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CEI-ADVOCACIA

PÚBLICA 3ª EDIÇÃO
1ª RODADA - 20/01/2017

CEI-ADVOCACIA
PÚBLICA 3ª EDIÇÃO

1ª RODADA - 20/01/2017
DURAÇÃO

20/01/2017 A 16/05/2017

MATERIAL ÚNICO
Questões totalmente inéditas

ACESSÍVEL
Computador, Tablet, Smartphone

30 QUESTÕES OBJETIVAS
Por rodada

2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
Por rodada

1 PEÇA JUDICIAL
Por rodada

IMPORTANTE: é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI CEI-
possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. ADVOCACIA
O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. Agradecemos pela PÚBLICA
sua gentileza de adquirir honestamente o curso e permitir que o CEI continue existindo. 3ª ED.
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PROFESSORES

Jorge Maffra Ottoni - Coordenador do CEI PGE/PGM e Professor de Direito Administrativo e Financeiro.
Procurador do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro. Aprovado nos seguintes concursos públicos: Procurador
da Assembleia Legislativa de Goiás (1º colocado). Procurador Especial junto ao Tribunal de Contas do Município do Rio de
Janeiro (2º colocado). Procurador do Município de Niterói. Procurador do Município de São Paulo. Procurador
do Banco Central. Procurador Federal (AGU). Procurador da Câmara do Município de São Paulo.
Procurador do Município de Atibaia (2º colocado). Procurador do Município de Limeira (1º colocado).
Procurador do Município de Jundiaí. Procurador do Município de Taboão da Serra (1º colocado
antes dos títulos). Procurador do Município de Araras (2º colocado). Advogado da Companhia
Paulista de Obras e Serviços. Advogado SP Urbanismo (3º colocado). Procurador Instituto de
Previdência de Ilhabela (1º colocado). Advogado Dataprev. Procurador Geral da Câmara de
Caieiras. Bacharel em Direito pela USP.

Natalia Maia – Direito Civil, Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho.


Procuradora do Estado de Goiás. Aprovada nos concursos da PGE-BA e da PGE-RN. Pós-graduanda
pela PUC-MG. Bacharel em Direito pela UFC.

Rodolfo Cursino – Direito Tributário e Direito Ambiental.


Procurador da Fazenda Nacional. Especialista em Direito Público pela UBC/SP. Pós-graduado em Direito
Processual pela PUC/MG. Bacharel em Direito pela UFPE. Ex-Técnico do Seguro Social. Coautor do
livro “Questões Discursivas Comentadas – Advocacia Pública Federal (AGU e PFN)”, Juspodivm/2015.
Colaborador do Blog Foca no Resumo. Aprovado, ainda, nos concursos de Julgador do Tribunal
Administrativo Tributário de Pernambuco; Procurador dos Municípios de Maceió/AL e João Pessoa/
PB; Advogado da Caixa Econômica Federal; Analista do MPU, TRT6 e TJPE; Técnico da Fazenda
Municipal de Olinda/PE e do TRT6.

José Américo – Direito Constitucional, Direito Penal e Direito Processual Penal.


Procurador do Estado do Piauí. Aprovado nos seguintes concursos públicos: Procurador de Contas do
TCE-CE (3o Colocado). Procurador Especial junto ao TCM-RJ (5o Colocado – aguardando apuração de
títulos). Procurador do Estado do Piauí (6º colocado). Procurador de Contas do TCE-PB (7o Colocado).
Procurador do Estado do Paraná (14o Colocado). Procurador do Estado do RN. Procurador da
Câmara Municipal de Porto Alegre-RS (2o Colocado). Procurador do Município de Cuiabá (3o
Colocado). Assessor Jurídico do TCE-PI (6o Colocado). Procurador do Estado do Acre. Advogado
da CEF e Advogado do BNB.

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Bruno Lopes Megna – Direito Processual Civil e Empresarial.


Procurador do Estado de São Paulo. Mestrando em Direito Processual na USP. Graduado em Direito na
USP (2011). Membro da Comissão de Advocacia Pública da OAB-SP. Membro do Centro de Estudos
Avançados de Processo (CEAPRO). Professor Convidado na Escola Superior da Procuradoria Geral
do Estado de São Paulo (ESPGE-SP). Aprovado nos concursos de Advogado da União (2012),
Procurador do Estado de São Paulo (2012) e Procurador do Município de São Paulo (2014, 1º
colocado na fase dissertativa, 4º colocado após contagem dos títulos).

Frederico Jorge Magalhães Pereira de Lira – Temas Federais: Previdenciário Federal, Internacional, Agrário
e Legislação de Ensino.
Procurador Federal. Procurador-Chefe da Procuradoria Federal no Estado do Acre (PF/AC). Pós-
graduado em Direito Público pela Universidade Anhanguera. Bacharel em Direito pela Universidade
Católica de Pernambuco (UNICAP). Ex-Procurador-Chefe da Procuradoria Federal Especializada
junto ao IBAMA no Estado do Acre (PFE-IBAMA/AC). Ex-Procurador do Estado do Acre (PGE/AC).
Aprovado, ainda, nos concursos para Procurador do Município de Maceió e Procurador da Agência
Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará (ARCE).

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INSTRUÇÕES GERAIS

Caros alunos,

Para que este curso ocorra perfeitamente, gostaria que observassem as seguintes instruções:

1. Leiam com atenção o calendário do curso, disponibilizado no site do CEI e no final dessa
página, para se programarem e se organizarem.

2. Os exercícios decorrentes das questões dissertativas e das peças judiciais devem ser
enviados tempestivamente, até a data indicada em cada rodada, para o email do respectivo
professor. Não é obrigatório o envio dos exercícios para ter acesso ao Espelho de Correção.

3. Se deseja submeter seu exercício escrito à mão, baixe o arquivo no formato .pdf e depois
envie para o email do professor em arquivo único (e não dividido, portanto) em formato PDF
(não mandar fotos, pois muitas vezes a leitura fica prejudicada!). Se deseja submeter seu
exercício digitado, baixe o arquivo no formato .doc na área do aluno e igualmente o envie depois
para o respectivo professor.

4. Para atingirmos o nível esperado de simulação da prova real, recomendamos que respondam
às questões dissertativas e elaborem as peças judiciais consultando apenas a legislação seca.
Após enviar seu exercício para o professor, pesquise os temas à vontade.

5. Para qualquer dúvida operacional sobre o CEI (problemas para acessar o site, p. ex.), entre
em contato com o suporte: suporte@cursocei.com

6. Para qualquer crítica, elogio ou consideração sobre os materiais do curso ou sobre


determinado professor, entre em contato comigo pelo email profcei.jorgeottoni@gmail.com

VAMOS EM FRENTE, RUMO À APROVAÇÃO NA ADVOCACIA PÚBLICA!

JORGE OTTONI
Professor e Coordenador do CEI-ADVOCACIA PÚBLICA

Limite para Limite para


Publicação rodada Publicação espelho
resposta correção
1ª. Rodada 20/01/17 30/01/17 09/02/17 10/02/17
2ª. Rodada 30/01/17 09/02/17 20/02/17 21/02/17
3ª. Rodada 09/02/17 20/02/17 02/03/17 03/03/17
4ª. Rodada 20/02/17 02/03/17 13/03/17 14/03/17
5ª. Rodada 02/03/17 13/03/17 23/03/17 24/03/17
6ª. Rodada 13/03/17 23/03/17 03/04/17 04/04/17
7ª. Rodada 23/03/17 03/04/17 13/04/17 14/04/17
8ª. Rodada 03/04/17 13/04/17 24/04/17 25/04/17
9ª. Rodada 13/04/17 24/04/17 04/05/17 05/05/17
10ª. Rodada 24/04/17 04/05/17 15/05/17 16/05/17
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SUMÁRIO

QUESTÕES OBJETIVAS SEM O GABARITO COMENTADO....................................................................6


DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO.............................................................6
DIREITO CIVIL..........................................................................................................................................8
DIREITO CONSTITUCIONAL...............................................................................................................9
DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL...................................................................... 12
DIREITO PROCESSUAL CIVIL............................................................................................................ 13
DIREITO EMPRESARIAL...................................................................................................................... 15
DIREITO AMBIENTAL.......................................................................................................................... 16
DIREITO TRIBUTÁRIO.......................................................................................................................... 17
DIREITO ADMINISTRATIVO.............................................................................................................. 19
DIREITO FINANCEIRO.........................................................................................................................22
DIREITO PREVIDENCIÁRIO...............................................................................................................22
DIREITO AGRÁRIO...............................................................................................................................23
LEGISLAÇÃO DE ENSINO.................................................................................................................. 24
DIREITO INTERNACIONAL............................................................................................................... 24
GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS...................................................................................................26
QUESTÕES OBJETIVAS COM O GABARITO COMENTADO................................................................27
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO...........................................................27
DIREITO CIVIL........................................................................................................................................38
DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................................................................ 45
DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL......................................................................58
DIREITO PROCESSUAL CIVIL............................................................................................................66
DIREITO EMPRESARIAL......................................................................................................................72
DIREITO AMBIENTAL..........................................................................................................................76
DIREITO TRIBUTÁRIO..........................................................................................................................79
DIREITO ADMINISTRATIVO..............................................................................................................87
DIREITO FINANCEIRO.......................................................................................................................102
DIREITO PREVIDENCIÁRIO.............................................................................................................105
DIREITO AGRÁRIO..............................................................................................................................112
LEGISLAÇÃO DE ENSINO................................................................................................................. 114
DIREITO INTERNACIONAL...............................................................................................................118
QUESTÕES DISSERTATIVAS........................................................................................................................121
DIREITO AMBIENTAL.........................................................................................................................121
DIREITO FINANCEIRO.......................................................................................................................122
PEÇA PROFISSIONAL................................................................................................................................... 123
DIREITO CIVIL......................................................................................................................................123
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QUESTÕES OBJETIVAS SEM O GABARITO COMENTADO

ORIENTAÇÃO: procure responder todas as questões com agilidade, sem consulta a nenhum
material, a fim de simular a situação encontrada em prova.

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

QUESTÃO 1. Ao julgar a ADI 3.395, o Plenário do STF definiu que a competência da


Justiça do Trabalho estabelecida no art. 114, I, da CF/88 não abrange o julgamento das
causas instauradas entre o Poder Público e o servidor que lhe seja vinculado por relação
jurídico-estatutária. Acerca do tema, assinale a alternativa incorreta.

a) Para o STF, a competência jurisdicional para a solução da controvérsia é definida


pela natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público
ao tempo da propositura da ação, independentemente de o direito pleiteado ter se
originado no período celetista.

b) Compete à Justiça Comum examinar previamente a existência, validade e eficácia


do vínculo jurídico-administrativo existente entre o servidor e a Administração Pública,
a fim de reconhecer o liame trabalhista, acaso constate a presença de vício a macular
a relação administrativa.

c) A Justiça do Trabalho é competente para examinar pedido de empregado público


admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição de 1988, sob
regime celetista, não obstante a superveniência de legislação instituindo a conversão
de seu regime jurídico para estatutário.

d) Se insere na competência da Justiça do Trabalho o julgamento das causas


relacionadas com depósito do Fundo de Garantia do Tempo de serviço (FGTS) de
servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição de 1988 sem prestar
concurso.

e) A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da CF/88 alcança a


execução de ofício das contribuições previdenciárias incidentes sobre as parcelas objeto
da condenação constante das sentenças que proferir e dos acordos que homologar,
bem como sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.

QUESTÃO 2. Considerando os reflexos das modificações implementadas pelo CPC de


2015 no âmbito da justiça do trabalho com relação ao reexame necessário e à reclamação, é
incorreto afirmar, de acordo com o entendimento do TST:

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a) Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar e julgar, originariamente, a


reclamação para a preservação de sua competência e garantia de autoridade de suas
decisões.

b) A reclamação constitucional é o instrumento hábil para garantir a observância de


acórdão ou precedente firmado em julgamento de casos repetitivos ou em incidente
de assunção de competência, abrangendo a aplicação indevida da tese jurídica e sua
não aplicação aos casos que a ela correspondam.

c) O fato de a decisão contrária à Fazenda Pública estar fundada em orientação


jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho não afasta a obrigatoriedade do
reexame necessário.

d) A reclamação constitucional ao STF, no âmbito do processo do trabalho, somente é


cabível quando esgotados todos os recursos ordinários na causa em que houver sido
prolatada a decisão contrária à autoridade de decisão da Corte com repercussão geral
reconhecida.

e) Está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório a decisão proferida em mandado


de segurança em que o Poder Público figure como parte prejudicada pela concessão
ou denegação da ordem, independentemente de integrar a relação jurídica como
impetrante ou como impetrado.

QUESTÃO 3. Com relação ao direito constitucional dos trabalhadores à remuneração,


assinale a alternativa correta.

a) Em decorrência do princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva, é possível


estipular cláusula em acordo ou convenção coletiva de trabalho fixando o adicional de
periculosidade em percentual inferior ao estabelecido em lei, proporcionalmente ao
tempo de exposição ao risco.

b) Por consistir em norma definidora de direitos fundamentais, na forma do art. 5º,


§1º, da CF/88, o direito dos trabalhadores à percepção de adicional em decorrência
do exercício de atividades penosas, previsto no art. 7º, XXIII da CF/88, tem aplicação
imediata, independendo a sua cobrança da edição de lei regulamentadora.

c) Apesar de o art. 193, §2º, da CLT, prever expressamente que o trabalhador deverá
optar entre o adicional de periculosidade e o adicional de insalubridade, o TST entende
ser possível a cumulação de ambos, uma vez que possuem fatos geradores distintos.

d) Desde que fornecidos os equipamentos de proteção individual de forma adequada,


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não há óbice legal ao exercício de atividades insalubres por empregadas gestantes ou


lactantes.

e) Ainda que contratado para prestar serviços em jornada reduzida, o servidor público
não poderá receber remuneração inferior ao salário-mínimo.

DIREITO CIVIL

QUESTÃO 4. A respeito dos direitos de posse e da usucapião, julgue os itens abaixo,


assinalando a alternativa correta:

a) Para o STJ, não é possível reconhecer o direito à usucapião especial urbana em


relação a imóvel de área inferior ao módulo urbano mínimo estabelecido pela legislação
municipal, sob pena de afronta à diretriz constitucional do pleno desenvolvimento da
função social das cidades.

b) O Município de Fortaleza ajuizou ação objetivando reaver imóvel urbano esbulhado


por particular, que nele realizou uma série de benfeitorias necessárias e úteis. Nesse
caso, embora o particular esteja impedido de exercer o direito de retenção, deverá ser
ressarcido pelo valor das benfeitorias necessárias.

c) A Administração Pública deverá suportar a justa indenização de que trata o art. 1.228,
§5º, do CC, em caso de desapropriação judicial privada por posse-trabalho realizada
no contexto das políticas públicas de reforma urbana, desde que tenha intervindo nos
termos da lei processual, e que os beneficiários sejam possuidores de baixa renda.

d) A rejeição do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião pelo oficial de


registro de imóveis obsta a propositura de ação de usucapião relativamente ao mesmo
imóvel.

e) Na pendência de ação possessória, é vedado tanto ao autor quanto ao réu deduzir


pretensão de reconhecimento de domínio em face de terceira pessoa.

QUESTÃO 5. Com relação à capacidade e aos direitos da personalidade, é correto


afirmar:

a) São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil aqueles


que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para a prática desses atos.

b) O absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode


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sofrer dano moral.

c) Assim como os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, são considerados


relativamente incapazes pelo Código Civil aqueles que, por deficiência mental, tenham
o discernimento reduzido.

d) Os cegos e os surdos não poderão ser admitidos como testemunhas quando a ciência
do fato que se objetiva provar depender dos sentidos que lhes faltam.

e) É compatível com o ordenamento jurídico vigente a celebração de contrato por meio


do qual determinada pessoa, no exercício da autonomia da vontade, limita o exercício
de seus direitos da personalidade de forma permanente, a fim de receber, como
contrapartida, prestação econômica reputada vantajosa.

DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 6. Considerando a jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal,


assinale a alternativa incorreta:

a) Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder


Legislativo, os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal
não possuem direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório. Não existe, no caso,
desrespeito ao devido processo legal.

b) Em caso de revogação de ato normativo que estava sendo impugnado em sede


de ADI, antes do julgamento da ação, o STF estabeleceu a regra de que haverá
perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida, excepcionadas as
seguintes situações: caso fique demonstrado que houve “fraude processual”, ou seja,
que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF a declarasse
inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos; e que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso,
como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo
para o conhecimento da ação.

c) Não viola o art. 97 da CF/88 nem a Súmula Vinculante n. 10 a decisão de órgão


fracionário do Tribunal que declara inconstitucional decreto legislativo que se refira
a uma situação individual e concreta, bem como a que deixa de aplicar a norma
infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a
incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem potencial
ofensa direta à Constituição. Além disso, a reclamação constitucional fundada em
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afronta à SV 10 não pode ser usada como sucedâneo de recurso ou de ação própria
que analise a constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretação idônea
e legítima pelas autoridades jurídicas competentes.

d) Viola a Constituição Federal lei municipal, de iniciativa parlamentar, que veda a


realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por empresas produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros,
com a utilização da respectiva propaganda.

e) O STF entende que não é cabível a propositura de reclamação preventiva, como


forma de evitar a prática de ato administrativo ou judicial, além de que o novo CPC
exige que, antes de a parte apresentar a reclamação, ela tenha esgotado todos os
recursos cabíveis nas “instâncias ordinárias”, quando direcionada a impugnar decisão
contrária a julgamento de recurso na sistemática da repercussão geral, para evitar, com
isso, que o STF assuma, pela via da reclamação, a competência de pelo menos três
tribunais superiores (STJ, TST e TSE) para o julgamento de recursos contra decisões
de tribunais de 2º grau de jurisdição. Desse modo, a parte só poderá apresentar
reclamação ao STF depois de ter apresentado todos os recursos cabíveis não apenas
nos Tribunais de 2º grau, mas também nos Tribunais Superiores.

QUESTÃO 7. Considerando a doutrina e jurisprudência dos Tribunais Superiores, bem


como o que prescreve a Constituição Federal, assinale a alternativa incorreta sobre teoria
geral do Direito Constitucional:

a) O princípio da força normativa não disponibiliza nenhum procedimento específico,


mas atua como um apelo, como representação de um objetivo e, segundo Konrad
Hesse, na sua interpretação deve ser dada preferência às soluções que, densificando
suas normas, as tornem mais eficazes e permanentes, proporcionando-lhes uma força
otimizadora.

b) O princípio da unidade consiste em uma especificação da interpretação sistemática,


cujo fundamento para que uma norma não seja analisada isoladamente, mas em
conjunto com as demais normas integrantes do sistema no qual está inserida, decorre
da conexão e interdependência entre os elementos da Constituição, razão pela qual
as normas constitucionais devem ser consideradas como preceitos integrados em um
sistema interno unitário de regras e princípios.

c) O princípio da concordância prática apresenta uma estreita ligação com o princípio


da unidade, do qual se distingue por não atuar apenas diante de contradições
normativas abstratas, mas principalmente nas colisões de direitos ocorridas diante de
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um caso concreto.

d) O princípio da máxima efetividade, que está contido no princípio da força


normativa da Constituição, encontra-se agasalhado no § 1º do art. 5º da Constituição,
que proclama a aplicação imediata das normas definidoras de direitos e garantias
fundamentais. O reconhecimento de que também as normas programáticas podem
levar à inconstitucionalidade de leis que lhes sejam opostas é, igualmente, expressão
desse princípio.

e) Como exemplo de inobservância do princípio da conformidade funcional pode ser


mencionada a proposta de mutação constitucional da norma contida no art. 52, X,
da Constituição, segundo a qual o Senado passaria a dar publicidade à decisão do
STF que declara lei inconstitucional e não mais suspender a execução desta, assim
como há também quem aponte como incompatível com este postulado a atuação da
Suprema Corte como legislador positivo, como ocorreu no julgamento dos mandados
de injunção que tinham por objeto o direito de greve dos servidores públicos.

QUESTÃO 8. Considerando a doutrina, jurisprudência dos Tribunais Superiores e de


acordo com a Constituição Federal e legislação esparsa, assinale a alternativa correta sobre
controle de constitucionalidade:

a) Nos processos do controle objetivo de constitucionalidade a conexão ocorre,


excepcionalmente, na hipótese de identidade de objetos entre as ações, visto que, no
controle abstrato, a causa de pedir é aberta.

b) Para fins de aplicação do instituto da recepção, uma lei precisa preencher os


seguintes requisitos: estar em vigor no momento do advento da nova Constituição; não
ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento anterior;
ter compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja regência ela foi
editada (no ordenamento anterior); e ter compatibilidade somente material, pouco
importando a compatibilidade formal, com a nova Constituição;

c) Sobre os aspectos procedimentais, pode-se dizer que a Ação Direta de


Inconstitucionalidade admite desistência até a determinação de intimação dos
órgãos ou autoridades que produziram a lei ou o ato normativo impugnado para
prestar informações e, no julgamento do pedido de medida cautelar, não é possível
sustentação oral pelos representantes legais do requerente ou das autoridades ou
órgãos responsáveis pela expedição do ato normativo impugnado;

d) Na ADI é possível o aditamento à petição inicial, desde que antes da publicação


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da pauta de julgamento, inclusive nos casos de alteração da norma mediante edição


de Medida Provisória superveniente ao ajuizamento da ação, em consideração aos
princípios da economia e instrumentalidade processuais.

e) A falta de intimação do Procurador-Geral do Estado para o julgamento em sede de


ADI configura nulidade processual, uma vez o Estado é parte na ação, sendo imponível
a sua representação processual, ainda que a ação tenha sido ajuizada pelo Governador
do Estado, que, a par de possuir plena capacidade postulatória para esse tipo de ação,
pode ser representado processualmente por meio de advogado por ele credenciado.

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

QUESTÃO 9. Considerando a doutrina, jurisprudência dos Tribunais Superiores e de


acordo com a legislação penal, assinale a alternativa correta sobre efeitos da condenação
no Direito Processual Penal:

a) Quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 anos não
será automática a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, assim como
igualmente não o é a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.

b) Perde a condição de título executivo judicial a sentença penal condenatória com


trânsito em julgado se posteriormente a ela verificar-se a extinção da punibilidade do
agente, especialmente quando derivada de abolitio criminis e anista.

c) Se o réu condenado com trânsito em julgado for absolvido em revisão criminal,


remanesce a força executiva, quando já tiver sido iniciada a execução civil.

d) A Lei de Lavagem de Dinheiro prevê a interdição do exercício do cargo público ou a


de diretor/conselheiro das pessoas jurídicas utilizadas no crime em questão pelo triplo
da pena privativa de liberdade.

e) Em caso de absolvição penal em razão da comprovação do estado de necessidade,


permanece a responsabilidade civil, na forma prevista no art. 929 do Código Civil;

QUESTÃO 10. Em relação aos recursos no Direito Processual Penal, assinale a


alternativa incorreta:

a) O indeferimento da prisão temporária não se encontra entre as situações previstas


de interposição do Recurso em Sentido Estrito – RESE, contudo, como existe a previsão
desse recurso para atacar a decisão que indefere a prisão preventiva, os tribunais
têm aceito a interpretação extensiva das hipóteses previstas para oposição do RESE,
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permitindo-se, em caráter excepcional, o manejo desse recurso contra decisões que,


apesar de não expressamente arroladas, sejam conceitualmente muito próximas ou
que produzam uma sucumbência semelhante a uma hipótese legal de cabimento.

b) O julgamento das exceções de suspeição, incompetência de juízo, litispendência,


ilegitimidade de parte e coisa julgada comporta a interposição de RESE.

c) A decisão que absolve sumariamente o réu com base em excludente de ilicitude do


fato ou da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade, bem como quando o fato
narrado evidentemente não constituir crime, é impugnável por apelação, ao passo que
a decisão que declara a extinção da punibilidade, prevista no art. 397, IV, do CPP, é
impugnável pelo recurso em sentido estrito.

d) Sobre a carta testemunhável, trata-se de recurso de caráter subsidiário ou residual, é


cabível quando o julgamento do recurso denegado esteja afeto a uma instância superior
e sua interposição não é dirigida a um órgão jurisdicional (juiz, desembargador), e sim
ao escrivão (justiça estadual), diretor de secretaria (justiça federal) ou secretário da
presidência do tribunal respectivo, além de que não possui efeito suspensivo, como
regra.

e) Em relação ao Agravo em Execução, não há previsão de prazo, forma ou rito na


Lei de Execuções Penais – LEP para esta modalidade recursal, restando consolidado
o entendimento de que segue as mesmas normas que regem o recurso em sentido
estrito, no que forem aplicáveis, razão pela qual possui efeitos devolutivo e regressivo,
porém, não goza de efeito suspensivo, por expressa disposição da LEP.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

QUESTÃO 11. Em relação ao regime legal da mediação e da conciliação no Novo Código


de Processo Civil, é correto afirmar:

a) A sessão de mediação ou conciliação judicial não será realizada se o autor manifestar


desinteresse pela composição consensual na petição inicial.

b) A sessão de mediação ou conciliação judicial não será realizada se o réu manifestar


desinteresse pela composição consensual na petição inicial.

c) A sessão de mediação ou conciliação extrajudicial deverá ser realizada exceto


se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição
consensual.

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d) A sessão de mediação ou conciliação judicial deverá ser realizada exceto se ambas


as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual.

e) A sessão de mediação ou conciliação judicial não será realizada quando os direitos


forem indisponíveis.

QUESTÃO 12. De acordo com o Novo Código de Processo Civil, NÃO se aplica a regra
do duplo grau de jurisdição obrigatório quando:

a) A condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60


(sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do
devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor.

b) A condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 1.000


(mil), 500 (quinhentos) ou 100 (cem) salários mínimos, respectivamente, em relação à
União e suas autarquias e fundações de direito público, aos Estados e suas autarquias
e fundações de direito público e aos Municípios e suas autarquias e fundações de
direito público.

c) A sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal


Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

d) A sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal


Federal ou em jurisprudência de recursos repetitivos, de incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência.

e) A sentença for fundada em súmula de tribunal superior ou em súmula, manifestação


ou parecer administrativo de orientação vinculante no âmbito do respectivo ente
público.

QUESTÃO 13. O Novo Código de Processo Civil trouxe importantes alterações em


matéria de condenação em honorários advocatícios contra as Fazendas Públicas, dentre as
quais é correto afirmar, exceto:

a) Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará
o mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido até 200.000 (duzentos mil) salários-mínimos.

b) Os percentuais de fixação de honorários advocatícios devem ser aplicados desde


logo, quando for líquida a sentença; não sendo líquida a sentença, a definição do
percentual somente ocorrerá quando liquidado o julgado.
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c) Os limites e critérios previstos para fixação de honorários advocatícios contra as


Fazendas Públicas aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da decisão,
inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.

d) Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda


Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.

e) Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda,
quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por
apreciação equitativa, observando o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e
o tempo exigido para o seu serviço.

DIREITO EMPRESARIAL

QUESTÃO 14. Sobre a atividade empresarial do Estado, assinale a alternativa correta.

a) Os administradores das empresas públicas e sociedades de economia mista


devem apresentar reputação ilibada, notório conhecimento, experiência profissional,
formação acadêmica compatível com o cargo e não ser inelegível.

b) O Estado pode ser acionista único (empresa pública) ou acionista majoritário


(sociedade de economia mista), mas não acionista minoritário, de uma sociedade
empresária.

c) A empresa estatal tem por finalidade principal a persecução do interesse público,


nos termos das condutas fixadas pelo poder-dever discricionário do órgão de
Administração Pública direta a que estiver vinculada, ao qual deve obedecer em razão
do poder hierárquico.

d) As empresas estatais que exercem atividade econômica são sujeitas ao regime


próprio das empresas privadas, sem prejuízo da necessidade de adotar  licitação nas
contratações de obras, serviços, compras e alienações de produtos, serviços ou obras
especificamente relacionados com seus respectivos objetos sociais. 

e) Nos contratos das empresas estatais é facultada a cláusula de matriz de riscos,


que deve identificar o equilíbrio econômico financeiro inicial do contrato com vistas
a possíveis eventos supervenientes que possam impactar nos ônus financeiros
atribuídos a cada parte.

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QUESTÃO 15. Em matéria de insolvência empresarial, é correto afirmar, exceto:

a) Os credores de sociedade empresária falida devem ser satisfeitos na seguinte


ordem: credores de obrigações trabalhistas e acidentárias limitados a 150 salários
mínimos, credores com garantia real até o limite do bem gravado, credores de
obrigações tributárias e respectivas multas, credores com privilégio especial, credores
com privilégio geral, credores quirografários e credores subordinados.

b) A Lei de Falências e Recuperações (Lei 11.101/2005) não se aplica às empresas


públicas e sociedades de economia mista.

c) A subsidiária integral de sociedade de economia mista está sujeita ao regime


falimentar, que só exclui as sociedades de economia controladoras criadas por lei.

d) A recuperação judicial de sociedade empresária que figura como devedora solidária


de empresa estatal não impede que os credores exijam desta a satisfação total da
obrigação devida.

e) Os microempresários e empresários de pequeno porte têm a opção de adotar um


regime especial de recuperação judicial que abrangerá   os créditos existentes na
data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados, entre outros, os decorrentes de
repasse de recursos oficiais e os fiscais.

DIREITO AMBIENTAL

QUESTÃO 16. Sobre os Princípios da Precaução e da Prevenção:

a) O Princípio da Precaução necessita, para sua aplicação, da existência de informações


certas e seguras sobre determinadas práticas ambientais.

b) O Princípio da Precaução corresponde à necessidade de o Poder Público, através


de audiências públicas, ouvir a população diretamente interessada com a atividade
a ser instalada na referida área, precavendo-se, assim, quanto a efeitos negativos
decorrentes de sua implementação.

c) Pela aplicação do Princípio da Prevenção, busca-se, apenas, a realização de


verdadeira educação ambiental e informar a sociedade acerca dos possíveis danos da
prática de determinadas atividades potencialmente poluidoras, com o intuito, assim,
de prevenir um maior dano à população.

d) O Princípio da Prevenção se relaciona intrinsecamente com a existência de uma


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certeza cientifica, conhecendo-se, assim, previamente, as consequências resultantes


da implantação de determinadas atividades.

e) Ao passo em que o princípio da prevenção se destina ao controle das atividades


públicas e privadas, o princípio da precaução apenas se relaciona com a implementação
de políticas públicas pelos entes estatais.

QUESTÃO 17. Sobre a Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005) e o controle de


organismos geneticamente modificados, assinale a alternativa incorreta:

a) Considerando as incertezas científicas sobre os impactos ambientais e à saúde


humana que permeiam o uso da biotecnologia e dos organismos geneticamente
modificados, referida utilização deve tomar por base o princípio da precaução.

b) Segundo a legislação de regência, organismos geneticamente modificados são


aqueles cujo material genético – ADN/ARN – tenha sido modificado por qualquer
técnica de engenharia genética.

c) Tratando-se de embriões considerados inviáveis, é permitida, para fins de pesquisa


e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos
produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,
dispensando-se o consentimento dos genitores.

d) O Supremo Tribunal Federal já declarou a constitucionalidade do uso de células-


tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos.

e) Embora permita o uso de células-tronco, a legislação proíbe, expressamente, o seu


uso para fins de clonagem humana.

DIREITO TRIBUTÁRIO

QUESTÃO 18. Sobre a Ação Cautelar Fiscal (Lei nº 8.397/92), assinale a alternativa
incorreta:

a) São requisitos para a concessão da medida cautelar a prova documental da


ocorrência de uma de suas hipóteses de cabimento e a prova literal da constituição do
crédito fiscal.

b) A jurisprudência majoritária se posicionou no sentido de que a constituição do


crédito fiscal, para fins de ajuizamento da medida cautelar, não necessita ser definitiva,
sendo possível sua propositura quando ainda não esgotadas todas as etapas do
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processo administrativo.

c) Nos casos em que o contribuinte for notificado pela Fazenda Pública para que
proceda ao recolhimento do crédito fiscal e coloque ou tente colocar seus bens em
nome de terceiros, não é necessária a comprovação literal de constituição do crédito.

d) A medida cautelar fiscal pode ser preparatória ou incidental, devendo sempre ser
dirigida ao juízo competente para o processamento das execuções fiscais, ainda que
os autos se encontrem em Tribunal.

e) O eventual indeferimento da medida cautelar fiscal não obsta a que a Fazenda


Pública ajuíze a execução fiscal, não influencia no julgamento desta e nem sobre ela
faz coisa julgada, salvo se o Juiz, nos autos da cautelar fiscal, acolher alegação que
acarrete a extinção da pretensão.

