Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/311595175
CITATION READS
1 16,214
3 authors:
Carlos Cançado
Florida Institute of Technology
39 PUBLICATIONS 266 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Efeito de história pré-experimental e de variáveis atuais sobre o responder relacional: estudos analítico-comportamentais sobre comportamentos implícitos e
explícitos View project
All content following this page was uploaded by João Henrique de Almeida on 30 January 2017.
ORGANIZADORES
www.walden4.com.br
2016
Instituto Walden4
E71
Experimentos clássicos em análise do comportamento [recurso eletrônico]
/ organizado por Paulo Guerra Soares, João Henrique de Almeida, Carlos
Renato Xavier Cançado. - Brasília : Instituto Walden4, 2016.
333 p.
ISBN: 978-85-65721-10-3
CDD 150.724
iii
AUTORES E AUTORAS
iv
Elenice Seixas Hanna Ítalo Siqueira de Castro
Doutora em Psicologia – Teixeira
University of Wales, Reino Graduação em Psicologia –
Unido. Universidade de Fortaleza.
v
Márcio Borges Moreira Poliana Ferreira da Silva
Doutor em Ciências do Estudante de Graduação
Comportamento –Universidade (Psicologia) – Universidade de
de Brasília. Rio Verde.
Peter Endemann
Doutor em Psicologia
Experimental – Universidade de
São Paulo.
vi
AGRADECIMENTOS
1
It takes a village to raise a child.
2
“It takes a village to raise a paper”. Killeen, P. R., & Pellón, R. (2013). Adjuntive behaviors are operants. Learning &
Behavior, 41, 1-24.
vii
doso em cada etapa da preparação desse livro. Aos discentes Leandro
Brasil Melo pelo desenvolvimento do projeto gráfico, e Lorena Shimizu
pela diagramação e desenvolvimento projetual de capa. O trabalho foi
feito como parte de um projeto de extensão, e retrata a importância da
integração das atividades de ensino e pesquisa na relação entre a uni-
versidade e as comunidades nas quais está inserida.
3
Apoio da FAPESP (Processo no: 2014/01874-7).
4
Apoio CAPES (PNPD).
viii
PREFÁCIO
... even though laboratory methods are often devised not for practical
teaching but for the study of fundamental behavioral processes, the
techniques are then available for application outside the laboratory.
ix
vez de ler livros texto, os alunos poderiam aprender muito lendo arti-
gos científicos, mais precisamente, relatos de pesquisa experimental,
o que lhes permitiria ter contato com autores importantes da área e
conhecer um pouco do desenvolvimento de nossa ciência. Tenho as
melhores lembranças das horas e horas que passamos escolhendo os
textos (claro que fizemos um levantamento 10 vezes maior do que seria
possível abordar em uma disciplina de um semestre) e do entusiasmo
com que trabalhamos naquela disciplina, em grande parte motivado
pelos progressos dos alunos, evidenciados nas discussões em sala, em
suas habilidades de ler e pensar, de utilizar o raciocínio científico, e de
se dar conta de que cada experimento pode trazer uma nova contri-
buição, mas também pode ter limitações, e que identificar os limites é
um caminho para novas ideias e novas possibilidades de investigação.
Sentíamos que estávamos criando boas condições para o desenvolvi-
mento de pelo menos alguns dos requisitos importantes no repertório
de futuros psicólogos e, talvez, pesquisadores em psicologia.
x
que foi feito e da justificativa para fazê-lo; além disso, o autor do livro
apresenta o contexto em que cada investigação foi concebida e con-
duzida; e ao final do texto, apresenta, também, de maneira resumida,
mas suficientemente informativa, as linhas de pesquisa e os desenvol-
vimentos subsequentes que derivaram daquele estudo seminal (isto é,
oferece uma perspectiva histórica do desenvolvimento da psicologia,
por meio do trabalho concreto de pesquisadores relevantes). Usei o
livro por vários anos, enquanto ministrei a disciplina (fui depois subs-
tituída pelo Júlio, que continuou usando o “Hock”) e estou certa que
o uso desse material, em suas sucessivas reedições, tem contribuído
muito positivamente para iniciar o desenvolvimento das concepções
do aluno sobre o que estuda a Psicologia – e sobre como essa ciência
vem sendo, e poderá continuar sendo, construída.
xi
tais e apresentando pistas para que os alunos discutissem qualidades
e limites da pesquisa em foco. Sou testemunha de que esta atividade
funcionou como reforçador poderoso para a leitura prévia dos alunos,
e, ao mesmo tempo, como modelo de leitura cuidadosa e crítica.
xii
comportamento, e, o que é de extrema relevância para a sobrevivên-
cia das práticas científicas (investigação e intervenção) em análise do
comportamento, despertar talentos e vocações para dar continuidade
ao desenvolvimento da área.
Por todos esses aspectos, avalio que este volume pode ser uma
fonte inestimável para formação ou o aprimoramento de analistas do
comportamento.
Não existe nada que você possa fazer bem feito, que não exija esfor-
ço, comprometimento, dedicação e um trabalho sistemático. Em nossa
área, seja no estudo, na investigação, ou nas aplicações a problemas
humanos, não dá para fazer um trabalho de qualquer jeito, não se
pode fazê-lo rapidamente, nem superficialmente. Por isso, para quem
quer se tornar um analista do comportamento competente, seja no
desenvolvimento científico da área, seja no desenvolvimento profis-
sional, o primeiro passo é dedicação. É preciso ler (ou melhor, estudar)
relatos originais de pesquisa; é preciso ler muito, voltar às origens, ler
os clássicos e, claro, ler bibliografia atualizada. Muitas vezes presencio
meus alunos lendo – ou escrevendo sobre o que leram, e eles tendem a
xiii
assumir que o autor que estão lendo no momento foi o primeiro a falar
daquele assunto, ou o que teve a ideia original de que trata a pesqui-
sa. Muitas vezes, trata-se de conceitos elaborados há muito tempo,
que são encontrados em Skinner (1931, 1938, 1953), Keller e Schoenfeld
(1950), Ferster e Skinner (1957), Millenson (1967), Sidman (1960), mas
eles citam o artigo mais recente que leram, como se fosse a fonte ori-
ginal. É preciso estar atualizado, acompanhar o desenvolvimento da
área e para isto é preciso recorrer à literatura recente, mas também
é preciso manter o registro, a memória ou a história dos conceitos e
descobertas. Apesar de todas as exigências de referência de citação
científica, muitas vezes vemos uma deturpação em relação às origens.
Não é incomum encontrarmos, em 2016, um artigo citando um au-
tor que publicou em 2015, como se este fosse a referência original de
um determinado assunto. É muito importante estudar os trabalhos
dos pioneiros (e se interessar por quem foram eles, sob que condições
trabalharam, onde e quando viveram), ler e conhecer o que a área já
produziu, ao mesmo tempo em se lê referências atualizadas. É preciso
tentar dominar o conhecimento produzido na área, que não é pouco;
quanto mais se conhece – os conteúdos e os caminhos que levaram
a eles, mais o analista do comportamento disporá de instrumental
teórico, conceitual e de procedimentos, para analisar e interpretar
situações novas e para pensar, gerar novos estudos, ou planejar in-
tervenções com embasamento cientifico. As facilidades de acesso são
cada vez maiores, mas não podemos nos iludir com essa facilidade.
É muito fácil acessar dezenas de artigos pela internet e poder abrir
cada um deles com um simples toque. Mas não basta: faltam os passos
seguintes: como é que se lê essa quantidade de material, de maneira
funcional? Será preciso trabalhar muito, de forma disciplinada. Para
quem quiser ter uma boa formação como analista do comportamento,
existe muito conhecimento sedimentado para se aprender a trabalhar
xiv
e existem boas oportunidades de novos desenvolvimentos, mas para
isso é preciso estudar, se dedicar, se comprometer.
Por todos esses aspectos, estou certa de que o livro atende a uma
necessidade importante em nossa área, e que se tornará um oportuno
ponto de partida para iniciantes e uma excelente ocasião para revisão e
atualização para os iniciados em análise do comportamento.
Deisy G. de Souza
Universidade Federal de São Carlos
xv
SOBRE A CAPA
O gentil convite feito por Carlos, João e Paulo para que eu esco-
lhesse a imagem da capa do livro que você agora lê me confrontou com
um desafio singular: ilustrar, com o auxílio da arte, o conteúdo de um
livro científico.
Minha tarefa certamente foi facilitada pelo fato de que a arte não
nos compromete com interpretações “certas”. A arte é o campo da su-
gestão, da metáfora, do símbolo. Assim, me lancei à tarefa sob um vago
controle temático, mas também me deixando levar pela beleza e pelo
poder evocativo das imagens.
xvi
O que nos mostra que estão mortos é o fato de serem apenas
esqueletos. O que nos mostra que estão vivos é o fato de interagirem
com o mundo. Os esqueletos que nos assombram e nos encantam na
tradição são a encarnação desencarnada da contradição: são mortos
que vivem. Se neles pouco resta do que esperaríamos encontrar em
um corpo vivo, o comportamento é seu único sinal de vida - e, como
lembrava Skinner, a história do comportamento e a história da vida
começam juntas.
O esqueleto que está na capa deste livro nos lembra ainda que
a vida é evolução - e que nós, seres vivos, estamos todos ligados por
laços de parentesco. Trata-se de uma figura simiesca, que não obstante
adota uma postura aparentemente “intencional” e verbal, tipicamente
humana. É como se interagisse com outros de sua espécie, cuja pre-
sença a imagem permite apenas subentender. Filogênese, ontogênese e
cultura estão todas na imagem - desde que nossa história nos permita
encontrá-las.
Alexandre Dittrich
Universidade Federal do Paraná
xvii
APRESENTAÇÃO
Este livro foi idealizado a partir de uma paixão comum dos três
organizadores: a Análise Experimental do Comportamento. A ideia ge-
ral consiste em apresentar, a estudantes de graduação, diversos temas
de pesquisa em Análise do Comportamento por meio de experimentos
clássicos. A análise experimental geralmente é considerada um terreno
árido, com descrições metodológicas difíceis e um certo “desprendi-
mento” das questões do dia a dia. Estes fatores, em nossa opinião, difi-
cultam o contato e até mesmo o interesse de estudantes iniciantes pelo
laboratório e pela pesquisa experimental sobre o comportamento.
xviii
Esperamos que esta obra inspire estudantes (e futuros pesquisa-
dores e pesquisadoras!) a se enveredarem pelos caminhos fascinantes
da pesquisa experimental sobre o comportamento dos organismos. E
que essa jornada seja para estes estudantes um pouco do que foi (e con-
tinua sendo) para nós: um caminho de muito trabalho e de muitos erros
e acertos, mas, acima de tudo, um caminho muito gratificante e enri-
quecedor. Esperamos, também, que este material sirva como um apoio
aos professores e professoras das disciplinas de Análise Experimental
do Comportamento, como contexto para discussões sobre os temas de
pesquisa que compõe os currículos destas disciplinas.
Boa leitura!
xix
SUMÁRIO
Capítulo I.............................................................................................24
Somos todos produtos da nossa história comportamental
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
Capítulo II...........................................................................................36
O cheque está no correio: investigando como o reforço atrasado afeta
o desempenho
Kennon A. Lattal
Capítulo III.........................................................................................49
Quando o passado retorna: ressurgência comportamental
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
Capítulo IV..........................................................................................64
Clarice Lispector, tempo e consequências: considerações sobre con-
traste comportamental
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
Capítulo V...........................................................................................78
Da frequência absoluta à frequência relativa como unidade de análise
do comportamento
Cristiano Coelho
Capítulo VI.........................................................................................95
Prestaram atenção em tudo?
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
xx
Capítulo VII.....................................................................................109
A resposta de observação: o papel das respostas sensoriais para o es-
tabelecimento da discriminação
Peter Endemann, Candido V. B. B. Pessôa
Capítulo VIII.....................................................................................123
Controle dos processos atencionais
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
Capítulo IX.......................................................................................139
O responder controlado temporalmente: desdobramentos da pesquisa
com a tarefa de bissecção
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
Capítulo X.........................................................................................158
Como você se sente?
Hiroto Okouchi
Capítulo XI........................................................................................171
“Esse não é um pitilics, então só pode ser aquele”: o responder por
exclusão e a aprendizagem de repertórios verbais
Adreia Schimidt
Capítulo XII......................................................................................186
Paus e pedras podem machucar, mas palavras... também! - Teoria das
molduras relacionais
João Henrique de Almeida e William Ferreira Perez
xxi
Capítulo XIII....................................................................................205
Quando o mundo interage com o que é dito sobre o mundo: o compor-
tamento governado por regras
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
Capítulo XIV.....................................................................................222
A função do mentir em crianças: o controle operante na correspon-
dência verbal
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
Capítulo XV......................................................................................239
Do indivíduo ao grupo: simulações experimentais de relações sociais
com animais não-humanos
Marcelo Borges Henriques
Capítulo XVI..................................................................................254
Metacontingências: investigação experimental da seleção cultural
Fábio Henrique Baia, Alina Barboza Cabral Bianco, Isabella Guimarães
Lemes, Poliana Ferreira da Silva
Capítulo XVII..................................................................................272
“Para com isso menino!”: análise funcional em problemas de compor-
tamento
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury
Silveira
Capítulo XVII..................................................................................284
Recombinação de repertórios: criatividade e a integração de aprendi-
zagens isoladas
Hernando Borges Neves Filho
xxii
Capítulo XIX....................................................................................297
Controlar para conhecer
Cristiano Valério dos Santos
Capítulo XX......................................................................................310
The check is in the mail: examining how delayed reinforcement af-
fects performance
Kennon A. Lattal
Capítulo XXI....................................................................................322
How do you feel?
Hiroto Okouchi
xxiii
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
Weiner, H. (1964). Conditioning history and human fixed-interval performance. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 7(5), 383-385.
24
Capítulo I | História Comportamental
25
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
26
Capítulo I | História Comportamental
27
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
Figura 1. Registros cumulativos dos 15 últimos minutos da fase de teste (após 15 horas de exposição ao FI) dos participantes da pesquisa de Weiner
(1964). O painel superior exibe os registros dos participantes do Grupo 1 (história de FR) e o painel inferior exibe os registros dos participantes do Grupo
2 (história de DRL) (reproduzido com a permissão de John Wiley and Sons).
28
Capítulo I | História Comportamental
15 horas de exposição ao FI, os participan- tória (FR para S1, S2 e S3; DRL para S4, S5 e
tes que tinham sido expostos ao FR emi- S6) e a taxa de respostas nas cinco últimas
tiam taxas de respostas mais altas quando sessões do experimento.
comparadas às taxas de respostas dos parti-
cipantes que tinham sido expostos ao DRL. Observa-se na Figura 2 que a taxa de
respostas nas cinco últimas sessões de FI
A pesquisa de Weiner (1964) é inte- dos participantes com história de FR foram
ressante por demonstrar que, mesmo em sempre superiores às taxas de respostas dos
um delineamento simples, no qual a res- participantes com história de DRL. Todavia,
posta selecionada era pressionar um botão, há que se considerar que houve diminuição
o comportamento dos participantes no es- na taxa de respostas dos participantes ex-
quema de FI sofreu influências da histó- postos a história de FR e aumento na taxa
ria comportamental que foi construída no de respostas dos participantes com história
laboratório. Sobre estes resultados, Weiner de DRL, quando expostos ao FI.
afirmou que o “ponto importante é que a
história de condicionamento deve ser con- Durante as três últimas sessões de
siderada como um possível determinante
do responder de humanos em FI” (p. 385).
comportamento presente.
exposição ao FR, os participantes S1 e S3
Os resultados apresentados por Wei- emitiram, em média, 412 e 240 respostas
ner (1964) nos permitem ainda outras con- por minuto. Na última sessão de FI, eles
siderações. A Figura 2 abaixo foi construída emitiam 64 e 55 respostas por minuto, res-
a partir da Tabela 1 do artigo. O eixo y apre- pectivamente. Ou seja, depois de 15 horas
senta a taxa de respostas (R/min) em escala de exposição ao FI, houve uma redução na
logarítmica e o eixo x exibe a média da taxa taxa de respostas de aproximadamente 85%
de respostas das três últimas sessões de his- para S1 e de 77% para S2, em relação à li-
29
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
nha de base. Uma análise parecida também tamental dos indivíduos, explicaria o de-
pode ser realizada para os participantes S5 sempenho dos participantes da pesquisa de
e S6, que foram expostos à história de DRL. Weiner (1964) durante a fase de teste? Assim
Durante as três últimas sessões do DRL, S5 como no estudo de Simonassi et al. (1984),
e S6 emitiam, em média, três respostas por provavelmente o leigo utilizaria conceitos
minuto. A taxa de respostas na última ses- mentalistas, como “ansiosas”, “hiperativas”
são do FI foi de seis e nove respostas por (para os participantes com história de expo-
minuto, respectivamente. Pode parecer sição ao FR) ou “preguiçosas”, “depressivas”
pouca coisa, mas trata-se de um aumen- (para aqueles com história de exposição ao
to na taxa de respostas de 100% para S5 e DRL), ignorando completamente a história
200% para S6! comportamental dos participantes!
30
Capítulo I | História Comportamental
“Por mais que um padrão compor- ses e especular com base em dados empí-
tamental esteja trazendo problemas ricos é mais do que muitas abordagens em
a alguém, por mais que este alguém Psicologia têm oferecido.
esteja insatisfeito com sua forma de
agir, tal comportamento foi reforçado
no passado em um ou mais contextos” CONSIDERAÇÕES FINAIS
(p. 41).
A pesquisa de Weiner (1964) foi uma
Conhecer a história é conhecer o das primeiras tentativas de análise sistemá-
comportamento. Para que se possa compre- tica do efeito de histórias comportamentais
ender o comportamento atual do paciente, é no laboratório. Seus resultados ressaltam a
imprescindível que se conheçam elementos importância do papel da história comporta-
de sua história de vida, e que estes elemen- mental na determinação do comportamen-
tos possam ser relacionados às contingên- to atual. Ao constatar este fato, o analista do
cias atuais. Portanto, para a condução de comportamento deve tomar cuidado com
uma análise funcional do comportamento dois pontos. Primeiramente, a história com-
adequada, é necessária a análise sistemáti- portamental – especialmente quando ela
ca da história do paciente. não é conhecida – não deve ser transforma-
da em uma explicação genérica do compor-
Todavia, é importante esclarecer tamento ou, como ressalta Cirino (2001), em
alguns pontos. Em primeiro lugar, quan- uma “lata de lixo” da Análise do Comporta-
do conversamos com um cliente não te- mento. Todo comportamento é explicado a
mos acesso a sua história. Temos acesso ao partir das contingências às quais o indiví-
comportamento verbal que pode estar sob o duo foi exposto, mas para lançar mão desta
controle da história, pode estar sob o con- explicação histórica o analista do compor-
trole da audiência (o terapeuta) ou ambos. tamento deve conhecer a história e quais
Os estudos sobre história comportamental elementos desta história possuem relação
não nos dão uma ferramenta para a atuação com seu comportamento atual.
aplicada da Análise do Comportamento. As
pesquisas empíricas sobre história compor- Em segundo lugar, é importante não
tamental nos permitem fazer especulações atribuir à história comportamental um efei-
mais bem fundamentadas (i.e., baseadas em to definitivo e imutável sobre o compor-
dados empíricos), mas que não passam de tamento atual (cf. Costa, Cirino, Cançado
especulações, até que a intervenção seja & Soares, 2009). Ainda que a explicação
feita e, eventualmente, o comportamento Behaviorista Radical seja essencialmente
mude na direção “esperada” (pelas especu- histórica, não podemos negligenciar o papel
lações). Isso não é pouco! Levantar hipóte- das contingências presentes. Uma análise
31
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
32
Capítulo I | História Comportamental
33
Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa
Costa, C. E., Cirino, S. D., Cançado, C. R. X., LeFrancois J. R, & Metzger B. (1993). Low-
& Soares, P. G. (2009). Polêmicas sobre his- -response-rate conditioning history and fi-
tória comportamental: identificação de seus xed-interval responding in rats. Journal of
efeitos e sua duração. Psicologia: Reflexão e the Experimental Analysis of Behavior, 59,
Crítica, 22, 317-326. 543– 549.
Costa, C. E., Soares, P. G., & Ramos, M. N. Marçal, J. V. S. (2013). Behaviorismo radi-
(2012). Controle de estímulos e história cal e prática clínica. In A. K. C. R. de-Farias
comportamental: uma replicação de Fre- (Org.), Análise Comportamental Clínica (pp.
eman e Lattal (1992). Temas em Psicologia, 30-48). Porto Alegre: Artmed.
20, 273-288.
Okouchi, H. (2003a). Effects of differences
Doughty, A. H., Cirino, S. D., Mayfield, K. in interreinforcer intervals between past
H., Da Silva, S. P., Okouchi, H., & Lattal, K. and current schedules on fixed-interval
A. (2005). Effects of behavioral history on responding. Journal of the Experimental
resistance to change. The Psychological Re- Analysis of Behavior, 79, 49-64.
cord, 55, 315-330.
Okouchi, H. (2003b). Stimulus generaliza-
Ferster, C. B., & Skinner, B. F. (1957). Sche- tion of behavioral history. Journal of the
dules of reinforcement. New York: Appleton. Experimental Analysis of Behavior, 80, 173-
186.
Freeman, T. J., & Lattal, K. A. (1992). Stimu-
lus control of behavioral history. Journal of Sidman, M. (1960). Tactics of scientific rese-
the Experimental Analysis of Behavior, 57, arch. New York: Basic Books.
5-15.
Simonassi, L. E., Pires, M. C. T., Bergholz,
Lattal, K. A. (1991). Scheduling positive rein- M. B., & Santos, A. C. G. (1984). Causação no
forcers. In I. H. Iversen & K. A. Lattal (Eds.), comportamento humano: acesso à história
Experimental Analysis of Behavior, Part 1 passada como determinantes na explicação
(pp. 87-134). New York, NY: Elsevier Scien- do comportamento humano. Psicologia: Ci-
ce. ência e Profissão, 4, 16-23.
34
Capítulo I | História Comportamental
35
Kennon A. Lattal
Kennon A. Lattal
West Virginia University
Azzi, R., Fix, D. S. R., Keller, F. S., & Rocha e Silva, M. I. (1964). Exteroceptive control of response
under delayed reinforcement. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 7, 159-162.
36
Capítulo II | Atraso do Reforço
37
Kennon A. Lattal
meira resposta não seria reforçada” (p. 73). procedimento, os ratos foram condiciona-
Seus comentários subsequentes sugeriram dos “da maneira usual” (p 140; presumivel-
que ele não resolveu este problema neste mente Skinner queria dizer com reforço
primeiro experimento. imediato) para responder, por fim, em um
esquema intervalo fixo (FI) 5 min. Após este
Um pouco mais tarde no livro ele treino, atrasos de 2, 4, 6 ou 8 s estavam em
descreveu outros dois experimentos en- vigor com diferentes ratos por três sessões.
volvendo atraso do reforço. Ele começou As taxas de resposta foram reduzidas quan-
repetindo o problema do procedimento já do os atrasos estavam em vigor, sendo que
mencionado anteriormente: “Nenhum pla- com os dois atrasos mais curtos o respon-
nejamento foi feito para evitar a possivel der foi menos reduzido em comparação aos
coincidência de uma segunda resposta com dois mais longos. Em um experimento final
um reforço atrasado” (Skinner, 1938, p. 138), sobre atraso do reforço, Skinner analisou os
tornando assim mais provável que o atraso efeitos de várias mudanças no treino e na
obtido seria menor do que o atraso progra- implementação dos atrasos.
mado. Ele também observou uma segunda
dificuldade, relacionada com os ratos que O principal desenvolvimento suse-
mantinham a barra pressionada. O atraso quente na análise experimental do atraso
começou com uma pressão a barra, mas às do reforço foi a pesquisa de Ferster (1953).
vezes a barra continuava a ser pressiona- A maioria dos teóricos de aprendizagem,
da durante o atraso e era liberada no final incluindo Skinner, focaram os efeitos pre-
do intervalo, levando Skinner a questionar judiciais do atraso do reforço sobre a apren-
se isso resultaria em reforço imediato ou dizagem e o desempenho. Ferster inverteu a
atrasado. O equipamento utilizado neste questão e perguntou se seria possível man-
experimento foi o mesmo utilizado no ex- ter o comportamento apesar da presença de
perimento descrito acima mas, no entanto, um atraso entre o reforço e a resposta que o
ele apontou uma mudança: “o equipamen- produziu. Ele conduziu uma série de expe-
to tem esta propriedade importante: se uma rimentos com pombos em que ele primei-
segunda resposta é feita durante o intervalo ro mantinha a resposta de bicar (bicar um
do atraso, a contagem do tempo recomeça, pequeno disco de plástico) com esquemas
de modo que um intervalo completo deve de reforço intervalo variável (VI). Com essa
decorrer novamente antes que o reforço linha de base, em seu primeiro e segundo
ocorra” (p 139. ). Assim, em vez de um atraso experimentos, atrasos sinalizados por bla-
não resetável, neste experimento os atrasos ckouts4 da câmara experimental ocorreram
eram resetáveis, isto é , o intervalo do atra- 4
Nota de tradução: Termo mantido como no original. O termo é utiliza-
so era reiniciado para cada resposta após do para descrever situações em que as luzes da câmara experimental, e
até mesmo aquelas que iluminam os discos de resposta, são apagadas.
aquela que iniciou o atraso. Utilizando este
38
Capítulo II | Atraso do Reforço
39
Kennon A. Lattal
40
Capítulo II | Atraso do Reforço
41
Kennon A. Lattal
42
Capítulo II | Atraso do Reforço
43
Kennon A. Lattal
44
Capítulo II | Atraso do Reforço
45
Kennon A. Lattal
46
Capítulo II | Atraso do Reforço
Guthrie, E. R. (1935). The psychology of lear- Pierce, C. H., Hanford, P. V., & Zimmerman,
ning. New York: Harper. J. (1972). Effects of different delay of
reinforcement procedures on variable-in-
Hull, C. L. (1943). Principles of Behavior. terval responding. Journal of the Experi-
New York: Appleton-Century Crofts. mental Analysis of Behavior, 18, 141-146.
Jarmolowicz, D. P., & Lattal, K. A. (2013). De- Renner, K. E. (1964). Delay of reinforcement:
lay of reinforcement and fixed-ratio perfor- A historical review. Psychological Review,
mance. Journal of the Experimental Analy- 61, 341-361.
sis of Behavior, 100, 370-395.
Reilly, M.P., & Lattal, K.A. (2004). Progressi-
Keller, F. S. (2008). At my own pace: The au- ve delays to reinforcement. Journal of the
tobiography of Fred S. Keller. Cornwall on Experimental Analysis of Behavior, 82, 21-
Hudson: Sloan Publishing. 35.
47
Kennon A. Lattal
48
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
Quando o passado
retorna: ressurgência
comportamental
A fênix é uma ave da Arábia (...). Quando percebe que envelheceu, constrói uma
fogueira para si (...) e encarando os raios do sol nascente, acende o fogo e o nutre
batendo suas asas, e ressurge de suas próprias cinzas.
(Isidoro de Sevilha, Etymologiae, Livro 12, 7:22)
49
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
50
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
geral demais, algo que talvez pudesse ter lisar experimentalmente a ressurgência,
sido descrito por meio da observação casu- isto é, a recorrência de comportamentos
al do comportamento no cotidiano, sem re- previamente reforçados quando comporta-
correr a equipamentos especiais, sem con- mentos atuais deixavam de ser reforçados.
duzir experimentos, e sequer pensar em ir Metodologicamente, seria necessário que
ao laboratório. Por quê recorrer a uma situ- uma resposta específica (a resposta alvo)
ação simplificada no laboratório quando o fosse inicialmente reforçada. Em uma se-
fenômeno pode ser observado no compor- gunda fase, a resposta alvo deixaria de pro-
tamento de humanos e não humanos em duzir reforços e uma outra resposta (a res-
ambientes não laboratoriais? Mas é exata- posta alternativa) seria reforçada. Em uma
mente essa simplificação do laboratório em terceira fase, a resposta alvo continua a não
relação a ambientes não laboratoriais, con- produzir reforços e a ressurgência dessa
duzida por meio do controle experimental resposta poderia ser verificada quando a
de variáveis, que queremos quando nosso resposta alternativa deixasse de produzir
objetivo é descrever princípios comporta- reforços. Na literatura experimental, o pro-
mentais. A análise experimental permite cedimento para o estudo da ressurgência
uma descrição mais precisa do fenôme- é descrito comumente como um “procedi-
no investigado e dos fatores que o levam a mento de três fases” e a primeira, a segun-
ocorrer (i.e., suas variáveis de controle). Se da e a terceira fases do procedimento são
você conhece as variáveis que determinam denominadas fases de Treino, Eliminação
um fenômeno, pode prevê-lo com maior (ou Reforçamento Alternativo) e Teste, res-
precisão se você sabe que essas variáveis pectivamente. Embora Epstein não tenha
estão em vigor. Além disso, se você pode feito uso desses termos, eles serão utiliza-
manipular essas variáveis, pode fazer com dos nesse capítulo para descrever as fases
que o fenômeno ocorra ou deixe de ocor- de seu procedimento.
rer (Skinner, 2003/1953). É essa a princi-
pal função de uma análise experimental do Independente dos nomes que demos
comportamento e não seria diferente em ao procedimento e às fases experimentais,
relação ao estudo da ressurgência. Vejamos, o que deve ser destacado é que Epstein
então, como foi a análise experimental da (1983) precisou construir, em laboratório,
ressurgência conduzida por Epstein. uma história comportamental remota (i.e.,
a resposta alvo foi reforçada), uma histó-
ria comportamental recente (i.e., a respos-
DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO ta alvo deixou de ser reforçada e apenas a
resposta alternativa passou a produzir re-
Objetivo e Método forços) e também modificar o ambiente de
O objetivo de Epstein (1983) era ana- seus sujeitos em um teste (i.e., a resposta
51
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
52
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
53
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
54
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
55
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
56
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
son & Hayes, 1996; peixes, da Silva, Cança- gência é influenciada pela taxa de reforços
do & Lattal, 2014) e com algumas modifica- em vigor nas fases de Treino (Podlesnik &
ções do procedimento descrito pelo autor Shahan, 2009, 2010) e Eliminação (Cança-
(ver Pontes e Abreu-Rodrigues, 2015). As do, Abreu-Rodrigues & Aló, 2015; Sweeney
variáveis que possivelmente influencia- & Shahan, 2013a). Em geral, taxas altas de
riam a ressurgência, indicadas por Epstein reforços nessas duas fases produzem res-
e descritas anteriormente, vêm sendo estu- surgência de maior magnitude do que ta-
dadas sistematicamente desde então. Dife- xas baixas de reforços. Temos também
rente do que indicaram os resultados de seu evidências que unidades comportamentais
experimento (Epstein, 1983), alguns estudos mais complexas, como diferentes padrões
sugerem que o número de sessões na fase temporais de resposta (Cançado & Lattal,
de Treino pode influenciar a magnitude da 2011) e sequências espaciais de respostas
ressurgência. Ressurgência de maior mag- (Sánchez-Carrasco & Nieto, 2005; Reed
nitude tende a ocorrer quando a fase de & Morgan, 2006) ressurgem assim como
Treino é conduzida por um número maior respostas discretas como bicar um disco,
de sessões (e.g., Bruzek et al., 2009; Dou- pressionar uma barra ou um botão de res-
ghty, Cash, Finch, Holloway & Wallington, postas. Esse último achado pode ser rele-
2010). No entanto, resultados inconsisten- vante para interpretar resultados de alguns
tes entre estudos têm sido obtidos quando estudos que mostram que ressurgência de
a duração da fase de Eliminação é manipu- maior magnitude é observada quando, na
lada. Em alguns estudos, a magnitude da fase de Treino, a resposta alvo ocorre em
ressurgência foi maior quando a duração taxas altas do que quando ocorre em taxas
da fase de Eliminação foi menor (e.g., Lei- baixas (da Silva, et al., 2008; Reed & Mor-
tenberg, et al., 1975; ver também Sweeney & gan, 2007). O que esses últimos resultados
Shahan, 2013b). Em outros estudos, a dura- podem indicar é a ressurgência de padrões
ção da fase de Eliminação não influenciou diferentes de respostas (i.e., taxas altas e ta-
a magnitude da ressurgência (e.g., Lieving & xas baixas) estabelecidos na fase de Treino.
