI, n. 127. p. 68, 1924.

35
F0UCAU-T, Michel. Ética, sexualidade, polí- Sites
tica. 2. ed. 0rganização e seleção de textos
Manoel Barros da Motta; tradução Elisa Mon- BIB-I0TECA Digital Claim. Disponível em
teiro, Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de http//XXX.clam.org.br/bibliotecadigital.
Janeiro Forense Universitária, 2010. (Coleção Acesso em 2 dez. 2013.
Ditos e escritos, 5).
CADERN0S Pagu. Disponível em http//
SC0TT, Joan 8. A cidadã paradoxal as femi- XXX.ieg.ufsc.br/revista@detalhe.php id6.
nistas francesas e os direitos do homem. Tra- Acesso em 2 dez. 2013. Publicação do NÙcleo de
dução Élvio Antonio Funck. FlorianÓpolis, Estudos de Gênero – Pagu.
SC Mulheres, 2002.
RE7ISTAS Estudos Feministas. Disponível
SE7CENK0, Nicolau (0rg.); N07AIS, Fer- em http//XXX.ieg.ufsc.br/revista@detalhe.
nando. A. (Coord.). História da vida privada no php id3. Acesso em 2 dez. 2013. Publica-
Brasil – RepÙblica da Belle Époque à Era do ção do Centro de Filosoàa e Ciências Huma-
Rádio (7olume 3). São Paulo Companhia das nas e Centro de Comunicação e Expressão da
-etras, 2010. Universidade Federal de Santa Catarina.

SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 4
FI-0S0FIA E EDUCAÇ«0
0 objetivo desta Situação de Aprendizagem educação. Em seguida, a reáexão incidirá, mais
é introduzir o debate sobre Filosoàa e educa- especiàcamente, sobre o conceito de educação
ção. A primeira etapa debaterá o tema geral da em Theodor Adorno.

Conteúdos e temas: Adorno; emancipação; educação.

Competências e habilidades: construir argumentação consistente; analisar criticamente a prÓpria


experiência educacional.

Sugestão de estratégias: exercícios de reáexão, leitura e escrita.

Sugestão de recursos: textos disponíveis nos Cadernos e outros textos que o professor julgar adequados
e pertinentes para o tratamento do tema.

Sugestão de avaliação: pesquisas, quest×es de compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas


e outros trabalhos que o professor julgar pertinentes e adequados.

Sondagem e sensibilização – que respondam às seguintes quest×es, disponí-


Dialogar – A educação escolar veis no Caderno do Aluno

Para iniciar esse assunto, pergunte aos alu- 1. Em pequenos grupos, elabore uma frase para
nos o que eles pensam sobre educação. Em expressar o que você entende por “educa-
seguida, para aproximá-los do tema, proponha ção”. 0 que essa palavra signiàca

36
Filosofia – 2a série – Volume 2

2. Por que você vem à escola Ler e dialogar – Educação,


emancipação e sociedade democrática
3. Caso você seja obrigado por alguém a vir à
escola, por que isso ocorre Theodor Adorno é um conhecido pensa-
dor e pesquisador da Escola de Frankfurt.
4. Qual é o principal compromisso dos pro- Estudou àlosoàa, mÙsica, psicologia e socio-
fessores logia. Por isso, no conjunto da sua obra,
podemos nos deparar com conhecimentos e
5. Que tipo de aluno você é Quais são as suas reáex×es relativos a diversas áreas do conhe-
curiosidades cimento. Conhecido por suas pesquisas sobre
a indÙstria cultural, Adorno também se inte-
6. Fora da escola, o que você tem aprendido ressava por quest×es educacionais. Reáetia,
por exemplo, entre outros temas, sobre como
7. Com a vivência na escola, o que você tem o desenvolvimento científico não conduz
aprendido que considera muito importante necessariamente à emancipação. Segundo
para sua vida Adorno, há uma contradição básica na edu-
cação, que teria sido revelada nos eventos
8. Se você pretende ter àlhos, como quer que produzidos pelo nazismo. De acordo com o
eles sejam educados àlÓsofo, o desenvolvimento da sociedade sob
os auspícios da Ilustração, de uma formação
9. 0 que você sonha para seu futuro E, caso cultural e cientíàca, nos conduziu para a bar-
pretenda ter àlhos, o que sonha para o bárie. Diante dessa constatação, podemos
futuro deles questionar como a educação, meio distinto de
desenvolvimento cultural, de esclarecimento,
É importante notar que muitos pais perce- formou adeptos da ideologia nazista
bem a educação escolar e tudo que a envolve
– a escola, o professor e o aluno – apenas Para Adorno, a crise na educação tem fortes
associada ao trabalho, como uma espécie de relaç×es com o modo como produzimos tradi-
aprendizado para uma profissão, um pré- cionalmente a nossa vida material, pois, ao
-requisito para conseguir emprego. 0 aluno é produzir e consumir coisas, também formamos
mandado para a escola para aprender a nossa subjetividade. No contexto educacio-
“alguma coisa” que o capacite a trabalhar nal não seria diferente. Se a formação educa-
para auxiliar nas despesas da casa e, no cional está dirigida unicamente para a
futuro, sustentar seus àlhos. 0s alunos, por adaptação e para a apropriação de certas téc-
sua vez, em geral, enxergam a escola de nicas, tendemos a aceitar o que nos é infor-
maneira contraditÓria, com aspectos positivos mado sem crítica e sem perspectiva de mudar
e negativos. Por um lado, reconhecem na e de melhorar as nossas relaç×es. Se tudo o que
escola um lugar em que é possível aprender aprendemos tem relação com a apropriação de
novos conhecimentos e encontrar os amigos certas técnicas, tendemos a lidar com o mundo
para se divertir ou fugir dos problemas de e com as pessoas, tecnicamente e, dessa forma,
casa; por outro, também a percebem como um diàcilmente nos abriremos para o contato com
lugar onde estão perdendo tempo, onde o outro, com aqueles que não nos são familia-
encontram diàculdades para aprender o que res. Adorno reconheceu que, tanto a adapta-
se ensina e, em alguns casos, onde são humi- ção quanto o domínio de técnicas, fazem parte
lhados pelos mais variados tipos de exclusão da educação dos jovens. Contudo, essa não
e preconceito. pode ser a Ùnica ànalidade da educação esco-

37
lar. Faz parte da educação escolar a educação Segundo Adorno, a educação pode ser uma ação
moral, a formação para a autonomia, para o preventiva ao retorno à barbárie se atentar para
pensamento crítico e para a reáexão ética. as formas de coisiàcação dos homens e para os
seus fetichismos. A educação apÓs AuschXitz deve
Para ampliar esse tema, sugerimos a esclarecer e elucidar as formas de manipulação e
leitura do texto Consideraç×es sobre coisiàcação presentes em nossa sociedade. Tornar
Educação após Auschwitz, também pre- claras as relaç×es que podem nos levar a modos
sente na seção -eitura e análise de texto do de ser que nos coisiàquem e que ao mesmo tempo
Caderno do aluno, inspirado no escrito de nos levem a desconsiderar o outro como um ser
Adorno. Esse texto procura introduzir os alunos humano. Sugerimos que você contextualize o
em uma reáexão sobre a educação e sobre os ele- autor e as suas obras, o que certamente ajudará os
mentos que comp×em a barbárie e aos quais os alunos a entenderem o texto e a importância desta
processos formativos educacionais devem se opor. Situação de Aprendizagem.

Considerações sobre o texto Educação após Auschwitz


No texto Educação após Auschwitz, Theodor Adorno nos convida a refletir sobre a educação, para
que essa prática familiar e institucional seja orientada para se evitar a repetição dos horrores viven-
ciados nos campos de concentração, durante a vigência do nazismo na Europa.
Nos campos de concentração de AuschXitz, localizados no sul da Polônia e mantidos durante a
2‰ Guerra Mundial, milh×es de pessoas inocentes foram assassinadas de maneira planejada. 0 nome
“AuschXitz” refere-se a um espaço de internamento e prisão destinado para o extermínio de grupos
sociais, políticos e religiosos considerados indesejáveis. 0s eventos de AuschXitz representam tudo o
que os homens podem fazer, com aporte técnico e racional, para destruir a sua humanidade. Trata-se
de um símbolo da barbárie que ocorreu em um determinado momento histÓrico. Mas, ainda nos dias
de hoje, podemos notar práticas que nos remetem a esse momento do passado.
AuschXitz foi planejado para exterminar pessoas de forma “eficiente”. Aqueles que projetaram e
administraram esses campos de extermínio eram homens com boa formação técnica, eficientes
e competentes para cumprir as ordens de eliminar pessoas e famílias inteiras. 0 funcionamento de um
campo de extermínio desse porte sÓ foi possível porque vivia-se, já nessa época, em um mundo em que
a formação meramente técnica prioriza a repetição e o comportamento padronizado, desautorizando
os indivíduos a pensar por si mesmos. Nessa condição, segundo Adorno, temos uma sociedade de
massa, em que os indivíduos perdem a sua importância, são vistos como coisas e se tratam como coisas
que podem ser manipuladas e descartadas. Isto porque, o mundo administrado pela lÓgica da socie-
dade de massas, da produção em série, conduz os membros da sociedade a atuar no seu cotidiano
dentro dessa mesma lÓgica. De acordo com a lÓgica da produção em série, aqueles que não se identi-
ficam, que não são iguais, passam a ser encarados como inimigos. 0u seja, aquele que “não é um
igual a mim” não é bom, nem belo ou verdadeiro. Assim, passa-se a enquadrar ou “etiquetar” as
pessoas como amigos ou inimigos e, dessa forma, no interior dessa lÓgica, não é cabível refletir, rever
uma opinião, aprender, experimentar.
Na sociedade de massas, não há estímulos para ir além das convicç×es que estão disponíveis. Ao
contrário, há sempre uma onda que procura agregar os indivíduos a algum coletivo que reforça posi-
ç×es já firmadas, a fim de reproduzi-las. Esse estado de coisas, Adorno identifica como o processo de
semiformação. 0 indivíduo em situação de semiformação não procura refletir criticamente, não é
capaz de pensar a prÓpria realidade e, consequentemente, a prÓpria vida. Ele vive em um constante
processo de atualização das informaç×es, um processo que, como sabemos, não tem fim.

38
Filosofia – 2a série – Volume 2

A identificação cega com coletivos, a ostentação orgulhosa de pertencer a um certo grupo, leva os
indivíduos a aderir a um estilo de vida pré-determinado, associado a um tipo de roupa, um tipo de
mÙsica, um corte de cabelo específico, frequência a certos lugares e inimigos em comum. Essa condição
dos indivíduos semiformados é consequência da ausência de reflexão crítica, que pode ser observada em
diferentes grupos que procuram impor-se pela violência. Podemos identificar eventos relacionados à
semiformação em muitas ocorrências cotidianas, entre elas as brigas agendadas por integrantes de tor-
cidas organizadas, que se agridem mutuamente sem outro motivo além do desejo de destruir o outro
porque não está no meu grupo, porque não torce pelo meu time; o bullying escolar que, por meio da
violência psicolÓgica e física, procura exercer certo controle do ambiente escolar em relação ao modo de
ser, de vestir e de atuar dos alunos considerados indesejáveis; e os neonazistas, que determinam que alguns
grupos inviabilizam um ideal de sociedade e de cultura e, por isso, promovem uma perseguição violenta
para “excluir” os indesejáveis. Esses são exemplos que, a partir do pensamento de Adorno, podemos
entender como precursores da violência nazista. São ocorrências desse tipo que a educação deve se
colocar terminantemente contra. E como a educação pode atuar nesse sentido Segundo Adorno, pro-
movendo a formação dirigida para a autorreflexão crítica, estimulando a decisão consciente, a partir do
entendimento esclarecido do que somos e do mundo em que vivemos.
No texto Educação após Auschwitz, Theodor Adorno reconhece na educação a possibilidade de
impedir o retorno da barbárie do tipo que se conheceu em AuschXitz, pois somente a educação pode,
além de promover a adaptação à realidade, levar à emancipação. 0u seja, a educação deve formar
indivíduos conscientes, capazes de não se deixar determinar pelos outros.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, solicite que os alunos res- e apresentada oralmente ou em uma redação,
pondam à questão proposta no Caderno do conforme julgar pertinente.
Aluno A partir das consideraç×es apresenta-
das no texto, podemos articular ética e edu- Em seguida, sugerimos que os alunos
cação Justiàque sua resposta. realizem a Pesquisa em grupo sobre
crimes de Ódio, conforme a proposta
Um exercício interessante, a partir do Caderno do Aluno. Nessa pesquisa, os alunos
da proposta de Pesquisa individual devem deànir esse tipo de crime, suas diferentes
do Caderno do Aluno, é pensar no formas de manifestação e quem são as principais
tipo de escola em que eles estudam, conside- vítimas. A partir dessa pesquisa, os alunos devem
rando as disciplinas que comp×em o currículo redigir um diálogo entre dois alunos ou um aluno
e o quanto cada uma delas contribui para pen- e um professor, ou, ainda, um aluno e um funcio-
sar as relaç×es humanas, o respeito ao outro, em nário, cujo tema é “0 combate à intimidação na
especial, àqueles que não são semelhantes física, escola e a prevenção aos crimes de Ódio”. Poste-
cultural ou socialmente. Peça a eles que consi- riormente, os diálogos podem, a critério do pro-
derem as aulas em sua escola e pergunte-lhes fessor, ser encenados.
Elas têm contribuído para evitar a brutalidade e
a coisiàcação? Para responder a essa questão, os Professor, sugerimos, ainda, caso tenha con-
alunos podem entrevistar os professores das diç×es, que planeje a exibição do àlme A onda
diferentes disciplinas para entender o potencial (Dennis Gansel, 2008). Esse filme, cuja ação
da educação escolar e do currículo de contribuir transcorre na Alemanha, é baseado em uma
para uma educação que potencialize o respeito histÓria real ocorrida na CalifÓrnia, na década
ao outro. Essa reáexão poderá ser sistematizada de 1960, de um professor de Ensino Médio que

39
deveria ministrar aulas sobre autocracia. Para ram para melhor entender o tema desta Situa-
estimular o interesse dos alunos por suas aulas, ção de Aprendizagem. -embramos que, antes
ele prop×e uma experiência que demonstre da exibição, é preciso veriàcar a indicação etária
como as massas são facilmente manipuladas, tal do àlme e a maturidade dos alunos para enten-
como foram nos eventos do nazismo. Nesse der a mensagem.
contexto, o professor coloca em prática meca-
nismos de manipulação e, em pouco tempo, os 0 texto que segue, disponível também
alunos começam a propagar o poder do grupo no Caderno do Aluno, na seção -ei-
e ameaçar os outros. Se optar pela exibição do tura e análise de texto, apresenta uma
àlme, sugerimos uma atividade referente a ele. interessante posição acerca das relaç×es entre
Ao ànal da exibição, os alunos devem elaborar uma educação que promova a autonomia e a
um resumo da histÓria e, em seguida, indicar emancipação e a construção de uma sociedade
duas ou mais cenas signiàcativas que contribuí- verdadeiramente democrática.

Educação – Para quê?


