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ESTUDO COMPARATIVO DE CORRELAÇÕES PARA

DETERMINAÇÃO DO GRADIENTE DE PRESSÃO NO


ESCOAMENTO MULTIFÁSICO DO PETRÓLEO E A
INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE

A. L. N. MOTA1 , G. P. de SOUSA1
1 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas
E-mail para contato: glacileneh@gmail.com

RESUMO –O índice de produtividade em poços de petróleo é um quesito de muita


interferência nas decisões operacionais. Um dos indicadores que interferem na
produtividade do poço é o gradiente de pressão ao longo do tubo de produção e na cabeça
do poço. O trabalho consiste em diagnosticar o quanto o potencial de produção é afetado à
medida em que: a razão gás-líquido e o diâmetro do tubo de produção variam isoladamente.
Para o estudo, foi feita uma avaliação de um poço real. Utilizando-se de métodos
correlacionais de Beggs e Brill, Mukherjee e Brill e Aziz et. al. para o cálculo de gradiente
de pressão, foram determinados os padrões de fluxo para condição avaliada e plotados em
gráficos. O índice de produtividade do poço (IP) foi estimado e corroborou com a atual
situação produtiva do poço, que se encontra fora de atividade produtiva, ao apresentar
valores de IP baixos. O estudo comparativo correlacionais, mostra que todos satisfazem a
estimativa de produtividade, baseado em gradiente de pressão, do poço.

1. INTRODUÇÃO

Os poços de petróleo na unidade de produção próximo ao município de Areia Branca-RN


são essencialmente de campos maduro. Em sua maioria, decorre um modelo de declínio de
produção. Por essa condição, demandam a necessidade de métodos de elevação, como, por
exemplo, o bombeio mecânico e bombeio por cavidade progressiva, para aumentar o fator de
recuperação de óleo e/ou gás, e um monitoramento acurado em seu gradiente de pressão no tubo
de produção e na cabeça do poço, correlacionando os padrões de fluxo de escoamento do fluido
para entender o comportamento do poço.

Sabe-se que o gasto operacional com métodos de recuperação desses poços influência na
decisão de continuidade de vida de produção do poço ou seu fechamento. Portanto, a avaliação de
produtividade do poço é essencial para a decisão de continuidade de exploração comercial.
Para um melhor entendimento da relação dos padrões de fluxo que o poço em produção
pode apresentar ao longo da vida produtiva, faz-se necessário um acompanhamento do gradiente
de pressão.

Consoante Duarte et al (2009), os campos maduros apresentam baixas vazões de óleo e


altas vazões de gás. Os poços, então, apresentam, frequentemente, fluxo multifásico em
tubulações. Por conta da complexidade conferida a este tipo, foram desenvolvidas diversas
correlações empíricas para prever o perfil de pressão nos poços e dutos, tipificando o padrão de
fluxo (bolha, golfada, transição ou nevoeiro). Essas correlações dependem de variáveis como, a
razão gás-óleo (RGL) e diâmetro da tubulação.

Em observância aos pontos expostos, o foco é, então, comparar os valores relativos às


correlações empíricas de Aziz et al (Aziz et al, 1972), Beggs e Brill (Beggs e Brill, 1973), e
Mukherjee e Brill (Mukherjee e Brill, 1985) em suas variações de diâmetro e RGL na obtenção da
perda de carga (Equação 1) e obter valores de Índice de Produtividade satisfatórios.

= + + (1)

A perda de carga (Equação 1) por comprimento da seção da tubulação, então, é dada pela
somatória de perdas de carga de atrito (f), elevação (el) e aceleração (acc). A componente elevação
é praticamente estável entre as correlações, sendo calculado através de:

= . (2)

Onde, s é a massa específica da mistura gás-líquido para um escoamento onde há


escorregamento (velocidades diferentes) entre as fases, expressa pela contribuição das massas
específicas do gás e do líquido em relação à fração volumétrica de líquido ou holdup do líquido
(Hl) na seção do tubo avaliada:

= . + . (1 − ) (3)

A parcela de aceleração pode ser desprezada, por ser pouco significante. Já o termo
referencial ao atrito, pode ser calculado de maneiras diversas, a depender do método e o fluxo
encontrado pelo método. De forma geral, apresenta-se para escoamento monofásico como mostra
a equação 4.
. .
= (4)

Onde, f é o fator de atrito, v a velocidade de escoamento, d o diâmetro do tubo e  é a


massa específica da mistura.

Neste trabalho, comparar-se-á as correlações que determinam o gradiente de pressão para


efeito da estimativa do Índice de Produtividade (IP) de um poço real.
2. METODOLOGIA

Foram obtidos dados reais de um poço, localizado a, aproximadamente, 20 km de distância


do município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, relativos ao fluido e à tubulação, como
observado a seguir nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1- Dados coletados relativos ao poço.

