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Maria Guiomar de C. Ribas - Resenha (p.

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RESENHA

EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL

Maria Guiomar de C. Ribas (UFPB)

Educação Musical no Brasil1 é uma obra de obra aberta, assumidamente parcial, que dá plena
impacto para a área, representando uma cartografia voz a interpretações locais e singulares. Brindando-
do campo educativo musical. A história da Educação nos com essa publicação, constroem um modo pelo
Musical brasileira é contada de forma plural, sendo qual a história da Educação Musical pode ser
esse um aspecto que imprime ao livro característica descrita, analisada, entendida, problematizada, e/ou
própria, possibilitado pela multiplicidade de temáticas transformada.
e perspectivas conceituais. Isso ocorre pela partici- O livro está estruturado em três partes: “O
pação de setenta e cinco autores e autoras oriundos Ensino de Música no Brasil”, “Educação Musical nos
de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal, Estados” e “Perspectivas da Educação Musical no
que escrevem, uns sozinhos outros em parceria(s), Brasil”. Fases da Educação Musical são apresentadas
cinqüenta e sete capítulos sobre a trajetória da Edu- na Parte I - “O Ensino de Música no Brasil”,
cação Musical, em vários tempos, espaços e con- composta por sete artigos. Dois deles abordam o
textos sócio-histórico-culturais brasileiros. ensino e a aprendizagem de música no contexto
Tecendo o diálogo entre as muitas vozes dos/ político educacional da Era Vargas: “A Educação
as autores/as convidados/as, as organizadoras, Alda Musical no Brasil dos Anos 1930-45”, escrito por
Oliveira e Regina Cajazeira, rompem com posições Jusamara Souza, e “A Educação Musical da era
favoráveis ou contrárias em relação às diferentes Vargas: seus precursores”, cuja autora é Rosa Fuks.
abordagens analíticas desse material, em prol de uma Embora tratem de uma mesma temática, enquanto
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Souza elege como foco a institucionalização do ensino
OLIVEIRA, Alda; CAJAZEIRA, Regina (Orgs.). Educação
Musical no Brasil. Salvador: P&A, 2007, 404 p. de música no período Vargas (estudada a partir da
Claves n.° 5 - Maio de 2008
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relação entre o político-social e o ensino de música música e a extinção do ensino de música nas escolas.
nas escolas), Fuks se detém em problematizar como Associado a isso, o autor considera que a pós-
o modernismo dos anos 20 e reformas educativas graduação em música está se transformando em
estaduais formuladas nessa década influenciam a “extensão compensatória da graduação”. Considera,
práxis pedagógica-musical dos anos 30. ademais, que as especialidades e linhas de pesquisa
“Aspectos históricos da Educação Musical no em música estão indefinidas e confusas. “A pesquisa
Brasil e na América do Sul” artigo de autoria de Alda em Educação Musical no Brasil – Teses e
de Jesus Oliveira, traça um percurso histórico da Dissertações: diversidade temática, teórica e
Educação Musical nos países da América do Sul, metodológica” de autoria de José Nunes Fernandes,
detendo-se mais detalhadamente no contexto músico- analisa a produção discente da pós-graduação
educacional brasileiro. Ao tratar sobre a formação brasileira no campo específico da Educação Musical.
em Música, aborda a história desde as missões jesu- Os dados foram obtidos a partir dos portais da
ítas, onde a música era utilizada como meio de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
catequizar os indígenas, mostrando que essa pers- Nível Superior (CAPES), Associação Nacional de
pectiva doutrinária religiosa permaneceu no ensino Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM);
musical até meados do século XVIII. No século XX, e Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
destaca o crescimento do multi-culturalismo e a cria- em Educação (ANPED), além da solicitação da
ção e aprofundamento da pós-graduação e organi- produção discente junto aos cursos de pós-
zações musicais, como Associação Nacional de Pes- graduação stricto sensu em Artes e Música. O artigo
quisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM) e a apresenta um minucioso trabalho sobre o campo de
Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), pesquisa na subárea da Educação Musical no país.
como fatores que refletem um cenário político edu- Essa primeira parte do livro se encerra com o
