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1.2.

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AOS SUJEITOS

Na lição anterior se fez a distinção das obrigações segundo o critério do vínculo jurídico e nesta
segunda lição procederemos a distinção das obrigações pelo critério dos sujeitos da relação
obrigacional, onde na primeira classificação nos prendemos com a determinação e
indeterminação dos sujeitos e na segunda classificação nos prendemos a singularidade ou
pluralidade dos sujeitos.

1.2.1 Obrigações de sujeito determinado e obrigações de sujeito indeterminado

Nas relações creditórias é princípio regra que os sujeitos da mesma, isto é o credor e o devedor,
estejam determinados logo que se constitui a relação, e nela subjaz as designadas obrigações de
sujeitos determinados.

Contudo, excepcionalmente, o artigo 511º, do C.C., permite que se possa constituir obrigação
enquanto o credor não esteja ainda determinado, mas deve ser determinável até ao momento do
cumprimento da mesma, porque de contrário tornar-se-á nulo o negócio jurídico donde resultou a
obrigação. Deste modo, no momento de constituição da obrigação o devedor deve
necessariamente estar determinado, embora o credor esteja indeterminado.

Nas relações creditórias que na sua constituição o credor esteja indeterminado subjazem as
designadas obrigações de sujeitos indeterminados.

A indeterminação temporária do credor pode ter na sua base o facto de se aguardar a verificação
de um determinado facto futuro e incerto, ou em virtude de a ligação entre o credor e a relação
creditória se apresentar como indirecta ou mediata, sendo essa qualidade determinada através de
uma relação de natureza diferente (a posse ou a propriedade de uma coisa). Um exemplo da
primeira situação é a promessa pública referida no artigo 459º, do C.C. e o exemplo da segunda
situação consiste nos títulos ao portador, como nos cheques ao portador, cfr. Artigo 5, da Lei
Uniforme Relativa ao Cheque, em virtude da possibilidade do endosso, cfr. Artigo 14, da Lei
referida, onde já está constituída a obrigação constante do título, ainda que a pessoa do credor
apenas seja determinada em função da posse do título.

1.2.2. Obrigações singulares e obrigações plurais

Segundo o artigo 397º, do C.C. a obrigação se define como o vínculo jurídico pelo qual uma
pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação. Esta definição legal refere-se
a obrigações singulares, no sentido de que, nela apenas se menciona um credor e um devedor.

Por exemplo: O Edson vende ao Arlindo o seu Código Civil.

No entanto, a obrigação pode também constituir-se abrangendo uma vinculação de várias


pessoas para com a outra (pluralidade passiva), ou uma vinculação de uma pessoa para com
outras (pluralidade activa), ou ainda de várias pessoas para com outras (pluralidade mista). Em
todas estas situações o objecto da obrigação – a realização da prestação – pode ser o mesmo, mas
vária o número de pessoas que se vincula a esse comportamento ou quem tem o direito de o
exigir, e em todas elas emergem as obrigações plurais.

Exemplo 1: A, B, C se obrigam a entregar a quantia de 900,00 mts ao D – Pluralidade Passiva

Exemplo 2: A se obriga a entregar a quantia de 900,00 mts a B, C, D – Pluralidade Activa

Exemplo 3: A, B, C se obrigam a entregar a quantia de 900,00 mts a D, E, F – Pluralidade Mista

As obrigações plurais colocam o problema de determinar como se realiza a contribuição dos


diversos devedores para a realização da prestação a que estão vinculados e em que termos pode
cada um dos credores exigir a prestação. Este problema é solucionado de forma diversa
consoante a modalidade de obrigações plurais que tivermos em face, nomeadamente, Obrigações
Conjuntas ou Parciárias e Obrigações Solidárias.

1.2.2.1. As obrigações conjuntas ou parciárias

Nas obrigações conjuntas ou parciárias, cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao
credor ou credores a sua parte na prestação e cada um dos credores só pode exigir do devedor ou
devedores a parte que lhe cabe. A prestação é assim realizada por partes, prestando cada um dos
devedores a parte a que se vinculou e não recebendo cada um dos credores mais do que aquilo
que lhe compete.

