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GOLPE DE ARÍETE
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2020
Ferreira, Victor de Souza
Projeto de circuito hidráulico e análise numérica do
golpe de arı́ete/ Victor de Souza Ferreira. – Rio de Janeiro:
UFRJ/Escola Politécnica, 2020.
XIV, 52 p.: il.; 29, 7cm.
Orientadores: Helcio Rangel Barreto Orlande
Elton Jorge Bragança Ribeiro
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/
Curso de Engenharia Mecânica, 2020.
Referências Bibliográficas: p. 48 – 50.
1. Golpe de arı́ete. 2. Circuito hidráulico. 3. OLGA™.
4. Escoamento monofásico. I. Orlande, Helcio Rangel
Barreto et al.. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
UFRJ, Curso de Engenharia Mecânica. III. Projeto de
circuito hidráulico e análise numérica do golpe de arı́ete.
iii
À minha avó Edite.
Aos meus avôs Aloysio e Geraldo.
( in memoriam)
iv
Agradecimentos
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico
Fevereiro/2020
vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment
of the requirements for the degree of Mechanical Engineer
February/2020
Transient flows are of great importance for fluid transport. The propagation of
pressure waves generated by these transients can damage the pipeline and some-
times, cause the collapse of the hydraulic system. In this work, a model of a hy-
draulic circuit is simulated in the OLGA™commercial code, which is a reference in
the transient regime of the oil and gas industry. The numerical scheme used in
OLGA™is upwind, which is a first order scheme. For verification and validation
of the model, the results obtained are compared with experimental data from the
work of SZYDLOWSKI et al., (2002). Then, the results for the hydraulic circuit are
presented.
vii
Sumário
1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.4 Organização do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2 Revisão Bibliográfica 4
2.1 Golpe de arı́ete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1.1 Consequências do golpe de arı́ete . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.2 Causas do golpe de arı́ete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.3 Dispositivos de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3 Formulação matemática 10
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.2 Equação de conservação de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.3 Equação de conservação da quantidade de movimento linear . . . . . 12
3.4 Equação de conservação de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.5 Análise térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.6 Propriedades dos fluidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.7 Fatores de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4 Método de solução 16
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
viii
4.2 Equação de pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4.3 Esquema de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4.3.1 Equações de momentum e pressão . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.3.2 Equações de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.3.3 Equação de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.4 Métodos de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
6 Resultados e Discussões 34
6.1 Verificação e validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
6.1.1 Caso teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
6.2 Resultados do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
7 Conclusões 48
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
7.2 Recomendações para trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8 Referências bibliográficas 50
ix
Nomenclatura
a celeridade
A área da seção transversal do duto
c velocidade do som
C número de Courant
D diâmetro interno do duto
e espessura da parede do duto
E módulo de elasticidade do aço
f fator de atrito
g aceleração da gravidade
G fonte de massa
h elevação do duto
H entalpia
k perda de carga localizada
K módulo de elasticidade do lı́quido
L comprimento do duto
m massa
p pressão
Q vazão volumétrica
R fração mássica
Re número de Reynolds
S perı́metro da seção transversal do duto
t tempo
T temperatura
u coeficiente global da transferência de calor na parede do tubo
U velocidade longitudinal do fluido
x
V fração de volume
z espaço
Letras gregas
∆ variação
rugosidade absoluta do duto
µ viscosidade dinâmica do fluido
ψ taxa de transferência de massa
ρ massa especı́fica do fluido
θ ângulo de inclinação do duto
Subscritos
d droplets (gotas)
D deposição
E arrastamento
f fluido
F final
g gás
G entre fases
i interface
j volume finito
l lı́quido
L laminar
o inicial
r relativo
T turbulento
xi
Lista de Figuras
xii
6.7 Localização dos sensores de pressão analisados . . . . . . . . . . . . . 44
6.8 Pressão próxima à entrada (sensor 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6.9 Pressão na parte intermediária do circuito (sensor 7) . . . . . . . . . 46
6.10 Pressão próxima à saı́da (sensor 13) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
xiii
Lista de Tabelas
xiv
Capı́tulo 1
Introdução
1.1 Motivação
O estudo do escoamento em tubulações sempre se constituiu em um problema
de grande interesse, tanto na área industrial quanto na área acadêmica.
