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PROJETO DE CIRCUITO HIDRÁULICO E ANÁLISE NUMÉRICA DO

GOLPE DE ARÍETE

Victor de Souza Ferreira

Projeto de Graduação apresentado ao Curso


de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
tı́tulo de Engenheiro.

Orientadores: Helcio Rangel Barreto Orlande


Elton Jorge Bragança Ribeiro

Rio de Janeiro
Fevereiro de 2020
Ferreira, Victor de Souza
Projeto de circuito hidráulico e análise numérica do
golpe de arı́ete/ Victor de Souza Ferreira. – Rio de Janeiro:
UFRJ/Escola Politécnica, 2020.
XIV, 52 p.: il.; 29, 7cm.
Orientadores: Helcio Rangel Barreto Orlande
Elton Jorge Bragança Ribeiro
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/
Curso de Engenharia Mecânica, 2020.
Referências Bibliográficas: p. 48 – 50.
1. Golpe de arı́ete. 2. Circuito hidráulico. 3. OLGA™.
4. Escoamento monofásico. I. Orlande, Helcio Rangel
Barreto et al.. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
UFRJ, Curso de Engenharia Mecânica. III. Projeto de
circuito hidráulico e análise numérica do golpe de arı́ete.

iii
À minha avó Edite.
Aos meus avôs Aloysio e Geraldo.
( in memoriam)

iv
Agradecimentos

Agradeço à Deus pela minha vida.


Agradeço aos meus pais Solange e Cleber, pelo apoio, educação e amor que me
deram desde o momento em que eu nasci, e principalmente por sempre acreditarem
em mim.
Agradeço aos meus professores orientadores Helcio e Elton, por todo conheci-
mento e experiência que foram passados a partir da nossa convivência.
Agradeço à minha namorada Paola Fernanda, por todo apoio e amor que me deu
desde o momento em que entrou na minha vida.
Agradeço aos engenheiros da Petrobrás, Ítalo Madeira e João Rafael, pela dis-
ponibilidade que tiveram para esclarecer dúvidas e permitir que a simulação fosse
realizada no CENPES.
Agradeço aos meus companheiros de laboratório (Elias, Iasmin, Felipe Santana,
Felipe Yamaguchi, Paulo, Evanise, Luciana e Júlio) pelo carinho com que me rece-
beram, e em especial ao Bruno, Gabriel, Luiz, Nilton e Raphael pela disposição que
sempre tiveram para me ajudar a concluir esse trabalho.
Agradeço às minhas “tias”, que cuidaram de mim e contribuı́ram para a minha
criação, Silvana, Marluce e Fátima.
Agradeço aos meus amigos de faculdade Bruno, Felipe, Marcos, Maria Eduarda,
Pedro e Raphael pelas horas compartilhadas de estudo e principalmente por tornar
a minha jornada na faculdade mais feliz e mais leve.

v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico

PROJETO DE CIRCUITO HIDRÁULICO E ANÁLISE NUMÉRICA DO


GOLPE DE ARÍETE

Victor de Souza Ferreira

Fevereiro/2020

Orientadores: Helcio Rangel Barreto Orlande


Elton Jorge Bragança Ribeiro

Departamento: Engenharia Mecânica

Escoamentos transientes têm grande importância para o transporte de fluidos.


A propagação de ondas de pressão geradas por esses transientes pode danificar a
tubulação e, às vezes, provocar o colapso do sistema hidráulico. Neste trabalho é
simulado um circuito hidráulico com o programa comercial OLGA™, que é referência
em regime transiente na indústria de óleo e gás. O esquema numérico utilizado
no OLGA™é o upwind, que é um esquema de primeira ordem. Para verificação e
validação do modelo, os resultados obtidos são comparados com dados experimentais
do trabalho de SZYDLOWSKI et al., (2002). Em seguida, são apresentados os
resultados para o circuito hidráulico.

vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment
of the requirements for the degree of Mechanical Engineer

HYDRAULIC CIRCUIT PROJECT AND NUMERICAL ANALYSIS OF WATER


HAMMER

Victor de Souza Ferreira

February/2020

Advisors: Helcio Rangel Barreto Orlande


Elton Jorge Bragança Ribeiro

Department: Mechanical Engineering

Transient flows are of great importance for fluid transport. The propagation of
pressure waves generated by these transients can damage the pipeline and some-
times, cause the collapse of the hydraulic system. In this work, a model of a hy-
draulic circuit is simulated in the OLGA™commercial code, which is a reference in
the transient regime of the oil and gas industry. The numerical scheme used in
OLGA™is upwind, which is a first order scheme. For verification and validation
of the model, the results obtained are compared with experimental data from the
work of SZYDLOWSKI et al., (2002). Then, the results for the hydraulic circuit are
presented.

vii
Sumário

Lista de Figuras xii

Lista de Tabelas xiv

1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.4 Organização do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Revisão Bibliográfica 4
2.1 Golpe de arı́ete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1.1 Consequências do golpe de arı́ete . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.2 Causas do golpe de arı́ete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.3 Dispositivos de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

3 Formulação matemática 10
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.2 Equação de conservação de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.3 Equação de conservação da quantidade de movimento linear . . . . . 12
3.4 Equação de conservação de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.5 Análise térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.6 Propriedades dos fluidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.7 Fatores de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

4 Método de solução 16
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

viii
4.2 Equação de pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4.3 Esquema de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4.3.1 Equações de momentum e pressão . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.3.2 Equações de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.3.3 Equação de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.4 Métodos de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

5 Circuito Hidráulico do LTTC 24


5.1 Layout do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5.2 Curva da bomba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
5.3 Perdas de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

6 Resultados e Discussões 34
6.1 Verificação e validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
6.1.1 Caso teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
6.2 Resultados do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

7 Conclusões 48
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
7.2 Recomendações para trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

8 Referências bibliográficas 50

ix
Nomenclatura

a celeridade
A área da seção transversal do duto
c velocidade do som
C número de Courant
D diâmetro interno do duto
e espessura da parede do duto
E módulo de elasticidade do aço
f fator de atrito
g aceleração da gravidade
G fonte de massa
h elevação do duto
H entalpia
k perda de carga localizada
K módulo de elasticidade do lı́quido
L comprimento do duto
m massa
p pressão
Q vazão volumétrica
R fração mássica
Re número de Reynolds
S perı́metro da seção transversal do duto
t tempo
T temperatura
u coeficiente global da transferência de calor na parede do tubo
U velocidade longitudinal do fluido

x
V fração de volume
z espaço

Letras gregas

∆ variação
 rugosidade absoluta do duto
µ viscosidade dinâmica do fluido
ψ taxa de transferência de massa
ρ massa especı́fica do fluido
θ ângulo de inclinação do duto

Subscritos

d droplets (gotas)
D deposição
E arrastamento
f fluido
F final
g gás
G entre fases
i interface
j volume finito
l lı́quido
L laminar
o inicial
r relativo
T turbulento

xi
Lista de Figuras

1.1 Resultado experimental (SZYDLOWSKI, 2002) . . . . . . . . . . . . 2

2.1 Válvula de retenção com portinhola (CAMARGO, 1989) . . . . . . . 8


2.2 Chaminé de equilı́brio (CAMARGO, 1989) . . . . . . . . . . . . . . . 8

4.1 Malha deslocada (SALES, 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18


4.2 Matriz de banda (CLAEYSSEN, 2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.3 Discretização do momentum e pressão (SALES, 2013) . . . . . . . . . 20
4.4 Discretização da equação da massa para as gotas de lı́quido e para o
lı́quido (SALES, 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.5 Discretização da energia (SALES, 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . 22

5.1 Representação do caminho percorrido pelo fluido no OLGA™ . . . . . 25


5.2 Foto do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
5.3 Perspectiva isométrica do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
5.4 Vista da parede posterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5.5 Vista da parede lateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5.6 Curva da bomba para 30 e 60 Hz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5.7 Curva da bomba de 60 Hz ajustada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.8 Curva da bomba OLGA™ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

