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Fleury: medicina e saúde

Linfoma de Hodgkin versus linfoma não


Hodgkin: qual é a diferença?
O termo linfoma designa um conjunto de doenças linfoproliferativas
malignas que apresentam significa
Publicado em 01 de Março de 2011

O termo linfoma designa um conjunto de doenças linfoproliferativas


malignas que apresentam significativa heterogeneidade clínica e
biológica. Todos os linfomas originam-se nas células do sistema
linfoide: os linfócitos e seus precursores. Qualquer uma das
subpopulações de linfócitos (linfócitos B, T ou NK), em seus diferentes
estágios de maturação, pode sofrer transformação maligna. Cada
subtipo de linfoma, geralmente, mimetiza um estágio específico da
diferenciação linfocitária, em termos de características morfológicas,
imunofenotípicas e genéticas, sendo essas características os pilares
que sustentam o diagnóstico e a classificação dos mais de cinquenta
diferentes subtipos de linfomas reconhecidos atualmente.

O linfoma compreende tanto os linfomas de Hodgkin quanto os


linfomas não Hodgkin. O linfoma de Hodgkin é responsável por 12%
dos casos de linfoma, sendo caracterizado pela presença de células
grandes e facilmente identificáveis no linfonodo acometido, conhecidas
com células de Reed-Sternberg. Essas células – as únicas
verdadeiramente neoplásicas no linfoma de Hodgkin – são geralmente
observadas em número reduzido, em meio a uma mistura de células
inflamatórias e estromais no tecido tumoral.

O predomínio de um microambiente inflamatório e a relativa escassez


das células de Reed-Sternberg fizeram com que, durante décadas,
pairassem algumas dúvidas sobre a classificação inequívoca do linfoma
de Hodgkin como um tipo de câncer, ao invés de uma doença
inflamatória ou infecciosa. Tanto é assim que, desde a sua descrição
por Thomas Hodgkin, em 1832, até bem recentemente, este tipo de
linfoma era conhecido como ”doença” de Hodgkin. Apenas na década
passada passou-se a preferir a denominação linfoma de Hodgkin, por
ter sido demonstrado que as células de Reed-Sternberg são clonais, e
quase sempre derivadas de linfócitos B maduros que sofreram
transformação maligna, não restando qualquer dúvida sobre a
classificação desta doença como um tipo de linfoma.

Os linfomas não Hodgkin, muito mais comuns, também são


predominantemente derivados de linfócitos B, sendo que apenas cerca
de 10% dos casos originam-se de linfócitos T ou NK. Ao contrário do
linfoma de Hodgkin, os linfomas não Hodgkin não têm um tipo celular
característico, apresentando expressiva heterogeneidade morfológica,
imunofenotípica e genética. Outra diferença é que nos linfomas não
Hodgkin há um contingente menos significativo de células inflamatórias
e estromais no tecido tumoral, e a grande maioria das células são
clonais, derivadas de um precursor linfoide comum que sofreu
transformação neoplásica.

Do ponto de vista clínico, os pacientes com linfoma de Hodgkin


geralmente se apresentam de forma relativamente homogênea, com
linfonodos aumentados, particularmente na região cervical, de origem
unicêntrica, e sem doença extranodal, i.e., sem doença em órgãos que
não pertencem ao sistema imune. O linfoma de Hodgkin tem um
padrão de progressão previsível, disseminando-se por invasão
contígua de cadeias ganglionares adjacentes.

Embora muitos pacientes com linfoma não Hodgkin possam ter


características clínicas semelhantes àquelas dos pacientes com linfoma
de Hodgkin, o quadro clínico tende a ser muito mais heterogêneo.
Pacientes com linfoma difuso de grandes células B, por exemplo, o
subtipo mais comum de linfoma não Hodgkin, geralmente se
apresentam com massas tumorais de crescimento rápido, até 40% dos
pacientes podem ter doença extranodal, inclusive com invasão da
medula óssea. A evolução clínica tende a ser mais agressiva e muito
menos previsível do que no linfoma de Hodgkin.

Pacientes com linfoma folicular, o segundo subtipo mais comum de


linfoma não Hodgkin, usualmente se apresentam com doença
multicêntrica, de crescimento lento, podendo até cursar com quadros
de linfadenopatia transitória. A incidência de infiltração da medula
óssea é significativa e pode haver invasão do sangue periférico,
inclusive, com uma fase francamente leucêmica em alguns casos. O
linfoma folicular tende a ter um comportamento indolente, mas segue
um curso imprevisível: enquanto alguns pacientes convivem com a
doença por meses ou até por anos sem necessidade de qualquer
intervenção específica, outros têm aumento relativamente rápido da
massa tumoral e requerem modalidades intensivas de tratamento.

Pacientes com linfoma esplênico da zona marginal, outro subtipo de


linfoma não Hodgkin indolente, em geral se apresentam apenas com
aumento do baço, sem adenomegalia associada, e com linfócitos com
alterações citomorfológicas, ou seja, projeções citoplasmáticas curtas
no sangue periférico. Esse subtipo de linfoma usualmente tem
progressão lenta e, por isso, esses pacientes são apenas observados
clinicamente, por longos períodos. Quando necessário, a esplenectomia
pode aliviar os sintomas e reduzir a massa tumoral resultando em boa
resposta de longo prazo, na maioria dos casos.

Esses exemplos, além de demonstrar as diferenças mais relevantes


entre os linfomas de Hodgkin e os linfomas não Hodgkin, oferecem uma
breve perspectiva do desafio que a significativa heterogeneidade clínica
e biológica dessa doença impõe ao diagnóstico e, principalmente, ao
manejo clínico dos pacientes com esse tipo de câncer.

*Edgar Gil Rizzatti é coordenador do Centro de Atendimento


Especializado ao Paciente com Linfoma e integrante do Grupo de
Hematologia do Fleury Medicina e Saúde

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