Fluidos
g= 0,984189 Kg/m3
 813,4 Kg/m3
 990,00 Kg/m3
L 852,807 Kg/m3
= 0,97 Cp
g= 0,01029 Cp
= 0,732 Cp
L= 0,92 Cp
Qo = 0,188 m3/h
Qg = 114,72 m3/h
Qw= 0,054 m3/h
QL= 0,242 m3/h
RGL= 468,0
BSW= 22,10 %

Tabela 2 – dados da tubulação

Trecho do tubo de produção


d= 17,8 cm
L= 609 m
= 90 o

e= 0,00183 cm

Com as equações específicas para cada correlação empírica que determina a perda de carga
ao longo da tubulação, foi feita uma modelagem matemática para cada correlação e os resultados
foram convertidos graficamente para a análise de suas características equacionarias, através de
linha de tendência em cada gráfico, a fim de proporcionar uma maior similaridade com as curvas
plotadas e entender o comportamento das curvas perante as mudanças de diâmetro e RGL.
Ao final, foi correlacionado um gráfico API para o gradiente encontrado por cada método
para a condição atual do poço, objetivando uma possível estimativa para produção do poço.

3. RESULTADOS

Foi percebida uma constância nas equações das linhas de tendência para cada curva
inerente às variações. Por exemplo, ao variar o diâmetro, o gradiente de pressão mostrou uma
tendência a aumentar ao passo que o diâmetro também aumentou, de uma forma polinomial com
grau crescente. As equações de ajuste de tendência para Aziz et al, Beggs e Brill e Mukherjee e
Brill, são, respectivamente:

y = 2485,3x4 - 1933,7x3 - 5692,5x2 + 7803,5x - 267,93 (5)


y = 6151,3x5 - 19036x4 + 22362x3 - 12588x2 + 4034,1x - 97,441 (6)
y = 16064x6 - 54011x5 + 71318x4 - 46853x3 + 15712x2 - 1957,6x + 126,39 (7)

A parcela do gradiente relativo à elevação foi a dominante e as demais se mostraram


desprezíveis com a variação do diâmetro maior que o atual do poço. O que de fato era esperado,
pois o diâmetro é uma variável geométrica inversamente proporcional ao aumento de gradiente de
pressão devido ao atrito e diretamente proporcional ao gradiente relativo à elevação, por conta da
variável do fator de escorregamento. Como o fator varia de forma direta com a oscilação de
diâmetro, isso implica em valores de holdup do líquido maiores, influenciando a parcela de
elevação, através da densidade da mistura, a aumentar.

A correlação de Aziz et al, exige uma menor especificidade, pois não admite outra
angulação (que não 90º) do tubo de produção e fluxo a não ser a vertical ascendente. Já a Beggs e
Brill e Mukherjee e Brill se assemelham em suas curvas pois admitem outras angulações no tubo
de produção do poço, aumentando a entrada de variáveis nos cálculos.

Na figura 01, percebe-se os pontos em vermelho sendo a condição original do poço,


diâmetro de 17,8 cm. E os pontos denominados de A até D, são os momentos de transição de
padrão de fluxo. Os polinômios encontrados são curvas de tendência ajustadas.
Figura 01 – Curvas extraídas da variação do diâmetro do poço em relação ao gradiente de
pressão para as correlações avaliadas e pontos de variação de padrão de fluxo correlatos.

Já para o gráfico relativo a variação de RGL, foi percebido que a perda de carga é
potencialmente inversa a RGL. Ou seja, possuem uma taxa específica de diminuição de gradiente
de pressão quando a RGL aumenta. Também foi notada uma maior similaridade gráfica entre as
curvas de Beggs e Brill e Mukherjee e Brill, de fato por haver a condicionante de entradas a mais
de variáveis nos cálculos de perda de carga.
Já o comportamento parcial do cálculo de gradiente de pressão se firmou com o aumento
da parcela de gradiente de atrito aumentando e o de elevação diminuindo com o acréscimo de gás.
Mesmo com o aumento de gradiente de atrito contribuindo para o aumento total, a curva se mostrou
em decréscimo de valor de perda de carga em relação ao aumento do RGL.
A parcela de gradiente de elevação tendeu a diminuir por efeito da densidade da mistura.
Os resultados se atrelam ao fato de o termo de elevação ser diretamente afetado pela densidade da
mistura, como mostra a equação 3. Sendo assim, aumentando-se a RGL, diminui-se a densidade
da mistura, ocasionando a diminuição de perda de carga por elevação. Assim, para o gradiente de
pressão relativo à elevação, a perda de carga é menor, já que o fluido se torna menos denso com o
aumento de RGL.
O supracitado nos dois parágrafos é conferível com a premissa no trabalho de Brill e
Mukherjee (1999), onde é afirmado que ao variar a vazão do gás, a parcela relativa ao atrito, que
se configura entre as próprias partículas e estas com a parede da tubulação, o regime de fluxo se
torna mais caótico, provocando maior agitação entre as moléculas, consequentemente maior atrito,
ou seja, aumentando-se a vazão da fase gasosa a perda de carga sofrerá influência direta sobre as
componentes de aceleração e atrito sendo mais expressivo sobre a segunda.