6.1 Desenho esquemático do caso teste (SZYDLOWSKI, 2002) . . . . . . 35


6.2 Resultado experimental (SZYDLOWSKI, 2002) . . . . . . . . . . . . 36
6.3 Variação da pressão calculada (SZYDLOWSKI, 2002) . . . . . . . . . 37
6.4 Resultado simulação OLGA™ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
6.5 Comparação resultado experimental e simulação OLGA™ . . . . . . . 38
6.6 Comparação simulação SZYDLOWSKI e simulação OLGA™ . . . . . 38

xii
6.7 Localização dos sensores de pressão analisados . . . . . . . . . . . . . 44
6.8 Pressão próxima à entrada (sensor 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6.9 Pressão na parte intermediária do circuito (sensor 7) . . . . . . . . . 46
6.10 Pressão próxima à saı́da (sensor 13) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

xiii
Lista de Tabelas

5.1 Localização dos transdutores de pressão a partir da saı́da da bomba . 27


5.2 Perdas de carga localizada (CRANE, 2010) . . . . . . . . . . . . . . . 33

6.1 Parâmetros do caso teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36


6.2 Amplitudes de pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
6.3 Decremento logarı́tmico médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
6.4 Razão de amortecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
6.5 Perı́odos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6.6 Média dos perı́odos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6.7 Média das frequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6.8 Parâmetros especificados no OLGA™ . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

xiv
Capı́tulo 1

Introdução

1.1 Motivação
O estudo do escoamento em tubulações sempre se constituiu em um problema
de grande interesse, tanto na área industrial quanto na área acadêmica.
A indústria do petróleo utiliza códigos numéricos como ferramentas para o pro-
jeto dessas tubulações, além da previsão de problemas que serão citados ao longo
desse trabalho. Um desses códigos utilizados é o OLGA™(Oil Liquid - Gas Analy-
ser ), que possibilita a análise de escoamentos multifásicos a partir do seu modelo
de dois fluidos unidimensional. Esse trabalho objetiva a simulação do escoamento
monofásico de água em um circuito hidráulico com o código OLGA™.
Em um sistema de abastecimento de água, qualquer perturbação no escoamento
resultará na alteração das condições de fluxo e dará inı́cio à uma sequência de on-
das transientes até reestabelecer o regime de escoamento permanente. Embora a
ocorrência do regime transiente seja inevitável, normalmente é mais severa nas
estações de bombeamento e válvulas de controle. Essas perturbações podem ge-
rar ondas de pressão, com velocidade de propagação bastante significativa (WOOD,
2005).
No presente trabalho, será analisado um fenômeno transiente conhecido como
golpe de arı́ete gerado a partir do fechamento de uma válvula de controle de vazão.
Conforme será analisado posteriormente, o golpe de arı́ete gera picos de pressão, que
podem ser extremamente prejudiciais aos sistema hidráulico. A figura 1.1 mostra
um experimento apresentado por SZYDLOWSKI (2002), que demonstra a variação

1
da pressão na seção de uma válvula a partir do seu fechamento.

Figura 1.1: Resultado experimental (SZYDLOWSKI, 2002)

Conforme a figura 1.1, pode-se notar que, a partir do fechamento de uma válvula,
em aproximadamente 0,5 segundos, são gerados picos de pressão de amplitude ele-
vada. Um outro ponto importante a ressaltar é que o sistema demora um certo
tempo para estabilizar a pressão.
Uma outra motivação para o estudo do golpe de arı́ete é o seu possı́vel uso
na detecção de vazamentos nas tubulações. A presença de um vazamento no duto
durante o golpe de arı́ete causa uma atenuação no sinal gerado pelas ondas de
pressão, através do escape do fluido pressurizado (COLOMBO et al., 2009).

1.2 Objetivo
O objetivo desse trabalho é analisar numericamente um fenômeno transiente
conhecido como golpe de arı́ete resultante pelo fechamento de uma válvula ao fi-
nal de um circuito hidráulico. Tal fenômeno será analisado para o caso de um
circuito hidráulico construı́do no Laboratório de Transmissão e Tecnologia do Ca-
lor, LTTC, do Departamento/Programa de Engenharia Mecânica, da Escola Po-
litécnica/COPPE.

2
1.3 Metodologia
Para validação, a metodologia deste trabalho consiste em comparar resultados
experimentais de um caso teste com um modelo simulado no programa comercial
OLGA™(SCHLUMBERGER, versão 2017.2). Este é um programa referência em
regime transiente, extremamente utilizado em diversas situações operacionais das
empresas de óleo e gás. Em seguida, é simulado o escoamento de água do circuito
hidráulico construı́do no LTTC.

1.4 Organização do trabalho


No capı́tulo 2 é apresentada a revisão bibliográfica, introduzindo o conceito do
golpe de arı́ete, apresentando as causas e consequências desse fenômeno, além de
apresentar alguns dispositivos de proteção.
No capı́tulo 3 é apresentado um breve histórico do OLGA™. Posteriormente, são
apresentadas as equações de conservação de massa, de quantidade de movimento e
de energia. Em seguida, é apresentado como as propriedades do fluido são inseridas
no programa e, finalmente, são apresentados os fatores de atrito.
No capı́tulo 4 é apresentado o método de solução do OLGA™, onde o simulador
reformula o problema antes da discretização para gerar uma equação de pressão.
Posteriormente, é feita a comparação entre os métodos de integração implı́cita e
explı́cita e é apresentado o esquema de integração, ou seja, a discretização das
equações apresentadas no capı́tulo 3.
No capı́tulo 5 o foco é o projeto do circuito hidráulico, construı́do no LTTC.
Em seguida são apresentados a curva da bomba utilizada no modelo do OLGA™e
os cálculos de perda de carga.
No capı́tulo 6 é apresentado um caso teste, utilizado para validação do modelo
do OLGA™. Em seguida, é realizada a simulação do golpe de arı́ete para o circuito
hidráulico.
No capı́tulo 7 são apresentadas as conclusões obtidas, além de recomendações
para trabalhos futuros.
No capı́tulo 8 são apresentadas as referências bibliográficas.

3
Capı́tulo 2

Revisão Bibliográfica

2.1 Golpe de arı́ete


O golpe de arı́ete ocorre quando há uma variação brusca na velocidade do esco-
amento (seja uma aceleração ou retardamento), que é um fenômeno transiente. Em
sistemas de abastecimento de água, essa mudança é geralmente proveniente de per-
turbações originadas a partir da abertura ou fechamento de válvulas, da alteração
dos nı́veis de reservatórios, e da partida ou parada do sistema de bombeamento
(WOOD, 2005).
O interesse em regimes transientes em lı́quidos teve inı́cio na metade do século
XIX, através dos estudos realizados por MENABREA em 1858, embora MICHAUD
(1878) seja frequentemente associado devido à sua pesquisa na utilização de câmaras
de ar e válvulas de segurança para controle de golpes de arı́ete. Em seguida, é im-
portante destacar os estudos realizados por WESTON (1885), CARPENTER (1893-
1894) e FRIZELL (1898) sobre as relações entre pressão e variações de velocidade
de fluxo. Porém, JOUKOWSKY (1898) foi quem promoveu a maior contribuição
na teoria de regime transiente até então, através da realização de diversos experi-
mentos que o levaram à equação fundamental do golpe de arı́ete, que é dada por
(GHIDAOUI et al., 2005).

∆p = ρa∆U (2.1)

Onde ∆p se refere à diferença de pressão, ρ é a massa especı́fica do fluido, ∆U

4
é a variação de velocidade longitudinal do fluido, e a é a velocidade de propagação
da onda de pressão no fluido, também conhecida como celeridade.
ALLIEVI (1902) (apud GHIDAOUI, 2005) desenvolveu a teoria geral do golpe
de arı́ete. Este autor produziu as primeiras cartas que permitiam analisar as so-
brepressões e subpressões na seção da válvula provocadas pelo seu fechamento uni-
forme. Posteriormente, houve, então, o refinamento das equações que governam o
fenômeno, pelas publicações de RICH (1951), PARMAKIAN (1963), STREETER
(1963), WYLIE (1967), CHAUDHRY (1979), ALMEIDA (1992), entre outros.
O termo golpe de arı́ete foi atribuı́do por pesquisadores franceses, que assimila-
ram o som produzido pelas sucessivas ondas de pressão ao som das batidas de um
arı́ete, uma antiga ferramenta de guerra da época medieval, cuja finalidade era o
arrombamento de muralhas e portões de fortificações.

2.1.1 Consequências do golpe de arı́ete

Na presente seção são apresentadas algumas consequências causadas pelo efeito


do golpe de arı́ete.

Picos de pressão

Pressões máximas durante regimes transientes podem destruir tubulações, túneis,


válvulas e outros componentes, causando danos consideráveis e às vezes, até a perda
humana. Além disso, os picos de pressão podem gerar rachaduras no revestimento
interno, danificando assim conexões e flanges. Geralmente os danos não são notados
imediatamente, e acabam resultando em vazamento e em corrosão, que ao longo do
tempo podem reduzir a espessura de parede do duto e, combinado com os regimes
transientes, podem causar o colapso da tubulação (BOULOS et al., 2005).