A indústria do petróleo utiliza códigos numéricos como ferramentas para o pro-
jeto dessas tubulações, além da previsão de problemas que serão citados ao longo
desse trabalho. Um desses códigos utilizados é o OLGA™(Oil Liquid - Gas Analy-
ser ), que possibilita a análise de escoamentos multifásicos a partir do seu modelo
de dois fluidos unidimensional. Esse trabalho objetiva a simulação do escoamento
monofásico de água em um circuito hidráulico com o código OLGA™.
Em um sistema de abastecimento de água, qualquer perturbação no escoamento
resultará na alteração das condições de fluxo e dará inı́cio à uma sequência de on-
das transientes até reestabelecer o regime de escoamento permanente. Embora a
ocorrência do regime transiente seja inevitável, normalmente é mais severa nas
estações de bombeamento e válvulas de controle. Essas perturbações podem ge-
rar ondas de pressão, com velocidade de propagação bastante significativa (WOOD,
2005).
No presente trabalho, será analisado um fenômeno transiente conhecido como
golpe de arı́ete gerado a partir do fechamento de uma válvula de controle de vazão.
Conforme será analisado posteriormente, o golpe de arı́ete gera picos de pressão, que
podem ser extremamente prejudiciais aos sistema hidráulico. A figura 1.1 mostra
um experimento apresentado por SZYDLOWSKI (2002), que demonstra a variação
1
da pressão na seção de uma válvula a partir do seu fechamento.
Conforme a figura 1.1, pode-se notar que, a partir do fechamento de uma válvula,
em aproximadamente 0,5 segundos, são gerados picos de pressão de amplitude ele-
vada. Um outro ponto importante a ressaltar é que o sistema demora um certo
tempo para estabilizar a pressão.
Uma outra motivação para o estudo do golpe de arı́ete é o seu possı́vel uso
na detecção de vazamentos nas tubulações. A presença de um vazamento no duto
durante o golpe de arı́ete causa uma atenuação no sinal gerado pelas ondas de
pressão, através do escape do fluido pressurizado (COLOMBO et al., 2009).
1.2 Objetivo
O objetivo desse trabalho é analisar numericamente um fenômeno transiente
conhecido como golpe de arı́ete resultante pelo fechamento de uma válvula ao fi-
nal de um circuito hidráulico. Tal fenômeno será analisado para o caso de um
circuito hidráulico construı́do no Laboratório de Transmissão e Tecnologia do Ca-
lor, LTTC, do Departamento/Programa de Engenharia Mecânica, da Escola Po-
litécnica/COPPE.
2
1.3 Metodologia
Para validação, a metodologia deste trabalho consiste em comparar resultados
experimentais de um caso teste com um modelo simulado no programa comercial
OLGA™(SCHLUMBERGER, versão 2017.2). Este é um programa referência em
regime transiente, extremamente utilizado em diversas situações operacionais das
empresas de óleo e gás. Em seguida, é simulado o escoamento de água do circuito
hidráulico construı́do no LTTC.
3
Capı́tulo 2
Revisão Bibliográfica
∆p = ρa∆U (2.1)
4
é a variação de velocidade longitudinal do fluido, e a é a velocidade de propagação
da onda de pressão no fluido, também conhecida como celeridade.
ALLIEVI (1902) (apud GHIDAOUI, 2005) desenvolveu a teoria geral do golpe
de arı́ete. Este autor produziu as primeiras cartas que permitiam analisar as so-
brepressões e subpressões na seção da válvula provocadas pelo seu fechamento uni-
forme. Posteriormente, houve, então, o refinamento das equações que governam o
fenômeno, pelas publicações de RICH (1951), PARMAKIAN (1963), STREETER
(1963), WYLIE (1967), CHAUDHRY (1979), ALMEIDA (1992), entre outros.
O termo golpe de arı́ete foi atribuı́do por pesquisadores franceses, que assimila-
ram o som produzido pelas sucessivas ondas de pressão ao som das batidas de um
arı́ete, uma antiga ferramenta de guerra da época medieval, cuja finalidade era o
arrombamento de muralhas e portões de fortificações.
