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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Parecer Técnico

1. Identificação
Parecer Técnico elaborado em função de solicitação feita em 7/4/2020 pela Excelentíssima
Procuradora do Trabalho, Dra. Flávia Veiga Bauler.

2. Considerações Preliminares
Trata-se de análise técnica da solicitação para permissão excepcional e temporária para
postergação do prazo de inspeção para itens da NR-13 frente ao COVID_19, enviada em
6/4/2020 pela bancada de empregadores da CTPP (Comissão Tripartite Paritária Permanente).

3. Análise Técnica
A solicitação é de que, de forma excepcional e temporária (durante a vigência do Decreto
Legislativo n°06/2020 – calamidade pública frente ao COVID_19), os prazos relativos às
inspeções de segurança periódica dos vasos de pressão, tubulações e tanques de armazenamento
abrangidos pela Norma Regulamentadora nº 13 (NR 13 - Caldeiras, vasos de pressão, tubulações
e tanques metálicos de armazenamento) tenham o mesmo tratamento atualmente dado às
caldeiras, conforme item 13.3.1.1 da citada norma, que informa:

“13.3.1.1 Por motivo de força maior e com justificativa formal do empregador,


acompanhada por análise técnica e respectivas medidas de contingência para
mitigação dos riscos, elaborada por Profissional Habilitado PH ou por grupo
multidisciplinar por ele coordenado, pode ocorrer postergação de até 6 (seis)
meses do prazo previsto para a inspeção de segurança periódica da caldeira.”

Quanto à inspeção de vasos de pressão, tubulações e tanques, são indicados os seguintes itens na
NR-13, entre eles:

“13.5.1.7.1 Vasos de pressão construídos sem códigos de projeto, instalados antes


da publicação desta Norma, para os quais não seja possível a reconstituição da
memória de cálculo por códigos reconhecidos, devem ter PMTA atribuída por PH

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a partir dos dados operacionais e serem submetidos a inspeções periódicas,


conforme os prazos abaixo:
a) 01 ano, para inspeção de segurança periódica externa;
b) 03 anos, para inspeção de segurança periódica interna

(...)

13.5.4.1 Os vasos de pressão devem ser submetidos a inspeções de segurança


inicial, periódica e extraordinária

(...)

13.5.4.5 A inspeção de segurança periódica, constituída por exames externo e


interno, deve obedecer aos seguintes prazos máximos estabelecidos a seguir: para
estabelecimentos que não possuam SPIE, conforme citado no Anexo II
a) para estabelecimentos que não possuam SPIE, conforme citado no Anexo II:

Categoria do Vaso Exame Externo Exame Interno


I 1 ano 3 anos
II 2 anos 4 anos
III 3 anos 6 anos
IV 4 anos 8 anos
V 5 anos 10 anos
b) para estabelecimentos que possuam SPIE, conforme citado no Anexo II,
consideradas as tolerâncias nele previstas:

Categoria do Vaso Exame Externo Exame Interno


I 3 anos 6 anos
II 4 anos 8 anos
III 5 anos 10 anos
IV 6 anos 12 anos
V 7 anos A critério

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(...)
13.6.3.2 As tubulações devem ser submetidas à inspeção de segurança periódica.
13.6.3.3 Os intervalos de inspeção das tubulações devem atender aos prazos
máximos da inspeção interna do vaso ou caldeira mais crítica a elas interligadas,
podendo ser ampliados pelo programa de inspeção elaborado por PH,
fundamentado tecnicamente com base em mecanismo de danos e na criticidade do
sistema, contendo os intervalos entre estas inspeções e os exames que as
compõem, desde que essa ampliação não ultrapasse o intervalo máximo de 100 %
(cem por cento) sobre o prazo da inspeção interna, limitada a 10 (dez) anos.
13.6.3.4 Os intervalos de inspeção periódica da tubulação não podem exceder os
prazos estabelecidos em seu programa de inspeção, consideradas as tolerâncias
permitidas para as empresas com SPIE.
13.6.3.5 A critério do PH, o programa de inspeção pode ser elaborado por
tubulação, por linha ou por sistema. No caso de programação por sistema, o
intervalo a ser adotado deve ser correspondente ao da sua linha mais crítica.
13.6.3.6 As inspeções periódicas das tubulações devem ser constituídas de exames
e análises definidas por PH, que permitam uma avaliação da sua integridade
estrutural de acordo com normas e códigos aplicáveis.
(...)
13.7.3.2 Os tanques devem ser submetidos à inspeção de segurança periódica.
13.7.3.3 Os intervalos de inspeção de segurança periódica dos tanques devem
atender aos prazos estabelecidos em programa de inspeção formalmente instituído
pelo empregador, não podendo esses prazos exceder aos estabelecidos na norma
ABNT NBR 175052.
13.7.3.4 As inspeções de segurança periódicas dos tanques devem ser constituídas
de exames e análises definidas por PH que permitam uma avaliação da sua
integridade estrutural de acordo com normas e códigos aplicáveis.”