Cavitação

A cavitação ocorre quando a pressão absoluta em qualquer ponto do sistema


hidráulico atinge valor igual ou inferior à pressão de vapor do lı́quido, fazendo com
que parte do lı́quido se vaporize. Esse processo gera uma mistura de lı́quido e bolhas
dentro da tubulação. Quando essa mistura atinge algum ponto do escoamento onde
a pressão absoluta for novamente superior à pressão de vapor do lı́quido, haverá

5
o colapso das bolhas com o retorno na fase lı́quida. Como o volume especı́fico do
lı́quido é inferior ao volume especı́fico do vapor, o colapso das bolhas implica a
existência de um vazio, causando o surgimento de ondas de choque (MATTOS et
al., 1998).

Vibrações

Fortes vibrações hidráulicas podem danificar tubulações, revestimentos internos


de túneis e equipamentos de medição e controle. A longo prazo, aumentos moderados
podem gradualmente induzir falhas de fadiga. Um outro ponto a ser ressaltado
é a ressonância, que é caracterı́stica de qualquer sistema forçado próximo a sua
frequência natural e é capaz de destruir todo o sistema (BOULOS et al., 2005).

Qualidade do fluido

Fluxos transientes podem influenciar a qualidade do fluido transportado, e dire-


tamente afetar a saúde das pessoas. Em tubulações de água, esses eventos podem
gerar altas tensões de cisalhamento entre o fluido e a parede do duto, causando assim
a raspagem de partı́culas presentes nas tubulações, fenômeno este que é conhecido
como red water (BOULOS et al., 2005).
Baixos nı́veis de pressão gerados pelo desligamento repentino da bomba ou co-
lapso do tubo, podem causar a instrusão de águas subterrâneas contaminadas a
partir de um vazamento em uma conexão. Além disso, pontos de baixa pressão
induzem o retorno da água no sistema hidráulico, permitindo a mistura entre água
não potável, doméstica e industrial, para a distribuição do sistema (BOULOS et al.,
2005).

2.1.2 Causas do golpe de arı́ete

Transientes hidráulicos são perturbações no fluido transportado causados durante


uma mudança de estado, geralmente efetuando a transição de uma condição de
estado de equilı́brio para outro. Esses distúrbios se originam de alterações ou ações
que afetam dispositivos hidráulicos ou condições de contorno. Segundo BOULOS et
al. (2005), e LÜDECKE et al. (2006), eventos tı́picos que requerem considerações
transitórias incluem os seguintes:

6
• Partida ou desligamento da bomba;
• Excitação da bomba para frequências de ressonância com curvas instáveis de
head x vazão;
• Abertura ou fechamento de válvula (variação da seção transversal do escoa-
mento);
• Variação nas pressões de contorno;
• Mudanças rápidas nas condições de demanda;
• Variações no nı́vel de entrada da água;
• Enchimento ou drenagem de tubos.

2.1.3 Dispositivos de proteção

Existem diversos dispositivos cuja finalidade é suavizar a transição entre os es-


tados de fluxo. O princı́pio geral destas ferramentas consiste no armazenamento
de água de modo a retardar a inversão do fluxo e atenuar a falta de energia na
bomba; ou na descarga de água do sistema, em função da pressão interna da linha
de recalque (BOULOS et al., 2005).
Segundo TSUTIYA (2006), para a escolha do dispositivo de proteção é necessário
realizar uma análise completa do sistema através das seguintes etapas:
• Diagnóstico (sem dispositivo de proteção);
• Análise das envoltórias das pressões máximas e mı́nimas, juntamente com o
perfil da tubulação;
• Verificação da existência de pontos crı́ticos;
• Escolha do(s) dispositivo(s) mais adequado(s) e dimensionamento;
• Simulação com o(s) dispositivo(s) instalado(s);
• Análise da nova situação de envoltórias de pressões;
• Verificação da eventual existência de pontos crı́ticos.
Dentre os diversos dispositivos de proteção existentes, são apresentados abaixo
alguns exemplos dos mecanismos utilizados.

Válvula de retenção

A válvula de retenção permite o fluxo apenas em uma direção, e se fecha quando


há inversão do fluxo. Geralmente, as bombas são equipadas com uma válvula de

7
retenção a jusante para impedir a reversão do fluxo, o que induziria a bomba a girar
no sentido contrário, podendo provocar danos na mesma (TSUTIYA, 2006).
A figura 2.1 representa um exemplo de um tipo de válvula de retenção, onde o
fluido escoa normalmente da esquerda para a direita. Porém, se houver uma inversão
no fluxo a portinhola se fecha, impedindo assim o fluxo no sentido contrário.

Figura 2.1: Válvula de retenção com portinhola (CAMARGO, 1989)

Chaminé de equilı́brio

As chaminés de equilı́brio são estruturas destinadas a interceptar as ondas de


pressão numa tubulação, atuando como um reservatório intermediário de nı́vel
variável. São extensamente utilizadas em usinas hidrelétricas para suprir as vazões
nas partidas e absorver as oscilações de vazões e cargas, em resposta às variações no
consumo de energia (TSUTIYA, 2006).

Figura 2.2: Chaminé de equilı́brio (CAMARGO, 1989)

O funcionamento desse dispositivo consiste no seguinte: com a parada da bomba,


e consequente redução da pressão na tubulação, o nı́vel da água na chaminé desce,
alimentando a linha de recalque, reduzindo assim a variação na vazão, e com isto,
reduzindo o valor da subpressão. Em seguida, com a inversão do fluxo e fechamento
da válvula de retenção, o nı́vel da água sobe, transformando a energia cinética em

8
potencial e, assim, reduzindo o valor da sobrepressão. Dessa forma, com o afluxo e
oscilação da água na chaminé, os efeitos do golpe de arı́ete entre esta estrutura e o
reservatório são evitados (CAMARGO et al., 1989).

Volante de inércia

Os volantes de inércia são dispositivos que são acoplados ao eixo da bomba, com
a finalidade de reduzir a taxa de variação de rotação do conjunto, por ocasião de
seu desligamento. Assim, aumenta-se o tempo de parada do conjunto, e consequen-
temente, diminui-se a intensidade do golpe de arı́ete (CAMARGO, 1989). Ou seja,
se um conjunto motor bomba possui um volante de inércia, este conjunto terá um
momento de inércia maior e consequentemente, a variação na rotação será menor e
a variação de carga também será menor, quando comparada com a mesma unidade
desprovida do volante de inércia (TSUTIYA, 2006).

9
Capı́tulo 3

Formulação matemática

3.1 Introdução
Segundo BENDIKSEN et al. (1991), que é uma referência clássica desse pro-
grama, o OLGA™(Oil-Liquid-Gas Analyser ), acrônimo do inglês para Analisador de
Escoamento em Óleo, Lı́quido e Gás, é um simulador numérico unidimensional de
escoamento multifásico em dutos e instalações de produções dedicado à indústria de
óleo e gás.
O desenvolvimento do modelo dinâmico de dois fluidos do OLGA™começou como
um projeto para a petrolı́fera norueguesa Statoil, para simular transientes lentos,
associados com transporte de massa. Problemas de interesse incluem terrain slug-
ging, inicialização e fechamento de gasoduto, além de pigging. A primeira versão
do OLGA™foi desenvolvida em 1983, mas o principal desenvolvimento foi realizado
a partir de uma pesquisa conjunta entre o IFE (Inst. for Energy Technology) e
o SINTEF, dois institutos localizados na Noruega, apoiado por várias petrolı́feras
ao redor do mundo, como Conoco Norway, Esso Norge, Mobil Exploration Norway,
Statoil, entre outras (BENDIKSEN et al., 1991).
A abordagem do OLGA™trata separadamente a fase lı́quida da fase gasosa, di-
vidindo a fase lı́quida em duas frentes: uma na parede do duto e outra dispersa
no interior do duto. A fase dispersa é chamada de droplets, ou gotas de lı́quido, e
desconsidera os efeitos da parede, mas considera a presença de uma descontinuidade
em maior ou menor grau da fase lı́quida.
A formulação matemática do OLGA™considera um sistema com três equações

10
de conservação de massa, uma para a fase gasosa, uma para fase lı́quida e outra
para gotas. Além disso, o programa considera um sistema com duas equações de
conservação de quantidade de movimento, sendo uma combinada para a fase gasosa
e gotas de lı́quido, e uma para fase lı́quida. Para a equação de energia, o programa
considera uma equação para a mistura entre as três fases (BENDIKSEN et al., 1991).
Para simplificação do modelo, foram consideradas as seguintes caracterı́sticas do
escoamento:
• Dutos com seção transversal circular;
• Escoamento unidimensional (1D);
• Escoamento monofásico, apenas a fase lı́quida;
• Regime transiente.