Lattal, 2003, Winterbauer, Lucke & Bouton, Por fim, vale ressaltar que a ressurgência de
2013). respostas mantidas por contingências de
reforçamento negativo (ao invés de contin-
Hoje sabemos que a ressurgência é gências de reforçamento positivo, como no
um fenômeno replicável interssujeitos e experimento de Epstein) tem sido demons-
também intrassujeitos (i.e., após a exposi- trada com humanos no laboratório (Bruzek
ção repetida dos mesmos sujeitos ao pro- et al., 2009; Alessandri, Lattal & Cançado,
cedimento de três fases; e.g., Cançado & 2015) e em ambientes não laboratoriais (e.g.,
Lattal, 2011; Lieving & Lattal, 2003). Além Volkert, Lerman, Call & Trosclair-Lasserre,
disso, sabemos que a magnitude da ressur- 2009).
57
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
58
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
é indesejável, mas ocorrem mesmo assim e em que grau o fenômeno será observado.
(e.g., a recorrência de comportamentos-pro- Essa é uma tarefa que aguarda aqueles in-
blema e a recaída). Há outros contextos em teressados na ressurgência e na recorrência
que seria desejável e pode não ocorrer (e.g., de comportamentos em geral.
em contextos de resolução de problemas e
quando temos interesse no estabelecimento
de comportamentos novos). PARA SABER MAIS
No início de seu artigo, Epstein (1983) Lieving & Lattal (2003). Série de quatro ex-
afirma que o fato que comportamentos pre- perimentos conduzidos com pombos. Uma
viamente reforçados tendem a recorrer das primeiras análises experimentais sis-
quando comportamentos atuais deixam de temáticas sobre a ressurgência conduzida
produzir reforços (i.e., ressurgência) teria após a publicação do experimento de Eps-
“um potencial de aplicação amplo” (p. 391). tein (1983).
Talvez apenas recentemente, dado o acu-
mulo de evidências experimentais sobre o Podlesnik, Gimenez-Gomez, & Shahan
fenômeno, tenhamos passado a explorar (2006). Experimento conduzido com ratos
mais as implicações do estudo da ressur- sobre a ressurgência de comportamentos
gência para uma análise experimental do previamente mantidos por álcool. Os auto-
comportamento e para a aplicação dos prin- res apresentam nesse artigo o procedimen-
cípios comportamentais em contextos não to para o estudo da ressurgência como um
laboratoriais. Durante aproximadamente modelo experimental da recaída.
20 anos, desde a publicação do trabalho
de Epstein até a publicação de uma série Podlesnik & Shahan (2009). Nesse artigo,
de experimentos conduzidos por Lieving e os efeitos sobre a ressurgência de taxas de
Lattal (2003), estudos sobre a ressurgência reforços diferenciais na fase de Treino (as-
foram escassos e envolveram comumente sim como sobre outros fenômenos de recor-
a análise de condições em que o fenômeno rência, como o restabelecimento e a reno-
ocorre ou não (ver Pontes & Abreu-Rodri- vação) são avaliados. Os autores propõem
gues, 2015). Recentemente, contudo, aná- uma relação entre as variáveis que deter-
lises experimentais sistemáticas têm sido minam a ressurgência (e a recorrência em
direcionadas à descrição de variáveis que geral) e a resistência do comportamento à
alteram não apenas a ocorrência da ressur- mudança.
gência, mas também sua magnitude. Um
maior refinamento experimental permite Bruzek, Thompson, & Peters (2009). Em
descrever não apenas quando o fenômeno dois experimentos conduzidos com hu-
irá ocorrer, mas também especificar como manos, a ressurgência de comportamentos
59
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
Alessandri, J., Lattal, K. A., & Cançado, C. da Silva, S. P., Cançado, C. R. X., & Lattal,
R. X. (2015). The recurrence of negatively K. A. (2014). Resurgence in Siamese fighting
reinforced responding of humans. Journal fish, Betta splendens. Behavioural Proces-
of the Experimental Analysis of Behavior, ses, 103, 315-319.
104, 211–222.
da Silva, S. P., Maxwell, M. E., & Lattal, K.
Antonitis, J. J. (1951). Response variability in A. (2008). Concurrent resurgence and beha-
the white rat during conditioning, extinc- vioral history. Journal of the Experimental
tion, and reconditioning. Journal of Experi- Analysis of Behaviour, 90, 313-331.
mental Psychology, 42, 273-281.
Doughty, A. H., Cash, J. D., Finch, E. A.,
Bouton, M. E. (2011). Learning and the per- Holloway, C., & Wallington, L. K. (2010). Ef-
sistence of appetite: Extinction and the fects of training history on resurgence in
motivation to eat and overeat. Physiology & humans. Behavioural Processes, 83, 340-
Behavior, 103, 51–58. 343.
Bruzek, J. L., Thompson, R. H., & Peters, Epstein, R. (1983). Resurgence of previou-
L. C. (2009). Resurgence of infant caregi- sly reinforced behavior during extinction.
ving responses. Journal of the Experimental Behaviour Analysis Letter, 3, 391–397.
Analysis of Behavior, 92, 327-343.
Epstein, R. (1985). Extinction-induced re-
Cançado, C. R. X., Abreu-Rodrigues, J., & surgence: Preliminary investigations and
Aló, R. M. (2015). Reinforcement rate and possible applications. The Psychological Re-
resurgence: A parametric analysis. Revista cord, 35, 143-153.
60
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
Epstein, R. (1996). Cognition, creativity & Leitenberg, H., Rawson, R. A., & Mulick, J.
behavior: Selected essays. Westport, CT: A. (1975). Extinction and reinforcement of
Praeger alternative behavior. Journal of Compara-
tive and Physiological Psychology, 88, 640-
Epstein, R. (2015). On the rediscovery of the 652.
principle of resurgence. Revista Mexicana
de Análisis de la Conducta, 41, 19-43. Lieving, G. A., Hagopian, L. P., Long, E. S.,
& O’Connor, J. (2004). Response-class hie-
Epstein, R., & Skinner, B. F. (1980). Resur- rarchies and resurgence of severe problem
gence of responding after the cessation of behavior. The Psychological Record, 54,
response-independent reinforcement. Pro- 621–634.
ceedings of the National Academy of Scien-
ces of the United States of America, 77, 6251- Lieving, G. A, & Lattal, K. A. (2003). Recen-
6253. cy, repeatability, and reinforcer retrench-
ment: An experimental analysis of resur-
Franks, G. J, & Lattal, K. A. (1976). Antece- gence. Journal of the Experimental Analysis
dent reinforcement schedule training and of Behavior, 80, 217-233.
operant response reinstatement in rats.
Animal Learning & Behavior, 4, 374-378. Marsteller, T. M., & St Peter, C. C. (2014). Ef-
fects of fixed-time reinforcement schedules
Laraway, S., Snycerski, S., Michael, J., & on resurgence of problem behavior. Journal
Poling, A. (2003). Motivating operations of Applied Behavior Analysis, 47, 455-469.
and terms to describe them: Some further
refinements. Journal of Applied Behavior Miguel, C. F. (2000). O conceito de opera-
Analysis, 36, 407-414. ção estabelecedora na análise do compor-
tamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 16,
Lattal, K. A., & St. Peter Pipkin, C. (2009). 259-267.
Resurgence of previously reinforced res-
ponding: Research and application. The Pavlov, I. P. (1927). Conditioned reflexes: An
Behavior Analyst Today, 10, 254-266. investigation of the physiological activity of
the cerebral cortex. Londres: Oxford Uni-
Leitenberg, H., Rawson, R. A., & Bath, K. B. versity Press.
(1970). Reinforcement of competing beha-
vior during extinction. Science, 169, 301- Podlesnik, C. A, Jimenez-Gomez, C., &
303. Shahan, T. A. (2006). Resurgence of alcohol
seeking produced by discontinuing non-
-drug reinforcement as an animal model of
61
Capítulo III | Ressurgência Comportamental
62
Carlos Renato Xavier Cançado, Flávia Hauck, Ítalo S. C. Teixeira
116.
63
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
Clarice Lispector,
tempo e consequências:
considerações sobre
contraste comportamental
64
Capítulo IV | Contraste Comportamental
65
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
66
Capítulo IV | Contraste Comportamental
demos ter um esquema múltiplo com dois interação entre os componentes do esque-
componentes programados da seguinte ma múltiplo pode ser estudada alterando-
forma: em um componente há sempre um -se as condições em um componente en-
tom e a consequência é produzida a partir quanto as condições no outro componente
de um esquema de razão fixa (a cada X res- são mantidas constantes. Assim, o objetivo
postas, a comida é apresentada) e no outro ao se estudar a interação é observar como
componente o tom está sempre ausente e mudanças nas condições de um contexto
a consequência é produzida a partir de um afetam o comportamento em outro contex-
esquema de intervalo fixo (a comida é apre- to inalterado.
sentada para a primeira resposta emitida
após X min). Nesse caso, pode-se afirmar Diversos experimentos foram reali-
que o responder é discriminado se for ob- zados para investigar essa interação entre
servado que a taxa e o padrão de respostas componentes (e.g. Findley, 1958, Herrick,
são diferenciados entre os componentes. Myers & Korotkin, 1959, Reynolds, 1961b,
Uma das utilidades do esquema múltiplo é, 1961c) e o que se observou é que alterações
então, demonstrar como o comportamento que diminuem a taxa de respostas em um
muda em função de mudanças no contexto, componente (e.g., extinção) geralmente
dado que as mudanças no contexto sinali- produzem aumentos na taxa de respostas
zam mudanças nas contingências em vigor. no componente inalterado. Além disso, al-
terações que aumentam a taxa de respostas
Herrnstein e Brady (1958) afirmaram em um componente produzem diminuições
que o esquema múltiplo pode ser uma boa na taxa de respostas no componente inal-
ferramenta para comparações intrassujei- terado. A esse efeito de interação foi dado
tos dentro de uma mesma sessão em função o nome de contraste comportamental (con-
da independência entre o desempenho nos traste positivo, no primeiro caso, e contras-
componentes. Porém, em diversos experi- te negativo no segundo). Assim, contraste
mentos (inclusive no experimento de Herr- comportamental se refere a uma mudança
nstein & Brady) tornou-se evidente que os na taxa de respostas na presença de um
desempenhos entre os componentes podem estímulo que é oposta à mudança na taxa
não ser independentes, isto é, o que ocorre de respostas na presença de outro estímulo
em um dos componentes de um esquema (Reynolds, 1961a).
múltiplo pode influenciar o comportamen-
to que ocorre no outro componente. À mu- Embora o contraste seja um efeito
dança do comportamento em um contexto comumente observado durante a formação
(SD) em função de alterações nas condições de uma discriminação entre dois ou mais
em vigor em outro contexto (diferente SD) estímulos (e.g., quando um deles é corre-
chama-se interação (Reynolds, 1961b). Essa lacionado ao reforço e o outro a extinção),
67
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
o contraste ocorre também em condições ços e taxa de respostas pudessem ser expe-
em que há reforço programado na presença rimentalmente isoladas para observar como
de ambos os estímulos, porém com varia- cada variável influenciava o contraste e as-
ções na taxa de reforços entre eles. Findley sim, poder verificar se o fenômeno era fun-
(1958), por exemplo, relatou que a taxa de ção de mudanças na taxa de reforços ou na
respostas em um componente, um esquema taxa de respostas. Reynolds encontrou uma
de intervalo variável (VI) 6 min, aumentou solução relativamente simples e interes-
quando no outro componente, um VI maior sante para responder a sua pergunta: Dimi-
do que 6 min programava uma menor taxa nuir a taxa de respostas sem alterar a taxa
de reforços em relação ao VI 6 min. de reforços.
Porém, até a década de 1960, o que Para isso, Reynolds (1961a) utilizou
se observava nos experimentos realizados quatro pombos e uma caixa operante com
sobre contraste (e.g. Herrick, et al., 1959; um disco que poderia ser iluminado por
Reynolds, 1961b) era que a taxa de respostas quatro cores diferentes. Durante o experi-
covariava consistentemente com a taxa de mento, cada pombo era colocado na câma-
reforços (i.e., diminuições na taxa de refor- ra experimental e respostas de bicar o disco
ços eram seguidas de diminuições na taxa produziam acesso a comida. Reynolds di-
de respostas e aumentos na taxa de refor- vidiu o seu estudo em quatro procedimen-
ços eram seguidos por aumentos na taxa tos subdivididos em várias fases. Em cada
de respostas) e não se sabia dizer qual das procedimento havia um esquema múltiplo
duas variáveis era responsável pelo con- com dois componentes e, em cada compo-
traste comportamental. Permanecia então a nente, o disco era iluminado por uma cor
questão: A taxa de respostas no componen- diferente (SD). Diversos tipos de alterações
te inalterado aumenta porque a taxa de res- foram feitas em um dos componentes do
postas do segundo componente diminui ou múltiplo a fim de verificar quais variações
porque a taxa de reforços do segundo com- nesse componente levariam a mudanças
ponente diminui? Por isso, em 1961, Rey- na taxa de respostas no outro componen-
nolds resolveu conduzir um estudo para te, que permanecia inalterado ao longo das
responder a essa questão. fases.
68
Capítulo IV | Contraste Comportamental
maneira alternada. Em cada sessão, cada componente foi alterado para o DRO e só
componente era apresentado 30 vezes. Os depois para extinção e para outros pombos
procedimentos variaram em relação às al- a ordem de alteração foi inversa). O Proce-
terações realizadas em um dos componen- dimento III foi uma combinação dos dois
tes, sendo no primeiro sempre mantido um procedimentos anteriores e a manipula-
VI 3 min (de agora em diante, chamaremos ção feita no componente alterado foi uma
o componente mantido com o VI 3 min de combinação do timeout com o DRO, ou
componente constante e o componente no seja, todas as luzes da caixa experimental
qual as manipulações foram realizadas de eram apagadas e reforços eram produzidos
componente alterado). se os pombos não respondessem durante o
intervalo do DRO. Um procedimento adi-
No Procedimento I, para o compo- cional foi realizado para controlar o efeito
nente alterado foi programado um timeout do aumento na taxa de reforços sob o DRO
em umas das fases (todas as luzes da caixa e, para isso, ao final da última sessão do
operante eram apagadas e não havia apre- Procedimento III, aumentou-se o peso dos
sentação de reforço para nenhuma das res- animais (i.e., diminuiu-se a privação) e, en-
postas emitidas) e extinção em outra fase tão, no dia seguinte os animais foram nova-
(o estímulo continuava a ser apresentado, mente expostos às mesmas condições que
porém, não havia apresentação do reforço). haviam sido programadas no Procedimento
No Procedimento II, para o componente al- II, no qual para o componente alterado foi
terado, foi programado um esquema de re- programado um DRO em uma fase, e extin-
forçamento diferencial de outros compor- ção na fase seguinte.
tamentos (DRO¹) 50 ou 75 s para uma das
fases e extinção para outra. A programação As manipulações realizadas por Rey-
do DRO no Procedimento II teve como ob- nolds (1961a) possibilitaram a comparação
jetivo garantir que a taxa de respostas di- de condições nas quais a diminuição da
minuísse sem que houvesse uma redução taxa de respostas estava correlacionada à
na taxa de reforços, dado que sempre que diminuição na taxa de reforços (i.e., alteran-
os pombos não respondessem (por 50 ou 75 do o segundo componente para extinção ou
s) o reforço seria apresentado. A ordem de timeout) e condições nas quais a diminui-
mudança para DRO ou extinção, no com- ção da taxa de respostas não estava corre-
ponente alterado, foi contrabalanceada en- lacionada à diminuição na taxa de reforços
tre os pombos (i.e., para alguns pombos o (i.e., alterando o segundo componente para
um DRO). Dessa forma, foi possível iso-
lar experimentalmente os efeitos da taxa
1
Em um DRO, o reforço só é apresentado se o organismo cumprir o
intervalo estabelecido sem emitir determinada resposta. No presente de respostas e da taxa de reforços sobre o
experimento, caso o pombo passasse 50 ou 75 s sem bicar o disco a
comida era apresentada. contraste comportamental. Se o contraste
69
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
70
Capítulo IV | Contraste Comportamental
nolds (1961a) afirmou que a taxa de reforços naquele contexto em relação a todos os ou-
é a variável mais relevante para a ocorrên- tros.
cia do contraste. Para Reynolds, é a altera-
ção na frequência relativa de reforços (i.e., a A partir da pesquisa de Reynolds
frequência de reforços na presença de um (1961a) muitas outras investigações foram
estímulo em relação à frequência de refor- realizadas a fim de verificar o efeito da taxa
ços na presença de ambos os estímulos) que de reforços sobre a ocorrência e a magni-
causa as alterações na taxa de respostas tude do contraste, principalmente com o
que descrevemos como contraste. objetivo de responder se a taxa de refor-
ços seria a única variável responsável pela
ocorrência do contraste, se seria a variável
DESDOBRAMENTOS principal, e que outras variáveis e explica-
ções seriam possíveis.
O experimento de Reynolds (1961a)
sugere que as consequências que são pro- Experimentos manipulando diver-
gramadas em um contexto afetam não só sos tipos de esquemas em um dos com-
o que fazemos naquele contexto, mas tam- ponentes, para produzir diferentes taxas
bém o que fazemos em outros contextos. de respostas sem alterar as taxas de re-
Portanto, o que um organismo faz em uma forços entre os componentes foram reali-
situação depende não só das consequências zados, corroborando a ideia de que a taxa
disponíveis naquela situação, mas também de reforços é realmente mais relevante do
das consequências disponíveis em situa- que a taxa de respostas na determinação
ções diferentes (ver também Herrnstein, do contraste (e.g. Bloomfield, 1967; Nevin,
1961, 1970). 1968; Reynolds, 1961d; Zuriff, 1970). Dado,
então, que a taxa relativa de reforços é
Assim, para que seja possível com- uma variável relevante para a ocorrência
preender o que um indivíduo faz em um do contraste, também foram estabelecidas
determinado contexto muitas vezes será relações entre contraste e a Lei da Iguala-
preciso observar também o que ele faz em ção (e.g. McLean & White, 1983; Williams
outras situações e que tipos de consequ- & Wixted, 1986). A Lei da Igualação prediz
ências ele tem disponível de uma maneira que em situações de escolha (i.e. esquemas
geral e não apenas em uma determinada concorrentes, nos quais os dois componen-
ocasião. É preciso, então, adotar uma pers- tes são apresentados simultaneamente e
pectiva relativa e entender que a função de o organismo deve escolher responder em
um estímulo pode ser não só a de sinalizar ou outro componente) a taxa de respostas
as consequências disponíveis naquele con- se igualará à taxa de reforços disponíveis.
texto, mas as consequências disponíveis Assim, situações de escolha caracteriza-
71
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
riam o caso mais evidente de interação, já traste, desde então diversas investigações
que a maneira como eu me comporto em tem sido conduzidas a fim de se chegar a
relação a uma das opções necessariamente um entendimento mais claro e a uma des-
afetará o meu comportamento em relação à crição mais acurada desse fenômeno (ver
outra opção, dado que ambas as respostas Freeman, 1971; e Williams, 1983).
não podem ser emitidas ao mesmo tempo.
Assim como a distribuição de respostas em
esquemas concorrentes é função da distri- CONSIDERAÇÕES FINAIS
buição dos reforços entre os componentes,
essa interação também parece ocorrer mes- A conclusão de que é alteração da
mo quando as opções são apresentadas de taxa de reforços que produz a ocorrência do
maneira sucessiva, e não simultânea, como contraste, entretanto, deve ser considerada
é o caso dos procedimentos para o estudo com cautela. Reynolds e Limpo (1968), por
do contraste (i.e., esquemas múltiplos). Em exemplo, conduziram um experimento uti-
ambos os casos, então, temos evidencia de lizando um esquema de reforçamento dife-
como a distribuição de reforços pode afetar rencial de taxas baixas (DRL) e observaram
a distribuição das respostas. que a taxa de respostas do componente
constante aumenta, apesar da taxa relativa
Outra variável que parece afetar a de reforços diminuir em relação à linha de
ocorrência do contraste é a duração dos base.
componentes, e muitos estudos foram con-
duzidos a fim de se investigar essa relação. Embora alterações na taxa relativa de
De maneira geral, observa-se que a magni- reforços pareçam estar diretamente relacio-
tude do contraste é maior quanto menor for nadas à ocorrência do contraste, sendo re-
a duração do componente (e.g. Charman & plicada em diversos trabalhos (e.g. Catania,
Davison, 1982; Hinson, Malone, McNally & 1961; Reynolds, 1963; Wilton & Gay, 1969),
Rowe, 1978; Shimp & Wheatley, 1971; Todo- essa pode não ser a única variável de con-
rov, 1972). trole (e.g. Davison & Ferguson, 1978; Wilkie
1977; Williams, 1980). O mais importante a
O estudo de Reynolds (1961a) foi ser considerado na literatura sobre contras-
um primeiro passo para uma compreensão te e sobre o trabalho de Reynolds (1961a),
mais precisa sobre a ocorrência do con- especificamente, é o papel que outros con-
traste, pois foi o primeiro a isolar os efeitos textos (passados e futuros) exercem sobre o
de taxa de respostas e de reforços. Embo- que acontece no momento atual.
ra seus resultados tenham indicado a taxa
relativa de reforços como a principal vari- Trabalhos publicados nos anos 1960
ável responsável pela ocorrência do con- e 1970 foram decisivos para determinar o
72
Capítulo IV | Contraste Comportamental
73
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
sem erros pode eliminar o contraste com- in two multiple schedules. Journal of the
portamental. Experimental Analysis of Behavior, 10, 151-
158.
Henke, Allen, & Davison (1972). Investi-
garam a função da amídala cerebelosa na Catania, A. C. (1961). Behavioral contrast
ocorrência de contraste, demonstrando di- in a multiple and concurrent schedule of
ferenças entre ratos com a região lesionada reinforcement. Journal of the Experimental
e ratos sem lesões na região. Analysis of Behavior, 4, 335-342.
Koegel, Egel, & Williams (1980). Examina- Catania, C.A. (1999). Aprendizagem: com-
ram a ocorrência de contraste em interven- portamento, linguagem e cognição. (Trad.
ções comportamentais com crianças com Deisy das Graça de Souza). Porto Alegre:
diagnóstico de autismo. Artmed.
Killeen (2014). Propôs uma nova teoria ex- Catania, A. C., & Gill, C. A. (1964). Inhibi-
plicativa para a ocorrência do contraste. tion and behavioral contrast. Psychonomic
Science, 1, 257-258.
Boyle (2015). Realizou uma investigação
translacional sobre contraste comporta- Charman, L., & Davison, M. (1982). On the
mental, avaliando a influência da ordem effects of component durations and compo-
dos contextos e de efeitos intrassessão em nent reinforcement rates in multiple sche-
adultos com deficiência intelectual. dules. Journal of the Experimental Analysis
of Behavior, 37, 417–439.
74
Capítulo IV | Contraste Comportamental
Herrick R. M., Myers J. L., & Korotkin A. L. Madden, G. J. (2013). APA handbook of
(1959). Changes in Sd and Sdelta rates du- behavior analysis. Washington, DC: Ameri-
ring the development of an operant discri- can Psychological Association.
mination. Journal of Comparative and Phy-
siological Psychology, 52, 359–363. McLean, A. P., & White, K. G. (1983). Tem-
poral constraint on choice: Sensitivity and
Herrnstein, R. J. (1961). Relative and absolu- bias in multiple schedules. Journal of the
te strength of response as a function of fre- Experimental Analysis of Behavior, 39, 405-
quency of reinforcement. Journal of the Ex- 426.
perimental Analysis of Behavior, 4, 267-272.
McSweeney, F. K., & Murphy, E. S. (Eds.).
Herrnstein, R. J. (1970). On the law of ef- (2014). The Wiley-Blackwell handbook of
fect. Journal of the Experimental Analysis of operant and classical conditioning. Oxford:
Behavior, 13, 243–266. John Wiley & Sons.
Herrnstein, R. J., & Brady, J. V. (1958). Inte- Moreira, M. B., & Medeiros, C. A. (2007).
ractions among components of a multiple Princípios Básicos de Análise do Comporta-
schedule. Journal of Experimental Analysis mento. Porto Alegre: Artmed.
of Behavior, 1, 293-301.
Nevin, J. A. (1968). Differential reinforce-
Hinson, J. M., Malone, J. C., McNally, K. A., ment and stimulus control of not respon-
75
João Cláudio Todorov, Rafaela M. Fontes Azevedo
ding. Journal of the Experimental Analysis Schneider, S. C. (2012). The science of conse-
of Behavior, 11, 715-726. quences. New York: Prometheus Books.
Nevin, J. A., & Shettleworth, S. J. (1966). An Shimp, C. P., & Wheatley, K. L. (1971). Ma-
analysis of contrast effects in multiple sche- tching to relative reinforcement frequency
dules. Journal of the Experimental Analysis in multiple schedules with a short compo-
of Behavior, 9, 305-315. nent duration. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 15, 205-210.
Reynolds, G. S. (1961a). Behavioral contrast.
Journal of the Experimental Analysis Beha- Skinner, B. F. (1938). The behavior of orga-
vior, 4, 57-71. nisms: An experimental analysis. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Reynolds, G. S. (1961b). An analysis of inte-
ractions in a multiple schedule. Journal of Skinner, B. F. (1978). O comportamento ver-
the Experimental Analysis of Behavior, 4, bal. São Paulo: Cultrix (Obra original publi-
107-117. cada em 1957).
Reynolds, G. S. (1961d). Relativity of res- Smith, M. H., & Hoy, W. J. (1954). Rate of
ponse rate and reinforcement frequency in response during operant discrimination.
a multiple schedule. Journal of the Experi- Journal of Experimental Psychology, 48,
mental Analysis of Behavior, 4, 179-184. 259–264.
76
Capítulo IV | Contraste Comportamental
Thorndike, E. L. (1927). The law of effect. Wilton, R. N., & Gay, R. A. (1969). Behavio-
The American Journal of Psychology, 39, ral contrast in one component of a multiple
212-222. schedule as a function of the reinforcement
conditions operating in the following com-
Todorov, J. C. (1972). Component duration ponent. Journal of the Experimental Analy-
and relative response rates in multiple sche- sis of Behavior, 12, 239-246.
dules. Journal of the Experimental Analysis
of Behavior, 17, 45-49. Zuriff, G. E. (1970). A comparison of varia-
ble-ratio and variable-interval schedules of
Todorov, J. C. (2002). A evolução do conceito reinforcement. Journal of the Experimental
de operante. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Analysis of Behavior, 13, 369-374.
18, 123-127.
77
Cristiano Coelho
Da frequência absoluta
à frequência relativa
como unidade de análise
do comportamento
Cristiano Coelho
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
“Você não veio aqui para fazer a escolha. Você já a fez. Você está aqui para tentar
entender porque fez essa escolha”
O Oráculo (The Matrix Reloaded, Irmãos Wachowski)
78
Capítulo V | Escolha
79
Cristiano Coelho
80
Capítulo V | Escolha
lha como comportamento não estar parti- calizados em uma das paredes da caixa. Os
cularmente traçada naquele trabalho, esta- discos podiam ser iluminados com as cores
va aberta a porta para o desenvolvimento vermelho (A - disco da esquerda) e branco
de um modelo quantitativo do estudo do (B - disco da direita) e ficavam a uma mes-
comportamento de escolha a partir da no- ma distância do comedouro, que ficava
ção de igualação. Um dos grandes diferen- centralizado na mesma parede dos discos.
ciais de Herrnstein (1961) foi investigar essas
relações de maneira sistemática, fornecen- O experimento iniciou-se com um
do sustentação empírica para a análise dos treino preliminar em duas sessões que ter-
efeitos da frequência relativa de reforços minavam após 60 reforços, no qual eram
sobre a distribuição de respostas. reforçadas respostas no disco diferente
daquele para o qual havia sido disponibi-
lizado o último reforço, de acordo com um
DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO esquema concorrente de reforço contínuo
(CONC CRF - CRF). Este treino visou ga-
Objetivo e Método rantir uma distribuição de respostas simi-
O objetivo do trabalho de Herrns- lar e a alternância entre os dois discos, de
tein (1961) foi estudar de forma paramétrica forma a garantir um mesmo contato com as
e descrever quantitativamente o efeito da alternativas concorrentes em vigor. Poste-
frequência relativa de reforços em esque- riormente, Herrnstein (1961) programou re-
mas concorrentes sobre as taxas de respos- forços para duas respostas disponibilizados
tas em cada componente do esquema e as independentemente de acordo com esque-
taxas relativas entre os dois esquemas. Em mas de reforço de intervalo variável (CONC
um estudo paramétrico, a variável indepen- VI - VI), nos quais a liberação de reforços
dente (e.g., frequência relativa de reforços) em um esquema não interferia na liberação
é manipulada em diferentes valores permi- de reforços da outra alternativa. O uso de
tindo que sejam obtidas diversas medidas esquemas de intervalo variável, nos quais
da variável dependente (e.g., frequência re- o reforço é disponibilizado para a primeira
lativa de respostas), possibilitando o acesso resposta após a passagem de um tempo que
a uma maior amplitude da relação funcio- varia em torno de uma média, justificou-se
nal, ou seja, como a variável dependente por ser um esquema que, ao ser modifica-
se modifica com diversos valores da variá- do, leva a consistentes alterações na taxa de
vel independente. Para tanto, três pombos respostas. Os dois esquemas vigoravam ao
foram mantidos a 80% de seus pesos com mesmo tempo, sem interferência entre si,
acesso livre a alimento. O experimento foi e os intervalos programados para cada um
realizado em uma caixa de condicionamen- deles vigoravam mesmo quando o pombo
to operante com dois discos de respostas lo- respondia no outro esquema, porém um
81
Cristiano Coelho
82
Capítulo V | Escolha
83
Cristiano Coelho
variações são compatíveis com o princípio sem alterações sistemáticas entre diferen-
de igualação? O aumento linear nas taxas tes condições.
de respostas com o aumento da frequência
absoluta de reforços foi descrito a partir da
relação p = ke, sendo p a frequência de bi- DESDOBRAMENTOS
cadas (respostas), e a frequência de comer
(reforços) e k uma constante, compatível A importância do experimento de
com a noção de fortalecimento da respos- Herrnstein (1961) foi exatamente estabele-
ta proposta por Skinner (1938, p.130, citado cer um procedimento no qual era possível
por Herrnstein, 1961, p. 270) de que há uma se relacionar medidas quantitativas de fre-
constância entre a quantidade de reforços quências absolutas e relativas de respos-
obtidos e respostas emitidas em extinção. tas a dois discos à frequência relativa de
Apesar de Skinner posteriormente aban- reforços. A relação de igualdade entre as
donar a noção de constância entre essas frequências relativas de reforços e as fre-
medidas, a equação continuou como uma quências relativas de respostas expressa
proposta de fortalecimento de respostas na Equação 1 foi então o primeiro grande
baseada em um crescimento linear até atin- passo para a chamada “Lei da Igualação”
gir o máximo de respostas possíveis. Para (Herrnstein, 1970), que expressa, em linhas
Herrnstein (1961), essa relação seria a única gerais, que a distribuição de respostas entre
compatível com a igualação. E por que isso alternativas tende a igualar a distribuição
é tão importante para apreciarmos os resul- de reforços obtidos nas respectivas alter-
tados de Herrnstein? Porque ao ser aplicado nativas. Além disso, dela deriva a ideia de
a esquemas concorrentes, envolve um pres- que quando essa distribuição de reforços é
suposto fundamental: de que há um limite alterada em alguma direção, a distribuição
máximo de emissão de respostas e, assim, o de respostas tenderá a se alterar na mesma
aumento na taxa de uma resposta (confor- medida. Assim, se duas fontes de reforços
me o aumento na taxa de reforço) é neces- fornecem a mesma frequência de reforços,
sariamente acompanhado pela redução nas as respostas tenderão a se distribuir em tor-
demais respostas. Ao revermos a descri- no de 50% para cada alternativa; se uma
ção dos dados de taxas de respostas acima, das fontes passa a fornecer uma frequência
quando os dois esquemas eram iguais (VI quatro vezes maior que a outra, de forma
3 min – VI 3 min) as taxas de respostas se que 80% dos reforços passam a ser obtidos
assemelharam e, para cada um dos demais nessa fonte, a Lei da Igualação prevê que
esquemas com VIs diferentes, os pombos o organismo passará a emitir em torno de
responderam no VI com maior frequência quatro vezes mais respostas nessa alterna-
de reforço e a soma das respostas nos dois tiva, conforme previsto na igualação perfei-
esquemas permaneceram constantes, ou ta (ou estrita) de Herrnstein (Equação 1).