QUESTÃO 19. Sobre o ICMS, considerando o ordenamento jurídico brasileiro e o


entendimento dos superiores tribunais, assinale a alternativa incorreta:

a) Em regra, o que for devido a título de ICMS deve ser compensado em cada operação
relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante já
cobrado nas operações anteriores.

b) Ainda que a operação seja objeto de isenção ou não incidência, é possível que
gere crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações
seguintes.

c) Em regra, a isenção ou a não incidência acarretará a anulação do crédito relativo às


operações anteriores.

d) No regime da substituição tributária progressiva, em caso de não realização do fato


gerador presumido, é assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga.

e) Para o STF, não é devida a restituição da diferença do ICMS pago a maior, no regime
da substituição tributária para frente, caso a base cálculo efetiva da operação seja
inferior à presumida.

QUESTÃO 20. Considere o seguinte caso hipotético: “João, comerciante,


conscientemente, com o intuito de pagar menos impostos, omitia, em suas declarações,
alguns fatos geradores e respectivos valores a serem recolhidos”. João não será
responsabilizado por infrações caso:

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I. Declare os débitos omitidos e realize o seu parcelamento, desde que ainda não
tenha sido iniciado procedimento de fiscalização.

II. Declare os débitos omitidos e realize o pagamento do tributo devido e dos juros
de mora, desde que ainda não tenha sido iniciado procedimento de fiscalização.

III. Declare os débitos omitidos e realize o pagamento do tributo devido e dos juros
de mora, ainda que já tenha sido iniciado procedimento de fiscalização.

IV. Declare os débitos omitidos e realize o depósito judicial integral do débito


tributário e dos respectivos juros de mora, ainda que não tenha sido iniciado qualquer
procedimento de fiscalização.

Assinale a única alternativa em todos os itens se encontram corretos:

a) I, II e IV.

b) II.

c) I e IV.

d) III e IV.

e) II e IV.

DIREITO ADMINISTRATIVO

QUESTÃO 21. Acerca dos princípios do Direito Administrativo, assinale a alternativa


correta:

a) Tendo em vista o princípio da legalidade, que rege a Administração Pública como


vinculação positiva da Administração à lei, pode-se dizer que, para a doutrina mais
moderna do Direito Administrativo brasileiro, a atividade administrativa se dá nos
estritos limites da aplicação da lei, sem qualquer papel criativo por parte do aplicador
do Direito.

b) Qualquer interessado, devidamente identificado, pode solicitar as informações de


interesse público perante as entidades públicas ou privadas, podendo ser exigida para
tanto a motivação do interesse do particular nas informações requeridas.

c) Uma das aplicações do princípio da continuidade é a inoponibilidade imediata, nos


contratos administrativos, da exceção do contrato não cumprido pelo particular em
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face da Administração Pública.

d) O princípio da impessoalidade traz como única acepção a necessidade de respeito


à isonomia no tratamento que a Administração deve dar aos particulares, ao passo
que a vedação à promoção pessoal de agentes públicos está ligada ao princípio da
moralidade, mas não à impessoalidade propriamente.

e) O princípio da segurança jurídica, ainda que tenha grande importância no âmbito


do Direito Administrativo, não pode justificar a estabilização de atos administrativos
inválidos.

QUESTÃO 22. Considerando a jurisprudência do STF envolvendo os princípios que


regem a atuação da Administração Pública, julgue os itens a seguir:

I. Não viola os princípios administrativos da razoabilidade e da proporcionalidade a


restrição, em edital de concurso público, a pessoas com tatuagens em geral, contanto
que haja previsão legal para tanto no âmbito daquele ente.

II. Na inscrição de entes públicos em cadastros federais de inadimplência, devem


ser garantidos o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa ao respectivo
ente, sendo que a inscrição do ente antes de julgada a tomada de contas especial pelo
Tribunal de Contas da União violará o princípio do devido processo legal.

III. A vedação ao enriquecimento sem causa da Administração Pública fundamenta a


possibilidade de conversão de férias não gozadas de servidor público em indenização
pecuniária.

IV. A vedação ao nepotismo, que visa a garantir a observância aos princípios da


isonomia, impessoalidade e moralidade, incide sobre cargos de provimento em comissão,
de provimento efetivo, função gratificada, cargos de direção e assessoramento.

Está correto apenas o que se afirma em:

a) I e IV.

b) II e III.

c) III, apenas.

d) II e IV.

e) II, III e IV.


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QUESTÃO 23. Sobre o poder de polícia, marque a alternativa correta:

a) O poder de polícia, que sujeita não só os administrados, como também os entes


federativos e as demais pessoas jurídicas de direito público, pode consistir em
obrigações de não fazer, suportar ou mesmo de fazer.

b) O exercício regular do poder de polícia pela Administração Pública pode ensejar a


necessidade de indenizar o particular quando o condicionamento ou conformação do
direito particular contrariar frontalmente seus interesses.

c) Dentre as diferenças entre a polícia administrativa e a polícia judiciária está a de


que esta tem caráter essencialmente preventivo, ao passo que aquela tem caráter
repressivo.

d) O exercício do poder de polícia consistente na autorização e fiscalização do


funcionamento de máquinas caça-níqueis, videobingos, videopôquer e assemelhadas
é de competência dos estados federados.

e) As chamadas “atividades comunicadas” caracterizam-se por um condicionamento


do seu exercício ao prévio consentimento do Poder Público.

QUESTÃO 24. Sobre os poderes administrativos, assinale a alternativa INCORRETA:

a) Apenas no exercício da função administrativa se verifica a hierarquia, sendo certo


que não há hierarquia nas funções típicas jurisdicionais e legislativas.

b) O poder regulamentar típico é prerrogativa de direito público de natureza derivada.

c) No poder disciplinar há vinculação da Administração tanto no dever de punir, caso


constatada a infração, quanto na definição da punição a ser aplicada.

d) Pelo fenômeno da deslegalização, o legislador autoriza que a competência para


regular certas matérias seja transferida da lei para outras fontes normativas, reservando
para si o regramento básico.

e) Entre uma autarquia estadual e o respectivo estado federado não existe relação de
hierarquia, sendo certo que a insatisfação do administrado com determinada decisão
administrativa dessa autarquia somente poderá interpor recurso hierárquico impróprio
caso haja previsão legal expressa.

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DIREITO FINANCEIRO

QUESTÃO 25. Acerca dos princípios orçamentários, assinale a alternativa correta:

a) A Constituição não veda os chamados “orçamentos rabilongos” ou “caudas


orçamentárias”.

b) O princípio da especificação consiste na exigência que o orçamento esteja liga a


um plano de ação governamental, sendo um verdadeiro instrumento de planejamento.

c) A dotação para a reserva de contingência é uma exceção ao princípio da


especificação.

d) A adoção do plano plurianual pela Constituição de 1988 invalidou o então princípio


da anualidade, visto que o plano plurianual tem vigência quadrienal.

e) O princípio da não afetação das receitas resultantes de impostos é excepcionado


na hipótese de destinação de recursos à saúde, educação e segurança pública, dentre
outras exceções constitucionais.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

QUESTÃO 26. Sobre a seguridade social no Brasil, assinale a alternativa correta:

a) A seguridade social compreende a previdência, a saúde e a assistência social,


destacando-se que as duas últimas não estão vinculadas a qualquer tipo de
contraprestação por parte dos seus usuários.

b) Por força do princípio da uniformidade e da equivalência dos benefícios e serviços às


populações urbanas e rurais, é vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados
para a concessão de qualquer aposentadoria no Regime Geral da Previdência Social.

c) Forte no princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios, o STJ não admite, em


hipótese alguma, a incidência de índice negativo de inflação na atualização monetária
de atrasados de benefícios previdenciários.

d) Para o STF, o princípio da precedência da fonte de custeio deve ser observado


mesmo que o benefício da seguridade social seja instituído pela própria Constituição.

e) A gestão da seguridade social é tripartite, com participação dos trabalhadores, dos


empregadores e do Governo nos órgãos colegiados.
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QUESTÃO 27. Sobre a saúde e a assistência social, de acordo com o texto constitucional
e a jurisprudência do STF, assinale a alternativa incorreta:

a) É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS,


a internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado
por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da
diferença dos valores correspondentes.

b) É constitucional a lei que, firme no propósito de concretizar o direito fundamental


à saúde, dispensa o registro sanitário de medicamento como requisito para sua
comercialização.

c) As instituições privadas poderão participar de forma complementar do Sistema


Único de Saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

d) A responsabilidade pelas ações e serviços de saúde é solidária entre a União, os


Estados e o Distrito Federal e os Municípios.

e) O critério de miserabilidade para concessão do benefício de amparo assistencial ao


idoso ou deficiente carente previsto no art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 (renda mensal
per capita inferior a ¼ do salário mínimo) é inconstitucional.

DIREITO AGRÁRIO

QUESTÃO 28. Sobre a disciplina constitucional do direito agrário, assinale a alternativa


correta:

a) O princípio da função social da propriedade, aplicado ao direito agrário, atribui ao


proprietário o direito de usar, gozar e dispor da coisa como melhor lhe aprouver.

b) A política agrícola será planejada e executada na forma da lei complementar, com


a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores
rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes.

c) A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política


agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.

d) Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente


sobre direito agrário.

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e) A Constituição não admite a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por


pessoa física ou jurídica estrangeira.

LEGISLAÇÃO DE ENSINO

QUESTÃO 29. Sobre o direito constitucional à educação e de acordo com a jurisprudência


do STF, assinale a alternativa incorreta:

a) A cláusula da reserva do possível não é oponível quando a obrigação decorre de


mandamento constitucional, tendo em conta o núcleo de intangibilidade dos direitos
fundamentais tutelados, sendo possível ao Judiciário, pois, determinar a contratação
de professores especializados em libras para efetivação de política pública de inclusão
de deficientes auditivos.

b) A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o princípio da


gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.

c) O servidor público estadual, estudante de universidade pública do Estado, removido


de ofício, pode ser matriculado em instituição congênere federal, caso não haja vaga
na universidade de origem.

d) São inconstitucionais o art. 28, § 1º, e o art. 30, da Lei nº 13.146/2015, que determinam
que as escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo
às pessoas com deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa
obrigação, uma vez que a Constituição impõe ao Estado, e não aos particulares, o dever
de oferecer atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência.

e) É materialmente inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de


prática jurídica da Universidade Estadual deverá manter plantão criminal nos finais
de semana e feriados para atender pessoas hipossuficientes que sejam presas em
flagrante, por violação à autonomia administrativa, financeira, didática e científica
constitucionalmente assegurada às universidades.

DIREITO INTERNACIONAL

QUESTÃO 30. Sobre as fontes do Direito Internacional Público, assinale a alternativa


correta:

a) As fontes formais do Direito Internacional Público são os elementos que provocam


o aparecimento das normas jurídicas, influenciando sua criação e conteúdo.
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b) As fontes materiais do Direito Internacional Público são o modo de revelação e


exteriorização da norma jurídica e dos valores que esta pretende tutelar, representadas
pelas normas do Direito Positivo.

c) O Estatuto da Corte Internacional de Justiça elenca como fontes do Direito


Internacional as convenções, o costume, os princípios gerais do direito, a jurisprudência
e a doutrina, autorizando o emprego da equidade como ferramenta que pode levar à
solução de conflitos internacionais, se as partes com isto concordarem.

d) As normas de soft law possuem grau de imperatividade próprio das normas jurídicas,
de modo que o seu descumprimento sempre enseja aplicação de sanções.

e) Normas de jus cogens não podem ser revogadas por normas positivas de direito
internacional.

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GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS

QUESTÃO 1 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 2 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 3 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 4 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 5 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 6 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 7 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 8 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 9 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 10 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 11 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 12 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 13 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 14 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 15 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 16 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 17 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 18 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 19 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 20 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 21 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 22 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 23 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 24 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 25 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 26 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 27 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 28 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 29 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 30 ALTERNATIVA C

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QUESTÕES OBJETIVAS COM O GABARITO COMENTADO

PROFESSOR: NATALIA MAIA


E-mail: profcei.nataliamaia@gmail.com

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

QUESTÃO 1. Ao julgar a ADI 3.395, o Plenário do STF definiu que a competência da


Justiça do Trabalho estabelecida no art. 114, I, da CF/88 não abrange o julgamento das
causas instauradas entre o Poder Público e o servidor que lhe seja vinculado por relação
jurídico-estatutária. Acerca do tema, assinale a alternativa incorreta.

a) Para o STF, a competência jurisdicional para a solução da controvérsia é definida


pela natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público
ao tempo da propositura da ação, independentemente de o direito pleiteado ter se
originado no período celetista.

b) Compete à Justiça Comum examinar previamente a existência, validade e eficácia


do vínculo jurídico-administrativo existente entre o servidor e a Administração Pública,
a fim de reconhecer o liame trabalhista, acaso constate a presença de vício a macular
a relação administrativa.

c) A Justiça do Trabalho é competente para examinar pedido de empregado público


admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição de 1988, sob
regime celetista, não obstante a superveniência de legislação instituindo a conversão
de seu regime jurídico para estatutário.

d) Se insere na competência da Justiça do Trabalho o julgamento das causas


relacionadas com depósito do Fundo de Garantia do Tempo de serviço (FGTS) de
servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição de 1988 sem prestar
concurso.

e) A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da CF/88 alcança a


execução de ofício das contribuições previdenciárias incidentes sobre as parcelas objeto
da condenação constante das sentenças que proferir e dos acordos que homologar,
bem como sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.

COMENTÁRIO

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Alternativa (A): correta. Com a promulgação da EC n. 45/2010, foi atribuída à Justiça do Trabalho
a competência para apreciar e julgar todas as ações oriundas das relações de trabalho, abrangidos
os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 114, I, CF/88). Ao analisar o dispositivo, o STF
entendeu que “o disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas
instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-
estatutária. (STF, Tribunal Pleno, ADI 3395 MC/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 05/04/2006, p. DJ
10/11/2006). Em causas propostas por servidores públicos estatutários contra a Administração
Pública, portanto, a competência será da Justiça Comum, de modo que o dispositivo somente
se aplica para as causas propostas por empregados públicos (celetistas) contra a Administração
Pública.

Com o advento da Constituição, foi instituída a obrigatoriedade da adoção de regime jurídico único
para reger a relação dos entes federados com seus servidores. A EC 19/98 intentou abolir essa
obrigatoriedade, ao modificar a redação do caput do art. 39 da CF/88. Contudo, a nova redação
conferida ao dispositivo teve sua eficácia cassada por força de medida cautelar deferida no
julgamento ADI nº. 2.135, em 2/8/2007. A partir de então, foi restabelecida a imposição do regime
jurídico único.

Em virtude dessa obrigatoriedade, os entes federados passaram a editar leis instituindo o estatuto
de seus funcionários, ou seja, prevendo as disposições que, a partir de então, regeriam as relações
dos servidores com o Poder Público em seu âmbito de competência. Diante disso, tornou-se
comum que servidores até então regidos pela CLT tivessem seu regime jurídico automaticamente
transmutado, passando a se vincular à Administração por regime jurídico-estatutário.

Nessas situações, o STF possuía entendimento pacífico de que, se o servidor que teve seu regime
jurídico modificado ingressasse em juízo, a fim de postular unicamente verbas relacionadas à
época em que era regido pelo regime celetista, a competência para julgar o feito seria da Justiça
do Trabalho. Nesta senda, o TST editou a OJ n. 138, da SDI-1, prevendo que: “compete à Justiça
do Trabalho julgar pedidos de direitos e vantagens previstos na legislação trabalhista referente a
período anterior à Lei nº 8.112/90, mesmo que a ação tenha sido ajuizada após a edição da referida
lei. A superveniência de regime estatutário em substituição ao celetista, mesmo após a sentença,
limita a execução ao período celetista”.

Acontece que, recentemente, em aparente modificação do entendimento até então pacificado, o


Plenário do STF decidiu, que “é a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o
Poder Público, vigente ao tempo da propositura da ação, que define a competência jurisdicional
para a solução da controvérsia, independentemente de o direito pleiteado ter se originado no
período celetista” (STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016 - Info 840).

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Como a composição da Corte não estava completa no momento do julgamento, e considerando


ainda que a votação foi bastante apertada (5 Ministros reconhecendo a competência da Justiça
Comum, contra 4 reconhecendo a competência da Justiça do Trabalho), não é possível concluir
se houve efetiva superação dos precedentes até então firmados. Contudo, se alguma banca vier
a reproduzir o conteúdo da decisão em suas questões, não há dúvidas de que a afirmativa deverá
ser assinalada como verdadeira.

Alternativa (B): correta. Conforme reiteradamente decidido pelo STF, é da Justiça Comum a
competência para analisar a existência, a validade e a eficácia das relações entre servidores e
o poder público, fundadas em vínculo jurídico-administrativo. O fato de o contrato ser temporário
ou precário - mesmo com extrapolação do prazo inicial - ou de o liame decorrer de ocupação de
cargo comissionado ou de função gratificada é irrelevante na determinação da competência. Do
mesmo modo, a natureza trabalhista das verbas pleiteadas é insuficiente para atrair a competência
da Justiça do Trabalho. É que, para a determinação da competência, deve ser averiguada a
natureza da relação de fundo mantida entre o servidor e a Administração, ainda que a causa
de pedir específica esteja relacionada ao desvirtuamento ou à existência de vícios na origem da
relação jurídico-administrativa, como fraude, simulação ou ausência de concurso público.

Por fim, a circunstância de se tratar de relação jurídica nascida de lei local, anterior ou posterior
à Constituição de 1988, não tem efeito sobre a cognição da causa pela Justiça comum. Nesta
senda, o TST concluiu, em julgado divulgado no informativo n. 131, que “A Justiça do Trabalho
é incompetente para processar e julgar demanda na qual resultou caracterizada a admissão de
servidor, após a Constituição da República de 1988, sem prévia submissão a concurso público”
(TST, SBDI-1, E-ED-RR-629-39.2011.5.22.0102. Relator: Min. Renato de Lacerda Paiva, julgado
em 31/3/2016).

Alternativa (C): correta. Diversamente do que ocorre na situação do item anterior, para o TST,
a competência para julgar demandas envolvendo servidores contratados sem concurso público
antes da vigência da Constituição Federal de 1988, sob o regime celetista, ainda que tenham
tido seu regime jurídico transmutado em estatutário, é da Justiça do Trabalho. Na hipótese,
consoante entendimento já consagrado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI
1.150-2, entendeu-se que o fato de o ente público instituir regime jurídico único não convola em
vínculo estatutário, de forma automática, o contrato trabalhista anterior, sobretudo em decorrência
da ausência de concurso público, na forma do art. 37, II, § 2º, da CF/88. Em suma, entende-se
que o servidor contratado anteriormente à CF/88, sob o regime celetista e sem concurso público,
permanecerá na condição de empregado, mesmo após a edição da norma estadual prevendo a
conversão do regime jurídico, e ainda que tenha adquirido estabilidade nos termos do art. 19 do
ADCT, porquanto não se submeteu a concurso público.

A propósito, o STF já assentou, em julgado submetido à sistemática da repercussão geral,


que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da
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Administração Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso público,
antes da CF/88, sob regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza trabalhista
(STF, Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 - repercussão
geral).

Alternativa (D): correta. Adotando a mesma premissa exposta no item anterior, a 1ª Turma do STF
concluiu que os precedentes firmados na ADI 3.395-MC (no sentido de que o art. 114, I, da CF/88
não abrange as causas envolvendo Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação
jurídico-estatutária) não se aplicam ao julgamento de ação envolvendo direitos de servidor público
contratado sem concurso, pelo regime celetista e anteriormente à atual Constituição (STF, 1a
Turma. Rcl 17654 ED, Relatora: Min. Rosa Weber, julgado em 15/3/2016). Isso porque a instituição
de regime jurídico único estatutário por lei posterior não é suficiente para suprir a ausência de
concurso público, de modo que se considera nula a convolação do regime jurídico. Desse modo,
o servidor permanecerá na condição de celetista, atraindo a competência da Justiça do Trabalho
para julgar o feito.

Alternativa (E): incorreta, devendo ser assinalada. O art. 114, VIII, da CF/88 atribui à Justiça
do Trabalho a competência para processar e julgar a execução, de ofício, das contribuições
previdenciárias pagas pelos empregadores e pelos trabalhadores (art. 195, I, “a” e II, CF/88), e seus
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir. A previsão permite que a Justiça do
Trabalho, ao condenar o empregador a pagar determinadas verbas de natureza salarial ainda não
quitadas, reconheça a obrigação de recolher, sobre essas verbas, as contribuições previdenciárias
respectivas, executando-as de ofício do empregador em caso de descumprimento. Do mesmo
modo, ao homologar um acordo, o juiz do trabalho deverá fazer incluir na sentença homologatória
as contribuições previdenciárias que deveriam incidir sobre as verbas e executá-las, de ofício,
em caso de não pagamento. Em suma, para o TST, a competência da Justiça do Trabalho, com
relação à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às parcelas pecuniárias objeto das
sentenças condenatórias que proferir e aos valores objeto de acordo homologado que integrem o
salário de contribuição (Súmula n. 368/TST).

O parágrafo único do art. 876 da CLT, com redação conferida pela Lei n. 11.457, de 2007, prevê
que “serão executadas ex officio as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão
proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de
acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido”. Assim,
pela literalidade da lei, a competência para executar de ofício as contribuições previdenciárias
alcançaria não apenas as parcelas objeto da condenação ou do acordo, mas também todas aquelas
incidentes sobre os valores normalmente pagos que integrem o salário de contribuição, durante
o período em que houve reconhecimento do vínculo empregatício. No entanto, o dispositivo teve
sua inconstitucionalidade reconhecida pelo STF, ensejando a edição da súmula vinculante n. 53,
segundo a qual “a competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição
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Federal alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da


condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados”.

Em síntese, a Súmula Vinculante 53 repele a execução de contribuições previdenciárias relativas a


rubricas que não foram objeto de discussão em sentenças proferidas ou em acordos homologados
pela Justiça do Trabalho.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

QUESTÃO 2. Considerando os reflexos das modificações implementadas pelo CPC de


2015 no âmbito da justiça do trabalho com relação ao reexame necessário e à reclamação, é
incorreto afirmar, de acordo com o entendimento do TST:

a) Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar e julgar, originariamente, a


reclamação para a preservação de sua competência e garantia de autoridade de suas
decisões.

b) A reclamação constitucional é o instrumento hábil para garantir a observância de


acórdão ou precedente firmado em julgamento de casos repetitivos ou em incidente
de assunção de competência, abrangendo a aplicação indevida da tese jurídica e sua
não aplicação aos casos que a ela correspondam.

c) O fato de a decisão contrária à Fazenda Pública estar fundada em orientação


jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho não afasta a obrigatoriedade do
reexame necessário.

d) A reclamação constitucional ao STF, no âmbito do processo do trabalho, somente é


cabível quando esgotados todos os recursos ordinários na causa em que houver sido
prolatada a decisão contrária à autoridade de decisão da Corte com repercussão geral
reconhecida.

e) Está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório a decisão proferida em mandado


de segurança em que o Poder Público figure como parte prejudicada pela concessão
ou denegação da ordem, independentemente de integrar a relação jurídica como
impetrante ou como impetrado.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. Até a promulgação da Emenda Constitucional n. 92, de 2016, o Tribunal
Superior do Trabalho não era elencado expressamente pela CF/88 como órgão integrante do
Poder Judiciário. Do mesmo modo, embora a competência para julgar as reclamações para
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preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões já fosse reconhecida


de forma implícita, não havia previsão legal expressa que a amparasse. Reconhecendo que o TST
desempenha papel de uniformizador e último intérprete da legislação infraconstitucional no âmbito
do direito do trabalho, de forma semelhante com o que ocorre com o STJ em sua área de atuação,
a emenda acrescentou o art. 111-A à CF/88, que estabelece, em seu §3º, que “compete ao Tribunal
Superior do Trabalho processar e julgar, originariamente, a reclamação para a preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões”.

Cumpre observar que o Novo CPC também ampliou o cabimento da reclamação constitucional
aos tribunais de segundo grau, porque o art. 988, I e II, do Novo CPC, diferentemente do texto da
Constituição, que exige os tribunais de superposição, se limita a indicar apenas tribunal. Assim,
atualmente, também os tribunais regionais do trabalho possuem competência para julgar, de forma
originária, reclamação constitucional visando a preservar sua competência e garantir a autoridade
de suas decisões.

Alternativa (B): correta. A CF/88 somente prevê a reclamação constitucional como forma de
preservação da competência e de garantia da autoridade de suas decisões dos tribunais superiores.
A Lei n. 11.417/2006, em seu art. 7º, acresceu a tais hipóteses o cabimento de reclamação em face
de decisão judicial ou ato administrativo que contrariar, negar vigência ou aplicar indevidamente
entendimento consagrado em súmula vinculante. O Novo CPC, além de incorporar a matéria já
prevista na CF/88 e na Lei n. 11.417/2016, previu a possibilidade de se manejar a reclamação
constitucional para garantir a observância de acórdão ou precedente proferido em julgamento de
casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência. Confira a redação do dispositivo:

Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:

I - preservar a competência do tribunal;

II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;

III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo


Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;

IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução


de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência;

Anteriormente à vigência do Novo CPC, a jurisprudência do STF vinha se mostrando refratária à


adoção da teoria dos efeitos transcendentes dos motivos determinantes. Assim, havendo declaração
concentrada de inconstitucionalidade, as normas que não tivessem sido objeto de apreciação no
processo objetivo, ainda que possuíssem conteúdo idêntico ao da norma analisada, não sofreriam
os efeitos do controle concentrado, ou seja: os motivos determinantes da decisão não geravam
efeitos vinculantes erga omnes. Acontece que o art. 988 do Novo CPC previu, em seu §4º, que
as hipóteses dos incisos III e IV compreendem a aplicação indevida da tese jurídica e sua não
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aplicação aos casos que a ela correspondam.

Repare que o legislador usou o termo “tese jurídica”, em detrimento de “norma jurídica”, sendo
possível concluir que o Novo CPC adotou a teoria da transcendência dos motivos determinantes.
O Enunciado n. 168 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), chegando à mesma
conclusão, aduz que “os fundamentos determinantes do julgamento de ação de controle concentrado
de constitucionalidade realizado pelo STF caracterizam a ratio decidendi do precedente e possuem
efeito vinculante para todos os órgãos jurisdicionais”.

Alternativa (C): incorreta, devendo ser assinalada. O art. 895, da CLT admite a interposição
de recurso ordinário como recurso cabível para impugnar as decisões definitivas e terminativas
proferidas pela vara do trabalho ou pelos tribunais regionais do trabalho em processos de competência
originária. A interposição do recurso depende da vontade das partes. De modo diverso, em face
da natureza dos interesses defendidos pelo Poder Público em juízo, o legislador estabeleceu que
as decisões proferidas em desfavor das pessoas jurídicas de direito público deverão se submeter
ao duplo grau de jurisdição obrigatório independentemente da interposição de recurso (art. 1º, V,
Decreto-Lei n. 779/69). O instituto é tratado pela doutrina como condição de eficácia da sentença,
impedindo o trânsito em julgado e a produção de efeitos da decisão antes de sua submissão ao
reexame necessário.

Contudo, o art. 496, do CPC/2015, nos §§3º e 4º, prevê hipóteses em que a sentença não deverá
ser submetida ao duplo grau de jurisdição. Vejamos:

• Se a condenação ou proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior
a: I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de
direito público; II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais
dos Estados; III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.

• Se a decisão estiver fundada em: I - súmula de tribunal superior; II - acórdão proferido pelo
Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência; IV - entendimento coincidente com orientação vinculante
firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa.

Por meio da Resolução n. 211/2016, de 26/8/2016, o TST modificou a redação da Súmula n.


303, com o intuito de adaptá-la às modificações implementadas no instituto em decorrência da
vigência do Novo CPC. A nova redação conferida ao enunciado incorporou todas as exceções
acima mencionadas, apenas adequando-as às especificidades do direito processual do trabalho.
Na prática, as diferenças em relação ao dispositivo legal estão presentes apenas nos itens a e b do
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item II da Súmula, e são as seguintes:

• II – Também não se sujeita ao duplo grau de jurisdição a decisão fundada em: a) súmula
ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) acórdão proferido
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Tribunal Superior do Trabalho em julgamento de
recursos repetitivos;

Ou seja: para o TST, além das hipóteses previstas no Novo CPC, também a decisão proferida em
conformidade com o teor de orientação jurisprudencial do TST, e não apenas de súmulas, estará
dispensada do duplo grau de jurisdição obrigatório.

Alternativa (D): correta. O art. 988, §5º, II, do Novo CPC, já com as alterações promovidas pela Lei
n. 13.256/2016, prevê que “é inadmissível a reclamação: II – proposta para garantir a observância
de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido
em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as
instâncias ordinárias”. O STF, ao se pronunciar acerca do dispositivo, entendeu que a reclamação
somente é cabível quando esgotados todos os recursos ordinários na causa em que proferido
o ato que supostamente contraria a autoridade da decisão do STF com repercussão geral
reconhecida. Para a Corte, deve ser conferida interpretação restritiva à hipótese prevista no art.
988, §5º, II, do CPC/2015, sob pena de o STF assumir, pela via da reclamação, a competência de,
pelo menos, três tribunais superiores (Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho,
Tribunal Superior Eleitoral), para o julgamento de recursos contra decisões de tribunais de segundo
grau de jurisdição (STF, 2ª Turma. Rcl 24686 ED-AgR/RJ, rel. Min. Teori Zavascki, julgamento em
28/10/2016 - divulgado no informativo 845/STF).

Importante observar que a IN n. 39/2016 do TST (art. 3º, XXVII), que faz um apanhado geral sobre
os reflexos do Novo CPC na seara trabalhista, já se pronunciou expressamente pela aplicabilidade
dos artigos 988 a 993, que regulam a reclamação constitucional, no âmbito do processo do trabalho.

Alternativa (E): correta. O art. 14, §1º, da Lei do Mandado de Segurança (Lei n. 12.016/2009)
também tratou do reexame necessário, prevendo que, “concedida a segurança, a sentença estará
sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição.” A literalidade do dispositivo parece sugerir
que a remessa necessária somente será cabível quando o ente público figurar como impetrado
- situação em que a decisão que concede a segurança, reconhecendo o direito líquido e certo
da parte contrária, configura decisão desfavorável. Contudo, é igualmente possível que o Poder
Público interponha o mandado de segurança, objetivando resguardar direito líquido e certo em
face de ilegalidade ou abuso de poder perpetrada por autoridade pública. Nessa hipótese, como a
decisão que DENEGA a segurança é desfavorável ao ente público impetrante, o TST tem entendido
que, mesmo em se tratando de denegação, e não de concessão, haverá o reexame necessário.

Nesta senda, o item IV da Súmula n. 303 do TST estabelece que: “em mandado de segurança,
somente cabe reexame necessário se, na relação processual, figurar pessoa jurídica de direito
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público como parte prejudicada pela concessão da ordem. Tal situação não ocorre na hipótese de
figurar no feito, como impetrante e terceiro interessado, pessoa de direito privado, ressalvada a
hipótese de matéria administrativa”. Sobre o enunciado, a doutrina tem sugerido que se entenda
que o TST pretendeu tratar, na verdade, dos casos em que a pessoa de direito privado figura
como impetrado no mandado de segurança (ex.: ms ajuizado contra sociedade de economia
mista no exercício de atribuições do poder público). Nessa hipótese, ou seja, quando o mandado
de segurança for impetrado em face de pessoa jurídica de direito privado, a concessão da ordem
somente ensejará o duplo grau em se tratando de matéria administrativa.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

QUESTÃO 3. Com relação ao direito constitucional dos trabalhadores à remuneração,


assinale a alternativa correta.

a) Em decorrência do princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva, é possível


estipular cláusula em acordo ou convenção coletiva de trabalho fixando o adicional de
periculosidade em percentual inferior ao estabelecido em lei, proporcionalmente ao
tempo de exposição ao risco.

b) Por consistir em norma definidora de direitos fundamentais, na forma do art. 5º,


§1º, da CF/88, o direito dos trabalhadores à percepção de adicional em decorrência
do exercício de atividades penosas, previsto no art. 7º, XXIII da CF/88, tem aplicação
imediata, independendo a sua cobrança da edição de lei regulamentadora.

c) Apesar de o art. 193, §2º, da CLT, prever expressamente que o trabalhador deverá
optar entre o adicional de periculosidade e o adicional de insalubridade, o TST entende
ser possível a cumulação de ambos, uma vez que possuem fatos geradores distintos.

d) Desde que fornecidos os equipamentos de proteção individual de forma adequada,


não há óbice legal ao exercício de atividades insalubres por empregadas gestantes ou
lactantes.

e) Ainda que contratado para prestar serviços em jornada reduzida, o servidor público
não poderá receber remuneração inferior ao salário-mínimo.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. O adicional de periculosidade é verba que se destina a compensar


o trabalhador pelo risco a que se submete em função da atividade desenvolvida em seu labor.
A CLT considera perigosas as atividades que exponham o obreiro ao contato com inflamáveis,
explosivos ou energia elétrica, bem como a roubos ou outras espécies de violência física nas
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atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial (art. 193, incisos I e II). São também
consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta (art. 193, §4º). Tanto a
exposição permanente quanto a sujeição a condições de risco de forma apenas intermitente
ensejam o pagamento do adicional. Contudo, a periculosidade somente estará caracterizada
quando constatada mediante realização de perícia. Além disso, é preciso que a atividade conste
nos anexos da Norma Regulamentadora n. 16 do MTE. Assim, apesar de a atividade desenvolvida
por profissionais de segurança pessoal ou patrimonial estar prevista como perigosa desde a edição
da Lei n. 12.740/2012, o TST entende que o adicional de periculosidade somente passou a ser
devido aos vigilantes a partir da publicação da Portaria n. 1.885/13 do MTE, que aprovou o anexo 3
da NR 16, porquanto a previsão exige regulamentação aprovada pelo MTE. (TST, SDI-1. E-RR 164-
92.2014.5.04.0662. Relator: Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgamento em 10/11/2016 -
divulgado no informativo n. 149/TST).