3.2 Equação de conservação de massa


Para a fase gasosa, tem-se (BENDIKSEN et al., 1991):

∂(Vg ρg ) −1 ∂(AVg ρg Ug )
= + ψG + Gg (3.1)
∂t A ∂z

Para a fase lı́quida, tem-se (BENDIKSEN et al., 1991):

∂(Vl ρl ) −1 ∂(AVl ρl Ul ) Vl
= − ψG − ψE + ψD + Gl (3.2)
∂t A ∂z Vl + Vd

Para gotas, tem-se (BENDIKSEN et al., 1991):

∂(Vd ρl ) −1 ∂(AVd ρl Ud ) Vd
= − ψG + ψE − ψD + Gd (3.3)
∂t A ∂z Vl + Vd

Onde:
• Vg , Vl e Vd são as frações de volume de gás, de lı́quido, e de gotas de lı́quido,
respectivamente;
• Ug , Ul e Ud são as velocidade de escoamento do gás, lı́quido e gotas de lı́quido,
respectivamente;
• A é a área da seção transversal do tubo;

11
• ρg e ρl são as massas especı́ficas do gás e do lı́quido, respectivamente;
• ψG é a taxa de transferência de massa entre as fases;
• ψE é a taxa de arrastamento;
• ψD é a taxa de deposição;
• Gg , Gl e Gd são as possı́veis fontes de massa de gás, lı́quido e gotas, respecti-
vamente.
Considerando o escoamento monofásico, ou seja, não há transferência de massa
entre as fases (ψG = 0), não há deposição de gotas (ψD = 0), não há arrastamento
(ψE = 0), a equação de conservação de massa para a fase lı́quida se reduz a:

∂(Vl ρl ) −1 ∂(AVl ρl Ul )
= + Gl (3.4)
∂t A ∂z

3.3 Equação de conservação da quantidade de


movimento linear
Para a fase gasosa, tem-se (BENDIKSEN et al., 1991):

∂(Vg ρg Ug ) ∂p 1 ∂(AVg ρg Ug2 ) 1 Sg 1 Si


= − Vg ( ) − − fg ρg |Ug |Ug − fi ρg |Ur |Ur
∂t ∂z A ∂z 2 4A 2 4A
(3.5)

+ Vg ρg gcosθ + ψG Ua − Fd

Para gotas, tem-se (BENDIKSEN et al., 1991):

∂(Vd ρl Ud ) ∂p 1 ∂(AVd ρl Ud2 ) Vd


= − Vd ( ) − + Vd ρl gcosθ − ψG Ua (3.6)
∂t ∂z A ∂z Vl + Vd
+ ψE Ui − ψD Ud + Fd

A formulação do OLGA™utiliza uma combinação das equações para as fases


gasosa e gotas, onde os termos de arrasto, Fd são cancelados:

12
∂(Vg ρg Ug ) ∂(Vd ρl Ud ) ∂p 1 ∂(AVg ρg Ug2 ) 1 Sg
+ = − Vg ( ) − − fg ρg |Ug |Ug (3.7)
∂t ∂t ∂z A ∂z 2 4A
1 Si ∂p
− fi ρg |Ur |Ur + Vg ρg gcosθ + ψG Ua − Vd ( )
2 4A ∂z
1 ∂(AVd ρl Ud2 ) Vd
− + Vd ρl gcosθ − ψG Ua
A ∂z Vl + Vd
+ ψE Ui − ψD Ud

Para a fase lı́quida, tem-se (BENDIKSEN et al., 1991):

∂(Vl ρl Ul ) ∂p 1 ∂(AVl ρl Ul2 ) 1 Sl


= − Vl ( ) − − fl ρl |Ul |Ul (3.8)
∂t ∂z A ∂z 2 4A
1 Si Vl
+ fi ρg |Ur |Ur + Vl ρl gcosθ − ψG Ua
2 4A Vl + Vd
∂Vl
− ψE Ui + ψD Ul − Vl d(ρl − ρg )g senθ
∂z

Onde:
• θ é o ângulo de inclinação do duto;
• Sg , Si e Sl são os perı́metros molhados do gás, da interface e do lı́quido,
respectivamente;
• fg , fi e fl são os fatores de atrito do gás, da interface e do lı́quido, respectiva-
mente;
• Ur é a velocidade relativa.
• Ua = Ul , para ψG > 0 (e evaporação da fase lı́quida),
Ua = Ud , para ψG > 0 (e evaporação da fase de gotas) e
Ua = Ug , para ψG < 0 (condensação).
Considerando o escoamento monofásico, ou seja, não há escoamento de gás (ρg =
0), não há transferência de massa entre as fases (ψG = 0), não há deposição de gotas
(ψD = 0) e não há arrastamento (ψE = 0). Além disso, segundo Bendiksen et al.,
(1991), a velocidade da interface Ui é aproximada por Ul . Dessa forma, a equação
de conservação da quantidade de movimento linear para a fase lı́quida se reduz a:

∂(Vl ρl Ul ) ∂p 1 ∂(AVl ρl Ul2 ) 1 Sl


= − Vl ( ) − − fl ρl |Ul |Ul (3.9)
∂t ∂z A ∂z 2 4A
∂Vl
+ Vl ρl gcosθ − Vl dρl senθ
∂z

13
3.4 Equação de conservação de energia
A equação de conservação de energia considera uma mistura entre as três fases
(BENDIKSEN et al., 1991).

      
∂ 1 2 1 2 1 2
mg Eg + Ug + gh + ml El + Ul + gh + md Ed + Ud + gh
∂t 2 2 2
    
∂ 1 2 1 2
= HS + u − mg Ug Hg + Ug + gh + ml Ul Hl + Ul + gh
 ∂z  2 2
1
+ md Ud Hd + Ud2 + gh (3.10)
2
Onde:
• Eg , El e Ed são as energias internas do gás, lı́quido e gotas, por unidade de
massa;
• h é a elevação;
• HS é a entalpia da fonte de massa;
• u é a transferência de calor da parede do tubo.
Considerando apenas o escoamento de lı́quido, a equação de conservação de ener-
gia se reduz a:

     
∂ 1 2 ∂ 1 2
ml El + Ul + gh =− ml Ul Hl + Ul + gh + HS + u (3.11)
∂t 2 ∂z 2

3.5 Análise térmica


Segundo BENDIKSEN et al. (1991), o OLGA™apresenta a possibilidade de si-
mular o escoamento em uma tubulação com uma parede totalmente isolada ou com
uma parede composta de camadas de diferentes espessuras, fornecendo condutivi-
dade e capacidade térmica. Cabe ressaltar que a descrição da parede pode variar ao
longo do comprimento da tubulação na simulação.

3.6 Propriedades dos fluidos


BENDIKSEN et al. (1991) descreve que todas as propriedades dos fluidos, como
por exemplo, massa especı́fica, compressibilidade, viscosidade, tensão superficial,

14
entalpia, capacidade e condutividade térmica são obtidas a partir de um arquivo
PVT, que pode ser gerado pelo usuário a partir de um módulo separado do OLGA™,
e são apresentadas em função da pressão e temperatura, e os valores das propriedades
são calculados a partir da interpolação dessas tabelas.

3.7 Fatores de atrito


Os fatores de atrito para o gás e o lı́quido são calculados a partir do tipo de
escoamento, conforme as equações 3.12 e 3.13 (BENDIKSEN et al. 1991).

Para o regime laminar:


64
fL = (3.12)
Re
Para o regime turbulento:
 1
2 × 10−4  106 3 
 
fT = 0, 0055 1 + + (3.13)

dh Re

Onde:
•  é a rugosidade absoluta do tubo;
• dh é o diâmetro hidráulico do tubo.

15
Capı́tulo 4

Método de solução

4.1 Introdução
A formulação matemática, apresentada no capı́tulo 3, produz um conjunto aco-
plado de equações diferenciais parciais não-linear de primeira ordem unidimensio-
nais, com coeficientes não-lineares. Devido à esta não-linearidade, não há nenhum
método numérico ideal. De fato, códigos como o TRAC™, RELAP™, CATHARE™e
OLGA™usam diferentes esquemas de solução. No presente trabalho, é abordado
apenas o esquema de integração do OLGA™.