Exemplo 1: A, B, C, que se obrigaram a entregar o valor de 900,00 mts ao D, onde cada um dos
devedores entregará ao credor valor de 300,00 mts e se exoneram da dívida comum e o credor
somente poderá exigir de cada um dos devedores a entrega do valor de 300,00 mts – Conjunção
passiva;

Exemplo 2: A, que se obrigou a entregar o valor de 900,00 mts a B, C, D, onde o devedor


entregará a cada um dos credores o valor de 300,00 mts e se exonera da dívida comum e cada um
dos credores somente poderá exigir do devedor a entrega do valor de 300,00 mts – Conjunção
activa;

Exemplo 3: A, B, C, que se obrigaram a entregar o valor de 900,00 mts a D, E, F, onde cada um


dos devedores entregará a cada um dos credores o valor de 100,00 mts e se exoneram da dívida
comum e cada um dos credores somente poderá exigir de cada um dos devedores a entrega do
valor de 100,00 mts – Conjunção mista.

Sublinhar que nos exemplos enunciados acima pressupõe-se que as quotas-partes da dívida
comum e do crédito comum sejam iguais, mas poderá suceder que as partes convencionem
quotas-partes diferentes.
Estas obrigações tradicionalmente, por influência da doutrina francesa, eram denominadas por
obrigações conjuntas, mas outros autores atendendo à sua realização em partes prefere
denomina-las de obrigações parciárias. Na ciência jurídica estas obrigações são designadas
cientificamente por obrigações conjuntas, tal como foi consagrado no artigo 786º, nº 3, do C.C.

1.2.2.2. As obrigações solidárias

As obrigações solidárias tem a sua sede legal nos artigos 512º e ss, do C.C. e se caracterizam
pelo facto de nelas qualquer um dos devedores estar obrigado perante o credor a realizar a
prestação integral (solidariedade passiva) ou ainda qualquer dos credores poder exigir do
devedor a prestação integral (solidariedade activa) ou ainda pelo facto de qualquer um dos
credores poder exigir a qualquer um dos devedores a prestação integral (solidariedade mista).

Exemplo 1: A, B, C, que se obrigaram a entregar o valor de 900,00 mts ao D, onde cada um dos
devedores deve realizar diante do credor a prestação integral (900,00 mts) e exonera a ele e os
demais devedores da obrigação, adquirindo o devedor que realizou a prestação integral diante
dos outros devedores um direito de regresso, podendo exigir a parte que lhes competiam (300,00
mts a cada um deles) na prestação integral – Solidariedade passiva prevista nos artigos 512º e
524º, do C.C.;

Exemplo 2: A, que se obrigou a entregar o valor de 900,00 mts a B, C, D, onde o devedor poderá
realizar a prestação integral (900,00 mts) a um dos credores e se exonera da obrigação diante dos
demais credores, embora o credor que recebeu a prestação integral esteja obrigado a satisfazer
aos outros credores a parte que lhes cabe no crédito comum (300,00 mts a cada um deles) –
Solidariedade activa prevista nos artigos 512º e 533º, do C.C.;

Exemplo 3: A, B, C, se obrigaram a entregar o valor de 900,00 mts a D, E, F, onde cada um dos


devedores deverá realizar a prestação integral (900,00 mts) a cada um dos credores e exonera a
ele e os demais devedores da obrigação diante do credor que recebeu a prestação integral e os
demais credores, passando o devedor que realizou a prestação integral a ter um direito de
regresso na parte que competia aos demais devedores na dívida comum (300,00 mts cada um
deles), como também o credor que recebeu a prestação integral está obrigado a satisfazer aos
outros credores a parte que lhes cabe no crédito comum (300,00 mts a cada um deles) –
Solidariedade mista prevista nos artigos 512º, 524º e 533º, todos do C.C.

As características da solidariedade são a identidade da prestação em relação a todos os sujeitos


da obrigação, a extensão integral do dever de prestar ou do direito à prestação em relação
respectivamente a todos os devedores ou credores, e o efeito extintivo comum da obrigação caso
se verifique a realização do cumprimento por um ou apenas a um deles.
A dúvida que se levanta é se, perante um caso de pluralidade de sujeitos na relação creditória, se
deve aplicar o regime da solidariedade ou da conjunção.

Esta dúvida é esclarecida pela regra consagrada no artigo 513º, do C.C. que expende que, a
solidariedade de devedores ou credores só existe quando resulte da Lei ou da vontade das partes
e se nada estiver estipulada pelas partes e nem resultar da Lei aplica-se o regime da conjunção.

Em termos práticos o legislador conferiu maior relevância a solidariedade passiva, razão pela
qual existem várias previsões legais de solidariedade passiva, como por exemplos, pluralidades
de gestores, no artigo 467º, do C.C., pluralidade de responsáveis pelo dano, nos artigos 497º e
507º, do C.C. e pluralidade de mandantes, no artigo 1169º, do C.C.

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