Picos de pressão
Cavitação
5
o colapso das bolhas com o retorno na fase lı́quida. Como o volume especı́fico do
lı́quido é inferior ao volume especı́fico do vapor, o colapso das bolhas implica a
existência de um vazio, causando o surgimento de ondas de choque (MATTOS et
al., 1998).
Vibrações
Qualidade do fluido
6
• Partida ou desligamento da bomba;
• Excitação da bomba para frequências de ressonância com curvas instáveis de
head x vazão;
• Abertura ou fechamento de válvula (variação da seção transversal do escoa-
mento);
• Variação nas pressões de contorno;
• Mudanças rápidas nas condições de demanda;
• Variações no nı́vel de entrada da água;
• Enchimento ou drenagem de tubos.
Válvula de retenção
7
retenção a jusante para impedir a reversão do fluxo, o que induziria a bomba a girar
no sentido contrário, podendo provocar danos na mesma (TSUTIYA, 2006).
A figura 2.1 representa um exemplo de um tipo de válvula de retenção, onde o
fluido escoa normalmente da esquerda para a direita. Porém, se houver uma inversão
no fluxo a portinhola se fecha, impedindo assim o fluxo no sentido contrário.
Chaminé de equilı́brio
8
potencial e, assim, reduzindo o valor da sobrepressão. Dessa forma, com o afluxo e
oscilação da água na chaminé, os efeitos do golpe de arı́ete entre esta estrutura e o
reservatório são evitados (CAMARGO et al., 1989).
Volante de inércia
Os volantes de inércia são dispositivos que são acoplados ao eixo da bomba, com
a finalidade de reduzir a taxa de variação de rotação do conjunto, por ocasião de
seu desligamento. Assim, aumenta-se o tempo de parada do conjunto, e consequen-
temente, diminui-se a intensidade do golpe de arı́ete (CAMARGO, 1989). Ou seja,
se um conjunto motor bomba possui um volante de inércia, este conjunto terá um
momento de inércia maior e consequentemente, a variação na rotação será menor e
a variação de carga também será menor, quando comparada com a mesma unidade
desprovida do volante de inércia (TSUTIYA, 2006).
9
Capı́tulo 3
Formulação matemática
3.1 Introdução
Segundo BENDIKSEN et al. (1991), que é uma referência clássica desse pro-
grama, o OLGA™(Oil-Liquid-Gas Analyser ), acrônimo do inglês para Analisador de
Escoamento em Óleo, Lı́quido e Gás, é um simulador numérico unidimensional de
escoamento multifásico em dutos e instalações de produções dedicado à indústria de
óleo e gás.
O desenvolvimento do modelo dinâmico de dois fluidos do OLGA™começou como
um projeto para a petrolı́fera norueguesa Statoil, para simular transientes lentos,
associados com transporte de massa. Problemas de interesse incluem terrain slug-
ging, inicialização e fechamento de gasoduto, além de pigging. A primeira versão
do OLGA™foi desenvolvida em 1983, mas o principal desenvolvimento foi realizado
a partir de uma pesquisa conjunta entre o IFE (Inst. for Energy Technology) e
o SINTEF, dois institutos localizados na Noruega, apoiado por várias petrolı́feras
ao redor do mundo, como Conoco Norway, Esso Norge, Mobil Exploration Norway,
Statoil, entre outras (BENDIKSEN et al., 1991).
A abordagem do OLGA™trata separadamente a fase lı́quida da fase gasosa, di-
vidindo a fase lı́quida em duas frentes: uma na parede do duto e outra dispersa
no interior do duto. A fase dispersa é chamada de droplets, ou gotas de lı́quido, e
desconsidera os efeitos da parede, mas considera a presença de uma descontinuidade
em maior ou menor grau da fase lı́quida.
A formulação matemática do OLGA™considera um sistema com três equações
10
de conservação de massa, uma para a fase gasosa, uma para fase lı́quida e outra
para gotas. Além disso, o programa considera um sistema com duas equações de
conservação de quantidade de movimento, sendo uma combinada para a fase gasosa
e gotas de lı́quido, e uma para fase lı́quida. Para a equação de energia, o programa
considera uma equação para a mistura entre as três fases (BENDIKSEN et al., 1991).