4.2 Equação de pressão


O OLGA™reformula o problema antes de discretizar as equações diferenciais,
com a finalidade de obter uma equação de pressão. Essa equação, juntamente com
as equações de conservação de quantidade de movimento, podem ser resolvidas si-
multaneamente para as velocidades de fase e pressão, permitindo uma integração
gradual de tempo (BENDIKSEN et al., 1991).
A equação de conservação de massa para a fase lı́quida (3.2) pode ser expandida
com relação à pressão, temperatura e composição, assumindo que a massa especı́fica
é dada como:

ρl = ρl (p, T, Rl ) (4.1)

16
Onde Rl corresponde à fração mássica de lı́quido, dada como:

ml
Rl = (4.2)
mg + ml + md
Logo, para o caso de escoamento monofásico, mg = 0 e md = 0, e assim Rl = 1.
Para a equação 3.2, o lado esquerdo pode ser expresso como:

∂(Vl ρl ) ∂Vl ∂ρl


=ρl + Vl (4.3)
∂t ∂t "∂t #
    
∂Vl ∂ρl ∂p ∂ρl ∂T ∂ρl ∂Rl
=ρl + Vl + +
∂t ∂p T,Rl ∂t ∂T ∂t p,Rl ∂Rl ∂t p,T

Dividindo as expansões da equação (4.3) pela massa especı́fica, produz-se uma


equação de conservação do volume (negligenciando os dois últimos termos da
equação (4.3) porque eles normalmente são negligenciados nos problemas de trans-
portes em gasodutos devido ao desenvolvimento de baixas temperaturas). Assim:

 
Vl ∂ρl ∂p 1 ∂ml
= (4.4)
ρl ∂p T,Rl ∂t ρl ∂t

Inserindo a equação de convervação de massa da fase lı́quida, obtém-se a equação


de pressão (BENDIKSEN et al., 1991):

 
Vl ∂ρl ∂p 1 ∂(AVl ρl Ul ) 1
=− + Gl (4.5)
ρl ∂p T,Rl ∂t Aρl ∂t ρl

4.3 Esquema de integração


No OLGA™se aplica, o método de volumes finitos, e também uma técnica de
malha deslocada, onde as temperaturas, as pressões e as massas especı́ficas são
definidas nos pontos médios das células numéricas e as velocidades e os escoamentos
são definidos nos contornos dessas células (SALES, 2013).
A figura 4.1 mostra um esquema da malha.

17
Figura 4.1: Malha deslocada (SALES, 2013)

Devido às não linearidades nas equações e da utilização de um método implı́cito


de integração no tempo, os termos não lineares têm que ser linearizados de alguma
forma (SALES, 2013).
Um esquema upwind numericamente estável é aplicado para o termo de con-
vecção de quantidade de movimento, conforme equação 4.6, para o caso de U > 0:

n+1 n+1
−1 ∂ 2 1 Aj ρnj−1 Ujn Uj − Aj−1 ρnj−2 Uj−1
n
Uj−1
(AρU )j = − (4.6)
A ∂z Aj−1 ∆zj−1

Os termos para a aceleração espacial são geralmente pequenos para os problemas


tı́picos de gasodutos.
Para o termo de atrito, o OLGA™aplica a forma U n+1 |U n | estável e simples. A
forma (2U n+1 − U n ) |U n | tem se mostrado menos estável (SALES, 2013).

18
Para apresentar a discretização das equações, é importante apresentar uma in-
trodução sobre o conceito de matriz de banda.
Matriz de banda é uma matriz quadrada esparsa cuja diagonal principal e algu-
mas diagonais paralelas à principal são compostas de elementos não nulos (BARROS,
2011).
 
a1 b1 0 ... ... ... 0
 
c1 a2 b2 0 ... ... 0
 
 
 
 
 0 c2 a3 b3 0 ... 0 
.. .. .. .. .. .. ..
 
 
 . . . . . . . 
 
 
 0 . . . . . . . . . cn−2 an−1 bn−1 
 
0 ... ... ... 0 cn−1 an

Uma matriz banda de ordem n e de largura 2k + 1

aij = 0, para i − j > k (4.7)

Para algum inteiro k não negativo entre 0 e n − 1. Numa matriz banda todos
os elementos fora da diagonal e das primeiras k sub-diagonais, acima ou abaixo da
diagonal, são nulos. A forma de tal matriz é ilustrada pela figura 4.2 (CLAEYSEEN,
2005).

Figura 4.2: Matriz de banda (CLAEYSSEN, 2005)

19
4.3.1 Equações de momentum e pressão

A matriz de banda resultante tem largura de 7, conforme figura 4.3, com as


incógnitas sendo:

Equação de momentum para o gás e gotas de lı́quido

Ugj−1 , Ulj−1 , Pj−1 , Ugj , Ulj , Pj , Ugj+1 (4.8)

Equação de momentum para o lı́quido

Ulj−1 , Pj−1 , Ugj , Ulj , Pj , Ugj+1 , Ulj+1 (4.9)

Equação de momentum para a pressão

Pj−1 , Ugj , Ulj , Pj , Ugj+1 , Ulj+1 , Pj+1 (4.10)

Figura 4.3: Discretização do momentum e pressão (SALES, 2013)

20
4.3.2 Equações de massa

A matriz de banda resultante tem largura de 5, conforme a figura 4.4, com as


incógnitas sendo:

Equação de massa para gotas de lı́quido

mdj−1 , mlj−1 , mdj , mlj , mdj+1 (4.11)

Equação de massa para lı́quido

mlj−1 , mdj , mlj , mdj+1 , mlj+1 (4.12)

Figura 4.4: Discretização da equação da massa para as gotas de lı́quido e para o


lı́quido (SALES, 2013)

Equação da massa para gás

mgj−1 , mgj , mgj+1 (4.13)

21
4.3.3 Equação de energia

A matriz de banda resultante tem largura de 3, conforme figura 4.5, com as


incógnitas sendo:

Tj−1 , Tj , Tj+1 (4.14)

Figura 4.5: Discretização da energia (SALES, 2013)

O esquema de solução pode ser dividido em três passos: no primeiro, a matriz


para as duas equações de momentum e as equações da pressão são resolvidas. O
segundo passo envolve a resolução da matriz para a pelı́cula de lı́quido e as equações
de massa das gotas de lı́quido, e também a matriz para a equação da massa do gás.
O terceiro passo envolve a solução de matriz para as temperaturas. Se os cálculos da
temperatura na parede da camada são desejados, a matriz resultante do equilı́brio
de energia ao longo da parede em cada volume finito de tubo tem de ser resolvido
depois do terceiro passo (existe uma matriz para as camadas da parede em torno de
cada volume finito da tubulação).
A principal vantagem do uso de um esquema de integração gradual é a redução
do tempo de CPU. A utilização de uma equação de pressão separada permite uma
solução simultânea de pressão e velocidade de fase, mas que conduz a um sistema
sobredeterminado (SALES, 2013).

22
4.4 Métodos de integração
Nos métodos de integração explı́cita, o intervalo de tempo (∆t) é limitado pelo
Courant Friedrich Levy (CF L), que é um critério baseado na velocidade do som
(BENDIKSEN et al., 1991).

 
∆zj
∆t ≤ min∀j (4.15)
|Uf j | + cf j
Os métodos de integração implı́cita não são limitados pelo critério da equação
4.15, mas para problemas dinâmicos não-lineares a velocidade de transporte limita
o intervalo de tempo máximo permitido a ser aplicado. Dessa forma, o critério do
CF L baseado na velocidade de transporte é (BENDIKSEN et al. 1991):

 
∆zj
∆t ≤ min∀j (4.16)
|Uf j |
Como a velocidade do som é normalmente da ordem de 102 a 103 vezes maior do
que a média das velocidades das fases, os métodos explı́citos requerem um passo de
tempo menor do que os métodos implı́citos.
Como os transientes de escoamento normalmente são lentos em tubulações
de petróleo e gás, um método de integração implı́cito é usado. Um método
implı́cito permite ∆t máximo maior devido a um melhor acoplamento dos termos
nas equações. Uma desvantagem é que os termos se tornam mais complicados após
a linearização e, portanto, aumentam a complexidade do código.

23
Capı́tulo 5

Circuito Hidráulico do LTTC

O circuito hidráulico construı́do no Laboratório de Transmissão e Tecnologia do


Calor (LTTC) do Programa de Engenharia Mecânica da UFRJ tem o objetivo de
analisar o fenômeno do golpe de arı́ete a partir do fechamento de uma válvula na
saı́da do circuito.