Consoante previsão do art. 193, § 1º, da CLT, referido adicional deverá equivaler a 30% (trinta por
cento) do valor do salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações
nos lucros da empresa, ou seja, 30% do salário básico. Até 2011, o TST entendia pela possibilidade
de se fixar o adicional de periculosidade em percentual inferior ao legal e proporcional ao tempo
de exposição ao risco, desde que mediante a celebração de acordo ou convenção coletiva.
Posteriormente, a Corte albergou o entendimento de que as normas que tratam de saúde e
segurança dos trabalhadores são normas de ordem pública e, portanto, de indisponibilidade
absoluta, ainda que por negociação coletiva.

Nesta senda, em 31/5/2016, foi acrescentado novamente o item II à Súmula n. 364 do TST, dispondo
que: “não é válida a cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho fixando o adicional de
periculosidade em percentual inferior ao estabelecido em lei e proporcional ao tempo de exposição
ao risco, pois tal parcela constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantida por
norma de ordem pública (arts. 7º, XXII e XXIII, da CF e 193, §1º, da CLT)”.

Alternativa (B): incorreta. Ao prever o direito à percepção de adicional de remuneração para as


atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei, a CF/88 deixa claro que a eficácia da
norma é mediata (ou indireta ou reduzida), de modo que, para conferir capacidade de execução dos
interesses de seus destinatários, deverá ter sua eficácia integrada por atividade legislativa. Trata-
se, portanto, de norma de eficácia limitada. Por isso, enquanto não for editada lei regulamentando
o exercício do direito ao adicional por atividade penosa, não haverá garantia ao seu recebimento
por parte dos trabalhadores. Veja exemplo de julgado nesse sentido:

RECURSO DE REVISTA. (...) 2. ADICIONAL DE PENOSIDADE. O art. 7º, XIII,


da Constituição Federal, no que tange ao adicional de penosidade, ostenta eficácia
limitada, não oferecendo garantia ao seu recebimento enquanto não editada a
legislação infraconstitucional. Recurso de revista não conhecido. (TST, 3a Turma. RR:
3836420115090018, Relator: Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, julgamento
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em 25/02/2015).

Em relação ao tema, o STF vem entendendo que, ao estender aos servidores públicos civis da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios alguns dos direitos sociais previstos no
art. 7º da Constituição por meio de remissão, o art. 39, §3º, da CF/88 não garantiu que, quando
tais direitos dependessem de legislação infraconstitucional para ter eficácia, deveria ser aplicada,
no âmbito federal, estadual ou municipal, a legislação trabalhista. De fato, os direitos sociais
relacionados no dispositivo deverão integrar o regime jurídico dos servidores públicos. Contudo,
estando sua eficácia subordinada à edição de lei regulamentadora, a legislação infraconstitucional
apta a integrar a eficácia da norma deverá ser editada no âmbito do ente público a que pertence o
servidor.

O assunto foi cobrado pela CESPE, no concurso para provimento do cargo de Procurador
do Estado do Amazonas, em 2016, da seguinte forma (C ou E): embora a CF garanta
aos empregados o adicional de remuneração para atividades penosas, não há norma
infraconstitucional que regulamente o respectivo adicional. Tal norma constitucional classifica-
se como norma de eficácia limitada, cuja aplicação depende de regulamentação.

Alternativa (C): incorreta. Atividades insalubres são aquelas que expõem o empregado a agentes
nocivos à sua saúde, e que ultrapassam o seu limite de tolerância. Para a caracterização da
insalubridade, é necessário que o agente nocivo à saúde esteja incluído na relação oficial do
Ministério do Trabalho e Emprego, bem como que a atividade nociva seja constatada mediante
a realização de perícia. Até recentemente, o TST possuía entendimento no sentido de que o
art. 193, §2º, da CLT, que determina que o empregado opte entre o recebimento do adicional de
insalubridade ou periculosidade, não havia sido recepcionado pela CF/88, haja vista que o art. 7º,
XIII, ao garantir o recebimento dos adicionais de penosidade, periculosidade e insalubridade, não
fez nenhuma ressalva no que tange à cumulação. No entanto, a partir de 2016, a jurisprudência da
Corte a respeito do tema sofreu modificação: atualmente, o TST entende pela vedação à percepção
cumulativa dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, ante a expressa dicção do art.
193, § 2º, da CLT (TST, SBDI-1, E-RR-1072-72.2011.5.02.0384. Relator: Min. Renato de Lacerda
Paiva, julgado em 13/10/2016 - divulgado no informativo n. 147).

Alternativa (D): incorreta. Com o advento da Lei n. 13.287, em maio de 2016, foi acrescido à CLT
o art. 394-A, prevendo que a empregada gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a
gestação e a lactação, de quaisquer atividades, operações ou locais insalubres, devendo exercer
suas atividades em local salubre. Cumpre frisar que o parágrafo único do dispositivo, que assegurava
o pagamento integral do salário da empregada durante o período de afastamento, incluindo o
adicional de insalubridade, foi vetado. O veto se encontra em consonância com a súmula n. 284
do TST, que aduz que a supressão do adicional de insalubridade em razão da descaracterização
da atividade como insalubre não afronta o princípio da irredutibilidade salarial, porquanto não há
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incorporação ou direito adquirido a essa parcela.

Alternativa (E): correta. O art. 7º, IV da CF/88 elenca, dentre os direitos dos trabalhadores, o
salário-mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades
vitais básicas e às de sua família. Para o TST, quando a Constituição trata do salário-mínimo, está
se referindo ao valor salarial destinado a remunerar a jornada prevista no inciso XIII do art. 7º da
CF/88, de oito horas diárias e quarenta e quatro semanais. Dito de outro modo, o TST entende
que a norma do art. 7º, IV da CF, que assegura o salário-mínimo como menor remuneração do
trabalhador, deve estar atrelada à duração do labor normal prevista no inciso XIII do mesmo
dispositivo, de forma que a fixação de salário inferior ao mínimo, porém proporcional à duração
reduzida da jornada de trabalho, não fere a garantia constitucional do salário-mínimo.

A situação é diversa quando se trata de remuneração de empregado público no âmbito da


Administração Pública direta, autárquica e fundacional. É que o STF vem se pronunciando no
sentido de que a remuneração do servidor público não poderá ser inferior a um salário-mínimo, ainda
que esse servidor trabalhe em regime de jornada reduzida. Nesta senda, por meio de Resolução
divulgada em 23/2/2016, o TST alterou a redação da Súmula n. 358, a fim de estabelecer, em seu
item II, que “na Administração Pública direta, autárquica e fundacional não é válida remuneração
de empregado público inferior ao salário mínimo, ainda que cumpra jornada de trabalho reduzida.
Precedentes do Supremo Tribunal Federal”.

Por fim, cumpre observar que a remuneração do servidor público abrange não apenas os
vencimentos, mas também as demais vantagens pecuniárias pagas em caráter permanente. Desse
modo, em consonância com a previsão da SV n. 16 do STF, a observância do salário-mínimo deve
ser verificada pela análise do total da remuneração do servidor público, e não apenas da parcela
vencimental.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

DIREITO CIVIL

QUESTÃO 4. A respeito dos direitos de posse e da usucapião, julgue os itens abaixo,


assinalando a alternativa correta:

a) Para o STJ, não é possível reconhecer o direito à usucapião especial urbana em


relação a imóvel de área inferior ao módulo urbano mínimo estabelecido pela legislação
municipal, sob pena de afronta à diretriz constitucional do pleno desenvolvimento da
função social das cidades.

b) O Município de Fortaleza ajuizou ação objetivando reaver imóvel urbano esbulhado


por particular, que nele realizou uma série de benfeitorias necessárias e úteis. Nesse
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caso, embora o particular esteja impedido de exercer o direito de retenção, deverá ser
ressarcido pelo valor das benfeitorias necessárias.

c) A Administração Pública deverá suportar a justa indenização de que trata o art. 1.228,
§5º, do CC, em caso de desapropriação judicial privada por posse-trabalho realizada
no contexto das políticas públicas de reforma urbana, desde que tenha intervindo nos
termos da lei processual, e que os beneficiários sejam possuidores de baixa renda.

d) A rejeição do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião pelo oficial de


registro de imóveis obsta a propositura de ação de usucapião relativamente ao mesmo
imóvel.

e) Na pendência de ação possessória, é vedado tanto ao autor quanto ao réu deduzir


pretensão de reconhecimento de domínio em face de terceira pessoa.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. Uma das modalidades de usucapião previstas pela CF/88 consiste na
usucapião especial urbana, ou pro misero, reconhecida àqueles que possuírem como sua área
urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural (art. 183, da CF/88). Nos termos do Estatuto da Cidade, o direito à usucapião
especial urbana não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez (art. 9º, §2º, da Lei n.
10.257/2001). Nessa modalidade, há uma presunção absoluta (iure et de iure) da presença de justo
título e boa-fé.

Ao tratar dos requisitos urbanísticos para loteamento, o art. 4º, §1º, da Lei n. 6.766, de 1979, aduz
que “a legislação municipal definirá, para cada zona em que se divida o território do Município,
os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo, que incluirão,
obrigatoriamente, as áreas mínimas e máximas de lotes e os coeficientes máximos de aproveitamento”.
Diante disso, indaga-se: é possível reconhecer a usucapião de imóvel cujo módulo seja inferior àquele
estipulado pela legislação do Município como mínimo do lote urbano? A respeito do tema, STJ e
STF entendem que o fato de o imóvel não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela
legislação local para a respectiva área não é motivo suficiente para se negar o direito à usucapião
especial urbana, que tem índole constitucional.

Assim, para o deferimento do direito, é suficiente o preenchimento dos requisitos previstos pela
CF/88, não sendo possível a imposição de obstáculos de ordem infraconstitucional para obstar o
aperfeiçoamento do modo originário de aquisição de propriedade. Dito de outro modo, consoante
decidido pelo STJ no julgamento do REsp 1.360.017-RJ (STJ, 4a Turma. REsp 1.360.017-RJ, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 - divulgado no info 584), não obsta o pedido
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declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel ser inferior à correspondente ao
“módulo urbano” (a área mínima a ser observada no parcelamento de solo urbano por determinação
infraconstitucional).

Alternativa (B): incorreta. O art. 1.219 do Código civil de 2002 reconhece ao possuidor de boa-
fé o direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, e ao levantamento das benfeitorias
voluptuárias que não forem pagas, quando for possível fazê-lo sem detrimento da coisa. Com relação
às benfeitorias necessárias e úteis, também se reconhece o direito de retenção, ou seja, o possuidor
de boa-fé, enquanto não for indenizado, poderá exercer o ius retentionis até que receba o que
lhe é devido. Esses direitos são reconhecidos, nas mesmas circunstâncias, também às acessões
(construções e plantações), consoante jurisprudência do STJ e enunciado n. 81 da CJF/STF.

Nos termos do Código Civil, a posse é direito reconhecido àquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (art. 1.196, CC/02), o que significa dizer que
não é possível reconhecer posse a quem, por proibição legal, não pode ser proprietário. Apesar de
parte da doutrina defender a possibilidade de usucapião sobre bens públicos dominicais, em razão
da necessidade de atendimento ao princípio constitucional da função social da posse, a CF/88 é
expressa ao proibir a usucapião dos imóveis públicos, sejam urbanos (art. 183, §3º, da CF/88) ou
rurais (art. 191, p. único, da CF/88).

Sendo o bem público, portanto, particular não poderá ser proprietário. Consequência disso é que a
ocupação de área pública, quando irregular, não pode ser reconhecida como posse, mas como mera
detenção. Como o direito de retenção ou de indenização pelas acessões e benfeitorias realizadas
depende da configuração da posse, não é possível reconhecer tais direitos a particular que ocupou
irregularmente determinado bem público, porquanto não há que se falar posse. Desse modo, havendo
ocupação indevida do bem público, resta afastado o direito de retenção por benfeitorias e o pleito
indenizatório, ainda que presente a boa-fé. Cumpre observar que construções feitas em desacordo
com a legislação urbanística e ambiental - porquanto realizadas em local classificado como área de
uso comum do povo - não permitem que o ente público delas retire proveito econômico, de forma que
não haverá enriquecimento sem causa da Administração.

Alternativa (C): correta. O art. 1.228 do CC/2002 trata do instituto da desapropriação judicial privada
por posse-trabalho, por meio do qual se impõe uma restrição ao direito de propriedade em favor da
função social da posse e do domínio. Essa desapropriação deve recair sobre imóvel que consista em
área extensa, possuindo os seguintes requisitos: posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco
anos, de considerável número de pessoas + realização de obras e serviços considerados pelo juiz de
interesse social e econômico relevante pelos beneficiários, em conjunto ou separadamente. Nesse
caso, o proprietário poderá ser privado da coisa, mediante pagamento de justa indenização. Uma
vez pago o preço, a sentença valerá como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Como a usucapião é necessariamente onerosa, ao passo que o instituto comentado prevê o
pagamento de uma justa indenização, entende-se que constitui uma modalidade de desapropriação,
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e não de usucapião.

Consoante enunciado n. 83, da I Jornada de Direito Civil, “nas ações reivindicatórias propostas pelo
Poder Público, não são aplicáveis as disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo
Código Civil”. Por outro lado, é possível que a Administração seja chamada a suportar a justa
indenização devida ao proprietário, no contexto de políticas públicas de reforma urbana ou agrária,
desde que os possuidores sejam considerados de baixa renda, e que tenha havido intervenção
daquela, nos termos da lei processual (enunciado n. 308, IV Jornada de Direito Civil).

Alternativa (D): incorreta. Além das modalidades judiciais, a usucapião também pode ocorrer
extrajudicialmente, ou seja, sem a necessidade de se propor demanda judicial. A primeira hipótese de
usucapião administrativa foi introduzida no ordenamento pela Lei n. 11.977/2009, conhecida como Lei
Minha Casa, Minha Vida, que possibilita a legitimação da posse de ocupantes de imóveis públicos ou
particulares, por moradores cadastrados pelo Poder Público que satisfaçam determinados requisitos.
Com o advento do Novo CPC, foi introduzido o art. 216-A da Lei de Registros Públicos, ampliando
o tratamento da usucapião extrajudicial. O dispositivo prevê que, sem prejuízo da via jurisdicional, é
admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial da usucapião, a ser processado diretamente pelo
cartório de registro de imóveis da comarca em que situado o imóvel usucapiendo.

Se o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião vier a ser impugnado por qualquer um


dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel
usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum
terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis deverá remeter os autos ao juízo competente da
comarca da situação do imóvel (art. 216-A, §10, LRP). Nesse caso, caberá ao requerente emendar a
petição inicial para adequá-la ao procedimento comum. Se não houver impugnação, o procedimento
seguirá no âmbito do cartório de registro. Na segunda hipótese, ao final das diligências, se a
documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido (art. 216-A,
§8º, LRP). Contudo, haja vista que as vias judiciais e extrajudiciais são independentes e facultativas,
eventual rejeição do pedido extrajudicial não impedirá o ajuizamento de ação de usucapião, conforme
prevê o §9º do mesmo dispositivo.

Alternativa (E): incorreta. O Novo CPC implementou algumas modificações no que tange aos
interditos possessórios, também chamados de ações possessórias diretas. O art. 923, do CPC/1973
estabelecia que “na pendência do processo possessório é defeso, assim ao autor como ao réu,
intentar a ação de reconhecimento do domínio”. Na mesma linha, ao prever, no art. 1.210, §2º, que
não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito
sobre a coisa, o CC/2002 consagrou a abolição da exceptio proprietatis como defesa oponível às
ações possessórias típicas, porquanto estabeleceu a absoluta separação entre os juízos possessório
e petitório (enunciado n. 79, da I Jornada de Direito Civil).

Apesar de manter essa sistemática, o Novo CPC introduziu expressamente a possibilidade de se


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formular pleito petitório, relativo à propriedade, no bojo de ação possessória, desde que em face
de terceiro. Nesta senda, o art. 557, do CPC/2015, aduz que: na pendência de ação possessória
é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a
pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

QUESTÃO 5. Com relação à capacidade e aos direitos da personalidade, é correto afirmar:

a) São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil aqueles


que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para a prática desses atos.

b) O absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode


sofrer dano moral.

c) Assim como os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, são considerados


relativamente incapazes pelo Código Civil aqueles que, por deficiência mental, tenham
o discernimento reduzido.

d) Os cegos e os surdos não poderão ser admitidos como testemunhas quando a ciência
do fato que se objetiva provar depender dos sentidos que lhes faltam.

e) É compatível com o ordenamento jurídico vigente a celebração de contrato por meio


do qual determinada pessoa, no exercício da autonomia da vontade, limita o exercício
de seus direitos da personalidade de forma permanente, a fim de receber, como
contrapartida, prestação econômica reputada vantajosa.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. Ao afirmar que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
civil, o art. 1º do CC/2002 faz referência à capacidade de direito ou gozo, assim compreendida
aquela necessária à titularização de direitos e deveres na ordem privada. Todas as pessoas, sem
distinção, são dotadas de capacidade de direito, independente de questões formais, como a emissão
de certidão de nascimento. Por outro lado, a capacidade de fato ou de exercício, necessária ao
exercício de direitos, não se estende a todas as pessoas. As pessoas consideradas absolutamente
incapazes para exercer os atos da vida civil e as consideradas incapazes relativamente a certos atos
ou a maneira de exercê-los são indicadas nos artigos 3º e 4º do Código Civil/2002, respectivamente.

A Convenção de Nova York, que ingressou no ordenamento jurídico brasileiro com força de emenda
constitucional, consagra como princípios a igualdade plena das pessoas com deficiência e sua
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inclusão com autonomia, recomendando a revogação de todos os diplomas legais que tratam as
pessoas com deficiência de forma discriminatória. Em face da recomendação, foi editada a Lei n.
13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que alterou alguns dos dispositivos do CC/2002.
Com a mudança, que implicou a revogação de todos os incisos do art. 3º do CC/2002, apenas os
menos de 16 (dezesseis) anos são considerados absolutamente incapazes. A menção aos que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses
atos, bem como aos que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade, até então
existentes, foram suprimidas.

Alternativa (B): correta. A afronta aos bens jurídicos denominados pela doutrina de direitos da
personalidade, assim considerados aqueles reconhecidos à pessoa humana tomada em si mesma e
em suas projeções na sociedade, caracteriza dano moral. A CF/88 passou a tratar a dignidade humana
como um direito constitucional subjetivo, do qual se originam todos os direitos personalíssimos. O
ataque a esse direito, em qualquer de suas projeções, gera dano moral, ou seja: o dano moral não
está necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima. Dor, vexame, sofrimento e
humilhação devem ser tratados como possíveis consequências do dano moral, e não como sua causa,
de modo que sua caracterização não é indispensável à configuração do dano moral. Também por
isso, o fato de a vítima não ser passível de detrimento anímico não obsta o reconhecimento do dano
moral. Nesta senda, o STJ já reconheceu que “o absolutamente incapaz, ainda quando impassível de
detrimento anímico, pode sofrer dano moral. O dano moral caracteriza-se por uma ofensa, e não por
uma dor ou um padecimento. Eventuais mudanças no estado de alma do lesado decorrentes do dano
moral, portanto, não constituem o próprio dano, mas eventuais efeitos ou resultados do dano”. (STJ,
4a Turma. REsp 1.245.550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2015 - divulgado no
informativo n. 559).

Alternativa (C): incorreta. Outra modificação implementada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência
no Código Civil diz respeito ao tratamento dos relativamente incapazes. Antes da modificação, o art.
4º do CC/2002 elencava, como incapazes relativamente a certos atos ou a maneira de exercê-los, os
seguintes: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados
em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais,
sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos.

Após a mudança, a referência às pessoas de discernimento considerado reduzido em virtude


de deficiência mental deixou de existir, assim como a menção aos chamados excepcionais, sem
desenvolvimento mental completo. Por outro lado, aqueles que, por causa transitória ou permanente,
não puderem exprimir sua vontade deixaram de ser tratados como absolutamente incapazes,
passando a figurar entre os relativamente incapazes. Confira a nova redação:

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;


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II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

IV - os pródigos.

Alternativa (D): incorreta. Antes da modificação operada pelo Estatuto da Pessoa com deficiência, o
art. 228 do CC/2002 estabelecia que não poderiam ser admitidos como testemunhas “aqueles que,
por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem discernimento para a prática dos atos da vida
civil” (inciso II), assim como “os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa
dos sentidos que lhes faltam” (inciso III). Diante da necessidade de conferir tratamento igualitário e
não discriminatório às pessoas com deficiência, a Lei n. 13.146/2015 revogou ambos os dispositivos
mencionados. Em seu lugar, assegurou às pessoas com deficiência o direito de testemunhar em
igualdade de condições com as demais pessoas, bem como o uso de todos os recursos da tecnologia
assistiva.

Alternativa (E): incorreta. Ao elencar a dignidade da pessoa humana como fundamento da República
e eleger como objetivo fundamental a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das
desigualdades sociais, a CF/88 consagrou verdadeira cláusula geral de tutela e promoção da
pessoa humana. Nesta senda, o enunciado n. 274, da IV Jornada de Direito Civil, concluiu que “os
direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, são expressões
da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da
dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os
demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”.

Por serem comuns à própria existência da pessoa, os direitos da personalidade são considerados
intransmissíveis, irrenunciáveis, extrapatrimoniais e vitalícios. São, ainda, tidos como absolutos,
indisponíveis, imprescritíveis e impenhoráveis. Em face dessas características, o art. 11 do Código Civil
prevê que “com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”. O dispositivo parece
conferir caráter absoluto aos direitos da personalidade, ao impedir que sofram limitação voluntária.
Acontece que a relativização desse caráter ilimitado e absoluto é plenamente possível. A propósito,
o Enunciado n. 4 da I jornada de Direito Civil conclui que “o exercício dos direitos da personalidade
pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. O enunciado n.
139, da III JDC, anuncia, de forma complementar, que “os direitos da personalidade podem sofrer
limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso
de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes”. Em síntese, deve-
se concluir pela possibilidade de limitação voluntária aos direitos da personalidade, desde que não
tenha caráter permanente nem geral, e que não constitua abuso de direito.

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

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PROFESSOR: JOSÉ AMÉRICO


E-mail: profcei.joseamerico@gmail.com

DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 6. Considerando a jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal,


assinale a alternativa incorreta:

a) Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder


Legislativo, os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal
não possuem direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório. Não existe, no caso,
desrespeito ao devido processo legal.

b) Em caso de revogação de ato normativo que estava sendo impugnado em sede


de ADI, antes do julgamento da ação, o STF estabeleceu a regra de que haverá
perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida, excepcionadas as
seguintes situações: caso fique demonstrado que houve “fraude processual”, ou seja,
que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF a declarasse
inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos; e que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso,
como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo
para o conhecimento da ação.

c) Não viola o art. 97 da CF/88 nem a Súmula Vinculante n. 10 a decisão de órgão


fracionário do Tribunal que declara inconstitucional decreto legislativo que se refira
a uma situação individual e concreta, bem como a que deixa de aplicar a norma
infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a
incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem potencial
ofensa direta à Constituição. Além disso, a reclamação constitucional fundada em
afronta à SV 10 não pode ser usada como sucedâneo de recurso ou de ação própria
que analise a constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretação idônea
e legítima pelas autoridades jurídicas competentes.

d) Viola a Constituição Federal lei municipal, de iniciativa parlamentar, que veda a


realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por empresas produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros,
com a utilização da respectiva propaganda.

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e) O STF entende que não é cabível a propositura de reclamação preventiva, como


forma de evitar a prática de ato administrativo ou judicial, além de que o novo CPC
exige que, antes de a parte apresentar a reclamação, ela tenha esgotado todos os
recursos cabíveis nas “instâncias ordinárias”, quando direcionada a impugnar decisão
contrária a julgamento de recurso na sistemática da repercussão geral, para evitar, com
isso, que o STF assuma, pela via da reclamação, a competência de pelo menos três
tribunais superiores (STJ, TST e TSE) para o julgamento de recursos contra decisões
de tribunais de 2º grau de jurisdição. Desse modo, a parte só poderá apresentar
reclamação ao STF depois de ter apresentado todos os recursos cabíveis não apenas
nos Tribunais de 2º grau, mas também nos Tribunais Superiores.

COMENTÁRIO

Caros alunos, nessa questão, focamos a cobrança de jurisprudência recente do STF, composta de
enunciados extraídos de julgados – todos eles – divulgados em Informativos do ano de 2016.

Vejam como é importante tomar conhecimento das decisões recentes da Corte Suprema, que,
não raro, supera seus próprios precedentes antes consolidados ou introduz novas exceções
a determinadas regras igualmente consolidadas. Por isso, recomenda-se atenta leitura dos
Informativos de jurisprudência dos Tribunais Superiores. Após essa introdução no tema, vamos às
alternativas.

Alternativa (A): correta. A assertiva está em consonância com a jurisprudência do STF,


divulgada no Informativo n. 819/2016, oportunidade em que a 1ª Turma do STF, ao julgar o MS
32540/DF, cujo Relator foi o Min. Marco Aurélio, consignou que:

“Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder
Legislativo, os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal
não possuem direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório. Não existe, no
caso, desrespeito ao devido processo legal. A atuação do TCU ficaria inviabilizada
se, nas auditorias realizadas, fosse necessário intimar, para integrar o processo
administrativo de controle, qualquer um que pudesse ser alcançado, embora de forma
indireta, pela decisão da Corte” (STF. 1ª Turma. MS 32540/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 29/3/2016).

Alternativa (B): correta. Estão corretas tais exceções, conforme didaticamente explicada na
seguinte noticia extraída do sitio eletrônico do STF, referente ao julgamento da ADI 951, divulgada
no Informativo n. 845 dessa Corte:

“Não fica prejudicada a ação direta de inconstitucionalidade (ADI) nas hipóteses em que
o Supremo Tribunal Federal (STF) julga a causa sem ter sido comunicado previamente
da revogação da norma questionada. O entendimento foi fixado pelo Plenário na sessão
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desta quinta-feira (27), na análise de embargos de declaração apresentados pela


Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina contra acórdão do Tribunal na ADI
951.

No julgamento de mérito da ação, em novembro de 2004, o STF declarou inconstitucionais


dispositivos da Lei Complementar estadual 78/1993, de Santa Catarina, por violação ao
princípio do concurso público. Depois do julgamento, a Assembleia comunicou que a lei
já havia sido revogada e, nos embargos de declaração, alegou contradição no acórdão
por não constar a prejudicialidade da ADI 951, tendo em vista a revogação da lei.

Ao apresentar seu voto na sessão de hoje, o relator da ação, ministro Luís Roberto
Barroso, explicou que desde o início da década de 90 vigora no Tribunal o entendimento
de que a revogação de uma norma leva à prejudicialidade de ADI ajuizada contra
ela, independentemente dos efeitos concretos dela decorrentes. Porém, segundo
ele, o STF possui precedentes que abrem exceções a essa hipótese, “quando
houver indícios de que a norma foi revogada para fraudar o exercício da jurisdição
constitucional em abstrato, ou seja, quando a revogação constituir um artifício
para evitar a declaração da sua inconstitucionalidade”, explicou.

De acordo com o ministro, o precedente do Supremo abriu uma exceção para dizer que
a ADI não estaria prejudicada quando houvesse alguma suspeita de fraude ou tentativa
de evitar a jurisdição do Supremo já iniciada. O relator lembrou que, posteriormente,
a Corte abriu novo precedente em relação a leis de eficácia temporária quando
a impugnação se deu em tempo adequado, a ação foi incluída em pauta e o seu
julgamento iniciado antes do exaurimento da eficácia da lei.

Para Barroso, o caso em exame traz uma nova hipótese: a situação em que a
revogação da norma objeto da ação direta não foi comunicada ao Supremo, que
enfrentou o mérito da causa e declarou a inconstitucionalidade da lei antes de
ter conhecimento de que a norma deixou de vigorar. “Permitir que se pleiteie
a desconstituição do julgamento em sede de embargos de declaração depois
de decidido o seu mérito equivaleria abrir à parte a possibilidade de manipular
a decisão do Supremo”, afirmou. “Se esta lhe for favorável, bastará não invocar a
perda de objeto e usufruir de seus efeitos. Se, ao contrário, lhe for desfavorável, o
reconhecimento da prejudicialidade a imunizará contra os efeitos do reconhecimento da
inconstitucionalidade”.

O relator afirmou que, como a revogação da lei catarinense não foi alegada antes do
julgamento do mérito, não é possível falar em omissão, obscuridade ou contradição
e, também por esse motivo, não há fundamento para acolher os embargos de
declaração. O ministro observou ainda que, no caso, o Tribunal havia deferido medida
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cautelar para suspender a lei sem retroatividade. “Portanto, a lei efetivamente vigeu
durante um determinado período, de modo que a revogação e a prejudicialidade dessa
ação fariam com que ela produzisse efeitos válidos por um lapso temporal”, observou”.

Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=328291

Alternativa (C): correta. A cláusula de reserva de plenário, prevista no art. 97 da Constituição


Federal (“Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo
órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público”), impõe que a declaração de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos seja sempre
feita pelo Tribunal Pleno ou Órgão Especial dos Tribunais, em função da necessidade de observar
ampla discussão sobre tais temas, com a participação plural na decisão, evitando indesejada
contradição entre órgãos fracionários das Cortes, em observância, portanto, à segurança jurídica.

Feita essa introdução do tema, o enunciado cobrou o conhecimento das seguintes decisões,
divulgadas nos Informativos n.s 844 e 848:

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Não viola o art. 97 da CF/88 nem a SV 10


a decisão de órgão fracionário do Tribunal que declara inconstitucional decreto
legislativo que se refira a uma situação individual e concreta. Isso porque o que
se sujeita ao princípio da reserva de plenário é a lei ou o ato normativo. Se o
decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma dada situação
individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação, ele não pode
ser considerado como ato normativo, mas sim como ato de efeitos concretos.
STF. 2ª Turma. Rcl 18165 AgR/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016
(Info 844).

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Não viola a Súmula Vinculante 10,


nem a regra do art. 97 da CF/88, a decisão do órgão fracionário do Tribunal que
deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção
aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua
mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição. Além disso,
a reclamação constitucional fundada em afronta à SV 10 não pode ser usada como
sucedâneo (substituto) de recurso ou de ação própria que analise a constitucionalidade
de normas que foram objeto de interpretação idônea e legítima pelas autoridades
jurídicas competentes. STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em
22/11/2016 (Info 848).

O primeiro caso apontado no enunciado é claro: não há juízo de inconstitucionalidade de


ato normativo quando este ato possui efeitos concretos. ATENÇÃO: recordem o caso das leis
orçamentárias, que, como regra, não se submetem ao controle de constitucionalidade, mas podem,
excepcionalmente, serem impugnadas nessa espécie de controle, quando assumirem a feição de
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norma abstrata e geral (conferir, v.g., ADI 4.048 MC, rel. min. Gilmar Mendes, j. 14-5-2008, P, DJE
de 22-8-2008).

O segundo caso envolve situações em que os fatos não são abrangidos pela norma infraconstitucional
tida por violada, em cotejo com a Constituição Federal, ou seja, não há aplicabilidade da norma
ao caso concreto, o que, a toda evidência, faz ruir a necessidade de exercício de juízo de
controle de constitucionalidade, de sorte que o próprio órgão fracionário poderá julgar diretamente
a causa, sem precisar abrir o incidente de controle de constitucionalidade, que obrigaria a remessa
do processo para julgamento em plenário ou órgão especial.

Por fim, vale lembrar que existem duas mitigações à cláusula de reserva de plenário, incluídas a
nível legal/formal no ordenamento jurídico no Novo CPC, em seu art. 949, parágrafo único, quais
sejam:

a) quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver decidindo já tiver se
manifestado pela inconstitucionalidade da norma;

b) quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em análise é inconstitucional.

Confiram, a propósito, a redação do parágrafo único do art. 949 do CPC e da Súmula Vinculante n.
10, essenciais ao conhecimento da matéria em debate:

Art. 949 (...) Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao
plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver
pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

Súmula vinculante n. 10 do STF: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência
no todo ou em parte”.