É bastante conhecida a minha concordância com a crítica ao conceito de modelo ideal. Esta expressão
se encaixa com bastante precisão na esfera do jargão da autenticidade que procurei atacar em seus funda-
mentos. Em relação a essa questão, gostaria apenas de atentar a um momento específico no conceito de
modelo ideal, o da heteronomia, o momento autoritário é imposto a partir do exterior. Nele existe algo de
usurpador. É de se perguntar de onde alguém se considera no direito de decidir a respeito da orientação da
educação dos outros. As condiç×es – provenientes no mesmo plano de linguagem e de pensamento ou de
não pensamento – em geral também correspondem a esse modo de pensar. Encontram-se em contradição
com a ideia de um homem autônomo, emancipado, conforme a formulação definitiva de Kant na exigência
que todos os homens tenham que se libertar de sua autoinculpável menoridade.
A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidente-
mente, não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir
do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta
já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isso seria inclusive da maior
importância política; sua ideia, se é permitido dizer assim, é uma exigência política, isto é, uma democracia
com o dever de não apenas funcionar, mas também operar conforme o seu conceito, demanda pessoas
emancipadas. Uma democracia efetiva sÓ pode ser imaginada em uma sociedade de quem é emancipado.
Numa democracia, quem defende ideais contrários à emancipação, e, portanto, contrários à decisão
consciente independente de cada pessoa em particular, é um antidemocrata, até mesmo se as ideias que
correspondem a seus desígnios são difundidas no plano formal da democracia. As tendências de apresenta-
ção de ideias exteriores que não se originam a partir da prÓpria consciência emancipada, ou melhor, que se
legitimam diante dessa consciência, permanecem sendo coletivistas-reacionárias. Elas apontam para uma
esfera a que deveríamos nos opor não exteriormente pela política, mas também em outros planos muito
mais profundos.
AD0RN0, Theodor. Educação – Para quê In Educação e emancipação. Tradução 8olfgang -eo Maar. 2. ed.
Rio de Janeiro Paz e Terra, 1995. p. 141-142.

ApÓs a leitura, indicamos para os alunos 1. Para o autor, qual é o papel social da
as seguintes quest×es, a fim de avaliar a educação Perguntando de outro modo,
compreensão do texto. qual é o objetivo da educação

40
Filosofia – 2a série – Volume 2

2. Com base no texto, o que você pode mesmo Quem usa a razão sÓ para não ter
comentar sobre a relação entre educa- problemas pessoais (uso privado da razão)
ção e democracia Quem usa a razão para tornar o mundo melhor
(uso pÙblico da razão) 0s religiosos dizem
3. Em sua opinião, como a educação pode não questione, creia. A televisão diz não ques-
ser contrária à emancipação tione, assista, compre e seja. 0 político diz não
questione, vote. 0s “valent×es” dizem não
Professor, para finalizar esta Situação de questione, obedeça.
Aprendizagem, sugerimos que articule a
posição de Adorno sobre como a educação Entretanto, a pessoa emancipada ques-
deve se opor ao coletivismo reacionário e, tiona abertamente, sabe o que quer e precisa
nesse sentido, promover a emancipação, disso para ser livre. Ela quer saber o motivo,
com a posição defendida por Kant, de que ela precisa entender para aceitar ou não o
os homens devem libertar-se do estado de que lhe é falado, ordenado. Ela usa os estu-
menoridade. Segundo Kant, um homem dos, o raciocínio, a imaginação e a crítica
emancipado é um homem sem guia, isto é, para seguir o seu caminho.
minoridade é viver sem a independência
que vem do uso da racionalidade. 0 que
impede o homem de assumir a sua maiori- Avaliação da Situação de
dade é a preguiça e a covardia. Preguiça de Aprendizagem
ler, de aprender, de pesquisar, de ouvir e de
se cansar em busca de uma maneira melhor Como sugestão de avaliação desta Situação
de viver. Covardia em não enfrentar os pro- de Aprendizagem, você pode propor aos alu-
blemas, os erros, as decepç×es, conduzindo nos que respondam às quest×es
à preferência de se manter como uma espé-
cie de criança imatura que para tudo neces- 1. Qual é a diferença do uso privado e do
sita de outro dizendo o que deve ser e fazer. uso pÙblico da razão
O aluno deve responder, orientado pelo professor, a res-
Para quem perguntamos as coisas funda- peito da diferença indicada por Kant. O uso privado é
mentais da vida Quem é o guia Algum um uso que não confere uma mudança substancial ao
familiar, como o pai ou a mãe 0 professor, mundo, isto é, usa-se a razão para não encontrar proble-
o pastor, o padre, o político, o livro, o filme mas. O uso público da razão significa a emancipação e o
A minoridade é uma prisão. A maioridade questionamento da realidade.
é a libertação. A liberdade vem a partir do
momento em que se assume a racionalidade, 2. Comente a seguinte aàrmação de Adorno
ou melhor, o esclarecimento. A escola deve “Numa democracia, quem defende ideais
ser o palco do esclarecimento para, então, contrários à emancipação, e, portanto,
tornar-se geradora de cidadania. contrários à decisão consciente indepen-
dente de cada pessoa em particular, é um
0 sinal de que isso está acontecendo é o uso antidemocrata, até mesmo se as ideias que
pÙblico da razão. Isso signiàca assumir posi- correspondem a seus desígnios são difun-
ç×es reáetidas, o que é diferente do uso privado didas no plano formal da democracia”.
da razão, que é responder racionalmente a Espera-se que os alunos argumentem que, em uma
situaç×es corriqueiras, como se calar diante da democracia verdadeira, mais do que ideias e orienta-
autoridade. Quem tem coragem de usar a ções formais de funcionamento, a sociedade democrá-
razão Quem tem vontade de superar a si tica só poderá funcionar a partir da postura democrática

41
identificada na atitude de respeitar as diferenças, a opo- podem escolher imagens que para eles repre-
sição e a opinião de cada um que se manifeste. sentem as relaç×es entre Filosoàa e educação
e redigir um parágrafo explicativo sobre como
3. Seguir cegamente a interpretação que os o tema foi abordado no cartaz. 0 resultado
outros fazem da religião, de como votar ànal pode ser exposto para os demais alunos.
e em quem votar e nunca reclamar do
que está acontecendo no mundo é carac-
terístico de uma formação emancipada Recursos para ampliar a
Justifique a sua resposta. perspectiva do professor e do
Espera-se que os alunos reconheçam que as característi- aluno para a compreensão do tema
cas descritas não podem ser atribuídas a pessoas emanci-
padas, pois estas, segundo Adorno, são capazes de pensar Livros
por si mesmas.
AD0RN0, Theodor. Educação e emancipa-
Professor, no Caderno do Aluno, ção. Tradução 8olfgang -eo Maar. 2. ed.
na seção 7ocê aprendeu , foram Rio de Janeiro Paz e Terra, 1995.
propostas algumas quest×es. 7ocê
poderá aproveitá-las para compor a avaliação, M0RAES, Alexandre -. Indivíduo e resistência
se acreditar que são pertinentes. Nesse caso, sobre a anulação da individualidade e a possibili-
você poderá pedir aos alunos que façam a ati- dade de resistência do indivíduo em Adorno e
vidade em folha avulsa. Horkheimer. Tese defendida na Unicamp.

PE-ANCA, Nelson. Modernidade, educa-


Proposta de situação de ção e alteridade Adorno, cogitaç×es sobre
recuperação um outro discurso pedagÓgico. Tese defen-
dida na Unicamp.
0s alunos que não conseguiram alcançar os
objetivos desta Situação de Aprendizagem Filme
devem ser convidados para uma releitura dos
textos propostos e, a partir dessa releitura, você A onda. Direção Dennis Gansel. Alemanha,
poderá propor que elaborem um cartaz. Eles 2008. 110 min. 16 anos.

SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 5
INTR0DUÇ«0 © BI0ÉTICA
Esta Situação de Aprendizagem introduz Qual é o conceito de vida humana? O que é
uma questão cada vez mais relevante o con- certo e o que é errado quando avaliamos os
trole da Ciência e da Tecnologia sobre os resultados do avanço tecnológico? A quem esse
processos de estabelecimento, manutenção e avanço beneàcia? Como responder a essas ou
prolongamento da vida. Dessa forma, o outras quest×es cruciais de uma sociedade em
debate àlosÓàco se dará em torno da bioética que as tecnologias tornam-se obsoletas da
e serão discutidas quest×es relativas aos valo- noite para o dia, mas que ainda se vê comple-
res da vida humana em relação à saÙde, à tamente envolvida com temas que continuam
medicalização da existência e ao meio provocando debates é a reáexão norteadora
ambiente, tais como O que é moral ou ético? desta Situação de Aprendizagem.

42
Filosofia – 2a série – Volume 2

Conteúdos e tema: bioética.

Competências e habilidades: leitura, escrita e expressão oral com base na compreensão e na crítica
para pensar a bioética.

Sugestão de estratégias: exercícios de reáexão e leitura.

Sugestão de recursos: àlme e texto para leitura.

Sugestão de avaliação: como instrumentos de avaliação, recomendamos pesquisas, quest×es de


compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas e outros trabalhos que o professor julgar
pertinentes e adequados.

Sondagem e sensibilização – Ouvir são, rádio, internet, entre outros, e saber o que
e dialogar – O que é bioética eles pensam sobre o assunto é importante para
encaminhar as aulas e para avaliar o quanto se
Para iniciar esta Situação de Aprendizagem, pode avançar nesse debate tão necessário e tão
recomendamos um pequeno debate para que presente no nosso tempo.
os alunos exponham as suas ideias e os seus
conhecimentos sobre o tema bioética. Para
iniciar esse debate sugerimos as seguintes per- Ler, ouvir e dialogar – Introdução à
guntas Você já ouviu falar em bioética? Se sim, bioética
em que momento? Qual é a sua opinião sobre o
assunto? Se não, o que esse nome sugere? Quais ApÓs essa primeira sondagem, suge-
assuntos, a partir desse nome “bioética”, podem rimos a leitura de um excerto para
ser motivo de discussão? Professor, você pode promover uma reflexão profunda
usar um desses questionamentos, todos ou sobre o que queremos quando manipulamos
outros que julgar pertinentes. 0 importante é os processos de vida e morte e as consequên-
iniciar o debate a partir do conhecimento pré- cias geradas a partir disso. Esse excerto está
vio dos alunos. Não podemos esquecer que eles reproduzido a seguir e no Caderno do Aluno,
têm acesso a muitas informaç×es, pela televi- na seção -eitura e análise de texto.

A duração da vida humana


Hoje [...] certos progressos na biologia celular nos acenam com a perspectiva de atuar sobre os
processos bioquímicos de envelhecimento, ampliando a duração da vida humana, talvez indefinida-
mente. A morte não parece mais ser uma necessidade pertinente à natureza do vivente, mas uma falha
orgânica evitável; suscetível, pelo menos, de ser em princípio tratável e adiável por longo tempo. Um
desejo eterno da humanidade parece aproximar-se de sua realização. Pela primeira vez temos de nos
pôr seriamente a questão “Quão desejável é isto Quão desejável para o indivíduo e para a espécie ”
Tais quest×es tangenciam nada menos do que todo o sentido de nossa finitude, a postura diante da
morte e o significado biolÓgico geral do equilíbrio entre morte e procriação. Antes de tais quest×es
Ùltimas colocam-se as quest×es mais práticas de saber quem deve se beneficiar com a hipotética bênção
pessoas de valor e mérito especial De eminência e importância social Aqueles que podem pagar por
isso Todos A Ùltima opinião pareceria a Ùnica justa. Mas a conta seria paga na extremidade oposta,

43
na fonte. Pois está claro que, na escala demográfica, o preço por uma idade dilatada é um retardamento
proporcional da reposição, isto é, um ingresso menor de vida nova. 0 resultado seria uma proporção
decrescente de juventude em uma população crescentemente idosa. Isso será bom ou ruim para a
condição geral do homem Com isso ganharia ou perderia a espécie Em que medida seria justo barrar
o lugar da juventude, ocupando-o Ter de morrer liga-se ao ter nascido mortalidade é apenas o outro
lado da fonte duradoura da natalidade [...]. As coisas sempre foram assim; mas agora o seu sentido
deve ser repensado no domínio da decisão.
J0NAS, Hans. O princípio responsabilidade ensaio de uma ética para a civilização tecnolÓgica. Tradução Marijane
-isboa e -uiz Barros Montez. Rio de Janeiro Contraponto/Ed. PUC-Rio, 2006. p. 58.

Para iniciar a discussão sobre o tema com o conhecimento cientíàco desenvolvido e as recen-
base no texto, sugerimos a seguinte questão, tes tecnologias relacionadas à vida biolÓgica.
também disponível no Caderno do Aluno Não
morrer e continuar a fazer parte do mundo ApÓs essa primeira abordagem, consi-
“para sempre” é um antigo sonho da humani- deramos importante traçar um histÓ-
dade. Contudo, conforme podemos notar no rico, ainda que breve, dos eventos que
fragmento da obra O princípio responsabilidade, envolvem a vida, a morte, a reprodução humana
o autor nos coloca um problema, caso um dia e a preservação da espécie, assuntos centrais da
seja possível realizar esse sonho. Qual é esse bioética. Esse histÓrico também está disponível no
problema Qual é a sua posição sobre isso Caderno do Aluno, na seção -eitura e análise de
texto. 0s dados dos eventos foram adaptados a
Esse primeiro texto tem o sentido de sensibili- partir das informaç×es do artigo “Introdução à
zar os alunos para o tema que envolve a vida e a bioética”, de Fermin Roland Schramm e Marlene
morte. Um assunto complexo e polêmico em Braz (disponível em http//XXX.ghente.org/
todos os sentidos. 0 fragmento de texto de Hans bioetica/index.htm. Acesso em 23 abr. 2014). 0s
Jonas tem o sentido de provocar uma reflexão dados completos, assim como alguns artigos e
mais profunda sobre o significado da vida, da matérias sobre o tema, disponíveis nesse site,
morte, da reprodução humana, e preservação da podem ser um importante apoio para um apro-
espécie, que atualmente não pode ser pensado sem fundamento da questão, caso julgue necessário.

Bioética
Bioética é um termo usado a partir da década de 1970 para o estudo de quest×es de ordem moral susci-
tadas por pesquisas científicas e tecnolÓgicas voltadas para a manutenção e/ou alteração dos ritmos da vida.
Nesse sentido, podemos considerar que a bioética é uma ética aplicada. 0 termo bioética decorre de um
processo histÓrico ligado a experiências com a vida e a uma gradual, ainda que lenta, ampliação e reconhe-
cimento dos direitos humanos. A bioética como um estudo voltado para quest×es morais acerca de pesquisas
científicas sÓ faz sentido porque há um consenso geral de que as práticas científicas e tecnolÓgicas devem ser
responsáveis. A demanda por esses estudos tem o sentido de evitar distorç×es sobre as aç×es científicas,
técnicas e médicas que atuam sobre a manutenção e a melhoria da vida do planeta e dos homens que nele
habitam. Essa demanda não é simples e deve atentar para as possíveis implicaç×es no desenvolvimento de
pesquisas e práticas que envolvem a vida biolÓgica e moral dos seres humanos e, nesse sentido, refletir e
considerar até que ponto uma pesquisa e suas implicaç×es valem a pena. Uma série de eventos no âmbito
da pesquisa científica levou à formulação de um termo específico relativo a um estudo prático sobre a moral
e as reflex×es éticas que devem permear as pesquisas científicas e as aç×es que manipulam a vida.