5.1 Layout do circuito


O circuito hidráulico foi construı́do com tubos de aço galvanizado, de diâmetro
nominal de 50 mm (2”), de acordo com a norma NBR 5580 da ABNT, e é composto
por uma sequência de segmentos retos horizontais, que percorrem o comprimento
de duas paredes, a diferentes alturas, iniciando próximo ao chão e atingindo uma
altura máxima de aproximadamente 2,2 m. Além disso, o circuito tem aproxima-
damente 150 m de extensão, conforme pode ser observado na figura 5.1 que é uma
representação do caminho percorrido pelo fluido no OLGA™.

24
Figura 5.1: Representação do caminho percorrido pelo fluido no OLGA™

As dimensões da sala onde foi montado o circuito são 7,28 m de comprimento,


6,15 m de largura e 2,72 m de altura. Uma estrutura será montada para sustentar
a tubulação, que ficará posicionada predominantemente nas paredes posterior e la-
teral da sala. Os trechos retos de tubos têm comprimentos de 5,15 e 6,19 metros,
dependendo da parede em que se encontram, e são conectados com curvas de 90º.
Para facilitar a desmontagem de um trecho do circuito para manutenção, 50 uniões
foram instaladas, sendo 24 antes das curvas que propiciam a mudança de altura,
12 nas derivações para flexibilização do circuito, 12 antes das válvulas de bloqueio
localizadas na parede lateral, 1 próximo à válvula controladora de vazão e 1 na saı́da
do circuito, no retorno à caixa d’água. Além disso, transdutores de pressão e vazão,
além de termopares, são instalados no circuito a partir de TÊs. A fotografia do
circuito construı́do e a perspectiva isométrica são apresentadas nas figuras 5.2 e 5.3.

25
Figura 5.2: Foto do circuito

Figura 5.3: Perspectiva isométrica do circuito

26
A partir da instalação de válvulas de bloqueio do tipo esfera motorizadas, é
possı́vel reduzir a extensão do circuito, possibilitando a simulação para vários com-
primentos. Ao final do circuito há uma redução de 2”para 1 1/2”, visto que a válvula
controladora de vazão é de diâmetro 1 1/2”. No presente trabalho será analisado
apenas o caso para o maior comprimento do circuito (L = 150 m).
Treze transdutores de pressão foram instalados ao longo do circuito, sendo que
dois transdutores, o da entrada e da saı́da são da marca OMEGA (modelo PXM409-
010BAV), cuja sensibilidade é de 0,008 bar. Os demais são da marca VELKI (modelo
VKP-011), cuja sensibilidade é de 0,025 bar. A localização dos transdutores de
pressão a partir da saı́da da bomba é apresentada na tabela 5.1.

Tabela 5.1: Localização dos transdutores de pressão a partir da saı́da da bomba


Sensor Posição (m)
1 8,82 m
2 17,13 m
3 28,86 m
4 40,70 m
5 52,43 m
6 64,26 m
7 75,99 m
8 87,83 m
9 99,55 m
10 111,39 m
11 123,12 m
12 134,95 m
13 148,40 m

Além dos transdutores de pressão, dois medidores de vazão foram instalados:


um do tipo turbina da marca CONTECH (modelo SVT.L.STD.BM.050.A4.038.A4)
localizado na entrada do circuito, capaz de registrar vazões de 1,9 a 29,5 m3 /h,
com sensibilidade de 0,1 m3 /h. O outro medidor é do tipo ultrassônico da marca
OMEGA (modelo FDT 40), localizado na saı́da do circuito, que registra vazões de
1,8 a 95,4 m3 /h, com sensibilidade de 0,002 m3 /h.

27
Também foram instalados dois termopares da marca SALCAS do tipo T, que
operam na faixa de -270 a 400ºC, na entrada e saı́da do circuito, cuja finalidade é
corrigir a viscosidade da água, que varia com a temperatura.
As figuras 5.4 e 5.5 representam as vistas das paredes posterior e lateral e de-
monstram a localização dos transdutores de pressão (representados na cor vermelha)
e vazão (representados na cor verde), além dos termopares (representados na cor
amarelo).

Figura 5.4: Vista da parede posterior

Figura 5.5: Vista da parede lateral

Conforme mencionado anteriormente, foi instalada uma válvula de controle de


vazão na saı́da do circuito, cujo objetivo é provocar regimes de fluxo transiente ao
longo do circuito.
Conforme explicado na seção de dispositivos de proteção (seção 2.1.3), foi insta-
lada uma válvula de retenção com a finalidade de proteger a bomba do retorno da

28
onda de pressão quando a válvula controladora de vazão for fechada, provocando
o golpe de arı́ete, evitando que a bomba seja danificada. A válvula escolhida é da
fabricante PROPOSTO, modelo em latão com portinhola.
O abastecimento de água é proporcionado por um reservatório de 3000 litros, cujo
volume é suficiente para atender a vazão de 16,9 m3 /h, isto é, a cada 11 minutos
o volume do reservatório será circulado. Para que seja atingida essa vazão, cujo
o número de Reynolds associado é 105 , foi instalada uma bomba centrı́fuga com
potência de 4 CV da SCHNEIDER (modelo VME-9540).
Resumindo, o sistema hidráulico contará com os seguintes acessórios: 1 reser-
vatório de 3000 litros, 1 bomba, 1 válvulva de retenção, 13 transdutores de pressão,
2 medidores de vazão, 2 sensores de temperatura, 18 válvulas esfera (para flexibi-
lização do circuito) e 1 válvula controladora de vazão.

5.2 Curva da bomba


Conforme mencionado na seção 5.1, foi selecionada uma bomba centrı́fuga com
potência de 4 CV da SCHNEIDER, com frequência de operação igual a 60 Hz, cuja
curva pode ser vista na figura 5.6.

29
Figura 5.6: Curva da bomba para 30 e 60 Hz

Entretanto, a curva da bomba fornecida pelo fabricante não fornece o valor da


altura manométrica (Head ) quando a vazão volumétrica da bomba é nula, o que
deverá ocorrer quando a válvula de controle estiver totalmente fechada. Por causa
disso, para a aplicação do modelo foi realizada uma extrapolação da curva da bomba
para obter o valor da altura manométrica com vazão nula. Essa extrapolação foi
feita de forma a permitir um ajuste de curva por uma equação de segundo grau com
apenas uma raiz positiva, conforme ilustrado na figura 5.7.
A equação para o ajuste de curva da bomba é:

Head = −2164801.59767913Q2 − 2094.0614011Q + 90 (5.1)

30
Figura 5.7: Curva da bomba de 60 Hz ajustada

A partir da equação 5.1, a curva da bomba é inserida no OLGA™e é apresentada


na figura 5.8.

Figura 5.8: Curva da bomba OLGA™

31
5.3 Perdas de carga
Apesar de o OLGA™ter um modelo para o cálculo do fator de atrito, conforme de-
monstrado na seção 3.7, esse modelo contempla apenas a perda de carga em trechos
lineares horizontais, sendo necessário então a adição da perda de carga localizada
para as válvulas e curvas.
Como a vazão volumétrica do circuito é conhecida, Q = 16,9 m3 /h, podemos
calcular a velocidade do escoamento a partir da seguinte relação:

Q
U= (5.2)
A

Onde A é a área interna do duto, calculada por A = πD2 /4


Como o diâmetro interno é D = 54, 3mm, obtemos uma velocidade de escoa-
mento U = 2, 027m/s.
Para o cálculo do número de Reynolds Re, utilizamos a seguinte fórmula:

ρU D
Re = (5.3)
µ

Onde ρ é a massa especı́fica da água (ρ = 1000kg/m3 ) e µ é a viscosidade


dinâmica da água (µ = 0, 01P ).
Substituindo os valores, obtemos um número de Reynolds de Re = 110066.
Para o cálculo do fator de atrito de Darcy-Weisbach f , foi considerada a equação
trascendental abaixo (FOX et al., 2014):

 
1 /D 2, 51
√ = −2, 0log + √ (5.4)
f 3, 7 Re f

Onde  representa a rugosidade absoluta da tubulação, que foi considerada a


rugosidade do aço galvanizado que é  = 0,0002 m (SOUZA, 2014).
A partir da equação acima, foi obtido um valor para o fator de atrito de f =
0, 02936.
Segundo CRANE (2010), a perda de carga localizada para os seguintes compo-
nentes é:

32
Tabela 5.2: Perdas de carga localizada (CRANE, 2010)
Perda localizada (k) Relação com fator de atrito Valor
Válvula de retenção 50f 1,47
Válvula de bloqueio 3f 0,09
Curva de 90º 12f 0,37

Perda de carga do medidor de vazão

Para a perda de carga localizada do medidor de vazão de turbina, foi consultado


o catálogo do fabricante (CONTECH), que fornece o valor de k = 11, 96. Para o
medidor de vazão de ultrassom, não há perda de carga localizada (k = 0), visto que
esse dispositivo é clampeado à tubulação.