cacional latino-americano favorável a mudanças. Tece artigo intitulado “A Associação Brasileira de
ainda comentários sobre o que considera Educação Musical – ABEM: 15 anos de história”,
[in]consistências da Educação Musical no Brasil. realizado a “quatro mãos” por Sérgio Luiz Ferreira
Regina Cajazeira escreve sobre “A importân- de Figueiredo e Alda de Jesus Oliveira. Esse texto
cia das bandas na formação do músico brasileiro”. celebra os 15 anos da Associação, informando sobre
Trata dos vários sentidos e representações como, quando e em que contexto a ABEM foi criada,
socioculturais atribuídos às bandas em nosso país, bem como seus objetivos, princípios e realizações.
mostrando como, desde o período colonial à Como afirmam o autor e a autora: “A ABEM tem
atualidade, as bandas fazem parte da nossa cultura. cumprido um importante papel na produção e
Ademais, a autora discorre sobre as características disseminação do conhecimento em Educação
da formação do músico de banda, analisando pro- Musical. Os encontros oportunizam debates e as
cessos de apropriação e transmissão musical desses/ publicações são referências não apenas para o Brasil,
as instrumentistas, bem como o significado da banda mas para toda a América Latina.” (Op. cit., p. 63)
enquanto agente de formação musical. A segunda parte de Educação Musical no
O quinto e o sexto artigo abordam a pesquisa Brasil traz estudos organizados por regiões geográ-
como tema. “A pós-graduação em Música no Brasil”, ficas, contemplando quarenta e oito artigos.2 Es-
escrito por Régis Duprat, estabelece uma estreita
2
relação entre problemas atuais da pós-graduação em Sobre essa segunda parte do livro, esclareço que optei por
não comentar cada artigo, já que isso seria exaustivo.
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ses textos são referentes a cada um dos vinte e seis 386). Coelho de Souza reflete ainda sobre iniciativas
estados brasileiros e o Distrito Federal. Emerge as- e perspectivas para a Educação Musical a distância
sim, de forma pioneira, uma história da Educação Mu- na atualidade, e destaca o consórcio promovido pela
sical a partir das vozes estaduais. UFRGS, envolvendo a UFBA, UFES, UFSC,
Certamente essa não deve ter sido uma tarefa UFMG, UFAL e UNIR. Conforme relata a autora,
fácil para as organizadoras. Uma dificuldade superada trata-se da experiência pioneira de um curso de
refere-se ao fato de que a polissemia de interpreta- Licenciatura em Música a distância, que terá um
ções e recortes passíveis de se elaborar acerca de modelo integrado à Rede Nacional de Formação
um mesmo assunto é ilimitada, enquanto, Continuada de Professores. O segundo e último
paradoxalmente, a nossa capacidade de capítulo dessa parte final, é feito pelas organizadoras,
compreensão da dita realidade é parcial, limitada. Alda Oliveira e Regina Cajazeiras, que escrevem as
Diante da complexidade do mundo social, nos “Conclusões e Perspectivas” para o campo da
instrumentalizamos, teórica e metodológicamente, Educação Musical.
para nos aproximarmos da “realidade”, que é sempre Dúvidas, perspectivas e limites em torno da
dinâmica e complexa, a tal ponto que o registro é Educação Musical brasileira são externados,
algo circunscrito ao seu tempo e espaço social, e, no documentados, compartilhados nesse livro. Sem
entanto, imprescindível para a nossa busca de dúvida, a obra sugere possibilidades, e certamente
compreensão maior dessa dita realidade. Nesse se constituirá em referência na literatura sobre a
sentido, sem dúvida esse livro repre-senta uma valiosa Educação Musical no Brasil.
contribuição para o campo da Educação Musical
brasileira, e como ressaltam as organizadoras:

Os textos dos setenta e cinco autores sobre


as cinco regiões do país tecem uma realidade
surpreendente, onde muitas facetas da edu-
cação musical foram descobertas e reveladas.
A realização dessa edição possibilita a expan-
são do conhecimento musical sobre o país e
aumenta as oportunidades de relacionamen-
to entre professores de todos os Estados.
(Op. cit., p. xvii)

A terceira parte do livro, denominada


“Perspectivas da Educação Musical no Brasil” é
constituída por dois artigos. “Educação Musical a
Distância no Brasil”, escrito por Cássia Virgínia
Coelho de Souza, defende que essa modalidade de
ensino, ao não contar com a presença do professor
ou da professora em sala de aula, modifica o processo
de aprendizagem no sentido de “uma maior abertura
para o desenvolvimento do aluno a partir de uma
postura menos diretiva do professor” (op. cit., p.

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