Para simplificação do modelo, foram consideradas as seguintes caracterı́sticas do
escoamento:
• Dutos com seção transversal circular;
• Escoamento unidimensional (1D);
• Escoamento monofásico, apenas a fase lı́quida;
• Regime transiente.
∂(Vg ρg ) −1 ∂(AVg ρg Ug )
= + ψG + Gg (3.1)
∂t A ∂z
∂(Vl ρl ) −1 ∂(AVl ρl Ul ) Vl
= − ψG − ψE + ψD + Gl (3.2)
∂t A ∂z Vl + Vd
∂(Vd ρl ) −1 ∂(AVd ρl Ud ) Vd
= − ψG + ψE − ψD + Gd (3.3)
∂t A ∂z Vl + Vd
Onde:
• Vg , Vl e Vd são as frações de volume de gás, de lı́quido, e de gotas de lı́quido,
respectivamente;
• Ug , Ul e Ud são as velocidade de escoamento do gás, lı́quido e gotas de lı́quido,
respectivamente;
• A é a área da seção transversal do tubo;
11
• ρg e ρl são as massas especı́ficas do gás e do lı́quido, respectivamente;
• ψG é a taxa de transferência de massa entre as fases;
• ψE é a taxa de arrastamento;
• ψD é a taxa de deposição;
• Gg , Gl e Gd são as possı́veis fontes de massa de gás, lı́quido e gotas, respecti-
vamente.
Considerando o escoamento monofásico, ou seja, não há transferência de massa
entre as fases (ψG = 0), não há deposição de gotas (ψD = 0), não há arrastamento
(ψE = 0), a equação de conservação de massa para a fase lı́quida se reduz a:
∂(Vl ρl ) −1 ∂(AVl ρl Ul )
= + Gl (3.4)
∂t A ∂z
+ Vg ρg gcosθ + ψG Ua − Fd
12
∂(Vg ρg Ug ) ∂(Vd ρl Ud ) ∂p 1 ∂(AVg ρg Ug2 ) 1 Sg
+ = − Vg ( ) − − fg ρg |Ug |Ug (3.7)
∂t ∂t ∂z A ∂z 2 4A
1 Si ∂p
− fi ρg |Ur |Ur + Vg ρg gcosθ + ψG Ua − Vd ( )
2 4A ∂z
1 ∂(AVd ρl Ud2 ) Vd
− + Vd ρl gcosθ − ψG Ua
A ∂z Vl + Vd
+ ψE Ui − ψD Ud
Onde:
• θ é o ângulo de inclinação do duto;
• Sg , Si e Sl são os perı́metros molhados do gás, da interface e do lı́quido,
respectivamente;
• fg , fi e fl são os fatores de atrito do gás, da interface e do lı́quido, respectiva-
mente;
• Ur é a velocidade relativa.
• Ua = Ul , para ψG > 0 (e evaporação da fase lı́quida),
Ua = Ud , para ψG > 0 (e evaporação da fase de gotas) e
Ua = Ug , para ψG < 0 (condensação).
Considerando o escoamento monofásico, ou seja, não há escoamento de gás (ρg =
0), não há transferência de massa entre as fases (ψG = 0), não há deposição de gotas
(ψD = 0) e não há arrastamento (ψE = 0). Além disso, segundo Bendiksen et al.,
(1991), a velocidade da interface Ui é aproximada por Ul . Dessa forma, a equação
de conservação da quantidade de movimento linear para a fase lı́quida se reduz a:
13
3.4 Equação de conservação de energia
A equação de conservação de energia considera uma mistura entre as três fases
(BENDIKSEN et al., 1991).
∂ 1 2 1 2 1 2
mg Eg + Ug + gh + ml El + Ul + gh + md Ed + Ud + gh
∂t 2 2 2
∂ 1 2 1 2
= HS + u − mg Ug Hg + Ug + gh + ml Ul Hl + Ul + gh
∂z 2 2
1
+ md Ud Hd + Ud2 + gh (3.10)
2
Onde:
• Eg , El e Ed são as energias internas do gás, lı́quido e gotas, por unidade de
massa;
• h é a elevação;
• HS é a entalpia da fonte de massa;
• u é a transferência de calor da parede do tubo.