Perda de carga da luva de redução

Para a perda de carga localizada da luva de redução, foi calculada a partir da


formúla em CRANE (2010):

d2
 
k = 0, 5 1 − 21 (5.5)
d2

Onde d1 é o diâmetro interno do tubo menor (d1 = 42, 3mm), e d2 é o diâmetro


interno do tubo maior (d2 = 54, 3mm).
Substituindo os valores na equação 5.5, obtemos a perda localizada de k = 0, 197.

Perda de carga dos sensores de pressão e temperatura

Tanto os sensores de pressão quanto os sensores de temperatura estão conectados


ao circuito hidráulico a partir de um TÊ, que segundo CRANE (2010) tem perda
localizada nula (k = 0).

33
Capı́tulo 6

Resultados e Discussões

6.1 Verificação e validação


Para verificação do modelo implementado, vamos analisar um caso teste estudado
por SZYDLOWSKI (2002).

6.1.1 Caso teste

Para esse caso analisado, temos um escoamento de água em um tubo circular


de aço com comprimento L = 72m e diâmetro interno D = 0, 042m. A espessura
da parede é e = 0, 003m. O módulo de elasticidade do aço é E = 2 × 1011 P a,
e o modulo de elasticidade da água é K = 2 × 109 P a. O coeficiente de atrito
f é definido pela fórmula de Colebrook-White e calculado para um coeficiente de
rugosidade  = 0, 08mm. A velocidade do escoamento é de U = 0, 38m/s em toda a
tubulação. Um desenho esquemático do caso é apresentado na figura 6.1.

34
Figura 6.1: Desenho esquemático do caso teste (SZYDLOWSKI, 2002)

Inicialmente, a pressão na seção da válvula é igual à 0,51 MPa e ao longo do


duto, a pressão é calculada conforme a equação 6.1.

∆z U 2
∆p = f ρ (6.1)
D 2

O golpe de arı́ete é gerado a partir do fechamento de uma válvula, localizada na


extremidade à jusante do duto. A válvula tem um fechamento linear, que se inicia
em 0,38 segundos e termina em 0,494 segundos. O tubo foi discretizado com 72
volumes finitos (∆z = 1m) e a simulação foi realizada com intervalo de tempo de
∆t = 0, 0005s, o que garante o valor do número de Courant de aproximadamente
C = 0, 6.
Os parâmetros utilizados no caso estão resumidos na tabela 6.1.

35
Tabela 6.1: Parâmetros do caso teste
Parâmetro Variável Valor
Comprimento do duto L 72 m
Diâmetro do duto D 42 mm
Espessura da parede do duto e 3 mm
Módulo de elasticidade do aço E 2 ×1011 P a
Módulo de elasticidade da água K 2 ×109 P a
Rugosidade do duto  0.08 mm
Velocidade do escoamento v 0,38 m/s
Pressão inicial na seção da válvula po 0.51 MPa
Inı́cio do fechamento da válvula to 0,38 s
Final do fechamento da válvula tF 0,494 s
Intervalo de tempo ∆t 0,0005 s

O resultado experimental para os valores de pressão na seção da válvula é mos-


trado na figura 6.2.

Figura 6.2: Resultado experimental (SZYDLOWSKI, 2002)

SZYDLOWSKI apresentou um gráfico calculando a variação de pressão na seção


da válvula (equação 6.1) usando um esquema dissipativo.

36
Figura 6.3: Variação da pressão calculada (SZYDLOWSKI, 2002)

A partir dos dados da tabela 6.1, foi simulado a variação de pressão na seção da
válvula com o OLGA™.

Figura 6.4: Resultado simulação OLGA™

Nas figuras 6.5 e 6.6 são apresentadas a comparação entre o resultado experi-
mental de SZYDLOWSKI (2002) e a simulação no OLGA™, e a comparação entre

37
a simulação de SZYDLOWSKI (2002) e a simulação no OLGA™, respectivamente.

Figura 6.5: Comparação resultado experimental e simulação OLGA™

Figura 6.6: Comparação simulação SZYDLOWSKI e simulação OLGA™

38
Em seguida é feita uma análise quantitativa entre as amplitudes de pressão e
frequência, e são discutidos os resultados.
A tabela 6.2 apresenta uma comparação entre as amplitudes de pressão dos
resultados experimentais e calculados por SZYDLOWSKI (2002) e os resultados
obtidos na simulação do OLGA™.

Tabela 6.2: Amplitudes de pressão


Dados Experimentais
Picos SZYDLOWSKI (MPa) OLGA™(MPa)
(MPa)
1º pico 1,06 1,01 1,00
2º pico 1,01 1,01 0,99
3º pico 0,94 1,00 0,98
4º pico 0,88 1,00 0,97
5º pico 0,82 0,97 0,96
6º pico 0,79 0,95 0,94
7º pico 0,77 0,92 0,92
8º pico 0,72 0,90 0,90
9º pico 0,71 0,88 0,88
10º pico 0,68 0,85 0,86
11º pico 0,66 0,82 0,84
12º pico 0,65 0,81 0,82
13º pico 0,63 0,79 0,81
14º pico 0,62 0,77 0,79
15º pico 0,61 0,75 0,78
16º pico 0,60 0,74 0,76
17º pico 0,59 0,73 0,75

Para a determinação do amortecimento equivalente, determina-se o decremento


logarı́tmico (ζ) pela expressão 6.2 (RIBEIRO, 2007).

 
y (t)
δ = ln (6.2)
y (t + TD )
Onde y(t) e y(t + TD ) são duas amplitudes consecutivas nas séries temporais de
pressão.

39
A tabela 6.3 representa os decrementos logarı́tmicos médios para os resultados
experimentais e calculados por SZYDLOWSKI (2002) e os resultados obtidos na
simulação do OLGA™.

Tabela 6.3: Decremento logarı́tmico médio


Caso δ
Dados experimentais 0,036618853
Resultados SZYDLOWSKI 0,020291317
Resultados OLGA™ 0,017980129

A partir do decremento logarı́tmico, pode-se determinar a razão de amorteci-


mento equivalente, utilizando a equação 6.3 (RIBEIRO, 2007).

δ
ζ=q (6.3)
(2π)2 + δ 2

A tabela 6.4 representa as razões de amortecimento para os casos analisados.

Tabela 6.4: Razão de amortecimento


Caso ζ(%)
Dados experimentais 0,58
Resultados SZYDLOWSKI 0,32
Resultados OLGA™ 0,29

Pela comparação quantitativa dos resultados para as amplitudes de pressão e


pela análise das figuras 6.5 e 6.6, é possı́vel concluir que os resultados numéricos
obtidos com a simulação no OLGA™convergem com os resultados numéricos de
SZYDLOWSKI (2002). Entretanto, ao comparar com os dados experimentais, é
importante destacar que no experimento a razão de amortecimento é maior, ou seja,
fisicamente o amortecimento é maior que nos resultados numéricos.
Uma explicação para essa diferença entre os resultados simulados e experimen-
tais é a ausência do fator de atrito transiente, que será abordado a seguir, nos
modelos simulados. Conforme mencionado na seção 3.1, o OLGA™é utilizado para
a simulação de transientes lentos, associados com transporte de massa, entretanto

40
conforme mostrado nos trabalhos de AXWORTHY et al. (2000) e BRUNONE et
al. (1995), que as equações para o cálculo da tensão de cisalhamento não são capa-
zes de proporcionar dissipação suficiente para escoamentos transientes rápidos em
tubulações, que é o caso do golpe de arı́ete, ou seja, a tensão de cisalhamento para
esse caso é maior que prevista.
Dessa forma, WYLIE (1997) apresentou uma fórmula para calcular a força de
atrito na parede do duto, e é apresentada na equação 6.4.

 
f |U |U | ∂U ∂U
Fat = + fu −a (6.4)
2D ∂t ∂z

Onde fu representa o fator de atrito transiente.