84
Capítulo V | Escolha
Os trabalhos que se iniciaram com mento linear das taxas de respostas deveria
o experimento de Herrnstein (1961) passa- ser obtido com o aumento das taxas abso-
ram a fornecer dados sistemáticos que fo- lutas de reforços também em situações que
ram gradativamente demonstrando que um investigavam respostas em esquemas sim-
comportamento é influenciado não apenas ples. Ao se deparar com dados que contra-
por suas consequências, mas também pelos riaram essa suposição (e.g. Catania & Rey-
reforços disponíveis no ambiente para res- nolds, 1968) e mostravam que o aumento da
postas alternativas e culminaram na con- taxa de respostas com o aumento da taxa
cepção de que escolha é comportamento de reforços caracterizava-se por unidades
e todo comportamento envolve escolha² cada vez menores (quanto mais reforços por
(Herrnstein, 1970). minuto eram providos, menor o aumen-
to na taxa de respostas), Herrnstein (1970)
Dois pressupostos quantitativos bá- ponderou que mesmo em um esquema sim-
sicos propostos por Herrnstein (1970), em ples outras fontes de reforço (mesmo não
decorrência dos dados que passaram a ser controladas pelo experimentador) estariam
sistematizados em Herrnstein (1961), re- em vigor, concorrendo com o esquema pro-
lacionavam as respostas e os reforços dis- gramado pelo experimentador. Em termos
poníveis para diferentes respostas em uma matemáticos, essa relação pode ser aplica-
dada situação (Baum, 2010; Davison, 2012; da a uma única resposta R1 reforçada com
De Villiers & Herrnstein, 1976). Primeira- uma frequência absoluta r1, em que devem
mente, considerando-se o conjunto de res- ser considerados os reforços para outros
postas nesta dada situação, há um máximo comportamentos incompatíveis (ro), rela-
de respostas incompatíveis possíveis de se- ção essa expressa na Equação 2, que ficou
rem emitidas (k) que se mantém constante conhecida como a hipérbole de Herrnstein,
nessa situação. O outro pressupõe que esse por dar conta dos efeitos cada vez menores
total de respostas é alocado entre diferen- do aumento da taxa absoluta de reforços
tes fontes reforçadoras conforme suas res- sobre a taxa absoluta de respostas:
pectivas proporções de reforços. Contudo,
Herrnstein (1961) considerava que o au- (2).
2
A sugestão inicial de Herrnstein levou a questionamentos acerca de
sua amplitude, por ser inicialmente entendida como relacionada a As previsões derivadas desse mode-
comportamentos operantes e respondentes e por se questionar a sua
aplicabilidade em situações nas quais a escolha é “praticamente” nula, lo são que: a taxa de R1 pode variar de zero
como, por exemplo, uma pessoa sendo ameaçada com uma arma para
abrir seu cofre. Com relação ao primeiro, os relatos encontrados res-
até se aproximar do máximo k, conforme a
tringem-se a comportamento operante. Quanto ao segundo, a situação
envolveria uma altíssima magnitude de reforço (negativo, no caso) para
relação entre seus reforços (r1) e os outros
a resposta de ceder à ameaça, em contraposição a uma ínfima mag- reforços (ro) para as respostas concorrentes;
nitude para rebater as ameaças, de forma que a resposta (muito) mais
provável estaria sob controle das magnitudes relativas de ambas as quanto maior a frequência de reforços para
respostas. Dessa forma, a menção a respostas no presente texto será
referente a operantes. R1 em relação aos reforços disponíveis para
85
Cristiano Coelho
outras respostas, maior a frequência de R1; à do-se 50, 100, 140, 170 até atingir o máximo.
medida que o ambiente passa a prover mais
reforços para outras respostas, a frequência Esse efeito das taxas de reforços so-
de R1 diminui; o aumento da frequência ab- bre a taxa de respostas, porém, não apenas
soluta de R1 é cada vez menor à medida que é totalmente compatível com a igualação,
se aumenta a frequência absoluta de refor- mas acaba sendo fundamental para que
ços. ela ocorra, pois acaba mostrando que as
alterações nas condições estão alterando a
Para exemplificar a relação acima, frequência de reforços programados pelo
vamos supor uma situação hipotética na experimentador relativamente aos outros
qual o total de reforços para outros compor- reforços providos pelo ambiente (Ro), que
tamentos é constante ao longo de diferentes permaneceram constantes ao longo das di-
condições. Em uma condição o experimen- ferentes condições no nosso exemplo. Se
tador programa um esquema que fornece hipoteticamente os outros reforços tiverem
10 reforços por hora e, hipoteticamente, o uma taxa de 10 por hora na primeira condi-
organismo emite 50 respostas por minuto. ção, igual ao programado pelo experimen-
Ao alterarmos a condição e aumentar em tador, o organismo alocará metade do tem-
10 os reforços por hora (fornecendo então po respondendo ao esquema programado e
20 reforços por hora), possivelmente as res- metade do tempo realizando as outras ati-
postas aumentarão para 100 por minuto (50 vidades.
respostas a mais). Se aumentarmos mais 10
reforços por hora em uma nova condição Vamos considerar agora duas situa-
(que passa a fornecer 30 reforços por hora), ções com esquemas concorrentes. Em uma
as respostas apresentarão um aumento temos dois esquemas de intervalo variável
menor, digamos 40 respostas por minuto de 30 segundos, e na outra, dois esquemas
a mais, e o organismo passará a emitir 140 de intervalo variável de 1 minuto, cada um
respostas por minuto. Caso uma nova con- associado a um disco de respostas. Nas duas
dição programe mais 10 reforços por hora, situações, a taxa total de reforços é diferente,
o aumento no número de respostas será considerando os dois esquemas: a primeira
de 30, por exemplo, e assim por diante, até com 120 reforços por hora e a segunda com
que atinja o máximo de respostas, e então o 60 reforços por hora. Assim, o total de res-
aumento na taxa absoluta de reforços não postas emitidas nos dois discos na primeira
produzirá aumentos nas taxas de respostas. situação seria maior que na segunda, visto
Como podemos ver, a cada condição o au- que teria uma maior taxa absoluta de refor-
mento na taxa de reforço foi constante (de ços. Porém, como em ambas as situações
10 em 10), mas o aumento na taxa de respos- os esquemas componentes dos respectivos
tas foi cada vez menor (50, 40, 30...), obten- pares concorrentes são iguais, com metade
86
Capítulo V | Escolha
dos reforços a serem obtidos em cada fon- de respostas R1 aumenta, mas a emissão de
te, a igualação prevê que o organismo dis- outras respostas alternativas diminui, de-
tribuiria igualmente suas respostas às duas vido a um máximo de respostas possíveis
fontes, pois o que importa para a igualação de serem emitidas. O artigo de Herrnstein
são os valores relativos dos reforços e não (1961) foi um marco no estudo do comporta-
os absolutos. Mas você pode perguntar: e os mento de escolha ao prover dados sistemá-
outros reforços não alterariam essa relação? ticos e quantificação de duas alternativas
Não! De acordo com a hipérbole de Herr- de respostas, realizando manipulações pa-
nstein, além dos esquemas programados ramétricas da taxa relativa de reforços em
pelo experimentador, o organismo também esquemas concorrentes de intervalo variá-
gastaria tempo emitindo respostas que são vel (CONC VI - VI) e mostrando que as alte-
controladas pelos outros reforços disponí- rações nessa taxa relativa de reforços eram
veis nessa situação. Contudo, como os ou- acompanhadas de alterações similares na
tros reforços estão constantes nessa condi- taxa relativa de resposta, desenvolvendo o
ção, eles interfeririam da mesma maneira princípio de igualação. Em termos quanti-
(ou igualmente) nas respostas aos dois es- tativos, se aplicarmos a Equação 2 a duas
quemas e, assim, seus efeitos se anulariam respostas concorrentes, R1 e R2, obtemos a
matematicamente. Equação 1³ proposta por Herrnstein (1961).
87
Cristiano Coelho
Logue, 1988; Logue & Chavarro, 1987; Todo- mos ao início deste tópico, para Herrnstein
rov, 1973), arranjos experimentais, como a (1961), a igualação implica que uma variação
função do COD e efeito da frequência abso- na frequência relativa de reforços deve ser
luta de reforços (e.g. Shull & Pliskoff, 1967; acompanhada da mesma variação na fre-
Todorov, Coelho & Beckert, 1993), efeitos da quência relativa de respostas: se em uma
história (e.g. Todorov, Oliveira-Castro, Han- fonte é obtida três vezes mais reforços que
na, Bittencourt de Sá & Barreto, 1983), ape- a alternativa, para igualar o organismo emi-
nas para mencionar alguns poucos exem- tiria três vezes mais respostas, por exemplo.
plos. Pesquisas mostraram também que a Além disso, ao se dobrar a frequência relati-
relação de igualação se aplicava para medi- va de reforços para essa mesma alternativa,
das de alocação de tempo (e.g. Baum, 1975; a frequência relativa de respostas também
Baum & Rachlin, 1969). A aplicabilidade da dobraria. Porém, Baum (1979) realizou uma
proposta de Herrnstein para o estudo e in- revisão de 23 estudos e observou dados nos
tervenção sobre o comportamento humano quais quando a distribuição de reforços era
também foi testada (e.g. Bradshaw & Szaba- alterada em uma certa medida produzia
di, 1978; Logue, 1988; Neef, Mace, Shea & variações menores e, em outras, variações
Shade, 1992; Pierce & Epling, 1983). maiores na distribuição de respostas, as
quais Baum denominou de “subigualação”
Baum (1974, 1979) observou os dados e “sobreigualação”, respectivamente.
de alguns estudos indicavam dois desvios
sistemáticos da igualação encontrados em- Diversos trabalhos (e.g. Baum, 1974,
piricamente. Um desvio foi chamado de 1979; Rachlin & Baum, 1969) estenderam a
viés, uma persistência a apresentar uma proposta de Herrnstein (1961, 1970). Ao bus-
preferência por uma alternativa derivada car sistematizar os dados sobre igualação
de aspectos não relacionados à distribui- envolvendo os diferentes parâmetros do re-
ção de reforços. Essa preferência por uma forço, Baum (1974) desenvolveu a Lei Gene-
alternativa pode ser derivada de diferenças ralizada da Igualação. Porém, derivou uma
na força necessária para acionar o lócus equação baseada na relação entre razões de
de respostas, diferenças qualitativas nas respostas (respostas emitidas em uma alter-
respostas em cada esquema (bicar x acio- nativa dividida pelas respostas emitidas na
nar um pedal), diferenças na iluminação outra alternativa) e razões de reforços (re-
dos discos, dentre outros. O outro desvio, forços obtidos em uma alternativa dividido
chamado de sensibilidade, ocorre quando pelos reforços obtidos na outra alternativa).
a distribuição de respostas não se modifi- O uso de medidas de razão descrevia me-
ca de maneira estrita conforme a alteração lhor as distribuições de reforços e respostas
nas relações entre os reforços obtidos nos por terem uma amplitude maior que pro-
esquemas concorrentes. Conforme pontua- porção ou porcentagem, que tem seu limite
88
Capítulo V | Escolha
89
Cristiano Coelho
90
Capítulo V | Escolha
91
Cristiano Coelho
maior quando havia uma resposta de obser- sis of Behavior, 94, 161-174.
vação.
Baum, W. M., & Rachlin, H. (1969). Choice as
Todorov, Coelho, & Beckert (1993). Reali- time allocation. Journal of the Experimental
zaram um conjunto de experimentos com Analysis of Behavior, 12, 861-874.
pombos, nos quais variaram a frequência
relativa e frequência absoluta de reforços. Borges, F. S., Todorov, J. C., & Simonassi, L.
Os dados reforçam que o pressuposto de E. (2006). Comportamento humano em es-
que a igualação depende somente da fre- quemas concorrentes: escolha como uma
quência relativa de reforços e da função do questão de procedimento. Revista Brasilei-
COD na separação das respostas aos esque- ra de Terapia Comportamental e Cogniti-
mas. va,8, 13-24.
92
Capítulo V | Escolha
Elliott, A. J., Morgan, K., Fuqua, R. W., Herrnstein, R. J. (1970). On the law of ef-
Ehrhardt, K., & Poling, A. (2005). Self- and fect. Journal of the Experimental Analysis of
cross-citations in the Journal of Applied Behavior, 13, 243-266.
Behavior Analysis and the Journal of the
Experimental Analysis of Behavior: 1993– Herrnstein, R. J., (1997). The matching law:
2003. Journal of Applied Behavior Analysis, Papers in psychology and economics. Cam-
38, 559-563. bridge: Harvard University Press.
Ferster, C. & Skinner (1957). Schedules of Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (2001). Psicotera-
reinforcement. New York: Appleton Cen- pia Analítica Funcional. São Paulo: ESETEC.
tury-Crofts.
Logue, A. W., & Chavarro, A. (1987). Effect
Findley, J. D. (1958). Preference and swit- on choice of absolute and relative values of
ching under concurrent scheduling. Journal reinforcer delay, amount, and frequency.
of the Experimental Analysis of Behavior, 1, Journal of Experimental Psychology: Ani-
123-144. mal Behavior Processes, 13, 280.
Herrnstein, R. J. (1958). Some factors in- Madden, G. J., & Perone, M. (1999). Human
fluencing behavior in a two-response si- sensitivity to concurrent schedules of rein-
tuation. Transactions of the New York Aca- forcement: Effects of observing schedule-
demy of Sciences, 21, 35-45. -correlated stimuli. Journal of the Experi-
mental Analysis of Behavior, 71, 303-318.
Herrnstein, R. J. (1961). Relative and Abso-
lute strength of Response as a Function of Mazur, J. E. (1987). An adjusting procedu-
Frequency of Reinforcement. Journal of the re for studying delayed reinforcement. In
Experimental Analysis of Behavior, 4, 267- M. L. Commons, J. E. Mazur, & J. A. Nevin
272. (Eds.), Quantitative Analysis of Behavior:
Vol 5. The effect of delay and intervening
Herrnstein, R. J. (1964). Secondary reinfor- events on reinforcement value. Hillsdale, NJ:
cement and rate of primary reinforcement. Lawrence Erlbaum. (pp. 55-73).
Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 7, 27-36. Mazur, J. E. (1995). Conditioned reinforce-
ment and choice with delayed and uncer-
93
Cristiano Coelho
tain primary reinforcers. Journal of the Ex- ment, Choice and self-control. Journal of
perimental Analysis of behavior, 63, 139-150. the Experimental Analysis of Behavior, 17,
15-22.
Michael, J. (1982). Distinguishing between
discriminative and motivational functions Rachlin, H., Raineri, A., & Cross, D. (1991).
of stimuli. Journal of the Experimental Subjective probability and delay. Journal of
Analysis of Behavior, 37, 149-155. the Experimental Analysis of Behavior, 55,
233-244.
Neef, N. A., Mace, F. C., Shea, M. C., & Sha-
de, D. (1992). Effects of reinforcer rate and Shull, R. L., & Pliskoff, S. S. (1967). Changeo-
reinforcer quality on time allocation: Ex- ver delay and concurrent schedules: Some
tensions of matching theory to educatio- effects on relative performance measures.
nal settings. Journal of Applied Behavior Journal of the Experimental Analysis of
Analysis, 25, 691-699. Behavior, 10, 517-527.
Oscar-Berman, M., Heyman, G. M., Bon- Skinner, B. F. (1950). Are theories of lear-
ner, R. T., & Ryder, J. (1980). Human neu- ning necessary? Psychological Review, 57,
ropsychology: Some differences between 193-216.
Korsakoff and normal operant performan-
ce. Psychological Research, 41, 235-247. Todorov, J. C. (1973). Interaction of frequen-
cy and magnitude of reinforcement on con-
Pierce, W. D., & Epling, W. F. (1983). Choice, current performances. Journal of the Expe-
matching, and human behavior: A review of rimental Analysis of Behavior, 19, 451-458.
the literature. The Behavior Analyst, 6, 57.
Todorov, J. C., Oliveira-Castro, J. M., Hanna,
Rachlin, H. (1989). Judgment, decision, and E. S., Bittencourt de Sá, M. C. N., & Barre-
choice: A cognitive/behavioral synthesis. to, M. D. Q. (1983). Choice, experience, and
New York: WH Freeman/Times Books/ the generalized matching law. Journal of the
Henry Holt & Co. Experimental Analysis of Behavior, 40, 99-
111.
Rachlin, H., & Baum, W. M. (1969). Respon-
se rate as a function of amount of reinfor- Todorov, J. C., Coelho, C., & Beckert, M. E.
cement for a signalled concurrent respon- (1993). Efeito da frequência absoluta de re-
se. Journal of the Experimental Analysis of forços em situação de escolha: um teste do
Behavior, 12, 11-16. pressuposto da relatividade na lei generali-
zada de igualação. Psicologia: Teoria e Pes-
Rachlin, H., & Green, L. (1972). Commit- quisa, 9, 227-42.
94
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
Prestaram atenção
em tudo?
Elenice S. Hanna
Universidade de Brasília
“Da mesma forma que podemos atentar para um objeto sem olhar para ele, assim
também podemos olhar para um objeto sem prestar-lhe atenção”
Skinner (1953/2003, p. 138)
95
Capítulo VI | Atenção
96
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
mental para o ensino de diversos processos for amarelo (S–). Responder “vermelho” faz
comportamentais complexos. A aprendiza- parte de duas contingências: uma na qual
gem de conceitos, por exemplo, é base para a resposta produz reforçamento e outra em
o desenvolvimento do pensamento e da que produz extinção, gerando a discrimi-
linguagem humana. Quando aprendemos o nação entre os objetos de cores diferentes
conceito de “vermelho” ou de um “núme- (i.e., vermelho e amarelo). Discriminar esses
ro”, interagimos com eventos que são com- objetos é responder diferencialmente na
postos por outras propriedades. Um objeto presença de cada um, isto é, dizendo “ver-
vermelho ou unitário possui forma, peso, melho” diante do S+ (objeto vermelho), mas
tamanho, apenas para citar algumas das não diante do S– (objeto amarelo).
possíveis propriedades. Mas como ocorre
o processo que permite que determinado A discriminação está presente em
comportamento fique sob controle da cor muitos exemplos do que chamamos de “co-
ou o número, por exemplo, dentre tantos nhecimento” e de “atenção”. Quando se diz
aspectos dos objetos que contêm cor e nu- que alguém reconheceu o brinquedo ver-
merosidade? Perguntando em uma lingua- melho ou prestou atenção no vestido ver-
gem mais coloquial, como prestamos aten- melho, supõe-se que ele(a) diferencie (dis-
ção apenas à cor ou ao número dos objetos? crimine) as cores. No entanto, afirmações
como essas são meras inferências (Sidman,
O experimento que é tema deste ca- 1979), como as evidências apresentadas por
pítulo foi publicado por George Reynolds Reynolds (1961) permitem discutir. Pas-
em 1961 com o título de “Atenção no pom- semos, então, para o estudo clássico que
bo” e inspirou uma série estudos relevan- apresentou estas evidências e em seguida
tes para a compreensão da atenção e do veremos como este tema tem relação com
controle do comportamento por estímu- outros assuntos interessantes.
los compostos. Em estudos sobre controle
do comportamento operante por estímu-
los antecedentes, o ensino é realizado por DESCRIÇÃO DOS EXPERIMEN-
meio de procedimentos chamados de treino TOS
discriminativo. A base de um treino discri-
minativo é o reforçamento diferencial da Os experimentos de Reynolds (1961)
resposta emitida na presença de estímulos foram inspirados, dentre outros experi-
diferentes (Dinsmoor, 1995). Na presença mentos, pela pesquisa realizada por Lashley
de um objeto vermelho (S+), a resposta de (1938), na qual respostas de ratos de saltar
dizer “vermelho” (R) é seguida por alguma em direção a um cartão contendo a figura
reação de aprovação do professor (SR+), de um triângulo foram reforçadas com co-
mas não terá esta consequência se o objeto mida e as respostas de saltar em direção a
97
Capítulo VI | Atenção
Figura 1. Diagrama do treino discriminativo e dos estímulos decompostos utilizados no teste em extinção de Reynolds (1961; painel da esquerda) e
resultados do Experimento 1 (painel da direita). O gráfico do painel da direita é uma adaptação da Figura 1 de Reynolds (p. 204).
98
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
99
Capítulo VI | Atenção
100
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
extinção das respostas com as duas lâmpa- demonstraram controle discriminativo por
das laterais acesas simultaneamente. parte da configuração de estímulos e avan-
Os resultados desse segundo expe- çaram o conhecimento sobre o tema.
rimento replicaram os resultados do pri-
meiro: controle por aspectos específicos da O primeiro experimento, conduzido
configuração de estímulos. Nas palavras de por Wilkie e Masson (1976), foi uma repli-
Reynolds (1961, p. 208): cação sistemática do experimento de Rey-
nolds (1961) com controles mais refinados e
No segundo experimento, nenhum também utilizando pombos como sujeitos
dos pombos atentou para a cor da lâmpa- experimentais. A primeira parte do estudo
da lateral. O responder deles foi controlado foi idêntica ao Experimento 1 de Reynolds
apenas pela presença ou ausência da lâm- (i.e., treino com estímulos compostos e tes-
pada lateral amarela, ou, de acordo com te com os elementos dos estímulos com-
análise posterior, pela intensidade da ilu- postos). Na fase de teste, os seis pombos
minação da lâmpada lateral. responderam quase que exclusivamente
na presença da cor previamente correla-
cionada com o reforço (i.e., teriam atenta-
DESDOBRAMENTOS do para cor e não para a forma). Embora as
bicadas dos pombos de Wilkie e Masson
Centenas, talvez milhares, de pes- não tenham ficado sob controle de aspec-
quisas foram e continuam sendo realizadas tos diferentes do estímulo composto, como
com o intuito de sabermos cada vez mais no estudo de Reynolds, a evidência de con-
sobre os fatores que determinam quais os trole por apenas uma das propriedades do
aspectos do ambiente que controlarão o estímulo composto (cor) é um resultado se-
comportamento de diferentes organismos melhante ao (i.e., uma replicação do) estudo
e em quais situações (e.g., Barros, Galvão, original.
Brino, Goulart, & McIlvane, 2005; Carter &
Werner, 1978; de Rose, de Souza & Hanna, A replicação (Wilkie & Mason, 1976)
1996; Debert, Huziwara, Faggiani, de Mathis confirmou que os animais não humanos
& McIlvane, 2009; Dube & McIlvane, 1999; não atentam para todas as propriedades
Johnson & Cumming, 1968; Lovaas, Koegel de um estímulo composto, mas os autores
& Schreibman, 1979). Em outras palavras, ainda foram além para avaliar se o teste em
ainda hoje estudamos o que pode levar al- extinção era um contexto adequado para
gumas pessoas a prestarem atenção a certos identificar o controle de estímulos aprendi-
aspectos de seu ambiente e outras pessoas a do durante os treinos. Wilkie e Masson, em
prestarem atenção a outros aspectos. A se- uma segunda etapa do estudo, realizaram
guir, apresentamos dois experimentos que um novo treino discriminativo para avaliar
101
Capítulo VI | Atenção
102
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
Durante o teste para avaliar o con- tória em Johnson & Cumming, 1968, e Ray,
trole de estímulos, Touchette (1969) consi- 1969). A história experimental construída
derou as linhas como estímulos compos- durante o pré-treino com estímulos em po-
tos e separou cada linha em duas partes, sições diferentes (superior ou inferior), foi
apresentando ora a parte inferior ora a uma variável importante para compreender
parte superior (Figura 2, Teste). Note que o controle de estímulos observado no teste.
esta separação não alterava a inclinação Em geral, o responder foi apropriado (i.e.,
da linha, que era a propriedade que o ex- consistente com o treino) apenas quando
perimentador esperava que controlasse o as partes das linhas apresentadas no teste
comportamento dos participantes. No en- correspondiam à posição dos estímulos do
tanto, o controle parcial foi observado mais Pré-treino. Em outras palavras, o início do
uma vez para a maioria dos participantes, treino que exigiu atenção para a (ou contro-
que responderam consistentemente apenas le pela) parte de cima ou debaixo da chave
para uma das partes (superior ou inferior) determinou para qual parte da linha incli-
da linha com a inclinação correlacionada nada o participante atentou nas etapas sub-
com reforçamento (Figura 2, painel da di- sequentes do procedimento.
reita), replicando os achados de Reynolds
(1961) e Wilkie e Masson (1976). Além de Um tema de pesquisa em Análise
mostrar a generalidade do fenômeno do do Comportamento bastante relacionado
controle parcial com humanos e para estí- com os achados de Reynolds (1961) é a su-
mulos mais simples (como linhas), Touchet- perseletividade (overselectivity). Diz-se que
te mostrou a importância de aprendizagens houve superseletividade de estímulos ou
anteriores para compreender o controle de controle de estímulos restrito quando se ob-
estímulos (veja também esse efeito de his- serva que um dado comportamento fica sob
Figura 2. Estímulos utilizados em cada etapa do estudo de Touchette (1969; painel da esquerda) e porcentagens de acertos obtidas no teste para cada
participante (painel da direita). Figura construída com base na descrição do estudo.
103
Capítulo VI | Atenção
104
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
105
Capítulo VI | Atenção
106
Elenice S. Hanna, Márcio Borges Moreira
Barros, R. S., Galvão, O. F., Brino, A. L. F., Duarte, A. M. M., & Baer, D. M. (1997). Over-
Goulart, P. R. K., & McIlvane, W. J. (2005). selectivity in the naming of suddenly and
Variáveis de procedimento na pesquisa so- gradually constructed faces. In D. M. Baer
bre classes de equivalência: contribuições & E. M. Pinkston (Eds.), Environment and
para o estudo do comportamento simbóli- behavior (pp. 210-218). Oxford: Westview
co. Revista Brasileira de Análise do Com- Press.
portamento, 1, 15-27.
Dube, W. V., & McIlvane, W. J. (1999) Re-
Carter, D. E., & Werner, T. J. (1978). Com- duction of stimulus overselectivity with
plex learning and information processing nonverbal differential observing responses.
by pigeons: A critical analysis. Journal of Journal of Applied Behavior Analysis, 32,
the Experimental Analysis of Behavior, 29, 25-33.
565-601.
Gomes, C. G. S., & Souza, D. G. (2008). De-
Catania, A. C. (1998/1999). Aprendizagem: sempenho de pessoas com autismo em ta-
comportamento, linguagem e cognição. Por- refas de emparelhamento com o modelo
to Alegre: Artmed. por identidade: efeitos da organização dos
estímulos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 21,
da Hora, C. L., & Benvenuti, M. F. L. (2007). 418-429.
Controle restrito em uma tarefa de mat-
ching-to-sample com palavras e sílabas: Hanna, E., Karino, C., Araújo, V., & Souza,
avaliação do desempenho de uma criança D. (2010). Leitura recombinativa de pseu-
diagnosticada com autismo. Revista Brasi- dopalavras impressas em pseudoalfabeto:
107
Capítulo VI | Atenção
Johnston, J. M., & Pennypacker, H. S. (2009). Sidman (1960). Normal sources of patholo-
Strategies and Tactics of Behavioral Resear- gical behavior. Science, 132, 61-68.
ch. New York: Routledge.
Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e com-
Lashley, K. S. (1938). The mechanism of vi- portamento humano (J. C. Todorov & R.
sion: XV. Preliminary studies of the rat’s ca- Azzi, Trads.). São Paulo: Martins Fontes.
pacity for detail vision. Journal of General
Psychology, 18, 123-193. Terrace, H. S. (1963). Errorless transfer of a
discrimination across two continua. Jour-
Lovaas, O. I., Schreibman, L., Koegel, R. L., -nal of the Experimental Analysis of Beha-
& Rehm, R. (1971) Selective responding by vior, 6, 223–232.
autistic children to multiple sensory input.
Journal of Abnormal Psychology, 77, 211- Touchette, P. E. (1969). Tilted lines as com-
222. plex stimuli. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 12, 211-214.
Lovaas, O. I., Koegel, R. L., & Schreibman,
L. (1979). Stimulus overselectivity in autism: Verneque, L., & Hanna, E. S. (2012). Tempo
a review of research. Psychological Bulletin, de exposição a estímulos multidimensio-
86, 1236-1254. nais e topografias de controle de estímulo.