Considerando apenas o escoamento de lı́quido, a equação de conservação de ener-
gia se reduz a:
∂ 1 2 ∂ 1 2
ml El + Ul + gh =− ml Ul Hl + Ul + gh + HS + u (3.11)
∂t 2 ∂z 2
14
entalpia, capacidade e condutividade térmica são obtidas a partir de um arquivo
PVT, que pode ser gerado pelo usuário a partir de um módulo separado do OLGA™,
e são apresentadas em função da pressão e temperatura, e os valores das propriedades
são calculados a partir da interpolação dessas tabelas.
Onde:
• é a rugosidade absoluta do tubo;
• dh é o diâmetro hidráulico do tubo.
15
Capı́tulo 4
Método de solução
4.1 Introdução
A formulação matemática, apresentada no capı́tulo 3, produz um conjunto aco-
plado de equações diferenciais parciais não-linear de primeira ordem unidimensio-
nais, com coeficientes não-lineares. Devido à esta não-linearidade, não há nenhum
método numérico ideal. De fato, códigos como o TRAC™, RELAP™, CATHARE™e
OLGA™usam diferentes esquemas de solução. No presente trabalho, é abordado
apenas o esquema de integração do OLGA™.
ρl = ρl (p, T, Rl ) (4.1)
16
Onde Rl corresponde à fração mássica de lı́quido, dada como:
ml
Rl = (4.2)
mg + ml + md
Logo, para o caso de escoamento monofásico, mg = 0 e md = 0, e assim Rl = 1.
Para a equação 3.2, o lado esquerdo pode ser expresso como:
Vl ∂ρl ∂p 1 ∂ml
= (4.4)
ρl ∂p T,Rl ∂t ρl ∂t
Vl ∂ρl ∂p 1 ∂(AVl ρl Ul ) 1
=− + Gl (4.5)
ρl ∂p T,Rl ∂t Aρl ∂t ρl
17
Figura 4.1: Malha deslocada (SALES, 2013)
n+1 n+1
−1 ∂ 2 1 Aj ρnj−1 Ujn Uj − Aj−1 ρnj−2 Uj−1
n
Uj−1
(AρU )j = − (4.6)
A ∂z Aj−1 ∆zj−1
18
Para apresentar a discretização das equações, é importante apresentar uma in-
trodução sobre o conceito de matriz de banda.
Matriz de banda é uma matriz quadrada esparsa cuja diagonal principal e algu-
mas diagonais paralelas à principal são compostas de elementos não nulos (BARROS,
2011).
a1 b1 0 ... ... ... 0
c1 a2 b2 0 ... ... 0
0 c2 a3 b3 0 ... 0
.. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . .
0 . . . . . . . . . cn−2 an−1 bn−1
0 ... ... ... 0 cn−1 an
Para algum inteiro k não negativo entre 0 e n − 1. Numa matriz banda todos
os elementos fora da diagonal e das primeiras k sub-diagonais, acima ou abaixo da
diagonal, são nulos. A forma de tal matriz é ilustrada pela figura 4.2 (CLAEYSEEN,
2005).
19
4.3.1 Equações de momentum e pressão
20
4.3.2 Equações de massa
21
4.3.3 Equação de energia
22
4.4 Métodos de integração
Nos métodos de integração explı́cita, o intervalo de tempo (∆t) é limitado pelo
Courant Friedrich Levy (CF L), que é um critério baseado na velocidade do som
(BENDIKSEN et al., 1991).
∆zj
∆t ≤ min∀j (4.15)
|Uf j | + cf j
Os métodos de integração implı́cita não são limitados pelo critério da equação
4.15, mas para problemas dinâmicos não-lineares a velocidade de transporte limita
o intervalo de tempo máximo permitido a ser aplicado. Dessa forma, o critério do
CF L baseado na velocidade de transporte é (BENDIKSEN et al. 1991):
∆zj
∆t ≤ min∀j (4.16)
|Uf j |
Como a velocidade do som é normalmente da ordem de 102 a 103 vezes maior do
que a média das velocidades das fases, os métodos explı́citos requerem um passo de
tempo menor do que os métodos implı́citos.