É importante ressaltar que na formulação do OLGA™, apresentada no capı́tulo
3, o fator de atrito transiente não é considerado, sendo dessa forma, uma limitação
que pôde ser vista na análise das amplitudes de pressão, onde no caso experimental
o amortecimento é maior que no caso simulado.
Além disso, as frequências das ondas de pressão são comparadas. Como nos
dados experimentais a quantidade de picos de pressão não é nı́tida a partir dos 9
segundos, somente são consideradas as frequências até esse instante de tempo.
A tabela 6.5 apresenta os perı́odos para os primeiros 30 picos de pressão.

41
Tabela 6.5: Perı́odos
Picos Dados experimentais (s) SZYDLOWSKI (s) OLGA™(s)
1º pico 0,28 0,24 0,22
2º pico 0,24 0,29 0,22
3º pico 0,24 0,22 0,22
4º pico 0,26 0,26 0,27
5º pico 0,19 0,18 0,22
6º pico 0,28 0,18 0,22
7º pico 0,21 0,20 0,22
8º pico 0,24 0,20 0,22
9º pico 0,24 0,20 0,22
10º pico 0,21 0,18 0,27
11º pico 0,24 0,20 0,27
12º pico 0,19 0,22 0,22
13º pico 0,24 0,18 0,19
14º pico 0,24 0,22 0,19
15º pico 0,24 0,20 0,22
16º pico 0,24 0,22 0,22
17º pico 0,17 0,22 0,22
18º pico 0,21 0,24 0,22
19º pico 0,19 0,22 0,24
20º pico 0,24 0,20 0,15
21º pico 0,28 0,22 0,24
22º pico 0,21 0,24 0,27
23º pico 0,19 0,20 0,24
24º pico 0,19 0,22 0,24
25º pico 0,28 0,24 0,27
26º pico 0,21 0,22 0,17
27º pico 0,28 0,24 0,24
28º pico 0,21 0,29 0,24
29º pico 0,24 0,20 0,22
30º pico 0,24 0,29 0,22

42
A partir da tabela 6.5, é calculada a média dos perı́odos para os casos estudados,
e é apresentada na tabela 6.6.

Tabela 6.6: Média dos perı́odos


Caso T(s)
Dados experimentais 0,230
Resultados SZYDLOWSKI 0,221
Resultados OLGA™ 0,225

A partir da tabela 6.6 foi calculada a média das frequências, e é apresentada na


tabela 6.7.

1
f= (6.5)
T

Tabela 6.7: Média das frequências


Caso f (Hz)
Dados experimentais 4,35
Resultados SZYDLOWSKI 4,52
Resultados OLGA™ 4,44

Pela comparação quantitativa dos resultados para frequências e pela análise


das figuras 6.5 e 6.6, é possı́vel concluir que os resultados numéricos obtidos com
a simulação no OLGA™convergem com os dados experimentais e os resultados
numéricos de SZYDLOWSKI (2002).

6.2 Resultados do circuito


Os parâmetros utilizados no OLGA™para uma operação tı́pica do circuito estão
resumidos na tabela 6.8. O fechamento da válvula inicia-se em 4,1 segundos e
termina em 9,1 segundos.

43
Tabela 6.8: Parâmetros especificados no OLGA™
Parâmetro Variável Valor
Pressão inicial na entrada Po 0.1 barg
Pressão inicial na saı́da Po 0 barg
Módulo de elasticidade do aço E 2,1×1011 P a
Rugosidade do duto  0,2 mm
Diâmetro do duto D1 54,3 mm
Diâmetro do duto D2 42,3 mm
Espessura da parede do duto e 3 mm

A figura 6.7 representa a localização dos sensores 1 (próximo à entrada), 7 (no


trecho intermediário do circuito) e 13 (próximo à saı́da) no circuito hidráulico.

Figura 6.7: Localização dos sensores de pressão analisados

Os gráficos contendo a variação de pressão nos sensores 1, 7 e 13 são apresentados


nas figuras 6.8, 6.9 e 6.10, respectivamente.

44
Figura 6.8: Pressão próxima à entrada (sensor 1)

No sensor 1, pode-se destacar um pico inicial que atinge a amplitude de 5 bar.


Esse pico inicial é um transiente causado pela partida da bomba. Com o fechamento
da válvula, a pressão atinge uma amplitude de cerca de 11,5 bar, e é amortecido até
que se estabiliza em aproximadamente 9 bar, que corresponde ao Head da bomba
para vazão nula. Além disso, o perı́odo de oscilação da onda, ou seja, o tempo
decorrido para uma oscilação é 0,2 segundos, enquanto o tempo de propagação da
onda de pressão é 0,05 segundos.

45
Figura 6.9: Pressão na parte intermediária do circuito (sensor 7)

No sensor 7, ainda é possı́vel notar o transiente provocado pela partida da bomba,


porém com amplitude menor que no sensor 1, devido às perdas de carga. Além disso,
com o fechamento da válvula, a pressão atinge um pico de aproximadamente 9,5 bar
e estabiliza em aproximadamente 9 bar. Além disso, o perı́odo de oscilação da onda é
0,1 segundo, enquanto o tempo de propagação da onda de pressão é 0,025 segundos.
Ao comparar o perı́odo de oscilação e tempo de propagação da onda do sensor 7
com os sensores da entrada e da saı́da, deve-se destacar que no trecho intermediário
os tempos correspondem exatamente à metade dos tempos nas extremidades do
circuito. Esse fenômeno pode ser explicado devido à propagação da onda de pressão
na saı́da no sentido contrário, devido ao fechamento da válvula, e seu consequente
encontro com a massa de água que ainda escoa no circuito à montante, e isto acaba
gerando um pico de pressão de amplitude menor tanto ao pico da entrada, quanto
da saı́da.

46
Figura 6.10: Pressão próxima à saı́da (sensor 13)

No sensor 13, é importante notar que o pico de pressão é mais elevado. Isso
ocorre devido às perdas de carga, que amortecem a onda de pressão, reduzindo
consideravelmente a amplitude do pico de pressão na entrada em relação ao sensor
da saı́da. Além disso, o perı́odo de oscilação da onda é 0,2 segundos, enquanto o
tempo de propagação da onda de pressão é 0,05 segundos.

47
Capı́tulo 7

Conclusões

7.1 Introdução
O objetivo desse trabalho é a análise do fenômeno do golpe de arı́ete em um
circuito hidráulico. Para isso, foi utilizado um pacote numérico comercial, que é
referência no segmento de óleo e gás, o OLGA™, que utiliza o método de volumes
finitos, com a formulação implı́cita de upwind, de primeira ordem no tempo e no
espaço.
Para verificação e validação do modelo utilizado, os resultados obtidos com o
OLGA™foram comparados com um caso presente na literatura. O caso considera
um duto horizontal, com pressão inicial conhecida, e o fechamento de uma válvula
na extremidade final do duto, provocando o golpe de arı́ete.
Em seguida, foi simulado o escoamento de água no circuito hidráulico construı́do
no LTTC. É importante destacar os altos picos de pressão que foram atingidos após
o fechamento de válvula, demonstrando dessa forma a importância da análise do
golpe de arı́ete para o projeto de sistemas hidráulicos. Conforme exposto na seção
2.1.1, as pressões máximas durante regimes transientes podem destruir tubulações,
válvulas e outros componentes, se não forem corretamente dimensionados.
A partir dos resultados obtidos, é possı́vel concluir que apesar de o OLGA™ser
normalmente utilizado para análise de escoamentos offshore, onde a pressão e o
comprimento dos dutos geralmente são bastante elevados, o programa é uma ótima
ferramenta para análise de fenômenos transientes em baixa pressão. Para o caso teste
analisado, o OLGA™apresentou resultados compatı́veis com o resultado simulado de

48
SZYDLOWSKI (2002), divergindo do resultado experimental devido à ausência do
fator de atrito transiente na sua formulação, apresentado no capı́tulo 6. Além disso,
para o caso do circuito hidráulico, é importante ressaltar que o programa permitiu
a incorporação da curva da bomba, além da válvula de retenção, permitindo dessa
forma o intertravamento da bomba quando há o fechamento da válvula, constituindo
assim, uma ferramenta numérica com muitos recursos.

7.2 Recomendações para trabalhos futuros


Como recomendação para trabalhos futuros, podemos citar:
• Comparação com os dados experimentais do circuito hidráulico construı́do no
LTTC/UFRJ;
• Análise do circuito hidráulico considerando os demais comprimentos possı́veis
do circuito.

49
Capı́tulo 8

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