44
Filosofia – 2a série – Volume 2

Destacamos que é a partir do século XX que podemos notar um esforço cada vez mais significativo
para o estabelecimento de padr×es e normas que respeitem a vida humana e a vida no planeta, pois foi
nesse mesmo século que essas quest×es foram mais fortemente suscitadas.
0 ano de 1900 pode ser lembrado como a primeira tentativa de estabelecer parâmetros para a pesquisa
científica envolvendo pessoas. Nesse ano, o Ministério da SaÙde da PrÙssia tornava pÙblico um documento
que procurava organizar, estabelecendo padr×es para a pesquisa científica que fazia experimentação em
humanos. 0 documento indicava que o sujeito pesquisado deveria ser informado sobre a pesquisa e as
possíveis consequências. Contudo, esse documento não foi suficiente para nortear outras relaç×es entre
pesquisadores e pesquisados e em 1930 ocorreu o “desastre de -Ûbeck”, que levou à morte 75 crianças de
um total de 100. Essas mortes foram decorrentes de um teste com vacina BCG. Segundo consta, os testes
foram realizados sem o consentimento dos adultos responsáveis pelas crianças. No ano seguinte ao desas-
tre, as autoridades alemãs da época produziram um novo documento regulador de pesquisas.
Durante a ascensão do nazismo na Alemanha e dos eventos de terror que marcaram a 2ª Guerra
Mundial, outras normas passam a vigorar sobre a manutenção da vida. Nessa época, foram estabelecidos
novos padr×es sobre a vida e a morte e esses padr×es foram legitimados por médicos e juristas, ou seja,
por profissionais, cujas especialidades referem-se ao campo da vida biolÓgica e da vida moral.
Assim, um “tribunal de saÙde hereditária”, que visava “proteger” os alemães de raças e populaç×es
consideradas inferiores, foi criado no contexto do regime nazista. Nesse período, a eutanásia era prática
legítima para o regime, que apontava os “doentes incuráveis” como “vidas que não valiam a pena de ser
vividas”. A eutanásia, decidida por médicos, poderia ser realizada por injeção ou sufocamento em câmara
de gás. Dessa forma, em nome da “limpeza hereditária e étnica” foram utilizados conhecimentos científicos
e mecanismos tecnolÓgicos, com a participação de médicos, para a realização de torturas e assassinatos.
Havia, ainda, pesquisas relacionadas a medicamentos e métodos em que humanos, prisioneiros dos cam-
pos de concentração, eram usados como cobaias.
0 fim da guerra provocou uma nova etapa para os procedimentos médicos e para a pesquisa científica,
que demandava até então experimentação em seres humanos. 0s eventos e os procedimentos utilizados
pelos médicos e cientistas do regime nazista incitaram uma retomada das quest×es éticas sobre experi-
mentação em seres humanos. Em 1947, a partir do que foi presenciado no tribunal de julgamento dos
médicos nazistas, foi elaborado o CÓdigo de Nuremberg. 0 CÓdigo define que os experimentos devem
buscar resultados vantajosos para a sociedade, e que antes dos seres humanos, a experimentação deve ser
feita primeiro em animais; que os voluntários têm direito à informação sobre o desenvolvimento da
pesquisa, assim como o direito de determinar o fim da sua participação na mesma; e que os experimentos
devem ser conduzidos de maneira a se evitar o sofrimento físico e moral.

Além de atentar para a experimentação em seres humanos, a Bioética apresenta uma significativa preo-
cupação com aqueles que devem ser beneficiados com o avanço científico e tecnolÓgico. Nesse sentido,
destacamos como exemplo, nesse breve histÓrico, a criação do Comitê de Seleção de Diálise em Seattle, EUA
(1960-1971). 0 desenvolvimento da técnica de diálise e o consequente aumento de custos levaram à criação
do referido comitê, também conhecido como “Comitê Divino”. Ele detinha o poder de selecionar os que
seriam atendidos pelo procedimento1 e determinava o acesso ao tratamento de uns pacientes em detrimento
de outros, o que, de forma indireta, decidia os que sobreviveriam. As dificuldades dos doentes, assim como
a existência desse tipo de comitê, levou o debate de ordem técnica/moral para o contexto do atendimento
médico, que foi um dos eventos fundadores da Bioética.

1
Conforme SI-7A, Carlos H.D.; SCHRAMM, Fermin R. Bioética da obstinação terapêutica. Disponível em http//
XXX.inca.gov.br/rbc/n@53/v01/pdf/artigo2.pdf. Acesso em 20 fev. 2014.

45
A cada avanço científico, a cada nova etapa que envolve novas formas de se entender a vida, a morte
e, a cada nova etapa que modifica o modo de viver, novas quest×es éticas são postas e repostas. A apro-
vação pela FDA (Food and Drug Administration) nos EUA, do primeiro contraceptivo oral, nos anos de
1960, promoveu modificaç×es na vida das mulheres. Não podemos negar que, ao inibir a fertilidade, a
fecundação e a procriação, a vida das mulheres ganhou uma autonomia desconhecida para as geraç×es
anteriores. Contudo, a pílula não encerrou as quest×es sobre a fecundação e procriação, pois ainda há o
debate sobre a vida, sobre o início da vida. Principalmente, não encerrou as quest×es relativas a outras
práticas que inibem a procriação, como o aborto. A fertilização assistida, por outro lado, abriu nova
possibilidade para casais com problemas para ter filhos e auxiliou no amplo debate sobre os campos de
atuação humana na determinação da vida. Esse debate é tão recente que pode abrir portas para procedi-
mentos mais inusitados, principalmente apÓs a experiência de clonagem da ovelha Dolly, em 1996.
Acrescentam-se a esse breve histÓrico novas práticas e técnicas relativas ao Projeto Genoma Humano.
Esse projeto foi iniciado pelo Departamento de Energia do Instituto Nacional de SaÙde dos Estados
Unidos (1999) e desenvolveu uma tecnologia capaz de descrever e mapear o sequenciamento de 99% do
genoma humano de forma precisa. 0 sucesso do projeto traz a perspectiva de empreendimentos no
contexto da realização de diagnÓsticos e terapias de doenças genéticas. A partir disso, novamente, quest×es
éticas se fazem presentes.
Fonte de dados SCHRAMM, Fermin R.; BRA;, Marlene. Introdução à bioética.
Disponível em http//XXX.ghente.org/bioetica/index.htm. Acesso em 23 abr. 2014.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, oriente os alunos a respon- para o desenvolvimento cientíàco e tecnolÓ-


derem à seguinte questão, também disponível gico, sempre exigem alguma forma de julga-
no Caderno do Aluno mento ético moral Por quê

A partir do texto apresentado, podemos Sugerimos que leia com os alunos a


observar que, a cada novo caso ou descoberta Declaração Universal sobre o Genoma
cientíàca, novas quest×es éticas são colocadas. Humano e os Direitos Humanos, dis-
Nesse contexto, podemos aàrmar que as prá- ponível também no Caderno do Aluno, na
ticas humanas, inclusive aquelas voltadas seção -eitura e análise de texto.

Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos


Prefácio
Acredito que um leitor, ao deparar-se com a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os
Direitos Humanos, adotada pela Conferência Geral da UNESC0 em sua 29o sessão (1997), será
impactado por dois aspectos. Primeiramente, pela abrangência do texto que, num contexto científico
e político marcado por quest×es polêmicas como a manipulação do genoma humano, a clonagem
humana e os transgênicos, afirma ou reafirma princípios e valores intangíveis. Em segundo lugar, pelos
inÙmeros e diferentes atores envolvidos, graças a diversos fatores a natureza inerente ao assunto que,
como todas as quest×es éticas, situa-se na interface entre várias disciplinas; a universalidade de seu
enfoque, que deverá ser enriquecido por um debate pÙblico envolvendo todos os membros da socie-
dade; a diversidade de contextos econômicos, sociais e culturais nos quais se enraíza o pensamento

46
Filosofia – 2a série – Volume 2

ético ao redor do mundo. Isso porque a reflexão de cada indivíduo se desenvolve conforme sua prÓpria
natureza, plasmada por sua histÓria e suas tradiç×es (legais, políticas, filosÓficas, religiosas, etc.).
Diante das novas quest×es éticas levantadas pela velocidade, algumas vezes surpreendente do
progresso nesse campo, a abrangência e o alcance potencial da Declaração tornaram necessário à
UNESC0 elaborar um sistema voltado para seu acompanhamento e implementação – uma inovação
em se tratando de instrumento não mandatário.
De todos os lados, afirmou-se o interesse de que esse sistema possa se tornar rapidamente opera-
cional, de modo que os princípios contidos no texto possam ser transformados em realidade com a
maior rapidez possível. A Declaração necessita ser implementada com especial urgência, em função
da velocidade sempre crescente do progresso técnico e científico da biologia e da genética, em que
cada avanço quase infalivelmente traz novas esperanças para a melhoria do bem-estar da humanidade,
ao lado de dilemas éticos sem precedentes.
Em decorrência disso, a Conferência Geral da UNESC0 em sua 30o sessão (1999) adotou as
“Diretrizes para a Implementação da Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos
Humanos” elaboradas pelo Comitê Internacional de Bioética e aprovadas pelo Comitê Intergoverna-
mental de Bioética.
Estou convencido de que essas Diretrizes servirão para reforçar o compromisso moral assumido
pelos Estados-Membros ao adotarem a Declaração, para dar consistência aos valores que defendem
e para estimular o maior nÙmero possível de indivíduos a refletir sobre preocupaç×es de natureza ética,
ampliadas a cada dia por novas quest×es, para as quais não há respostas definidas e cujos desdobra-
mentos podem, hoje, afetar o destino que a humanidade está construindo para si. [...]

C – Pesquisa sobre o Genoma Humano


Artigo 10
Nenhuma pesquisa ou suas aplicaç×es relacionadas ao genoma humano, particularmente nos campos
da biologia, da genética e da medicina, deve prevalecer sobre o respeito aos direitos humanos, às liberdades
fundamentais e à dignidade humana dos indivíduos ou, quando for aplicável, de grupos humanos.
Artigo 11
Práticas contrárias à dignidade humana, tais como a clonagem de seres humanos, não devem ser
permitidas. Estados e organizaç×es internacionais competentes são chamados a cooperar na identificação
de tais práticas e a tomar, em nível nacional ou internacional, as medidas necessárias para assegurar o
respeito aos princípios estabelecidos na presente Declaração.

Artigo 12
a) 0s benefícios dos avanços na biologia, na genética e na medicina, relacionados ao genoma
humano, devem ser disponibilizados a todos, com a devida consideração pela dignidade e pelos direitos
humanos de cada indivíduo.
b) A liberdade da pesquisa, necessária ao avanço do conhecimento, é parte da liberdade de pensa-
mento. As aplicaç×es da pesquisa, incluindo aquelas realizadas nos campos da biologia, da genética
e da medicina, envolvendo o genoma humano, devem buscar o alívio do sofrimento e a melhoria da
saÙde de indivíduos e da humanidade como um todo. [...]
UNESC0. Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos.
Disponível em http//unesdoc.unesco.org/images/0012/001229/122990por.pdf. Acesso em 3 dez. 2013.

47
ApÓs a leitura, peça que os alunos respon- do Caderno do Aluno. Entendemos que a
dam às quest×es a seguir leitura com a sala pode ser estimulada por um
debate prévio. Para formalizá-lo, sugerimos as
1. Por que as quest×es estudadas na Declara- quest×es
ção têm caráter de urgência
f Qual é o papel da indÙstria farmacêutica
2. A liberdade de pesquisa sobre o genoma e das estratégias de marketing e propa-
humano apresenta alguma condição Qual ganda para o consumo de produtos far-
macolÓgicos
Sugerimos no Caderno do Aluno, f Quais são os elementos que mais chamam
como Pesquisa individual, uma atenção nesse tipo de propaganda 0 ator que
atividade sobre os principais pro- interpreta o texto, o jingle, o slogan ou a infor-
blemas enfrentados pela bioética no mundo mação sobre os efeitos do medicamento
contemporâneo. Peça que os alunos escolham f 7ocê se lembra de alguma propaganda de
um problema que acreditam ser relevante ou produto farmacolÓgico
interessante, justificando a sua escolha. Há f 7ocê já consumiu algum produto farma-
espaço para o registro da pesquisa no Caderno colÓgico ináuenciado pela propaganda
do Aluno. 7eriàque se essa pesquisa atende ao Qual
seu planejamento sobre o tema, se é relevante f Há um entendimento comum de que bra-
para a turma. Também indicamos, no Caderno sileiros têm o hábito de automedicar-se.
do Aluno, dois sites e dois autores para pes- 7ocê pode imaginar um motivo Excesso
quisa. 7eriàque se esses sites são satisfatÓrios de propaganda Diàculdades em encon-
para atender às necessidades da turma. trar atendimento médico

ApÓs o debate, sugerimos que os alunos


Dialogar e ler – Mercantilização da respondam às seguintes quest×es, também pre-
saúde e da vida sentes no Caderno do Aluno No Brasil, os
produtos farmacolÓgicos são considerados
0 texto “A medicalização e a mer- como qualquer outro produto Um produto
cantilização da vida” está disponível farmacolÓgico pode ter seu consumo induzido
na seção -eitura e análise de texto pela propaganda Comente.

A medicalização e a mercantilização da vida


Remédios, consultas e tratamentos médicos, planos de saÙde e até pesquisas sobre doenças e gené-
tica humana transformaram a vida em uma espécie de mercadoria ou fonte de consumo.
No entanto, quando o desejo de lucro se sobrep×e ao atendimento das necessidades essenciais das
pessoas, a questão se transforma em um problema ético por excelência, pois a comercialização dos
recursos da saÙde não deveria colocar em jogo o valor da vida humana.
No Brasil, programas e iniciativas do poder pÙblico em diferentes níveis têm possibilitado baratear a
produção de remédios e ampliar os tipos de tratamento disponíveis para a população. A educação, por sua
vez, também amplia as oportunidades de acesso à saÙde, facilitando a adoção de cuidados preventivos e
as respostas mais rápidas aos primeiros sintomas de doenças. Não se pode esquecer ainda das campanhas
de vacinação, de alimentação equilibrada e da constante vigilância sanitária. Tudo isso, obviamente, é
positivo e necessário e ainda há muito o que fazer para atender às necessidades de saÙde da população.

48
Filosofia – 2a série – Volume 2

Por outro lado, é importante notar a medicalização crescente da sociedade, causada pela ideia de
que a medicina pode resolver tudo, evidentemente, com a ajuda dos produtos farmacêuticos. Segundo
essa tendência, para quase tudo se acena com um tipo de remédio que “cura” todo o tipo de mal-estar,
além daqueles que curam as sequelas do uso de outros, e assim por diante, numa espécie de reação em
cadeia. Há remédios e suplementos para ficar forte, aliviar o cansaço, iluminar a pele, emagrecer,
engordar, ficar bonito, tirar a dor, ficar bem-disposto e muitos outros, que cada vez mais enchem as
prateleiras das farmácias espalhadas em muitas ruas, praças e shoppings das cidades.
Podemos considerar que o aumento de consumo de produtos farmacolÓgicos, destinados a atender
necessidades secundárias como a adoção de um padrão estético ditado pelos diferentes meios de comuni-
cação social, poderia ser substituído pelo cuidado com a alimentação e com a prática de atividade física.
Contudo, a urgência em estar de acordo com os padr×es leva as pessoas a consumir, muitas vezes de forma
equivocada e sem prescrição médica, remédios, suplementos e fÓrmulas que prometem resultados em curto
prazo. Se a propaganda promete efeitos mais rápidos para o emagrecimento ou para a conquista da forma
considerada socialmente como ideal, isso não significa que a responsabilidade pessoal ou social possa ser
substituída pelo mercado da saÙde. Aqui está outra área de atuação da bioética, que se preocupa não apenas
com o acesso econômico das pessoas aos produtos farmacêuticos, mas também com a imposição merca-
dolÓgica de produtos em áreas que podem dispensar qualquer forma de medicalização.
O ser humano ideal e os avanços da engenharia genética
0 avanço da engenharia genética e as pesquisas com células-tronco embrionárias sugerem a pos-
sibilidade de que um indivíduo possa vir a superar possíveis doenças e também que se controlem e
selecionem determinadas características genéticas.
Em meio a tudo isso, é possível perguntar Que ser humano é desejado e que ser humano deve ser
evitado Até que ponto os pais podem decidir sobre como devem ser os filhos Com a manipulação
genética, apresenta-se outro problema bioético, a respeito de como devem ser os filhos Que seres
podem ser escolhidos ou recusados Como podem (ou devem) ser metamorfoseados Não era esse o
sonho nazista de criar uma raça perfeita, pura, eliminando toda e qualquer imperfeição
A bioética, nesse sentido, implica a necessidade de se refletir sobre a existência humana, uma vez
que os nossos medos e angÙstias, as formas pelas quais nos conhecemos e nos compreendemos, assim
como os paradoxos e desafios do viver passaram a ser perpassados por inovaç×es técnicas e científicas
até então inéditas na humanidade.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Avaliação da Situação de
Aprendizagem
alunos que leiam o trecho a seguir e então
Como sugestão de avaliação desta Situa- respondam à questão Por que a bioética
ção de Aprendizagem, você pode propor aos tornou-se necessária

A outra face desta atitude nos mostra, no entanto, um esforço para recompor, dentro de certos
limites, o interesse ético que deve fazer parte da atuação do pesquisador e do profissional, principal-
mente quando os fatos indicam que a ausência de preocupação ética ocasiona a transgressão das
fronteiras que separam o humano do inumano.
SI-7A, Franklin -eopoldo e. Da ética àlosÓàca à ética em saÙde. In Iniciação à bioética. Brasília Conselho Federal de Medicina,
1998. p. 33. Disponível em http//portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/iniciao%20%20biotica.pdf. Acesso em 2 jan. 2014.