Alternativa (D): incorreta. O STF entendeu, no julgamento do RE 305470/SP (divulgado no


Informativo n. 844), que não há vício de iniciativa e nem material na propositura de ato normativo
com essa finalidade, oriunda de proposta de Parlamentar, pois, segundo o relator para o acordão,
Min. Teori Zavascki:

“O diploma local impugnado sequer demanda do Poder Executivo qualquer conduta


comissiva, mas simplesmente lhe impõe uma restrição quanto à realização de
eventos”, e, em seguimento, afirmou que “A simples competência do prefeito de
exercer a administração dos bens imóveis do município não impede que o Poder
Legislativo imponha limitações à realização de eventos nesses locais”.

Ademais, o Ministro também afastou a alegação de que a lei ofenderia o artigo 22, inciso XXIX, da
Constituição Federal, que atribui à União a competência privativa para legislar sobre propaganda
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comercial, ao afirmar que:

“A restrição imposta pela lei recai, não sobre as empresas de cigarro e bebidas
alcoólicas, mas sim sobre a Administração Pública municipal, encontrando-se,
assim, no âmbito de competência do Poder Legislativo local”.

OBS: O julgamento do RE teve início em 2005, quando a relatora, ministra Ellen Gracie (aposentada),
votou pelo desprovimento, com o entendimento de que compete ao prefeito regular a utilização
do patrimônio municipal, e de que foge à competência municipal a regulação da propaganda de
bebidas alcoólicas e derivados do tabaco.

Confiram a ementa do julgado:

“PROCESSO LEGISLATIVO: Não viola a Constituição Federal lei municipal,


de iniciativa parlamentar, que veda a realização, em imóveis do Município, de
eventos patrocinados por empresas produtoras, distribuidoras, importadoras ou
representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros, com a utilização da respectiva
propaganda” (STF. 2ª Turma. RE 305470/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o ac.
Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016, divulgado no Informativo n. 844).

Alternativa (E): correta. A Reclamação é simples direito de petição, na visão do STF, e possui
duas funções precípuas, quais sejam: preservar a autoridade das suas decisões e a competência
da Corte Suprema.

Por isso, decidiu-se que:

“Não é cabível a propositura de reclamação preventiva. A reclamação não tem


caráter preventivo, de modo que não serve para impedir a eventual prática de
decisão judicial ou ato administrativo. O ajuizamento da reclamação pressupõe
a existência de um ato que efetivamente já tenha usurpado a competência do
Tribunal, violado a autoridade de alguma de suas decisões que possua efeito
vinculante ou incidido em alguma das outras hipóteses de cabimento deste
instituto” (STF. Decisão monocrática. Rcl 25310 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado
em 03/10/2016, e divulgado no Informativo n. 845).

Por sua vez, a segunda parte da assertiva foi extraída do julgamento da Rcl 24686 ED-AgR/RJ, Rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 28/10/2016, e também divulgada no Informativo n. 845, conforme
ementa a seguir:

“RECLAMAÇÃO: O art. 988, § 5º, II, do CPC/2015 prevê que é possível reclamação
dirigida ao Supremo Tribunal Federal contra decisão judicial que tenha descumprido
tese fixada pelo STF em recurso extraordinário julgado sob o rito da repercussão
geral. O CPC exige, no entanto, que, antes de a parte apresentar a reclamação,
ela tenha esgotado todos os recursos cabíveis nas “instâncias ordinárias”. O
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STF afirmou que essa hipótese de cabimento prevista no art. 988, § 5º, II, do CPC
deve ser interpretada restritivamente, sob pena de o STF assumir, pela via da
reclamação, a competência de pelo menos três tribunais superiores (STJ, TST e
TSE) para o julgamento de recursos contra decisões de tribunais de 2º grau de
jurisdição. Assim, segundo entendeu o STF, quando o CPC exige que se esgotem as
instâncias ordinárias, significa que a parte só poderá apresentar reclamação ao STF
depois de ter apresentado todos os recursos cabíveis não apenas nos Tribunais de 2º
grau, mas também nos Tribunais Superiores (STJ, TST e TSE). Se ainda tiver algum
recurso pendente no STJ ou no TSE, por exemplo, não caberá reclamação ao STF. Em
suma, nos casos em que se busca garantir a aplicação de decisão tomada em recurso
extraordinário com repercussão geral, somente é cabível reclamação ao STF quando
esgotados todos os recursos cabíveis nas instâncias antecedentes. STF. 2ª Turma (Rcl
24686 ED-AgR/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/10/2016).

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

QUESTÃO 7. Considerando a doutrina e jurisprudência dos Tribunais Superiores, bem


como o que prescreve a Constituição Federal, assinale a alternativa incorreta sobre teoria
geral do Direito Constitucional:

a) O princípio da força normativa não disponibiliza nenhum procedimento específico,


mas atua como um apelo, como representação de um objetivo e, segundo Konrad
Hesse, na sua interpretação deve ser dada preferência às soluções que, densificando
suas normas, as tornem mais eficazes e permanentes, proporcionando-lhes uma força
otimizadora.

b) O princípio da unidade consiste em uma especificação da interpretação sistemática,


cujo fundamento para que uma norma não seja analisada isoladamente, mas em
conjunto com as demais normas integrantes do sistema no qual está inserida, decorre
da conexão e interdependência entre os elementos da Constituição, razão pela qual
as normas constitucionais devem ser consideradas como preceitos integrados em um
sistema interno unitário de regras e princípios.

c) O princípio da concordância prática apresenta uma estreita ligação com o princípio


da unidade, do qual se distingue por não atuar apenas diante de contradições
normativas abstratas, mas principalmente nas colisões de direitos ocorridas diante de
um caso concreto.

d) O princípio da máxima efetividade, que está contido no princípio da força


normativa da Constituição, encontra-se agasalhado no § 1º do art. 5º da Constituição,
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que proclama a aplicação imediata das normas definidoras de direitos e garantias


fundamentais. O reconhecimento de que também as normas programáticas podem
levar à inconstitucionalidade de leis que lhes sejam opostas é, igualmente, expressão
desse princípio.

e) Como exemplo de inobservância do princípio da conformidade funcional pode ser


mencionada a proposta de mutação constitucional da norma contida no art. 52, X,
da Constituição, segundo a qual o Senado passaria a dar publicidade à decisão do
STF que declara lei inconstitucional e não mais suspender a execução desta, assim
como há também quem aponte como incompatível com este postulado a atuação da
Suprema Corte como legislador positivo, como ocorreu no julgamento dos mandados
de injunção que tinham por objeto o direito de greve dos servidores públicos.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. O enunciado está em consonância com o quanto lecionado pelo Professor
Marcelo Novelino (in Manual de Direito Constitucional, V. único, 9ª Ed., 2014, Método):

“O princípio da força normativa não disponibiliza nenhum procedimento específico,


mas atua como um apelo, como representação de um objetivo. Segundo HESSE,
“como a Constituição quer ser atualizada, mas as condições históricas dessa atualização
se transformam”, na sua interpretação deve ser dada preferência às soluções que,
densificando suas normas, as tornem mais eficazes e permanentes, proporcionando-
lhes uma força otimizadora”.

Alternativa (B): correta. O enunciado está em plena consonância com as exposições da doutrina,
conforme leciona Marcelo Novelino (op. já citada):

“Considerado pelo Tribunal Constitucional Federal da Alemanha como o mais importante


princípio de interpretação constitucional, este postulado impõe ao intérprete o dever de
harmonização das tensões e contradições existentes, in abstrato, entre as normas de
uma Constituição.

O princípio da unidade consiste em uma especificação da interpretação sistemática.


O fundamento para que uma norma não seja analisada isoladamente, mas em
conjunto com as demais normas integrantes do sistema no qual está inserida,
decorre da conexão e interdependência entre os elementos da Constituição. As
normas constitucionais devem ser consideradas como preceitos integrados em
um sistema interno unitário de regras e princípios” (destaque nosso).

Alternativa (C): correta. Nos socorremos novamente das lições do Professor Marcelo Novelino
(op. já citada):
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“Este postulado também apresenta uma estreita ligação com o princípio da unidade,
do qual se distingue por não atuar apenas diante de contradições normativas
abstratas, mas principalmente nas colisões de direitos ocorridas diante de um
caso concreto.

ZAGREBELSKY sustenta que o pensamento a ser adotado, predominantemente em


sede constitucional, há de ser o “pensamento do possível”. Para o autor italiano, “no
tempo presente parece dominar a aspiração a algo que é conceitualmente impossível,
porém altamente desejável na prática: não a prevalência de um só valor e de um só
princípio, mas a salvaguarda de vários simultaneamente”.

Havendo uma colisão, o intérprete deve coordenar e combinar os bens jurídicos em


conflito, realizando uma redução proporcional do âmbito de alcance de cada um deles.
Os bens constitucionalmente protegidos devem ser tratados de modo que a afirmação
de um não implique o sacrifício total do outro” (destaque nosso).

Alternativa (D): incorreta. O enunciado foi extraído da doutrina de Gilmar Mendes e Paulo Gonet
Branco (in Curso de Direito Constitucional, 7ª Ed., São Paulo, Saraiva), que, ao contrário do exposto
na questão, entende que o princípio da força normativa da constituição está contido, de
alguma forma, no princípio da máxima efetividade. Confiram:

“Canotilho ajunta ao catálogo de pautas de interpretação o que chama de princípio da


máxima efetividade. Atribui-lhe a seguinte formulação: “a uma norma constitucional deve
ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê”. Adverte que, embora se trate de um
princípio aplicável a toda norma constitucional, tem espaço de maior realce no campo
das normas constitucionais programáticas e no domínio dos direitos fundamentais.

A eficácia da norma deve ser compreendida como a sua aptidão para produzir os efeitos
que lhes são próprios. Esse princípio, na realidade, vem sancionado, entre nós, no §
1º do art. 5º da Constituição, que proclama a aplicação imediata das normas definidoras
de direitos e garantias fundamentais. O reconhecimento de que também as normas
programáticas podem levar à inconstitucionalidade de leis que lhes sejam opostas é,
igualmente, expressão desse princípio.
De alguma forma contido no princípio da máxima efetividade, fala-se no princípio
da força normativa da Constituição. Com ele propõe-se que se dê prevalência aos
pontos de vista que tornem a norma constitucional mais afeita aos condicionamentos
históricos do momento, garantindo-lhe interesse atual, e, com isso, obtendo-se “máxima
eficácia, sob as circunstâncias de cada caso” (destaques nossos).

Alternativa (E): correta. Sobre esse princípio e suas aplicações no âmbito da jurisprudência,
colacionamos as considerações do Professor Marcelo Novelino (op. já citada):

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“O princípio da conformidade funcional atua no sentido de não permitir que os órgãos


encarregados da interpretação constitucional cheguem a um resultado que subverta ou
perturbe o esquema organizatório-funcional estabelecido pela Constituição, devendo-se
manter no quadro das funções a eles atribuídas.

Trata-se de um postulado a ser observado principalmente pelo Tribunal Constitucional


nas suas relações com o legislador e com o governo. Atualmente tende a ser considerado
mais como um princípio autônomo de competência do que propriamente de interpretação
constitucional,cuja finalidade é impedir a violação da repartição de funções estabelecidas
pela Constituição.

Como exemplo de inobservância do princípio da conformidade funcional pode ser


mencionada a proposta de mutação constitucional da norma contida no art. 52, X,
da Constituição, segundo a qual o Senado passaria a dar publicidade à decisão
do STF que declara lei inconstitucional e não mais suspender a execução desta.

Há também quem aponte como incompatível com este postulado a atuação do


Supremo Tribunal Federal como legislador positivo, como ocorreu no julgamento
dos mandados de injunção que tinham por objeto o direito de greve dos servidores
públicos.

Virgílio Afonso da SILVA, entretanto, adverte para a dificuldade de se justificar o papel


do STF como mero legislador negativo em face das prestações positivas impostas pela
Constituição brasileira. O autor critica, ainda, a transposição irrefletida para o contexto
brasileiro de um princípio desenvolvido para a realidade constitucional alemã” (destaques
nossos).

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

QUESTÃO 8. Considerando a doutrina, jurisprudência dos Tribunais Superiores e de


acordo com a Constituição Federal e legislação esparsa, assinale a alternativa correta sobre
controle de constitucionalidade:

a) Nos processos do controle objetivo de constitucionalidade a conexão ocorre,


excepcionalmente, na hipótese de identidade de objetos entre as ações, visto que, no
controle abstrato, a causa de pedir é aberta.

b) Para fins de aplicação do instituto da recepção, uma lei precisa preencher os


seguintes requisitos: estar em vigor no momento do advento da nova Constituição; não
ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento anterior;
ter compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja regência ela foi
editada (no ordenamento anterior); e ter compatibilidade somente material, pouco
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importando a compatibilidade formal, com a nova Constituição;

c) Sobre os aspectos procedimentais, pode-se dizer que a Ação Direta de


Inconstitucionalidade admite desistência até a determinação de intimação dos
órgãos ou autoridades que produziram a lei ou o ato normativo impugnado para
prestar informações e, no julgamento do pedido de medida cautelar, não é possível
sustentação oral pelos representantes legais do requerente ou das autoridades ou
órgãos responsáveis pela expedição do ato normativo impugnado;

d) Na ADI é possível o aditamento à petição inicial, desde que antes da publicação


da pauta de julgamento, inclusive nos casos de alteração da norma mediante edição
de Medida Provisória superveniente ao ajuizamento da ação, em consideração aos
princípios da economia e instrumentalidade processuais.

e) A falta de intimação do Procurador-Geral do Estado para o julgamento em sede de


ADI configura nulidade processual, uma vez o Estado é parte na ação, sendo imponível
a sua representação processual, ainda que a ação tenha sido ajuizada pelo Governador
do Estado, que, a par de possuir plena capacidade postulatória para esse tipo de ação,
pode ser representado processualmente por meio de advogado por ele credenciado.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. O erro do enunciado é que a premissa da conexão é exatamente


contrária, ou seja, no controle concentrado de constitucionalidade a conexão ocorre em
função do pedido/objeto das ações, já que seria inviável decorrer da causa de pedir, por ser
esta aberta, o que quer dizer que a fundamentação para aferição da (in) constitucionalidade não
depende dos argumentos deduzidos na inicial, existindo ampla liberdade para o confronto da norma
impugnada com a Constituição. Vale dizer, o parâmetro de controle é toda a Constituição Federal.

Nesse sentido:

“Nos processos do controle objetivo de constitucionalidade, a conexão ocorre


apenas na hipótese de identidade de objetos entre as ações, visto que, no controle
abstrato, a causa de pedir é aberta” (STF, ADPF 139, rel. min. Cezar Peluso, decisão
monocrática proferida pelo presidente Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30-4-2008,
DJE de 8-5-2008.);

Alternativa (B): correta. Segundo o Professor Pedro Lenza (in Direito Constitucional Esquematizado,
20ª ed., 2016, Saraiva, São Paulo):

“No entender de parte da doutrina, se a lei produzida antes de 1988 ainda não tivesse
sido declarada inconstitucional na vigência do antigo ordenamento, teoricamente, como
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ela se presume constitucional, poderia ser recebida pelo novo ordenamento se com ele
fosse compatível do ponto de vista meramente material.

Contudo, parece-nos que o Judiciário, ao fazer a análise da recepção, terá de


verificar, também, se a lei que pretende ser recebida pelo novo ordenamento
era compatível, não só do ponto de vista formal, como, também, material, com a
Constituição sob cuja regência foi editada.

Sobre esse tema, assinala Paulo G. G. Branco: “uma vez que vigora o princípio de que,
em tese, a inconstitucionalidade gera a nulidade-absoluta-da lei, uma norma na situação
em tela já era nula desde quando editada, pouco importando a compatibilidade material
com a nova Constituição, que não revigora diplomas nulos” (destaque nosso).

Assim, conclui o professor que:

“Trata-se, como se verificou, do princípio da contemporaneidade, e a lei que


nasceu “maculada” possui vício congênito, insanável, impossível de ser corrigido
pelo fenômeno da recepção. O vício ab origine nulifica a lei, tornando-a ineficaz
ou írrita.

Nessa linha de entendimento, uma lei anterior que nasceu inconstitucional não poderia ser
“consertada” pela nova Constituição. Não se poderia falar, então, em “constitucionalidade
superveniente”. Podemos concluir, então, que para uma lei ser recebida ela precisa
preencher os seguintes requisitos:

• estar em vigor no momento do advento da nova Constituição;

• não ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no


ordenamento anterior;

• ter compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja


regência ela foi editada (no ordenamento anterior);

• ter compatibilidade somente material, pouco importando a compatibilidade


formal, com a nova Constituição” (destaques nossos).

Alternativa (C): incorreta. A ADI não admite desistência, conforme dispõe o art. 5º da Lei n.
9.868/1999: “Art. 5º Proposta a ação direta, não se admitirá desistência”.

Por outro lado, é possível a sustentação oral em sede de medida cautelar, tanto dos representantes
legais do requerente da medida como pelas autoridades ou órgãos responsáveis pela expedição
do ato:

“Lei n. 9.868/1999, Art. 10: Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação
direta será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal,
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observado o disposto no art. 22, após a audiência dos órgãos ou autoridades dos
quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que deverão pronunciar-se no
prazo de cinco dias.

[...] § 2º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação


oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos
responsáveis pela expedição do ato, na forma estabelecida no Regimento do
Tribunal”.

Alternativa (D): incorreta. O STF tem jurisprudência firme no sentido de que o aditamento da
petição inicial da ADI só é permitido quando promovido antes da requisição das informações
às autoridades responsáveis pela emissão e defesa do ato. Confiram:

“Petição inicial. Ilegitimidade ativa para a causa. Correção. É lícito, em ação direta de
inconstitucionalidade, aditamento à petição inicial anterior à requisição das informações.”
(STF, ADI 3.103, rel. min. Cezar Peluso, julgamento em 1-6-2006, Plenário, DJ de 25-8-
2006). E no mesmo sentido: ADI 4.073-MC, rel. min. Celso de Mello, decisão monocrática,
julgamento em 7-8-2009, DJE de 17-8-2009.

Ademais, cumpre observar que o Supremo Tribunal Federal entende que “A possibilidade do
aditamento da ação direta de inconstitucionalidade de modo a que continue, contra a medida
provisória reeditada, o processo instaurado contra a sua edição original, pressupõe necessariamente
a identidade substancial de ambas: se a norma reeditada é, não apenas formal, mas também
substancialmente distinta da originalmente impugnada, impõe-se a propositura de nova ação
direta” (ADI 1.753-QO, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 17-9-1998, Plenário, DJ de
23-10-1998).

OBS: O STF já admitiu aditamento após a requisição das informações, porém, diante de
situação de clara irrelevância das alterações supervenientes ao texto normativo impugnado.
No entanto, essa não é a regra, como visto, mas mera exceção. Eis julgado nesse sentido: “Pedido
de aditamento da inicial após inclusão em pauta da ação para julgamento final pelo rito do artigo
12 da Lei 9.868/1999. Admissão do aditamento, tendo em vista a irrelevância das alterações
promovidas no texto normativo impugnado. Admitido o aditamento, necessária é a abertura de
prazo para a manifestação dos requeridos” (ADI 3.434-MC, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento
em 23-8-2006, DJ de 28-9-2007).

OBS2: Em caso de Medida Provisória, recentes decisões não têm deixado claro o momento
processual limite para aditamento da petição inicial, em caso de substancial alteração da
norma, apenas referindo genericamente à necessidade de aditamento. Conferir, nesse sentido,
a ADI n. 5.238/DF, Relator Luiz Fux.

Alternativa (E): incorreta. Quando a ação objetiva for ajuizada pelo Governador do Estado é
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prescindível a intimação do Procurador Geral do Estado para o julgamento da ação, uma vez
que, neste caso, o Estado não será parte. Nesse sentido:

“Embargos de declaração: alegação de falta de intimação do Procurador-Geral do estado


para o julgamento: nulidade inexistente. Na ação direta de inconstitucionalidade, em que
o estado não é parte, é facultativa a representação processual do requerido, quando seja
o Governador, por Procurador do estado” (ADI 2.996-ED, rel. min. Sepúlveda Pertence,
julgamento em 14-12-2006, Plenário, DJ de 16-3-2007)

Ademais, correta a segunda parte do enunciado, ao afirmar que a representação processual


do Governador nos processos de controle concentrado pode se fazer por meio de advogado,
embora desnecessária, diante da plena capacidade postulatória desse legitimado:

“A representação processual do governador do estado no processo objetivo se faz por


meio de credenciamento de advogado, descabendo colar a pessoalidade considerado
aquele que, à época, era o chefe do Poder Executivo. Representação processual --
Processo objetivo -- Governador do estado. Atua o legitimado para ação direta de
inconstitucionalidade quer mediante advogado especialmente credenciado, quer via
procurador do Estado, sendo dispensável, neste último caso, a juntada de instrumento de
mandato” (ADI 2.728-ED, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 19-10-2006, Plenário,
DJ de 5-10-2007)

“O Governador do Estado e as demais autoridades e entidades referidas no art. 103,


incisos I a VII, da Constituição Federal, além de ativamente legitimados à instauração
do controle concentrado de constitucionalidade das leis e atos normativos, federais e
estaduais, mediante ajuizamento da ação direta perante o Supremo Tribunal Federal,
possuem capacidade processual plena e dispõem, ex vi da própria norma constitucional,
de capacidade postulatória. Podem, em conseqüência, enquanto ostentarem aquela
condição, praticar, no processo de ação direta de inconstitucionalidade, quaisquer atos
ordinariamente privativos de advogado” (ADI 127-MC-QO, rel. min. Celso de Mello,
julgamento em 20-11-1989, Plenário, DJ de 4-12-1992). No mesmo sentido: ADI 120,
rel. min. Moreira Alves, julgamento em 20-3-1996, Plenário, DJ de 26-4-1996.

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

QUESTÃO 9. Considerando a doutrina, jurisprudência dos Tribunais Superiores e de


acordo com a legislação penal, assinale a alternativa correta sobre efeitos da condenação
no Direito Processual Penal:

a) Quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 anos não
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será automática a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, assim como
igualmente não o é a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.

b) Perde a condição de título executivo judicial a sentença penal condenatória com


trânsito em julgado se posteriormente a ela verificar-se a extinção da punibilidade do
agente, especialmente quando derivada de abolitio criminis e anista.

c) Se o réu condenado com trânsito em julgado for absolvido em revisão criminal,


remanesce a força executiva, quando já tiver sido iniciada a execução civil.

d) A Lei de Lavagem de Dinheiro prevê a interdição do exercício do cargo público ou a


de diretor/conselheiro das pessoas jurídicas utilizadas no crime em questão pelo triplo
da pena privativa de liberdade.

e) Em caso de absolvição penal em razão da comprovação do estado de necessidade,


permanece a responsabilidade civil, na forma prevista no art. 929 do Código Civil;

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. Em breve resumo e esquematização do tema, para melhor compreensão
da questão, podemos afiançar o seguinte:

1º) Efeitos principais: São a imposição da pena privativa de liberdade, restritiva de


direitos, pecuniária, e, ainda, de medida de segurança ao semi-imputável dotado de
periculosidade;

2º) Efeitos secundários: Também conhecidos como efeitos mediatos, acessórios,


reflexos ou indiretos, constituem-se em consequências da sentença penal
condenatória como fato jurídico, a exemplo de: caracterização da reincidência, se
posteriormente for praticado novo crime, com todas as consequências daí resultantes
(arts. 63 e 64); fixação de regime fechado para cumprimento da pena privativa de
liberdade, se for cometido novo crime (art. 33, § 2.º); configuração de maus antecedentes
(art. 59); etc.

Efeitos secundários de natureza extrapenal previstos no Código Penal: São assim denominados
(extrapenais) por incidirem em áreas diversas do Direito. Dividem-se em genéricos e específicos:

a) Efeitos genéricos: chamados dessa maneira por recaírem sobre todos os crimes, são os
previstos no art. 91 do Código Penal: obrigação de reparar o dano e confisco. A interpretação a
contrario sensu do art. 92, parágrafo único, do Código Penal, mostra serem tais efeitos automáticos,
ou seja, não precisam ser expressamente declarados na sentença. Toda condenação os
produz.
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Portanto, o enunciado está incorreto quando afirma que a obrigação de ressarcir o dano
causado pelo crime não é automática.

b) Efeitos específicos: são os indicados pelo art. 92 do Código Penal: perda do cargo, função
pública ou mandato eletivo, incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, e
inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso, etc.
Tem essa denominação pelo fato de serem aplicados somente em determinados crimes e não
são automáticos, necessitando de expressa motivação na sentença condenatória para produzirem
efeitos. É o que consta do art. 92, parágrafo único, do Código Penal, in verbis:

“Art. 92. São também efeitos da condenação: [...] Parágrafo único - Os efeitos de
que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados
na sentença”.

Fonte: MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado – Vol. 1 – Parte Geral, 9ª Ed.,
2015, Ed. Método, São Paulo.

Alternativa (B): incorreta. Segundo Masson (in op. já citada), “[...] Em se tratando de extinção da
punibilidade derivada de abolitio criminis ou de anistia, embora rescindam a sentença condenatória
no plano penal, persiste o efeito civil da reparação do dano”.

Alternativa (C): incorreta. Segundo Masson (op. já citada), “Se o réu condenado com trânsito
em julgado for absolvido em revisão criminal, desaparece a força executiva, mesmo se já tiver
sido iniciada a execução civil. Tal como fora criado, o título é desconstituído por decisão judicial”
(destaque nosso).

Alternativa (D): incorreta. A previsão específica da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei n. 9.613/1998)
é de interdição para o exercício desses cargos pelo DOBRO da pena cominada. Confiram:

“Art. 7º. São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal: [...] II - a
interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de
membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas
no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada” (destaque
nosso).

Alternativa (E): correta. A excludente de estado de necessidade, no âmbito penal, não


afasta a autoria do dano civil e, consequentemente, a ocorrência deste, remanescendo a
responsabilidade civil nos moldes preconizados pela Codificação Civil.

Sobre o tema, leciona Guilherme Nucci:

“Vale mencionar o seguinte alerta de Frederico Marques: “Se a sentença penal reconhece
que o fato típico não é ilícito em virtude da ocorrência de uma das justificativas do art. 23
do Código Penal, ilicitude também não existe no Direito Civil, e isto em face do próprio
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artigo do Código Civil, que exclui a antijuridicidade do ato danoso quando há legítima
defesa, exercício regular de um direito e o estado de necessidade (art. 160, I, II) [atual
art. 188, I e II, do CC/2002].

Todavia, apesar de no estado de necessidade o ato agressivo se considerar lícito,


eximido não se encontra seu autor de indenizar os prejuízos causados. Vigora aí o
princípio, segundo expõe Alceu Cordeiro Fernandes, de que, ‘embora lícito o ato, isto é,
praticado de conformidade com o direito, cria, não obstante, para o agente a obrigação
de indenizar, por isso que causa dano, diminui o patrimônio de outrem’. (…) A aplicação
dos artigos 1.519 e 1.520 do Código Civil [atuais arts. 929 e 930 do CC/2002], depois
de absolvido criminalmente o acusado em virtude do estado de necessidade, não
significa violação do art. 65 do Código de Processo Penal. O juiz civil aceitou, como
não poderia deixar de acontecer, o que reconheceu o juiz penal; todavia, mesmo em
estado de necessidade, mesmo praticando um ato lícito, o causador do prejuízo
deve repará-lo, porque assim o determina o Código Civil” (Tratado de direito penal,
v. III, p. 377)” (destaques nossos).

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

QUESTÃO 10. Em relação aos recursos no Direito Processual Penal, assinale a


alternativa incorreta:

a) O indeferimento da prisão temporária não se encontra entre as situações previstas


de interposição do Recurso em Sentido Estrito – RESE, contudo, como existe a previsão
desse recurso para atacar a decisão que indefere a prisão preventiva, os tribunais
têm aceito a interpretação extensiva das hipóteses previstas para oposição do RESE,
permitindo-se, em caráter excepcional, o manejo desse recurso contra decisões que,
apesar de não expressamente arroladas, sejam conceitualmente muito próximas ou
que produzam uma sucumbência semelhante a uma hipótese legal de cabimento.

b) O julgamento das exceções de suspeição, incompetência de juízo, litispendência,


ilegitimidade de parte e coisa julgada comporta a interposição de RESE.

c) A decisão que absolve sumariamente o réu com base em excludente de ilicitude do


fato ou da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade, bem como quando o fato
narrado evidentemente não constituir crime, é impugnável por apelação, ao passo que
a decisão que declara a extinção da punibilidade, prevista no art. 397, IV, do CPP, é
impugnável pelo recurso em sentido estrito.

d) Sobre a carta testemunhável, trata-se de recurso de caráter subsidiário ou residual, é


cabível quando o julgamento do recurso denegado esteja afeto a uma instância superior
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e sua interposição não é dirigida a um órgão jurisdicional (juiz, desembargador), e sim


ao escrivão (justiça estadual), diretor de secretaria (justiça federal) ou secretário da
presidência do tribunal respectivo, além de que não possui efeito suspensivo, como
regra.

e) Em relação ao Agravo em Execução, não há previsão de prazo, forma ou rito na


Lei de Execuções Penais – LEP para esta modalidade recursal, restando consolidado
o entendimento de que segue as mesmas normas que regem o recurso em sentido
estrito, no que forem aplicáveis, razão pela qual possui efeitos devolutivo e regressivo,
porém, não goza de efeito suspensivo, por expressa disposição da LEP.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. A assertiva está correta. O Professor Cléber Masson (in MASSON, Cleber.
Direito Processual Penal Esquematizado, 2015, Ed. Método. São Paulo) justifica:

“É prevalente o entendimento de que, embora o recurso em sentido estrito destine-se a


impugnar decisões interlocutórias, seu cabimento é restrito aos casos expressamente
contemplados em lei. Portanto, não é possível equipará-lo ao agravo de instrumento
do processo civil e, a partir daí, compreender que pode ser manejado contra qualquer
decisão incidental no processo.

Sem embargo desta linha de pensamento, que considera peremptórias as situações


de cabimento do RSE, os tribunais têm aceito a interpretação extensiva (art. 3.º do
CPP) das hipóteses previstas, permitindo-se, em caráter excepcional, o manejo
desse recurso contra decisões que, apesar de não expressamente arroladas, sejam
conceitualmente muito próximas ou que produzam uma sucumbência semelhante
a uma hipótese legal de cabimento.

Exemplo: Considere que a autoridade policial tenha representado pela prisão temporária
do investigado e que o juiz, malgrado o parecer favorável do Ministério Público, tenha
indeferido essa prisão.

Ora, o indeferimento da prisão temporária não se encontra entre as situações


previstas de RSE. Contudo, existe a previsão desse recurso para atacar a decisão
que indefere a prisão preventiva (art. 581, V, do CPP).

Assim, caso não se conforme com o indeferimento da temporária pelo juiz, poderá o
promotor (não o delegado de polícia, pois este não possui faculdade recursal) valer-se
do RSE para atacar tal decisão, por interpretação extensiva da hipótese prevista no art.
581, V, do CPP. Isto ocorre porque tanto uma quanto outra hipótese produzem a mesma
consequência processual: a manutenção do investigado em liberdade” (destaques
nossos).
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Alternativa (B): incorreta. O recurso para impugnar o julgamento da exceção de suspeição


depende do órgão que, segundo o respectivo regimento interno, tiver competência para
apreciá-la.

Segundo o Professor Renato Brasileiro (in Manual de Direito Processual Penal, 4ª Ed., 2016, Ed.
Juspodvim, São Paulo), trata-se de exceção procedimental cujo julgamento não é impugnado
pela via do Recurso em Sentido Estrito:

“No processo penal, poderão ser opostas as exceções de suspeição, incompetência


de juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada (CPP, art. 95). Refere-se
o art. 581, III, do CPP apenas às exceções de incompetência de juízo, litispendência,
ilegitimidade de parte e coisa julgada, deixando de fora a exceção de suspeição.

O inciso III do art. 581 do CPP somente prevê o cabimento do RESE na hipótese de
decisão que julga procedente as referidas exceções. Logo, são irrecorríveis as decisões
que rejeitam tais exceções, o que, no entanto, não impede que a matéria volte a ser
questionada em preliminar de eventual apelação ou por meio de habeas corpus (CPP,
art. 648, VI).

O dispositivo também deixa claro que não é cabível RESE contra a decisão
que julgar procedente a exceção de suspeição. A uma porque, reconhecendo a
suspeição nos termos do art. 99 do CPP, o juiz suspeito sustará a marcha do processo,
ordenando a remessa dos autos ao substituto. Logo, não haveria interesse recursal na
interposição do RESE. A duas porque, não aceita a suspeição, os autos serão remetidos
ao Tribunal a que competir o julgamento. Como se percebe, ao contrário das demais
exceções, que são julgadas pelo juiz de 1ª instância, a de suspeição é julgada
pelo respectivo Tribunal. Ora, considerando que o RESE é recurso cabível contra
decisões proferidas por juiz de 1ª instância, esta via impugnativa não poderá ser
usada contra decisão proferida no julgamento da exceção de suspeição.