Revista Brasileira de Análise do Comporta-
Lovaas, O. I., & Schreibman, L. (1971). Sti- mento, 8, 12-25.
mulus overselectivity of autistic children in
a two stimulus situation. Behavioral Rese- Wilkie, D. M., & Masson, M. E. (1976). Atten-
arch & Therapy, 9, 305-310. tion in the pigeon: a reevaluation. Journal of
the Experimental Analysis of Behavior, 26,
Ray, B. A. (1969). Selective attention: The 207-212.
effects of combining stimuli which control
incompatible behavior. Journal of the Expe-
108
Peter Endemann, Candido Pessôa
A resposta de observação: o
papel das respostas sensoriais
para o estabelecimento da
discriminação
Peter Endemann
Universidade de São Paulo
Candido V. B. B. Pessôa
Paradigma Centro de Ciências do Comportamento
“A seleção natural atuou sobre o sistema sensorial por meio das consequências im-
postas aos comportamentos guiados por esse sistemas”
Nilsson (2009)
109
Capítulo VII | Resposta de Observação
110
Peter Endemann, Candido Pessôa
111
Capítulo VII | Resposta de Observação
112
Peter Endemann, Candido Pessôa
113
Capítulo VII | Resposta de Observação
114
Peter Endemann, Candido Pessôa
como sujeitos experimentais. Na caixa ex- minar, não havia contingências para pisar
perimental, um pedal foi posto no piso e no pedal e tampouco uma correlação entre
os estímulos correlacionados com o refor- as luzes verde e vermelha e o acesso ao co-
ço (S+ ou S-) só eram apresentados caso o medouro. Os pombos do Grupo Controle
pombo o pressionasse. Assim, os pombos foram expostos a estas condições durante
só entravam em contato com os estímulos todo o experimento.
ao pressionar o pedal. Os estímulos ficavam
expostos durante todo o tempo em que o Na Fase Experimental (treino discri-
sujeito estivesse pisando o pedal, o que, por minativo), aplicadas apenas aos pombos no
sua vez, definiu a medida a ser registrada Grupo Experimental, houve cinco sessões
e analisada por Wyckoff: a duração da res- de 75 min e uma de 15 min. Durante as ses-
posta de observação. sões desta fase, respostas de bicar o disco fo-
ram mantidas sob um esquema FI 30 s. Esse
No experimento, foram utilizados 20 esquema se alternava com um esquema de
pombos mantidos sob um regime de priva- extinção a cada 30 s. Durante a extinção,
ção de comida. Os pombos foram distribuí- bicadas no disco não produziam acesso ao
dos em dois grupos, (Controle e Experimen- comedouro. Durante a fase experimental, a
tal). Além do pedal, a caixa experimental luz vermelha era correlacionada ao FI 30 s
continha um disco que podia ser iluminado (i.e., aos reforços) a luz verde era correlacio-
de branco, vermelho ou verde e um come- nada à extinção. Entretanto, as luzes ver-
douro retrátil (para apresentação de comi- de ou vermelha eram produzidas somente
da). enquanto o pombo pisasse no pedal, isto é,
quando emitisse a RO. Se o pombo emitisse
Em uma fase preliminar, que durou a RO e o esquema em vigor fosse a extin-
45 min, houve a adaptação dos pombos ção, o disco era iluminado de verde. Quan-
de ambos os grupos às condições experi- do o pombo pisasse no pedal e estivesse em
mentais. Durante os primeiros 15 min des- vigor o esquema FI 30 s, a luz vermelha se
sa fase, o disco foi iluminado de branco e acendia no disco. Caso o sujeito não emitis-
a primeira bicada no disco produzia acesso se a RO, o disco permanecia iluminado de
a um comedouro por 4 s em um esquema branco tanto quando o esquema em vigor
de intervalo fixo (FI) 30 s. Durante os 30 era o FI30 s quanto quando o esquema em
min restantes dessa fase, o disco foi ilumi- vigor era extinção e as respostas de bicar o
nado de verde ou de vermelho em períodos disco produziam o reforço a depender de
sucessivos de 30 s. As respostas de bicar o qual esquema estava em vigor. Em resumo,
disco davam acesso ao comedouro da mes- pisar o pedal, emitindo a RO, transformava
ma forma que nos primeiros 15 min dessa um esquema misto FI 30 s extinção em um
fase (i.e., sob um FI 30 s). Nesta fase preli- esquema múltiplo FI 30 s extinção3.
115
Capítulo VII | Resposta de Observação
116
Peter Endemann, Candido Pessôa
diminui ou permanece baixa em situações sem que os pombos emitissem uma única
de reforço não-diferencial, nas quais os es- vez a RO. Esse aspecto levou a alguns des-
tímulos produzidos pela RO não são corre- dobramentos importantes na investigação
lacionados ao reforço. sobre o estabelecimento da discriminação,
sobre os efeitos comportamentais de refor-
Os resultados obtidos autorizaram ços condicionados e sobre atenção. Esses
Wyckoff (1969) a discutir o papel da RO no desdobramentos são discutidos a seguir.
estabelecimento da discriminação tendo
como base os princípios operantes descri-
tos por Skinner (1938/1991). Segundo Wy- DESDOBRAMENTOS
ckoff (1952, 1969), a RO é uma resposta ope-
rante cuja consequência é a produção dos No procedimento de Wyckoff (1969),
estímulos discriminativos. Definir a respos- chamado de delineamento (ou procedimen-
ta de observação por sua função e não por to) de resposta de observação, o fortaleci-
sua topografia permitiu a Wyckoff delinear mento da RO não ocorreu em função direta
um experimento que facilmente registrou da produção do estímulo reforçador primá-
as respostas de observação. Foi esta genia- rio (i.e., acesso a comida). Como visto, no
lidade que tornou seu estudo um clássico estudo de Wyckoff, o valor de reforçador
na Análise do Comportamento e permitiu condicionado das luzes verde e vermelha
ampliar o uso do conceito de discriminação foi adquirido em função de suas correla-
para situações em que os estímulos discri- ções com os esquemas de reforço (i.e., FI 30
minativos não estão claramente dispostos s) e extinção que, por sua vez, controlaram
sobre o aparato sensorial dos indivíduos. o aumento na duração da RO. Por meio des-
se delineamento, vários autores têm inves-
Um aspecto importante da RO vale tigado essa (correlação) e outras condições
ser ressaltado. A emissão da RO tem como (e.g. temporais) necessárias para o estabele-
única consequência a produção dos estí- cimento do valor reforçador condicionado
mulos discriminativos e, portanto, não al- de determinados estímulos.
tera a obtenção dos reforços programados
para uma determinada resposta. A obten- Como esperado, posições e hipóteses
ção dos reforços pode ocorrer sem a emis- opostas sobre o reforço condicionado foram
são da RO (i.e., na presença da luz branca). propostas. Um amplo debate se mantém até
Em uma discriminação sucessiva (i.e., em os dias atuais. As duas principais hipóteses
que os estímulos correlacionados com re- são conhecidas como a hipótese da redu-
forço e com extinção se alternam), como ção da incerteza e a hipótese da redução
delineada por Wyckoff (1969), todos os re- do atraso. Autores que propõem a hipótese
forços programados podiam ser produzidos da redução da incerteza (e.g. Berlyne, 1957)
117
Capítulo VII | Resposta de Observação
defendem que a condição necessária para o 1985; Dinsmoor, Mueller, Martin, & Bowe,
estabelecimento e controle da RO é a redu- 1982).
ção na incerteza gerada pelas respostas aos
estímulos não-correlacionados (estímulos Com o desenvolvimento de novas
irrelevantes, tais como a luz branca do es- tecnologias, especialmente a de rastrea-
quema misto no estudo de Wyckoff, 1969). mento dos movimentos oculares, o conceito
Os autores que propõem a hipótese da re- de resposta de observação tem sido subme-
dução do atraso (e.g. Fantino, 1977; Fantino tido à novos refinamentos e discussões (e.g.
& Logan, 1979), defendem que a condição Endemann, 2008, 2013; Pessôa, 2010; To-
necessária para o estabelecimento do valor manari, Balsamo, Fowler, Farren, & Dube,
reforçador condicionado de um estímulo é 2007; Tomanari & Pergher, 2003). O registro
a redução temporal relativa sinalizada pelo de parâmetros dos movimentos sacádicos4
estímulo correlacionado com o reforço pri- (pico de velocidade, amplitude, curvatura) e
mário. da fixação (frequência, duração) tem permi-
tido a análise de novas medidas da RO. De
Dinsmoor (1983) discute algumas posse dessas novas medidas, o papel da RO
questões referentes à RO e apresenta, além tem sido analisado em diferentes situações
de novas possibilidades de investigação básicas e aplicadas envolvendo discrimina-
sobre reforçamento condicionado, um refi- ções simples e condicionais, formação de
namento do estudo de Wyckoff (1969) e do classes de estímulos equivalentes (e.g. Dube
conceito de resposta de observação. Como et al., 1999; Serna & Carlin, 2001), treina-
descrito anteriormente, Wyckoff registrou mento de habilidades como leitura e reso-
e analisou a duração da RO em função da lução de problemas (e.g. Endemann, Pessôa,
correlação dos estímulos com o reforço. Perez & Tomanari, 2010).
Dinsmoor, Browne, Lawrence, e Wasser-
man (1971) registraram e analisaram sepa-
radamente a duração da RO nos diferentes CONSIDERAÇÕES FINAIS
componentes (i.e., na presença dos dife-
rentes estímulos) em um treino de reforça- Com o objetivo de trazer a discrimi-
mento diferencial. Os autores notaram que nação para o campo da análise do compor-
a duração da RO é maior na presença do S+ tamento operante, Skinner (1938/1991) de-
do que na presença do S-. Essa assimetria
na duração da RO entre S+ e S- foi definida 4
Movimentos sacádicos são os movimentos oculares rápidos, antece-
pelos autores como observação seletiva e didos e precedidos pela fixação e acomodação dos estímulos no centro
da retina (e.g. Krauzlis, 2008; Madelain, Paeye & Darcheville, 2011; Sal-
gerou novas pesquisas sobre o reforço con- thouse & Ellis, 1980). Segundo Krauzlis (2008), um aspecto importante
dos movimentos sacádicos é que “são seletivamente guiados por ob-
dicionado e sobre o papel da RO no estabe- jetos de interesse do observador, apesar do fato de haver usualmente
no ambiente vários outros objetos distratores” (Krauzlis, 2008, p. 789,
lecimento da discriminação (e.g. Dinsmoor itálico acrescentado).
118
Peter Endemann, Candido Pessôa
Dinsmoor (1985). Análise teórica sobre o Pessôa & Tomanari (2015). Diferenciam o
papel da resposta de observação no estabe- procedimento de resposta de observação
lecimento da discriminação, em que o autor elaborado por Wyckoff (1969) da importân-
critica as posições de Skinner e Spence. O cia da resposta de observação por ele de-
autor apresenta uma série de estudos sobre finida funcionalmente, dando destaque às
controle de estímulos, destacando o papel possibilidades de pesquisas aplicadas para
da observação seletiva (desenvolvido desde a facilitação da aquisição de respostas de
o estudo de Dinsmoor et al., 1971). observação.
119
Capítulo VII | Resposta de Observação
120
Peter Endemann, Candido Pessôa
Krechevsky, I. (1938). A study of the conti- Pearce, J. M., Esber, G. R., George, D. N., &
nuity of the problem-solving process. Psy- Haselgrove, M. (2008). The nature of discri-
chological Review, 45, 107-133. mination learning in pigeons. Learning &
Behavior, 36, 188-199.
Lashley, K. S. (1929). Brain mechanisms and
intelligence. Chicago: University of Chicago Pessôa, C. V. B. B. (2010). Efeito de diferentes
Press. treinos de discriminação sobre as fixações
dos olhos de humanos. (Tese de doutorado).
Lashley, K. S. (1938). The mechanism of vi- Universidade de São Paulo, São Paulo.
sion: XV. Preliminary studies of the rat’s ca-
pacity for detail vision. Journal of General Pessôa, C. V. B. B., & Sério, T. M. A. P. (2006).
Psychology, 18, 123-193. Análise do comportamento de observação.
Revista Brasileira de Análise do Comporta-
Lashley, K. S. (1942). An examination of the mento, 2, 143-153.
continuity theory as applied to discrimina-
tion learning. Journal of Genetic Psychology, Pessôa, C. V. B. B., & Tomanari, G. Y. (2015).
26, 241-265. Procedimento de resposta de observação e
comportamento de observação. Perspecti-
Lawrence, D. H. (1949). Acquired distincti- vas em Análise do Comportamento, 6, 89-
veness of cues: I. Transfer between discri- 98.
minations on the basis of familiarity with
the stimulus. Journal of Experimental Psy- Salthouse, T. A., & Ellis, C. L. (1980). Deter-
chology, 39, 770-784. minants of eye-fixation duration. American
Journal of Psychology, 93, 207-234.
Mackintosh, N. J. (1965). Selective attention
121
Capítulo VII | Resposta de Observação
Serna, R. W., & Carlin, M. T. (2001). Guiding human subjects. European Journal of Beha-
visual attention in individuals with mental vior Analysis, 8, 29-40.
retardation. In L. M. Glidden (Ed.), Interna-
tional review of research in mental retarda- Tomanari, G. Y., & Pergher, N. K. (2003).
tion, 24 (pp. 321-357). San Diego, CA: Aca- Observing behavior and eye movements in
demic Press. a Wyckoff observing response procedure.
Paper presented at the Annual Meeting of
Skinner, B. F. (1938). The behavior of orga- the Association for Behavior Analysis, São
nisms: an experimental analysis. New York: Francisco.
Appleton-Century-Crofts.
Trobalon, J.B., Miguelez, D., McLaren, I. P
Spence, K. W. (1936). The nature of discri- .L., & Mackintosh, N. J. (2003). Intradimen-
mination learning in animals. Psychological sional and extradimensional shifts in spa-
Review, 43, 437-449. tial learning. Journal of Experimental Psy-
chology: Animal Behavior Processes, 29,
Spence, K. W. (1940). Continuous versus 143-152.
non-continuous interpretations of discri-
mination learning. Psychological Review, 47, Wagner, A. R., Logan, F. A., Haberlandt, K.,
271-288. & Price, T. (1968). Stimulus selection in ani-
mal discrimination learning. Journal of Ex-
Spence, K. W. (1942). The basis of solution perimental Psychology, 76, 171-180.
by chimpanzees of the intermediate size
problem. Journal of Experimental Psycholo- Wyckoff, L. B. (1952). The role of observing
gy, 31, 257-271. responses in discrimination learning: Part I.
Psychological Review, 59, 431-442.
Spence, K. W. (1945). An experimental test
of the continuity and noncontinuity theo- Wyckoff, L. B. (1969). The role of observing
ries of discrimination learning. Journal of responses in discrimination learning. In D.
Experimental Psychology, 35, 253-266. P Hendry (Ed.), Conditioned reinforcement
(pp. 237-260). Homewood, IL: The Dorsey
Tomanari, G. Y. (2009). Resposta de obser- Press.
vação: Uma reavaliação. Acta Comporta-
mentalia, 17, 259-277. Zeaman, D. & Denegre, J. (1967). Variability
of irrelevant discriminative stimuli. Journal
Tomanari, G. Y., Balsamo, L. M., Fowler, of Experimental Psychology, 73, 574-580.
T. R., Farren, K. M., & Dube, W. V. (2007).
Manual and ocular observing behavior in
122
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
Candido V. B. B. Pessôa
Paradigma Centro de Ciências do Comportamento
“Life is what happens to you while you’re busy making other plans”
John Lennon
123
Capítulo VIII | Atenção
124
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
125
Capítulo VIII | Atenção
Esses conceitos dão a aparência de ex- observação como aquelas que produzem
plicar os dados em virtude da sintaxe os estímulos discriminativos para outras
das frases. Diz-se que o participante respostas. Manter-se observando o visor
faz uma detecção porque ele está, na- por longos períodos de tempo ou identifi-
quele momento, vigilante e atento ou car prontamente quais os vários estímu-
esperando um sinal. Mas, os conceitos los presentes durante a execução da tarefa
não são menos misteriosos do que os são exemplos de respostas de observação,
fenômenos que se propõem a explicar. uma vez que um evento detectado seria o
Resta a tarefa de descobrir os eventos estímulo discriminativo para relatar esse
que influenciam a vigilância, a aten- evento e as respostas de observação seriam
ção ou a expectativa. (p. 62). mantidas pela produção destes estímulos
discriminativos. Holland foi a primeira pes-
Ainda de acordo com Holland (1958), soa a manipular experimentalmente a fre-
as diferenças nas quantidades de detecções quência e a distribuição temporal das res-
realizadas no início ou final da sessão, assim postas de observação. O seu experimento,
como a correlação positiva entre quantida- adiante relatado, tornou-se assim um dos
de absoluta e percentual de eventos críticos mais clássicos sobre processos atencionais
detectados, como ocorrido, por exemplo, realizado sob a orientação teórica da Análi-
em Deese e Ormond (1953), são formas de se do Comportamento.
descrever padrões comportamentais dos
participantes e, como tal, não necessita-
riam de constructos mentais como atenção, DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO
vigilância ou expectativa para serem expli-
cados. Objetivo e Método
Holland (1958) teve dois objetivos. O
Diante desse contexto, o desafio es- primeiro foi verificar se a detecção de sinais
tava assim posto: Como estudar o fenôme- seria um reforçador para respostas de ob-
no da detecção de eventos críticos e expli- servação. O segundo foi medir as respostas
car resultados muito regulares sem recorrer de observação em situações similares às
a constructos mentais (e.g., expectativa)? usadas por Mackworth (1948), para pos-
Holland (1958) acreditava que a precisão sibilitar uma reinterpretação dos eventos
em detectar eventos críticos poderia estar ocorridos na situação analisada em termos
relacionada à emissão de um conjunto de comportamentais, sem o uso de construc-
respostas que aumentaria a possibilidade tos como expectativa ou atenção.
de sucesso em tal tarefa, sendo estas de-
nominadas de respostas de observação. No experimento de Holland (1958),
Wyckoff (1952; 1969) definiu respostas de a tarefa experimental consistia em par-
126
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
127
Capítulo VIII | Atenção
128
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
já constante, enquanto em FI ela tende a ser rificar como seriam as respostas de obser-
positivamente acelerada). Holland (1958) vação em uma situação similar à usada por
primeiramente expos, por seis sessões de Mackworth (1948), Holland (1958) usou es-
40 min, sete participantes a um FR 36, ou quemas de reforço baseando-se nas apre-
seja, a oportunidade de detecção ocorreu sentações de eventos críticos usados por
somente após a emissão da 36ª respos- Mackworth. Nas situações testadas por
ta de observação. Então, o valor do FR foi Mackworth, os intervalos entre os eventos
aumentado, também em blocos de seis ses- críticos (duplos movimentos no ponteiro do
sões, para 60, 84, 108, 150 e, finalmente, 200 relógio) eram ¾, ¾, 1½, 2, 2, 1, 5, 1, 2, 2, 3 e
respostas por detecção. 10 min em ciclos que ocorriam a cada meia
hora. Na análise do comportamento, um es-
Por fim, sob o DRL, uma resposta é quema de reforço que ocorre em intervalos
reforçada somente quando emitida após variáveis é denominado esquema de inter-
um intervalo de tempo especificado sem ela valo variável (VI). Sob esse esquema uma
ocorrer. Ao considerar que o esquema refor- resposta é reforçada quando emitida após
ça diferencialmente o espaçamento tempo- intervalos que variam ao redor de uma mé-
ral entre as respostas, o padrão de respostas dia de tempo estabelecido. O VI produz ti-
emitidas pelos participantes irá se adequar picamente uma taxa moderada e constante
ao valor temporal estipulado, mais precisa- de respostas nos intervalos entre reforços.
mente, quanto maior for o tempo exigido No caso dos intervalos usados por Ma-
para a não ocorrência de respostas, me- ckworth, em média, a cada 1 minuto haveria
nor será a taxa de respostas. Dessa forma, um evento crítico para ser detectado. Ou-
o padrão tipicamente obtido sob o DRL é o tro aspecto do procedimento do estudo de
de baixas taxas de respostas, com espaça- Mackworth era a de que o evento crítico fi-
mento temporal entre elas e com ocasionais cava disponível para ser detectado por ape-
emissões de “jorros” de várias respostas nas um breve período de tempo. Em análise
com baixíssimo intervalo. Dois participan- do comportamento, quando o reforço está
tes foram expostos a um DRL 30 s, ou seja, disponível para ser consumido por apenas
uma resposta de observação iria provocar um determinado período de tempo, cha-
o movimento do ponteiro e a consequente ma-se esse período de contenção limitada
oportunidade de detecção se, e somente se, (limited hold). Quando se usa a contenção
fosse precedida por um período mínimo de limitada comumente observa-se o aumen-
30s sem que essa mesma resposta de ob- to da taxa de respostas em relação à uma
servação tivesse sido emitida. As sessões condição sem contenção limitada. Holland
tinham duração de 4h. usou uma contenção limitada de 1¼ s. Isto
é, neste caso em que foi usada a contenção
Para atingir o segundo objetivo, ve- limitada após o movimento do ponteiro, se
129
Capítulo VIII | Atenção
130
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
que detectaram todos os reforços ao longo Fraser, 1950; Mackworth, 1948, 1950). Ao
da sessão partiram de uma taxa inicial de analisar o conjunto dos resultados obtidos
emissão das respostas de observação mais por Holland, foi possível comprovar a hi-
alta do que os participantes que diminuí- pótese do autor de que é possível explicar
ram as detecções ao longo da sessão Pro- os padrões de ocorrência de tais respostas
vavelmente, esse “ponto de partida” com a partir dos princípios do condicionamento
que cada participante iniciou a emissão de operante, especialmente do esquema de re-
respostas (alta ou baixa taxa de respostas) forço em vigor.
seja devido à história pregressa de reforço
de respostas de observação de cada um. Os mesmos princípios sobre o condi-
Os participantes que partiram de uma taxa cionamento operante foram utilizados por
mais baixa de emissão de respostas de ob- Holland (1958) para reinterpretar alguns dos
servação detectaram menos movimentos achados mais recorrentemente descritos
no ponteiro. Essa menor detecção é, em em experimentos sobre atenção e vigilân-
outras palavras, uma menor taxa de refor- cia até a data de publicação de seu artigo.
ços. Uma menor taxa de reforços gera uma O primeiro desses achados refere-se à di-
menor taxa de respostas (Ferster & Skinner, minuição na quantidade de detecções fei-
1957). Assim, os participantes que já inicia- tas pelos participantes ao longo da sessão,
ram o experimento com uma baixa taxa que seria explicado pelo declínio dos níveis
inicial de emissão de respostas de observa- de atenção em função da fadiga (Deese &
ção entraram num círculo vicioso de menor Ormond, 1953; Mackworth, 1948, 1950). De
emissão de respostas gerando menor taxa acordo com Holland, a explicação para tal
de reforço e menor taxa de reforço gerando fato estaria relacionada à taxa de reforço.
menor emissão de respostas. Ao longo da sessão, a taxa de emissão de
respostas de observação se adéqua à quan-
Holland (1958), portanto, demons- tidade de reforços apresentados. Assim, se
trou que a detecção de um evento crítico a quantidade de apresentações do estímu-
(i.e., o movimento do ponteiro) pode con- lo reforçador for baixa ou o intervalo entre
trolar a frequência de emissão das respos- reforços for demasiado longo, haverá um
tas de observação (i.e., pressionar o botão declínio na taxa de respostas de observação
para o acendimento da lâmpada). Vale res- (e.g., Kelleher, Riddle, & Cook, 1962). Em
saltar que estudos anteriores explicavam a decorrência da menor taxa de respostas de
ocorrência de tais respostas de observação observação, menor também será a quanti-
como sendo o reflexo de estados mentais dade de eventos críticos detectados.
complexos como atenção, vigilância ou ex-
pectativa (e.g., Adams, 1956; Bakan, 1955;
Bartlett et al., 1955; Deese & Ormond, 1953;
131
Capítulo VIII | Atenção
132
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
padrões de movimento dos olhos em dire- pectos da segurança no trabalho (e.g., Aber-
ção aos mostradores foram sensíveis aos nathy & Lattal, 2014; Howell, Johnston, &
diferentes esquemas de reforço utilizados Goldstein, 1966).
(i.e., FR, FI e DRL).
133
Capítulo VIII | Atenção
134
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
Adams, J. A. (1956). Vigilance in the detec- Deese, J., & Ormond, E. (1953). Studies of de-
tion of low-intensity visual stimuli. Journal tectability during continuous visual search.
of Experimental Psychology, 52, 204-208. United States Air Force Wright Air Develop-
ment Center Technical Report, 53-88.
American Psychiatric Association – APA
(2002). Manual diagnóstico e estatístico de Doran, J., & Holland, J. G. (1971). Eye move-
transtornos mentais - DSM-IV-TR™. 4ª ed. ments as a function of response contingen-
rev. Porto Alegre: Artmed. cies measured by blackout technique. Jour-
nal of Applied Behavior Analysis, 4, 11-17.
Bakan, P. (1955). Discrimination decrement
as a function of time in a prolonged vigil. Dube, W. V., Balsamo, L. M., Fowler, T. R.,
Journal of Experimental Psychology, 50, Dickson, C. A., Lombard, K. M., & Tomana-
387-390. ri, G. Y. (2006). Observing behavior topogra-
phy in delayed matching to multiple sam-
Bartlett, S. C., Beinert, R. L., & Graham, J. ples. The Psychological Record, 56, 233-244.
R. (1955). Studies of visual fatigue and effi-
ciency in radar observation. United States Dube, W. V., Dickson, C. A., Balsamo, L. M.,
Air Force Wright Air Development Center Odonnell, K. L., Tomanari, G. Y., Farren, K.
Technical Report, 55-100. M., Wheeler, E. E., & Mcilvane, W. J. (2010).
Observing behavior and atypically restric-
Benvenuti, M. F., Barros, T., & Tomanari, G. ted stimulus control. Journal of the Experi-
Y. (2014). Atenção, observação e a produção mental Analysis of Behavior, 94, 297-313.
do comportamento simbólico e do respon-
der relacional. In J. C. de Rose, M. S. C. A. Faraone, S. V., Sergeant, J., Gillberg, C., &
Gil e D. G. de Souza (Orgs.), Comportamen- Biederman, J. (2003). The worldwide pre-
to simbólico: Bases conceituais e empíricas, valence of ADHD: Is it an American condi-
(pp. 57-93). São Paulo: Cultura Acadêmica. tion? World Psychiatry, 2, 104-113.
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: Com- Ferster, C. B., & Skinner, B. F. (1957). Schedu-
portamento, linguagem e cognição. Porto les of reinforcement. East Norwalk: Apple-
Alegre: Artmed. ton-Century-Crofts.
135
Capítulo VIII | Atenção
136
Edson Massayuki Huziwara, Candido V. B. B. Pessôa
Rico, V. V., Goulart, P. R. K., Hamasaki, E. Schroeder, S. R. (1970). Selective eye move-
I. M., & Tomanari, G. Y. (2012). Percepção e ments to simultaneously presented stimuli
atenção. In M. M. C. Hübner e M. B. Morei- during discrimination. Perception & Psy-
ra. (Orgs.). Fundamentos de psicologia: Te- chophysics, 7, 121-124.
mas clássicos de psicologia à luz da Análise
do Comportamento. 1ed, (pp. 155-210). Rio Schroeder, S. R. (1997). Selective eye fixa-
de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan. tions during transfer of discriminative sti-
mulus control. In D. M. Baer, & E. M. Pinks-
Rohde, L. A., Barbosa, G., Tramontina, S., & ton (Orgs.), Environment and Behavior, (pp.
Polanczyk, G. (2000). Transtorno de déficit 97–110). Boulder, CO: Westview.
de atenção/hiperatividade. Revista Brasi-
leira de Psiquiatria, 22, 7-11. Schroeder, S. R., & Holland, J. G. (1968).
Operant control of eye movements. Journal
Rohde, L. A., Miguel Filho, E. C., Benetti, L., of Applied Behavior Analysis, 1, 161-166.
Gallois, C., & Kieling, C. (2004). Transtor-
no de déficit de atenção/hiperatividade na Serna, R., & Carlin, M. T. (2001). Guiding
infância e na adolescência: Considerações visual attention in individuals with mental
clínicas e terapêuticas. Revista de Psiquia- retardation. International Review of Resear-
tria Clínica, 31, 124-131. ch in Mental Retardation, 24, 321-357.
Sagvolden, T., Aase, H., Johansen, E. B., & Skinner, B. F. (1956). A case history in scien-
137
Capítulo VIII | Atenção
138
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
O responder controlado
temporalmente:
desdobramentos da pesquisa
com a tarefa de bissecção
Church, R. M., & Deluty, M. (1977). Bisection of temporal intervals. Journal of Experimental Psy-
chology: Animal Behavior Processes, 3, 216-228.
“O que é, pois, o tempo? Se ninguém mo pergunta, sei o que é; mas se quero explicá-
-lo a quem mo pergunta, não sei.”
(Santo Agostinho, Confissões)
139
Capítulo IX | Bissecção Temporal
140
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
141
Capítulo IX | Bissecção Temporal
Figura 3. Painel da esquerda: Transformação linear da duração x. Painel central: Transformação logarítmica da duração x. Painel da direita: Transfor-
mação recíproca da duração x.
142
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
143
Capítulo IX | Bissecção Temporal
Tabela 1. Discriminações temporais aprendidas por cada grupo de ratos nas quatro primeiras fases do estudo de Church e Deluty (1977). Em cada célula,
a posição da duração de treino representa a resposta correta. Por exemplo, ‘1 s – 4 s’ significa que, para receber comida, os sujeitos deviam responder
‘esquerda’ após 1 s, e ‘direita’ após 4 s. Adaptado de Church e Deluty (1977).
144
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
cada uma das quatro discriminações. Todas os parâmetros da reta (inclinação e interse-
as funções psicométricas tinham valores ção-y), calculou-se o PIS. O painel central
mínimo e máximo próximos das duraçõs na Figura 4 apresenta os PISs obtidos em
de treino de cada discriminação e formato função da média geométrica das durações
ogival, evidenciando que os pombos eram treinadas em cada discriminação – para a
capazes de discriminar as diferentes dura- discriminação entre 1 e 4 s, MG = 2 s; para 2
ções. e 8 s, MG = 4 s; para 3 e 12 s, MG = 6 s; para
4 e 16 s, MG = 8 s. A figura também mostra
O painel central da Figura 4 apresen- quais seriam os PISs esperados no caso de
ta as mesmas funções psicométricas, mas, eles estarem nas médias4 harmônica e arit-
agora, o eixo do x está com as durações mética das durações de treino (ver as linhas
em unidades logarítmicas. No eixo do x, os tracejadas na figura). Os resultados mos-
valores 1 e 7 correspondem às durações de traram que os PISs praticamente se sobre-
treino curta e longa, respectivamente. Os puseram às médias geométricas, revelando
valores 3, 4 e 5 correspondem às médias que, do ponto de vista dos ratos, a duração
harmônica, geométrica e aritmética das du- que bissecta o intervalo entre as durações
rações de treino de cada discriminação, res- de treino é a média geométrica das mesmas.
pectivamente.
Também à partir das retas ajustadas
A partir das funções psicométricas, às funções psicométricas, os autores calcu-
os autores calcularam o PIS de cada dis- laram o limiar diferencial de cada discrimi-
criminação ajustando uma reta aos pontos nação. O limiar diferencial, também deno-
correspondentes às três durações centrais minado de diferença mínima perceptível
[pontos com coordenadas (3, y), (4, y) e (5, (just noticeable difference ou JND), indica
y)]. Eles escolheram estes pontos porque quanto um estímulo de comparação deve
se concentravam próximos ao ponto com diferir de um estímulo padrão em uma dada
coordenadas (x, 0.50), o PIS. Conhecidos dimensão física para ser percebido como
Figura 4. Painel da esquerda: Funções psicométricas médias obtidas por Church e Deluty (1977). Painel central: Funções psicométricas obtidas por
Church e Deluty (1977) graficadas em uma escala comum em unidades logarítmicas. Painel da direita: PISs médios em função da média geométrica das
durações treinadas em cada discriminação. A linha contínua (MG) indica a média geométrica das durações treinadas. As linhas tracejadas (MH e MA)
indicam as médias harmônica e aritmética, respectivamente.
145
Capítulo IX | Bissecção Temporal
diferente. Se o JND é pequeno, uma peque- o PIS estava muito próximo da média geo-
na diferença entre os estímulos é suficiente métrica das durações de treino, os autores
para discriminá-los, se é grande, os estímu- assumiram que t = MG em cada discrimi-
los devem diferir bastante para serem dis- nação.
criminados. Para obter o JND de cada rato,
os autores identificaram em cada reta as As Frações de Weber obtidas eram
durações correspondentes aos pontos com relativamente constantes (M = 0.23) e não
coordenadas (x1, 0.75) e (x2, 0.25) e depois diferiram estaticamente entre si. Estes re-
calcularam JND = (x1-x2)/2. sultados revelaram que, para qualquer or-
dem de grandeza dos estímulos temporais,
Esperamos naturalmente que o JND um estímulo deve diferir em cerca de 23%5
seja maior nas discriminações com as du- do estímulo padrão para ser discriminável.
rações mais longas. Por exemplo, esperarí- Em outras palavras, a discriminabilidade
amos que ele fosse maior na discriminação entre duas durações depende de sua dife-
entre 4 e 16 s do que na discriminação entre rença relativa e não da sua diferença ab-
1 e 4 s. É fácil percebermos que, por ser uma soluta. Church e Deluty (1977) verificaram
medida absoluta da discriminabilidade dos que, à semelhança de muitas outras dimen-
estímulos, o JND é afetado pela ordem de sões do estímulo, a discriminação da dura-
grandeza dos estímulos em questão. Con- ção também segue a Lei de Weber.
clusões gerais sobre a discriminabilidade
dos estímulos, portanto, deveriam basear- Se a Fração de Weber é constante, é
-se em uma medida relativa. de se esperar que os sujeitos respondam de
maneira semelhante para durações distin-
A Fração de Weber, obtida dividin- tas que representem a mesma proporção
do o JND pelo valor do estímulo padrão, t de tempo transcorrido (ou que estejam na
(FW=JND/t), é frequentemente usada como mesma razão). Para ilustrar, voltemos ao
um índice relativo da discriminabilidade. caso das discriminações 1 s vs. 4 s e 4 s vs.