49
Os alunos deverão responder que diversas formas existen- Recursos para ampliar a perspectiva
tes de desrespeito ao ser humano, inclusive no contexto do professor e do aluno para a
da pesquisa científica e na área médica – áreas que deve- compreensão do tema
riam ter como finalidade a melhoria das condições de vida
humana – revelaram historicamente o esquecimento da Livros
reflexão ética e dos padrões de moralidade. A bioética surge
no sentido de resgatar a reflexão dos padrões da morali- F0UCAU-T, Michel. Em defesa da sociedade.
dade que exigem o respeito à dignidade de todos os seres São Paulo Martins Fontes, 1999.
humanos. Dessa forma, os alunos devem, a partir do que foi
estudado, ser capazes de entender que a bioética tornou-se @@@@@@@@@@@. Resumo dos cursos do Collège de
necessária para nortear práticas científicas e tecnológicas France. Rio de Janeiro ;ahar, 1994.
que incidem sobre fenômenos vitais a fim de que estas con-
siderem a vida humana como um fim e não como meio e J0NAS, Hans. O princípio responsabilidade
respeitem a dignidade humana. ensaio de uma ética para a civilização tecnolÓ-
gica. Tradução Marijane -isboa, -uiz Barros
No Caderno do Aluno, na seção Montez. Rio de Janeiro Contraponto/ Ed.
7ocê Aprendeu , é proposta outra PUC Rio – 2006.
atividade. 7ocê poderá aproveitá-
-la para compor a avaliação, se acreditar que Filme
é pertinente. Nesse caso, você poderá pedir
aos alunos que façam a atividade em folha Mar adentro. Direção Alejandro Amenábar.
avulsa. Espanha / Itália / França, 2004. 125 min. Drama.

Sites
Proposta de situação de
recuperação BI0ÉTICA. Disponível em http//XXX.bioe
tica.ufrgs.br/textos.htm. Acesso em 3 dez. 2013.
Caso alguns alunos não consigam alcan-
çar os objetivos desta Situação de Aprendi- BI0ÉTICA demarcando fronteiras. Disponível
zagem, sugerimos, como Proposta de em http//XXX.ghente.org/bioetica/demar
situação de recuperação, que eles façam uma cando@fronteiras.htm. Acesso em 3 dez. 2013.
pesquisa sobre o tema estudado e, a partir
desta pesquisa, respondam à seguinte ques- BI0ÉTICA– HistÓrico. Disponível em
tão O que é bioética e quais são seus espaços http//XXX.ghente.org/bioetica/historico.
de atuação? htm. Acesso em 3 dez. 2013.

SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 6
A TÉCNICA
Nesta Situação de Aprendizagem, nosso ob- da natureza, quando aplicadas à vida em socie-
jetivo é ampliar o debate sobre a tecnologia nas dade. Diante da relevância do tema, esta Situação
relaç×es humanas. A partir do século XX, àlÓso- de Aprendizagem visa oferecer aos alunos recur-
fos importantes debateram o problema da sub- sos para que possam pensar, critica e existencial-
missão do prÓprio homem às formas de controle mente, as suas relaç×es com a técnica.

50
Filosofia – 2a série – Volume 2

Conteúdos e temas: técnica, tecnologia e crítica à razão instrumental segundo Adorno e Horkheimer.

Competências e habilidades: ampliar a reáexão crítica sobre a técnica e os valores essenciais da


condição humana.

Sugestão de estratégias: exercícios de reáexão e leitura.

Sugestão de recursos: textos para leitura.

Sugestão de avaliação: pesquisas, quest×es de compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas


e outros trabalhos que o professor julgar pertinentes e adequados.

Sondagem e sensibilização – Ouvir, mentos histÓrico-culturais que determinam a


dialogar e ler – A técnica utilização desses instrumentos, e que podem
variar. Enàm, há mais de uma possibilidade de
Sugerimos que você comece essa Sonda- resposta. Esperamos que todas possam ser
gem apresentando as seguintes quest×es consideradas e aprimoradas a partir das leitu-
ras e dos exercícios propostos nesta Situação
f Para que serve um garfo? Para que serve uma de Aprendizagem.
faca?
f Para que serve um anzol? Um arado? Uma ApÓs a discussão sobre a relação
enxada? Um trator? que os homens estabelecem com os
f Para que serve um computador? objetos citados (garfo, faca, anzol,
f Para que serve um ser humano? arado, enxada, trator e computador), suge-
rimos que questione os alunos sobre o signi-
A partir dessas quest×es, peça aos alunos àcado de técnica e tecnologia. O que vocês
que descrevam a relação que os homens esta- sabem sobre o significado desses termos?
belecem com os instrumentos citados. Espera- 7eriàque se eles associam os objetos mencio-
-se que eles apontem que os homens utilizam nados ou a relação que os homens estabele-
esses objetos como instrumentos para atingir cem com esses objetos com o signiàcado de
uma determinada finalidade que, sem eles, técnica e tecnologia. Para melhor esclarecer
seria mais difícil alcançar, demandaria mais essa relação, sugerimos a seguinte leitura,
tempo ou envolveria mais inconvenientes. 0s também disponível no Caderno do Aluno, na
alunos podem, ainda, considerar que há ele- seção -eitura e análise de texto.

Texto 1 – Tekhnê
Segundo o Pequeno Dicionário de Filosofia Contemporânea1, o termo técnica deriva do grego tekhnê
e significa aquilo que é fabricado e produzido pelo homem. Nesse contexto, técnica refere-se tanto à
criação como à produção. Dessa forma, a técnica no seu sentido mais original está inscrita na produção
artística, nos ofícios, em artefatos e nos objetos.
Assim, um tecelão, por exemplo, é um técnico porque, mediante a utilização de uma técnica (pro-
cedimentos pré-definidos), produz tecidos. 0 tecelão domina uma técnica e seu ofício ou profissão
1
GIAC0IA JUNI0R, 0sXaldo. Pequeno Dicionário de Filosofia Contemporânea. São Paulo Publifolha, 2006. p. 164-165.

51
deriva do domínio dessa técnica. Da mesma forma, um médico, mediante o emprego de técnicas, é
capaz de curar um corpo doente e produzir saÙde. Para produzir um poema, um vaso ou uma casa,
é preciso dominar alguns procedimentos, ou seja, algumas técnicas. Como é possível observar nesses
exemplos, o emprego de uma técnica não se refere apenas à produção de objetos, artefatos, mas pode
também definir ofícios.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Texto 2 – Técnica e poder


Pode-se dizer que, partindo de Atenas, o gosto pela palavra conquista a Grécia inteira. Ao mesmo
tempo nascem técnicas e artes. 7ou ser um pouco pedante e usar a palavra grega tekhnê. Nessa
palavra, há simultaneamente a ideia de técnica, de um saber aplicado, e a ideia de arte, de invenção,
de produção original. 7ou ter que empregar essa palavra para marcar bem esses dois aspectos
simultâneos de prática e de invenção individual. Esse desenvolvimento da palavra acarretará o
nascimento de técnicas específicas que serão chamadas depois de “retÓrica”. Para ocupar um lugar
numa cidade assim, é preciso saber falar, saber convencer. Como aconteceu muitas vezes em outras
civilizaç×es, o aparecimento de uma tekhnê gera o nascimento de uma profissão. A democracia
ateniense tem necessidade de “professores”, de pessoas capazes de ensinar a falar bem, a manejar
habilmente os argumentos de modo a convencer nos tribunais, que tratam dos assuntos privados,
ou nas assembleias, que tratam das quest×es pÙblicas. Saber convencer de que essa posição é melhor
do que aquela é de importância capital.
CH§TE-ET, François. Uma história da razão entrevistas com Émile NoÌl. Tradução -ucy Magalhães; revisão
Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro Jorge ;ahar, 1994. p. 17.

A partir dos textos apresentados, estimule Aluno Quais proàss×es exigem a técnica de
os alunos a reáetir sobre a força que as pala- bem empregar as palavras Com a complexi-
vras têm para produzir convicção, formar dade da nossa sociedade, as atividades relacio-
opinião e mudar a posição das pessoas a res- nadas às técnicas argumentativas tornaram-se
peito de suas crenças. Ressalte que, em nossa também mais complexas Dê exemplos.
sociedade, além de servir à expressão e à comu-
nicação, o domínio da palavra constitui tam- 7ocê poderá prosseguir no debate por
bém uma técnica de persuasão. 7ocê pode meio da leitura do texto a seguir,
solicitar que eles respondam às seguintes ques- também disponível no Caderno do
t×es, também disponíveis no Caderno do Aluno, na seção -eitura e análise de texto.

Três momentos da sociedade tecnológica


A partir da instauração do mundo moderno, a técnica atingiu outra dimensão. Segundo Silvio
Gallo1, podemos considerar três momentos de geração da sociedade tecnolÓgica.
No primeiro momento, durante o período do Renascimento, ocorreu o desencantamento do mundo,
ou seja, a retirada do divino dos eventos naturais com a introdução do método científico no desenvol-

1
GA--0, Silvio (Coord.). Ética e cidadania caminhos da Filosofia elementos para o ensino de Filosofia. 20. ed. Campinas
Papirus, 2012. p. 104-106.

52
Filosofia – 2a série – Volume 2

vimento de técnicas que ampliaram as possibilidades de construção de máquinas e equipamentos. Esse


evento alavancou uma sociedade que começava a se estruturar tecnologicamente.
A Revolução Industrial pode ser considerada o segundo momento de realização de uma socie-
dade tecnolÓgica, quando, mais do que instrumentalizar a vida com objetos mais elaborados e mais
do que ampliar as velocidades e encurtar distâncias, mais do que tornar mais leves pesados fardos,
o homem passa a ser guiado pela máquina. 0 tempo do trabalho já não é mais definido pelo homem,
mas pela máquina. Já não são mais os ritmos naturais que governam a vida humana. A vida humana
ganha um nível de artificialidade até então inédita.
0 terceiro momento da instauração da sociedade tecnolÓgica é aquele em que vivemos. Com a
rapidez do processamento de dados pelos computadores, a subordinação dos homens ao tempo e
ao ambiente das máquinas fica cada vez maior. A sociedade contemporânea se caracteriza, cada vez
mais, pela velocidade das atualizaç×es das máquinas e das informaç×es, tornando o homem grada-
tivamente mais dependente e obsoleto em relação ao fluxo de atualizaç×es e informaç×es.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Neste momento, você pode encaminhar a homens numa lÓgica de produção e consumo
atividade proposta no Caderno do Aluno A padronizados. No excerto, os àlÓsofos cons-
partir do texto, reflita e considere 0 que tatam que o racional pode ser irracional, que
tem moldado a sua vida De que forma os a mesma razão que instrumentaliza torna-se
avanços tecnolÓgicos vêm encaminhando a instrumento, que a mesma razão que eman-
sua rotina, os seus saberes, a sua forma de cipa pode subjugar. 0u seja, a razão pode
ver o mundo produzir o inverso do que se prop×e.

A seguir, propomos a leitura de um 0s autores chamam a atenção para um


excerto da obra Dialética do esclareci- comportamento que se instaura na sociedade
mento, de Theodor Adorno e Max contemporânea negar tudo o que não pode
Horkheimer, disponível também no Caderno do ser calculado, ordenado ou classiàcado, ou
Aluno, na seção -eitura e análise de texto. A seja, controlado. Essa característica da socie-
leitura desse fragmento é um exercício intelec- dade contemporânea ocidental opera na
tual complexo e exigirá que você faça interven- mesma lÓgica do mito, sÓ que por outro viés.
ç×es explicativas sobre o vocabulário. Sugerimos Nesse caso, forças exteriores assumem o con-
que, antes da leitura, os alunos consultem um trole da vida dos homens. Essas forças exte-
dicionário de Filosoàa ou pesquisem na internet riores – antes deuses, anjos ou demônios
algumas palavras que comp×e o texto e podem – agora são pautadas no cálculo das ciências
ser de difícil compreensão para eles, tais como aplicadas e da economia.
profana, expurgada, numinoso, intangível, sacros-
santo, nodal, animismo, industrialismo e fetiche. Segundo Adorno e Horkheimer, a raciona-
Caso preàra, você mesmo poderá trazer para a lidade técnica ou a razão instrumental, assim
aula um pequeno vocabulário especíàco para a como o mito, evita a contradição e procura
leitura desse texto. estabelecer identidades. Dessa forma, expressa
e interpreta os fatos e os eventos de acordo
0 trecho destacado traz uma profunda com a sua prÓpria lÓgica de classiàcação e dela
reáexão sobre como o avanço do capitalismo nada escapa. Tanto a racionalidade técnica
mediante a mentalidade tecnolÓgica retém os como o mito operam no mesmo sentido de

53
enfraquecer a capacidade reáexiva e crítica. Se modernidade, valorizou-se sobremaneira o
não somos mais submetidos ao medo do sobre- progresso técnico e a autonomia com relação
natural, governados por seres mágicos, agora à natureza e mesmo com relação aos outros
somos governados pelo cálculo, pelo padrão, homens, fazendo que os indivíduos considerem
pela verdade que se revela nos produtos que a racionalidade um meio para atingirem o pro-
produzimos e consumimos. Mais uma vez gresso de forma individual. No entanto, no
renunciamos à nossa capacidade de pensar por momento em que os homens buscam a auto-
nÓs mesmos e assumimos uma verdade, um nomia, acabam sendo subordinados por uma
padrão externo que nos é imposto. racionalidade que não pretende fazê-los pro-
gredir como homens, mas como objetos coisi-
Quando os autores destacam a alienação ficados. Em suma, tornam-se submissos à
dos homens, a coisiàcação do espírito e o enfei- racionalidade técnica e ao objetivo de controle
tiçamento dos homens entre si e de cada indi- social e da natureza. A razão instrumental
víduo em relação a si mesmo, eles identiàcam refere-se a esse processo de conhecimento que
essa condição com a elevação da ciência apli- pretende a dominação do mundo, o controle
cada, que justiàca, entre outras coisas, a divi- total da natureza e dos homens entre si. É por
são do trabalho e a crescente especialização. intermédio dela que o conhecimento e a técnica
Essa condição, segundo Adorno e Horkheimer, assumem tais objetivos.
tem produzido profundas alteraç×es nos
modos de ser e de viver na sociedade. As pes- É um ideal da modernidade a transforma-
soas passam a ser padronizadas como os pro- ção da natureza e dos demais seres humanos
dutos que elas fabricam e consomem. em algo que se pode usar ou não. Não apenas
a natureza tudo se torna um objeto que se
Com base no texto apresentado, chame a pode usar e descartar, inclusive homens e
atenção dos alunos para o fato de que, com a mulheres.