Em relação ao recurso cabível contra a decisão que julga procedente ou


improcedente a exceção de suspeição nos tribunais, a via impugnativa depende
do órgão que, segundo o respectivo regimento interno, tiver competência para
apreciá-la. No âmbito do Tribunal de Justiça de São Paulo, compete à Câmara Especial
julgar as exceções de suspeição e de impedimento opostas em relação aos juízes de
primeiro grau (art. 187 do Regimento Interno). Nesse caso, na medida em que a exceção
é decidida pela Câmara Especial, restam os recursos extraordinário e especial como
únicas impugnações possíveis.

O art. 104 do CPP prevê que, arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz,
depois de ouvi-lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no
prazo de 3 (três) dias. A despeito da irrecorribilidade de tal decisão, a doutrina entende
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que o órgão do Ministério Público afastado, diante de ilegalidade da procedência da


suspeição, poderá, em tese, impetrar mandado de segurança, pois tem direito líquido e
certo de atuar no processo” (destaques nossos).

Alternativa (C): correta. O recurso de apelação está previsto no art. 593 do CPP e é uma forma de
impugnação das decisões de primeiro grau que poderão ser proferidas pelo juiz singular ou pelo
juiz-presidente do Tribunal do Júri.

O inciso I do art. 593 prevê como hipóteses de cabimento a prolação de sentenças de condenação,
absolvição, absolvição imprópria (que absolve e aplica medida de segurança) e absolvição sumária
do rito do Tribunal do Júri (art. 415 do CPP).

Sobre a absolvição sumária do art. 397 do CPP, o Professor Aury Lopes Jr (in Direito Processual
Penal, 13ª Ed., Saraiva, São Paulo) detalha a excepcionalidade da aplicação do Recurso em
Sentido Estrito aos casos de declaração da extinção da punibilidade:

“Já a absolvição sumária do art. 397 do CPP merece uma análise em separado, pois,
como regra, é atacável pelo recurso de apelação, previsto no art. 593, I, do CPP. Contudo,
há uma importante ressalva: a decisão que “absolve sumariamente” por estar extinta a
punibilidade é impugnável pela via do Recurso em Sentido Estrito, art. 581, VIII, do CPP.

Existe uma impropriedade processual grave no art. 397, IV, pois a sentença que
reconhece a extinção da punibilidade é uma decisão declaratória; não é uma sentença
definitiva e, muito menos, absolutória. Há que se ter cuidado para não ser seduzido pela
nomenclatura utilizada pelo legislador (absolvição), pois ela não tem o condão de alterar
a natureza jurídica do ato.

Assim, a decisão que absolve sumariamente o réu com base no art. 397, incisos I, II e
III, é impugnável por apelação, art. 593, I, do CPP.

Já a decisão que declara a extinção da punibilidade e é impropriamente chamada de


absolvição sumária, prevista no art. 397, IV, é impugnável pelo recurso em sentido
estrito, art. 581, VIII, do CPP” (destaque nosso).

No mesmo sentido é o escólio de Cleber Masson (op. já citada):

“Aspecto importante a observar, em especial ao leitor interessado em prestar concurso


público para carreiras jurídicas, que, no art. 397, IV, do Código de Processo Penal,
alterado pela Lei 11.719/2008, o legislador fez inserir como motivo de absolvição sumária
a extinção da punibilidade.

Ora, fosse possível aceitar tal paradoxo, seria obrigatório concluir no sentido do cabimento
de apelação contra tal decisão. Tecnicamente, porém, a extinção da punibilidade
não pode ser objeto de decisão absolutória, mas sim de pronunciamento autônomo
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incidental ao processo criminal, acarretando-lhe a extinção prematura e o consequente


arquivamento. Imagine-se, por exemplo, a morte do réu no curso do processo.

Ora, a morte do agente é causa extintiva da punibilidade, como se infere do art. 107, I,
do CP. E, evidentemente, não seria razoável cogitar que pudesse o magistrado, diante
da certidão de óbito do acusado que lhe tenha sido apresentada pelo advogado junto
com a resposta a que alude o art. 396 do CPP, absolver sumariamente o réu morto com
base no art. 397, IV.

Neste contexto, compreendemos que, em verdade, constatando a ocorrência


de causa extintiva da punibilidade, deve o juiz, simplesmente, declará-la nos
autos independentemente de um veredicto absolutório, decisão esta impugnável
mediante recurso em sentido estrito” (destaque nosso).

Alternativa (D): correta. Estão corretas as afirmações contidas no enunciado, uma vez a carta
testemunhável é recurso de caráter subsidiário ou residual, pois o seu cabimento está condicionado
ao à ausência de possibilidade de qualquer outra impugnação.

Exemplo comumente citado pela doutrina é o do não recebimento da apelação, que não permite ao
apelante valer-se da carta testemunhável, pois há previsão expressa de recurso em sentido estrito,
com base no art. 581, XV, do CPP, para o insurgimento contra essa decisão.

Ademais, é cabível quando o julgamento do recurso denegado esteja afeto a uma instância superior,
por força do que dispõe o art. 645 do CPP, ao estatuir que o processo da carta testemunhável na
instância superior seguirá o processo do recurso denegado.

Por fim, explica Masson (op. já citada) que:

“A interposição não é dirigida a um órgão jurisdicional (juiz, desembargador), e sim


ao escrivão (justiça estadual), diretor de secretaria (justiça federal) ou secretário da
presidência do tribunal respectivo, conforme se extrai do art. 640 do CPP. Isto ocorre
porque a carta não tem admissibilidade examinada na instância junto à qual proposta,
mas unicamente no juízo ad quem. Em outras palavras, mesmo se intempestiva ou
descabida, deverá ser encaminhada ao tribunal competente para seu julgamento, apenas
este podendo deixar de conhecê-la sob o fundamento da ausência de pressuposto
de admissibilidade. Por isso é que o art. 642 do CPP estabelece que o escrivão ou
secretário do tribunal poderá ser suspenso se, por qualquer pretexto, não processar a
carta testemunhável”.

Alternativa (E): correta. Previsto no art. 197 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal – LEP),
o agravo é o recurso cabível contra qualquer decisão do juiz da Vara de Execuções Criminais,
como, por exemplo, saída temporária, progressão e regressão de regime, livramento condicional,
unificação de penas, sursis, incidentes da medida de segurança, conversões, homologação de
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faltas graves, trabalho externo, etc.

Segundo Masson (in op. já citada), “Não há previsão de prazo, forma ou rito na LEP para esta
modalidade recursal. Apesar disso, é consolidado o entendimento de que segue as mesmas
normas que regem o recurso em sentido estrito, no que forem aplicáveis. Tal entendimento
consolidou-se com a edição da Súmula 700 do STF, dispondo que “é de cinco dias o prazo para
interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal” (destaques nossos).

Em seguida, o mesmo professor aponta que:

“Como toda via impugnativa, possui efeito devolutivo, implicando devolução ao Judiciário
da matéria incorporada ao recurso. Possui efeito regressivo em razão da já mencionada
aplicação subsidiária do procedimento cabível para o recurso em sentido estrito.
Referente ao efeito suspensivo, dispõe o art. 197 da Lei 7.210/1984 que o agravo
não o possui” (destaque nosso).

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

PROFESSOR: BRUNO MEGNA


E-mail: profcei.brunomegna@gmail.com

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

QUESTÃO 11. Em relação ao regime legal da mediação e da conciliação no Novo Código


de Processo Civil, é correto afirmar:

a) A sessão de mediação ou conciliação judicial não será realizada se o autor manifestar


desinteresse pela composição consensual na petição inicial.

b) A sessão de mediação ou conciliação judicial não será realizada se o réu manifestar


desinteresse pela composição consensual na petição inicial.

c) A sessão de mediação ou conciliação extrajudicial deverá ser realizada exceto


se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição
consensual.

d) A sessão de mediação ou conciliação judicial deverá ser realizada exceto se ambas


as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual.

e) A sessão de mediação ou conciliação judicial não será realizada quando os direitos


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forem indisponíveis.

COMENTÁRIO

O Novo CPC veio com a expressa intenção de incentivar o uso de meios consensuais de solução
de conflitos (art. 3º, §3º), o que se estende para as Fazendas Públicas (art. 174). No âmbito do
processo judicial, este incentivo veio com a criação de uma fase de tentativa de solução consensual
prévia à fase de defesa (art. 334). Atenção! O legislador quis ser enérgico e adotou uma regra
contraintuitiva: em vez de seguir a regra “quando um não quer, dois não fazem”, seguiu a regra
“quando só um não quer, os dois vão fazer sim!”.

Alternativa (A): incorreta. Não basta o autor manifestar desinteresse pela mediação/conciliação. É
preciso, ainda, ouvir o réu. Se o réu também manifestar expresso desinteresse, não haverá sessão
de mediação/conciliação. Porém, se o réu manifestar que quer a sessão ou se for silente, haverá,
sim, a sessão de mediação/conciliação, independentemente da manifestação do autor.

Alternativa (B): incorreta. Não basta o réu manifestar desinteresse pela mediação/conciliação.
É preciso ouvir, também, o autor. Se o autor também manifestou expresso desinteresse, seja na
petição inicial, seja em momento posterior, não haverá sessão de mediação/conciliação. Porém,
se o autor manifestou que quer a sessão ou se for silente, haverá, sim, a sessão de mediação/
conciliação, independentemente da manifestação do réu.

Alternativa (C): incorreta. A sessão de mediação ou conciliação judicial (e não extrajudicial, como
disse o enunciado) deverá ser realizada, exceto se ambas as partes manifestarem, expressamente,
desinteresse na composição consensual (art. 334 do CPC). No caso da mediação ou conciliação
extrajudicial não há obrigatoriedade de participação, pois não se trata de uma fase dentro de um
processo judicial já ajuizado.

Alternativa (D): correta. NCPC/2015, Art. 334. § 4º: “A audiência não será realizada: I - se ambas
as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II - quando não
se admitir a autocomposição”.

Alternativa (E): incorreta. Não se deve confundir direitos indisponíveis  com direitos sobre os


quais  não se admite autocomposição (art. 334, §4º, II do CPC). Os direitos indisponíveis são
plenamente passíveis de autocomposição, como, por exemplo, os alimentos. Já os direitos
sobre os quais não se admite autocomposição são classificação diversa, por exemplo, a ação
de improbidade administrativa (a proibição da transação em ações de improbidade administrativa
chegou a ser revogada por medida provisória, que, porém, não foi convertida em lei; esta vedação,
portanto, continua a viger: art. 17, §1º da Lei 8.429/1992).

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

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QUESTÃO 12. De acordo com o Novo Código de Processo Civil, NÃO se aplica a regra
do duplo grau de jurisdição obrigatório quando:

a) A condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60


(sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do
devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor.

b) A condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 1.000


(mil), 500 (quinhentos) ou 100 (cem) salários mínimos, respectivamente, em relação à
União e suas autarquias e fundações de direito público, aos Estados e suas autarquias
e fundações de direito público e aos Municípios e suas autarquias e fundações de
direito público.

c) A sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal


Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

d) A sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal


Federal ou em jurisprudência de recursos repetitivos, de incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência.

e) A sentença for fundada em súmula de tribunal superior ou em súmula, manifestação


ou parecer administrativo de orientação vinculante no âmbito do respectivo ente
público.

COMENTÁRIO

O Novo CPC alterou as hipóteses de dispensa do “reexame necessário”. No CPC/1973 (art. 475),


as hipóteses eram (i) por valor, abaixo de 60 salários-mínimos; (ii) por súmula judiciária, desde
que do “tribunal superior competente”; (iii) por “jurisprudência”, desde que do Plenário do STF.
Hoje, no CPC/2015 (art. 496), as hipóteses são: (i) por valor, abaixo de 1.000 salários-mínimos no
plano federal, 500 salários-mínimos no plano estadual, distrital e dos municípios-sede de capitais
estaduais e 100 salários-mínimos no plano dos demais municípios; (ii) por súmula judiciária, de
qualquer tribunal superior; (iii) por “entendimento jurisprudencial” fixado em julgamento de recurso
repetitivo, em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção de
competências; (iv) por orientação administrativa vinculante no respectivo ente público.

Alternativa (A): incorreta. A alternativa transcreve o texto do CPC/1973, revogado. Atualmente, a


dispensa pelo critério de valor corresponde a 1.000 (federal), 500 (Estados, DF e Capitais) e 100
(demais Municípios) salários-mínimos. Note que o CPC/2015 deixou expresso que esta exceção
ocorre apenas para sentenças “líquidas e certas”, de modo que a Súmula 490 do STJ (“a dispensa
de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior a
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sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas”) continua vigente, embora deva ser
lida de acordo com os valores atualmente vigentes.

Alternativa (B): incorreta. O erro da alternativa está em tratar os Municípios como um grupo só.
Os Municípios-sede de capitais estaduais estão no grupo dos Estados e do DF, e não no dos
Municípios em geral (art. 496, §3º, II e III do CPC).

Alternativa (C): incorreta. A alternativa transcreve o texto do CPC/1973, revogado. Atualmente,


a simples “jurisprudência” do Pleno do STF não é mais uma hipótese de dispensa de reexame
necessário. É necessário que o entendimento tenha passado por algum dos mecanismos formais
de “oficialização”, como a fixação em súmula, em julgamento de recursos repetitivos, em incidente
de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção de competência. Ou seja, não
basta a mera repetição de julgados no mesmo sentido (“jurisprudencial”). É necessária a fixação
de um paradigma oficial por estes mecanismos. Além disso, hoje, o CPC/2015 não fala em “súmula
do tribunal superior competente”, mas em “súmula de tribunal superior”.

Alternativa (D): incorreta. A primeira parte da alternativa reproduz texto do CPC/1973, revogado
(ver comentário da alternativa anterior). A segunda parte da alternativa está correta, exceto pelo uso
do termo “jurisprudência”, que tem significado de mera reiteração (não obrigatória) de julgamentos
no mesmo sentido. Os métodos de julgamentos de recursos repetitivos, incidentes de resolução de
demandas repetitivas e assunção de competência não são simples reiteração de julgamentos, mas
mecanismos legais de obrigatória replicação de um entendimento.

Alternativa (E): correta. O CPC/2015 expressamente exclui a remessa necessária nos casos
apontados, conforme disposto no art. 496, §4º, incisos I e IV, a saber:

Art. 496.  Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois
de confirmada pelo tribunal, a sentença: § 4º Também não se aplica o disposto neste
artigo quando a sentença estiver fundada em: I - súmula de tribunal superior;
(...) IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou
súmula administrativa.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

QUESTÃO 13. O Novo Código de Processo Civil trouxe importantes alterações em


matéria de condenação em honorários advocatícios contra as Fazendas Públicas, dentre as
quais é correto afirmar, exceto:

a) Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará
o mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido até 200.000 (duzentos mil) salários-mínimos.
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b) Os percentuais de fixação de honorários advocatícios devem ser aplicados desde


logo, quando for líquida a sentença; não sendo líquida a sentença, a definição do
percentual somente ocorrerá quando liquidado o julgado.

c) Os limites e critérios previstos para fixação de honorários advocatícios contra as


Fazendas Públicas aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da decisão,
inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.

d) Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda


Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.

e) Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda,
quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por
apreciação equitativa, observando o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e
o tempo exigido para o seu serviço.

COMENTÁRIO

O tema dos honorários advocatícios é de grande importância nos processos fazendários. Para
fins de concurso o tema exige apenas memorização do artigo 85 do CPC/15. Embora não seja
complexo, é um diferenciador entre os candidatos que estão estudando de forma específica para
a carreira de Advocacia Pública e, por isso, merece atenção. A peculiaridade da condenação da
Fazenda Pública se dá em razão da pré definição do montante de honorários a ser pago pelo
erário quando a Fazenda sucumbe. Há uma correlação entre valor da condenação e porcentual de
honorários previsto no art. 85 do CPC/15, confira:

Art. 85.  A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará
os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois
mil) salários-mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte
mil) salários-mínimos;

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IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000
(cem mil) salários-mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

Alternativa (A): incorreta. Há dois erros perceptíveis. O percentual de 10% a 20% é da primeira
faixa, de até 200 (duzentos) salários-mínimos, não até 200.000 (duzentos mil). Além disso, o maior
patamar previsto no CPC/2015 é de 100.000 (cem mil) salários-mínimos, não de 200.000 (duzentos
mil), conforme art. 85, §3º do CPC/2015, acima transcrito.

Alternativa (B): correta. Confira o art. 85, §4º, I e II, do CPC/2015:

Art. 85 (...) § 4º Em qualquer das hipóteses do § 3º (que estabelece os porcentuais


de honorários contra a fazenda pública): I - os percentuais previstos nos incisos I a
V devem ser aplicados desde logo, quando for líquida a sentença; II - não sendo
líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos previstos nos incisos I a
V, somente ocorrerá quando liquidado o julgado;

Alternativa (C): correta. Confira o art. 85, §6º do CPC/2015.

Art. 85 (...) § 6º  Os limites e critérios previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se


independentemente de qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de
improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.

Alternativa (D): correta. É o teor do art. 85, §7º do CPC/2015. Trata-se de reafirmação da previsão
do art. 1º-D da Lei 9.494/1997 o qual expressamente afirma que “ não serão devidos honorários
no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje expedição de precatório,
desde que não tenha sido impugnada”.

Alternativa (E): correta. É o teor do art. 85, §8º do CPC/2015. Trata-se de regra (de fixação
equitativa de honorários) igual à do art. 20 do CPC/1973 (revogado), a qual, hoje, que é reduzida
apenas para as hipóteses de condenação em valor irrisório, inestimável ou de muito baixo valor.

Art. 85 (...) § 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico
ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos
honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2º.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

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DIREITO EMPRESARIAL

QUESTÃO 14. Sobre a atividade empresarial do Estado, assinale a alternativa correta.

a) Os administradores das empresas públicas e sociedades de economia mista


devem apresentar reputação ilibada, notório conhecimento, experiência profissional,
formação acadêmica compatível com o cargo e não ser inelegível.

b) O Estado pode ser acionista único (empresa pública) ou acionista majoritário


(sociedade de economia mista), mas não acionista minoritário, de uma sociedade
empresária.

c) A empresa estatal tem por finalidade principal a persecução do interesse público,


nos termos das condutas fixadas pelo poder-dever discricionário do órgão de
Administração Pública direta a que estiver vinculada, ao qual deve obedecer em razão
do poder hierárquico.

d) As empresas estatais que exercem atividade econômica são sujeitas ao regime


próprio das empresas privadas, sem prejuízo da necessidade de adotar  licitação nas
contratações de obras, serviços, compras e alienações de produtos, serviços ou obras
especificamente relacionados com seus respectivos objetos sociais. 

e) Nos contratos das empresas estatais é facultada a cláusula de matriz de riscos,


que deve identificar o equilíbrio econômico financeiro inicial do contrato com vistas
a possíveis eventos supervenientes que possam impactar nos ônus financeiros
atribuídos a cada parte.

COMENTÁRIO

Com a recente edição da Lei 13.303/2016, o tema da atividade empresarial do Estado ganha
importância renovada nos concursos públicos. Atenção para alguns aspectos:

Alternativa (A): correta. Com o objetivo de inibir indicações de origem exclusivamente política,
tais critérios objetivos (reputação ilibada, notório conhecimento, experiência profissional, formação
acadêmica e elegibilidade) para indicação de administradores das empresas estatais (membros do
Conselho de Administração e diretorias) foram positivados no art. 17 da Lei 13.303/2016.

Alternativa (B): incorreta. O Estado pode ser acionista minoritário de empresa privada, especialmente
por meio da Administração Pública indireta empresarial, ou seja, por meio de empresas públicas
e sociedades de economia mista (art. 235, §2º da Lei 6.404/1976). “A participação minoritária do
Estado no capital da companhia, despida dos atributos inerentes ao controle acionário, cumpre
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a função básica de apoiar o empreendimento privado em setores chaves da economia nacional,


podendo estar acompanhada de poderes limitados de ingerência na condução dos negócios sociais.
Nesse caso, é comum o Estado utilizar como veículo do investimento acionário alguma agência
governamental especializada, ou sociedade holding integrante da administração pública. É possível
ainda o Estado exercer a condição de acionista não controlador apenas para a preservação de
interesses estratégicos nas empresas privatizadas, sem motivação específica de fomento” (PINTO
JR., Mario Engler. Empresa estatal: função econômica e dilemas societários. São Paulo: Altas,
2010, p. 191).

Alternativa (C): incorreta. A empresa estatal deve, sim, perseguir o interesse público, o que deve
ser feito de acordo com seu objeto social instituído por lei. O controle por parte da Administração
Direta se faz por intermédio de seus poderes-deveres de acionista, e não pelo poder hierárquico.
“O exercício da supervisão por vinculação da empresa pública ou da sociedade de economia mista,
pelo órgão a que se vincula, não pode ensejar a redução ou a supressão da autonomia conferida
pela lei específica que autorizou a criação da entidade supervisionada ou da autonomia inerente
a sua natureza, nem autoriza a ingerência do supervisor em sua administração e funcionamento,
devendo a supervisão ser exercida nos limites da legislação aplicável” (art. 89 da Lei 13.303/2016).

Alternativa (D): incorreta. Não se aplica o regime de licitações às “atividades-fim” das empresas
estatais, pois, do contrário, seria inviável sua prática em regime de mercado. Este entendimento foi
consolidado no art. 28, §3º, I da Lei 13.303/2016.

Alternativa (E): incorreta. A cláusula de matriz de risco é obrigatória, não facultativa. Conforme
art. 69, X da Lei 13.303/2016: “São cláusulas necessárias nos contratos disciplinados por esta Lei:
X - matriz de riscos”.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

QUESTÃO 15. Em matéria de insolvência empresarial, é correto afirmar, exceto:

a) Os credores de sociedade empresária falida devem ser satisfeitos na seguinte


ordem: credores de obrigações trabalhistas e acidentárias limitados a 150 salários
mínimos, credores com garantia real até o limite do bem gravado, credores de
obrigações tributárias e respectivas multas, credores com privilégio especial, credores
com privilégio geral, credores quirografários e credores subordinados.

b) A Lei de Falências e Recuperações (Lei 11.101/2005) não se aplica às empresas


públicas e sociedades de economia mista.

c) A subsidiária integral de sociedade de economia mista está sujeita ao regime


falimentar, que só exclui as sociedades de economia controladoras criadas por lei.
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d) A recuperação judicial de sociedade empresária que figura como devedora solidária


de empresa estatal não impede que os credores exijam desta a satisfação total da
obrigação devida.

e) Os microempresários e empresários de pequeno porte têm a opção de adotar um


regime especial de recuperação judicial que abrangerá   os créditos existentes na
data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados, entre outros, os decorrentes de
repasse de recursos oficiais e os fiscais.

COMENTÁRIO

Com a recente edição da Lei 13.303/2016, o tema da atividade empresarial do Estado ganha
importância renovada nos concursos públicos. Atenção para alguns aspectos:

Alternativa (A): incorreta. Não há limite para o crédito das obrigações decorrentes de acidentes do
trabalho (“acidentárias”), ao contrário dos créditos trabalhistas, estes sim limitados a 150 salários-
mínimos. Não está no mesmo patamar o crédito tributário e a respectiva multa, a qual só é satisfeita
antes dos créditos subordinados. A memorização destas regras é frequentemente cobrada nas
provas de concurso:
 Trabalhistas até 5 salários-mínimos referentes aos 3 meses anteriores à falência
(doutrina: honorários advocatícios inclusive) (LRF, art. 151)
 Restituições de quem tinha bens em posse do falido (LRF, art. 86)
 Extraconcursais (“credores da própria massa”, o que inclui os créditos tributários da
massa) (LRF, art. 84)
 Concursais (“credores do falido”) (LRF, art. 83) ― Nesta ordem:
 Trabalhistas até 150 salários-mínimos + acidentários sem limite
 Garantia real (até o limite do valor do bem gravado)
 Créditos tributários, com correção monetária e juros de mora, exceto as respectivas
multas (União e autarquias > Estados e autarquias pro rata > Municípios e autarquias
pro rata)
 Privilégio especial conforme leis civis e comerciais
 Privilégio geral conforme lei civil (inclui os credores quirografários que continuaram
fornecendo mesmo após a falência)
 Quirografários (ou seja, os não previstos acima)
 Multas contratuais, penais, administrativas, tributárias inclusive
 Subordinados conforme lei ou contrato = créditos dos sócios e administradores não-
empregados

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Alternativa (B): correta. Confira o art. 2º, I da Lei 11.101/2005.

Art. 2º Esta Lei não se aplica a: I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade
de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde,
sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores.

Alternativa (C): correta. “Falência. Subsidiária integral de sociedade de economia mista. [...]. Art.
242 da Lei nº 6.404/76. 1. A subsidiária integral de sociedade de economia mista está sujeita ao
regime falimentar, que só excluía as sociedades de economia controladoras criadas por lei. 2. [...]”
(STJ, REsp 729779-RJ, Rel. Min. Menezes Direito, 3ª Turma, j. 16-02-2006, DJ 22-05-2006). “O
que cobria a imunidade diante da Lei de Falências era a criação por lei da sociedade economia
mista, como a Petrobrás. A subsidiária, entretanto, não foi criada por lei, mas, sim, mediante os
atos formais para criação de uma sociedade-anônima, embora a autorização para que a sociedade
assim estivesse plantada na lei. Se a empresa ré não era criada por lei, não havia razão alguma
para confundir os dois tipos, quais sejam, aquele oriundo de lei específica e aquele oriundo de
ato formal próprio, o primeiro a sociedade de economia mista propriamente dita e o segundo a
subsidiária integral, ou não. O primeiro tinha a proteção legal, não o segundo. Por esse motivo,
quando do ajuizamento da ação, a empresa ré já estava subordinada ao regime da lei falimentar”
(STJ, EREsp 642324, Rel. Min. Castro Meire, Decisão Monocrática, j. 07-05-2010, DJ 12-05-2010)

Alternativa (D): correta. Súmula 581-STJ (aprovada em 14/09/2016, DJe 19/09/2016, Informativo
590): “A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e
execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia
cambial, real ou fidejussória”.

Alternativa (E): correta. Além da chamada “recuperação judicial ordinária”, está à disposição das
microempresas e empresas de pequeno porte a chamada “recuperação judicial especial”, previsto
no art. 70 da Lei 11.101/2005, com redação alterada pela Lei Complementar 147/2014. Entre as
alterações, destacam-se (i) a ampliação do rol dos credores que podem fazer parte do plano de
recuperação, antes restrito aos credores quirografários, agora estendido a todos os credores do
art. 83 da lei (= “credores do falido”); (ii) a previsão expressa de que não se inclui neste plano os
créditos fiscais, ao lado de outros que já estavam expressamente excluídos, como os créditos
decorrentes de repasses oficiais, os créditos fiduciários e créditos de adiantamento a contrato de
câmbio para exportação.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

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PROFESSOR: RODOLFO CURSINO


E-mail: profcei.rodolfocursino@gmail.com

DIREITO AMBIENTAL

QUESTÃO 16. Sobre os Princípios da Precaução e da Prevenção:

a) O Princípio da Precaução necessita, para sua aplicação, da existência de informações


certas e seguras sobre determinadas práticas ambientais.

b) O Princípio da Precaução corresponde à necessidade de o Poder Público, através


de audiências públicas, ouvir a população diretamente interessada com a atividade
a ser instalada na referida área, precavendo-se, assim, quanto a efeitos negativos
decorrentes de sua implementação.

c) Pela aplicação do Princípio da Prevenção, busca-se, apenas, a realização de


verdadeira educação ambiental e informar a sociedade acerca dos possíveis danos da
prática de determinadas atividades potencialmente poluidoras, com o intuito, assim,
de prevenir um maior dano à população.

d) O Princípio da Prevenção se relaciona intrinsecamente com a existência de uma


certeza cientifica, conhecendo-se, assim, previamente, as consequências resultantes
da implantação de determinadas atividades.

e) Ao passo em que o princípio da prevenção se destina ao controle das atividades


públicas e privadas, o princípio da precaução apenas se relaciona com a implementação
de políticas públicas pelos entes estatais.

COMENTÁRIO

Analisamos, na questão, dois dos principais princípios do Direito Ambiental, e de grande incidência
nas provas de concursos públicos. Os princípios da Prevenção e da Precaução.

Alternativa (A): incorreta. No princípio da Precaução, não há conhecimento sobre as consequências


da atividade, de forma que se deve adotar uma conduta cautelosa e precavida, utilizando-se de
medidas que possam prever, minimizar e até evitar esses possíveis danos.

Alternativa (B): incorreta. Tal atividade se relaciona com os princípios da informação, educação
ambiental e participação popular.

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Alternativa (C): incorreta. A aplicação do referido princípio não se limita à mera informação à
sociedade, mas a verdadeira inibição da prática de determinada atividade ou adoção de medidas
efetivas que visam evitar que o dano cientificamente previsto venha a se produzir.

Alternativa (D): correta. Essa é a verdadeira definição dada ao Princípio da Prevenção.

Alternativa (E): incorreta. A assertiva traz uma afirmação inverídica e que não possui qualquer
relação com os princípios em estudo.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

QUESTÃO 17. Sobre a Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005) e o controle de


organismos geneticamente modificados, assinale a alternativa incorreta:

a) Considerando as incertezas científicas sobre os impactos ambientais e à saúde


humana que permeiam o uso da biotecnologia e dos organismos geneticamente
modificados, referida utilização deve tomar por base o princípio da precaução.

b) Segundo a legislação de regência, organismos geneticamente modificados são


aqueles cujo material genético – ADN/ARN – tenha sido modificado por qualquer
técnica de engenharia genética.

c) Tratando-se de embriões considerados inviáveis, é permitida, para fins de pesquisa


e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos
produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,
dispensando-se o consentimento dos genitores.

d) O Supremo Tribunal Federal já declarou a constitucionalidade do uso de células-


tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos.

e) Embora permita o uso de células-tronco, a legislação proíbe, expressamente, o seu


uso para fins de clonagem humana.

COMENTÁRIO

O tema da biossegurança e controle dos organismos geneticamente modificados, embora não


esteja presente na maioria dos programas de Direito Ambiental das Procuradorias municipais e
estaduais, consta do edital do último concurso da Procuradoria Geral Federal, sendo importante,
portanto, sua revisão. Vejamos as assertivas:

Alternativa (A): correta. Como cediço, o princípio da precaução está relacionado com a incerteza
científica dos impactos, de forma que se deve adotar verdadeira cautela nos usos dos recursos. É
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o caso dos organismos geneticamente modificados, cujas consequências de uso ainda não foram
totalmente aferidas, a ponto de gerar incerteza científica.

Alternativa (B): correta. Este é o conceito legal trazido pelo artigo 3º, inciso V, da Lei nº 11.105/2005.

Alternativa (C): incorreta. O artigo 5º, da Lei nº 11.105/2005, regula a utilização de células-tronco
embrionárias para fins de pesquisa e terapia. São requisitos para sua utilização: a) sejam embriões
inviáveis ou sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação da referida
Lei, ou que, já congelados na data da publicação da referida Lei, depois de completarem 3 (três)
anos, contados a partir da data de congelamento; e b) haja consentimento dos genitores. É neste
ponto que a assertiva se encontra incorreta.