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As justificativas dadas para tal solicitação são as seguintes:

a) Durante as paradas para inspeções, por oportunidade, seriam realizadas também a limpeza
interna destes equipamentos, revisões preventivas de todo o sistema de instrumentação e
controle, dos sistemas elétricos e equipamentos dinâmicos. Seriam executadas ainda
melhorias de atualização tecnológica dos equipamentos da instalação, tanto para o aumento
da segurança das pessoas, instalações e meio ambiente como também para ganhos em
confiabilidade dos equipamentos.

Sugerimos que durante a vigência do Decreto Legislativo n°06/2020 – calamidade pública frente
ao COVID_19 estes serviços realizados por oportunidade não sejam executados, sendo feita
somente a inspeção determinada em norma, uma vez que o objetivo principal é o de se garantir a
integridade destes equipamentos.

b) Para a realização das tarefas informadas na alínea “a”, todo o planejamento seria iniciado
com antecedência que chega a 18 meses, para definição e compra de equipamentos e
instrumentos nacionais e importados, pré-fabricação de acessórios e componentes e pré-
montagem de toda a logística necessária para a execução do evento, tais como vestiários e
restaurantes adicionais, canteiro de obra das contratadas e pré-montagem de andaimes e
tubulações que serão trocadas. A execução completa destas etapas, nos prazos definidos,
garante o sucesso da parada de manutenção, sobretudo com respeito a duração do evento.

Considerando o esforço de logística informado, reforçamos a solicitação de que sejam realizadas


apenas as inspeções e serviços de manutenção que garantiriam o funcionamento de vasos de
pressão, tubulações e tanques, sem prejuízo dos prazos determinados em norma.

c) Com tal medida de postergação excepcional, estaria sendo evitada a entrada de milhares de
empregados terceirizados para dentro dos parques industriais o, trazer para dentro do parque
industrial.

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Com a entrada de apenas trabalhadores responsáveis pelos serviços essenciais, como as inspeções
dos referidos equipamentos em questão, seria possível a realização do controle que tem sido feito
para conter o avanço da pandemia.

d) Promover uma parada do processo produtivo neste momento acarretaria na paralisação de


plantas industriais que fornecem insumos vitais para a cadeia produtiva no atendimento
emergencial e urgente da pandemia de COVID_19 pelo sistema de saúde e pela população
em geral. Dentre os principais produtos foram destacados: fabricação de materiais que
permitam a fabricação do álcool em gel, diversas aplicações de polímeros para seringas,
plásticos, embalagens, tecidos, produtos têxteis, tantos outros presentes nas ações de
emergências implementados pelo governo, empresas e trabalhadores.

A inspeção em um número muito pequeno de vasos de pressão, tubulações e tanques demandaria


a parada de todo o processo produtivo. Esse número se reduz ainda mais se estamos falando de
empresas que atualmente estão provendo materiais e recursos para combate a pandemia. Além
disso, para essas fábricas que estão operando com força total, a necessidade de verificação destes
equipamentos se torna ainda mais importante, pois o risco de acidentes aumenta. E, se formos
seguir por essa linha, acidentes de grandes proporções em vasos de pressão, tubulações e tanques
é tudo que não se precisa agora para sobrecarregar ainda mais nossos hospitais.

e) O pedido seria para garantir a segurança da operação da planta, não trazendo riscos
adicionais para o processo e os envolvidos.