Como os transientes de escoamento normalmente são lentos em tubulações
de petróleo e gás, um método de integração implı́cito é usado. Um método
implı́cito permite ∆t máximo maior devido a um melhor acoplamento dos termos
nas equações. Uma desvantagem é que os termos se tornam mais complicados após
a linearização e, portanto, aumentam a complexidade do código.
23
Capı́tulo 5
24
Figura 5.1: Representação do caminho percorrido pelo fluido no OLGA™
25
Figura 5.2: Foto do circuito
26
A partir da instalação de válvulas de bloqueio do tipo esfera motorizadas, é
possı́vel reduzir a extensão do circuito, possibilitando a simulação para vários com-
primentos. Ao final do circuito há uma redução de 2”para 1 1/2”, visto que a válvula
controladora de vazão é de diâmetro 1 1/2”. No presente trabalho será analisado
apenas o caso para o maior comprimento do circuito (L = 150 m).
Treze transdutores de pressão foram instalados ao longo do circuito, sendo que
dois transdutores, o da entrada e da saı́da são da marca OMEGA (modelo PXM409-
010BAV), cuja sensibilidade é de 0,008 bar. Os demais são da marca VELKI (modelo
VKP-011), cuja sensibilidade é de 0,025 bar. A localização dos transdutores de
pressão a partir da saı́da da bomba é apresentada na tabela 5.1.
27
Também foram instalados dois termopares da marca SALCAS do tipo T, que
operam na faixa de -270 a 400ºC, na entrada e saı́da do circuito, cuja finalidade é
corrigir a viscosidade da água, que varia com a temperatura.
As figuras 5.4 e 5.5 representam as vistas das paredes posterior e lateral e de-
monstram a localização dos transdutores de pressão (representados na cor vermelha)
e vazão (representados na cor verde), além dos termopares (representados na cor
amarelo).
28
onda de pressão quando a válvula controladora de vazão for fechada, provocando
o golpe de arı́ete, evitando que a bomba seja danificada. A válvula escolhida é da
fabricante PROPOSTO, modelo em latão com portinhola.
O abastecimento de água é proporcionado por um reservatório de 3000 litros, cujo
volume é suficiente para atender a vazão de 16,9 m3 /h, isto é, a cada 11 minutos
o volume do reservatório será circulado. Para que seja atingida essa vazão, cujo
o número de Reynolds associado é 105 , foi instalada uma bomba centrı́fuga com
potência de 4 CV da SCHNEIDER (modelo VME-9540).
Resumindo, o sistema hidráulico contará com os seguintes acessórios: 1 reser-
vatório de 3000 litros, 1 bomba, 1 válvulva de retenção, 13 transdutores de pressão,
2 medidores de vazão, 2 sensores de temperatura, 18 válvulas esfera (para flexibi-
lização do circuito) e 1 válvula controladora de vazão.
29
Figura 5.6: Curva da bomba para 30 e 60 Hz
30
Figura 5.7: Curva da bomba de 60 Hz ajustada
31
5.3 Perdas de carga
Apesar de o OLGA™ter um modelo para o cálculo do fator de atrito, conforme de-
monstrado na seção 3.7, esse modelo contempla apenas a perda de carga em trechos
lineares horizontais, sendo necessário então a adição da perda de carga localizada
para as válvulas e curvas.
