Você está na página 1de 15

TEORIA DAS

ESTRUTURAS
Reações de apoio I
Jackson Moreira Souza

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar a vinculação externa utilizada no sistema de apoios da es-


trutura.
> Especificar quantas reações existem em cada apoio e quais são suas
direções e sentidos.
> Resolver as reações externas.

Introdução
Sabe-se que muitos profissionais utilizam diversas opções de software para
calcular e analisar a estrutura dos sistemas construtivos. Entretanto, para que
o profissional possa empregar determinadas ferramentas como instrumentos
auxiliares de trabalho, é necessário compreender o processo teórico. Nesse
contexto, faremos uma breve análise conceitual acerca do conhecimento de
equilíbrio estático estrutural, diferenciando definições de sistemas hipoestá-
ticos, isostáticos e hiperestáticos.
Neste capítulo, você vai aprender a definir os tipos de vinculações existentes
nos elementos estruturais e também a calcular os esforços externos, que são
as reações de apoio.

Simbologias das vinculações de apoios nos


sistemas estruturais
Iniciamos os estudos deste capítulo recordando alguns conceitos fundamen-
tais. Sendo assim, entendemos que as reações de apoio são responsáveis
pelo vínculo existente entre o elemento estrutural e o solo, ou equivalente,
2 Reações de apoio I

de modo a ficar assegurada a imobilidade do elemento, com exceção dos


pequenos deslocamentos devidos às deformações.
Nesse sentido, o conceito de graus de liberdade é definido como o nú-
mero de movimentos rígidos e independentes que um corpo pode executar.
Estruturas submetidas a forças atuantes em um só plano (X,Y) apresentam
três graus de liberdade, uma vez que podem apresentar duas translações (na
direção dos dois eixos) e uma rotação (em torno do eixo perpendicular ao
plano que contém as forças externas) (SORIANO, 2020).
Os vínculos têm a finalidade de restringir um ou mais graus de liberdade
de um corpo rígido. Dessa forma, para que um vínculo possa cumprir sua
função surgem no mesmo reações exclusivamente na direção do movimento
impedido. Nesse âmbito, cabem algumas observações (PARETO, 2019):

„ um vínculo não necessita restringir todos os graus de liberdade de


um elemento estrutural, pois quem o fará será o conjunto de vínculos
aplicados;
„ as reações oriundas dos vínculos geram o sistema de cargas externas
reativas;
„ somente existirá reação se houver ação, isto é, as cargas externas
reativas dependem das ativas, devendo ser calculadas.

Os vínculos podem ligar elementos de uma estrutura entre si ou ligar a


estrutura ao meio externo e, desse modo, são classificados como vínculos
internos ou externos. Neste capítulo, veremos a apresentação desses vínculos,
e para entender sua empregabilidade, estudaremos a classificação deles
quanto ao número de graus de liberdade restringidos. Como já vimos, no
caso de carregamento atuante no plano, existem até três graus de liberdade,
então podemos classificá-los em três tipos. A seguir, são demonstrados alguns
exemplos de vínculos externos para o carregamento espacial.
Recapitulando, os apoios ou vínculos são componentes ou partes de uma
mesma peça que inviabilizam o movimento em uma ou mais direções. Nesse
aspecto, pode-se estabelecer as seguintes três possibilidades de movimentos,
com sua respectiva indicação simbólica:

„ translação horizontal (←→);


„ translação vertical (↑↓);
„ rotação (⤻).
Reações de apoio I 3

Introduziremos como primeiro exemplo de vínculo o apoio móvel (Figura 1).


Esse vínculo aplica uma restrição na estrutura, e com isso impossibilita o
deslocamento do ponto na direção perpendicular à da reta. É um apoio que
representa o 1º gênero, que é capaz de impossibilitar o movimento do ponto
vinculado do corpo numa direção pré-estabelecida. Possibilita a rotação do
corpo sólido ao redor do ponto e o movimento do ponto apenas na direção
da reta.

Figura 1. Representação de apoio móvel.