Figura 02 – Curvas extraídas da variação da RGL em relação ao gradiente de pressão para as


correlações avaliadas.

Os padrões dominantes, durante as variações, não coincidiram de modo geral entre as


correlações, mas intrinsicamente sim, como relata a tabela 03.

Tabela 03 - Padrões dominantes nas variações de diâmetro e RGL do poço.


Correlação Diâmetro (m) RGL
Aziz et al Golfada Golfada
Beggs e Brill Segregado Segregado
Mukherjee e Brill Bolha Bolha
O gradiente de pressão achado para o tubo de produção em condições iniciais, também
demostrou uma afinidade ao padrão dominante para cada correlação, como mostra a tabela 4.

Tabela 04 –Condição encontrada de gradiente de pressão na tubulação do poço


Correlação DP (Pa/m) Padrão
Aziz et al 917,00308 Golfada
Beggs e Brill 330,94848 Segregado
Mukherjee e Brill 75,84236 Bolha

A descontinuidade nas curvas plotadas por conta da mudança de padrão foi observada
como o esperado, como Nascimento (2013) comenta em seu trabalho.

Após os cálculos dos gradientes de perda de carga para os métodos, calculou-se o Índice
de Produtividade do poço (IP), através de dados de relatórios de testes: Potencial do poço (QL),
Pressão na cabeça do poço (Ptf) e Pressão estática (Pe)

Tabela 05 – Dados oriundos de testes de superfície e subsuperfície.


Parâmetro
QL= 5,79 m3/d
Ptf= 2,66 kgf/cm2
Pe= 155 kgf/cm2

Com o gradiente total de pressão na seção total tubo e a pressão estática, encontra-se a
pressão de fundo do poço. Logo, considerando a Pwf (Pressão de fundo do poço) maior que a
pressão de saturação e um IP constante, pode-se aplicar a equação linear para cálculo de IP.

= (8)

Percebe-se na tabela 06, pelos valores de IP, uma apresentação de forma aproximada, então o
método escolhido para o cálculo não influenciou de forma significativa numa variação ampla de valores
de IP.

Tabela 06 – Valores calculados para obtenção do IP relativo às correlações. (*Unidades


requisitadas pela equação)
Correlação DPtotal(*kgf/cm2) Pwf (*kgf/cm2) IP
Aziz et Al 18,79 21,45 0,04335
Beggs e Brill 6,75 9,41 0,03977
Mukherjee e Brill 1,61 4,27 0,03841
4. CONCLUSÕES

O comportamento do gradiente de pressão em função do diâmetro para os métodos de


Beggs e Brill e Mukherjee e Brill foram similares entre si, com o método de Aziz apresentando
uma certa discrepância entre os mesmos. Já o comportamento do gradiente de pressão em relação
à RGL foi semelhante para os três métodos, apesar do método de Aziz apresentar valores um pouco
discrepantes em relação aos outros métodos analisados.

O IP se mostrou de maneira esperada, apresentando valores muito baixos, para todas as


correlações, já que a coleta dos dados para este estudo se deu em seu último dia ativo de produção.
O poço, desde meados de 2015, condiciona-se fora de operação, para estudos de intervenção de
recuperação de produção.

Portanto, a escolha de correlação para o gradiente de pressão ao longo da tubulação do


poço, não intervém de maneira significativa para o resultado estimado do índice de produtividade,
mesmo cada método apresentando padrões de fluxo distintos.

REFERÊNCIAS

AZIZ, K.; et al. Pressure Drop in Wells Producing Oil and Gas. J. Cdn. Pet. Tech, 1972

BEGGS, H.D.;Brill, J.P. A Study of Two-Phase Flow in Inclined Pipes. JPT, 1973.

BRILL, J. P.; MUKHERJEE, H. Multiphase Flow in Wells. Society of petroleum Engineers Inc.
Richardson, Texas, 1999.

______.Pressure Drop Correlations for Inclined Two-Phase Flow. J. Energy Res. Tech., 1985.

DUARTE, L. M. N de G.,et al. Análise multifásico de escoamento de petróleo em linhas de


produção em campos maduros. In: Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Petróleo e Gás, 5, Fortaleza: 2009.

NASCIMENTO, J. C. S. Simulador de escoamento multifásico em poços de petróleo


(SEMPP). 2013. 134 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal. 2013.

THOMAS, José Eduardo. Fundamentos de Engenharia de Petróleo. Rio De Janeiro:


Interciência, 2001

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