Como a vazão volumétrica do circuito é conhecida, Q = 16,9 m3 /h, podemos
calcular a velocidade do escoamento a partir da seguinte relação:
Q
U= (5.2)
A
ρU D
Re = (5.3)
µ
1 /D 2, 51
√ = −2, 0log + √ (5.4)
f 3, 7 Re f
32
Tabela 5.2: Perdas de carga localizada (CRANE, 2010)
Perda localizada (k) Relação com fator de atrito Valor
Válvula de retenção 50f 1,47
Válvula de bloqueio 3f 0,09
Curva de 90º 12f 0,37
d2
k = 0, 5 1 − 21 (5.5)
d2
33
Capı́tulo 6
Resultados e Discussões
34
Figura 6.1: Desenho esquemático do caso teste (SZYDLOWSKI, 2002)
∆z U 2
∆p = f ρ (6.1)
D 2
35
Tabela 6.1: Parâmetros do caso teste
Parâmetro Variável Valor
Comprimento do duto L 72 m
Diâmetro do duto D 42 mm
Espessura da parede do duto e 3 mm
Módulo de elasticidade do aço E 2 ×1011 P a
Módulo de elasticidade da água K 2 ×109 P a
Rugosidade do duto 0.08 mm
Velocidade do escoamento v 0,38 m/s
Pressão inicial na seção da válvula po 0.51 MPa
Inı́cio do fechamento da válvula to 0,38 s
Final do fechamento da válvula tF 0,494 s
Intervalo de tempo ∆t 0,0005 s
36
Figura 6.3: Variação da pressão calculada (SZYDLOWSKI, 2002)
A partir dos dados da tabela 6.1, foi simulado a variação de pressão na seção da
válvula com o OLGA™.
Nas figuras 6.5 e 6.6 são apresentadas a comparação entre o resultado experi-
mental de SZYDLOWSKI (2002) e a simulação no OLGA™, e a comparação entre
37
a simulação de SZYDLOWSKI (2002) e a simulação no OLGA™, respectivamente.
38
Em seguida é feita uma análise quantitativa entre as amplitudes de pressão e
frequência, e são discutidos os resultados.
A tabela 6.2 apresenta uma comparação entre as amplitudes de pressão dos
resultados experimentais e calculados por SZYDLOWSKI (2002) e os resultados
obtidos na simulação do OLGA™.
y (t)
δ = ln (6.2)
y (t + TD )
Onde y(t) e y(t + TD ) são duas amplitudes consecutivas nas séries temporais de
pressão.
39
A tabela 6.3 representa os decrementos logarı́tmicos médios para os resultados
experimentais e calculados por SZYDLOWSKI (2002) e os resultados obtidos na
simulação do OLGA™.
δ
ζ=q (6.3)
(2π)2 + δ 2
40
conforme mostrado nos trabalhos de AXWORTHY et al. (2000) e BRUNONE et
al. (1995), que as equações para o cálculo da tensão de cisalhamento não são capa-
zes de proporcionar dissipação suficiente para escoamentos transientes rápidos em
tubulações, que é o caso do golpe de arı́ete, ou seja, a tensão de cisalhamento para
esse caso é maior que prevista.
Dessa forma, WYLIE (1997) apresentou uma fórmula para calcular a força de
atrito na parede do duto, e é apresentada na equação 6.4.
f |U |U | ∂U ∂U
Fat = + fu −a (6.4)
2D ∂t ∂z
41
Tabela 6.5: Perı́odos
Picos Dados experimentais (s) SZYDLOWSKI (s) OLGA™(s)
1º pico 0,28 0,24 0,22
2º pico 0,24 0,29 0,22
3º pico 0,24 0,22 0,22
4º pico 0,26 0,26 0,27
5º pico 0,19 0,18 0,22
6º pico 0,28 0,18 0,22
7º pico 0,21 0,20 0,22
8º pico 0,24 0,20 0,22
9º pico 0,24 0,20 0,22
10º pico 0,21 0,18 0,27
11º pico 0,24 0,20 0,27
12º pico 0,19 0,22 0,22
13º pico 0,24 0,18 0,19
14º pico 0,24 0,22 0,19
15º pico 0,24 0,20 0,22
16º pico 0,24 0,22 0,22
17º pico 0,17 0,22 0,22
18º pico 0,21 0,24 0,22
19º pico 0,19 0,22 0,24
20º pico 0,24 0,20 0,15
21º pico 0,28 0,22 0,24
22º pico 0,21 0,24 0,27
23º pico 0,19 0,20 0,24
24º pico 0,19 0,22 0,24
25º pico 0,28 0,24 0,27
26º pico 0,21 0,22 0,17
27º pico 0,28 0,24 0,24
28º pico 0,21 0,29 0,24
29º pico 0,24 0,20 0,22
30º pico 0,24 0,29 0,22
42
A partir da tabela 6.5, é calculada a média dos perı́odos para os casos estudados,
e é apresentada na tabela 6.6.