Alternativa (D): correta. É o que fora decidido pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 3510. Pela
importância do tema, recomendamos a leitura da respectiva ementa. Tendo em vista sua extensão,
veicularemos apenas os trechos mais relevantes para a questão:

(...) LEGITIMIDADE DAS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS


PARA FINS TERAPÊUTICOS E O CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. A pesquisa
científica com células-tronco embrionárias, autorizada pela Lei n° 11.105/2005, objetiva
o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que severamente limitam,
atormentam, infelicitam, desesperam e não raras vezes degradam a vida de expressivo
contingente populacional (ilustrativamente, atrofias espinhais progressivas, distrofias
musculares, a esclerose múltipla e a lateral amiotrófica, as neuropatias e as doenças
do neurônio motor). A escolha feita pela Lei de Biossegurança não significou um
desprezo ou desapreço pelo embrião “in vitro”, porém uma mais firme disposição
para encurtar caminhos que possam levar à superação do infortúnio alheio. Isto no
âmbito de um ordenamento constitucional que desde o seu preâmbulo qualifica “a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça”
como valores supremos de uma sociedade mais que tudo “fraterna”. O que já significa
incorporar o advento do constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir
verdadeira comunhão de vida ou vida social em clima de transbordante solidariedade
em benefício da saúde e contra eventuais tramas do acaso e até dos golpes da própria
natureza. Contexto de solidária, compassiva ou fraternal legalidade que, longe de
traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embriões “in vitro”, significa apreço e
reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam. Inexistência de ofensas
ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-
tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam)
significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do
exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade.
(...) VII - O DIREITO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO CIENTÍFICA
E A LEI DE BIOSSEGURANÇA COMO DENSIFICAÇÃO DESSA LIBERDADE. O termo
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“ciência”, enquanto atividade individual, faz parte do catálogo dos direitos fundamentais
da pessoa humana (inciso IX do art. 5º da CF). Liberdade de expressão que se afigura
como clássico direito constitucional-civil ou genuíno direito de personalidade. Por isso que
exigente do máximo de proteção jurídica, até como signo de vida coletiva civilizada. Tão
qualificadora do indivíduo e da sociedade é essa vocação para os misteres da Ciência
que o Magno Texto Federal abre todo um autonomizado capítulo para prestigiá-la por
modo superlativo (capítulo de nº IV do título VIII). A regra de que “O Estado promoverá
e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas”
(art. 218, caput) é de logo complementada com o preceito (§ 1º do mesmo art. 218)
que autoriza a edição de normas como a constante do art. 5º da Lei de Biossegurança.
A compatibilização da liberdade de expressão científica com os deveres estatais
de propulsão das ciências que sirvam à melhoria das condições de vida para
todos os indivíduos. Assegurada, sempre, a dignidade da pessoa humana, a
Constituição Federal dota o bloco normativo posto no art. 5º da Lei 11.105/2005
do necessário fundamento para dele afastar qualquer invalidade jurídica (Ministra
Cármen Lúcia). VIII - SUFICIÊNCIA DAS CAUTELAS E RESTRIÇÕES IMPOSTAS
PELA LEI DE BIOSSEGURANÇA NA CONDUÇÃO DAS PESQUISAS COM CÉLULAS-
TRONCO EMBRIONÁRIAS. A Lei de Biossegurança caracteriza-se como regração
legal a salvo da mácula do açodamento, da insuficiência protetiva ou do vício da
arbitrariedade em matéria tão religiosa, filosófica e eticamente sensível como a da
biotecnologia na área da medicina e da genética humana. Trata-se de um conjunto
normativo que parte do pressuposto da intrínseca dignidade de toda forma de
vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. A Lei de Biossegurança não
conceitua as categorias mentais ou entidades biomédicas a que se refere, mas nem por
isso impede a facilitada exegese dos seus textos, pois é de se presumir que recepcionou
tais categorias e as que lhe são correlatas com o significado que elas portam no âmbito
das ciências médicas e biológicas. IX - IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO (...) (ADI 3510,
Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 29/05/2008, DJe-096
DIVULG 27-05-2010 PUBLIC 28-05-2010 EMENT VOL-02403-01 PP-00134 RTJ VOL-
00214-01 PP-00043)

Alternativa (E): correta. É a proibição que consta expressamente do artigo 6º, inciso IV, da lei em
estudo.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

DIREITO TRIBUTÁRIO

QUESTÃO 18. Sobre a Ação Cautelar Fiscal (Lei nº 8.397/92), assinale a alternativa
incorreta:
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a) São requisitos para a concessão da medida cautelar a prova documental da


ocorrência de uma de suas hipóteses de cabimento e a prova literal da constituição do
crédito fiscal.

b) A jurisprudência majoritária se posicionou no sentido de que a constituição do


crédito fiscal, para fins de ajuizamento da medida cautelar, não necessita ser definitiva,
sendo possível sua propositura quando ainda não esgotadas todas as etapas do
processo administrativo.

c) Nos casos em que o contribuinte for notificado pela Fazenda Pública para que
proceda ao recolhimento do crédito fiscal e coloque ou tente colocar seus bens em
nome de terceiros, não é necessária a comprovação literal de constituição do crédito.

d) A medida cautelar fiscal pode ser preparatória ou incidental, devendo sempre ser
dirigida ao juízo competente para o processamento das execuções fiscais, ainda que
os autos se encontrem em Tribunal.

e) O eventual indeferimento da medida cautelar fiscal não obsta a que a Fazenda


Pública ajuíze a execução fiscal, não influencia no julgamento desta e nem sobre ela
faz coisa julgada, salvo se o Juiz, nos autos da cautelar fiscal, acolher alegação que
acarrete a extinção da pretensão.

COMENTÁRIO

Abordamos, aqui, a Ação Cautelar Fiscal, ação utilizada pelas Procuradorias, e com previsão em
diversos programas de Direito Tributário de concursos públicos. Em síntese, corresponde a uma
ação que pode ser ajuizada em face dos contribuintes, com o fim de garantir a execução fiscal
de crédito tributário e não tributário, quando se constata uma situação em que o contribuinte age
de forma a prejudicar a recuperação do crédito público, como a dilapidação do seu patrimônio,
tentativa de se ausentar para não pagar o débito, etc. Vejamos, nas assertivas, algumas das
principais características.

Alternativa (A): correta. É o que consta expressamente do artigo 3º, da Lei nº 8.397/92.

Alternativa (B): correta. Neste sentido se posicionou o STJ no AgRg no REsp 1497290/PR, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/02/2015, DJe 20/02/2015.
Admite-se, assim, que o crédito tenha sido lançado pelo Fisco, através de um auto de infração,
por exemplo, mas ainda esteja na pendência dos trâmites administrativos seguintes, tal como
no aguardo de julgamento de eventuais recursos administrativos. Atente-se que, embora seja o
entendimento atualmente majoritário, já houve decisões anteriores proferidas pelo próprio STJ em
sentido contrário, sob o argumento de que o recurso administrativo suspenderia a exigibilidade do
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crédito tributário.

Alternativa (C): correta. A própria legislação, em seu artigo 1º, parágrafo único, dispensa o requisito
da prova literal da constituição do crédito fiscal quando se tratar das hipóteses previstas nos inciso
V, alínea b, e VII, do artigo 2º, da Lei nº 8.397/92.

Alternativa (D): incorreta. É possível que a medida seja preparatória ou incidental, e a regra é sua
distribuição ao juízo competente para processamento das execuções fiscais. Ocorre que, por força
do artigo art. 5º, parágrafo único, da lei em estudo, se a execução judicial estiver em Tribunal, será
competente o relator do recurso.

Alternativa (E): correta. É o que consta expressamente do artigo 15º, da Lei nº 8.397/92, sendo a
interferência na execução fiscal verdadeira exceção.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

QUESTÃO 19. Sobre o ICMS, considerando o ordenamento jurídico brasileiro e o


entendimento dos superiores tribunais, assinale a alternativa incorreta:

a) Em regra, o que for devido a título de ICMS deve ser compensado em cada operação
relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante já
cobrado nas operações anteriores.

b) Ainda que a operação seja objeto de isenção ou não incidência, é possível que
gere crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações
seguintes.

c) Em regra, a isenção ou a não incidência acarretará a anulação do crédito relativo às


operações anteriores.

d) No regime da substituição tributária progressiva, em caso de não realização do fato


gerador presumido, é assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga.

e) Para o STF, não é devida a restituição da diferença do ICMS pago a maior, no regime
da substituição tributária para frente, caso a base cálculo efetiva da operação seja
inferior à presumida.

COMENTÁRIO

Na questão, abordamos o ICMS e as hipóteses em que poderá haver a sua restituição da quantia
recolhida. Destaca-se, inclusive, recente julgamento do STF sobre o assunto em estudo.

Alternativa (A): correta. Trata-se da chamada regra da não-cumulatividade, bem definida na


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assertiva. Sua previsão se encontra no artigo 155, , inciso I, da Constituição Federal de 1988.

Alternativa (B): correta. Via de regra, sendo a operação isenta ou gozando de não incidência, ela
não gerará créditos para abater o montante devido nas operações seguintes. No entanto, a própria
Constituição Federal de 1988, ao se referir a “salvo determinação em contrário da legislação”, em
seu artigo 155, § , inciso II, da Constituição Federal de 1988, abriu a possibilidade para a geração
do mencionado crédito.

Alternativa (C): correta. Trata-se da previsão contida no artigo 155, , inciso II, alínea “b” da
Constituição Federal de 1988.

Alternativa (D): correta. É o que dispõe o artigo seu artigo 150, , da Constituição Federal de 1988,
que regula a substituição tributária progressiva.

Alternativa (E): incorreta. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal, pelo seu Plenário, decidiu
que “é devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) pago a mais, no regime de substituição tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva
da operação for inferior à presumida”. Pela importância do tema e sua atualidade, válida a leitura
do Informativo nº844/STF:

Substituição tributária e restituição - 15

É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e


Serviços (ICMS) pago a mais, no regime de substituição tributária para a frente, se a
base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria e em conclusão, julgou


improcedentes os pedidos formulados em ações diretas de inconstitucionalidade. Assim,
declarou constitucionais o art. 19, II da Lei 11.408/1996 do Estado de Pernambuco e o
art. 66-B, II, da Lei 6.374/1989 do Estado de São Paulo, com redação dada pela Lei
estadual paulista 9.176/1995. Os referidos diplomas legais asseguram a restituição do
ICMS pago antecipadamente no regime de substituição tributária, nas hipóteses em que
a base de cálculo da operação for inferior à presumida — v. Informativos 331, 332, 397,
428, 443 e 455.

O Tribunal observou haver distinção substancial entre a ADI 1.851/AL (DJU de 15.5.2003)
e as presentes ações diretas, razão pela qual a afastou como paradigma destes
julgamentos. Naquele caso, o contribuinte poderia optar pelo regime de substituição
tributária com o benefício fiscal da redução da base de cálculo, porém sem a possibilidade
de restituição, se o fato gerador ocorrer em valor menor comparado ao presumido.

Ademais, ainda que tratassem da mesma questão, o Supremo Tribunal Federal poderia
rediscutir o § 7º do art. 150 da Constituição, pois o efeito vinculante conferido àquela
decisão estaria limitado aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo,
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mas não à Suprema Corte.

As hipóteses de substituição tributária aqui discutidas são obrigatórias e não envolvem


nenhum benefício fiscal, mas visam a assegurar a máxima arrecadação pelo Estado.
Isso ocorre em virtude da antecipação ficta do fato gerador e da transferência da
responsabilidade pelo recolhimento do imposto. Caso não ocorra o fato gerador no
valor presumido, o Estado tem o dever de restituir o montante pago a maior, por não
ter competência constitucional para a retenção da diferença, sob pena de violação ao
princípio constitucional da vedação ao confisco.

Além disso, o Tribunal afastou a alegação de que a restituição implicaria a inviabilidade


do sistema de substituição tributária.

Vencidos, em ambas as ações, os ministros Nelson Jobim, Eros Grau, Gilmar Mendes,
Sepúlveda Pertence e Ellen Gracie, que julgavam procedentes os pedidos.

ADI 2675/PE, rel. min. Ricardo Lewandowski, 19.10.2016. (ADI-2675) ADI 2777/SP, rel.
orig. min. Cezar Peluso, red. p/ o ac. min. Ricardo Lewandowski, 19.10.2016. (ADI-2777)

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

QUESTÃO 20. Considere o seguinte caso hipotético: “João, comerciante,


conscientemente, com o intuito de pagar menos impostos, omitia, em suas declarações,
alguns fatos geradores e respectivos valores a serem recolhidos”. João não será
responsabilizado por infrações caso:

I. Declare os débitos omitidos e realize o seu parcelamento, desde que ainda não
tenha sido iniciado procedimento de fiscalização.

II. Declare os débitos omitidos e realize o pagamento do tributo devido e dos juros
de mora, desde que ainda não tenha sido iniciado procedimento de fiscalização.

III. Declare os débitos omitidos e realize o pagamento do tributo devido e dos juros
de mora, ainda que já tenha sido iniciado procedimento de fiscalização.

IV. Declare os débitos omitidos e realize o depósito judicial integral do débito


tributário e dos respectivos juros de mora, ainda que não tenha sido iniciado qualquer
procedimento de fiscalização.

Assinale a única alternativa em todos os itens se encontram corretos:

a) I, II e IV.

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b) II.

c) I e IV.

d) III e IV.

e) II e IV.

COMENTÁRIO

Tratamos, na questão, da denúncia espontânea, inserido no tema de Responsabilidade Tributária.


Sua previsão legal se encontra no artigo 138 do Código Tributário Nacional. Vejamos as assertivas.

Item (I): incorreta. De fato, para que não haja a responsabilização tributária por infrações e seja
aceita a denúncia espontânea, deve o sujeito passivo agir antes de iniciado quaisquer procedimentos
ou atos relacionados à fiscalização. Ocorre que, por disposição expressa do dispositivo legal acima
mencionado, para a configuração da denúncia espontânea, deve haver o “pagamento do tributo
devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa,
quando o montante do tributo dependa de apuração”. Neste contexto, o Superior Tribunal de Justiça,
em sede de Recurso Repetitivo, já decidiu que o parcelamento não é equiparado a pagamento
para fins de denúncia espontânea:

“1. O instituto da denúncia espontânea (art. 138 do CTN) não se aplica nos casos de
parcelamento de débito tributário. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 22/04/2009, DJe 18/05/2009)”.

Item (II): correta. É exatamente o que se infere da previsão do artigo 138, do Código Tributário
Nacional.

Item (III): incorreta. Conforme mencionado no item I, dois são os requisitos para a denúncia
espontânea: a) pagamento do débito e juros; e b) realizá-lo antes de iniciado qualquer ato de
investigação. É neste segundo ponto que a alternativa se encontra incorreta.

Item (IV): incorreta. Nesta assertiva, a dúvida estaria no fato de se questionar se o depósito judicial
integral teria o mesmo efeito de pagamento, para fins de denúncia espontânea. Ao se deparar com
o tema, o Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que “o depósito judicial integral do
débito tributário e dos respectivos juros de mora, mesmo antes de qualquer procedimento do Fisco
tendente à sua exigência, não configura denúncia espontânea (art. 138 do CTN)”. Para melhor
compreender o importante e recente julgado, vejamos a esclarecedora ementa:

DIREITO TRIBUTÁRIO. DEPÓSITO JUDICIAL INTEGRAL DOS TRIBUTOS DEVIDOS


E DENÚNCIA ESPONTÂNEA. O depósito judicial integral do débito tributário e dos
respectivos juros de mora, mesmo antes de qualquer procedimento do Fisco tendente
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à sua exigência, não configura denúncia espontânea (art. 138 do CTN). A doutrina
entende que o instituto previsto no art. 138 do CTN (denúncia espontânea) demanda
três elementos para a sua configuração, quais sejam: (a) a denúncia da infração; (b) o
pagamento do tributo, se for o caso, e respectivos juros de mora; (c) espontaneidade,
definida pelo parágrafo único do referido dispositivo como a providência tomada antes do
início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização relacionados
com a infração. Além disso, convém apontar que o instituto da denúncia espontânea
é costumeiramente tratado pela doutrina com enfoque axiológico no comportamento
considerado moral e adequado do infrator adiantar-se de forma espontânea à
Administração Tributária, denunciar-se e, se for o caso, pagar o tributo devido. Ou seja,
a conduta ética é traduzida em arrependimento e sinceridade do contribuinte e traz a
ele o benefício da exclusão da responsabilidade pela infração, em verdadeiro perdão
concedido pela Lei. Contudo, além do campo valorativo, ético e filosófico sobre o qual está
alicerçada a denúncia espontânea, deve-se analisar o aspecto econômico que também
permeia o instituto em questão, ainda que de forma implícita. Segundo entendimento
doutrinário, a denúncia espontânea opera-se sob a ótica da relação custo-benefício para
a Administração Tributária, tendo em vista que a antecipação do pagamento do tributo
pelo contribuinte, sem o prévio exame da autoridade, somando-se à obrigação tributária
acessória de entregar documento no qual é feita a declaração e a confissão de débito,
tendo por consequência a constituição do crédito tributário, substitui, nessa medida,
o lançamento que deveria ser realizado pela autoridade administrativa. O referido
procedimento identifica-se como política tributária que diminui o custo administrativo
(custo da Administração Tributária) e impõe um novo custo de conformidade ao
contribuinte, aumentando seu custo total. Ademais, após a análise do julgamento do
REsp 962.379-RS (DJe 28/10/2010), julgado conforme o rito do art. 543-C do CPC, e do
exame da Súmula n. 360 do STJ (“O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos
tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a
destempo”), a doutrina aponta que o STJ somente admite a denúncia espontânea quando
o Fisco é preservado dos custos administrativos de lançamento. Dito de outra forma,
não há denúncia espontânea quando o tributo sujeito a lançamento por homologação
é declarado pelo contribuinte e pago com atraso, uma vez que nessa hipótese já se
parte do pressuposto de que não haverá custo administrativo porque o tributo já se
encontra em condições de cobrança, haja vista ter sido constituído pelo contribuinte via
declaração. Nessa linha intelectiva, quando se tratar de tributo sujeito a lançamento por
homologação já declarado pelo contribuinte e pago com atraso, não há vantagem para
o Fisco em eliminar a multa, porque o custo administrativo já não existe de antemão,
uma vez que se verifica a ausência da relação de troca entre custo de conformidade e
custo administrativo, diferentemente do que ocorre na falta de declaração e confissão do
tributo. Na última hipótese, seria possível a denúncia espontânea, uma vez configurados
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os demais requisitos previstos no art. 138 do CTN, pois a antecipação do contribuinte


em denunciar-se e pagar o tributo devido e respectivos juros de mora na forma do
referido dispositivo pouparia a Administração Tributária dos custos administrativos de
fiscalização, constituição e cobrança dos créditos. Portanto, a referida relação de troca
se evidencia na exclusão da multa pela denúncia espontânea em razão da ausência
de movimentação da máquina fiscalizatória da Administração Tributária. À toda
evidência o depósito judicial integral do tributo devido e dos respectivos juros de mora,
a despeito de suspender a exigibilidade do crédito, na forma do art. 151, II, do CTN, não
implicou relação de troca entre custo de conformidade e custo administrativo a atrair
caracterização da denúncia espontânea prevista no art. 138 do CTN, sobretudo porque,
constituído o crédito pelo depósito, pressupõe-se a inexistência de custo administrativo
para o Fisco já eliminado de antemão. Dessa forma, a denúncia espontânea somente
se configura quando a Administração Tributária é preservada dos custos administrativos
correspondentes à fiscalização, constituição, administração, cobrança administrativa e
cobrança judicial dos créditos tributários. Assim é a denúncia espontânea: uma relação
de troca entre o custo de conformidade (custo suportado pelo contribuinte para se
adequar ao comportamento exigido pelo Fisco) e o custo administrativo (custo no qual
incorre a máquina estatal para as atividades acima elencadas) balanceada pela regra
prevista no art. 138 do CTN. No caso em análise, além de não haver relação de troca
entre custo de conformidade e custo administrativo a atrair caracterização da denúncia
espontânea, na hipótese, houve a criação de um novo custo administrativo para a
Administração Tributária em razão da necessidade de ir a juízo para discutir o crédito
tributário cuja exigibilidade encontra-se suspensa pelo depósito, ao contrário do que
ocorre, v.g., em casos ordinários de constituição de crédito realizado pelo contribuinte
pela entrega da declaração acompanhada do pagamento integral do tributo. Por fim,
observe-se que o atual entendimento de ambas as Turmas de Direito Público desta
Corte (AgRg nos EDcl no REsp 1.167.745-SC, Primeira Turma, DJe 24/5/2011- e AgRg
no AREsp 13.884-RS, Segunda Turma, DJe 8/9/2011) é no sentido de que apenas o
pagamento integral do débito que segue à sua confissão é apto a dar ensejo à denúncia
espontânea. Precedente citado: REsp 1.340.174-PR, Segunda Turma, DJe 28/9/2015.
(EREsp 1.131.090-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/10/2015, DJe
10/2/2016).

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

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PROFESSOR: JORGE OTTONI


E-mail: profcei.jorgeottoni@gmail.com

DIREITO ADMINISTRATIVO

QUESTÃO 21. Acerca dos princípios do Direito Administrativo, assinale a alternativa


correta:

a) Tendo em vista o princípio da legalidade, que rege a Administração Pública como


vinculação positiva da Administração à lei, pode-se dizer que, para a doutrina mais
moderna do Direito Administrativo brasileiro, a atividade administrativa se dá nos
estritos limites da aplicação da lei, sem qualquer papel criativo por parte do aplicador
do Direito.

b) Qualquer interessado, devidamente identificado, pode solicitar as informações de


interesse público perante as entidades públicas ou privadas, podendo ser exigida para
tanto a motivação do interesse do particular nas informações requeridas.

c) Uma das aplicações do princípio da continuidade é a inoponibilidade imediata, nos


contratos administrativos, da exceção do contrato não cumprido pelo particular em
face da Administração Pública.

d) O princípio da impessoalidade traz como única acepção a necessidade de respeito


à isonomia no tratamento que a Administração deve dar aos particulares, ao passo
que a vedação à promoção pessoal de agentes públicos está ligada ao princípio da
moralidade, mas não à impessoalidade propriamente.

e) O princípio da segurança jurídica, ainda que tenha grande importância no âmbito


do Direito Administrativo, não pode justificar a estabilização de atos administrativos
inválidos.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. Na doutrina clássica e na praxe jurídica brasileira prevalece a ideia
da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a ideia de que a atuação do administrador
depende de prévia previsão legal para ser legítima. Na célebre lição de Hely Lopes Meirelles:
“Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 82).
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Todavia, o princípio da legalidade deve ser reinterpretado a partir do fenômeno da constitucionalização


do Direito Administrativo, com a relativização da concepção da vinculação positiva do administrador
à lei.

“Em primeiro lugar, não é possível conceber a atividade administrativa como mera
executora mecânica da lei, sem qualquer papel criativo por parte do aplicador do
Direito, sob pena de se tornar desnecessária a atividade regulamentar. A aplicação da
lei, tanto pelo juiz como pela Administração Pública, depende de um processo criativo-
interpretativo, sendo inviável a existência de lei exaustiva o bastante que dispense o
papel criativo do operador do Direito. De fato, o que pode variar é o grau de liberdade
conferida pela norma jurídica”. (OLIVEIRA, Rafael Carvalho Resende. Curso de Direito
Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 62).

Isso se verifica, ainda, no atual contexto de a crise da concepção liberal do princípio da legalidade,
caracterizada pela noção de que “a atuação administrativa deve ser pautada não apenas pelo
cumprimento da lei, mas também pelo respeito aos princípios constitucionais, com o objetivo de
efetivar os direitos fundamentais” (OLIVEIRA, op. cit., p. 62).

Assim, exige-se uma adequação da atuação administrativa à lei e ao direito (art. 2º, parágrafo
único, I, da Lei 9.784/1999), ao chamado “bloco de legalidade” (que abrange as diversas normas
do ordenamento jurídico), configurando a ideia de princípio da juridicidade, mais amplo, portanto,
que o da legalidade.

Está, portanto, incorreta a afirmativa, ao apontar que, para a doutrina mais recente do Direito
Administrativo brasileiro, a atividade administrativa se daria nos estritos limites da aplicação da lei,
sem qualquer papel criativo por parte do aplicador.

Alternativa (B): incorreta. O erro da alternativa está em afirmar que pode ser exigida motivação
para o acesso a informação. Na verdade, a Lei de Acesso à informação veda quaisquer exigências
de motivação. Vejamos o disposto no art. 10, §3º da Lei 12.527/11:

Art. 10.  Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações aos
órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o
pedido conter a identificação do requerente e a especificação da informação requerida. 

§ 3º  São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da


solicitação de informações de interesse público. 

O certo é que qualquer interessado, devidamente identificado, independentemente de motivação,


pode solicitar as informações de interesse público perante as entidades públicas ou privadas (arts.
1º, 2º e 10 da LAI).

Lembrando que a regra do acesso à informação é excepcionada em duas hipóteses (OLIVEIRA, op.
cit., p. 64): a) informações classificadas como sigilosas, consideradas imprescindíveis à segurança
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da sociedade ou do Estado (art. 23 da LAI); e b) informações pessoais relacionadas à intimidade,


vida privada, honra e imagem.

Alternativa (C): correta. De fato, é o princípio da continuidade do serviço público (chamado por
alguns autores, como Alexandre Aragão, de continuidade das atividades administrativas), que
justifica essa prerrogativa da Administração nos contratos administrativos. Nesse sentido é a lição
de Alexandre Aragão:

Outro exemplo de aplicação do Princípio da Continuidade, também em ponderação/


mitigação com direitos do particular, é a inoponibilidade imediata, nos contratos
administrativos, da exceção do contrato não cumprido (art. 78, XV, da Lei n. 8.666/93).
Em um contrato privado, se uma das partes contratantes deixa de cumprir com sua
prestação, a outra pode se recusar a cumprir a sua. No entanto, caso uma das partes
contratantes seja a Administração Pública, muito embora ela esteja inadimplente (por
exemplo, por estar com os pagamentos atrasados), a empresa contratada deverá
continuar fornecendo o serviço pelo prazo de noventa dias, sem poder opor a exceção do
contrato não cumprido. (ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo.
Rio de Janeiro, Forense, 2013, p. 206).

Alternativa (D): incorreta. Na verdade, tanto a necessidade de respeito à isonomia para com os
administrados quanto a vedação à promoção pessoal de agentes públicos são emanações do
princípio da impessoalidade. Conforme clarifica Rafael Oliveira: “O princípio da impessoalidade,
consagrado expressamente no art. 37 da CRFB, possui duas acepções possíveis:

a) igualdade (ou isonomia): a Administração Pública deve dispensar tratamento


impessoal e isonômico aos particulares, com o objetivo de atender a finalidade pública,
sendo vedada a discriminação odiosa ou desproporcional (ex.: art. 37, II, da CRFB:
concurso público, art. 37, XXI, da CRFB: licitação, art. 100 da CRFB: precatório), salvo
o tratamento diferenciado entre pessoas que estão em posição fática de desigualdade,
com o objetivo de efetivar a igualdade material (ex.: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.º, § 2.º,
da Lei 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos para portadores
de deficiência, art. 230, § 2.º, da CRFB e art. 39 da Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso:
gratuidade no transporte público para idosos); e

b) proibição de promoção pessoal: as realizações públicas não são feitos pessoais dos
seus respectivos agentes, mas, sim, da respectiva entidade administrativa, razão pela
qual a publicidade dos atos do Poder Público deve ter caráter educativo, informativo
ou de orientação social, “dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos” (art. 37, § 1.º, da
CRFB)” (OLIVEIRA, op. cit., p 63).

Alternativa (E): incorreta. Na verdade, a segurança jurídica pode sim fundamentar a manutenção de
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atos administrativos inválidos, tendo em vista a importância da estabilidade das relações jurídicas.

Nesse sentido é a lição de Hely Lopes Meirelles, ao afirmar que “a prescrição administrativa e a
judicial impedem a anulação do ato no âmbito da Administração ou pelo Poder Judiciário. E justifica-
se essa conduta porque o interesse da estabilidade das relações jurídicas entre o administrado e a
Administração é também interesse público, tão relevante quanto os demais. Diante disto, impõe-se
a estabilização dos atos que superem os prazos admitidos para sua impugnação, qualquer que
seja o vício que se lhes atribua. Quando se diz que atos nulos podem ser invalidados a qualquer
tempo, pressupõe-se, obviamente, que tal anulação se opere enquanto não prescritas as vias
impugnativas internas e externas, pois, se os atos se tornaram inatacáveis pela Administração e
pelo Judiciário, não há como pronunciar-se sua nulidade” (Direito Administrativo Brasileiro. Ed.
Revista dos Tribunais, 16 ed., S. Paulo, 1991, pág. 184).

Também ao tratar do princípio da segurança jurídica como limite à invalidação, pela Administração
Pública, dos seus atos administrativos eivados de ilegalidade, Almiro do Couto ressalta o caráter
de valor constitucional da segurança jurídica, que se qualifica como subprincípio do princípio maior
do Estado de Direito, ao lado e no mesmo nível hierárquico do outro subprincípio do Estado de
Direito, que é o da legalidade. (COUTO E SILVA, Almiro do. O Princípio da Segurança Jurídica
(Proteção à Confiança) no Direito Público Brasileiro e o Direito da Administração Pública de Anular
seus Próprios Atos Administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da lei do processo administrativo
da União (Lei n° 9.784/99). Revista Eletrônica de Direito do Estado, Salvador, Instituto de Direito
Público da Bahia, nº. 2, abril/maior/junho, 2005, p. 11).

E conclui o autor afirmando que “o princípio da segurança jurídica, entendido como proteção à
confiança, está hoje reconhecido na legislação e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
como princípio de valor constitucional, imanente ao princípio do Estado de Direito, e que serve
de limite à invalidação, pela Administração Pública, dos seus atos administrativos eivados de
ilegalidade ou de inconstitucionalidade. Como princípio de natureza constitucional aplica-se à
União Federal, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e as entidades que integram as
respectivas Administrações Indiretas” (COUTO, op. cit., p. 47).

De fato, o STF tem considerado o valor constitucional do princípio da segurança jurídica para
ponderá-lo com o princípio da legalidade, como se verifica do acórdão abaixo:

“[...] não ocorrendo a má-fé dos destinatários do ato administrativo, ficaria a administração
pública inibida de anulá-lo, assegurando, assim, a estabilidade das relações jurídicas,
com base no princípio da segurança jurídica. Para essas situações, o art. 54, da Lei nº
9.784/99 deu a medida do que seria prazo razoável para influir no juízo de precedência
do princípio da segurança jurídica sobre o da legalidade, no cotejo ou no “balancing test”
entre esses dois princípios, em face da prolongada inação da Administração Pública
(no que diz com o exercício de seu poder de autotutela. Nesse mesmo sentido, aliás,
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alinharam-se, além do precedente citado pelo autor MS nº 22357 (Pleno, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJ de 05/11/04), também o MS nº 24268 (Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie,
rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, dj de 17/09/2004, e a Pet nº 2900 (rel. Min. Gilmar
Mendes, DJ de 01/08/2003)” (MS 25963 MC/DF, rel. Min. Cezar Peluso, julg. 04;05.07,
pub. 11.05.07, p. 128).”

Assim, o princípio da segurança jurídica pode sim justificar a estabilização de atos administrativos
inválidos, pelo que está incorreta a alternativa “E”.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

QUESTÃO 22. Considerando a jurisprudência do STF envolvendo os princípios que


regem a atuação da Administração Pública, julgue os itens a seguir:

I. Não viola os princípios administrativos da razoabilidade e da proporcionalidade a


restrição, em edital de concurso público, a pessoas com tatuagens em geral, contanto
que haja previsão legal para tanto no âmbito daquele ente.

II. Na inscrição de entes públicos em cadastros federais de inadimplência, devem


ser garantidos o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa ao respectivo
ente, sendo que a inscrição do ente antes de julgada a tomada de contas especial pelo
Tribunal de Contas da União violará o princípio do devido processo legal.

III. A vedação ao enriquecimento sem causa da Administração Pública fundamenta a


possibilidade de conversão de férias não gozadas de servidor público em indenização
pecuniária.

IV. A vedação ao nepotismo, que visa a garantir a observância aos princípios da


isonomia, impessoalidade e moralidade, incide sobre cargos de provimento em comissão,
de provimento efetivo, função gratificada, cargos de direção e assessoramento.

Está correto apenas o que se afirma em:

a) I e IV.

b) II e III.

c) III, apenas.

d) II e IV.

e) II, III e IV.


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COMENTÁRIO

Item (I): Incorreto. O entendimento do STF é no sentido de que violam os princípios da razoabilidade
e proporcionalidade editais de concurso público que tragam restrição a pessoas com tatuagem, a
menos em casos de conteúdo que viole valores constitucionais.

Além disso, a previsão legal da restrição a candidatos com tatuagem não seria capaz de conferir
juridicidade a tal requisito editalício. Na verdade, a própria lei que trouxesse essa previsão padeceria
de inconstitucionalidade ao trazer restrições descabidas para o pleno exercício da função pública,
em grave ofensa aos direitos fundamentais, à proporcionalidade e à isonomia. Nesse sentido
decidiu a Corte no RE 898450, com repercussão geral. Confira-se:

Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem,
salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
(...). Desse modo, revelar-se-ia inconstitucional toda e qualquer restrição ou requisito
estabelecido em editais, regulamentos, portarias, se não houver lei que disponha sobre a
matéria. No caso concreto, não existiria lei no sentido formal e material no ordenamento
jurídico local que pudesse ser invocada para a existência da restrição editalícia que
motivara a exclusão do recorrente do certame. Sob outro enfoque, a mera previsão
legal do requisito não levaria ao reconhecimento automático de sua juridicidade.
O legislador não poderia escudar-se em pretensa discricionariedade para criar
barreiras arbitrárias para o acesso às funções públicas. Assim, seriam inadmissíveis
e inconstitucionais restrições ofensivas aos direitos fundamentais, à proporcionalidade
ou que se revelassem descabidas para o pleno exercício da função pública objeto do
certame. Toda lei deveria respeitar os ditames constitucionais, mormente quando referir-
se à tutela ou restrição a direitos fundamentais, pois os obstáculos para o acesso a cargos
públicos deveriam estar estritamente relacionados com a natureza e as atribuições das
funções a serem desempenhadas. (...) Assim, o fato de uma pessoa possuir tatuagens,
visíveis ou não, não poderia ser tratado pelo Estado como parâmetro discriminatório
quando do deferimento de participação em concursos de provas e títulos para ingresso
em carreira pública. Entretanto, tatuagens que representassem obscenidades, ideologias
terroristas, discriminatórias, que pregassem a violência e a criminalidade, discriminação
de raça, credo, sexo ou origem, temas inegavelmente contrários às instituições
democráticas, poderiam obstaculizar o acesso a função pública. Eventual restrição nesse
sentido não se afiguraria desarrazoada ou desproporcional. Essa hipótese, porém, não
seria a do recorrente que teria uma tatuagem tribal, medindo 14 por 13 cm. (RE 898.450,
rel. min. Luiz Fux, j. 17-8-2016, P, Informativo 835, com repercussão geral).