Para calcular a Fração de Weber em cada 16 s. Na primeira, os sujeitos aprenderam a
discriminação, Church e Deluty (1977) assu- responder ‘longo’ após 4 s e a MG = 2 s. Na
miram que o PIS era o estímulo padrão, ou segunda, aprenderam a responder ‘longo’
seja, o critério em relação ao qual os sujeitos após 16 s e a MG = 8 s. Em ambos os casos,
categorizavam as durações como curtas ou a proporção entre a duração de treino mais
longas. Como em todas as discriminações longa (4 ou 16 s) e a correspondente média
4
A média harmômica é sempre inferior ou igual à média geométrica 5
Na literatura em tarefas temporais com animais não-humanos, há
que, por sua vez, é sempre inferior ou igual à média aritmética, ou seja, evidencia da Fração de Weber variando entre 0.20 e 0.30 (Richelle &
MH ≤ MG ≤ MA. A igualdade ocorre quando os números são todos Lejeune, 1980).
iguais.
146
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
geométrica é de 2. Assim, como a Fração de Para facilitar a descrição, dissemos até aqui
Weber é constante, a proporção de respostas que os sujeitos aprendem a responder ‘cur-
‘longo’ emitidas para cada uma dessas duas to’ para 1 segundo e ‘longo’ para 4 s, quando,
durações longas deveria ser igual: P(‘longo’) em verdade, eles aprendem, por exemplo, a
aos 4 s na discriminação 1 s vs. 4 s deveria pressionar a barra da esquerda após 1 s e a
ser igual a P(‘longo’) aos 16 s na discrimina- barra da direita após 4 s. Existe uma dife-
ção 4 s vs. 16 s. O mesmo aconteceria para rença fundamental entre afirmar que os su-
as outras durações usadas nos testes. jeitos respondem que uma duração é curta
e a outra é longa, e afirmar que respondem
Church e Deluty (1977) confimaram ‘esquerda’ e ‘direita’ em função das dura-
este resultado: As proporções de respostas ções. A primeira afirmação implica que os
‘longo’ eram iguais para durações que repre- sujeitos respondem com base no valor rela-
sentavam a mesma proporção em relação à tivo das durações – isto é, aprendem que 1 s
média geométrica e, portanto, as funções é curto relativamente a 4 s, que 4 s é longo
psicométricas das quatro discriminações relativamente a 1 s e, adicionalmente, quais
sobrepuseram-se (conferir o painel central respostas emitir para os estímulos curto e
na Figura 4). longo; a segunda afirmação implica que
os sujeitos respondem com base no valor
A sobreposição das funções psico- absoluto das durações – isto é, aprendem
métricas ilustra uma das propriedades mais quais respostas emitir após 1 e 4 s.
robustas da discriminação temporal em
animais, a propriedade escalar: Tarefas de O responder com base no valor rela-
bissecção com durações de treino na mes- tivo dos estímulos, ou o responder relacio-
ma proporção (1:4 em todas as tarefas em nal, influenciou fortemente o programa de
análise no estudo) induzem funções psi- trabalhos da escola da Gestalt em princípios
cométricas que se sobrepõem quando gra- do século XX e é um dos tópicos de pesqui-
ficadas na mesma escala. Church e Deluty sa mais antigos da psicologia experimen-
(1977) verificaram que a discriminação tem- tal. Há evidência de responder relacional
poral dos estímulos obedece à propriedade controlado pelo brilho (Kohler, 1918/1938),
escalar. pelo tamanho (Gulliksen, 1932) e pela forma
(Saldanha & Bitterman, 1951) dos estímulos,
embora interpretações alternativas sejam
DESDOBRAMENTOS possíveis (e.g., Spence, 1936, 1937). Mas será
que animais não-humanos respondem rela-
Responder relacional vs. respon- cionalmente em discriminações temporais?
der absoluto. Retomemos o nosso exemplo
com o treino discriminativo entre 1 e 4 s. O estudo de Church e Deluty (1977)
147
Capítulo IX | Bissecção Temporal
Figura 5. Painel da esquerda. Proporção de acertos para a duração de 4 s obtida nos grupos Relativo e Absoluto por Church e Deluty (1977). Painel
central. Porcentagem de acertos de um sujeito do grupo Relativo para as durações de 6 e 18 s na fase B do experimento de Carvalho et al. (2016). Painel
da direita. Porcentagem de acerto de um sujeito do grupo Absoluto para as durações de 6 e 18 s na fase B do experimento de Carvalho et al. (2016).
148
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
baseado no valor absoluto, o grupo Absoluto e Deluty) e (b) ambos os grupos tinham um
deveria aprender mais rapidamente do que desempenho similar e elevado no final do
o grupo Relativo. Os autores compararam a treino.
porcentagem de respostas corretas dos gru-
pos ao longo das sessões de treino da Fase Para melhor fundamentar a compa-
III, mas analisaram apenas o desempenho ração dos grupos, nós simulamos o desem-
para a duração de 4 s. Os resultados na Fi- penho na tarefa com o modelo Learning to
gura 5 (painel a) revelaram que o grupo Re- Time (LeT; Machado, 1997; Machado, Ma-
lativo respondia corretamente em mais de lheiro, & Erlhagen, 2009) e, posteriormente,
90% das tentativas ao fim de quinze sessões constratamos as simulações com os dados
de treino, mas o grupo Absoluto respondia empíricos. O LeT é um modelo comporta-
corretamente em menos de 70% das tenta- mental que descreve a aquisição e o estado
tivas. Além disso, já na primeira sessão de estável de respostas controladas temporal-
treino, o desempenho do grupo Relativo era mente com base em processos de reforça-
mais alto do que o do grupo Absoluto. Com mento, extinção e generalização.
base nestes resultados, os autores concluí-
ram que os sujeitos aprendem a responder De acordo com o LeT, o início do
ao valor relativo das durações em tarefas de estímulo modelo ativa uma série de esta-
discriminação temporal. dos comportamentais que estão ligados às
duas respostas operantes. A velocidade de
Em nosso laboratório, replicamos ativação dos estados (λ) varia de tentativa
com pombos o experimento de Church e para tentativa e provem de uma distribui-
Deluty (1977). Ensinamos aos animais as ção normal, λ ~ N (média = μ, desvio pa-
discriminações entre 2 s vs. 6 s e 6 s. vs. 18 drão =σ). Quando o sujeito emite uma res-
segundos e usamos um disco verde e outro posta ao fim do estímulo modelo, a força
vermelho como estímulos de comparação. do elo associativo entre a resposta emitida
Nossos resultados (painéis b e c na Figura e o estado ativo no momento da resposta é
5; Carvalho & Machado, 2012; Carvalho, alterada dependendo da consequência da
Machado, & Tonneau, 2016), contudo, não resposta: Se foi reforçada, a força aumenta;
corroboraram aqueles obtidos por Church e se foi extinta, a força diminui. A Figura 6
Deluty com ratos. Ao invés, eles mostraram esquematiza o modelo.
que (a) na primeira sessão de treino, o de-
sempenho do grupo Absoluto era mais alto Vejamos o caso da discriminação
do que o do grupo Relativo na duração de ‘2s→verde, 8s→vermelho’. Em uma ten-
6 s (a duração comum ao treino das duas tativa com um estímulo modelo de 2 s e λ
fases e que em nosso procedimento equi- = 1, o estado n = 2 está ativo no momento
valia à duração de 4 s no estudo de Church em que o sujeito emite uma resposta, ‘ver-
149
Capítulo IX | Bissecção Temporal
150
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
sugerem de maneira bastante robusta que o ram a tarefa de dupla bissecção temporal.
responder na tarefa de bissecção temporal Como o nome da tarefa sugere, os sujeitos
é baseado no valor absoluto das durações. são treinados em duas bissecções temporais.
Permanece por identificar sob quais condi- A primeira é semelhante à que acabamos de
ções os animais aprendem a responder com descrever entre 1 e 4 s. Na segunda, apren-
base na duração relativa dos estímulos tem- dem a responder ‘azul’ após 4 s e ‘amarelo’
porais. após 16 s. Para o SET, os sujeitos aprendem
‘4s→escolher azul’ e ‘16s→escolher ama-
relo’. Para o LeT, eles aprendem ‘4s→esco-
Efeitos contextuais na tarefa de bis- lher azul e evitar amarelo’ e ‘16s→escolher
secção. amarelo e evitar azul’. Aprendidas as duas
Para além dos estudos empíricos, discriminações, é conduzido um teste com
os pesquisadores do timing também têm durações que variam entre 1 e 16 s e no qual
conduzido pesquisas teóricas. Em particu- as opções de reposta são ‘verde’ e ‘azul’.
lar, eles têm proposto vários modelos ma-
temáticos para explicar o desempenho em Os modelos diferem nas previsões
tarefas temporais. Dois dos modelos mais que fazem do desempenho no teste. De
influentes são o LeT, já apresentado, e o acordo com o SET, os sujeitos deveriam
Scalar Expectancy Theory (SET; Gibbon, distribuir aleatoriamente suas respostas
1977, 1991; Gibbon & Church, 1984; Gibbon, entre ‘verde’ e ‘azul’ durante o teste, porque
Church, & Meck, 1984). no treino prévio eles apenas aprenderam
‘1s→escolher vermelho, 4s→escolher ver-
Os dois modelos diferem nos seus de, 4s→escolher azul, 16s→escolher ama-
pressupostos sobre o que é aprendido na relo’ e, portanto, não deveriam apresentar
tarefa de bissecção temporal. Para compre- vieses em favor de uma ou outra resposta
endermos estas diferenças, tomemos uma em função das diferentes durações. Como
tarefa em que os sujeitos devem responder consequência, a proporção de respostas
‘vermelho’ após 1 s e ‘verde’ após 4 s. De ‘verde’ não deveria variar com as durações
acordo com o SET, os sujeitos aprendem de teste.
apenas as contingências ‘1s→escolher ver-
melho’ e ‘4s→escolher verde’. O LeT, pelo De acordo com o LeT, os sujeitos
contrário, assume que os sujeitos apren- deveriam preferir ‘verde’ conforme as du-
dem ‘1s→escolher vermelho e evitar verde’ rações de teste aumentassem porque no
e ‘4s→escolher verde e evitar vermelho’. treino prévio os sujeitos aprenderam (a)
a evitar ‘azul após as durações mais lon-
Para testar os pressupostos dos mo- gas (próximas de 16 s) e (b) a evitar ‘verde’
delos, Machado e Keen (1999) desenvolve- após as durações mais curtas (próximas de
151
Capítulo IX | Bissecção Temporal
152
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
153
Capítulo IX | Bissecção Temporal
na média geométrica sugere uma escala tância do trabalho de Church e Deluty (1977)
logarítmica para o tempo subjetivo, com- são as linhas de pesquisa que abriu. Trinta
binada com uma regra de decisão baseada e nove anos após a sua publicação, as su-
na diferença entre tempos subjetivos. Con- gestões nele contidas permanecem atuais e
tudo, logo após o estudo de Church e Delu- alvo de forte disputa e investigação.
ty (1977), outros autores mostraram como o
PIS na média geométrica pode ser obtido a
partir de uma escala linear e de uma regra PARA SABER MAIS
de decisão baseada na razão entre os tem-
pos subjetivos (ver Gibbon, 1991). As ques- Carvalho & Machado (2012); Carvalho,
tões sobre a métrica da escala subjetiva do Machado, & Tonneau (2016). Em ambos
tempo – logarítmica versus linear – e sobre os artigos, os autores reproduziram o estu-
a regra de decisão permanecem em aber- do original de Church e Deluty (1977) com
to (e.g., Jozefowiez, Machado, & Staddon, procedimentos que melhoraram o desenho
2013). Da mesma forma, há evidência de res- experimental e a análise de dados para es-
ponder relacional em algumas circunstân- tudar a questão do responder relacional vs.
cias (e.g., Zentall, Weaver, & Clement, 2004), responder absoluto. Nos artigos, os autores
muito embora nosso laboratório tenha en- também apresentam uma revisão detalha-
contrado evidências sólidas de responder da do trabalho de Church e Deluty (1977).
absoluto, pelo menos em pombos. Ainda, a
tarefa de bissecção abriu a porta para pro- Carvalho, Machado, & Vasconcelos (2016).
cedimentos mais complexos como a dupla Os autores revisam as principais tarefas ex-
bissecção. Esta última tem sido usada para perimentais usadas na pesquisa em timing
estudar efeitos de contexto na percepção e os principais resultados obtidos até hoje.
temporal, testando previsões contrastantes Propõem uma abordagem integrativa dos
de dois modelos proeminentes da área, o resultados que se baseia na interação de
SET e o LeT. Por fim, ainda não são claros gradientes de generalização temporal.
os efeitos da manipulação da probabilidade
e da magnitude do reforço na função psi- Richelle & Lejeune (1980). Livro de referên-
cométrica. Os resultados obtidos por alguns cia na área do timing, escrito por dois dos
autores apontam para deslocamentos da principais pesquisadores da área. Resume
função induzidos por estas manipulações os principais procedimentos, resultados e
(Galtress & Kirkpatrick, 2010; Raslear, 1985; propriedades do responder controlado por
Stubbs, 1976), mas o assunto permanece por intervalos de tempo.
esclarecer cabalmente.
154
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
Arantes, J., & Machado, A. (2008). Context Galtress, T., & Kirkpatrick, K. (2010). Reward
effects in a temporal discrimination task: magnitude effects on temporal discrimina-
Further tests of the Scalar Expectancy The- tion. Learning and Motivation, 41, 108-124.
ory and Learning-to-Time models. Journal
of the Experimental Analysis of Behavior, Gibbon, J. (1977). Scalar expectancy theory
90, 33-51. and Weber’s law in animal timing. Psycho-
logical Review, 84, 279-325.
Carvalho, M. P., & Machado, A. (2012). Rela-
tive versus absolute stimulus control in the Gibbon, J. (1991). Origins of scalar timing.
temporal bisection task. Journal of the Ex- Learning and Motivation, 22, 3-38.
perimental Analysis of Behavior, 98, 23-44.
Gibbon, J., & Church, R. M. (1984). Sources
Carvalho, M. P., Machado, A., & Tonneau, of variance in an information processing
F. (2016). Learning in the temporal bisection theory of timing. In H. L. Roitblat, T. G. Be-
task: Relative or Absolute? Journal of Expe- ver, & H. S. Terrace (Eds), Animal Cognition
rimental Psychology, 42, 67-81. (pp. 465-488). Hillsdale, NJ: Lawrence Erl-
baum Associates.
Carvalho, M. P., Machado, A., & Vasconce-
los, M. (2016). Animal timing: a synthetic Gibbon, J., Church, R. M., & Meck, W. H.
approach. Animal Cognition, 1-26. (1984). Scalar Timing in Memory. Annals of
the New York Academy of Sciences, 423, 52-
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: Com- 77.
portamento, Linguagem e Cognição (4ª ed.).
Porto Alegre: Artes Médicas. Gulliksen, H. (1932). Studies of transfer of
response: I. Relative versus absolute factors
Church, R. M. (2002). Temporal learning. in the discrimination of size by the white
In H. Pashler, & R. Gallistel (Eds), Stevens’ rat. Journal of Genetic Psychology, 40, 37-51.
Handbook of Experimental Psychology,
Third Edition: Volume 3, Learning, Motiva- Herrnstein, R. J. (1970). On the law of ef-
tion, and Emotion (pp. 365-393). New York, fect. Journal of the Experimental Analysis of
NY: Wiley. Behavior, 13, 243-266.
Church, R. M., & Deluty, M. (1977). Bisec- Köhler, W. (1918/1938). Simple structural
tion of temporal intervals. Journal of Expe- functions in the chimpanzee and in the chi-
rimental Psychology: Animal Behavior Pro- cken. In W. D. Ellis (Ed), A source book of
155
Capítulo IX | Bissecção Temporal
gestalt psychology (pp. 217-227). New York: temporal discrimination. Learning and Mo-
Harcourt, Brace & World. (Trabalho original tivation, 39, 71-94.
publicado em alemão em 1918).
Oliveira, L., & Machado, A. (2009). Context
Machado, A. (1997). Learning the temporal effect in a temporal bisection task with the
dynamics of behavior. Psychological Re- choice keys available during the sample.
view, 104, 241-265. Behavioural Processes, 81, 286-292.
Machado, A., & Arantes, J. (2006). Further Pavlov, I. (1927). Conditioned reflexes. Lon-
tests of the Scalar Expectancy Theory (SET) don: Oxford University Press.
and the Learning-to-Time (LeT) model in a
temporal bisection task. Behavioural Pro- Raslear, T. G. (1985). Perceptual bias and
cesses 72, 195-206. response bias in temporal bisection. Per-
ception & Psychophysics, 38, 261-268.
Machado, A., & Keen, R. (1999). Learning
to Time (LeT) or Scalar Expectancy The- Richelle, M., & Lejeune, H. (1980). Time in
ory (SET)? A critical test of two models of animal behaviour. Oxford: Pergamon Press
timing. Psychological Science, 10, 285-290. Ltd.
Machado, A., Malheiro, M. T., & Erlhagen, Saldanha, E. L., & Bitterman, M. E. (1951).
W. (2009). Learning to time: A perspecti- Relational learning in the rat. The American
ve. Journal of the Experimental Analysis of Journal of Psychology, 64, 37-53.
Behavior, 92, 423-458.
Santo Agostinho. (2004). Confissões, Livro
Machado, A., & Oliveira, L. (2009). Dupla XI, XIV, 17 (2ª ed.). Lisboa: Imprensa Nacio-
bissecção temporal: testes críticos de dois nal da Casa da Moeda.
modelos de timing. Acta Comportamenta-
lia, 17, 25-60. Spence, K. W. (1936). The nature of discri-
mination learning in animals. Psychological
Machado, A., & Pata, P. (2005). Testing the Review, 43, 427-449.
scalar expectancy theory (SET) and the le-
arning-to-time model (LeT) in a double bi- Spence, K. W. (1937). The differential res-
section task. Learning & Behavior, 33, 111- ponse in animals to stimuli varying within
122. a single dimension. Psychological Review,
44, 430-444.
Oliveira, L., & Machado, A. (2008). The ef-
fect of sample duration and cue on a double Stubbs, D. A. (1968). The discrimination of
156
Marilia Pinheiro de Carvalho, Marco Vasconcelos, Armando Machado
157
Hiroto Okouchi
Hiroto Okouchi
Universidade Osaka Kyoiku, Japão
Lubinski, D., & Thompson, T. (1987). An animal model of the interpersonal communication of
interoceptive (private) states. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 48, 1-15.
“Nós não precisamos supor que eventos que ocorrem dentro da pele de um organis-
mo tem propriedades especiais por essa razão”
(Skinner, 1953, p.257).
158
Capítulo X | Eventos Privados
159
Hiroto Okouchi
lante tinha experimentado um evento que análises conceituais (e.g., Leigland, 2014;
normalmente provoca sentimentos de de- Schlinger, 2011; Tourinho, 2006), análises
pressão (por exemplo, a perda de um ente experimentais de eventos privados têm
querido), o ouvinte poderia dizer: “Eu sei recebido relativamente pouca atenção. O
exatamente como você se sente.” Compor- experimento conduzido por Lubinski e
tamentalmente, o sentimento de depressão, Thompson (1987) é um dos raros casos em
a queixa “estou deprimido”, e as palavras de que foi praticada uma análise experimental
conforto “Eu sei exatamente como você se de eventos privados.
sente”, respectivamente, são um estímulo
discriminativo, uma resposta e um refor-
çador do comportamento verbal do falante. DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO
Uma resposta verbal (e.g., “vermelho”) a um
estímulo público (e.g., um cartão vermelho) Objetivos e Método
pode ser estabelecida pelo reforço dado por O objetivo do experimento de Lu-
outros (e.g., “Correto, esta é a cor do car- binski e Thompson (1987) foi avaliar se ani-
tão.”). Os analistas do comportamento su- mais não-humanos poderiam aprender a
põe que descrever os próprios sentimentos interagir comunicativamente, com base em
(e.g., estar deprimido), também é aprendido eventos em seu ambiente interno.
(e.g., Skinner, 1953, pp.257-282).
160
Capítulo X | Eventos Privados
Figura 2. Uma comunicação entre dois pombos com base na ingestão de drogas (estado interno) de um dos pombos. Da esquerda para a direita, os cinco
quadros (A-E) mostram os componentes sucessivos do procedimento. Os pombos à esquerda e à direita em cada quadro eram o mandador e o tateador,
respectivamente (reproduzida da tradução de Lubinski & Thompson, 1987, com permissão da ReBAC e JEAB).
161
Hiroto Okouchi
salina) foram seguidas pela apresentação de como um tato, o que foi estudado na parte
uma luz azul piscando acima dos discos de final do experimento (descrito em seguida).
resposta; (d) as respostas em um disco aci- Um tato, uma unidade do comportamento
ma de um comedouro (disco da comida) e verbal, é “um operante verbal em que uma
em um disco acima de um bebedouro (dis- resposta de determinada forma é evocada
co da água) foram reforçadas com comida e (ou pelo menos fortalecida) por um deter-
água, respectivamente. minado objeto ou evento ou propriedade
de um objeto ou evento” (Skinner, 1957,
A tarefa de pareamento ao modelo pp. 81-82). Citando vários outros autores
que os tateadores experimentaram é co- (e.g., MacCorquodale, 1969; Skinner, 1957,
nhecida como um procedimento de discri- pp.81-82), Lubinski e Thompson afirmam
minação de drogas (drug discrimination): que tatos não são mantidos por reforços
reforçar um tipo de comportamento após a específicos, nem mudam com o estado de
administração de uma droga e reforçar ou- privação ou de estimulação aversiva do in-
tro comportamento após a administração divíduo, mas são mantidos por reforçadores
de nenhuma droga ou alguma outra dro- condicionados generalizados (e.g., dizendo
ga (Branch, 1991). Na ausência de qualquer “Correto” quando alguém nomeia com pre-
estímulo diferencial exteroceptivo corre- cisão a cor de um cartão vermelho dizendo
lacionado com qualquer comportamento, “Vermelho”). A fim de alcançar este segun-
escolhas produziam reforçadores mais fre- do objetivo, Lubinski e Thompson tentaram
quentemente do que ao acaso e poderiam estabelecer a luz azul intermitente como
ser atribuídas a estímulos interoceptivos um reforçador condicionado generalizado
decorrentes da substância administrada que pudesse manter o comportamento dos
(e.g., a droga ou a solução salina). Assim, tateadores. Os tateadores foram privados
os tateadores no experimento de Lubinski de comida de forma mais rigorosa do que
e Thompson (1987) foram treinados para eles foram privados de água em um dia (i.e.,
“relatar seus sentimentos” pela tarefa de privação de comida por 28 hr e privação de
pareamento ao modelo. Foram necessários água por 4hr), e eles foram privados de água
aproximadamente sete meses para os tate- de forma mais rigorosa do que eles foram
adores responderem de forma consistente privados de comida em outro dia (i.e., priva-
(i.e., pelo menos 80% de respostas corretas) ção de água por 28 hr e privação de comida
nesta tarefa. por 4hr). Alternando essas duas condições
de uma forma A-B-A-B, os tateadores esco-
Um segundo objetivo do experimen- lhiam comida e água indiferenciadamente
to Lubinski e Thompson (1987) foi avaliar quando a luz azul estava piscando.
se as respostas dos pombos aos seus even-
tos internos (privados) poderiam funcionar Um mando, uma unidade mais pri-
162
Capítulo X | Eventos Privados
mitiva do comportamento verbal, é “um ram colocados nas suas caixas simultane-
operante verbal em que a resposta é reforça- amente. Como a Figura 2 ilustra, a intera-
da por uma consequência particular, e está, ção comportamental necessária de cada par
portanto, sob controle funcional das condi- mandador-tateador foi: (a) foi iluminado o
ções relevantes de privação ou de estimu- disco do mandador “Como você se sente?” e
lação aversiva” (Skinner, 1957, pp.35 -36). o mandador bicava esse disco; (b) foram ilu-
Dizer a palavra “Doce” é um exemplo de um minados todos os discos de comparação do
mando quando reforçado pelo acesso a do- tateador (i.e., os discos “D”, “N”, e “Σ”) e o ta-
ces, e a resposta “Doce” será mais provável teador bicava o disco de comparação corre-
de ocorrer após um período de privação de lacionado com a substância injetada (ou os
doces ou comida (Skinner, 1957, p.35). Os próprios “sentimentos” do tateador); (c) foi
mandadores, que foram mantidos sob pri- iluminado o disco “Obrigado” na caixa do
vação de comida a 85% de seu peso com mandador e o mandador bicava esse disco;
livre acesso a comida, foram treinados em (d) a letra (“D”, “N”, ou “Σ”, i.e., o “nome” da
uma cadeia comportamental com três com- droga ou o relato do tateador de seus “senti-
ponentes, em que o terceiro componente mentos”) previamente bicada pelo tateador
envolvia uma tarefa de pareamento ao mo- aparecia no disco modelo do mandador e a
delo arbitrário. A cadeia estabelecida para luz azul começava a piscar a caixa do tate-
o mandador era a seguinte: (a) foi ilumina- ador; o mandador bicava o disco modelo e,
do um disco com letras em Inglês dispostas em seguida, bicava do disco de comparação
para formar as palavras (Figura 1); “Como correto; o tateador bicava o disco da comida
você se sente?”; (b) as bicadas do mandador ou da água, produzindo comida ou água; (e)
ao disco “Como você se sente” foram segui- o mandador recebeu comida. Se o tateador
das pela iluminação de um outro disco ro- bicasse o disco de comparação não corre-
tulado “Obrigado”; (c) quando o mandador lacionado com a substância injectada (uma
bicava o disco “Obrigado”, a letra “D”, “N”, resposta incorreta), as luzes da caixa eram
ou “Σ” era projetada em um disco modelo; escurecidas por 4 s e o elo inicial da cadeia
(d) bicar o disco modelo e, em seguida, bicar (a) era reiniciado. Assim, o estímulo modelo
o disco de comparação contendo a respos- apresentado ao mandador sempre foi corre-
ta com a correspondência correta (o disco to. Ambos os mandadors trabalharam com
“P” para a letra “D”, o disco “C” para a letra cada um dos tateadores. Os pombos foram
“Σ”, e o disco “S”para a letra”N”) produziam testados nessa interação por 40 sessões ex-
comida. Depois de ambos os mandadors e perimentais.
tateadores adquirirem independentemente
a precisão necessária (i.e., pelo menos 80% Deve-se notar que o experimento
de respostas corretas) no encadeamento, de Lubinski e Thompson (1987) apresenta-
tateadores e mandadors individuais fo- va duas fases adicionais (Fases 2 e 3). Na
163
Hiroto Okouchi
Fase 2, os tateadores foram injetados com era de aproximadamente 11% (i.e., o produto
novas drogas, clordiazepóxido e d-anfeta- dos dois desempenhos individuais acon-
mina, que possuem propriedades farma- tecendo por acaso, i.e., 0,33 x 0,33). Estes
cológicas em comum com o pentobarbital resultados sugerem que os pombos apren-
e cocaína, respectivamente, como um tes- deram a interagir comunicativamente com
te de generalização. Na Fase 3, os autores base em eventos do seu ambiente interno.
examinaram se as respostas dos tateadores
aos seus eventos privados funcionavam
realmente como tatos. Foram testados os Resultados das Fases 2 e 3.
desempenhos dos tateadores quando foram Os desempenhos observados na
colocados em suas caixas experimentais Fase 1 persistiram na Fase 2, sugerindo que
depois de receberem 24 horas de acesso li- as respostas dos tateadores aos seus even-
vre a alimento e água (os tateadores foram tos privados decorrentes do treino com as
saciados com alimento e água), e quando drogas (pentobarbital e cocaína) generali-
suas respostas corretas produziam apenas a zaram para os eventos privados semelhan-
luz azul piscando, mas que não produziam tes decorrentes de drogas não utilizadas no
água ou comida (as respostas corretas dos treino (clordiazepóxido e d-anfetamina).
tateadores produziam apenas reforçadores Os desempenhos observados nas Fases 1 e
condicionados). 2 persistiram na Fase 3, sugerindo que as
respostas precisas dos tateadores aos seus
eventos privados não foram mantidas pelos
Resultados e Discussão reforçadores específicos (comida ou água), e
Resultados da Fase 1. não covariaram com os estados de privação
Como apenas uma única substância dos tateadores, mas foram mantidas por um
(pentobarbital, cocaína, ou salina) foi inje- reforço condicionado generalizado (a luz
tada antes de cada sessão, a escolha corre- azul piscando).
ta para o tateador foi a mesma em todas as
tentativas em uma sessão. Assim, o desem- A discussão do artigo de Lubinski
penho dos tateadores na primeira tentativa e Thompson (1987) pode ser resumida da
de uma sessão foi importante neste experi- seguinte forma: (a) o comportamento dos
mento. Tanto o mandador quanto o tatea- tateadores envolveu tatear os eventos pri-
dor responderam corretamente (e.g., o tate- vados; (b) os tateadores aprenderam a ta-
ador que recebeu o pentobarbital e bicou o tear eventos privados sob um esquema de
disco “D”, e o mandador bicou o disco “P”) reforçamento contínuo com 100% de preci-
na primeira tentativa em 70-100% das ses- são, isto é, por meio de uma contingência
sões, enquanto que a porcentagem de uma em que cada resposta correta produzia um
discriminação correta acontecer por acaso reforçador e qualquer resposta incorreta
164
Capítulo X | Eventos Privados
165
Hiroto Okouchi
166
Capítulo X | Eventos Privados
167
Hiroto Okouchi
168
Capítulo X | Eventos Privados
169
Hiroto Okouchi
Lubinski, D., & Thompson, T. (1993). Spe- Skinner, B. F. (1945). The operational anal-
cies and individual differences in commu- ysis of psychological terms. Psychological
nication based on private states. Behavior- Review, 52, 270-277.
al and Brain Sciences, 16, 627-680.
Skinner, B. F. (1953). Science and human
MacCorquodale, K. (1969). B. F. Skinner’s behavior. New York: Macmillan.
verbal behavior: A retrospective apprecia-
tion. Journal of the Experimental Analysis Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New
of Behavior, 12, 831-841. York: Appleton-Century-Crofts.
Madden, G. J. (Ed.). (2013). APA handbook Sonoda, A., & Okouchi, H. (2012). A revised
of behavior analysis (Vol.1). Washington, procedure for analyzing private events. The
DC: American Psychological Association. Psychological Record, 62, 645-661.
Okouchi, H. (2006). An experimental anal- The Oxford English Dictionary (2nd. ed.).
ysis of another privacy. The Psychological (2004). Oxford: Clarendon Press.
Record, 56, 245-257.
Tourinho, E. Z. (2006). Private stimuli, co-
Rachlin, H. (2003). Privacy. In K. A. Lattal, vert responses, and private events: Con-
& P. N. Chase (Eds.), Behavior theory and ceptual remarks. The Behavior Analyst, 29,
philosophy (pp.187-201). New York: Kluwer 13-31.
Academic/Plenum Publishers.
170
Andréia Schmidt
Andréia Schmidt
Universidade de São Paulo
Dixon, L. S. (1977). The nature of control by spoken words over visual stimulus selection. Journal
of the Experimental Analysis of Behavior, 27, 433-442.