1
f= (6.5)
T
43
Tabela 6.8: Parâmetros especificados no OLGA™
Parâmetro Variável Valor
Pressão inicial na entrada Po 0.1 barg
Pressão inicial na saı́da Po 0 barg
Módulo de elasticidade do aço E 2,1×1011 P a
Rugosidade do duto 0,2 mm
Diâmetro do duto D1 54,3 mm
Diâmetro do duto D2 42,3 mm
Espessura da parede do duto e 3 mm
44
Figura 6.8: Pressão próxima à entrada (sensor 1)
45
Figura 6.9: Pressão na parte intermediária do circuito (sensor 7)
46
Figura 6.10: Pressão próxima à saı́da (sensor 13)
No sensor 13, é importante notar que o pico de pressão é mais elevado. Isso
ocorre devido às perdas de carga, que amortecem a onda de pressão, reduzindo
consideravelmente a amplitude do pico de pressão na entrada em relação ao sensor
da saı́da. Além disso, o perı́odo de oscilação da onda é 0,2 segundos, enquanto o
tempo de propagação da onda de pressão é 0,05 segundos.
47
Capı́tulo 7
Conclusões
7.1 Introdução
O objetivo desse trabalho é a análise do fenômeno do golpe de arı́ete em um
circuito hidráulico. Para isso, foi utilizado um pacote numérico comercial, que é
referência no segmento de óleo e gás, o OLGA™, que utiliza o método de volumes
finitos, com a formulação implı́cita de upwind, de primeira ordem no tempo e no
espaço.
Para verificação e validação do modelo utilizado, os resultados obtidos com o
OLGA™foram comparados com um caso presente na literatura. O caso considera
um duto horizontal, com pressão inicial conhecida, e o fechamento de uma válvula
na extremidade final do duto, provocando o golpe de arı́ete.
Em seguida, foi simulado o escoamento de água no circuito hidráulico construı́do
no LTTC. É importante destacar os altos picos de pressão que foram atingidos após
o fechamento de válvula, demonstrando dessa forma a importância da análise do
golpe de arı́ete para o projeto de sistemas hidráulicos. Conforme exposto na seção
2.1.1, as pressões máximas durante regimes transientes podem destruir tubulações,
válvulas e outros componentes, se não forem corretamente dimensionados.
A partir dos resultados obtidos, é possı́vel concluir que apesar de o OLGA™ser
normalmente utilizado para análise de escoamentos offshore, onde a pressão e o
comprimento dos dutos geralmente são bastante elevados, o programa é uma ótima
ferramenta para análise de fenômenos transientes em baixa pressão. Para o caso teste
analisado, o OLGA™apresentou resultados compatı́veis com o resultado simulado de
48
SZYDLOWSKI (2002), divergindo do resultado experimental devido à ausência do
fator de atrito transiente na sua formulação, apresentado no capı́tulo 6. Além disso,
para o caso do circuito hidráulico, é importante ressaltar que o programa permitiu
a incorporação da curva da bomba, além da válvula de retenção, permitindo dessa
forma o intertravamento da bomba quando há o fechamento da válvula, constituindo
assim, uma ferramenta numérica com muitos recursos.
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Capı́tulo 8
Referências bibliográficas
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Two-Fluid Model OLGA: Theory and Application. SPE Production Engineering,
pp. 171-180, May, 1991.
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CLAEYSSEN, J. C. R., Métodos Matriciais, UFRGS PROMEC/Instituto de
Matemática, 2005.
CRANE, Flow of Fluids Through Valves, Fittings and Pipe, Technical Paper
No. 410, 2010.
LÜDECKE, H. J., KOTHE, B., KSB Know- how Water Hammer, Volume 1,
KSB, 2006.
51
SOUZA, P. H. A. I., 2014, Apresentação dos Cálculos para Seleção de Bomba
para Sistema de Reaproveitamento de Água de Poços Artesianos, Monografia de
Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.
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