Como segundo exemplo de vínculo, temos o apoio fixo (Figura 2). Esse
vínculo aplica duas restrições na estrutura, e com isso impossibilita o des-
locamento do ponto em qualquer direção do plano, isto é, impede dois movi-
mentos, possibilitando somente o movimento de rotação. Assim é considerado
um apoio de 2º gênero, com tem a capacidade de reagir a dois tipos de esforços,
vertical e horizontal.

Figura 2. Representação de apoio fixo.

Um terceiro tipo de vinculação é o apoio de engaste (Figura 3). Esse vín-


culo aplica três restrições na estrutura, impossibilitando o deslocamento
do ponto em qualquer direção e rotação também. É classificado como de
3º gênero, sendo capaz de impedir qualquer movimento do ponto vinculado
e o movimento de rotação em relação a esse ponto.
4 Reações de apoio I

Figura 3. Representação de engaste.

Até aqui, foram apresentados os tipos de vinculações externas e suas res-


pectivas reações, constituindo os esforços que os vínculos devem desenvolver
para manter o equilíbrio estático de uma estrutura. Os apoios ilustrados foram
aplicados em barras (que chamamos de vigas).
Antes de iniciarmos o estudo do próximo tópico deste capítulo, vamos exa-
minar a classificação estrutural segundo o critério da sua estaticidade. Nesse
âmbito, as estruturas podem ser hipostáticas, isostáticas ou hiperestáticas.
As estruturas hipostáticas surgem quando o número de movimentos res-
tringidos, ou restrições totais (RT), for menor que o número de movimentos
rígidos possíveis e independentes, os grau de liberdade (GL). Desse modo, uma
estrutura hipostática está em equilíbrio instável quando (HIBBELER, 2013):

RT < GL

Já as estruturas isostáticas surgem quando o número de restrições (RT) for


igual ao número de movimentos possíveis (GL). Sendo assim, uma estrutura
isostática sempre encontra-se em equilíbrio estável. A eficácia da vinculação
deve ser examinada (HIBBELER, 2013).

RT = GL

Por fim, estruturas hiperestáticas surgem quando o número de restrições


(RT) for maior do que o número de movimentos possíveis (GL). Uma estrutura
hiperestática, portanto, encontra-se em equilíbrio estável, de tal modo que
(HIBBELER, 2013):

RT > GL
Reações de apoio I 5

No próximo tópico, estudaremos os esforços atuantes nas vinculações de


1º, 2º e 3º graus, com exemplificações práticas.

Reações por apoio e suas direções e


sentidos
Nesta seção, trataremos inicialmente do equilíbrio externo das vigas, o qual
depende das cargas atuantes sobre elas e, por conseguinte, das reações
provenientes dessas cargas acarretadas pelos vínculos, chamadas de reações
de apoio.
Quanto aos tipos de vinculações, começaremos pelo vínculo articulado
móvel. Esse tipo de vínculo possibilita o giro e o deslocamento horizontal,
havendo reação somente das forças verticais. Logo, admite apenas reação
vertical. A Figura 4 traz a representação do apoio móvel com uma reação
vertical R e, portanto, com uma incógnita (BEER; JOHNSTON; MAZUREK, 2019).

Figura 4. Apoio móvel.

Na Figura 5, é exemplificado um caso real de como funciona o apoio móvel


entre os elementos estruturais. Neste exemplo prático, observa-se um rolete
de apoio entre a viga e o pilar.
6 Reações de apoio I

Figura 5. Representação de apoio móvel na prática.


Fonte: Silva (2020, documento on-line).

Por sua vez, um vínculo articulado fixo impossibilita movimentos hori-


zontais e verticais. Portanto, observam-se duas reações de apoio: reação
horizontal e reação vertical, com duas incógnitas (Figura 6) (BEER; JOHNSTON;
MAZUREK, 2019).

Figura 6. Representação de apoio fixo.

Na Figura 7, observa-se uma viga vinculada por pinos a um pilar, impossi-


bilitando o deslocamento do elemento em duas direções — tanto na vertical
quanto na horizontal.
Reações de apoio I 7

Figura 7. Apoio fixo na prática.


Fonte: Silva (2020, documento on-line).