171
Capítulo XI | Responder por Exclusão
172
Andréia Schmidt
173
Capítulo XI | Responder por Exclusão
se mais que 75% de acertos em pelo menos tativas, eram apresentadas as chamadas
dois de três blocos de tentativas, seria ex- sondas de exclusão (exclusion probes). Em
cluído do estudo, o que aconteceu com qua- um bloco de 18 tentativas, eram apresenta-
tro jovens (além dos oito que finalizaram o das 12 tentativas de linha de base (i.e., em
estudo). Os oito participantes que apresen- que a palavra ditada era aquela treinada
taram menos de 75% de acertos nos blocos na fase anterior) e seis tentativas de sonda.
de pré-teste com cada conjunto de figuras Nas sondas de exclusão, uma nova palavra
seguiram para a fase de treino, descrita na era ditada (e.g., “Theta” ou “Upsilon”) e os
sequência. estímulos disponíveis eram a figura relacio-
nada à palavra modelo na fase anterior (e.g.,
Na Fase de treino a pesquisadora en- a letra grega π) e o estímulo anteriormente
sinava cada participante a relacionar uma com função negativa (e.g., θ ou Y). Caso o
palavra ditada a uma figura do conjunto participante tivesse aprendido a relação “Pi”
(e.g., a palavra ditada “Pi” e a figura da letra - π, ao ouvir a palavra completamente nova
grega π). Na primeira tentativa da primeira deveria selecionar outra figura, não aquela
sessão de treino, a pesquisadora colocava anteriormente relacionada à “Pi”. Respostas
diante do participante duas figuras, uma corretas nessa fase produziam elogios e fi-
considerada correta (S+), que seria relacio- chas, tanto nas tentativas de linha de base,
nada à palavra ditada, e outra incorreta (S-), quanto nas sondas de exclusão.
que era uma das outras duas figuras do
conjunto. No exemplo da relação “Pi”- π, na Após a sessão de sondas de exclusão,
primeira tentativa a pesquisadora apontava os participantes passavam para a fase se-
para a figura π e dizia: “Este é o Pi. Apon- guinte, a de sondas de discriminação (dis-
te para o Pi”. Nas tentativas seguintes, ela crimination probes). Em cada sessão, era
apresentava as duas figuras e pedia que o apresentado um bloco de 18 tentativas, das
participante apontasse para a figura de “Pi”. quais 12 eram tentativas de linha de base e
Respostas corretas (a escolha da figura π) seis tentativas de discriminação, nas quais
eram seguidas de elogios e fichas. Os blocos o modelo era uma das palavras novas dita-
de treino dessa fase eram compostos por 18 das nas sondas de exclusão (e,g., “Theta” ou
tentativas nas quais o estímulo modelo (pa- “Upsilon” – três tentativas para cada pala-
lavra ditada) era sempre o mesmo e os es- vra), e os estímulos de comparação disponí-
tímulos de comparação eram o S+ (π) e um veis eram as duas figuras que tinham fun-
S-, que se alternava nas tentativas entre θ ção negativa na fase de treino (e.g., θ e Y).
e Y. Nessa fase, a autora tinha como objetivo ve-
rificar se, ao relacionar os estímulos auditi-
Após o participante ter apresentado vo e visual “novos” nas sondas de exclusão,
ao menos 16 respostas corretas em 18 ten- esse desempenho se manteria em uma ten-
174
Andréia Schmidt
175
Capítulo XI | Responder por Exclusão
176
Andréia Schmidt
ensino que envolviam tarefas de empare- estudos posteriores, esses resultados foram
lhamento ao modelo empregados na época replicados e ampliados, inclusive com o re-
costumavam apresentar aos participantes gistro de respostas de nomeação dos estí-
um estímulo modelo novo e dois ou mais mulos visuais por parte dos participantes,
estímulos de comparação também desco- somente a partir de tentativas de exclusão
nhecidos. O participante poderia acertar ou (e.g., McIlvane, Kledaras, Lowry, & Stod-
errar a primeira tentativa e a aprendizagem dard, 1992; McIlvane, Munson, & Stoddard,
das relações dependia da sua exposição a 1988). Estudos sobre procedimentos de en-
várias tentativas desse tipo com cada es- sino baseados em exclusão foram testados
tímulo modelo, o que se constituía em um em comparação a procedimentos de en-
procedimento longo e que expunha o parti- sino por tentativa e erro, e se mostraram
cipante a uma quantidade grande de erros. superiores a estes em relação à rapidez de
Esse tipo de procedimento é chamado de aprendizagem dos repertórios ensinados,
procedimento por tentativa e erro. O proce- com a produção de um número menor de
dimento de ensino por exclusão apresenta- erros por parte dos aprendizes (Ferrari, de
va vantagens por produzir aprendizagem de Rose, & Mcllvane, 1993, 2008).
forma mais rápida e com menor exposição
do participante a erros, cujos efeitos preju- Os bons resultados obtidos com pro-
diciais foram amplamente discutidos pela cedimentos de ensino baseados em exclu-
literatura (Terrace, 1963). Além disso, a me- são para o ensino de relações auditivo-vi-
lhora do desempenho dos participantes de suais para crianças e jovens com deficiência
Dixon (1977) nas sondas de discriminação intelectual motivaram muitos pesquisado-
ao longo do procedimento, com a exposição res a adaptá-los para o ensino dessas e de
dos jovens aos diferentes conjuntos de es- outras relações para diferentes populações:
tímulos, indicava que a exposição repetida leitura, para crianças com dificuldades nes-
do indivíduo às tentativas de exclusão po- sa área (e.g., de Souza & de Rose, 2006), re-
deria gerar aprendizagem consistente das lações entre palavras e figuras para crianças
relações entre estímulos. surdas com implante coclear (e.g., Almeida-
-Verdu, Huziwara, de Souza, de Rose, Bevi-
Procedimentos de ensino baseados lacqua, Lopes Jr et al., 2008; Battaglini, Be-
no desempenho por exclusão foram, en- vilacqua, & de Souza, 2012), relações entre
tão, desenvolvidos e extensamente testa- nomes e faces para idosos com demência
dos ao longo das décadas seguintes. McIl- (Ducatti & Schmidt, 2016) e nomeação de
vane e Stoddard (1981), por exemplo, foram estímulos para crianças com diagnóstico de
bem sucedidos em ensinar um jovem com autismo (Greer & Du, 2015).
deficiência intelectual a selecionar alguns
alimentos diante de palavras ditadas. Em Paralelamente aos resultados obtidos
177
Capítulo XI | Responder por Exclusão
178
Andréia Schmidt
179
Capítulo XI | Responder por Exclusão
180
Andréia Schmidt
naturais entre adultos e crianças, dificil- so, e não uma figura estática, ainda que am-
mente a criança ouvirá palavras isoladas e bos sejam desconhecidos.
terá diante de si um único objeto ou figu-
ra desconhecidos. Nestas interações pala- Schloegl, Bugnyar, & Aust (2009). Revisão
vras desconhecidas aparecem no meio de dos estudos sobre exclusão com não huma-
frases, músicas e histórias e o desempenho nos, analisando não apenas os resultados
por exclusão é um, mas provavelmente não obtidos, mas também os métodos emprega-
o único processo envolvido. Entender se, e dos com cada espécie e qual o significado
como, o desempenho por exclusão ocorre desses resultados para a compreensão da
nas interações verbais da criança com a sua cognição animal.
comunidade é um desafio ainda longe de
ser vencido. O enfrentamento desse desafio Zaine, Domeniconi, & de Rose (2016). Estu-
certamente passa pela união de esforços de do experimental que investigou o desempe-
pesquisadores de diferentes áreas em um nho por exclusão em quatro cães em tarefas
empreendimento conjunto para compreen- de discriminação simples com estímulos
der melhor as peculiaridades da aprendiza- tridimensionais. O estudo relata que todos
gem do comportamento verbal. os cães responderam por exclusão e que
três deles também demonstraram aprendi-
zagem das novas relações após exposição a
PARA SABER MAIS sucessivas tentativas de exclusão.
181
Capítulo XI | Responder por Exclusão
Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. mas em Psicologia, 21, 31-48.
(1968). Some current dimensions of applied
behavior analysis. Journal of Applied Beha- Clement, T. S., & Zentall, T. R. (2003). Choice
vior Analysis, 1, 91-97. based on exclusion in pigeons. Psychono-
mic Bulletin & Review, 10, 959-964.
Battaglini, M. P., Bevilacqua, M. C., & de
Souza, D. G. (2012). Desempenho de seleção Costa, A. R. A., de Rose, J. C., & de Souza, D.
e nomeação de figuras em crianças com de- G. (2010). Interferência de variáveis de con-
ficiência auditiva com implante coclear. Te- texto em sondas de exclusão com substan-
mas em Psicologia, 20, 189-202. tivos e verbos novos. Acta Comportamen-
talia, 18, 35-54.
Beran, M. J., & Washburn, D. A. (2002).
Chimpanzee responding during matching Costa, A. R. A., Domeniconi, C., & de Souza,
to sample: Control by exclusion. Journal of D. G. (2014). Controle de estímulos, mapea-
the Experimental Analysis of Behavior, 78, mento simbólico emergente e aquisição de
497–508. vocabulário. In J. C. de Rose, M. S. C. A. Gil,
& D. G. de Souza (Orgs.), Comportamento
Bion, R., Borovsky, A., & Fernald, A. (2013). simbólico: Bases conceituais e empíricas (pp.
Fast mapping, slow learning: Disambigua- 269-308). Marília / São Paulo: Oficina Uni-
tion of novel word-object mappings in rela- versitária / Cultura Acadêmica.
tion to vocabulary learning at 18, 24, and 30
months. Cognition, 126, 39-53. Costa, A. R. A., Grisante, P. C., Domeniconi,
C., de Rose, J. C. C. & de Souza, D. G. (2013).
Bloom, L. (1970). Language development: Nomeação de estímulos novos a partir da
Form and function in emerging grammars. seleção por exclusão. Paidéia, 23, 217-224.
Cambridge, Mass: MIT Press.
Costa, A. R. A., McIlvane, J. W., Wilkinson,
Brown, R. (1973). A first language: The earlier K. M., & de Souza, D. G. (2001). Emergent
stages. Harmondsworth: Penguin Books. word-object mapping by children: Further
studies using the blank comparison techni-
Carey, S. & Bartlett, E. (1978). Acquiring a que. The Psychological Record, 51, 343-355.
single new word. Papers and Reports on
Child Language Development, 15, 17–29. de Souza, D. G., & de Rose, J. C. C. (2006).
Desenvolvendo programas individualiza-
Campos, R. S., Brino, A. L. F., & Galvão, O. dos para ensino de leitura e escrita. Acta
F. (2013). Expansão de repertório de relações Comportamentalia, 14, 77-98.
arbitrárias em Sapajus sp. via exclusão. Te-
182
Andréia Schmidt
Domeniconi, C., Costa, A. R. A., de Souza, Kaminski, J., Call, J. & Fischer, J. (2004).
D. G. & de Rose, J. C. (2007). Responder por Word learning in a domestic dog: Evidence
exclusão em crianças de 2 a 3 anos em uma for “fast mapping”. Science, 304, 1682-1683.
situação de brincadeira. Psicologia: Refle-
xão e Crítica, 20, 342-350. Kastak, C. R., & Schusterman, R. J. (2002).
Sea lions and equivalence: Expanding clas-
Ducatti, M., & Schmidt, A. (2016). Learning ses by exclusion. Journal of the Experimen-
conditional relations in elderly people with tal Analysis of Behavior, 78, 449-465.
and without neurocognitive disorders. Psy-
chology & Neuroscience, 9, 240-254. Levine, D., Strother-Garcia, K., Golinkoff, R.
M., & Hirsh-Pasek, K. (in press). Language
Ferrari, C., de Rose, J. C. & McIlvane, W. J. development in the first year of life: What
(2008). A comparison of exclusion and trial- deaf children might be missing before co-
-and-error procedures: Primary and secon- chlear implantation. Otology & Neurotolo-
dary effects. Experimental Analysis of Hu- gy.
man Behavior Bulletin, 29, 9-16.
Markman, E. M. (1989). Categorization and
Ferrari, C., de Rose, J. C. & McIlvane, W. J. naming in children: Problems of induction.
(1993). Exclusion vs. selection training of Boston: MIT Press.
auditory-visual conditional relations. Jour-
nal of Experimental Child Psychology, 56, Markman, E. M., & Abelev, M. (2004). Word
49-63. learning in dogs? Trends in Cognitive Scien-
ces, 8, 479-481.
Fonseca, J. (2016). Responder por exclusão
em crianças com atraso de linguagem. (Dis- Markman, E. M., & Wachtel, G. F. (1988).
sertação de Mestrado). Universidade de São Children’s use of mutual exclusivity to
Paulo. constrain the meaning of words. Cognitive
Psychology, 20, 121–157.
Greer, R. D., & Du, L. (2015). Experience and
the onset of the capability to learn names McIlvane, W. J., Kledaras, J. B., Lowry, M.
incidentally by exclusion. The Psychological W., & Stoddard, L. T. (1992). Studies of ex-
Record, 65, 355-373. clusion in individuals with severe mental
retardation. Research in Developmental Di-
Horst, J. S. & Samuelson, L. K. (2008). Fast sabilities, 13, 509-532.
mapping but poor retention in 24-month-
-old infants. Infancy, 13, 128-157. Mcllvane. W. J., Munson, L., & Stoddard,
L. T. (1988). Some observations on control
183
Capítulo XI | Responder por Exclusão
by spoken words in children’s conditional Schmidt, A., Franco, M. G. O., Lotério, L. S.,
discrimination and matching by exclusion. & Gomes, G. F. (2016). Learning name-ob-
Journal of Experimental Child Psychology, ject relations after a single exclusion trial in
45, 472-495. children in 18- to 48-months-old children.
The Psychological Record, 66, 53-63.
McIlvane, W.J., & Stoddard, L. T. (1981). Ac-
quisition of matching to sample perfor- Schmidt, A., & Malerbo, A. C. D. B. (no pre-
mances in severe retardation: Learning by lo). Aprendizagem de relações nome-textu-
exclusion. Journal of Mental Deficiency Re- ra por meio de dois procedimentos de en-
search, 25, 33-48. sino por exclusão. Acta Comportamentalia.
Menyuk, P. (1969). Sentences children use. Souza, M. F., & Schmidt, A. (2014). Respon-
Cambridge, Mass.: MIT Press. ding by exclusion in Wistar rats in a simul-
taneous visual discrimination task. Journal
Nelson, K. (2007). Young Minds in Social of the Experimental Analysis of Behavior,
Worlds: Experience, Meaning and Memory. 102, 346-352.
London: Harvard University Press.
Terrace, H. S. (1963). Discrimination lear-
Ribeiro, T. A. (2013). Responder por exclu- ning with and without errors. Journal of the
são na aprendizagem de relações simbólicas Experimental Analysis of Behavior, 6, 1–27.
envolvendo adjetivos. (Dissertação de Mes-
trado). Universidade Federal de São Carlos. Tomonaga, M. (1993). Tests for control by
exclusion and negative stimulus relations
Schloegl, C., Bugnyar, T., & Aust, U. (2009). of arbitrary matching-to-sample in a ‘‘sym-
Exclusion performances in non-human metry-emergent’’ chimpanzee. Journal of
animals: From pigeons to chimpanzees and the Experimental Analysis of Behavior, 59,
back again. In S. Watanabe, A. P. Blaisdell, 215–229.
L. Huber, & A. Young (Eds.), Rational ani-
mals, irrational humans (pp. 217-234). Tó- Vincent-Smith, L., Bricker, D. D., & Bricker,
quio: Keio University Press. W. A. (1974). Acquisition of receptive voca-
bulary in the toddlerage child. Child Develo-
Schloegl, C., Dierks, A., Gajdon, G. K., Hu- pment, 45, 189-193.
ber, L., Kotrschal, K., & Bugnyar, T. (2009).
What you see is what you get? Exclusion Wilkinson, K. M., de Souza, D. G., & McIl-
performances in ravens and keas. PLoS vane, W. J. (2000). Origens da exclusão. Te-
One, 4, e6368. mas em Psicologia, 8, 195-203.
184
Andréia Schmidt
185
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
Dougher, M. J., Hamilton, D. A., Fink, B. C. & Harrington, J. (2007) Transformation of the discri-
minative and eliciting functions of generalized relational stimuli. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 88, 179-197.
“Abracadabra! ”
Palavra mágica prototípica usada por mágicos.
186
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
INTRODUÇÃO À ÁREA DE PES- che 2001; Perez, Nico, Kovac Fidalgo, & Le-
QUISA E CONTEXTUALIZAÇÃO onardi, 2013; Zettle, Hayes, Barnes-Holmes
DO EXPERIMENTO & Biglan, 2016). Essa perspectiva analítico-
-comportamental foi grandemente influen-
É amplamente disseminado na literatura de ciada pela explicação funcional da lingua-
fantasia medieval e em jogos que palavras, gem presente no Comportamento Verbal
frases curtas e textos faziam parte de rituais (Skinner,1957) e pelo estudo de relações
mágicos. Nesse contexto, poderosos magos derivadas entre estímulos, iniciado pelas
armazenavam seu poder por escrito em to- pesquisas sobre Equivalência de Estímulos
mos e pergaminhos. Uma vez que os sons (Sidman & Tailby, 1982; Sidman, 1994, 2000).
exatos fossem proferidos, coisas incríveis Nessa explicação da RFT, um tipo especí-
poderiam acontecer (Gygax & Arneson, fico de comportamento operante pode al-
1974). A palavra “Abracadabra” na epígrafe terar o modo como os estímulos adquirem
deste texto deriva de uma frase em Aramai- função a partir de relações arbitrárias deri-
co que significa “Eu crio quando eu falo” vadas entre estímulos. Elas são chamadas
(Lawrence, 1988). Obviamente, não iremos de arbitrárias, pois não dependem de carac-
explorar, neste capítulo, os efeitos das pa- terísticas físicas dos estímulos relacionados
lavras a partir da perspectiva da literatura (são baseadas em convenções); e são cha-
fantástica, sequer existem evidências cien- madas de derivadas pois, a partir de treinos
tíficas de que as essas podem alterar os diretos, inúmeras respostas não ensinadas
eventos do mundo físico. No entanto, par- diretamente podem ser observadas.
tindo de uma perspectiva analítico-com-
portamental, baseada em evidências em- Isso tudo é possível porque, desde mui-
píricas, falaremos do “poder” das palavras to pequenos, somos expostos a tarefas em
de funcionar como estímulos e, então, agir que relacionamos estímulos, e essas rela-
sobre as pessoas. Vamos explorar, neste ca- ções podem ser de diversos tipos, como:
pítulo, a “magia” que permite que palavras de similaridade (“esse tênis é parecido com
e frases (símbolos) afetem o comportamen- o meu”), de igualdade (“nossas camisetas
to, ou seja, afetem o que as pessoas fazem, são iguais”), de oposição (“doce é oposto a
pensam e sentem. salgado”), de comparação (“meu carrinho
é maior que o seu”), entre outras (Tornëke,
Para compreender esse efeito das palavras, 2010). Por questões práticas, vamos tomar
recorremos a uma explicação operante da o exemplo da comparação. Imagine uma
linguagem e cognição humana proposta criança aprendendo a comparar objetos.
pela Teoria das Molduras Relacionais (Re- Naturalmente, ao ser exposta às contingên-
lational Frame Theory ou RFT; de Rose & cias da comunidade verbal que modelam os
Rabelo, 2012; Hayes, Barnes-Holmes & Ro- repertórios linguísticos, a criança se depa-
187
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
ra com as palavras “maior” e “menor”. Ini- aplicadas para estabelecer relações de com-
cialmente, tais palavras são utilizadas para paração convencionadas pela comunidade
controlar respostas baseadas em proprieda- verbal. Esse tipo de aprendizagem descrita
des físicas dos estímulos. Diante de pergun- acima é uma parte do que chamamos de
tas e solicitações do tipo “Qual é o maior Treino de Múltiplos Exemplares, e aconte-
brinquedo de todos esses aqui?”, “Qual é a ce comumente de forma não planejada na
menor bola que você tem?”, “Pegue a bone- interação da criança e seus pais ou cuida-
ca menorzinha!”, “Pegue uma peça maior dores.
do quebra-cabeça”, as crianças aprendem a
comparar objetos sob controle do seu tama- Além de aprender relações especificamente
nho, volume ou peso. ensinadas, depois de inúmeras exposições,
a criança logo aprenderá a responder tam-
Uma questão curiosa, no entanto, é que as bém de acordo com novas relações que, em-
dicas contextuais “maior” e “menor” tam- bora não diretamente explicitadas, derivam
bém são frequentemente utilizadas para das inicialmente ensinadas. Tomando o
ensinar comparações que não se baseiam exemplo da comparação, ela aprenderá que
nas dimensões físicas dos estímulos, mas as respostas relacionais também são bidi-
em convenções da comunidade verbal. Por recionais, ou seja, que existe uma implica-
exemplo, quando for um pouco mais ve- ção mútua entre os estímulos relacionados:
lha, a criança aprenderá que a moeda de 50 logo, se um estímulo A é maior que B, B será
centavos tem valor maior, ainda que seja necessariamente menor que A. Ela apren-
menor do que a moeda de 25 centavos. Na derá, também, a combinar relações (impli-
escola, nas aulas de matemática, aprenderá cação combinatória) de tal modo que, após
que 0,000000001 é menor do que 1, embo- aprender que A é maior que B e B maior que
ra o primeiro número contenha muito mais C, poderá responder a novas relações, tais
algarismos. Assim, a criança aprende a res- como: A é maior que C e C é menor que A.
ponder adequadamente também a relações Por fim, aprenderá que estímulos relaciona-
arbitrárias de comparação, ou seja, rela- dos arbitrariamente podem ter suas funções
ções que não têm por base a comparação transformadas com base no tipo de relação
de dimensões físicas, mas dependem das implicada. Assim, se A é “bom”, logo B e C
contingências arranjadas para que dados podem ser ainda melhores!
eventos do mundo sejam tratados compa-
rativamente. Em contextos como esse, di- O fenômeno da Transformação de Fun-
zemos que as respostas relacionais podem ção1 pode ser definido como a propagação
ser arbitrariamente aplicadas a quaisquer de função de um estímulo para demais os
eventos do mundo. Em outras palavras, as estímulos relacionados. As funções trans-
dicas contextuais “maior” e “menor” são formadas podem ser de natureza muito
188
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
189
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
sar a eliciar uma resposta eletrodermal (ca- não deveria ser doloroso. O procedimento
racterística da reação de medo), será que A foi o seguinte: o gerador de choque possuía
irá eliciar uma resposta eletrodermal menor 10 níveis e, inicialmente, era colocado no
do que B? E, mais importante, será que C nível 7 para a administração de um choque
irá eliciar uma resposta eletrodermal ain- breve (50ms). Foi pedido aos participantes
da maior do que o estímulo pareado dire- que classificassem esse choque, dando uma
tamente com o choque (B)? O objetivo do nota de 1-10 (sendo 8 o nível desconfortá-
primeiro experimento foi responder exata- vel, mas não doloroso). Se os participantes
mente a essas questões. considerassem o choque de qualquer nível
diferente de oito, a intensidade era aumen-
Vinte um participantes universitários (12 tada ou diminuída e outro choque apre-
para o grupo experimental e 9 para o con- sentado. Quando a intensidade fosse con-
trole) foram recrutados e receberiam cré- siderada como oito, um segundo choque
ditos em disciplinas por sua cooperação. idêntico era apresentado para ver se essa
Para garantir que os participantes apresen- avaliação permaneceria estável. Quando
tariam índices eletrodermais mensuráveis o participante considerasse dois choques
pelo galvanômetro, foi realizado um teste idênticos consecutivos avaliados como oito
de “explosão do balão”.2 Considerando os 12 a ‘calibragem da intensidade’ esta etapa era
sujeitos do grupo experimental, três deles finalizada. Dos nove participantes do grupo
não obtiveram o critério exigido no teste e experimental, um deles foi eliminado, por
foram eliminados do estudo. avaliar todos os choques do gerador com
notas menores que oito. Assim, oito par-
Consequentemente, nove participantes se- ticipantes seguiram para a próxima fase.
guiram para a próxima etapa, de seleção da Sete outros participantes constituíram um
intensidade do choque. Essa tarefa serviu Grupo Controle. Esses realizaram todas as
para calibrar a intensidade individual do etapas do experimento, exceto o treino de
choque elétrico. Esse estímulo precisava ser múltiplos exemplares.
de intensidade forte e desconfortável, mas
2
O galvanômetro é um instrumento que serve para medir a diferença Treino de Múltiplos Exemplares
de potencial elétrico entre dois pontos. Não são todos os participantes
expostos à avaliação do índice eletrodermal que mostram um respon- Nesse treino, um de três estímulos sem
der suficiente para realização de experimentos. Isso se dá devido a di-
versas características individuais da pele dos participantes. Dessa for- sentido (A, B ou C) eram apresentados no
ma, é comum nesse tipo de experimento, inicialmente, expor o sujeito
a uma avaliação para certificar que será possível coletar os dados com
topo da tela juntamente de três estímulos
aquele participante. Um dos testes realizados, o de explosão do balão
(Levis & Smith,1987) é um dos mais comumente realizados, e consiste
de comparação idênticos, que só variavam
em apenas verificar o efeito no índice eletrodermal diante da explosão em seu tamanho (e.g., uma bola pequena,
de um balão, que estava sendo enchido pelo participante de olhos ven-
dados. Se a alteração possuir uma magnitude mínima, no caso do expe- uma média e uma grande), apresentados na
rimento aqui descrito de 2 micromhos, ele estaria apto a participar. Do
contrário, o participante seria descartado do experimento. parte inferior. Diante do estímulo A, a esco-
190
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
191
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
mente. Será que a taxa de pressão à barra estímulo B, de forma idêntica, foi apresen-
em A e em C foi, respectivamente, menor e tado no centro da tela o estímulo A; após a
maior se comparada a taxa apresentada na sua apresentação, um choque elétrico com
presença do estímulo B? Vamos descrever a metade da voltagem de B foi apresentado.
última etapa do procedimento e descobrire- Após novo intervalo de 90s, o estímulo C
mos os resultados a seguir. foi apresentado, mas sem nenhum choque.
A ordem foi sempre a mesma descrita aqui,
B por seis vezes, seguido de A, B e C. As-
Pareamento e teste transformação sim como na pressão à barra, será que os
de função eliciadora da resposta índices eletrodermais foram modulados de
galvânica da pele forma coerente com o treino relacional? Ou
Na última etapa, ocorreu o pareamento do seja, será que a ativação da condutância
choque elétrico com o estímulo B e o tes- elétrica da pele foi maior para C do que para
te de transformação de função eliciadora. B, mesmo na ausência de qualquer parea-
Nessa etapa, os participantes foram instru- mento direto de C com o choque?
ídos que estímulos seriam apresentados na
tela do computador e eles receberiam cho-
ques. Eles não precisariam fazer nada, ex- Resultados e Discussão
ceto prestar a atenção nos estímulos apre- Todos os oito participantes do grupo expe-
sentados. Após as instruções, o participante rimental aprenderam a tarefa relacional, ou
permanecia sentado por cinco minutos e seja, responderam consistentemente aos
seu índice eletrodermal era registrado por estímulos apresentados inicialmente no
esse período como linha de base. O estímu- topo da tela (A = escolha o menor; B = esco-
lo B deveria adquirir a função de um estí- lha o médio; C = escolha o maior). A primei-
mulo aversivo condicionado, graças ao seu ra medida de interesse foi a frequência de
pareamento consistente com um choque pressão à barra no teste que apresentava os
elétrico. Nesse pareamento, o estímulo B foi estímulos A, B e C. Para todos os oito par-
exibido por 30 segundos na tela do compu- ticipantes do grupo experimental, a taxa de
tador e quando removido, foi apresentado o resposta diante de A e C refletiu os efeitos
choque elétrico. Esse condicionamento foi do treino relacional, ou seja, a taxa apresen-
realizado por seis vezes. tada em A e em C foi menor e maior do que
em B. Para dois participantes, a diferença
Essas tentativas de condicionamento ti- foi pequena, mas ocorreu de forma coe-
nham intervalo entre tentativas de 90s, para rente com o treino realizado. Porém, para
que os índices de condutância da pele pu- os seis outros participantes, a diferença foi
dessem ser estabilizados. Após o intervalo bem grande, em alguns casos até dobrando
da última tentativa de condicionamento do a frequência de respostas ao se comparar A
192
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
193
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
194
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
195
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
sociações com as características não arbi- Encerrada essa etapa, sem qualquer instru-
trárias dos estímulos de comparação. Para ção, novas tentativas foram adicionadas.
investigar a ocorrência dessa possibilidade, Tais tentativas já correspondiam ao teste
novos estímulos foram adicionados inves- dessa segunda fase. Essas tentativas novas,
tigando relações de comparações entre os tinham o mesmo formato da primeira fase
modelos. com os números, mas esses números foram
substituídos pelas dicas contextuais do trei-
no de múltiplos exemplares (A, B e C), o que
Experimento 3 - Objetivo e Método pode ser observado no segundo painel da
Treino de Múltiplos Exemplares Figura 4. Esse procedimento foi executado
O Experimento 3 foi conduzido com sete por 18 tentativas.
participantes e consistiu apenas de duas
fases. A fase inicial foi exatamente igual ao
treino de múltiplos exemplares dos Experi-
mentos 1 e 2. Figura 3. Figura baseada na Figura 7 de Dougher et al. (2007), exempli-
ficando as tentativas de testes do Experimento 3.
196
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
197
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
Wilson, 1999), tanto em investigações in- donia (Villatte, Monestès, McHugh, Frei-
terpretativas (e.g., Foody, Barnes-Holmes, xa i Baqué, & Loas, 2008) e esquizofrenia
Barnes-Holmes, Törneke, Luciano, Stewart, (Villatte, Monestès, McHugh, Freixa i Ba-
& McEnteggart, 2014) quanto experimentais qué, & Loas, 2010) Diversos outros trabalhos
(e.g., Foody, Barnes-Holmes, Barnes-Hol- foram desenvolvidos para avaliar e intervir
mes, Rai, & Luciano, 2015; Foody, Barnes- na Tomada de Perspectiva sob a ótica da
-Holmes, Barnes-Holmes, & Luciano, 2013; RFT (e.g., Lovett & Rehfeldt, 2014; McHugh,
Luciano et al., 2014; Gil-Luciano, Ruiz, Val- Barnes-Holmes, & Barnes-Holmes, 2004;
divia-Salas, & Suárez-Falcón, 2016). Rehfeldt, Dillen, Ziomek, & Kowalchuck,
2007).
A RFT também tem sido utilizada para
abordar problemas relacionados ao desen- Outra área muito relevante em que o estudo
volvimento. Uma dessas temáticas é a In- desses fenômenos tem contribuído grande-
teligência, em que métodos baseados em mente é a das questões sociais, amplamente
responder relacional têm sido repetida- conhecidas por psicólogos cognitivos como
mente comprovados como efetivos para atitudes implícitas, permitindo o estudo de
melhora do desempenho em testes de QI preconceitos, estigmatização social e prefe-
(Cassidy, Roche, Colbert, Stewart & Grey, rências. A transformação de funções permi-
2016; Cassidy, Roche & Hayes, 2011; O´To- te uma explicação comportamental precisa
ole, Barnes-Holmes, Murphy, O´Connor & desses fenômenos sociais e diversos estu-
Barnes Holmes, 2009). Outro tema que, até dos permitiram a investigação e o desen-
recentemente, era investigado apenas por volvimento de instrumentos para mensu-
psicólogos cognitivos e recebeu uma inter- ração de sua força (Hughes, Barnes-Holmes
pretação comportamental via RFT, é a To- & Vahey, 2012; Barnes-Holmes, Murphy &
mada de Perspectiva. Os comportamentos Barnes-Holmes, 2010; Barnes-Holmes, Bar-
relacionados à tomada de perspectiva po- nes-Holmes, Stewart & Boles, 2010; Mizael,
dem ser entendidos resumidamente como a de Almeida, Silveira & de Rose, 2016).
capacidade de assumir a perspectiva de ou-
tro, permitindo inferir suas crenças, emo- Esses e muitos outros temas relevantes
ções e desejos (Carpendale & Lewis, 2006). têm sido investigados recentemente (e.g.