Razão instrumental
No mundo esclarecido, a mitologia invadiu a esfera profana. A existência expurgada dos demô-
nios e de seus descendentes conceituais assume em sua pura naturalidade o caráter numinoso que
o mundo de outrora atribuía aos demônios. Sob o título de fatos brutos, a injustiça social da qual
esses provêm é sacramentada hoje em dia como algo eternamente intangível e isso com a mesma
segurança com que o curandeiro se fazia sacrossanto sob a proteção de seus deuses. 0 preço da
dominação não é meramente a alienação dos homens com relação aos objetos dominados; com a
coisificação do espírito, as prÓprias relaç×es dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relaç×es
de cada indivíduo consigo mesmo. Ele se reduz a um ponto nodal das reaç×es e funç×es conven-
cionais que se esperam dele como algo objetivo. 0 animismo havia dotado a coisa de uma alma, o
industrialismo coisifica as almas. 0 aparelho econômico, antes mesmo do planejamento total, já
provê espontaneamente as mercadorias dos valores que decidem sobre o comportamento dos
homens. A partir do momento em que as mercadorias, com o fim do livre intercâmbio, perderam
todas as suas qualidades econômicas, salvo seu caráter de fetiche, este se espalhou como uma
paralisia sobre a vida da sociedade em todos os seus aspectos.

AD0RN0, Theodor; H0RKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento fragmentos filosÓficos.


Tradução Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro Jorge ;ahar, 1985. p. 40.

54
Filosofia – 2a série – Volume 2

Não se faz nada que não tenha um com o tema “Por que o valor da minha vida
objetivo, uma função. Em tudo se não é meramente instrumental ”.
pergunta “Para que serve ”. Tudo
e todos têm uma utilidade. Tudo e todos são
instrumentos. A partir dessa reáexão, sugeri- Ler e dialogar – Nova ética para
mos a realização da -ição de casa, conforme uma nova tecnologia
consta no Caderno do Aluno, que prop×e que
os alunos pesquisem notícias em jornais ou Hans Jonas, no prefácio da obra O
revistas que revelem valores associados ao pro- princípio responsabilidade ensaio de
cesso identiàcado por Adorno e Horkheimer uma ética para a civilização tecnolÓ-
como coisiàcação do mundo e do homem. A gica, entende que a sociedade tecnolÓgica apre-
atividade poderá, segundo seu critério, ser senta desaàos éticos inéditos e que devem ser
apresentada em formato de seminário, trabalho pensados, a partir da realidade que se apresenta.
escrito ou jornal mural com a seleção de algu- 0s textos a seguir, “Uma nova ética para a tec-
mas notícias levadas pela turma. nologia” e “Por que a técnica moderna é um
objeto para a ética”, bem como a atividade
Depois da atividade proposta, caso queira, relativa a eles, estão presentes na seção -eitura
você pode pedir para os alunos uma redação e análise de texto do Caderno do Aluno.

Texto 1 – Uma nova ética para a tecnologia


“0 Prometeu definitivamente desacorrentado, ao qual a ciência confere forças antes inimagináveis
e a economia o impulso infatigável, clama por uma ética que, por meio de freios voluntários, impeça
o poder dos homens de se transformar em uma desgraça para eles mesmos.”1
Nesse trecho, podemos notar a perspectiva que Hans Jonas tem do alcance da sociedade tecnolÓ-
gica, pois não se trata de pensar a técnica apenas como um instrumental que potencializa a ação
humana. Atualmente, por meio do desenvolvimento tecnolÓgico, as técnicas modificam o ambiente,
e, consequentemente, as condiç×es da vida humana e a prÓpria vida humana. Diante disso, Jonas, bem
como outros pensadores contemporâneos, entendem que o fio que nos prendia à tradição foi rompido
e, dessa forma, devemos formular novos princípios morais e procurar refletir eticamente a partir dos
problemas de nosso tempo.
“Tudo aí é novo, sem comparação com o que o precedeu, tanto no aspecto da modalidade quanto
no da magnitude nada se equivale no passado ao que o homem é capaz de fazer no presente e se verá
impulsionado a seguir fazendo, no exercício irresistível desse seu poder. Toda sabedoria acumulada
até então sobre o justo comportamento esteve talhada para aquela experiência. Nenhuma ética tradi-
cional nos instrui, portanto, sobre as normas do bem e do mal às quais se devem submeter as moda-
lidades inteiramente novas do poder e de suas criaç×es possíveis. 0 novo continente da práxis coletiva
que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui, para a teoria ética, uma terra de ninguém.” 2
A reflexão ética sobre a técnica se faz presente e urgente na medida em que, pressionados pela dinâmica
do nosso tempo, podemos nos esquecer (e parece que temos esquecido desse importante detalhe) que a
técnica, sendo mero suporte instrumental ou potencializada pela ciência e pela investida crescente da
economia, é e sempre foi produto da ação humana e está inserida no âmbito do que é contingente (para

1
J0NAS, Hans. O princípio responsabilidade ensaio de uma ética para a civilização tecnolÓgica. Tradução Marijane -isboa e
-uiz Barros Montez. Rio de Janeiro Contraponto/Ed. PUC-Rio, 2006.
2
Ibidem.

55
lembrarmos de AristÓteles), do que podemos escolher e julgar. Essa lembrança nos remete novamente para
a emancipação e pode ser o caminho de volta para a razão verdadeiramente esclarecida.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Texto 2 – Por que a técnica moderna é um objeto para a ética


Que de modo geral, a Ética tem algo a dizer sobre os assuntos da técnica ou que a técnica se subordina
a consideraç×es éticas, decorre do simples fato de que a técnica é um exercício do poder humano, isto é,
uma forma do agir, e todo o agir humano está exposto à prova moral. [...] Como poder humano imen-
samente intensificado, a técnica se subsume inequivocadamente nessa vontade geral. Todavia, constitui
ela um caso particular, que exige um esforço do pensamento ético, diferente daquele apropriado para
qualquer ação humana. Minha tese é que a técnica moderna constitui, de fato, um caso novo e particular
[...] de consideraç×es éticas; raz×es para perscrutar até os fundamentos da ética em geral. [...] © primeira
vista, parece fácil diferenciar entre a técnica benéfica e prejudicial, na medida em que se olha para a
finalidade da utilização dos instrumentos. Arados são bons, espadas são ruins. [...] Traduzindo em
moderna tecnologia bombas atômicas são ruins, adubos químicos, que ajudam a alimentar a humani-
dade, são bons. Porém, aqui salta aos olhos o embaraçoso dilema da técnica moderna. 0s “arados” dela
podem, a longo prazo, ser tão nocivos quanto suas “espadas” [...]. Pois podemos deixar a espada em sua
bainha, mas não o arado no celeiro. De fato, uma guerra atômica total seria, de um golpe, apocalíptica;
porém, embora ela possa irromper a qualquer momento e o pesadelo dessa possibilidade possa ensom-
brecer todos os nossos dias futuros, ela não precisa irromper, pois aqui se encontra ainda a salvadora
distância entre a potencialidade e atualidade, entre posse de um equipamento e seu uso – e isso nos dá a
esperança de que o uso seja evitado (o que, de fato, constitui a paradoxal finalidade de sua posse).
GIAC0IA JUNI0R, 0sXaldo. Hans Jonas por que a técnica moderna é um objeto para a ética. Nat. hum. [on-line], vol.1,
n.2, p. 407-420, 1999. Disponível em http//pepsic.bvsalud.org/pdf/nh/v1n2/v1n2a07.pdf. Acesso em 3 dez. 2013.

A obra àlosÓàca de Hans Jonas, que foi aluno o que é errado para o contexto da tecnolo-
de Martin Heidegger (um filÓsofo importante gia atual
para se pensar as quest×es que giram em torno da
técnica e de como ela tem formatado a vida na 2. Comente a seguinte aàrmação do texto
sociedade contemporânea), remete-nos a uma “© primeira vista, parece fácil diferen-
importante reáexão sobre os desaàos éticos advin- ciar a técnica benéàca e prejudicial, na
dos da civilização tecnolÓgica. Segundo 0sXaldo medida em que se olha para a ànalidade
Giacoia Junior, a obra àlosÓàca de Hans Jonas da utilização dos instrumentos. Arados
pode ser considerada um dos esforços teÓricos são bons, espadas são ruins. [...] Porém,
mais notáveis para a instauração de um projeto de aqui salta aos olhos o embaraçoso dilema
ética para a civilização tecnolÓgica. da técnica moderna. 0s ‘arados dela
podem, a longo prazo, ser tão nocivos
ApÓs a leitura dos textos, você pode discutir quanto suas ‘espadas”.
com os alunos as quest×es a seguir e pedir que
registrem as respostas em seus Cadernos Com base nos textos de Adorno, Horkhei-
mer e Giacoia, que trazem como tema cen-
1. Por que toda a sabedoria acumulada pouco tral quest×es relativas à técnica, convide os
pode nos ajudar para deànir o que é certo e alunos a participarem de um desaào. Trata-se

56
Filosofia – 2a série – Volume 2

de um exercício para o qual propomos que como uma reflexão sobre o bem e o mal. Essa compreensão
eles planejem e vivenciem uma experiência deverá ser posta para as questões da técnica.
em que o uso de instrumentos tecnolÓgicos
seja minimizado. No Caderno do Aluno, na seção
7ocê Aprendeu , é proposta outra
Entendemos que essa atividade deverá pro- atividade. 7ocê poderá aproveitá-la
mover nos alunos uma experiência diferenciada para compor a avaliação, se acreditar que é
diante do “cotidiano instrumentalizado”. A pertinente. 0 resultado da pesquisa poderá ser
ação deverá ocorrer dentro de um planejamento. entregue em folha avulsa.
Sugerimos que os alunos troquem atividades
que geralmente são feitas com o uso de tocado-
res de áudio digital, celulares, calculadoras, Propostas de situações de recuperação
entre outros, por exercícios realizados sem esses
instrumentos. Indicamos duas propostas que poderão ser
trabalhadas
0s alunos deverão apresentar um relatÓ-
rio ànal contendo a descrição da experiência Proposta 1
e o que ela provocou nas suas vidas. A expe-
riência poderá, ainda, ser compartilhada em 0s alunos deverão retomar os textos com
sala de aula em uma exposição oral. o auxílio do professor e fazer uma redação
com o seguinte tema “A técnica moderna
Como não se pode ensinar a àlosofar sem a como objeto de reáexão ética”.
experiência, essa atividade é um convite à desco-
berta do novo. Ela pode servir como avaliação Proposta 2
geral desta Situação de Aprendizagem e substituir,
sem prejuízo, a tradicional prova de quest×es. Caso preàra, você poderá pedir-lhes que
escrevam um texto de reáexão sobre a expe-
riência proposta na seção Desaào! do Caderno
Avaliação da Situação de do Aluno.
Aprendizagem
Caso você preàra aplicar quest×es para a Recursos para ampliar a perspectiva
avaliação, seguem as sugest×es do professor e do aluno para a
compreensão do tema
1. 0 que nos ensina a reáexão sobre a razão
instrumental Livros
Espera-se que os alunos façam menção ao conceito de
razão instrumental, tal como fundamentado por Adorno AD0RN0, Theodor. Notas marginais sobre
e Horkheimer, e demonstrem compreender que, pela teoria e práxis. In . Palavras e sinais
razão instrumental, o conhecimento e a técnica assu- modelos críticos. 2. ed. PetrÓpolis 7ozes,
mem objetivos de controle e dominação dos homens 1995.
sobre a natureza e dos homens entre si.
AD0RN0, Theodor; H0RKHEIMER, Max.
2. Segundo Giacoia, por que a técnica deve Dialética do esclarecimento fragmentos àlosÓ-
ser submetida às consideraç×es éticas àcos. Tradução Guido Antonio de Almeida.
O aluno deve demonstrar a compreensão do alcance da ética Rio de Janeiro Jorge ;ahar, 1985.

57
GIAC0IA JUNI0R, 0sXaldo. Hans Jonas crítica. São Paulo Nova Cultural, 1989.
por que a técnica moderna é um objeto para a
ética. Nat. hum. [on-line], vol.1, n. 2, p. 407-420, RÜDIGER, Francisco. Martin Heidegger e a
1999. questão da técnica prospectos acerca do futuro
do homem. Porto Alegre Sulina, 2006.
J0NAS, Hans. O princípio responsabilidade
ensaio de uma ética para a civilização tecnolÓ- SI-7A, Franklin -. Conhecimento e razão instru-
gica. Tradução Marijane -isboa e -uiz Barros mental. Psicologia/USP, v. 8, n. 1. São Paulo, 1997.
Montez. Rio de Janeiro Contraponto/Ed.
PUC-Rio, 2006. Site

H0RKHEIMER, Max. Filosoàa e teoria crí- ASS0CIAÇ«0 FilosÓfica Scientiae Studia.


tica. São Paulo Nova Cultural, 1989. Martin Heidegger e a técnica. Disponível em
http//XXX.scientiaestudia.org.br/revista/
. Teoria tradicional e teoria PDF/05@03@04.pdf. Acesso em 3 dez. 2013.

SITUAÇ«0 DE APRENDI;AGEM 7
A C0NDIÇ«0 HUMANA E A BANA-IDADE D0 MA-

Para esta Ùltima Situação de Aprendiza- 0s conceitos de labor, trabalho e ação serão
gem, nossa proposta é abordar a condição norteadores desta Situação de Aprendizagem
humana e a banalidade do mal, com base no e têm o intuito de construir uma crítica à sub-
pensamento de Hannah Arendt. jetividade meramente técnica ou banal, do
ponto de vista existencial.

Conteúdos e temas: Hannah Arendt; condição humana; banalidade do mal.

Competências e habilidades: possibilitar o exercício da reáexão crítica para pensar a condição humana.

Sugestão de estratégias: aulas expositivas e exercícios de reáexão e leitura.

Sugestão de recursos: textos para leitura.

Sugestão de avaliação: pesquisas, quest×es de compreensão e interpretação de texto, sínteses escritas


e outros trabalhos que o professor julgar pertinentes e adequados.

Sondagem e sensibilização – humana nos remete às condiç×es fundamentais


Ouvir e dialogar para a existência do homem no mundo. São
estas a natalidade, a mortalidade, a mundani-
As imagens a seguir são um convite para dade e a pluralidade. 0bserve as imagens, pense
iniciar uma reflexão sobre o que estamos e responda Para viver como seres humanos,
fazendo no mundo. Para trabalhá-las com a habitar o planeta e constituir o mundo, algumas
turma, sugerimos a seguinte atividade, disponí- atividades devem ser realizadas. Quais são elas
vel também no Caderno do Aluno A condição Qual é a ànalidade dessas atividades

58
Filosofia – 2a série – Volume 2

0s alunos, nesse primeiro momento, posteriormente, apÓs a leitura dos textos


devem escrever todas as atividades que eles da prÓxima etapa, para que os alunos refli-
puderem lembrar que são realizadas pelos tam sobre essas quest×es de maneira
homens. Esta lição poderá ser retomada embasada.

© Daniel Augusto Jr/Pulsar Imagens

© Palê ;uppani/Pulsar Imagens

© Rogério Reis/Pulsar Imagens


Figura 1. Figura 2. Figura 3.

Dialogar e ler – A condição humana labor, trabalho e ação – e o texto de Hannah


Arendt sobre a condição humana estão dispo-
As consideraç×es que se seguem níveis também no Caderno do Aluno, na seção
sobre as atividades fundamentais – -eitura e análise de texto.