Incorreto, portanto, o item (I).

Item (II): Correto. Esse é, de fato, o entendimento que atualmente prevalece no STF, na medida
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em que os entes públicos também se devem beneficiar da garantia ao devido processo legal,
contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido, confira-se:

É necessária a observância da garantia do devido processo legal, em especial,


do contraditório e da ampla defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em
cadastros federais de inadimplência. Com base nesse entendimento, a Primeira Turma
julgou procedente pedido formulado em ação civil originária para afastar o registro do
Estado do Amapá no Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), relativo
a convênios firmados entre ele e a União. Na espécie, assinalou a ausência de oitiva
do interessado e de instauração de tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas
da União. Acrescentou, entretanto, que a questão referente à necessidade de prévio
julgamento de tomada de contas especial para fins de inscrição em cadastro de
inadimplentes deverá ser enfrentada pelo Plenário, em recurso extraordinário submetido
à sistemática da repercussão geral (RE 607.420/PI). [...] STF. 1ª Turma. ACO 732/AP,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825). STF. Plenário. ACO 1995/BA,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

De fato, pode-se dizer que o direito das unidades federativas ao devido processo legal resta violado
quando há a sua inscrição em cadastros de inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de
contas especial pelo Tribunal de Contas da União. Só a partir da tomada de contas especial e
da sua respectiva conclusão é possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito
organizados e mantidos pela União. O objetivo é permitir que se possa verificar se realmente houve
irregularidades, para evitar o risco de comprometimento da continuidade de políticas públicas ou
da prestação de serviços públicos essenciais à coletividade. Vejamos:

“A tomada de contas especial é medida de rigor com o ensejo de alcançar-se o


reconhecimento definitivo de irregularidades, permitindo-se, só então, a inscrição
do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União.
(ACO 1393 AgR, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 09/06/2015)

Item (III): Correto. Esse foi o entendimento adotado pelo STF, em repercussão geral. Confira-se:

Servidor Público. Conversão de férias não gozadas – bem como outros direitos de
natureza remuneratória – em indenização pecuniária, por aqueles que não mais podem
delas usufruir. Possibilidade. Vedação do enriquecimento sem causa da Administração.
(ARE 721.001 RG, rel. min. Gilmar Mendes, j. 28-2-2013, P, DJE de 1º-6-2015,
repercussão geral.)

Item (IV): Incorreto. O erro da afirmativa está em incluir no campo de aplicação da vedação ao
nepotismo os cargos de provimento efetivo. Na verdade, as normas inibitórias do nepotismo
incidem sobre o provimento dos cargos em comissão e as nomeações para o exercício de funções
gratificadas, cargos de direção e de assessoramento. Esse é o entendimento do STF, conforme se
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constata do acórdão cuja ementa colacionamos abaixo:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISO VI DO ART. 32


DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. SERVIDOR PÚBLICO.
NEPOTISMO. VEDAÇÃO AO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES SOB A DIREÇÃO IMEDIATA
DE CÔNJUGE OU PARENTE ATÉ O SEGUNDO GRAU CIVIL. VIOLAÇÃO AO INCISO
II DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
INEXISTÊNCIA. PROIBIÇÃO QUE DECORRE DO CAPUT DO ART. 37 DA CF.
PROCEDÊNCIA PARCIAL PARA EMPRESTAR INTERPRETAÇÃO CONFORME A
CONSTITUIÇÃO. INCIDÊNCIA EXCLUSIVA SOBRE CARGOS DE PROVIMENTO EM
COMISSÃO, FUNÇÃO GRATIFICADA E CARGOS E DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO.
(ADI 524, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Relator(a) p/ Acórdão:  Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2015, DJe-151 DIVULG
31-07-2015 PUBLIC 03-08-2015 EMENT VOL-03992-01 PP-00001)

De fato, o objetivo da vedação ao nepotismo é que o elemento de discricionariedade presente


nos atos de livre nomeação seja norteado pelo interesse público (Min. Rosa Weber. Voto na ADI
524). Tal elemento de discricionariedade não está presente nos cargos de provimento efetivo, que
exigem concurso público, afastando, portanto, a aplicabilidade dessas normas.

Assim, conforme apontou o min. Sepúlveda pertence no voto condutor da mencionada ADI, “Evidente
que se devem retirar da incidência da norma os servidores admitidos mediante concurso público,
ocupantes de cargo de provimento efetivo. A norma anti-nepotismo deve Incidir sobre cargos de
provimento em comissão, as funções Gratificadas e os cargos de direção e assessoramento”.

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

QUESTÃO 23. Sobre o poder de polícia, marque a alternativa correta:

a) O poder de polícia, que sujeita não só os administrados, como também os entes


federativos e as demais pessoas jurídicas de direito público, pode consistir em
obrigações de não fazer, suportar ou mesmo de fazer.

b) O exercício regular do poder de polícia pela Administração Pública pode ensejar a


necessidade de indenizar o particular quando o condicionamento ou conformação do
direito particular contrariar frontalmente seus interesses.

c) Dentre as diferenças entre a polícia administrativa e a polícia judiciária está a de


que esta tem caráter essencialmente preventivo, ao passo que aquela tem caráter
repressivo.

d) O exercício do poder de polícia consistente na autorização e fiscalização do


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funcionamento de máquinas caça-níqueis, videobingos, videopôquer e assemelhadas


é de competência dos estados federados.

e) As chamadas “atividades comunicadas” caracterizam-se por um condicionamento


do seu exercício ao prévio consentimento do Poder Público.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. De fato, estão sujeitos ao poder de polícia não apenas os particulares
administrados, como também pessoas jurídicas de direito público, inclusive os entes federativos.
Nesse sentido é a lição de Alexandre Aragão:

Apesar de se falar do poder de polícia como limitações impostas aos particulares,


ela sujeita todos os que estiverem nas situações consideradas como sensíveis à
coletividade para fins do poder de polícia. Assim, também os entes federativos e as
demais pessoas jurídicas de direito público devem observar as normas de polícia
expedidas por si próprios e pelos demais entes competentes. Grifou-se. (ARAGÃO,
Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, Forense, 2013, p.
390).

Essa sujeição dos próprios entes federativos e demais pessoas jurídicas de direito público ao
poder de polícia se deve à amplitude do objeto desse poder. Conforme aponta Alexandre Aragão,
“o objeto do poder de polícia é todo bem, direito ou atividade que puder afetar a coletividade”.
Assim, tendo em vista que as pessoas jurídicas de direito público também têm bens, direitos e
exercem atividades que podem afetar a coletividade, estão também sujeitas ao poder de polícia.

Quanto à segunda parte da afirmativa, no sentido de que o poder de polícia pode consistir em
obrigações de não fazer, de suportar ou de fazer, também está correta. Confira-se:

Ao contrário da sua versão original, hoje se admite majoritariamente que o poder de


polícia pode consistir não apenas em uma obrigação de não fazer (ex.: não construir
sem a prévia licença da Administração Pública), mas também em uma obrigação de
suportar (ex.: deixar os fiscais inspecionarem o estabelecimento) ou mesmo de fazer
(ex.: de alocar na obra placa com a indicação do engenheiro responsável; afixar cartaz
com a tabela de preços; comunicar a ocorrência de doença epidêmica etc.). (ARAGÃO,
op. cit., p. 391).

Correta, portanto, a alternativa “A”, devendo ser marcada.

Alternativa (B): incorreta. Na verdade, o exercício regular do poder de polícia não causa danos
específicos que possam resultar no direito ao recebimento de indenização. Isso porque, além de
atingir a todos (OLIVEIRA, op. cit., p. 482), o poder de polícia apenas conforma o exercício de um
direito aos seus limites, que já estão expressa ou implicitamente definidos na lei. Nesse sentido é
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o magistério de Alexandre Aragão:

Vê-se, portanto, que a CF, ao assegurar um direito, concomitantemente já prevê, expressa


ou implicitamente, a regulamentação do seu exercício, com o que se percebe que a
todo direito é inerente a sua limitação, pela sua conciliação com os demais interesses
potencialmente atingidos com o seu exercício. É da definição, regulamentação e
fiscalização dessas limitações e, portanto, da definição do próprio conteúdo dos direitos,
que se ocupa o poder de polícia. Daí a razão do poder de polícia não ser indenizável:
ele não gera dano jurídico; não extingue ou restringe direito, apenas condiciona a sua
própria definição ao bem-estar da coletividade e aos demais diretos fundamentais.
(Aragão, p. 387).

Incorreta, portanto, a afirmativa, não devendo ser marcada.

Alternativa (C): incorreta. A alternativa inverteu o caráter preventivo ou repressivo das polícias
administrativa e judiciária. Conforme pontua José dos Santos Carvalho Filho:

Por pretender evitar a ocorrência de comportamentos nocivos à coletividade, reveste-se


a Polícia Administrativa de caráter eminentemente preventivo: pretende a Administração
que o dano social sequer chegue a consumar-se. Já a Polícia Judiciária tem natureza
predominantemente repressiva, eis que se destina à responsabilização penal do
indivíduo (CARVALHO FILHO, op. cit., p. 83).

Assim, sistematizando as diferenças entre a polícia administrativa e a polícia judiciária, temos


(OLIVEIRA, p. 256):

a) enquanto a polícia administrativa se exaure em si mesma, a judiciária é preparatória para


função jurisdicional penal;

b) a polícia administrativa, por um lado, incide sobre atividades, bens e direitos dos indivíduos;
a judiciária sobre os próprios indivíduos (aqueles a quem se atribui o ilícito penal); e

c) a polícia administrativa tem caráter eminentemente preventivo; já a judiciária é


predominantemente repressiva.

Note-se, porém, que essa distinção não é absoluta, mas trata do caráter predominante da polícia
administrativa e da polícia judiciária.

“Na verdade, os agentes da Polícia Administrativa também agem repressivamente,


quando, por exemplo, interditam um estabelecimento comercial ou apreendem bens
obtidos por meios ilícitos. Por outro lado, os agentes de segurança têm a incumbência,
frequentemente, de atuar de forma preventiva, para o fim de ser evitada a prática de
delitos” (CARVALHO FILHO, op. cit., p. 83).

Alternativa (D): incorreta. Conforme ensina Alexandre Aragão, “a regra é que o ente competente
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para legislar sobre determinada matéria exerce o respectivo poder de polícia em seu âmbito.

(...) Apenas a atribuição constitucional de competência material (de execução


administrativa das normas de polícia) a ente distinto do ente para o qual foi outorgada a
competência legislativa (para editar as normas limitativas) pode excepcionar essa regra”
(Aragão, p. 394).

José dos Santos Carvalho Filho (op. cit., p. 79), tratando também da competência para o exercício
do poder de polícia, chama atenção para a existência de algumas hesitações da doutrina e da
jurisprudência na definição da competência para o exercício do poder de polícia em certos casos.
O autor exemplifica:

Só para exemplificar, a jurisprudência já se firmou no sentido de que a União tem


competência para regular horário de atendimento bancário (Súmula na 19, do STJ),
mas para fixar horário de funcionamento de lojas comerciais competente é o Município
(Súmula na 645, do STF). Por outro lado, cabe à União, e não aos Estados, autorizar
e fiscalizar o funcionamento de máquinas caça-níqueis, videobingos, videopôquer
e assemelhadas, atividades incluídas no “sistema de sorteios” constante do art.
22, XX, da CF (STF, ADI 3.895-SP, Rei. Min. MENEZES DIREITO, DJ 29.9.2008). Por
conseguinte, é imperioso que o intérprete faça detida análise da hipótese concreta de
modo a adequar-se ao sistema traçado na Constituição (O STF considerou competente
o Município para impor a bancos a obrigação de instalar sistema de portas eletrônicas
com detector de metais e travamento e de vidros à prova de balas, por vislumbrar assunto
de interesse local - segurança dos usuários, ex vi do art. 30, I, da CF (RE 240.406, j. em
25.11.2003). Também: STJ, RMS 25.988-RJ, j. em 2.4.2009.). (CARVALHO FILHO, p.
79).

Assim, tendo em vista a competência da União para legislar sobre sistemas de consórcios e sorteios
(art. 22, XX, CF), é dela também a competência para autorizar e fiscalizar tais atividades. Incorreta,
portanto, a assertiva, ao afirmar ser dos estados a competência para o exercício do poder de
polícia sobre essas atividades.

Por fim, cabe uma observação em relação à competência para o exercício do poder de polícia. Nem
sempre o exercício do poder de polícia estará restrito ao ente que detém competência legislativa
para aquela matéria. Conforme ressalta Alexandre Aragão, “em algumas atividades, por espraiarem
seus efeitos por todo o território nacional (ex.: saúde pública, trânsito, transportes etc.), o poder de
polícia excepcionalmente tem a sua competência difundida entre os entes da Federação” (Aragão,
p. 394).

Alternativa (E): incorreta. As atividades comunicadas não exigem prévia autorização do Poder
Público. Na verdade, elas exigem apenas a comunicação ao Poder Público – daí o nome que
se dá a essas atividades. Conforme aponta Rafael Oliveira, “as restrições estatais impostas aos
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particulares para o exercício de atividades econômicas podem variar de intensidade, segundo


critérios diversos, tais como a periculosidade ou o impacto social gerado pela atividade” (OLIVEIRA,
op. cit., p. 262). O autor apresenta, então, quatro níveis decrescentes de intensidade das restrições
estatais:

Em primeiro lugar, a restrição estatal é tão intensa que retira a atividade econômica
da livre-iniciativa, classificando-a como serviço público de titularidade do Estado. A
prestação de serviços públicos por particulares depende necessariamente da delegação
formal por parte do Poder Público (ex.: concessão e permissão de serviços públicos).

Em segundo lugar, o Estado possui a prerrogativa de condicionar o exercício da atividade


privada ao seu prévio consentimento, restringindo a livre-iniciativa (ex.: licença para
dirigir veículo ou autorização para porte de arma).

Em terceiro lugar, a restrição estatal limita-se a exigir que determinadas atividades


privadas sejam comunicadas ao Estado, com o intuito de possibilitar a fiscalização
de polícia, e não para obter consentimento estatal.

Por fim, as demais atividades econômicas, inseridas no campo da livre-iniciativa,


não dependem de consentimentos estatais prévios ou de comunicações específicas,
submetendo-se à fiscalização genérica do Estado.

Assim, as atividades comunicadas se inserem na terceira forma de restrição estatal. Rafael Oliveira
(op. cit., p. 79) define essas atividades como “as atividades privadas que devem ser comunicadas
ao Estado, por determinação legal, facilitando a fiscalização de polícia”. Exemplos de atividades
comunicadas no nosso ordenamento jurídico são:

• “o art. 5.º, XVI, da CRFB permite a reunião pacífica em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, exigindo-se apenas prévio aviso à autoridade competente;

• o art. 8.º da Lei 9.074/1995 dispensa a necessidade de concessão, permissão ou autorização,


para exploração de potenciais hidráulicos, iguais ou inferiores a 1.000 kW, e a implantação de
usinas termelétricas de potência igual ou inferior a 5.000 kW, atividades que, entretanto, devem
ser comunicadas ao Poder Público;

• o art. 17, § 1º, da Lei 9.656/1998 exige que as operadoras privadas dos planos de assistência
à saúde comuniquem aos consumidores e à ANS a substituição de entidade hospitalar
contratada, referenciada ou credenciada” (OLIVEIRA, op. cit., p. 262).

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

QUESTÃO 24. Sobre os poderes administrativos, assinale a alternativa INCORRETA:

a) Apenas no exercício da função administrativa se verifica a hierarquia, sendo certo


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que não há hierarquia nas funções típicas jurisdicionais e legislativas.

b) O poder regulamentar típico é prerrogativa de direito público de natureza derivada.

c) No poder disciplinar há vinculação da Administração tanto no dever de punir, caso


constatada a infração, quanto na definição da punição a ser aplicada.

d) Pelo fenômeno da deslegalização, o legislador autoriza que a competência para


regular certas matérias seja transferida da lei para outras fontes normativas, reservando
para si o regramento básico.

e) Entre uma autarquia estadual e o respectivo estado federado não existe relação de
hierarquia, sendo certo que a insatisfação do administrado com determinada decisão
administrativa dessa autarquia somente poderá interpor recurso hierárquico impróprio
caso haja previsão legal expressa.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. Conforme leciona Rafael Oliveira, “a hierarquia é uma característica
encontrada exclusivamente no exercício da função administrativa, inexistindo, portanto, hierarquia
nas funções típicas jurisdicionais e legislativas”.

No mesmo sentido, José dos Santos Carvalho Filho afirma também que a hierarquia é cabível
apenas no âmbito da função administrativa, ressaltando, porém, que não podemos, contudo,
restringir a hierarquia ao Poder Executivo, porque a função administrativa se difunde entre todos
os órgãos que a exercem, seja qual for o Poder que integrem (CARVALHO FILHO, p. 71). Assim,
apenas quando exercem as suas funções atípicas administrativas é que o Poder Judiciário e o
Poder Legislativo, têm a hierarquia como característica da sua atuação (OLIVEIRA, p. 266).

Alternativa (B): correta. O poder regulamentar “é a prerrogativa conferida à Administração Pública


de editar atos gerais para complementar as leis e permitir a sua efetiva aplicação” (CARVALHO
FILHO, op. cit., p. 57).

Rafael Oliveira ensina que o poder normativo da Administração Pública pode ser exercido
basicamente por meio da delegação legislativa ou do próprio poder regulamentar. “Enquanto a
delegação legislativa possibilita a prática de ato normativo primário, com força de lei (ex.: medidas
provisórias e leis delegadas, previstas, respectivamente, nos arts. 62 e 68 da CRFB), o poder
regulamentar encerra uma atividade administrativa, de cunho normativo secundário. (BARROSO,
Luís Roberto. Apontamentos sobre o princípio da legalidade” (Delegações legislativas, poder
regulamentar e repartição constitucional de competências legislativas). Temas de direito
constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 177 apud OLIVEIRA, op. cit. p. 251). Destaque-se
que “o poder normativo das entidades administrativas, exercido com fundamento em norma legal,
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não decorre da delegação propriamente dita operada pelo legislador, mas, ao contrário, é inerente
à função administrativa e pode ser exercido dentro dos limites fixados em lei” (OLIVEIRA, op. cit.
p. 251).

Tratando da natureza do poder regulamentar, José dos Santos Carvalho Filho leciona que, em
primeiro lugar, o poder regulamentar representa uma prerrogativa de direito público, “pois que
conferido aos órgãos que têm a incumbência de gestão dos interesses públicos”; “Sob o enfoque
de que os atos podem ser originários e derivados, o poder regulamentar é de natureza derivada
(ou secundária): somente é exercido à luz de lei preexistente”. E segue o autor ponderando que
“só se considera poder regulamentar típico a atuação administrativa de complementação de leis,
ou atos análogos a elas. Daí seu caráter derivado”. (CARVALHO FILHO, p. 57).

Correta, portanto, a assertiva no que diz respeito à natureza do poder regulamentar.

Alternativa (C): incorreta. O poder disciplinar “é a prerrogativa reconhecida à Administração para


investigar e punir, após o contraditório e a ampla defesa, os agentes públicos, na hipótese de infração
funcional, e os demais administrados sujeitos à disciplina especial administrativa” (OLIVEIRA, op.
cit., p. 268). Ele é exercido por meio do Processo Administrativo Disciplinar (PAD).

Conforme observa Alexandre Mazza, “constatada a infração, a Administração é obrigada a punir


seu agente. É um dever vinculado. Mas a escolha da punição é discricionária. Assim, o poder
disciplinar é vinculado quanto ao dever de punir e discricionário quanto à seleção da pena aplicável”
(MAZZA, p. 460).

No entanto, em que pese haver certa margem de liberdade ao administrador na escolha da sanção
a ser aplicada em caso de infração administrativa, isso não se confunde com liberdade total ou
discricionariedade (OLIVEIRA, op. cit., p. 268). Assim, por exemplo, a autoridade administrativa
federal, na aplicação das penalidades disciplinares (advertência; suspensão; demissão; cassação
de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de cargo em comissão; e destituição de função
comissionada), deverá levar em consideração a natureza e a gravidade da infração cometida, os
danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os
antecedentes funcionais, mencionando sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar
(arts. 127 e 128, caput e parágrafo único, da Lei 8.112/1990).

José dos Santos Carvalho Filho chega a rechaçar o uso da expressão discricionariedade nesse
caso, sob o argumento de que não há propriamente juízo de conveniência e de oportunidade. A
necessidade de que o administrador forme a sua convicção com base em todos os elementos
do processo administrativo, motivando-a, reduz ao mínimo o subjetivismo no poder punitivo da
Administração, permitindo-se a apreciação do ato sancionatório pelo Judiciário praticamente em
sua integralidade (CARVALHO FILHO, p. 73).

O fato é que, no Direito disciplinar, “de acordo com a gravidade da conduta, ‘a autoridade escolherá,
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entre as penas legais, a que consulte ao interesse do serviço e a que mais reprima a falta cometida”,
o que lhe confere certo poder de avaliação dos elementos que provocaram a infração para aplicar
a sanção apropriada ao fato’” (HELY LOPES MEIRELLES, apud CARVALHO FILHO, p. 73). Não
é, portanto, vinculada a escolha da sanção, pelo que está incorreta a alternativa “C”, que deve ser
marcada.

Alternativa (D): correta. De fato, essa é a correta caracterização do fenômeno da de legalização,


que não é integral, na medida em que se mantém ao legislador a competência para a normatização
básica sobre a matéria. Nesse sentido é o magistério de José dos Santos Carvalho Filho:

Modernamente, contudo, em virtude da crescente complexidade das atividades técnicas


da Administração, passou a aceitar-se nos sistemas normativos, originariamente na
França, o fenômeno da deslegalização, pelo qual a competência para regular certas
matérias se transfere da lei (ou ato análogo) para outras fontes normativas por
autorização do próprio legislador: a normatização sai do domínio da lei (domaine de la
loi) para o domínio de ato regulamentar (domaine de l’ordonnance). O fundamento não
é difícil de conceber: incapaz de criar a regulamentação sobre algumas matérias de alta
complexidade técnica, o próprio Legislativo delega ao órgão ou à pessoa administrativa
a função específica de instituí-la, valendo-se dos especialistas e técnicos que melhor
podem dispor sobre tais assuntos.

Não obstante, é importante ressaltar que referida delegação não é completa e integral.
Ao contrário, sujeita-se a limites. Ao exercê-la, o legislador reserva para si a competência
para o regramento básico, calcado nos critérios políticos e administrativos, transferindo
tão somente a competência para a regulamentação técnica mediante parâmetros
previamente enunciados na lei. E o que no Direito americano se denomina delegação
com parâmetros (delegation with standards). Daí poder afirmar-se que a delegação só
pode conter a discricionariedade técnica (CARVALHO FILHO, p. 59).

Correta, portanto, a alternativa “D”.

Alternativa (E): correta. Em primeiro lugar, cabe relembrar a diferença entre subordinação e
vinculação:

• A relação de subordinação decorre naturalmente da hierarquia existente no interior


dos órgãos e das entidades administrativas. Há, portanto, hierarquia em toda e qualquer
desconcentração administrativa, seja entre órgãos da Administração Direta, seja no interior de
determinada entidade da Administração Indireta. Portanto, a subordinação tem caráter interno,
não havendo que falar em subordinação nas relações interadministrativas (OLIVEIRA, op. cit.,
p. 267).

• Por outro lado, a relação de vinculação se verifica entre entidades da Administração Indireta
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e os respectivos entes federados. Entre pessoas jurídicas distintas não existe hierarquia, mas
apenas os controles previstos expressamente na legislação (vinculação). Trata-se de relação
externa, envolvendo pessoas jurídicas dotadas de personalidade jurídica própria e autonomia
(OLIVEIRA, op. cit., p. 267).

Como aponta Rafael Oliveira, dada a ausência de hierarquia entre as pessoas administrativas
e o respectivo ente federado, eventual recurso de decisão daquela pessoa administrativa para
o ente dependerá de previsão legal expressa, por se tratar de verdadeira exceção à autonomia
administrativa conferida pela lei criadora ou autorizadora da criação da entidade. O chamado
recurso hierárquico impróprio, portanto, exige expressa previsão em lei, já que apenas a lei poderia
excepcionar a autonomia que ela própria reconheceu à entidade (OLIVEIRA, op. cit., p. 267).

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

DIREITO FINANCEIRO

QUESTÃO 25. Acerca dos princípios orçamentários, assinale a alternativa correta:

a) A Constituição não veda os chamados “orçamentos rabilongos” ou “caudas


orçamentárias”.

b) O princípio da especificação consiste na exigência que o orçamento esteja liga a


um plano de ação governamental, sendo um verdadeiro instrumento de planejamento.

c) A dotação para a reserva de contingência é uma exceção ao princípio da


especificação.

d) A adoção do plano plurianual pela Constituição de 1988 invalidou o então princípio


da anualidade, visto que o plano plurianual tem vigência quadrienal.

e) O princípio da não afetação das receitas resultantes de impostos é excepcionado


na hipótese de destinação de recursos à saúde, educação e segurança pública, dentre
outras exceções constitucionais.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. A CF prevê expressamente o princípio da EXCLUSIVIDADE pelo qual a


lei orçamentária anual versará apenas sobre matéria financeira. Esse dispositivo visa justamente
evitar as chamadas “caudas orçamentárias”, isto é, dispositivos alheios a fixação de receitas e
despesas que são lançados no meio da lei orçamentária para “forçar” sua aprovação ou para que
sejam aprovados de forma “clandestina” ou “desapercebida” no meio da discussão orçamentária.
Ensina Lafayete Josue Petter:
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“Consagrado no § 8º do art. 165, preceitua o principio que a lei orçamentária anual não
pode conter dispositivo estranho à fixação da despesa e a previsão de receita. Tem o
fim de evitar as chamadas caudas orçamentárias ou orçamentos rabilongos, situação
verificada na introdução de matérias estranhas ao respectivo projeto de lei, como, por
exemplo, de emendas relativas a política de pessoal no orçamento ou de criação de
novos tributos ou aumento de suas alíquotas” (Lafayete Josue Petter. Direito Financeiro.
Porto Alegre : Verbo Jurídico, 2010, p. 50/51)

Alternativa (B): incorreta. O princípio da especificação consiste na exigência de que as dotações


orçamentárias sejam ESPECÍFICAS e DISCRIMINADAS, não sendo lícito prever uma dotação
genérica para atender indiferentemente diversas despesas (ex. não se admite uma dotação
orçamentária com genérica para “atender o direito à moradia”, mas sim dotações específicas com
compra de cimento, aluguel de guindastes e outros instrumentos necessários para construir as
moradias). Confira a doutrina:

“O orçamento não pode ser genérico, estabelecer gastos sem precisão ou valer-se
de termos ambíguos. Deve ser o mais claro possível, com receitas e despesas bem
discriminadas, demonstrando o recurso desde a sua origem até a sua aplicação final.
Nesse sentido, o princípio da especificação veda que se consignem no orçamento
dotações globais para atender indiferentemente as despesas nele previstas” (Harrison
Leite, Manual de Direito Financeiro, Juspodivm, Salvador 5ª edição, 2016, p. 111)

Note que a alternativa apresentou a definição do princípio da programação consistente no efetivo


manejo do orçamento como instrumento de programação das políticas públicas. Sobre este outro
princípio, ensina a doutrina:

“O princípio da programação, previsto nos artigos 48, II e IV e 165, § 4º da CF, tem


o significado de que o orçamento esta ligado ao plano de ação governamental.
Assim, ele deve ter conteúdo e forma de programação. Mesmo a liberação de
recursos em duodécimos, prevista na Constituição Federal, não invalida o principio.
Superada a clássica concepção do orçamento como mero instrumento contábil (de
previsão de receitas e fixação de despesas, tendo por dogma o equilíbrio orçamentário),
o orçamento moderno consubstancia um plano de ação. Na concepção “orcamento-
programa”, os programas de govemo de duração continuada devem constar do plano
plurianual, ao qual se subordinam os planos e programas nacionais, regionais e setoriais
de desenvolvimento” (Lafayete Josue Petter. Direito Financeiro. Porto Alegre : Verbo
Jurídico, 2010, p. 52)

Alternativa (C): correta. De fato, o princípio da especificação, acima analisado, admite duas
exceções, a saber:

a. Programas Especiais de Trabalho  projetos que por sua natureza não possibilitam
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a discriminação prévia de cada despesa.

b. Reserva de Contingência  dotação orçamentária que visa atender eventos fiscais


imprevistos e, justamente por isso, não pode ser especificada de antemão.

É o que ensina a doutrina:

“Há, porém, duas exceções ao princípio da especificação: a) programas especiais de


trabalho; e b) reserva de contingência. O primeiro caso se refere aos programas que,
pela singularidade, não podem ser detalhados. São os programas que a Administração
deseja priorizar em razão dos objetivos pretendidos, dispondo, para tanto, de receitas
específicas para esse fim. Sobre o tema, afirma o parágrafo único do art. 20 da Lei n.0
4.320/64: Parágrafo único. Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza,
não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da despesa
poderá ser custeada por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital.
Já a reserva de contingência tem por finalidade acender aos passivos contingentes
e outros riscos e eventos fiscais imprevistos (art. 5°, III, “b”, da LFR)” (Harrison Leite,
Manual de Direito Financeiro, Juspodivm, Salvador 5ª edição, 2016, p. 111)

A alternativa é, portanto, correta e deve ser assinalada.

Alternativa (D): incorreta. Ao contrário do afirmado, a doutrina é uníssona em afirmar a validade do


princípio da anualidade, muito embora existam leis orçamentárias com escopo temporal maior do
que um ano, tal como o Plano Plurianual. Isso porque, ainda que existe normas com programação
maior do que um ano, tal programação será sempre discriminada (cf. o princípio da especificação
visto acima!) em dotações orçamentárias a serem executadas ANUALMENTE no bojo da Lei
Orçamentária Anual. Confira os ensinamentos doutrinários:

“A característica da plurianual idade das despesas relativas a investimentos, prevista


no § Iº do artigo 167 da CF, não esvazia o conteúdo do principio da anualidade, pois
as metas e programas sempre serão executados ano a ano, com recursos advindos do
orçamento de cada período. Ou seja, o orçamento e elaborado para reger as finanças
publicas por um determinado período”. (Lafayete Josue Petter. Direito Financeiro. Porto
Alegre : Verbo Jurídico, 2010, p. 53)

Alternativa (E): incorreta. O princípio da não afetação dos impostos veda a vinculação da receita
de impostos a uma finalidade pré-definida. A vedação se justifica em razão do princípio da
separação dos poderes, isso porque o Constituinte quis garantir que o gasto com impostos seria
feito conforme a discricionariedade do Chefe do Poder Executivo, afastando, assim, a possibilidade
do Legislativo fixar em lei as finalidades que o Executivo deveria atender com os recursos dos
impostos. É, pois, com os recursos dos impostos que o Executivo pode implementar seu programa
de governo específico, com base no qual foi eleito. Tal princípio, contudo, é excepcionado pela
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própria Constituição em algumas hipóteses. De forma sintética, as exceções são as seguintes:

c. Repartição constitucional de impostos

d. Saúde

e. Ensino

f. Administração tributária

g. Garantia para operações de crédito por antecipação de receita (ARO)

h. Garantia à União e pagamento de débitos para com esta

i. Fundo Cultural

j. Fundo de Programas de Apoio a Inclusão e Promoção Social

As exceções mais exigidas nas provas são aquelas arroladas no art. 167 da CF, a saber:

Art. 167. São vedados: (...) IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou
despesa, ressalvadas a REPARTIÇÃO do produto da arrecadação dos impostos a
que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços
públicos de SAÚDE, para manutenção e desenvolvimento do ENSINO e para realização
de atividades da ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA, como determinado, respectivamente,
pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de GARANTIAS às operações de
crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no
§ 4º deste artigo;

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

PROFESSOR: FREDERICO LIRA


E-mail: profcei.fredericolira@gmail.com

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

QUESTÃO 26. Sobre a seguridade social no Brasil, assinale a alternativa correta:

a) A seguridade social compreende a previdência, a saúde e a assistência social,


destacando-se que as duas últimas não estão vinculadas a qualquer tipo de
contraprestação por parte dos seus usuários.

b) Por força do princípio da uniformidade e da equivalência dos benefícios e serviços às


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populações urbanas e rurais, é vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados


para a concessão de qualquer aposentadoria no Regime Geral da Previdência Social.

c) Forte no princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios, o STJ não admite, em


hipótese alguma, a incidência de índice negativo de inflação na atualização monetária
de atrasados de benefícios previdenciários.

d) Para o STF, o princípio da precedência da fonte de custeio deve ser observado


mesmo que o benefício da seguridade social seja instituído pela própria Constituição.

e) A gestão da seguridade social é tripartite, com participação dos trabalhadores, dos


empregadores e do Governo nos órgãos colegiados.