Esse repertório é de suma importância para analogias, regras e instruções, gerativida-
nossa vida social, e déficits nesses compor- de e desenvolvimento linguagem) a partir
tamentos têm sido correlacionados com da perspectiva da RFT (ver, Stewart, 2015).
problemas de relacionamento interpesso- Portanto, podemos entender que essa nova
al e até mesmo com autismo (e.g., Ranick, interpretação do comportamento verbal
Persicke, Tarbox, Kornack, 2013; Rehfeldt, tem permitido uma explicação integrada de
Dillen, Ziomek, & Kowalchuk, 2007) , ane- vários comportamentos humanos comple-
198
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
xos, baseada na aprendizagem relacional (ainda mais) eventos com os quais nunca
derivada. Essa abordagem funcional da lin- tivemos uma experiência aversiva direta
guagem tem permitido a investigação ana- e também como eventos aversivos podem
lítico comportamental de vários temas que ser categorizados por comparação, tal como
por muito tempo foram acessíveis apenas observado nos procedimentos de exposição
aos leitores interessados em outras aborda- realizados em terapia.
gens psicológicas.
Os estudos da transformação de função
ainda não são tão numerosos, e, assim, al-
CONSIDERAÇÕES FINAIS gumas relações receberam pouca atenção
dos pesquisadores, como é o caso de rela-
O experimento de Dougher e colaboradores ções espaciais ou relações hierárquicas de-
(2007) pode ser considerado um marco im- rivadas. Novos trabalhos têm surgido com
portante para o estudo da aprendizagem re- uma velocidade muito grande, e o entendi-
lacional derivada. Esse trabalho, junto com mento da cognição humana a partir desses
inúmeros outros da mesma época (para parâmetros comportamentais tem capaci-
uma revisão, ver Dymond, May, Munnelly, tado a Análise do Comportamento com um
& Hoon, 2010), permitiu que analistas do instrumental novo e abrangente.
comportamento se aventurassem a inves-
tigar e explicar fenômenos relacionados à O avanço do estudo da aprendizagem de-
linguagem e à cognição antes circunscritos rivada, isto é, de como esse tipo de respon-
somente a outras abordagens da psicologia. der relacional derivado amplia as possibi-
Isso ocorreu, especialmente, pela compre- lidades de aprendizagem humanas, tem se
ensão dos processos comportamentais que apresentado recentemente como uma linha
permitem a aquisição indireta de funções de pesquisa muito promissora. Para alguns
de estímulo via participação em redes de pesquisadores, o desenvolvimento dessa
relações arbitrárias. Tal noção possibilitou explicação da linguagem e cognição huma-
que um olhar analítico-comportamental na pode representar uma maior integração
fosse legítimo também em situações nas das vertentes básicas e aplicadas da Análise
quais uma história de aprendizado direta, do Comportamento, como também maior
via pareamento ou contingências de refor- inserção e impacto na Psicologia em geral
ço, parecia ausente, sendo as causas atri- (Hayes & Bernes, 2004).
buídas à mecanismos mentais (cognitivos).
Uma estrapolação dos dados obtidos no es- Conhecer o “poder” que a linguagem pode
tudo de Dougher et al. (2007) permite, por exercer – ampliando enormemente nossa
exemplo, compreender como são constru- interação com o ambiente - é essencial para
ídas as fobias, como aprendemos a temer o entendimento completo das contingên-
199
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
cias a que nós seres humanos somos ex- junto de cinco experimentos em que são
postos. Pode parecer “magia” algo extrema- avaliadas relações de comparação, similari-
mente não científico. Porém, a proposta da dade e oposição entre diferentes conjuntos
RFT, apesar de nova, possui evidências ro- de estímulos (pokémons, produtos fictícios
bustas e mostra como a ciência pode auxi- e prêmios potenciais) Os efeitos de trans-
liar no entendimento deste fenômeno, para formação de função foram evidentes para
alguns inacessível ou “fantástico”. Como um conjunto diferente de medidas compor-
toda perspectiva recente, sabemos que ain- tamentais, explícitas e implícitas.
da há muito a ser feito, então, mãos à obra!
Perez, Nico, Kovac, Fidalgo, & Leonardi,
(2013) e de Rose, & Rabelo (2012). Textos
PARA SABER MAIS introdutórios sobre a Teoria das Molduras
Relacionais em língua portuguesa.
Perez, de Almeida, & de Rose (2015). Nesse
estudo, os pesquisadores ensinaram redes
relacionais de similaridade e oposição e ob- REFERÊNCIAS
servaram resultados consistentes de trans-
formação de funções emocionais avaliadas Barnes-Holmes, Y., McHugh, L., & Barnes-
por instrumentos de avaliação implícita e -Holmes, D. (2004). Perspective-taking and
explícita. Theory of Mind: A relational frame accou-
nt. The Behavior Analyst Today, 5, 15–25.
Perez, Nico, Leonardi, & Kovac (2015).
Nesse estudo, os pesquisadores mostraram Barnes-Holmes, D., Barnes-Holmes, Y.,
a transferência de função de dica contex- Stewart, I. & Boles, S. (2010) A sketch of the
tual relacional em um procedimento com implicit relational assessment procedure
diversas variações, demonstrando a flexibi- (IRAP) and the elaboration and coherence
lidade do controle contextual. (REC) model. The Psychological Record, 60,
527-542
Gil, Luciano, Ruiz, & Valdivia-Salas (2012).
Esse estudo é uma das proposições iniciais Barnes-Holmes, D., Murph, A., & Barnes-
para o estabelecimento de relações hierár- -Holmes, Y. (2010) The implicit relational
quicas entre estímulos. Além disso, ele in- assessment procedure: exploring the im-
vestiga os efeitos da transformação de fun- pact of private versus public contexts and
ções em diferentes níveis hierárquicos. the response latency criterion on pro-whi-
te and anti-black stereotyping among Irish
Hughes, Barnes-Holmes, De Houwer, de individuals. The Psychological Record, 60,
Almeida, & Stewart (submetido). Esse con- 57-66.
200
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
201
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
Luciano, C. Valdivia-Salas, S., Ruiz, F. J., Mizael, T. M., de Almeida, J. H., Silveira, C.
Rodríguez-Valverde, M., Barnes-Holmes, C. & de Rose, J. C. (2016) Changing racial
D. Dougher, M. J., Cabello, F., Sánchez, V., bias by transfer of functions in equivalence
Barnes-Holmes, Y. & Guitierrez, O. (2013). classes. The Psichological Record, 66, 451-
Extinction of aversive eliciting functions 462.
as an analog exposure to conditioned fear:
Does it alter avoidance responding? Journal O´Toole, C., Barnes-Holmes, D., Murphy,
of Contextual Behavioral Science, 2, 120-134. C., O´Connor, J., & Barnes-Holmes, Y. (2009)
Relational flexibility and Human Intelligen-
Luciano, C. Valdivia-Salas, Ruiz, F. J. Rodrí- ce: extending the remit of Skinner´s verbal
guez-Valverde, M. Barnes-Holmes, D., Dou- behaviour. International Journal of Psycho-
gher, M. J., López-López, J., Barnes-Holmes, logy and Psychological Therapy, 9, 1-17.
202
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
Perez, W. F., de Almeida, J. H., & de Rose, J. of the Experimental Analysis of Behavior,
C. (2015). Transformation of meaning throu- 37, 5-22.
gh relations of sameness and opposition.
The Psychological Record, 65, 679-689. Skinner, B. F. (1978). O comportamento ver-
bal. Traduzido por M.P. Villalobos. São Pau-
Perez, W. F., Fidalgo, A. P., Kovac, R. & Nico, lo: Cultrix. (trabalho original publicado em
Y. C. (2015) The transfer of Cfunc contextual 1957).
control through equivalence relations. Jour-
nal of the Experimental Analysis of Beha- Stewart, C., Hughes, S., & Stewart, I. (2017)
vior, 103, 511-523. A contextual behavioral approach to (per-
secutory) delusions. Journal of Contextual
Rehfeldt, R. A., Dillen, J. E., Ziomek, M. Behavioral Science, 5, 235-246.
M., & Kowalchuk, R. K. (2007). Assessing
relational learning deficits in perspective- Stewart, I. (2015) The fruits of a functional
-taking in children with high-functioning approach for psychological science. Inter-
Autism Spectrum Disorder. The Psychologi- natinal Journal of Psychology, 51, 15-27.
cal Record, 57, 23–47.
Törneke, N. (2010). Learning RFT: An intro-
Cassidy, S., Roche, B., Colbert, D., Stewart, duction to Relational Frame Theory and
I., & Grey, I. M. (2016) A relational frame Its Clinical Application. Oakland: Context
skills training intervention to increase ge- Press.
neral intelligence and scholastic aptitude.
Learning and Individual Differences, 47, Vervoort, E. Vervliet, B., Bennett, M., &
222-235. Baeyens. (2014). Generalization of Human
Fear acquisition and extinction within a
Sidman, M. (1994). Equivalence relations Novel Arbitrary Stimulus Category. Plos
and behavior. A research story. Boston: Au- One, 9, 1-10.
thors Cooperative.
Vilardaga, R., Estévez, A., Levin, M. E., &
Sidman, M. (2000). Equivalence relations Hayes, S. C. (2012) Deictic relational respon-
and the reinforcement contingency. Journal ding, empathy, and experiential avoidance
of the Experimental Analysis of Behavior, as predictors of social anhedonia: further
74, 127-146. contributions from relational frame theory.
The Psychological Record, 62, 409-432.
Sidman, M., & Tailby, W. (1982). Conditional
discrimination vs. matching to sample: an Villatte, M., Villate, J. L., & Hayes, S. C.
expansion of the testing paradigm. Journal (2016) Mastering the clinical conversation:
203
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
204
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
“A coisa mais certa de todas as coisas, não vale um caminho sob o sol”
Caetano Veloso
205
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
206
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
reforçamento e punição (Catania, 1999; Ga- 2009; Bentall, Lowe, & Beasty, 1985; Calixto,
lizio, 1979; Lowe, 1979). Ponce, & Costa, 2014; Catania, Matthews, &
Shimoff, 1982; Hayes, Brownstein, Haas, &
Diversos estudos experimentais so- Greenway, 1986; Lowe, Beasty, & Bentall,
bre o comportamento governado por regras 1983; Matthews, Catania, & Shimoff, 1985;
foram conduzidos após a publicação de aná- Okouchi, 1999; Rosenfarb, Newland, Bran-
lises teóricas feitas por Skinner (1957/1978) non, & Howey, 1992; Shimoff, Catania, &
no livro “O Comportamento Verbal” e pelo Matthews, 1981). Vejamos, então, como fo-
autor (1969) no capítulo “Uma análise ope- ram os experimentos conduzidos por Gali-
rante da resolução de problemas” (ver tam- zio.
bém Skinner, 1974; para revisões da litera-
tura ver Albuquerque & Paracampo, 2010;
e Teixeira Júnior, 2009). Dentre esses es- DESCRIÇÃO DOS EXPERIMEN-
tudos, destaca-se uma série de quatro ex- TOS
perimentos conduzida por Galizio (1979).
Baseado principalmente em considerações Experimento 1 - Objetivo e Método
teóricas feitas por Skinner (1974), Galizio O objetivo desse experimento foi
chegou à seguinte proposição: Se as teorias analisar o efeito de instruções acuradas
comportamentais sobre o porquê as pesso- sobre o comportamento. Instruções acu-
as seguem instruções estiverem corretas, radas descrevem adequadamente as con-
então “o seguimento de instruções deve tingências em vigor (i.e., são verdadeiras) e
ser influenciado pelo reforço [de seguir ins- segui-las garante a obtenção dos reforços
truções], ser sujeito à extinção e deve ficar programados. O experimento foi conduzi-
sob controle discriminativo” (p. 54). Se isso do com seis universitários e o equipamento
ocorresse, poderíamos dizer que seguir re- consistiu em um painel contendo uma sé-
gras é comportamento operante. rie de lâmpadas e uma alavanca (ver Baum,
2006, p. 169 para uma representação gráfica
Os resultados obtidos por Galizio do equipamento ). No início das sessões os
(1979) lançaram luz sobre algumas variáveis participantes eram instruídos que tinham
determinantes do comportamento gover- U$ 2,00 de crédito e deviam evitar a perda
nado por regras. Além disso, seu procedi- de dinheiro. A resposta sob análise era girar
mento estabeleceu as bases para análises a alavanca 45o para a direita e essa respos-
experimentais do comportamento governa- ta adiava a perda de dinheiro (i.e., U$ 0,05)
do por regras conduzidas desde então (e.g., que era sinalizada por uma luz vermelha e
Albuquerque, de Souza, Matos, & Paracam- um som. Este é um procedimento de refor-
po, 2003; Athayde Neto, Costa, & Banaco, çamento negativo descrito como “esquiva”,
2015; Baumann, Abreu-Rodrigues, & Souza, em que o comportamento adia ou evita a
207
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
208
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
209
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
210
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
211
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
212
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
213
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
214
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
215
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
múltiplo FI FI, para três de quatro partici- tamento operante e como a história com-
pantes, as taxas de respostas foram maiores portamental pode determinar o compor-
com a instrução para responder lentamen- tamento de seguir instruções. Além disso,
te do que com a instrução para responder os resultados de Galizio indicam que, em
rapidamente. Tal controle por instruções estudos com humanos em que o interesse
não foi observado para outros participantes é nos efeitos comportamentais das contin-
expostos apenas ao múltiplo FI FI com ou gências, atenção ao controle instrucional
sem instruções. Os resultados de Okouchi deve sempre ser um cuidado. Se instruções
demonstraram que o efeito de instruções acuradas e detalhadas forem apresentadas
pode ser alterado por contingências e su- aos participantes, o comportamento pode
gerem que as instruções podem funcionar se assemelhar àquele selecionado por suas
como estímulos discriminativos. Em outras consequências mas pode estar sob controle
palavras, a instrução “pressione lentamen- da instrução fornecida. Galizio adverte que
te”, passou a controlar altas taxas de respos- “em casos nos quais o controle de respos-
tas e a instrução “pressione rapidamente” tas simples pelo programa [de reforço] é de
passou a controlar baixas taxas de repostas interesse, instruções mínimas deveriam ser
em um múltiplo FI FI devido a história de empregadas” (p. 68).
contingências que correlacionou o “lenta-
mente” ao FR e o “rapidamente” ao DRL. O fato de que o seguimento de ins-
Os participantes expostos diretamente ao trução pode ser colocado sob o controle de
múltiplo FI FI responderam em altas taxas estímulos levanta questões interessantes
na presença de “pressione rapidamente” e para a análise de interações sociais. É mais
baixas taxas na presença de “pressione len- provável que um indivíduo siga instruções
tamente. O ponto interessante é que Okou- de fontes (pessoas, instituições) que lhe for-
chi construiu uma nova relação entre uma neceram instruções acuradas e que deixe
palavra e a história de contingência que dá de seguir instruções de fontes que lhe de-
“significado” a esta palavra e não se baseou, ram instruções inacuradas (Cerutti, 1989;
como outros estudos, em palavras cujo sig- Galizio, 1979, Experimento 3). Assim, seguir
nificado foi construído na história extra ex- regras de um professor ou de um especialis-
perimental do participante. ta em determinada área do conhecimento
pode ser mais provável do que seguir regras
fornecidas por um leigo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, os resultados apresentados
Tomados em conjunto os quatro ex- por Galizio (1979) sugerem que o controle
perimentos de Galizio (1979) demonstram do comportamento humano por regras não
que o seguimento de instruções é compor- deve ser interpretado como uma limitação
216
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
217
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
regras. Os resultados sugerem que quando Albuquerque, L. C., dos Reis, A. A., & Para-
os participantes passaram pela fase de ex- campo, C. C. P. (2008). Efeitos de histórias
posição direta às contingências (com ins- de reforço, curtas e prolongadas, sobre o se-
trução mínima), antes da fase em que era guimento de regras. Acta Comportamenta-
fornecida a instrução, o comportamento da lia, 16, 305-332.
maioria dos participantes mudou quando
as contingências programadas mudaram. Albuquerque, L. C., & Paracampo, C. C. P.
(2010). Análise do controle por regras. Psico-
Baumann, Abreu-Rodrigues, & Souza logia USP, 21, 253-273.
(2009). Avaliaram os efeitos de regras e
autorregras sobre a sensibilidade do com- Albuquerque, N. M. A., Paracampo, C. C. P.,
portamento à mudança nas contingências. & Albuquerque, L. C. (2004). Análise do pa-
Participantes em diferentes grupos foram pel de variáveis sociais e de conseqüências
expostos a diferentes programas de refor- programadas no seguimento de instruções.
çamento ou a apenas um esquema de re- Psicologia: Reflexão e Crítica, 17, 31-42.
forçamento. Alguns participantes foram
expostos a regras e outros foram instruídos Athayde Neto, C. A., Costa, C. E., & Bana-
a gerar regras sobre as contingências em co, R. A. (2015). Efeitos da história compor-
vigor; participantes em um grupo controle tamental e de instruções sobre a aquisição
não receberam ou foram instruídos a gerar e a resistência à extinção em um esquema
regras. A sensibilidade do comportamento à múltiplo fr drl. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
mudança nas contingências foi maior para 31, 365-374.
participantes com uma história de exposi-
ção à diferentes programas de reforçamen- Barrett, D. H., Deitz, S. M., Gaydos, G. R., &
to e às regras ou autorregras variadas do Quinn, P. C. (1987). The effects of program-
que para participantes com uma história de med contingencies and social conditions on
exposição à apenas um esquema e a regras response stereotypy with human subjects.
ou autorregras específicas. Psychological Record, 37, 489-505.
218
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
fects of variation upon behavioral sensitivi- Cerutti, D. T. (1994). Compliance with ins-
ty to change. The Psychological Record, 59, tructions: Effects of randomness in sche-
641-670. duling and monitoring. The Psychological
Record, 44, 259-269.
Bentall, R. P., Lowe, C. F., & Beasty, A. (1985).
The role of verbal behavior in human lear- Galizio, M. (1979). Contingency-shaped and
ning: Ii. Developmental differences. Journal rule-governed behavior: Instructional con-
of the Experimental Analysis of Behavior, trol of human loss avoidance. Journal of the
43, 165-180. Experimental Analysis of Behavior, 31, 53-
70.
Buskist, W. F., & Miller Jr., H. L. (1986). Inte-
raction between rules and contingencies in Hayes, S. C., Brownstein, A. J., Haas, J. R.,
the control of human fixed-interval perfor- & Greenway, D. E. (1986). Instructions,
mance. The Psychological Record, 36, 109- multiple schedules, and extinction: Dis-
116. tinguishing rule-governed from schedule-
-controlled behavior. Journal of the Experi-
Calixto, F. C., Ponce, G. D., & Costa, C. E. mental Analysis of Behavior, 46, 137-147.
(2014). O efeito de diferentes instruções
sobre o comportamento em drl e a sensi- Hayes, S. C., Brownstein, A. J., Zettle, R. D.,
bilidade comportamental. Acta Comporta- Rosenfarb, I., & Korn, Z. (1986). Rule-gover-
mentalia, 22, 201-217. ned behavior and sensitivity to changing
consequences of responding. Journal of the
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: com- Experimental Analysis of Behavior, 45, 237-
portamento, linguagem e cognição. (D. G. 256.
Souza Trad.). Porto Alegre: Artmed.
Lowe, C. F. (1979). Determinants of human
Catania, A. C., Matthews, B. A., & Shimoff, operant behaviour. In M. D. Zeiler & P. Har-
E. (1982). Instructed versus shaped human zem (Eds.), Reinforcement and the organi-
verbal behavior: Interactions with nonver- zation of behavior (pp. 159-192). New York:
bal responding. Journal of the Experimental John, Wiley & Sons.
Analysis of Behavior, 38, 233-248.
Lowe, C. F., Beasty, A., & Bentall, R. P. (1983).
Cerutti, D. T. (1989). Discrimination theory The role of verbal behavior in human lear-
of rule-governed behavior. Journal of the ning: Infant performance on fixed-inter-
Experimental Analysis of Behavior, 51, 259- val schedules. Journal of the Experimental
276. Analysis of Behavior, 39, 157-164.
219
Capítulo XIII | Comportamento Governado por Regras
Matthews, B. A., Catania, A. C., & Shimo- Sidman, M. (1953). Two temporal parame-
ff, E. (1985). Effects of uninstructed verbal ters of the maintenance of avoidance by the
behavior on nonverbal responding: Con- white rat. Journal of Comparative and Phy-
tingency descriptions versus performance siological Psychology, 46, 253-261.
descriptions. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 43, 155-164. Skinner, B. F. (1969). Contingencies of rein-
forcement. New York, NY: Appleton-Cen-
Okouchi, H. (1999). Instructions as discri- tury-Crofts.
minative stimuli. Journal of the Experimen-
tal Analysis of Behavior, 72, 205-214. Skinner, B. F. (1974). About behaviorism.
New York, NY: Vintage Books.
Porto, T. H., Ramos, M. N., & Costa, C. E.
(2011). História de aquisição do comporta- Skinner, B. F. (1978). O comportamento ver-
mento em um múltiplo FR-DRL: diferen- bal. São Paulo, SP: Cultrix/EDUSP.
ciação e estabilidade das taxas de respostas.
Acta Comportamentalia, 19, 281-306. Skinner, B. F. (1981). Selection by conse-
quences. Science, 213, 501-504. DOI: 10.1126/
Ramos, M. N., Costa, C. E., Benvenuti, M. F., science.7244649
& Andrade, C. C. F. (2015). Efeito de regras
inacuradas e monitoramento sobre desem- Skinner, B. F. (1986). The evolution of ver-
penhos em programas de reforços. Psicolo- bal behavior. Journal of the Experimental
gia: Reflexão e Crítica, 28, 813-822. Analysis of Behavior, 45, 115-122.
Rosenfarb, I. S., Newland, M. C., Brannon, Soares, P. G., Costa, C. E., Cançado, C. R. X.,
S. E., & Howey, D. S. (1992). Effects of sel- & Cirino, S. D. (2013). Controle de estímulos
f-generated rules on the development of e história comportamental em humanos.
schedule-controlled behavior. Journal of Psicologia: Reflexão e Crítica, 26, 357-366.
the Experimental Analysis of Behavior, 58,
220
Carlos Eduardo Costa, Carlos Renato Xavier Cançado
221
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
A função do mentir em
crianças: o controle operante
na correspondência verbal
222
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
223
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
zer, sendo verificado se o relato está sob o prias consequências que podem ser sociais
controle discriminativo do comportamento ou não. Ainda que as consequências de um
previamente emitido; e (c) correspondência fazer específico sejam sociais, não neces-
dizer-fazer-dizer, na qual a correspondên- sariamente são as mesmas do dizer. Caso
cia é investigada em dois momentos, isto é, um adolescente diga aos pais que respeitará
se o fazer corresponde ao dizer prévio e se o seus professores, por exemplo, é provável
relato posterior corresponde ao comporta- que seus pais reforcem esse relato. Por ou-
mento previamente emitido. tro lado, um comportamento desrespeitoso
em relação aos professores pode ser refor-
LIoyd (2002) afirmou que há ocor- çado pelos risos dos colegas de classe. Am-
rência de correspondência quando o falan- bas consequências são sociais nesse caso,
te anuncia que irá fazer algo e o faz ou que entretanto, são distintas e podem resultar
não fará algo e não o faz (correspondência na ausência de correspondência dizer-fa-
dizer-fazer). Também ocorre correspondên- zer.
cia quando o falante diz que fez algo que
realmente fez ou que não fez algo que, de Ao enfatizar as relações de contin-
fato, não fez (correspondência fazer-dizer). gência para explicar a não ocorrência de
Portanto, são possíveis quatro tipos corres- correspondência, a Análise do Comporta-
pondência (dizer que fará e fazer; dizer que mento exclui as explicações mentalistas
não fará e não fazer; fazer e dizer que fez e como “má índole” ou “ausência de caráter”
não fazer e dizer que não fez) e quatro ti- (Lloyd, 2002). Além disso, ao contrário das
pos de não correspondência (dizer que fará explicações do senso comum, analistas
e não fazer; dizer que não fará e fazer; fazer do comportamento não pressupõem uma
e dizer que não fez; e não fazer e dizer que relação de controle a priori do comporta-
fez). A existência desse tema de investiga- mento verbal sobre o comportamento não
ção em Análise do Comportamento, segun- verbal. Ainda assim, o controle verbal do
do LIoyd, baseia-se no pressuposto de que comportamento possui grande relevân-
o fazer e o dizer são comportamentos dis- cia aplicada, o que justifica a investigação
tintos e que, portanto, não estão necessa- das variáveis ambientais que interferem na
riamente relacionados. Tais comportamen- correspondência e, principalmente, a ten-
tos podem ocorrer em momentos distintos tativa de criar condições que favoreçam
e sob o controle de variáveis específicas. O a correspondência entre o dizer e o fazer.
dizer é obrigatoriamente controlado por re- Em uma psicoterapia, por exemplo, é co-
forçamento social, ou seja, aquele provido mum os clientes verbalizarem irão emitir
por outra pessoa, na medida em que se tra- certos comportamentos (e.g., se matricular
ta de um comportamento verbal (Skinner, numa autoescola para motoristas habilita-
1957). Já o fazer é determinado por suas pró- dos como parte do tratamento para voltar
224
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
a dirigir) sem que essa verbalização seja em ambos os estudos de Critchifield e Pe-
acompanhada do comportamento corres- rone, por Brino e de Rose, e Cortez e cols.,
pondente (i.e., se matricular na autoescola uma vez que as crianças participantes ti-
em si). Desse modo, é muito importante in- nham que relatar erros em tarefas diversas,
vestigar variáveis que afetam a correspon- e como erros costumam ser punidos, a pre-
dência entre dizer e o fazer de modo a au- cisão desses relatos é empobrecida frente à
mentar as chances de prever e controlar o dos relatos de acertos.
comportamento no contexto aplicado.
A outra condição experimental co-
Os procedimentos comumente uti- mumente utilizada é o reforçamento de re-
lizados em pesquisas sobre correspondên- latos (correspondentes ou não) específicos
cia verbal envolvem três tipos de condições (Paniagua & Baer, 1982; Ribeiro, 1989). Essa
experimentais (Beckert, 2005; LIyod, 2002). condição tende a reduzir a correspondência
Uma linha de base, na qual os reforçadores verbal. Esse tipo de manipulação é muito
não são contingentes a relatos ou compor- importante, uma vez que demonstra que a
tamentos relatados específicos, nem à cor- correspondência verbal é uma propriedade
respondência entre eles. As condições de do comportamento que é afetada por vari-
linha de base são delineadas para verificar áveis ambientais. Na sequência dizer-fazer,
a correspondência verbal decorrente da o reforçamento contingente a um dizer pré-
história pré-experimental dos participantes vio específico nem sempre é acompanhan-
(Ribeiro, 1989). do do fazer posterior. No estudo de Pania-
gua e Baer (1982), eram mostradas fotos de
Com exceção de alguns experimen- brinquedos que estariam disponíveis para a
tos como, por exemplo, os de Critchifield e criança brincar. Sempre que esta dizia que
Perone (1990; 1993), Brino e de Rose (2006), brincaria com um brinquedo previamen-
Cortez, de Rose e Montagnoli (2013), a gran- te preterido por ela em um pré-teste, o seu
de parte dos estudos sobre correspondência relato era reforçado. Entretanto, na situa-
reportam alto índice de correspondência ção de brincar em que todos os brinquedos
verbal nas condições de linha de base. Es- estavam disponíveis, a criança brincava
ses resultados corroboram a pressuposição com um brinquedo diferente do que havia
de Skinner (1957) acerca do extenso treino anunciado – constituindo uma situação de
da comunidade verbal em propiciar relatos ausência de correspondência dizer-fazer.
correspondentes. Entretanto, segundo Me- Na sequência fazer-dizer, são reforçadas
deiros (2013), caso o comportamento rela- topografias de relato específicas indepen-
tado tenha histórico de punição, é possível dentemente se estas correspondem ou não
que a correspondência seja enfraquecida. ao comportamento relatado. Com esse pro-
Esse foi justamente o resultado reportado cedimento, Pergher (2002), Ribeiro (1989)
225
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
2
Os mandos são operantes verbais cujas respostas são controladas por
Até a publicação do estudo de Ribei- reforçadores específicos. Pedidos, súplicas e ordens são exemplos de
mandos na linguagem cotidiana. Quando uma criança pede uns troca-
ro (1989), o foco das pesquisas foi sobre a dos para o pai para comprar doces na padaria, está emitindo um man-
do, uma vez que o que controla a sua resposta verbais é o dinheiro a
correspondência dizer-fazer, na medida em ser dado pelo pai.
226
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
227
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
228
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
fundamental para ampliar o controle do re- sob o controle das consequências para os
forçamento sobre o relato de brincar inde- relatos específicos e não sob o controle do
pendentemente da correspondência. Essas comportamento de brincar prévio da crian-
variáveis sociais teriam permitido a exposi- ça. Outro aspecto demonstrado pelo estu-
ção às contingências de reforçamento para do de Ribeiro foi o efeito do reforçamento
relatos de brincar não correspondentes, sobre as distorções de outros participantes
os quais produziam mais reforçadores que (i.e., aprendizagem por observação) e das
os relatos correspondentes nas condições instruções (i.e., regras) fornecidas pelos
de Reforçamento de Relato de Brincar em próprios participantes na Condição de Re-
Grupo. forçamento de Relato de Brincar em Grupo
sobre a diminuição na acurácia do relato.
O papel do reforçamento na manu- Esses resultados apontaram para o efeito
tenção da correspondência ou não do relato de variáveis sociais antecedentes sobre a
fica claro com o retorno, em todos os parti- correspondência verbal, além das consequ-
cipantes, ao padrão de correspondência ob- ências para os relatos correspondentes ou
servado durante a condição Linha de Base, não.
que voltou a ser observado nas condições
de Reforçamento de Correspondência e de
Reforçamento Não Contingente. Nestas DESDOBRAMENTOS
duas fases, a apresentação de reforçadores
passou a ser contingente à correspondên- O experimento de Ribeiro (1989) foi
cia e não ao mero relato de brincar. A partir replicado no Brasil em pelo menos cinco
da variação da correspondência dos relatos estudos (Dias, 2008; Ferreira, 2009; Ferrei-
de brincar de cinco de oito participantes do ra, Neves, Simonassi, Andrade & Dias, 2014;
estudo em função das condições experi- Pergher, 2002; Sadi, 2002). Sadi (2002), por
mentais às quais foram submetidos, pode- exemplo, replicou o estudo de Ribeiro com
-se concluir que a correspondência verbal alterações procedimentais mínimas, como
é uma propriedade do comportamento fun- por exemplo a adição apenas do registro
ção das contingências de reforçamento. de verbalizações espontâneas das crianças.