Texto 1 – Trabalho, labor e ação


0 labor consiste na atividade do corpo que garante a manutenção da vida biolÓgica. Essa atividade
envolve produção e consumo.
0 trabalho consiste na atividade pela qual os homens transformam o ambiente natural em artificial.
Garante estabilidade diante da instabilidade da natureza.
A ação consiste na atividade pela qual ocorre a relação entre os homens; efetivamente, é a experiência
política. Especificamente humana, a ação tem como condição a pluralidade de atos e palavras.
Essas três atividades estão intimamente ligadas ao nascimento e à morte, à natalidade e à
mortalidade.
0 labor não apenas assegura a vida do indivíduo, mas perpetua a espécie. Com o trabalho, a vida pode
durar mais, pois os benefícios e o conforto gerados criam um mundo mais adaptado para a vida humana.
Por mais que a vida seja efêmera, o trabalho permite seu prolongamento. Pela ação, fundada na memÓria
e na linguagem, cria-se a histÓria e o encontro político entre os seres humanos.
A ideia de natalidade ou nascimento é muito importante no pensamento de Hannah Arendt. Cada
bebê traz a certeza de um mundo novo, uma nova maneira de agir. Cada nascimento é uma nova possi-
bilidade para o mundo.
A condição humana não deve ser confundida com a natureza humana. São categorias totalmente dife-
rentes. A condição humana se refere ao condicionamento dos homens para a manutenção de sua existên-
cia, em face de si mesma, do mundo e dos outros. Já a natureza humana seria a essência do homem,
impossível de ser alcançada pelo prÓprio homem.
Para Hannah Arendt, o homem moderno experimenta o problema de ter a dimensão do labor como a mais
importante. A relação com os outros e com o mundo acaba substituída pela imediata satisfação das necessidades
básicas. A vida, quando privilegia o labor, os prazeres biolÓgicos, comer, dormir, beber, ter relaç×es sexuais, ou
seja, apenas com o objetivo de sobrevivência, torna-se tão básica quanto estas necessidades.

59
Quando tratamos o mundo como uma forma de alcançar nossos objetivos imediatos, o que chamamos
de trabalho deixa de ser transformação para ser labor; ele vira repetição sem fim, na desgastante rotina
dos trabalhadores alienação.
0 agir também se reduz ao labor, na medida em que nossa relação com os outros não é nem de gra-
tuidade nem de busca política, como o desenvolvimento humano coletivo. 0s outros são meros objetos,
por meio dos quais nossas satisfaç×es são realizadas, e a política deve ser orientada para o labor, para o
básico, e nada mais.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Texto 2 – A condição humana


Se compararmos o mundo moderno com o mundo do passado, veremos que a perda da experiência
humana acarretada por esta marcha de acontecimentos é extraordinariamente marcante. Não foi apenas,
e nem sequer basicamente, a contemplação que se tornou experiência inteiramente destituída de signifi-
cado. 0 prÓprio pensamento, ao tornar-se mera “previsão de consequências”, passou a ser função do
cérebro, com o resultado de que se descobriu que os instrumentos eletrônicos exercem essa função
muitíssimo melhor do que nÓs. A ação logo passou a ser, e ainda é, concebida em termos de fazer e de
fabricar, exceto que o fazer, dada a sua mundanidade e inerente indiferença à vida, é agora visto como
apenas outra forma de labor, como função mais complicada, mas não mais misteriosa, do processo vital.
No entretempo, demonstramos ser suficientemente engenhosos para descobrir meios de atenuar as fadigas
e penas da vida, ao ponto em que a eliminação do labor do âmbito das atividades humanas já não pode ser
considerada utÓpica. Pois, mesmo agora, “labor” é uma palavra muito elevada, muito ambiciosa para o que
estamos fazendo ou pensamos que estamos fazendo no mundo em que passamos a viver. 0 Ùltimo estágio de
uma sociedade de operários, que é a sociedade de detentores de empregos, requer de seus membros um fun-
cionamento puramente automático, como se a vida individual realmente houvesse sido afogada no processo
vital da espécie, e a Ùnica decisão ativa exigida do indivíduo fosse deixar-se levar, por assim dizer, abandonar
a sua individualidade, as dores e as penas de viver ainda sentidas individualmente, e aquiescer num tipo fun-
cional de conduta entorpecida e “tranquilizada”. 0 problema das modernas teorias do behaviorismo não é
que estejam erradas, mas sim que podem vir a tornar-se verdadeiras, que realmente constituem as melhores
conceituaç×es possíveis de certas tendências Óbvias da sociedade moderna. É perfeitamente concebível que a
era moderna – que teve início com um surto tão promissor e tão sem precedentes de atividade humana – venha
a terminar na passividade mais mortal e estéril que a HistÓria jamais conheceu.

ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução Roberto Raposo. 10. ed.


Rio de Janeiro Editora Forense Universitária, 2009. p. 335.

ApÓs a leitura, peça aos alunos que reali-


zem as atividades, de acordo com a proposta 2. Quais são as limitaç×es que o labor, na
do Caderno do Aluno. sociedade moderna, oferece para o agir,
de acordo com o pensamento de Hannah
1. Relacione as atividades elencadas por você Arendt
no primeiro exercício desta Situação de
Aprendizagem às atividades fundamentais 3. Qual é o principal ensinamento de Hannah
labor, trabalho e ação. Arendt sobre a condição humana

60
Filosofia – 2a série – Volume 2

Dialogar – A banalidade do mal indicavam o tipo de violência a eles destinada.


Aproveite para esclarecer que chamar
Inicie a etapa perguntando para os alunos Auschwitz ou Treblinka de campos de concen-
o que eles acham que vem a ser o mal. Debata tração acaba escondendo sua mÓrbida ànali-
com eles de forma a orientar a discussão para dade, que consistia em exterminar pessoas, e
o conceito de Hannah Arendt. não em reuni-las em uma comunidade.

0 mal sempre foi uma reáexão importante 7ocê pode pedir aos alunos que conversem a
para a Filosoàa. Para tentar compreendê-lo, respeito do cartaz e do quadro de símbolos obser-
Hannah Arendt orbita em torno da seguinte vados. Nesse caso, apÓs a análise, os alunos
formulação Como é possível que, no século podem, a seu critério, elaborar um novo cartaz,
XX, os homens convivam com um mal como utilizando desenhos e/ou colagens para expressar
o nazismo, por exemplo Pensando nos cam- formas de violência contra determinados grupos
pos de extermínio nazistas, que mataram de pessoas na sociedade brasileira atual.
milhões de pessoas por motivos banais, como

© International Tracing Service (ITS)


entender que foram tão poucos os que a eles
se opuseram

É importante recapitular com os alunos que,


durante a Segunda Guerra Mundial, os prisio-
neiros eram escravizados, torturados e assassi-
nados por não serem – conforme estabeleciam
as normas nazistas – arianos, racistas e, em
suma, nazistas. Conforme sua origem, religião,
orientação sexual e postura política, o indivíduo
era violentamente arrancado de sua casa, encar-
cerado e submetido a um penoso regime de
trabalhos forçados.

A seguir e na seção Pesquisa em


grupo, no Caderno do Aluno, é apre-
sentado um cartaz com os símbolos
utilizados para identiàcação dos prisioneiros Figura 4 – Cartaz em que se apresentam os símbolos que iden-
nos campos de extermínio nazistas, além de um tiàcavam os prisioneiros nos campos de concentração alemães.
0 enfoque e a opinião expressos nesta publicação e o contexto
quadro com seus respectivos signiàcados. 7ocê no qual a imagem é utilizada não necessariamente reáetem o
pode analisá-los com os alunos e esclarecer que, enfoque ou a política, nem implicam a aprovação do Museu do
além de marcar os indivíduos, tais símbolos Holocausto dos Estados Unidos.

Símbolo Signiàcado Motivos

Dois triângulos amarelos sobrepostos em forma de Racismo, perseguição religiosa e


estrela judeu. discriminação social.

T Triângulo amarelo judeu por religião ou àlho de judeu.


Racismo, perseguição religiosa e
discriminação social.

61
Símbolo Signiàcado Motivos

T Triângulo vermelho comunista, anarquista,


social-democrata e liberal.
Perseguição política.

T Triângulo verde criminosos comuns (assassinos, ladrões,


estupradores e outros). 0s arianos recebiam privilégios.
Discriminação social.

T Triângulo roxo pessoas que, por motivos religiosos, não


assumiam os projetos nazistas.
Perseguição religiosa e política.

T Triângulo azul imigrantes, considerados apátridas. Discriminação social.

T Triângulo castanho ciganos. Racismo e discriminação social.

Triângulo preto mulheres que ofereciam “risco social”,


T tais como lésbicas, alcoÓlatras, feministas, anarquistas,
prostitutas e portadoras de deàciência.
Homofobia, discriminação social,
perseguição política, machismo.

T Triângulo rosa homossexuais masculinos. Homofobia.

Esses símbolos, em sua maioria, marcavam uma peça, que poderia muito bem ser substituída
pessoas comuns, presas e condenadas sem julga- por outra.
mento justo. Podemos pensar que desaprovar uma
forma de “justiça” que condena pessoas à morte Por ser peça de uma engrenagem, Eichmann
por motivos religiosos, étnicos, por orientação apenas viveu a atividade do labor. Procu-
sexual, e outras razões igualmente injustiàcáveis, rou apenas sobreviver, sem reáetir sobre o modo
não seja difícil. Contudo, Hannah Arendt foi além como vivia. Sem aprofundar sua sobrevivência,
disso, mostrando que esse mal não estava apenas apenas executou ordens, obedeceu e lucrou com
nos soldados assassinos ou em Hitler, mas em isso, enquanto pôde. Mas suas ordens faziam
todos os que não usavam, para combatê-lo, sua parte de um sistema de destruição matou crianças,
faculdade mais sublime, que é o pensamento. A mães, pais, jovens, idosos, sem questionar se aquilo
banalização do mal está, justamente, no fato de era ou não um mal. 0u, se o fez, não assumiu
que as pessoas optam por não pensar criticamente outras dimensões da vida activa, como o trabalho
e nada fazem para impedir o mal; elas àngem que e a ação; trabalho, como construção de um
acontecimentos relevantes para a sociedade não mundo, e ação, como o que permite que esse
lhes dizem respeito, isto é, pensam apenas em si. mundo seja melhor.

Foi assim que a àlÓsofa interpretou o julga- Banalidade do mal na democracia


mento do oàcial nazista Adolf Eichmann – ao àm
do qual foi condenado à morte por crimes contra A “banalidade do mal” apontada por Hannah
a humanidade. Na época, muitos o viram como a Arendt no caso Eichmann não pode ser entendida
personiàcação do mal. Arendt, ao contrário, viu como um fato isolado, restrito aos eventos do
nele uma àgura banal. Para ela, são as pessoas nazismo. Na sua reáexão sobre a banalidade do
banais que se omitem ou fazem as piores atroci- mal, Arendt aponta para as fragilidades da moral
dades. 0 mal não é sedutor nem monstruoso, no mundo contemporâneo, onde os mandamen-
como a mitologia representa, mas banal, comum, tos podem ser substituídos pelo seu contrário,
ordinário. Eichmann não era um pivô, uma parte dependendo do que convém no momento. Dessa
fundamental na engrenagem nazista, mas apenas forma, “Não matarás” pode ser facilmente aban-
62
Filosofia – 2a série – Volume 2

donado por “matarás”; ou onde se lê, na Declara- Com a diminuição do nÙmero de hospitais, centros
ção Universal dos Direitos Humanos, “Toda de alimentação, casas de acolhida para adolescen-
pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança tes e crianças; com escolas mal aparelhadas, pro-
pessoal”, na prática podemos observar que nem fessores mal pagos, empresas que adulteram
toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à remédios e alimentos; com o aumento da falta de
segurança; ou, ainda, onde se lê “Ninguém será segurança nas ruas, do nÙmero de policiais mal
submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo remunerados e correndo risco de morrer; com
cruel, desumano ou degradante”, pode signià- cadeias superlotadas que não recuperam ninguém,
car, em alguns contextos, que alguém pode ter a entre outros. Enàm, se alguém morre por algum
sua humanidade ignorada e, portanto, pode ser dos efeitos do desvio de verbas, o eleitor também
torturado e tratado com crueldade. A reáexão é responsável por essa morte.
empreendida por Arendt nos leva a considerar que
a banalidade do mal se faz presente quando nos Para quem banaliza o mal, é fácil culpar ape-
comportamos de forma a ignorar os mandamen- nas os políticos. Mas é preciso pensar também em
tos morais, a reáexão ética relativa aos direitos como cada um age. Muitos políticos envolvidos
humanos, justificando as ações mais terríveis em sucessivos escândalos continuam a ganhar
como “brincadeira” ou “trote” ou como “medida eleições – eis uma banalidade do mal votar sem
necessária para manter a ordem”, ou, ainda, “por- analisar, dar o voto a pessoas suspeitas.
que as circunstâncias assim exigiam”, entre outras.
Quando somos coniventes ou omissos com os Para aprofundar a questão da banali-
processos de desumanização tendemos a deixar de zação do mal, peça que os alunos
reconhecer os “outros” como seres histÓricos, pesquisem em jornais e na televisão
como seres de sentimentos e pertencimentos. Ali- informações que comprovem a aàrmação de Han-
mentamos o mal banal sempre que nos compor- nah Arendt de que o predomínio do labor, da
tamos sem pensar nas regras e nas consequências alienação e da falta de comprometimento das
da exceção da regra, sempre que ignoramos a pessoas em geral impede o agir solidário, voltado
necessidade de reáexão ética. para a realização da democracia com igualdade
de direitos e de acesso aos bens materiais e morais
Neste momento, você pode orientar os e que façam o registro no espaço destinado à ati-
alunos para a atividade de -ição de vidade no Caderno do Aluno, na seção Pesquisa
casa, de acordo com a proposta do individual.
Caderno do Aluno. Considerando a banalização
do mal tão presente no cotidiano, sobretudo nos
grandes centros urbanos, os alunos devem elabo- Avaliação da Situação de
rar uma redação comentando um ou dois exem- Aprendizagem
plos dessa banalização.
1. 0 que signiàca a ideia de que o labor venceu a
ApÓs a atividade, você pode aprofundar a ação e o trabalho
questão da banalidade do mal no cotidiano, ques- Espera-se que os alunos respondam com base nas discussões
tionado os alunos Como encarar as pessoas que sobre o conceito de condição humana e exponham os proble-
votam em políticos corruptos por causa da propa- mas de uma vida centrada apenas no labor.
ganda, ignorando os fundamentos críticos da vida
política (ação)? 0ra, a corrupção começa no 2. 0 que signiàca a expressão “banalidade do
instante em que as pessoas não se importam com mal”
a política. Cada indivíduo que não procura enten- Os alunos devem procurar apresentar o conceito discutido pela
der a política, escondendo-se atrás de desculpas, é filósofa Hannah Arendt, utilizando-se do exemplo dos nazistas e
culpado pela corrupção. Como a corrupção mata? aplicando-o à sociedade atual.

63
3. Releia este trecho de Hannah Arendt e) A banalidade do mal signiàca a ação de
pessoas que agem de forma monstruosa.
[...] 0 Ùltimo estágio de uma sociedade de
No Caderno do Aluno, na seção
operários, que é a sociedade de detentores de
empregos, requer de seus membros um funcio-
7ocê Aprendeu , é proposta a con-
namento puramente automático, como se a fecção de um diálogo. 7ocê poderá
vida individual realmente houvesse sido afo- aproveitar essa atividade para compor a ava-
gada no processo vital da espécie, e a Ùnica liação, se acreditar que é pertinente. Nesse
decisão ativa exigida do indivíduo fosse deixar- caso, você poderá pedir aos alunos que façam
-se levar, por assim dizer, abandonar a sua a atividade em folha avulsa.
individualidade, as dores e as penas de viver
ainda sentidas individualmente, e aquiescer
num tipo funcional de conduta entorpecida e Proposta de situação de recuperação
“tranquilizada” (ARENDT, 2009).
Peça aos alunos que retomem os textos
desta Situação de Aprendizagem e proponha
Este trecho trata da que, apÓs à releitura, escrevam um texto sobre
a banalidade do mal, com base em uma questão
a) vida activa. da sociedade brasileira atual (exemplos a violên-
cia contra os mendigos, um episÓdio de racismo
b) vitÓria do labor. e/ou preconceito, o desrespeito aos indígenas, o
trabalho infantil, a morte de bebês em maternida-
c) atividade do trabalho. des, a adulteração de remédios ou alimentos).

d) atividade da ação.
Recursos para ampliar a perspectiva
4. Assinale as alternativas corretas a respeito do professor e do aluno para a
do pensamento de Hannah Arendt compreensão do tema
a) 0 labor é a atividade humana referente Livros
às necessidades biolÓgicas.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio
b) 0 trabalho é a atividade humana refe- de Janeiro Editora Forense Universitária,
rente à construção do mundo humano, 2009.
que não consiste somente em trabalhar
para ganhar dinheiro, mas sim em cons- . Eichmann em Jerusalém um relato
truir melhorias, como a arte. sobre a banalidade do mal. São Paulo Com-
panhia das -etras, 2007.
c) A ação diz respeito à relação entre
as pessoas; é a dimensão política por . Entre o passado e o futuro. São
excelência. Paulo Perspectiva, 2000.

d) 0 labor é a parte fundamental da vida Site


humana e por isso Arendt vê com bons
olhos a sua vitÓria sobre as outras Teses USP. Disponível em http//www.teses.
dimensões da vida activa. usp.br. Acesso em 3 dez. 2013.

64
Filosofia – 2a série – Volume 2

QUADRO DE CONTEÚDOS DO ENSINO MÉDIO


1ª série 2ª série 3ª série

Descobrindo a Filosoàa Ética e o utilitarismo ético Para que Filosoàa?


– Por que estudar Filosoàa – Introdução à ética. – 0 que é Filosoàa
– As áreas da Filosoàa. – 0 eu racional. – Superação de preconceitos em
relação à Filosoàa e deànição e
– A Filosoàa e outras formas de – Autonomia e liberdade.
importância para a cidadania.
conhecimento Mito, Religião,
– Introdução à Teoria do
Volume 1

Arte, Ciência. – 0 homem como ser de natureza e de


Indivíduo John -ocke, Jeremy
linguagem.
Bentham e Stuart Mill.
– Características do discurso àlosÓàco.
– Tornar-se indivíduo Paul
Ricoeur e Michel Foucault. – Comparação com o discurso
religioso.
– Condutas massiàcadas.
– 0 homem como ser político.
– Alienação moral.
– A desigualdade entre os homens
como desaào da política.

Filosoàa Política Filosoàa Política e Ética O discurso àlosóàco


– Introdução à Filosoàa Política. – Filosoàa Política e Ética – Características do discurso àlosÓàco.
humilhação, velhice e racismo.
– Teoria do Estado Socialismo, – Comparação com o discurso
Anarquismo e -iberalismo. – Homens e mulheres. cientíàco.
– Democracia e cidadania origens, – Filosoàa e educação. – Três concepções de liberdade
Volume 2

conceitos e dilemas. -iberalismo, Determinismo e


– Desaàos éticos contemporâneos
Dialética.
– Desigualdade social e ideologia. a Ciência e a condição humana.
– Comparação com o discurso da
– Democracia e justiça social. – Introdução à Bioética.
literatura.
– 0s Direitos Humanos.
– 7alores contemporâneos que cercam
– Participação política. o tema da felicidade e das dimensões
pessoais da felicidade.

65
GABARITO fatores, falas e manifestações culturais cotidianas que justifiquem a
resposta dada sobre a existência ou não de racismo no Brasil.

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 Pesquisa individual (CA, p. 13)


O envelhecimento na sociedade contemporânea A ideia central da atividade é motivar os alunos a refletirem
Leitura e análise de texto (CA, p. 5-6) sobre a presença do racismo na sociedade contemporânea, com
1. O sentimento de humilhação não se limita às situações de base nos textos lidos e nas reflexões empreendidas nas aulas
desigualdade social, pois pessoas de uma mesma classe ou referentes a essa Situação de Aprendizagem, e a se atualizarem
condição social podem humilhar umas às outras. sobre os conflitos que estão ocorrendo no mundo. Assim, o texto
2. Resposta aberta, a depender dos exemplos apresentados deverá trazer uma reflexão baseada na pesquisa realizada com
pelos alunos. É importante a orientação para que identifi- professores da área de Ciências Humanas sobre os conflitos no
quem as causas da humilhação. mundo contemporâneo que têm como base o racismo.
3. Fingir não dar importância à humilhação ou agir violen-
tamente em relação a ela são atitudes que não resolvem Leitura e análise de texto (CA, p. 13-14)
o sentimento de humilhação, porque sua resolução exige 1. Os alunos deverão responder conforme o texto, mas com as
a compreensão das causas da humilhação, além de esfor- suas palavras. Espera-se que nas suas respostas eles reconhe-
ços reflexivos e, muitas vezes, psicoterapêuticos. Ignorar ou çam que o racismo apresenta duas funções básicas: promover a
reagir violentamente são atitudes que impedem a reflexão. divisão ou separação de grupos no interior de uma população
4. Para evitar que as pessoas passem por situações de humilhação e, no contexto dessa divisão, estabelecer que um grupo deva
por parte das instituições e do poder público é necessário que prevalecer sobre outro.
a população faça a denúncia da humilhação, com o objetivo 2. Espera-se que os alunos reconheçam a partir dos textos e das
de exigir uma mudança de postura. Tais denúncias podem ser explicações do professor que o racismo, na sociedade moderna,
feitas por meio de processos judiciais ou mediante organiza- passa por um argumento que procura vincular a vida nas socie-
ções sociais vinculadas ao tipo de abuso sofrido. dades como um processo de ajuste biológico em que os mais
fortes devem sobreviver em detrimento dos mais fracos.
Leitura e análise de texto (CA, p. 6-10) 3. Resposta aberta, que depende da percepção do aluno sobre
A ideia central do texto é levar os alunos a refletirem sobre a con- como a omissão do Estado leva à exclusão de cidadãos e,
dição do idoso em nossa sociedade ao comparar suas experiências no limite, pode significar a morte direta ou indireta de parte
pessoais com as considerações e reflexões propostas pelos autores da população. Espera-se que os alunos citem a perspectiva
citados nesta Situação de Aprendizagem. racista de algumas abordagens da polícia; as dificuldades em
relação ao sistema jurídico, as restrições de acesso à saúde,
Você aprendeu? (CA, p. 10) à educação e aos bens culturais; a remuneração desigual;
A ideia central da redação é levar os alunos a refletirem entre outros. No caso brasileiro, os alunos podem citar, tam-
sobre o envelhecimento da população a partir dos textos e das bém, os obstáculos encontrados por negros e indígenas que
reflexões empreendidas nas aulas referentes a essa Situação de historicamente tiveram mais dificuldades para acessar os bens
Aprendizagem. Assim, o texto deverá trazer uma reflexão sobre materiais e a vida política. Todas essas formas de exclusão têm o
as dificuldades enfrentadas por esse segmento da população e sentido de matar ou de deixar morrer.
sobre as políticas públicas voltadas para ele. Além disso, deve tra-
zer elementos problematizadores sobre a implementação dessas Leitura e análise de texto (CA, p. 15-16)
políticas. Resposta aberta. Espera-se que os alunos registrem de fato se
já haviam pensado nas questões apresentadas pelo autor.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2
Reáexão sobre racismo Pesquisa em grupo (CA, p. 16)
Exercício (CA, p. 11) Nesta atividade, a resposta é aberta, de acordo com os pro-
Resposta aberta, a depender das afirmações dos alunos. É gramas analisados. Os alunos devem ser orientados a identificar
importante que os alunos apresentem elementos baseados em práticas racistas nos programas assistidos e a justificar seus apon-

66
Filosofia – 2a série – Volume 2

tamentos. A justificativa é fundamental para verificar a compreen- gramas televisivos voltados para públicos feminino e masculino com
são do que foi analisado e a habilidade de argumentação. a perspectiva de que alguns temas são considerados mais atrativos
para homens e outros mais atrativos para mulheres. Nesse sentido,
Exercício (CA, p. 17) os alunos podem identificar em revistas, programas de televisão e
Resposta aberta. Contudo, espera-se que o aluno, ao elaborar na veiculação de propaganda de brinquedos, utensílios domésticos
a nova definição, considere o conteúdo dos textos estudados na e produtos de limpeza, o estabelecimento de uma perspectiva de
Situação de Aprendizagem. comportamento previsível e “normal” para homens e mulheres.

Pesquisa individual (CA, p. 17) Leitura e análise de texto (CA, p. 21-23)


É importante orientar os alunos a pesquisarem em suas pró- 1. Resposta aberta, mas espera-se que os alunos realizem ao
prias comunidades, entre os seus familiares, se conhecem ou menos duas leituras desse ditado: a primeira, em que pre-
vivenciaram práticas culturais associadas às culturas africanas. tende-se elogiar as mulheres virtuosas, boas mães e esposas; e
Exemplo: candomblé, capoeira. a segunda, em que este elogio é um subterfúgio para manter
a condição esperada de uma mulher virtuosa: ela deve sem-
Pesquisa em grupo (CA, p. 18) pre estar perto de um homem, como parceira que lhe garante
A ideia central da pesquisa é levar o aluno a perceber que, infraestrutura a fim de que ele possa aparecer virtuoso no
embora o racismo ainda esteja presente em nossa sociedade, mundo público, ou seja, as mulheres devem ser úteis, desde
essa presença não é aceita passivamente. Há grupos organizados que se mantenham à sombra de seus maridos.
envolvidos com a erradicação do racismo nas relações sociais. 2. Resposta aberta, contudo espera-se que, no texto, os alunos
considerem que as diferenças entre homens e mulheres
Você aprendeu? (CA, p. 18) começam a ser estabelecidas desde a infância, quando os
1. A principal causa do racismo é a desigualdade social gerada papéis sociais são definidos pela família, pelas brincadeiras
pela dominação europeia sobre os continentes africano e tradicionais, assim como pela indústria e pelo comércio. As
americano. A forma como as relações capitalistas se desenvol- crianças que não respondem às expectativas são conside-
veram no decorrer dos séculos XIX e XX também propiciou o radas diferentes e sofrem preconceitos. Uma menina que
domínio de alguns povos sobre outros, gerando exclusão social. brinca de carrinho e um menino que gosta de brincar de
O conjunto de justificativas ideológicas para tal dominação era bonecas, por exemplo, são considerados inadequados por
permeado de valores que continuam a perpetuar o racismo. não seguirem o padrão de comportamento esperado para
2. Esta questão é aberta, a depender das hipóteses dos alunos. meninos e meninas.
Requer retomada das leituras e discussões trabalhadas nesta
Situação de Aprendizagem. Espera-se que o aluno destaque Lição de casa (CA, p. 23)
atitudes individuais que revelem mudanças de paradigma do A ideia central do texto é levar o aluno a refletir sobre as cate-
racismo. Exemplo: autorreflexão e crítica sobre consequên- gorias mais excluídas em nossa sociedade, como os negros, os
cias negativas das atitudes racistas. índios e as mulheres de forma geral. Espera-se que o aluno reflita
3. Esta questão é aberta, a depender das hipóteses dos alunos. sobre as condições de homens e mulheres em nossa sociedade e
Para isso recomenda-se retomar as leituras e discussões tra- indique encaminhamentos para que as relações de gênero sejam
balhadas nesta Situação de Aprendizagem. Espera-se que o pautadas por respeito e equidade.
aluno destaque políticas sociais e ações coletivas para a supe-
ração do racismo. Você aprendeu? (CA, p. 24)
1. Espera-se que o aluno destaque a contradição presente no
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 processo que liberta o homem, mas não impede que este
Filosoàa e as relações de gênero domine e oprima a mulher.
Pesquisa individual (CA, p. 20) 2. O aluno deve destacar políticas como leis e projetos de
O objetivo desta pesquisa é refletir sobre os meios de comunica- grande abrangência que favoreçam a superação da desigual-
ção social como formadores de estereótipos. Dessa forma, espera- dade entre homens e mulheres.
-se que os alunos consigam observar revistas, propagandas e pro- 3. Os valores das seguintes alternativas podem ser considerados

67
machistas: a) Homem não chora e b) As mulheres são bonitas, construção de uma sociedade na qual existam de fato a soli-
mas não são inteligentes. dariedade, a igualdade de direitos e os ideais democráticos
que defendem o acesso de todos aos bens materiais e à par-
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4 ticipação nas decisões sobre os destinos da sociedade.
Filosoàa e educação 3. Espera-se que, com base nos textos, os alunos observem que
Questões (CA, p. 25-26) uma educação contrária à emancipação é uma educação que
As questões de 1 a 9 são todas abertas e dependem das repre- não contraria a brutalidade e a coisificação das pessoas, ao con-
sentações dos alunos sobre o que é perguntado. É fundamental trário, dispõe-se a moldar e inculcar ideias e conhecimentos sem
orientá-los a refletir e responder com autenticidade. oferecer aos estudantes a oportunidade de refletir ou criticar.

Leitura e análise de texto (CA, p. 27-28) Você aprendeu? (CA, p. 31)


Resposta aberta, que depende de como os alunos compre- 1. A ideia central desta atividade é que os alunos retomem
enderam as aulas de Filosofia, mais especificamente aquelas a primeira definição de educação proposta por eles, para
sobre ética, e os objetivos da educação conforme o texto apre- então repensá-la a partir dos textos estudados, de suas
sentado. Espera-se que os alunos respondam afirmativamente, vivências e do que eles esperam do processo educativo.
considerando a ética necessária a uma educação voltada para Assim, ao reelaborar sua definição de educação, espera-se
a reflexão crítica e, por isso, contrária à brutalidade e à coisi- que os alunos sejam capazes de se referir a uma educação
ficação das pessoas. Essa perspectiva de educação articulada integral, ou seja, uma educação que, além de possibilitar
com uma postura ética está presente, ainda, na ideia de que a a inclusão no mercado de trabalho, possibilite a formação
educação não deve se pautar em moldar as pessoas, mas em humana cidadã mais solidária e responsável.
possibilitar que elas desenvolvam uma consciência verdadeira, 2. Alternativa a.
ou seja, uma consciência emancipada capaz de questionar e de 3. Todas as alternativas estão corretas, ou seja, todos são res-
se opor sempre que achar necessário. ponsáveis. A justificativa é aberta, porém espera-se que os
alunos revelem compreensão de que toda a sociedade é
Pesquisa individual (CA, p. 29) responsável, mas alguns desses agentes são responsáveis
A ideia central desta atividade – que pode ser apresentada por mais imediatos, como os pais e os professores. Caso o aluno
meio da redação de um texto ou como apresentação oral – é levar os indique apenas a alternativa c, também está correto, pois
alunos a refletirem sobre a educação escolar para além da formação expressa um ponto de vista próprio.
para o mercado de trabalho. Nesse sentido, a atividade deve contem-
plar uma reflexão sobre o atual sistema de ensino e o quanto ele con- SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5
tribui ou pode contribuir para a humanização das relações pessoais. Introdução à bioética
Leitura e análise de texto (CA, p. 32)
Pesquisa em grupo (CA, p. 29) Espera-se que os alunos, após a leitura do texto, possam
A ideia central desta atividade é motivar os alunos a pensarem reconhecer o problema proposto pelo autor e sejam capazes de
as formas de intimidação e de ódio que podem estar envolvidas posicionar-se em relação a ele. Espera-se também que, em suas
em conversas, piadas, ameaças e chantagens no cotidiano das respostas, os alunos consigam identificar que uma vida imortal
relações sociais na escola. A proposta inclui, além de identificar nos coloca diante de um dilema espacial, moral, ético e bio-
essas possíveis relações no cotidiano escolar, pensar formas de se lógico acerca da sobrevivência e renovação da espécie. Ao se
tratar e abolir esse tipo de atitude. posicionarem, espera-se que utilizem argumentos em que seja
considerado não apenas a sua vontade como indivíduo, mas o
Leitura e análise de texto (CA, p. 29-31) que poderia ser melhor para a espécie humana.
1. Para o autor, o papel social da educação é emancipar as
pessoas para que possam construir uma sociedade demo- Leitura e análise de texto (CA, p. 33-35)
crática, na qual os indivíduos não sejam modelados. Espera-se que os alunos percebam que o desenvolvimento cien-
2. Resposta aberta, mas é importante ajudar o aluno a pensar tífico e tecnológico nunca é neutro e sempre envolve vidas e, por
que a educação deve ser um processo de formação para a isso, deve ser sempre objeto de reflexão ética.

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Filosofia – 2a série – Volume 2

Leitura e análise de texto (CA, p. 35-37) nos tribunais, nos negócios e nas assembleias públicas. Atual-
1. Com base no texto, os alunos devem refletir sobre os avan- mente, os professores devem ensinar a todos independente-
ços tecnológicos das áreas da Biologia e da Genética e mente das pretensões de participar em tribunais e assembleias.
demonstrar que é necessário mais divulgação sobre os Além disso, os alunos devem ser capazes de reconhecer que
avanços e as possíveis consequências. Além disso, devem algumas atividades baseadas no uso da palavra e em técnicas
ponderar que a Declaração Universal sobre o Genoma discursivas adquiriram tal complexidade que exigem qualifica-
Humano e os Direitos Humanos é importante para que ção profissional específica. Por exemplo, um político, além de
as pesquisas sejam encaminhadas sempre para o bem da dominar as técnicas de um discurso, deve ter uma boa dicção,
humanidade. Os alunos devem reconhecer a necessidade deve ter uma assessoria de imprensa que seja capaz de organi-
de as atividades humanas (em especial quando envolvem zar a comunicação etc.
seres humanos) serem normatizadas.
2. De acordo com o texto, os alunos devem responder afirma- Leitura e análise de texto (CA, p. 42-43)
tivamente sobre a necessidade de as pesquisas obedecerem Resposta aberta que depende do tipo de vida que cada aluno
a algumas condições. Segundo a Declaração, as pesquisas leva e o quanto ele percebe a sua vida em relação ao mundo
devem sempre considerar o respeito aos direitos humanos, tecnológico instaurado na sociedade contemporânea. Espera-
às liberdades fundamentais e à dignidade humana. Além -se que os alunos reflitam e considerem o quanto o seu estilo de
disso, as pesquisas devem sempre atender à necessidade de vida está ligado com as determinações de uma sociedade tec-
aliviar o sofrimento humano e melhorar a saúde. nológica, incluindo as formas como eles se relacionam com os
colegas, como eles se mantém informados, como são feitas suas
Pesquisa individual (CA, p. 37-38) pesquisas, quais são os diferentes tipos de informação a que eles
Espera-se que os alunos sejam capazes de redigir uma sín- têm acesso, como se dão suas relações de trabalho, quais são suas
tese das principais polêmicas encontradas na pesquisa e desta- formas de comprar e hábitos de consumo etc. Espera-se que eles
car uma entre elas que considerem mais interessante. Incentive reflitam sobre o quanto tudo isso estrutura sua vida, seu compor-
não apenas a realização da investigação sobre esse importante tamento e seu modo de pensar.
tema da atualidade, mas oriente o registro e a justificativa do
destaque. Lição de casa (CA, p. 43)
Deve-se orientar os alunos a buscar notícias relativas à domi-
Exercício (CA, p. 38) nação de alguns seres humanos por outros. Exemplos dessa prá-
Espera-se que os alunos demonstrem uma postura de censura à tica são o trabalho escravo ou a exploração de qualquer natureza
lógica das propagandas que apresentam os produtos farmacológi- do homem pelo homem.
cos, especialmente medicamentos, como qualquer outro produto.
Leitura e análise de texto (CA, p. 44-46)
Você aprendeu? (CA, p. 40) 1. Espera-se que os alunos reconheçam que a ética e suas
Alternativa a. questões têm como referência os problemas gerais da vida.
No âmbito do contexto tecnológico, diante do ineditismo
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6 das situações que se apresentam, a reflexão ética deve for-
A técnica mular novas questões e novas possibilidades de resposta.
Leitura e análise de texto (CA, p. 41-42) 2. Espera-se que os alunos reconheçam que há aspectos
Espera-se que os alunos reconheçam que as técnicas para bons e ruins em relação à finalidade dos instrumentos.
o bem falar e escrever são pré-requisitos para qualquer ativi- Diante das novas condições tecnológicas, os instrumentos
dade na sociedade contemporânea e que algumas profissões e as tecnologias devem passar por um novo olhar e ser
exigem técnicas argumentativas mais refinadas, como as pro- repensados. Você pode oferecer, como exemplo, a produ-
fissões ligadas ao Direito, à docência, às publicações, à política ção de alimentos. As tecnologias inicialmente benéficas
e aos meios de comunicação. Espera-se que os alunos reco- e que ajudam na produção, como a utilização de adubos
nheçam que, se no contexto de Atenas, os professores ensina- químicos, pode se tornar prejudicial ao longo do tempo,
vam técnicas àqueles que desejavam participar das atividades pois contaminam a água e o solo.

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Desafio! (CA, p. 46) 2. O labor na sociedade moderna apresenta limites ao agir
Trata-se de desafio prático, cujos exemplos são apresentados nos quando tudo passa pela relação de consumo e esgotamento
Cadernos do Professor e do Aluno. Pode-se planejar uma ação com dos recursos naturais e também quando, em nossa relação
o apoio da coordenação pedagógica ou de outros professores. O com o outro, nós nos comportamos como se ele fosse um
mais importante é apoiar o aluno em uma experiência prática com objeto para nos servir.
base nas leituras. A experiência deve gerar uma reflexão sobre como 3. Resposta aberta, a depender do entendimento do pensa-
somos dependentes dos recursos tecnológicos. mento de Hannah Arendt. O aluno pode identificar dife-
rentes ensinamentos, por exemplo, que nem todas as prá-
Você aprendeu? (CA, p. 46) ticas ou ações humanas são voltadas para o que a autora
O objetivo desta pesquisa é levar o aluno a refletir sobre o chama de agir, que é o processo de construção da felici-
mundo tecnológico em que vivemos por meio da análise do dade de todos.
percurso histórico descrito na letra da música O Silêncio, de
Arnaldo Antunes. A música traça uma trajetória de inventos tec- Pesquisa em grupo (CA, p. 50-52)
nológicos que vai do computador à TV, da TV à luz elétrica, por A elaboração deste cartaz exige a leitura atenta dos símbolos
ordem de ocorrência, até chegar ao “silêncio”, que é anterior à apresentados e o levantamento de informações sobre a socie-
palavra e a todas as técnicas e tecnologias. Espera-se com essa dade brasileira atual. Esse levantamento pode ter como fonte a
pesquisa que os alunos percebam, em meio às invenções tecno- leitura de jornais ou os registros do noticiário nos telejornais.
lógicas, um percurso que é, antes de tudo, humano. A apresen- A internet, quando possível, também é um veículo importante.
tação desse trabalho deverá ressaltar os ganhos e as perdas de
uma sociedade cada vez mais tecnológica. Lição de casa (CA, p. 52)
Oriente e incentive os alunos para que eles retomem as leitu-
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 7 ras e façam uma reflexão, levando em conta as suas explanações
A condição humana e a banalidade do mal e também as experiências cotidianas em termos da banalização
Exercício (CA, p. 47) do mal apresentada por Hannah Arendt.
Resposta aberta, que depende da forma como o aluno entende
o mundo e a condição humana. Espera-se que os alunos, ao obser- Pesquisa individual (CA, p. 53)
var as atividades presentes nas imagens, reconheçam que o homem Essa pesquisa pode revelar o quanto os alunos compreende-
precisa buscar sustento para manter-se vivo, construir artifícios para ram sobre o labor e as consequências da alienação e da falta de
tornar o mundo melhor e, finalmente, que o homem precisa estar comprometimento com os destinos da sociedade.
entre outros homens. Ainda que a resposta seja apenas parcial neste
momento, e não tão elaborada, o importante é que, ao final da Situa- Você aprendeu? (CA, p. 53-54)
ção de Aprendizagem, o aluno possa demonstrar um entendimento Resposta aberta, a depender do entendimento do aluno sobre
mais complexo das imagens. o assunto tratado nesta Situação de Aprendizagem. Contudo,
espera-se que os alunos, nas suas diferentes produções, possam
Leitura e análise de texto (CA, p. 48-50) demonstrar uma postura de valorização de decisões que envolvam
1. Resposta aberta, que depende das reflexões dos alunos após a comunidade em que, além dos critérios técnicos, os argumentos
a leitura dos textos. de todos os envolvidos da comunidade sejam considerados.

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CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL Química: Ana Joaquina Simões S. de Mattos Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares
NOVA EDIÇÃO 2014-2017 Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda
Batista Santos Junior, Natalina de Fátima Mateus e Meira de Aguiar Gomes.
COORDENADORIA DE GESTÃO DA Roseli Gomes de Araujo da Silva.
EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Área de Ciências da Natureza
Área de Ciências Humanas
Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Evandro
Coordenadora Filosofia: Emerson Costa, Tânia Gonçalves e
Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende
Maria Elizabete da Costa Teônia de Abreu Ferreira.
Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Rosimara
Diretor do Departamento de Desenvolvimento Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Santana da Silva Alves.
Curricular de Gestão da Educação Básica Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati.
João Freitas da Silva Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio
História: Cynthia Moreira Marcucci, Maria de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline
Diretora do Centro de Ensino Fundamental Margarete dos Santos Benedicto e Walter Nicolas
de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto
dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Otheguy Fernandez.
Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson
Profissional – CEFAF Luís Prati.
Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de
Valéria Tarantello de Georgel
Almeida e Tony Shigueki Nakatani.
Coordenadora Geral do Programa São Paulo Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula
PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO Vieira Costa, André Henrique Ghelfi Rufino,
faz escola
PEDAGÓGICO Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes
Valéria Tarantello de Georgel
Área de Linguagens M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio
Coordenação Técnica Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael
Roberto Canossa Budiski de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Plana Simões e Rui Buosi.
Roberto Liberato Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes
Suely Cristina de Albuquerque Bomfim e Silva, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Química: Armenak Bolean, Cátia Lunardi, Cirila
Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S.
EQUIPES CURRICULARES
Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura
Área de Linguagens Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko
Arte: Ana Cristina dos Santos Siqueira, Carlos Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz. S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M.
Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno e Roseli Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus.
Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia
Ventrella.
Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva,
Área de Ciências Humanas
Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana
Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson
Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela
Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio
dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba
Rosângela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal.
Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina
Silveira.
dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos,
Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio
Língua Estrangeira Moderna (Inglês e
Bomfim, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza,
Espanhol): Ana Beatriz Pereira Franco, Ana Paula
Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez,
de Oliveira Lopes, Marina Tsunokawa Shimabukuro
Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos,
e Neide Ferreira Gaspar.
Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de
Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório,
Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Campos e Silmara Santade Masiero. Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato
Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, e Sonia Maria M. Romano.
Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene
Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli
Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves História: Aparecida de Fátima dos Santos
Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves.
Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M.
Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete
Área de Matemática de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz,
Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina
Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina
de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso
Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda
Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana
Yamanaka, Rosana Jorge Monteiro, Sandra Maira Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso,
Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de
Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar
Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo,
Alexandre Formici, Selma Rodrigues e
Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria
Área de Ciências da Natureza Sílvia Regina Peres.
Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas.
Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth
Área de Matemática
Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e
Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Sociologia: Anselmo Luis Fernandes Gonçalves,
Rodrigo Ponce.
Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Celso Francisco do Ó, Lucila Conceição Pereira e
Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Tânia Fetchir.
Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima,
Maria da Graça de Jesus Mendes. Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Apoio:
Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Fundação para o Desenvolvimento da Educação
Física: Anderson Jacomini Brandão, Carolina dos Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, - FDE
Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina
Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, CTP, Impressão e acabamento
Luz Stroeymeyte. Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Log & Print Gráfica e Logística S.A.
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EDITORIAL 2014-2017 CONTEÚDOS ORIGINAIS Martins e Renê José Trentin Silveira.

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CADERNOS DOS ALUNOS
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Mauro de Mesquita Spínola
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GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS Guiomar Namo de Mello, Lino de Macedo,
À EDUCAÇÃO Luis Carlos de Menezes, Maria Inês Fini Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza
(coordenadora) e Ruy Berger (em memória).
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe,
Direção da Área
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Guilherme Ary Plonski AUTORES
Schrijnemaekers.

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Gestão Editorial
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Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana,
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Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo.
Editorial: Amarilis L. Maciel, Ana Paula S. Bezerra,
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Angélica dos Santos Angelo, Bóris Fatigati da Silva,
Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite,
Bruno Reis, Carina Carvalho, Carolina H. Mestriner, LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto,
Carolina Pedro Soares, Cíntia Leitão, Eloiza Lopes, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida
Érika Domingues do Nascimento, Flávia Medeiros, Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria
Giovanna Petrólio Marcondes, Gisele Manoel, Fidalgo. Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo
Jean Xavier, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro,
LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel
Leslie Sandes, Mainã Greeb Vicente, Maíra de Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão,
Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues
Freitas Bechtold, Marina Murphy, Michelangelo Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume.
Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, González.
Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol,
Paula Felix Palma, Pietro Ferrari, Priscila Risso,
Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo
Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Renata Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet
de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti,
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José Luís Marques López Landeira e João Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell
Mendes Mesquita, Tatiana F. Souza e Tiago Jonas
Henrique Nogueira Mateos. Roger da Purificação Siqueira, Sonia Salem e
de Almeida. Yassuko Hosoume.
Matemática
Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse
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Micsik, Dayse de Castro Novaes Bueno, Érica Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe
Matemática: Nílson José Machado, Carlos
Marques, José Carlos Augusto, Juliana Prado da Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa
Silva, Marcus Ecclissi, Maria Aparecida Acunzo Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda
Forli, Maria Magalhães de Alencastro, Vanessa Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião.
Bianco e Vanessa Leite Rios. Walter Spinelli.
Caderno do Gestor
Edição e Produção editorial: Adesign, Jairo Souza Ciências Humanas Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de
Design Gráfico e Occy Design (projeto gráfico). Coordenador de área: Paulo Miceli. Felice Murrie.

Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas

* Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
indicados sites para o aprofundamento de conhecimen-
tos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados S239m Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; filosofia, ensino
e como referências bibliográficas. Todos esses endereços médio, 2a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Adilton Luís
eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é
Martins, Luiza Chirstov, Paulo Miceli. - São Paulo: SE, 2014.
um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites v. 2, 72 p.
indicados permaneçam acessíveis ou inalterados.
Edição atualizada pela equipe curricular do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais,
* Os mapas reproduzidos no material são de autoria de Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF, da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica -
terceiros e mantêm as características dos originais, no que CGEB.
diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos
elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos). ISBN 978-85-7849-636-4

* Os ícones do Caderno do Aluno são reproduzidos no 1. Ensino médio 2. Filosofia 3. Atividade pedagógica I. Fini, Maria Inês. II. Martins, Adilton Luís.
Caderno do Professor para apoiar na identificação das III. Chirstov, Luiza. IV. Miceli, Paulo. V. Título.
atividades. CDU: 371.3:806.90
Validade: 2014 – 2017

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