Por fim, o vínculo engastado impossibilita a rotação e deslocamentos,


admitindo reação vertical, horizontal e momento, conforme ilustrado na
Figura 8. Assim, observam-se três reações de apoio: reação momento, reação
horizontal e reação vertical, dando origem, portanto, a três incógnitas (BEER;
JOHNSTON; MAZUREK, 2019).

Figura 8. Representação de apoio engastado.


8 Reações de apoio I

Na Figura 9, observa-se o elemento estrutural viga engastada unido ao


elemento estrutural pilar, resultando no impedimento da rotação e dos des-
locamentos (vertical, horizontal) no seu ponto de encontro.

Figura 9. Apoio engastado na prática.


Fonte: Silva (2020, documento on-line).

Após a apresentação das vinculações nas estruturas e da função de cada


um desses apoios, partiremos para a análise do equilíbrio externo submetido
aos elementos estruturais. Antes de começar, é importante lembrar que, no
âmbito das equações de equilíbrio da estática com as cargas atuando num
único plano (X,Y), sabe-se que a estrutura possui três graus de liberdade, isto
é, translação nas duas direções (X e Z) e rotação em torno do eixo Z. Logo, o
número de equações a serem satisfeitas são três: ∑FX, ∑FY, ∑FMZ, (HIBBELER,
2013).
A Figura 10 mostra uma estrutura de viga, que é classificada como uma
estrutura isostática. Notamos um elemento equilibrado por dois apoios, um
com dois graus de liberdade e outro com um grau de liberdade. Desse modo,
equilibram a estrutura. Pode-se dizer ainda que a quantidade de equações de
equilíbrio é igual aos graus de liberdade ilustrados no elemento estrutural.
Reações de apoio I 9

Figura 10. Equilíbrio isostático de viga.

Nesse sentido, como vimos, as estruturas isostáticas são aquelas cujo


número de reações de apoio ou vínculos é igual ao número de equações
fornecidas pelas condições de equilíbrio da estática. Na Figura 10, temos o
equilíbrio da estrutura, sendo a soma das reações igual à soma de todos os
esforços.
Na Figura 11, é ilustrada a estrutura de uma viga biapoiada, com um apoio
fixo na extremidade esquerda e outro apoio fixo na extremidade direita,
acrescentando-se duas rótulas (centrais). Estes últimos vínculos liberam dois
graus de liberdade, o que deixa a estrutura hipoestática.

Figura 11. Estrutura de viga na condição de hipoestaticidade.

Para o equilíbrio estático da estrutura da Figura 11, sabe-se que deve


existir três reações para três equações. Entretanto, no exemplo foram
colocadas duas rótulas. Logo, para o equilíbrio estático, obtemos o seguinte:

2 reações – 3 equações – 2 equações das rótulas = –2

O valor negativo da operação indica a hipoestaticidade estrutural. Como


vimos, uma estrutura hipoestática é aquela em que o número de reações é
inferior ao de equações da estática. No exemplo, o acréscimo de duas rótulas
gera duas equações de momento. Nesse sentido, sabe-se que o momento em
relação à rótula é nulo. Conclui-se então que uma estrutura hipostática é uma
estrutura instável, por não ter ligações interiores ou exteriores suficientes.
10 Reações de apoio I

Por fim, apresentamos uma estrutura em arco na Figura 12 para representar


uma estrutura hiperestática, ou seja, em que o número de reações é superior
ao de equações da estática. Nela, temos seis reações (geradas três em cada
engaste) para três equações da estática estrutural (que já aprendemos).

Figura 12. Estrutura de viga na condição de hiperestaticidade.

Após conhecermos os conceitos de vinculações e reações e como de-


terminar o grau de liberdade das estruturas, veremos no próximo tópico a
resolução de problemas de equilíbrio estático.

Resolução de reações externas de vigas


Para começar, vamos calcular as reações de apoio de uma viga biapoiada,
com vínculo de 1º e 2º gêneros. A estrutura foi submetida a um carregamento
distribuído (q) ao longo de toda a estrutura e a duas cargas pontuais: F1, a 2
metros do apoio de 1º gênero, e F2, a 3 metros do apoio de 2º gênero (Figura 13).