A realização das inspeções necessárias nos equipamentos, se feitas da forma adequada, não
trazem riscos adicionais para o processo e os envolvidos. Pelo contrário, previnem a ocorrência
de acidentes.

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f) O pleito parte do princípio que já existe na NR 13 tal previsão para as caldeiras que são
equipamentos com grau de risco maiores do que vasos de pressão, tanques e tubulações.

Segundo item 13.4.1.1 da NR-13, caldeiras são equipamentos destinados a produzir e acumular
vapor sob pressão superior à atmosférica, utilizando qualquer fonte de energia. No caso de
explosão de uma caldeira, o impacto é enorme, mas estamos falando de explosão de vapor e, em
menor quantidade, do combustível que a alimenta (óleo diesel, óleo combustível, gás natural,
GLP, biomassa e lenha, entre outros).

Já vasos de pressão, segundo item 13.5.1.1 da NR-13, são equipamentos que contêm fluidos sob
pressão interna ou externa, diferente da atmosférica. Esses fluidos podem ser inflamáveis,
combustíveis, tóxicos, hidrogênio, acetileno, vapor de água, gases asfixiantes e ar comprimido,
entre outros. Tubulações e tanques, por sua vez, podem conter os mais variados produtos em seu
interior. Ou seja, no caso de explosão de um desses equipamentos, estamos falando de liberação
para atmosfera de substâncias que podem causar grandes acidentes.

4. Conclusão/ Recomendações
Considerando que a elaboração da análise técnica e determinação das respectivas medidas de
contingência para mitigação dos riscos causados pela ausência de inspeção, a serem realizadas
por Profissional Habilitado - PH ou por grupo multidisciplinar por ele coordenado, conforme
item 13.3.1.1 da NR-13, poderiam demandar mais profissionais e tempo do que a realização da
inspeção do equipamento em si.

Considerando que existe um prazo determinado para realização das inspeções de vasos de
pressão, tubulações e tanques, sendo certo que a maioria deles não findará durante a vigência
do Decreto Legislativo n°06/2020 – calamidade pública frente ao COVID_19.

Considerando que o PH já teria autonomia para postergar inspeções em tubulações sob certas
circunstâncias, conforme itens 13.6.3 a 13.6.3 da NR-13.

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Considerando que não haveria necessidade de realização dos outros serviços executados por
oportunidade durante a inspeção, como limpeza interna, revisões preventivas e melhorias de
atualização tecnológica, uma vez que não são essenciais, o que reduzira drasticamente a
necessidade de profissionais e de materiais e equipamentos nos locais, sendo possível a
realização do controle que tem sido feito para conter o avanço da pandemia.

Considerando que a realização de inspeção em um número pequeno de vasos de pressão,


tubulações e tanques demandaria a parada de todo o processo produtivo. E que este número se
reduz ainda mais se estamos falando de empresas que atualmente estão provendo materiais e
recursos para combate a pandemia.

Considerando que, para essas fábricas que estão operando com força total, a necessidade de
inspeção destes equipamentos se torna ainda mais importante, pois o risco de acidentes
aumenta.

Considerando que a realização das inspeções necessárias nos equipamentos, se feitas da forma
adequada, não trazem riscos adicionais para o processo e os envolvidos. Pelo contrário,
previnem a ocorrência de acidentes.

Considerando que acidentes com vasos de pressão, tubulações e tanques podem liberar para
atmosfera substâncias inflamáveis, combustíveis e tóxicas, podendo gerar acidentes de grandes
proporções

Considerando que acidentes de grandes proporções em vasos de pressão, tubulações e tanques


é tudo que não se precisa agora para sobrecarregar ainda mais nossos hospitais.

Recomendamos que sejam mantidos os prazos de inspeção determinados na NR-13 para vasos
de pressão, tubulações e tanques.

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5. Encerramento
Concluímos o presente parecer com oito páginas.

Rio de Janeiro, 7 de abril de 2020.

(assinado eletronicamente)
Selma Moreira
Analista Pericial em Engª Segª do Trabalho
Mat. 6004391-1

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