COMENTÁRIO

Nos termos do art. 194, caput, da CRFB/88, “a seguridade social compreende um conjunto integrado
de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Os princípios informadores da seguridade
social, por sua vez, estão arrolados, precipuamente, no parágrafo único do mencionado artigo,
sendo tratados como verdadeiros objetivos do sistema pelo constituinte.

Alternativa (A): correta. A seguridade social deverá atender a todos os necessitados (princípio da
universalidade), sendo que a saúde pública e a assistência social não dependem do pagamento de
contribuições diretas dos usuários. Colaciona-se, por oportuno, julgado do STF a respeito do tema:

A seguridade social prevista no art. 194 da CF/1988, compreende a previdência, a


saúde e a assistência social, destacando-se que as duas últimas não estão vinculadas
a qualquer tipo de contraprestação por parte dos seus usuários, a teor dos arts. 196 e
203, ambos da CF/1988.

(RE 636.941, rel. min. Luiz Fux, j. 13-2-2014, P, DJE  de 4-4-2014, com repercussão
geral.)

Alternativa (B): incorreta. O princípio da uniformidade e da equivalência dos benefícios e serviços


(art. 194, p.ú, II, da CRFB/88) visa a assegurar tratamento isonômico entre os povos urbanos
e rurais, não admitindo discriminações negativas. O próprio texto constitucional (art. 201, § 1º),
contudo, admite, em algumas hipóteses, a adoção de critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria no âmbito do RGPS. Vejamos:

§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de


aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os
casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos
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definidos em lei complementar.

Alternativa (C): incorreta. A jurisprudência do STJ admite a incidência de índice negativo de


inflação na atualização monetária de atrasados de benefícios previdenciários, desde que, no final
da atualização, o valor nominal não sofra redução. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL


NORECURSO ESPECIAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE ÍNDICE
INFLACIONÁRIONEGATIVO SOBRE A CORREÇÃO MONETÁRIA, DESDE QUE
PRESERVADO O VALORNOMINAL DO MONTANTE PRINCIPAL. 1. A Corte Especial
deste Tribunal no julgamento do REsp nº1.265.580/RS, Relator o Ministro Teori Albino
Zavascki, DJe de18/4/2012, modificou a compreensão então vigente, passando a adotar
o entendimento segundo o qual desde que preservado o valor nominal do montante
principal, é possível a aplicação de índice inflacionário negativo sobre a correção
monetária de débitos previdenciários, porquanto os índices deflacionados acabam
se compensando com supervenientes índices positivos de inflação. 2. Embargos
de declaração acolhidos com excepcionais efeitos modificativos.

(STJ - EDcl no AgRg no REsp: 1142014 RS 2009/0099898-6, Relator: Ministro MARCO


AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 04/10/2012, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 11/10/2012)

Alternativa (D): incorreta. No julgamento do RE 385.397 AgR/MG, rel. min. Sepúlveda Pertence,
de 29/06/2007, o STF posicionou-se no sentido da “aplicabilidade imediata e independente de
fonte de custeio dos benefícios previstos pela própria Constituição Federal”. Assim, se o benefício
da seguridade social for instituído pela própria Constituição, não terá aplicação o mencionado
princípio.

Alternativa (E): incorreta. Na forma do art. 194, p.ú, VII, da CRFB/88, a organização da seguridade
social possuirá “caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do
Governo nos órgãos colegiados”.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

QUESTÃO 27. Sobre a saúde e a assistência social, de acordo com o texto constitucional
e a jurisprudência do STF, assinale a alternativa incorreta:

a) É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS,


a internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado
por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da
diferença dos valores correspondentes.
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b) É constitucional a lei que, firme no propósito de concretizar o direito fundamental


à saúde, dispensa o registro sanitário de medicamento como requisito para sua
comercialização.

c) As instituições privadas poderão participar de forma complementar do Sistema


Único de Saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

d) A responsabilidade pelas ações e serviços de saúde é solidária entre a União, os


Estados e o Distrito Federal e os Municípios.

e) O critério de miserabilidade para concessão do benefício de amparo assistencial ao


idoso ou deficiente carente previsto no art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 (renda mensal
per capita inferior a ¼ do salário mínimo) é inconstitucional.

COMENTÁRIO

A questão aborda julgados recentes e relevantes do STF em matéria de saúde e assistência social.
O candidato deve conhecer, ademais, a própria literalidade do texto constitucional, muito cobrada
nas provas de advocacia pública, mesmo quando Previdenciário não figura como matéria autônoma
no edital.

Alternativa (A): correta. Para o STF, admitir que um paciente atendido pelo SUS tenha acesso a
melhores condições de internação ou a médico de sua confiança mediante pagamento subverte
a própria lógica do sistema, notadamente a equidade e a universalidade que o norteiam. É o que
decidiu o STF no julgamento do RE 581.488, com repercussão geral. Vejamos:

É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, a


internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por
médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença
dos valores correspondentes. O procedimento da “diferença de classes”, tal qual o
atendimento médico diferenciado, quando praticados no âmbito da rede pública, não
apenas subverte a lógica que rege o sistema de seguridade social brasileiro, como
também afronta o acesso equânime e universal às ações e serviços para promoção,
proteção e recuperação da saúde, violando, ainda, os princípios da igualdade e da
dignidade da pessoa humana. Inteligência dos arts. 1º, inciso III; 5º, inciso I; e, 196 da
Constituição Federal. Não fere o direito à saúde, tampouco a autonomia profissional do
médico, o normativo que veda, no âmbito do SUS, a assistência diferenciada mediante
pagamento ou que impõe necessidade de triagem dos pacientes em postos de saúde
previamente à internação.

(RE 581.488, rel. min. Dias Toffoli, j. 3-12-2015, P, DJE de 8-4-2016, com repercussão
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geral.)

Alternativa (B): incorreta. No recente julgamento da Medida Cautelar na ADI 5.501, o STF, por
decisão majoritária, deferiu liminar para suspender a eficácia da polêmica Lei nº 13.296/2016, que
havia autorizado o uso/comercialização do medicamento fosfoetanolamina sintética por pacientes
diagnosticados com neoplasia maligna mesmo diante da inexistência de estudos conclusivos quanto
aos efeitos colaterais em seres humanos e da ausência de registro sanitário da substância perante
o órgão competente. Transcreve-se, por oportuno, o que consta do Informativo de Jurisprudência
nº 826:

Distribuição de medicamento e necessidade de registro sanitário - 1

O Plenário, por decisão majoritária, deferiu medida liminar em ação direta de


inconstitucionalidade para suspender a eficácia da Lei 13.269/2016, que autoriza o uso
do medicamento fosfoetanolamina sintética por pacientes diagnosticados com neoplasia
maligna, a despeito da inexistência de estudos conclusivos no tocante aos efeitos
colaterais em seres humanos, bem assim de ausência de registro sanitário da substância
perante o órgão competente. O Colegiado entendeu que, ao suspender a exigibilidade
de registro sanitário do medicamento, a lei impugnada discrepa da Constituição (art. 196)
no tocante ao dever estatal de reduzir o risco de doença e outros agravos à saúde dos
cidadãos. O STF, em atendimento ao preceito constitucional, tem proferido decisões a
garantir o acesso a medicamentos e tratamentos médicos, cabendo aos entes federados,
em responsabilidade solidária, fornecê-los. O caso, entretanto, não se amolda a esses
parâmetros. Sucede que, ao dever de fornecer medicamento à população contrapõe-
se a responsabilidade constitucional de zelar pela qualidade e segurança dos produtos
em circulação no território nacional, ou seja, a atuação proibitiva do Poder Público, no
sentido de impedir o acesso a determinadas substâncias. Isso porque a busca pela cura
de enfermidades não pode se desvincular do correspondente cuidado com a qualidade
das drogas distribuídas aos indivíduos mediante rigoroso crivo científico. Na elaboração
do ato impugnado, fora permitida a distribuição do remédio sem o controle prévio de
viabilidade sanitária. Entretanto, a aprovação do produto no órgão do Ministério da Saúde
é condição para industrialização, comercialização e importação com fins comerciais (Lei
6.360/1976, art. 12). O registro é condição para o monitoramento da segurança, eficácia
e qualidade terapêutica do produto, sem o qual a inadequação é presumida. A lei em
debate é casuística ao dispensar o registro do medicamento como requisito para sua
comercialização, e esvazia, por via transversa, o conteúdo do direito fundamental à
saúde.

ADI 5501 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 19.5.2016. (ADI-5501)

Distribuição de medicamento e necessidade de registro sanitário - 2


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O Tribunal vislumbrou, na publicação do diploma impugnado, ofensa à separação de


Poderes. Ocorre que incumbe ao Estado, de modo geral, o dever de zelar pela saúde
da população. Entretanto, fora criado órgão técnico, autarquia vinculada ao Ministério
da Saúde (Anvisa), à qual incumbe o dever de autorizar e controlar a distribuição
de substâncias químicas segundo protocolos cientificamente validados. A atividade
fiscalizatória (CF, art. 174) é realizada mediante atos administrativos concretos
devidamente precedidos de estudos técnicos. Não cabe ao Congresso, portanto, viabilizar,
por ato abstrato e genérico, a distribuição de qualquer medicamento. Assim, é temerária
a liberação da substância em discussão sem os estudos clínicos correspondentes, em
razão da ausência, até o momento, de elementos técnicos assertivos da viabilidade do
medicamento para o bem-estar do organismo humano. Vencidos os Ministros Edson
Fachin, Rosa Weber, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que concediam a medida liminar
para dar interpretação conforme à Constituição ao preceito impugnado. Reputavam que
o uso do medicamento, nos termos da lei, deveria ser autorizado a pacientes em estágio
terminal.

ADI 5501 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 19.5.2016. (ADI-5501)

Alternativa (C): correta. É o que prevê expressamente o art. 199, § 1º, da CRFB/88, possibilitando
que as entidades filantrópicas e sem fins lucrativos sejam destinatárias de recursos públicos. Dada
sua relevância, transcreve-se na integralidade o referido artigo:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema


único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às


instituições privadas com fins lucrativos.

§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na


assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.

§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos,


tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem
como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado
todo tipo de comercialização.

Alternativa (D): correta. Trata-se de entendimento pacífico e há muito consolidado na jurisprudência


do STF, como se observa abaixo:

Após refletir sobre as informações colhidas na Audiência Pública – Saúde e sobre a


jurisprudência recente deste Tribunal, é possível afirmar que, em matéria de saúde
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pública, a responsabilidade dos entes da Federação deve ser efetivamente


solidária. No RE 195.192-3/RS, a Segunda Turma deste Supremo Tribunal consignou o
entendimento segundo o qual a responsabilidade pelas ações e serviços de saúde é
da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.

[STA 175 AgR, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 17-3-2010, P, DJE de 30-4-2010.]

= RE 607.385 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 21-6-2011, 1ª T, DJE de 1º-8-2011

Sendo assim, qualquer destes entes federativos possui legitimidade ad causam para figurar no polo
passivo de demanda que objetiva a garantia do acesso à medicação para pessoas desprovidas
de recursos financeiros (vide, por todos, STF, AgRg no Ag 1.107.605, 2ª Turma, j. em 3-8-2010).

Cumpre trazer a lume, porém, recente decisão do STJ segundo a qual nas ações para fornecimento
de medicamentos, apesar de a obrigação ser solidária entre Municípios, Estados e União, caso
o autor tenha proposto a ação apenas contra o Estado-Membro, não cabe o chamamento ao
processo da União, medida que apenas iria protelar a solução da causa (STJ, REsp 1.203.244/SC,
1ª Seção, rel. min. Herman Benjamin, j. em 9-4-2014, Recurso Repetitivo).

Alternativa (E): correta. É o que decidiu o STF, em significativa “virada jurisprudencial”, no


julgamento do RE 567.985, in verbis:

A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da


CR, estabeleceu os critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo seja
concedido aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. (...) Ao apreciar a ADI
1.232-1/DF, o STF declarou a constitucionalidade do art. 20, § 3º, da Loas. (...) A decisão
do STF, entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do
critério da renda familiar per capita estabelecido pela Loas. Como a lei permaneceu
inalterada, elaboraram-se maneiras de se contornar o critério objetivo e único estipulado
pela Loas e de se avaliar o real estado de miserabilidade social das famílias com entes
idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para a concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei
10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa
Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/2001, que criou o Bolsa Escola; a Lei
9.533/1997, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a Municípios que
instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações socioeducativas.
O STF, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores posicionamentos acerca
da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo de
inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas
e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos
utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais por parte
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do Estado brasileiro). Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de


nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993.

(RE 567.985, rel. p/ o ac. min. Gilmar Mendes, j. 18-4-2013, P, DJE de 3-10-2013, com
repercussão geral.)

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

DIREITO AGRÁRIO

QUESTÃO 28. Sobre a disciplina constitucional do direito agrário, assinale a alternativa


correta:

a) O princípio da função social da propriedade, aplicado ao direito agrário, atribui ao


proprietário o direito de usar, gozar e dispor da coisa como melhor lhe aprouver.

b) A política agrícola será planejada e executada na forma da lei complementar, com


a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores
rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes.

c) A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política


agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.

d) Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente


sobre direito agrário.

e) A Constituição não admite a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por


pessoa física ou jurídica estrangeira.

COMENTÁRIO

A questão versa sobre a política agrícola e fundiária prevista na Constituição da República,


recomendando-se do candidato leitura atenta dos dispositivos mencionados nos comentários a
seguir.

Alternativa (A): incorreta. O art. 186 da CRFB/88 estabelece os critérios para aferição do
cumprimento da função social da propriedade rural, considerado vetor estruturante e fundamental
do direito agrário. Vejamos:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;


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II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio


ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Como se vê, não é dado ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor da coisa como melhor lhe
aprouver. Colaciona-se, por oportuno, julgado do STF a respeito do tema:

“O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele,
pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe
é inerente (CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial
privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos
fixados na própria Constituição da República. O acesso à terra, a solução dos conflitos
sociais, o aproveitamento racional e adequado do imóvel rural, a utilização apropriada dos
recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente constituem elementos
de realização da função social da propriedade”.

(ADI 2.213 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 4-4-2012, Plenário, DJ de 23-4-2004).

Alternativa (B): incorreta. A Constituição da República não reserva tal matéria à lei complementar,
sendo suficiente simples lei ordinária. É o que dispõe o art. 187, adiante transcrito na integralidade,
dada a sua relevância:

Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação
efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como
dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta,
especialmente:

I - os instrumentos creditícios e fiscais;

II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização;

III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;

IV - a assistência técnica e extensão rural;

V - o seguro agrícola;

VI - o cooperativismo;

VII - a eletrificação rural e irrigação;

VIII - a habitação para o trabalhador rural.

§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias,


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pesqueiras e florestais.

§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária.

Em matéria agrária, ressalte-se, o que a Constituição reserva à lei complementar é o “procedimento


contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação” (art. 184, § 3º).

Alternativa (C): correta. É o que prevê o art. 188, caput, da CRFB/88, do qual decorre o denominado
princípio da privatização das terras públicas.

Vale lembrar, ainda, que “terras devolutas são as áreas que, integrando o patrimônio das pessoas
federativas, não são utilizadas para quaisquer finalidades públicas específicas” (JOSÉ DOS
SANTOS CARVALHO FILHO in Manual de Direito Administrativo, 26ª ed. São Paulo: 2013, ed.
Atlas. Pág. 1.205).

Alternativa (D): incorreta. Nos termos do art. 22, I, da CRFB/88, compete privativamente à União
legislar sobre direito agrário.

Alternativa (E): incorreta. Nos termos do art. 190 da CRFB/88, “a lei regulará e limitará a aquisição
ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os
casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional”. Atualmente, tal regulamentação/
limitação se dá pela Lei nº 5.709/71, sendo que a aquisição de imóvel rural que viole as prescrições
desta é nula de pleito direito (art. 15).

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

LEGISLAÇÃO DE ENSINO

QUESTÃO 29. Sobre o direito constitucional à educação e de acordo com a jurisprudência


do STF, assinale a alternativa incorreta:

a) A cláusula da reserva do possível não é oponível quando a obrigação decorre de


mandamento constitucional, tendo em conta o núcleo de intangibilidade dos direitos
fundamentais tutelados, sendo possível ao Judiciário, pois, determinar a contratação
de professores especializados em libras para efetivação de política pública de inclusão
de deficientes auditivos.

b) A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o princípio da


gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.

c) O servidor público estadual, estudante de universidade pública do Estado, removido


de ofício, pode ser matriculado em instituição congênere federal, caso não haja vaga
na universidade de origem.
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d) São inconstitucionais o art. 28, § 1º, e o art. 30, da Lei nº 13.146/2015, que determinam
que as escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo
às pessoas com deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa
obrigação, uma vez que a Constituição impõe ao Estado, e não aos particulares, o dever
de oferecer atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência.

e) É materialmente inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de


prática jurídica da Universidade Estadual deverá manter plantão criminal nos finais
de semana e feriados para atender pessoas hipossuficientes que sejam presas em
flagrante, por violação à autonomia administrativa, financeira, didática e científica
constitucionalmente assegurada às universidades.

COMENTÁRIO

A questão aborda a jurisprudência do STF em matéria de educação, exigindo que o candidato


conheça mais do que a simples literalidade do texto constitucional. Assim o tema é geralmente
cobrado nas provas de advocacia pública federal. Vejamos cada uma das alternativas:

Alternativa (A): correta. Conforme jurisprudência reiterada do STF, o óbice imposto pelo princípio
da separação dos poderes não inviabiliza, por si só, a atuação do Poder Judiciário diante de
inadimplemento do Estado em políticas públicas constitucionalmente previstas. Assim, ainda que
tal atuação seja excepcional, é incabível falar em interferência indevida do Judiciário em matéria
orçamentário-financeira quando a obrigação decorre de mandamento constitucional, como é o
caso do direito à educação. Igualmente, mostra-se inviável a oposição da cláusula da reserva do
possível nessas hipóteses, tendo em conta o núcleo de intangibilidade dos direitos fundamentais
tutelados. Neste sentido:

1. Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Constitucional.


Educação de deficientes auditivos. Professores especializados em Libras. 3.
Inadimplemento estatal de políticas públicas com previsão constitucional. Intervenção
excepcional do Judiciário. Possibilidade. Precedentes. 4. Cláusula da reserva do
possível. Inoponibilidade. Núcleo de intangibilidade dos direitos fundamentais. 5.
Constitucionalidade e convencionalidade das políticas públicas de inserção dos
portadores de necessidades especiais na sociedade. Precedentes. 6. Ausência de
argumentos suficientes a infirmar a decisão recorrida. 7. Agravo regimental a que se
nega provimento.

(ARE 860.979 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j. 14-4-2015, 2ª T, DJE de 6-5-2015).

Alternativa (B): correta. É o entendimento cristalizado na Súmula Vinculante nº 12 do STF, segundo


a qual “a cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206,
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IV, da CF”.

Alternativa (C): correta. É o que decidiu o STF no julgamento do RE 464.217 AgR (rel. min. Cezar
Peluso, j. 7-8-2012, 2ª T, DJE de 20-8-2012.), reafirmando a constitucionalidade do art. 1º, da Lei nº
9.539/96, segundo o qual “a transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a qualquer
sistema de ensino, em qualquer época do ano e independente da existência de vaga, quando
se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se
requerida em razão de comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de
domicílio para o município onde se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima
desta” (Vide ADI 3324-7).

Alternativa (D): incorreta. No recente julgamento da ADI 5357, proposta pela Confederação Nacional
dos Estabelecimentos de Ensino (CONFENEN), o plenário do STF declarou a constitucionalidade
dos aludidos dispositivos contidos no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). Pela
importância do tema e sua atualidade, recomenda-se a leitura do Informativo de Jurisprudência nº
829 do STF:

Direito à educação: ensino privado e acesso a pessoas com deficiência - 1

Os dispositivos impugnados tratam da obrigatoriedade das escolas privadas de oferecer


atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência. Reputou
que a responsabilidade pela alteridade é um elemento estruturante da Constituição.
Nesse sentido, a atuação do Estado na inclusão das pessoas com deficiência pressupõe
a ideia de que essa ação tem via dupla, ou seja, traz benefícios a toda a população. Em
outras palavras, todos os cidadãos têm o direito ao acesso a uma democracia plural, de
pessoas, credos, ideologias e outros elementos. Especificamente, a Constituição prevê
em diversos dispositivos a proteção da pessoa com deficiência (artigos 7º, XXXI; 23, II;
24, XIV; 37, VIII; 40, § 4º, I; 201, § 1º; 203, IV e V; 208, III; 227, § 1º, II, e § 2º; e 244). Ao
se compreender pluralidade e igualdade como duas faces da mesma moeda, entende-
se que a igualdade não se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a
bens jurídicos, mas engloba também a previsão normativa de medidas que possibilitem,
de fato, esse acesso e sua efetivação concreta. A respeito, fora promulgado o Decreto
6.949/2009 (Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência),
que reconhece, em seu art. 24, o direito à educação como isento de discriminação
e determina que os Estados partes da Convenção assegurem sistema educacional
inclusivo em todos os níveis, de maneira que as pessoas com deficiência não poderão
ser excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência. Ou seja, à
luz dessa Convenção e, por consequência, da própria Constituição (art. 5º, § 3º), o
ensino inclusivo em todos os níveis é imperativo que se põe mediante regra explícita.
Além disso, se é certo que se prevê como dever do Estado facilitar às pessoas com
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deficiência sua plena e igual participação no sistema de ensino e na vida em comunidade,


bem como, de outro lado, a necessária disponibilização do ensino primário gratuito e
compulsório, é igualmente certo inexistir qualquer limitação da educação das pessoas
com deficiência somente a estabelecimentos públicos ou privados que prestem o serviço
público educacional. A Lei 13.146/2015 estabelece a obrigatoriedade de as escolas
privadas promoverem a inserção das pessoas com deficiência no ensino regular
e prover as medidas de adaptação necessárias sem que o ônus financeiro seja
repassado às mensalidades, anuidades e matrículas.

(ADI 5357 MC-Referendo/DF, rel. Min. Edson Fachin, 9.6.2016.)

Alternativa (E): correta. A autonomia prevista no art. 207 da CRFB/88 assegura às Universidades
a garantia de que não haverá indevida ingerência no âmago de suas funções. É o que decidiu
recentemente o STF no julgamento da ADI 3792/RN, constante do seu Informativo de Jurisprudência
nº 840, cuja leitura se recomenda:

Assistência jurídica e autonomia universitária

O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a


inconstitucionalidade da Lei 8.865/2006 do Estado do Rio Grande do Norte. O diploma
impugnado determina que os escritórios de prática jurídica da Universidade Estadual do
Rio Grande do Norte (UERN) mantenham plantão criminal para atendimento, nos finais
de semana e feriados, dos hipossuficientes presos em flagrante delito.

O Colegiado, de início, destacou a autonomia universitária, conforme previsão do art. 207


da CF/1988. Lembrou que, embora esse predicado não tenha caráter de independência
(típico dos Poderes da República), a autonomia impossibilita o exercício de tutela
ou a indevida ingerência no âmago de suas funções, assegurando à universidade a
discricionariedade de dispor ou propor sobre sua estrutura e funcionamento administrativo,
bem como sobre suas atividades pedagógicas.

Segundo consignou, a determinação de que escritório de prática jurídica preste serviço


aos finais de semana, para atender hipossuficientes presos em flagrante delito, implica
necessariamente a criação ou, ao menos, a modificação de atribuições conferidas ao
corpo administrativo que serve ao curso de Direito da universidade.

Ademais, como os atendimentos seriam realizados pelos acadêmicos de Direito


matriculados no estágio obrigatório, a universidade teria que alterar as grades curriculares
e horárias dos estudantes para que desenvolvessem essas atividades em regime de
plantão, ou seja, aos sábados, domingos e feriados. Assim, o diploma questionado fere
a autonomia administrativa, financeira e didático-científica da instituição, pois não há
anuência para criação ou modificação do novo serviço a ser prestado.
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Assentou, em contrapartida, que o escopo da legislação é o suprimento parcial da


deficiência do poder público em assegurar aos hipossuficientes o direito à assistência
judiciária integral e gratuita, bem como o amplo acesso à justiça.

Lembrou que o poder público procurara mitigar as deficiências da Defensoria Pública


em desempenhar esse dever fundamental (CF/1988, art. 134), ao impor, nos casos
de ausência de defensor público constituído, que essa função fosse desempenhada
por estudantes de universidades estaduais. Tais instituições, embora tenham por
principal objetivo as atividades de ensino superior, aos finais de semana passariam
a desempenhar, obrigatoriamente, por meio de seu corpo de alunos e professores,
funções de assistência jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes. Essa atividade,
nos termos da lei impugnada, prevê, inclusive, remuneração ao plantonista.

Frisou, entretanto, não haver impedimento a que o Estado-Membro realize convênio


com a universidade para viabilizar a prestação de serviço de assistência judiciária aos
necessitados.

Quanto à inconstitucionalidade formal, declarou que os arts. 2º e 3º da lei estadual


padecem de vício de iniciativa. A criação de atribuições para as secretarias de Estado
compete privativamente ao governador, e não ao parlamento.

(ADI 3792/RN, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 22-9-2016.)

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

DIREITO INTERNACIONAL

QUESTÃO 30. Sobre as fontes do Direito Internacional Público, assinale a alternativa


correta:

a) As fontes formais do Direito Internacional Público são os elementos que provocam


o aparecimento das normas jurídicas, influenciando sua criação e conteúdo.

b) As fontes materiais do Direito Internacional Público são o modo de revelação e


exteriorização da norma jurídica e dos valores que esta pretende tutelar, representadas
pelas normas do Direito Positivo.

c) O Estatuto da Corte Internacional de Justiça elenca como fontes do Direito


Internacional as convenções, o costume, os princípios gerais do direito, a jurisprudência
e a doutrina, autorizando o emprego da equidade como ferramenta que pode levar à
solução de conflitos internacionais, se as partes com isto concordarem.

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d) As normas de soft law possuem grau de imperatividade próprio das normas jurídicas,
de modo que o seu descumprimento sempre enseja aplicação de sanções.

e) Normas de jus cogens não podem ser revogadas por normas positivas de direito
internacional.

COMENTÁRIO

A questão aborda as fontes do Direito Internacional Público, tema muito presente nas provas da
matéria. Como há muitas questões controversas na doutrina, buscou-se focar nos pontos pacíficos,
que tendem a ser privilegiados pelo examinador.

Alternativa (A): incorreta. Conforme magistério de Paulo Henrique Gonçalves Portela, “as fontes
materiais do Direito Internacional Público são os elementos que provocam o aparecimento das
normas jurídicas, influenciando sua criação e conteúdo” (in Direito Internacional Público e
Privado, 8ª ed., Salvador: ed. JusPodivm, 2016. Pág. 57.).

Alternativa (B): incorreta. Conforme magistério de Paulo Henrique Gonçalves Portela, “as fontes
formais do Direito Internacional Público são o modo de revelação e exteriorização da norma jurídica
e dos valores que esta pretende tutelar, representadas pelas normas do Direito Positivo” (in Direito
Internacional Público e Privado, 8ª ed., Salvador: ed. JusPodivm, 2016. Pág. 58.).

Alternativa (C): correta. Confira-se a redação do art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de


Justiça:

Artigo 38

1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias


que lhe forem submetidas, aplicará:

a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras
expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;

b)  o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o
direito;

c) os princípios gerais de direito reconhecidos pelas Nações civilizadas;

d)  sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos


publicistas mais qualificados das diferentes Nações, como meio auxiliar para a
determinação das regras de direito.

2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex


aeque et bano, se as partes com isto concordarem.

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Alternativa (D): incorreta. Paulo Henrique Gonçalves Portela, citando Salem Hikmat Nasser,
define soft law como um conjunto de “regras cujo valor normativo seria limitado, seja porque os
instrumentos que as contêm não seriam juridicamente obrigatórios, seja porque as disposições em
causa, ainda que figurando em um instrumento constringente, não criariam obrigações de direito
positivo ou não criariam senão obrigações pouco constringentes” (in Direito Internacional Público
e Privado, 8ª ed., Salvador: ed. JusPodivm, 2016. Pág. 73.).

Alternativa (E): incorreta. As normas de jus cogens, também conhecidas como normas imperativas
de direito internacional, podem ser derrogadas por outras normas da mesma natureza, conforme
preceitua o art. 53 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, in verbis:

Artigo 53

Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito

Internacional Geral (jus cogens) 

É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma
imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma
norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida
pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma
derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito
Internacional geral da mesma natureza.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

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CEI-ADVOCACIA
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QUESTÕES DISSERTATIVAS

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 25 linhas (utilize a folha de resposta disponibilizada


na área do aluno). Procure responder com consulta tão somente à legislação seca e com
agilidade, a fim de simular a situação encontrada em prova.

PROFESSOR: RODOLFO CURSINO


E-mail: profcei.rodolfocursino@gmail.com

DIREITO AMBIENTAL

QUESTÃO 1. Considere o seguinte caso hipotético: “Ontem, João, fiscal ambiental,


ao jantar em um restaurante, ouviu uma conversa entre José, sócio administrador de uma
empresa de fabricação de produtos químicos que goza de incentivos fiscais, e Maria, sua
esposa, em que José confessou que, nos anos de 2007 e 2008, optou por despejar todos
os resíduos tóxicos resultantes de sua produção em um lago próximo, com o intuito de
diminuir custos da empresa e obter, assim, vantagens em relação aos concorrentes. Hoje,
João lavrou auto de infração”.

Acerca do acima narrado e de acordo com a legislação e entendimento doutrinário e


jurisprudencial sobre o tema, responda, fundamentadamente, aos seguintes questionamentos:

a) É possível a responsabilização administrativa de pessoa jurídica em razão de danos


ambientais?

b) O fato de a pessoa jurídica gozar de incentivos fiscais interferirá em eventual sanção


a ser aplicada?

c) No caso concreto, as pessoas envolvidas poderão, de fato, ser responsabilizadas


administrativamente pelo dano ambiental?

A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
30/01/2017: profcei.rodolfocursino@gmail.com

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PROFESSOR: JORGE OTTONI


E-mail: profcei.jorgeottoni@gmail.com

DIREITO FINANCEIRO

QUESTÃO 2. A Lei de Responsabilidade Fiscal arrola diversos requisitos para que


um ente público possa realizar ou receber transferências voluntárias. Entre outras, exige-
se “comprovação, por parte do beneficiário, de que se acha em dia quanto ao pagamento
de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto
à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos”. Sobre o tema, disserte
sobre a abrangência do termo “beneficiário”, respondendo as seguintes indagações:

a) Para que uma unidade federativa possa receber transferências voluntárias todos os
seus órgãos e pessoas devem estar em dia com suas obrigações? Fundamente e dê
exemplos.

b) Se o Prefeito da gestão anterior (2013-2016) deixou de prestar contas relativas a


uma transferência ocorrida em seu mandato, o Município, ainda seja gerido por um
novo Prefeito (2017-2020), continua impedido de receber transferências voluntárias?
Fundamente.

A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
30/01/2017: profcei.jorgeottoni@gmail.com

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PEÇA PROFISSIONAL

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 150 linhas (utilize a folha de resposta disponibilizada


na área do aluno). Não se identifique no corpo da resposta, procure responder com consulta
tão somente à legislação seca e com agilidade, a fim de simular a situação encontrada em
prova.

PROFESSOR: NATALIA MAIA


E-mail: profcei.nataliamaia@gmail.com

DIREITO CIVIL

Após a realização de chamamento público, o Estado do Ceará, por intermédio da Secretaria


Estadual de Educação e Cultura, firmou ajuste de parceria, na modalidade de contrato de
gestão, transferindo a gestão das escolas públicas estaduais integrantes da Subsecretaria
de Educação de Fortaleza a determinada organização social. Acontece que, em virtude da
avença, diversos estudantes da rede estadual resolveram ocupar a Escola de Ensino Médio
Adauto Bezerra como forma de protesto ao modelo implementado. A situação se prolonga
desde 13 de dezembro de 2016.

Em decorrência da ocupação e da consequente paralisação das atividades da escola,


estima-se que cerca de 2.800 alunos foram impedidos de realizar suas matrículas para o ano
letivo de 2017. Além disso, em vistoria realizada pela Secretaria de Educação, constatou-se
que, durante os atos de manifestação, diversos bens, dentre computadores, microscópios,
televisores e cadeiras escolares, vieram a ser inutilizados.

Na condição de Procurador do Estado do Ceará, adote a providência judicial cabível, com


vistas a garantir o pleno acesso à educação aos alunos daquela unidade de ensino.

A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
30/01/2017: profcei.nataliamaia@gmail.com

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