Figura 13. Exemplo 1 de estrutura de viga na condição de equilíbrio estático.


Reações de apoio I 11

O primeiro passo é fazer o somatório dos esforços na direção X (horizontal).


Como não existem forças na direção X, o somatório é nulo.

∑H = 0 → HB = 0

O segundo passo é realizar o cálculo do momento em relação ao ponto B


(arbitrou-se a rotação positiva no sentido horário). Para o cálculo da reação VA:

B =0

9
A × 9 − 5 × 7 − 6 × 3 − 1,5 × 9 × =0
2

A = 12,6 KN

Como terceiro passo, realiza-se o cálculo do momento em relação ao


ponto A (rotação positiva no sentido horário). Para o cálculo da reação VB:

∑ A =0

9
B × 9 − 5 × 2 − 6 × 6 − 1,5 × 9 × =0
2

B = 11,9 KN

Fazendo a verificação:

VA + VB – 5 – 6 - 1,5 × 9 = 0
VA + VB = 24,5 KN

No nosso segundo exemplo, vamos calcular as reações de apoio de uma


viga biapoiada, com vínculo de 1º e 2º gêneros. A estrutura foi submetida
um carregamento distribuído (q) entre os pontos C e E, e a quatro cargas
pontuais: F1, aplicada no ponto C, F2, no ponto D, F3, no ponto E, e F4, no
ponto F (Figura 14). Com essas informações, aplicaremos a seguir o cálculo
das reações da viga isostática.
12 Reações de apoio I

Figura 14. Exemplo 2 de estrutura de viga na condição de equilíbrio estático.

No primeiro passo, fazemos o somatório dos esforços na direção X (hori-


zontal). Como não existem forças nessa direção, o somatório é nulo:

∑H = 0 → HB = 0

No segundo passo, calculamos o momento em relação ao ponto B (arbitrou-


-se a rotação positiva no sentido horário). Para o cálculo da reação VA:

B =0

A × 9 − 3 × 10,2 − 5 × 7 − 8 × 3 + 2 × 0,9 − 1,5 × 7,2 × ( 7,22 + 3 ) = 0


A = 17,7 KN

O terceiro passo envolve o cálculo do momento em relação ao ponto A


(rotação positiva no sentido horário). Para o cálculo da reação VB:

A =0

B × 9 + 3 × 1,2 − 5 × 2 − 8 × 6 − 2 × 9,9 − 1,5 × 7,2 × ( 7,22 − 1,2) = 0


A = 11,1 KN
Reações de apoio I 13

Fazendo a verificação:

VA + VB – 3 – 5 – 8 – 2 – 1,5 × 7,2 = 0
VA + VB = 28,8 KN

Podemos dizer, de uma forma geral, que o estudo da análise de uma


estrutura (vigas, pilares, etc.) tem como finalidade a determinação
dos esforços (internos e/ou externos), que se referem tanto às cargas e rea-
ções de apoio quanto às correspondentes tensões, bem como a determinação
dos deslocamentos e as deformações da estrutura que está sendo projetada
(POTTER; NASH, 2014).

Referências
BEER, F. P.; JOHNSTON, E. R.; MAZUREK, D. F. Mecânica vetorial para engenheiros: estática.
11. Porto Alegre: McGraw Hill, 2019.
HIBBELER, R. C. Análise das estruturas. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.
PARETO, L. Mecânica e cálculo das estruturas. [S. l.]: Hemus, 1990.
POTTER, M. C.; NASH, W. Resistência dos materiais. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
SILVA, V. Entenda de forma prática e simples os tipos de apoios aplicados nas estruturas.
Linkedin, 2020. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/entenda-de-forma-
-pr%C3%A1tica-e-simples-os-tipos-apoios-aplicados-silva/?trk=public_profile_ar-
ticle_view. Acesso em: 19 ago. 2022.
SORIANO, H. L. Estática das estruturas. 3. Ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2020.

Leitura recomendada
BEER, F. P. et al. Estática e mecânica dos materiais. Porto Alegre: McGraw Hill, 2013.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-
res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar