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Departamento de Matemática
Prof. Celius A. Magalhães
Cálculo II
Notas da Aula 03 ∗
que, em razão da função q(t), não pode ser resolvido por separação de variáveis.
No entanto, como mostrado a seguir, o problema pode ser resolvido por fator integrante. Para simpli-
ficar um pouquinho, suponha que a = ω = 1 e δ = 0, de modo que o problema é
( ′
y (t) = k y(t) − [q0 + cos(t)], t > 0
(1)
y(0) = y0
Rescrevendo a equação na forma y′ (t) − k y(t) = −[q0 + cos(t)] e multiplicando pelo fator integrante
µ (t) = e−kt obtém-se
(µ (t) y(t))′ = µ (t)y′ (t) + µ ′ (t) y(t) = e−kt (y′ (t) − k y(t)) = − e−kt [q0 + cos(t)]
q0 1
y(t) = +C ekt − 2 (sen(t) − k cos(t))
k k +1
É curioso notar que o termo q0 /k + C ekt é a solução geral da equação da pesca sustentável sem
sazonalidade. Assim, introduzir um fator sazonal na equação resulta em introduzir um fator sazonal
também na solução. Muito interessante!
Bem, a partir da solução geral é agora fácil obter a solução do problema de valor inicial (1). Com
efeito, impondo a condição inicial y0 = y(0) = q0 /k + C + k/(k2 + 1) obtém-se que
C = y0 − q0 /k − k/(k2 + 1). Daí segue-se que a solução de (1) é
1
q0 q0 k
y(t) = + y0 − − 2 ekt − 2 (sen(t) − k cos(t)) (3)
k k k +1 k +1
No caso não sazonal, a questão da sustentabilidade foi relativamente simples de ser resolvida, pois
deviam ser pescados a quantidade correspondente ao aumento da população no período. É isso o que
diz a igualdade q0 = k y0 . Assim, se a questão fosse apenas a sustentabilidade, os cálculos feitos naquele
caso para se encontrar a solução do PVI seriam desnecessários.
Mas, no caso sazonal, essa conclusão não é tão clara. Qual a relação entre y0 , k e q0 que garante
a sustentabilidade? Para responder à essa pergunta é indispensável usar a solução obtida em (3). Com
efeito, se, em (3), o coeficiente da exponencial ekt for positivo, a população aumenta com o tempo, e, se
negativo, a população diminui. Assim, a única forma da população se manter entre limites razoáveis é se
esse coeficiente for nulo, isto é, se
q0 k
y0 − − 2 =0 y
k k +1
Essa é a relação entre y0 , k e q0 que garante a sustentabi-
y0
lidade no caso sazonal, relação que não é nada intuitiva! A
figura ao lado ilustra o campo de direções da equação em (1)
juntamente com os casos em que o coeficiente da exponencial
ekt em (3) é positivo, nulo e negativo. Gráficos das soluções sazonais t
Vale observar que, apesar de simples e intuitivo, o caso não sazonal foi quem abriu o caminho para
que o caso sazonal pudesse ser resolvido.
Existência e Unicidade
Os exemplos anteriores ilustram modelos relacionando a derivada y′ (t) com a função y(t). Procura-se
em seguida determinar a função y(t) a partir do modelo e de uma condição inicial y(0) = y0 .
Em geral, dada uma função f (t, y) de duas variáveis, a expressão
é dita uma equação diferencial ordinária de 1.a ordem, e a incognita é a própria função y(t). Frequente-
mente a equação deve ser resolvida junto com uma condição inicial y(t0 ) = y0 , e
Equações dessa forma são ditas equações diferenciais lineares de 1.a ordem, e são especialmente
indicadas para serem resolvidas pelo método do fator integrante. O primeiro passo é, então, escolher o
fator integrante µ (t). Como se verá a seguir, ele deve ser escolhido de forma que
onde p(t) é a função dada em (5). Com a experiência que já se tem com o modelo de Malthus, pode-se
separar as variáveis e escrever a equação na forma µ ′ (t)/µ (t) = p(t). Integrando, obtém-se ln(|µ (t)|) =
p(t) dt e, tomando a exponencial, é caro que µ (t) pode ser escolhida na forma
R
R
p(t) dt
µ (t) = e
e fica claro o motivo da escolha de µ (t): como ela satisfaz µ ′ (t) = p(t)µ (t), o lado esquerdo de (6) é a
derivada de um produto! Com efeito, (6) escreve-se como
Basta agora integrar e isolar y(t) para obter que a solução geral de (5) é dada por
1
Z
y(t) = q(t)µ (t) dt (7)
µ (t)
Essa solução geral pode ser melhor entendida a partir dos exemplos já estudados.
Como verificação, no caso da pesca sazonal, com equação y′ (t) − ky(t) = −(q0 + cos(t)), tem-se que
p(t) = −k e q(t) = −(q 0 + cos(t)). Então p(t) dt = −k dt = −kt é uma primitiva de p(t), e o fator
R R
R
integrante é µ (t) = e p(t) dt = e−kt . Além disso,
q0 −kt
Z Z Z
q(t)µ (t) dt = − (q0 + cos(t)) e−kt dt = e − cos(t) e−kt dt
k
q0 −kt e−kt (sen(t) − k cos(t))
= e +C −
k k2 + 1
onde a integral do lado direito foi calculada em (2) e C é uma constante genérica. Assim, a solução geral
nesse caso é
1 1 e−kt (sen(t) − k cos(t))
q0 −kt
Z
y(t) = q(t)µ (t) dt = −kt e +C −
µ (t) e k k2 + 1
q0 sen(t) − k cos(t)
= +C ekt −
k k2 + 1
que é a mesma obtida anteriormente.
Contas análogas podem ser feitas nos casos do modelo de Malthus e da pesca sustentável. Essas
verificações mostram que os exemplos são de fato casos particulares da solução geral em (7), e todos
podem ser resolvidos com a técnica do fator integrane.
Voltando ao caso geral, devido à integral indefinida em (7), y(t) fica determinada a menos de uma
constante arbitrária. No entanto, essa constante fica também determinada se for imposta uma condição
inical y(t0 ) = y0 . Em consequência, obtém-se o seguinte resultado, que é fundamental para as equações
lineares de 1.a ordem.
Solução. O interessante desse exemplo é que tanto p(t) = 2t quanto q(t) = 2t e−t dependem explicita-
mente da variável t, e vale estudar como a solução geral se comporta nesse caso.
Antes, porém, vale uma análise qualitativa da equação. Uma primeira observação é que q(t) tende a
zero rapidamente. Assim, com valores grandes de t, a equação é aproximadamente
Voltando aoR exemplo, a solução geral pode ser obtida com a técnica do fator integrante. Com efeito,
tem-se Rque p(t) dt = 2t dt = t 2 é uma primitiva de p(t) e o fator integrante é
R
2
µ (t) = e p(t) dt = et . Além disso,
Z Z Z
−t 2 t2
q(t)µ (t) dt = − (2t e ) e dt = 2t dt = t 2 +C
2
Isso confirma a análise feita acima, pois t 2 e−t → 0 quanto t → ∞, e portanto a solução geral se
2
aproxima de fato da função C e−t