Já Pergher (2002), adicionou uma condição
Ribeiro (1989) discute os relatos cor- na qual a criança observava outra criança
respondentes como tatos, na medida em brincando e era solicitada a relatar o com-
que as respostas verbais estão sob o contro- portamento de brincar da colega. Ambos
le do comportamento de brincar prévio da estudos replicaram os resultados obtidos
criança (SD não verbal). Por outro lado, os por Ribeiro, não importando se o compor-
relatos não correspondentes seriam instân- tamento relatado era o próprio compor-
cias de mando, na medida em que estariam tamento ou o comportamento de outras
229
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
crianças (Pergher, 2002). Entretanto, os par- (1989), Dias (2008) e Ferreira et al. (2014) em
ticipantes, na condição de Reforçamento da que o experimentador apontava para uma
Correspondência em Grupo, levaram mais fotografia do brinquedo ou do alimento e
sessões para passar a emitir relatos corres- perguntava se a criança havia brincado/co-
pondentes que os participantes do estudo mido ou não.
de Ribeiro.
Ferreira (2009) levantou algumas hi-
Os experimentos de Dias (2008) e póteses acerca das diferenças nos resulta-
Ferreira et al. (2014), trocaram o “fazer” utili- dos de seu estudo e o de Dias (em relação
zado no experimento de Ribeiro (1989) (i.e., ao de Ribeiro (1989). Em primeiro lugar, nos
o brincar) pelo comportamento de comer. estudos de Ferreira e de Dias, o fazer da
Participaram destes dois experimentos criança deixava um registro evidente, como
crianças obesas e não obesas (Dias) e crian- os alimentos que sobraram ou as folhas de
ças e adultos também obesos e não obesos papel com as operações concluídas ou não.
(Ferreira et al.). Em ambos estudos foram O mesmo não ocorre nos estudos do relato
adicionadas fases de grupos heterogêneos de brincar, que era filmado sem o conhe-
e homogêneos em relação aos participantes cimento das crianças. Diante dos registros
acima (obesos) e abaixo (não obesos) do ín- dos comportamentos de fazer operações
dice de massa corporal (IMC). Os dois estu- matemáticas e de comer, haveria a possi-
dos não observaram a variação dos relatos bilidade de checagem a qualquer momen-
não correspondentes em função das dife- to pelos experimentadores (ainda que esta
rentes condições experimentais. Ou seja, nunca tivesse ocorrido), o que poderia ter
quando o brincar foi trocado pelo compor- diminuído a probabilidade de distorção do
tamento de comer, os resultados de Ribeiro relato.
não foram replicados, ainda que Dias tenha
observado um aumento na frequência do Ferreira (2009) também comenta que
comportamento de comer para alguns par- nenhum dos participantes de seu estudo e
ticipantes nas condições de Reforçamento do estudo de Dias (2008) emitiu relatos não
do Relato Individual e em Grupo de Comer. correspondentes de forma sistemática nas
condições de Reforçamento de Relato Indi-
Ferreira (2009) também não replicou vidual ou em Grupo. Desse modo, é impro-
os resultados obtidos por Ribeiro (1989) ao vável que as condições de Reforçamento
trocar o brincar pela tarefa de realizar ope- de Relato em Grupo tenham sido eficazes
rações matemáticas. Além disso, no estudo em propiciar mais relatos distorcidos como
de Ferreira, na etapa de relatar, perguntava- nos estudos de Ribeiro (1989), Sadi (2002) e
-se à criança quantas “continhas” ela havia Pergher (2002). Como todas as crianças nos
feito, ao contrário dos estudos de Ribeiro estudos de Ferreira e Dias apresentaram
230
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
uma alta frequência de relatos correspon- as crianças mais novas talvez precisassem
dentes, as contingencias de reforçamentto ser instruídas ou terem acesso a modelos se
para relatos específicos correspondentes ou comportando de acordo com as contingên-
distorcidos não modelaram os relatos não cias em vigor para passarem a distorcer os
correspondentes. Desse modo, a frequência relatos nas condições de Reforçamento de
de relatos distorcidos era baixa na condição Relato em Grupo. Por outro lado, os dados
de Reforçamento de Relatos em Grupo, di- de Ferreira et al. (2014) com adultos suge-
ficultando a aprendizagem por observação rem que essa não é uma variável relevante,
de modelos. Também é improvável que as já que os relatos distorcidos de seus parti-
crianças desses estudos tenham formulado cipantes adultos replicaram os apresenta-
regras acerca da possibilidade de distorção dos pelas crianças, os quais não variaram
do relato como fizeram as crianças do estu- de acordo com as condições experimentais.
do de Ribeiro (1989). Sendo assim, os efei- Talvez as diferenças quanto ao tipo de fazer
tos de instruções e de modelos reportados dos estudos de Dias (2008), Ferreira (2009) e
nos estudos de Ribeiro (1989), Sadi (2002) e Ferreira et al. (2014) em relação aos demais
Pergher (2002) parecem não ter ocorrido em estudos, conforme discutido acima, possam
Ferreira (2009), Dias (2008) e Ferreira et al. ser relevantes para entender a baixa frequ-
(2014). ência de relatos distorcidos mesmo em par-
ticipantes adultos.
Ribeiro (1989) e Sadi (2002) sugeri-
ram que a idade dos participantes talvez te- A correspondência verbal fazer-di-
nha sido uma variável, não controlada, que zer continuou sendo investigada em di-
teve efeito na correspondência verbal dos versos outros estudos no Brasil ainda que
participantes, já que nas condições de Re- com a metodologias distintas da utilizada
forçamento de Relato Individual, apenas as por Ribeiro (1989). Entretanto, com exce-
crianças mais velhas começaram a distorcer. ção dos trabalhos de Critchfield e Perone
Os autores sugeriram que as crianças mais (1990; 1993), fora do país, a atenção se vol-
velhas, ao contrário das mais novas, prova- tou novamente para a direção dizer-fazer
velmente já passaram por contingências de (e.g. Baer & Detrich, 1990). Foi observada
reforçamento de relatos não corresponden- uma queda no interesse pelo tema durante
tes ou de punição de relatos corresponden- a década de 1990, sendo retomado nos anos
tes. Desse modo, seria mais provável que 2000 (LIoyd, 2002; López, Valverde & Lu-
as contingências de reforçamento para os ciano, 2011). Quanto aos estudos no Brasil, é
relatos de brincar na condição de Reforça- possível supor que, ainda que não se tratem
mento de Relato Individual, ainda que não de replicações, estes estudos tenham sido
correspondentes, passassem a exercer con- inspirados pelo trabalho de Ribeiro, pois o
trole sobre o seu comportamento verbal. Já estudo foi sistematicamente citado e descri-
231
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
232
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
233
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
234
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
está exposta é o seu relato verbal. Desse O presente capítulo buscou permitir
modo, caso o relato verbal não seja confiá- ao seu leitor compreender o experimento
vel, teremos muitas dificuldades para pre- desenvolvido por Ribeiro (1989), tanto as
dizer e controlar o comportamento que não modificações metodológicas quanto con-
se tem acesso direto. A área de investiga- ceituais por ele proposta. Além disso fo-
ção da correspondência verbal na direção ram discutidos os desdobramentos possi-
fazer-dizer, inaugurada por Ribeiro (1989), bilitados pelo mesmo na produção da área
é fundamental para a atuação do psicólo- de correspondência verbal. Como foi visto,
go no contexto aplicado, o qual, diante das esse desdobramento é multifacetado, o que
condições ambientais, terá mais condições marca ainda mais a sua importância para
de avaliar um relato como fonte confiável área do comportamento verbal como um
de acesso às informações ou não. Ademais, todo.
terá condições de, ao manipular certos as-
pectos do ambiente (e.g., frequência de che-
cagem, reforçamento diferencial de relatos PARA SABER MAIS
correspondente, solicitação de relatos via
perguntas abertas), afetar a correspondên- Antunes & Medeiros (2016). Estudo que in-
cia verbal em contexto aplicado. vestiga o efeito da probabilidade de refor-
çamento para relatos precisos sobre a cor-
Extrapolando a área especifica de respondência verbal num jogo de cartas em
pesquisa da correspondência verbal, o es- crianças.
tudo de Ribeiro (1989) se soma, de forma
reconhecidamente robusta, ao banco de Beckert (2005). Uma revisão de literatura
dados que corroboram o caráter operante em correspondência verbal.
do comportamento verbal. Ao demonstrar
a sensibilidade da frequência de respostas Cortez, de Rose, & Miguel (2014). Estudo
verbais às variáveis antecedentes e conse- que investiga a correspondência do relato
quentes, Ribeiro (1989) descreve o que, na de erros, sendo manipulando o tipo de ta-
Análise do Comportamento, é denominado refa relatada
controle. Assim, Ribeiro permite sustentar
a ideia de que tanto topografia quanto fre- Critchfield & Perone (1990). Estudo no qual
quência de respostas verbais seriam esta- os participantes eram solicitados a relatar
belecidas e mantidas por sua relação com se haviam acertado ou não cada tentativa
variáveis ambientais. Em outras palavras, o em um procedimento de escolha atrasada
comportamento verbal poderia ser explica- de acordo com modelo, sendo manipuladas
do a partir da noção de operante (Skinner, as condições de relato.
1957).
235
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
236
Capítulo XIV | Correspondência Verbal
Leme, R. C., & Pereira, M. E. M. (2012). Cor- Paniagua, F. (1990). A procedural analysis
respondência verbal: a relação entre os of correspondence training techniques. The
comportamentos verbal e não verbal de Behavior Analyst, 13, 107-119.
professores. Acta Comportamentalia, 20,
71-85. Paniagua, F., & Baer, D. (1982) The analysis
of correspondence training as a chain rein-
Lloyd, K. E. (2002). A review of correspon- forceable at any point. Child Development,
dence training: suggestions for a revival. 53, 786-798.
The Behavior Analyst, 25, 57–73.
Pergher, N. K. (2002). De que forma as coisas
López, M. H., Valverde, M. R., & Luciano, que nós fazemos são contadas por outras
C. (2011). Contextual control and genera- pessoas? Um estudo de correspondência
lization of say-do correspondence: A pre- entre comportamento não-verbal e verbal.
237
Carlos Augusto de Medeiros, Lucas Ferraz Córdova
238
Marcelo Borges Henriques
Do indivíduo ao grupo:
simulações experimentais
de relações sociais com
animais não-humanos
Skinner, B. F. (1962). Two “synthetic social relations”. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 5, 531-533.
“Many social practices essential to the welfare of the species involve the control of
one person by another, and no one can suppress them who has any concern for hu-
man achievements”
(Skinner, 1971/1976, p.45)
239
Capítulo XV | Competição e Cooperação
240
Marcelo Borges Henriques
individuais (tipicamente, ratos albinos). Es- diárias de vida. Portanto, por si só, no que
tudantes que tiveram seu primeiro contato diz respeito a qualquer medida de gradação
com a área por meio do laboratório didático de complexidade, a escala não dá nenhuma
devem se perguntar: “Ok, mas como pode indicação do grau de complexidade dos or-
uma teoria que só faz experimentação com ganismos listados. A escala não é em termos
animais não-humanos individuais ser uti- de complexidade, mas de tempo: o momen-
lizada para explicar relações sociais huma- to provável na história do planeta em que
nas? Como o trabalho experimental com cada espécie surgiu e que semelhanças cada
animais não-humanos pode ser estendido uma guarda com outras espécies extintas e
ao comportamento humano, incluindo as vivas (Hodos & Campbell, 1969). Portanto,
relações sociais”? O estudante que se vê o homem não é mais complexo que outros
incomodado com estas questões está ma- animais, ele é simplesmente distinto.
nifestando uma desconfiança legitima que
merece alguns esclarecimentos. A singularidade de cada espécie tam-
bém não pode ser usada como ataque con-
Há pelo menos duas possibilidades tra a extensão de princípios. Os princípios
para explicar por quê o estudante se sen- da seleção natural são aplicáveis a qual-
te incomodado com a extensão de princí- quer organismo vivo, independentemente
pios derivados de pesquisas com animais de suas especificidades. O mesmo poderia
não-humanos. Uma delas é a má compre- ser dito sobre os princípios comportamen-
ensão sobre a teoria evolutiva, que o leva tais básicos. Uma das premissas centrais na
a expressar uma concepção de que seres Análise Comportamento é a ideia de que os
humanos são animais “superiores” na esca- processos comportamentais são adaptações
la evolutiva. Se fossemos mais complexos, biológicas selecionadas. O comportamento
superiores e especiais, então seria impossí- é uma das propriedades mais importantes
vel explicar o comportamento humano por da vida dos organismos, uma vez que é um
meio de estudos com outros animais, certo? meio de ligação com o seu ambiente. Pode-
Contudo, este é um erro comum de inter- ríamos dizer que o comportamento desem-
pretação. A continuidade filogenética ou penha um papel crítico na evolução dos
escala evolutiva não é linear. A continuida- organismos vivos e, por isso, os processos
de filogenética é representada por árvores, de aprendizagem foram selecionados as-
cada galho representando ramificações de sim como outras características adaptativas
linhas prováveis de ascendência evolutiva. (Skinner, 1984). Logo, é possível abstrair das
Uma característica importante da escala é pesquisas com animais não-humanos prin-
a consideração de descontinuidades como cípios que operam na seleção de compor-
resultado da divergência de linhas evoluti- tamentos de qualquer espécie animal. Isto
vas, e a extinção de muitas formas interme- não significa que não hajam singularidades.
241
Capítulo XV | Competição e Cooperação
242
Marcelo Borges Henriques
243
Capítulo XV | Competição e Cooperação
ser obtido com animais não-humanos por peso corporal. O primeiro passo foi condi-
meio do controle de variáveis ambientais. cionar os pombos, separadamente, a bicar
uma bola de pingue-pongue padrão, fixada
à borda da mesa. O passo seguinte foi al-
O Experimento de Competição ternar a posição da bola ao longo da borda
O primeiro experimento relatado por da mesa e, posteriormente, a bola era dei-
Skinner (1962) procurou simular um jogo xada livre para rolar. No momento em que
de pingue-pongue com pombos, um con- a bola era deixada livre, o comportamento
texto competitivo típico do comportamen- dos pombos somente era reforçado se a bola
to social em humanos. O equipamento foi rolasse para um ponto predeterminado, li-
descrito como uma versão “minimamente” geiramente distante da borda. Depois de o
mecanizada de um equipamento já existen- pombo conseguir jogar a bola para além do
te. O diferencial do equipamento utilizado centro da mesa, o esquema de liberação do
por Skinner era que a bola era movida pelos reforçamento era modificado para ter certa
próprios sujeitos, e não por um dispositivo intermitência (i.e., nem todas as respostas
motor. O equipamento consistia basica- eram reforçadas). Somente após a manu-
mente em uma mesa com altura convenien- tenção do repertório de jogar a bola para a
te aos animais e com uma leve inclinação calha, localizada no lado oposto da mesa,
partindo do centro para ambos os lados. foi que os pombos foram expostos ao siste-
Dois pombos podiam ser posicionados um ma competitivo.
frente ao outro, prevenindo que os pombos
pudessem voar ou se deslocar de suas po- A nova condição experimental im-
sições sobre o equipamento. Uma bola de plicava em colocar ambos pombos um de
pingue-pongue podia ser posicionada no frente ao outro e deixar a bola rolar em dire-
centro da mesa de tal forma que quando ção a qualquer um dos animais, o qual po-
solta, poderia rolar para qualquer um dos deria bicar a bola em direção ao lado opos-
lados. Alguns centímetros antes do final da to. A obtenção dos reforços (i.e., alimento)
mesa, em ambos os lados, havia uma calha fazia analogia à obtenção de pontos no jogo
onde a bola poderia cair. Ao cair na calha, de pingue-pongue. Na contingência com-
um interruptor ali localizado acionava o petitiva o comportamento de um indivíduo
comedouro do lado oposto, fornecendo ali- era reforçado em detrimento do outro, ou
mento para o pombo ali posicionado. seja, a “vitória” de um implicava a “derro-
ta” do outro. Uma vez que a razão de refor-
Os passos para se obter a relação ços produzidos por cada pombo poderia ser
competitiva entre os pombos foram sucin- extremamente desproporcional, o compor-
tamente descritos no artigo. Os pombos tamento do pombo mal sucedido poderia
eram privados de alimento para controle de entrar em extinção. Sendo assim, as parti-
244
Marcelo Borges Henriques
das eram mantidas por meio do controle de acesso ao alimento. Dois pombos privados
peso dos animais, aumentando a privação de alimento foram treinados separadamen-
do pombo frequentemente derrotado ou di- te a bicar os discos. Somente um dos três
minuindo a privação do pombo frequente- discos funcionava por vez de uma maneira
mente bem sucedido. semialeatória. Após o estabelecimento da
resposta de bicar os discos, os pombos fo-
ram colocados juntos no equipamento com
Resultados e Discussão uma nova contingência em vigor. A con-
A descrição de Skinner (1962) é ane- tingência cooperativa não só exigia que os
dótica e relata o que o público em geral pode- pombos “encontrassem” qual dos três dis-
ria observar da situação. Uma vez estabele- cos estava em funcionamento, mas tam-
cida a história de interação com o ambiente bém que as respostas de ambos os pombos
experimental e colocados um de frente ao ocorressem com uma diferença de meio se-
outro, em lados opostos, cada pombo bica- gundo (0,5 s) uma da outra em discos cor-
va efetivamente a bola de pingue-pongue, respondentes. A relação condicional pro-
jogando-a para o lado oposto. Os pombos gramada na contingência cooperativa era a
bicavam a bola de um lado para o outro até seguinte: se bicadas ≤ 0,5 s uma da outra,
que ela eventualmente rolasse para dentro em discos correspondentes, então comida
da calha no lado oposto. Skinner relata que para ambos; se bicadas > 0,5 s uma da outra
os animais rebatiam a bola em sequências ou em discos diferentes, então comida não
de cinco a seis rebatidas. Entretanto, o au- era produzida. Procedimentos de privação
tor não observou evidências de variações foram aplicados a ambos pombos (e.g., um
(e.g., em termos de velocidade ou direção) dos pombos poderia ser submetido a um ní-
nas bicadas dos pombos de modo a produ- vel de privação maior do que o outro), de
zir a derrota do adversário. modo a alterar a frequência e alternância de
bicadas entre eles.
O Experimento de Cooperação
O segundo experimento descrito por Resultados e Discussão
Skinner (1962) foi uma simulação do fenô- Skinner (1962) descreve que após
meno cooperativo. O equipamento consis- uma prolongada exposição à contingência
tia em duas câmaras experimentais uni- cooperativa, os pombos passavam a bicar
das lado a lado, separadas por uma divisão discos correspondentes quase que simulta-
transparente. Em cada compartimento en- neamente. Skinner também observou uma
contrava-se uma fileira vertical de três dis- divisão de trabalho entre os dois pombos.
cos de resposta vermelhos, e abaixo de cada Um dos pombos explorava os discos sendo
arranjo de discos o comedouro que dava sempre o primeiro a bicar, e o outro pombo
245
Capítulo XV | Competição e Cooperação
246
Marcelo Borges Henriques
mesma espécie (um estímulo social). Todos zidos). No estudo de cooperação de Skinner,
os autores encontraram evidências de que o reforço era contingente à produção de um
diferentes animais podem discriminar estí- efeito ambiental que só podia ser produzido
mulos sociais de coespecíficos, sejam eles a com o comportamento conjunto dos indi-
presença vs. a ausência de outro indivíduo víduos.
(e.g., Husted & Mckenna, 1966, com ratos),
a diferença na taxa de repostas emitida por Entretanto, os estudos citados aci-
outro indivíduo (e.g., Danson & Creed, 1970, ma (e.g., Danson & Creed, 1970; Husted &
com macacos-esquilo) ou a localização da Mckenna, 1966) são úteis para discutir o
resposta do outro indivíduo (e.g., Nakashi- resultado do estudo sobre cooperação de
ka, 2004, com pombos). Skinner (1962): esses estudos discutem a
dificuldade de se gerar evidências de con-
É verdade que os estudos de Danson trole discriminativo por estímulos sociais.
e Creed (1970), Hake, et.al. (1983), Husted e Quando o estímulo não é o comportamen-
Mckenna (1966), Wiest (1969) e Nakashika to de outro indivíduo, há a possibilidade de
(2004) apresentam uma diferença crucial se controlar diferentes dimensões do estí-
em relação ao experimento de coopera- mulo, de forma que ele seja padronizado de
ção de Skinner (1962). A contingência so- apresentação à apresentação (e.g., intensi-
cial criada pelos autores nestes estudos era dade do comprimento de onda luminosa,
uma contingência individual. Os pesqui- o intervalo de tempo entre apresentações
sadores pré-definiam os papéis desempe- dos estímulos, entre outras). Quando o es-
nhados por cada sujeito no experimento. O tímulo é o comportamento de outro indi-
comportamento de um sujeito servia como víduo, inúmeras propriedades podem ser
fonte de estímulos, e o comportamento do diferentes de ocorrência a ocorrência, além
outro servia como variável dependente do da dificuldade se isolar o evento de outros
treino de controle de estímulos. O animal estímulos não sociais presentes no expe-
cujo comportamento servia como um estí- rimento (e.g., a localização das respostas é
mulo discriminativo estava exposto à sua um estímulo não social que pode exercer
própria contingência. Já o comportamento controle sobre o comportamento do outro
do sujeito experimental era reforçado dife- indivíduo pelo emparelhamento entre lo-
rencialmente para responder a determina- cal e disponibilidade de alimento), dificul-
das características do comportamento do tando interpretações. Hake, et al. (1983), por
sujeito-estímulo (e.g., em Danson & Creed, exemplo, argumentaram que os resultados
1970, a taxa alta de respostas do sujeito-es- dos estudos sobre comportamento social,
tímulo sendo o estímulo discriminativo e a de maneira geral,
taxa baixa sendo o estímulo delta, i.e., na
presença da qual reforços não eram produ-
247
Capítulo XV | Competição e Cooperação
248
Marcelo Borges Henriques
249
Capítulo XV | Competição e Cooperação
250
Marcelo Borges Henriques
251
Capítulo XV | Competição e Cooperação
Domjan, M., & Purdy, J. E. (1995). Animal Husted, J. R., & McKenna, F. S. (1966). The
research in psychology: More than meets use of rats as discriminative stimuli. Journal
the eye of the general psychology student. of the Experimental Analysis of Behavior, 9,
American Psychologist, 50, 496–503. 677-679.
Epstein, R. (1981). On pigeons and people: A Lattal, K. A. (2001). The human side of ani-
preliminary look at the Columban Simula- mal behavior. The Behavior Analyst, 24,
tion Project. The Behavior Analyst, 4, 43. 147-161.
Hake, D. F. (1982). The basic-applied conti- Łopuch, S., & Popik, P. (2011). Cooperative
nuum and the possible evolution of human behavior of laboratory rats (Rattus norve-
operant social and verbal research. The gicus) in an instrumental task. Journal of
252
Marcelo Borges Henriques
253
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
Metacontingências:
investigação experimental
da seleção cultural
Vichi, C., Andery, M. A. P. A., Glenn, S. S. (2009). A metacontingency experiment: The effects of
contingent consequences on patterns of interlocking contingencies of reinforcement. Behavior
and Social Issues, 18, 41-57.
254
Capítulo XVI | Cultura
255
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
dico der tapas no bumbum do bebê, após No caso do choro, uma pessoa pode
algumas tentativas, a mera presença do aprender durante sua história de vida a cho-
médico poderá disparar a resposta de cho- rar se esta resposta produzir como consequ-
ro na criança. Note que bebês não nascem ência retirada da demanda de trabalho. Po-
com a capacidade de chorar dada a mera rém, em um grupo de pesquisas, ao chorar
presença do médico, mas em sua vida, se a após a demanda do orientador, os demais
situação acima ocorrer, então o recém-nas- membros do grupo podem punir o compor-
cido aprenderá a chorar dada a presença do tamento da colega reclamando da mesma.
médico. Assim, o grupo estabelece que tal resposta é
passível de punição. Ou seja, o ambiente so-
Outra possibilidade de aprendiza- cial criado pelos membros do grupo de pes-
gem de comportamentos durante a história quisa estabelece condições para supressão
de vida se dá pela relação contingente entre de comportamentos. Este exemplo ilustra a
respostas e suas consequências. O bebê, ao tradição de analistas do comportamento in-
chorar, é colocado no seio da mãe, com isso teressados no terceiro nível de seleção, que
passa a ter acesso ao leite materno. Essa re- investigam de que modo o comportamen-
lação estabelecerá que a resposta de chorar to individual é determinado pelo ambien-
tem como consequência o alimento (Tou- te social (e.g., Baum, Richerson, Efferson,
rinho, 2009). Portanto, no futuro, em situ- & Paciotti, 2004; Cohen, 1962; Schmitt &
ações nas quais o bebê estiver privado de Marwell, 1968; Schmitt, 1998; Tan & Hacke-
alimento, ele provavelmente emitirá a res- nberg, 2012, 2016). Nesses casos, aspectos
posta de chorar que no passado foi reforça- da cultura são entendidos como variáveis
da com a apresentação de alimento. independentes e os comportamentos são
investigados como variáveis dependentes
O terceiro nível de seleção descrito (Andery, 2011).
por Skinner (1981) é a cultura. Por cultura,
entende-se a manutenção do ambiente so- Porém, a cultura também pode ser
cial de um grupo (Andery, 2011). Nesse sen- entendida como variável dependente. Nes-
tido, comportamentos são selecionados por se caso, o interesse de analistas do compor-
atenderem critérios sociais de reforçamento tamento é compreender como práticas cul-
e punição estabelecidos por um dado grupo turais são mantidas. Práticas culturais são
de indivíduos. Por critérios sociais nos re- comportamentos socialmente aprendidos
ferimos a situações nas quais o comporta- que são similares e que são transmitidos
mento de um organismo é reforçado ou pu- entre diferentes gerações de membros de
nido por consequências que são mediadas um grupo de indivíduos (Glenn, 2004; Sam-
por outros indivíduos. paio & Andery, 2010). Por exemplo, analis-
tas do comportamento tentam explicar por
256
Capítulo XVI | Cultura
quê uma pratica cultural como parar o carro tingência: estímulo discriminativo (SD), res-
diante da faixa de pedestres se inicia (Séné- posta (R) e estimulo reforçador (SR). Note
chal-Machado & Todorov, 2008), ou ainda que são apresentadas duas possibilidades
politicas públicas, como programas de con- de entrelaçamentos, mas existem muitas
trole de reprodução de animais abandona- outras possibilidades. Escolhemos estas
dos e que habitavam as ruas da cidade de pois representam duas situações distintas
São Carlos (Bortoloti & D’Agostino, 2007) . no que se refere a produção de reforços.
Esse tipo de análise tem como objeto o que Na primeira, apresentada no quadro da es-
Skinner (1981) especificou na epígrafe des- querda, a coordenação de respostas produz
se capítulo: a evolução da cultura. Quando diferentes reforçadores para cada organis-
estudamos a evolução da cultura, entende- mo. Este é o caso dos pombos cooperativos
mos que as consequências que selecionam descritos por Skinner (1962). Naquele estu-
práticas culturais agem sobre o grupo e não do, quando os pombos coordenavam suas
como consequências individuais do com- respostas bicando cada qual em um disco
portamento de cada membro do grupo. Mas diferente, porém ao mesmo tempo, reforços
o grupo não é um organismo que se com- eram liberados para cada organismo.
porta. Quem se comporta são os indivíduos
membros do grupo. Assim, teoricamente,
um grupo não pode ser sensível às conse-
quências. Então como pode uma consequ-
ência agir sobre o grupo?
257
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
nação das respostas de vários organismos. Glenn (1986, 1988, 1991, 2004) des-
Além disso, a consequência – pedra remo- creveu um tipo de programação de contin-
vida – é partilhada por todos os organismos gências chamada metacontingência para
envolvidos. descrever a seleção de práticas culturais.
Como pode ser visto na Figura 2, o conceito
Em ambos os casos apresentados na descreve uma relação de dependência en-
Figura 1, é o comportamento de organismos tre culturantes e consequências culturais
individuais que é sensível às consequências (Glenn et al., 2016). Culturantes se referem
(Todorov, 2012). Mas no estabelecimento e à contingências comportamentais entre-
manutenção de uma cultura, a produção laçadas (CCEs) e seus produtos agregados
das consequências depende do “conjunto”, (Hunter, 2012). Desse modo, assim como o
do entrelaçamento, dos comportamentos operante é entendido como uma classe de
dos indivíduos. respostas que é controlada por uma mesma
consequência, o culturante seria uma classe
Portanto, não se afirma que o “grupo” de CCEs mais PA que estão sob controle das
é sensível às consequências. A passagem mesmas consequências culturais. O produ-
de Skinner (1981) que serve como epígrafe to agregado (PA) é um efeito ambiental que
desse capítulo ressalta que a recorrência da só pode ser produzido pelo comportamento
prática dependerá dos efeitos sobre o grupo de diversos indivíduos que estão envolvidos
como um todo. Por exemplo, a adoção de em CCEs (Vichi & Tourinho, 2011). Em uma
uma nova prática de pesca dependerá das programação de metacontingência, caso o
consequências para o grupo: mesmo que PA atenda um critério, consequências cul-
um dos membros do grupo tenha menos lu- turais (CC) são produzidas. Essas consequ-
cro individualmente, se o grupo como um ências culturais alteram a probabilidade fu-
todo lucrar mais, é provável que a nova prá- tura de recorrência dos culturantes.
tica se torne mais frequente do que a antiga.
Culturante O caso da pesca ilustra esta situação
(Costa, Nogueira e Vasconcelos, 2012). Ima-
gine um grupo de pescadores que se reúne
para pescar em alto mar. Este grupo de pes-
cadores utiliza a técnica da tarrafa. Tarrafas
são redes artesanais redondas que contém
pesos em suas bordas. Os pescadores jogam
as tarrafas no mar e puxam de volta. Os
Figura 2. Diagrama de uma metacontingência. Os comportamentos pescados ficam presos nessas tarrafas. Nes-
operantes estão envolvidos em contingências entrelaçadas. Em con-
junto, os comportamentos geram um produto agregado (PA). Como o te caso, o barco de pesca possui um capitão
PA atende o critério ambiental uma consequência cultural (CC) é li-
berada. que navega a embarcação, pescadores, lim-
258
Capítulo XVI | Cultura
padores de peixe e pessoas que armazenam xes ficam presos nas redes de arrastro e
os peixes em recipientes refrigerados. Cada são retirados do mar. Novamente, o com-
indivíduo envolvido na pescaria tem seu portamento de cada organismo envolvido
comportamento controlado por uma con- produz sua consequência reforçadora indi-
sequência, mas esses comportamentos in- vidual. Porém, o PA gerado é maior do que
dividuais estão envolvidos em CCEs. Veja, aquele produzido pela técnica de tarrafas.
o capitão tem seu comportamento reforça- Digamos que a técnica de redes de arrastro
do por atingir o local de pesca. O local de gere 3 toneladas de peixe. Logo, a CC será
pesca funciona como SD para o comporta- três mil reais. Neste caso, a prática cultu-
mento dos pescadores de jogarem as tarra- ral selecionada será a de utilizar a técnica
fas e a puxarem de volta. A consequência de redes de arrastro. O problema é que esta
para o comportamento dos pescadores são técnica produz certos efeitos ambientais
os pescados. Os pescados são, por sua vez, deletérios. Redes de arrastro coletam não
SD para o comportamento dos limpadores apenas os peixes de tamanho adulto, mas
de peixes, que tem seus comportamentos também peixes que ainda não atingiram a
reforçados por pescados limpos. Por fim, idade adulta. Outro problema é que peixes
pescados limpos são SD para o comporta- que não são alvo de pesca acabam sendo
mento dos armazenadores de alocarem os pescados e morrem no processo. Com isso,
pescados em recipientes refrigerados. a quantidade de peixes diminui a em médio
e longo prazo e essa técnica de pesca é con-
Além das consequências individuais, siderada predatória e danosa. Mas como
as CCEs geram o PA: quantidade de peixes produz CC de maior magnitude em curto
pescados e limpos, digamos, 1 tonelada. prazo, provavelmente esta técnica é que
Com essa quantidade, os pescadores podem será seleciona.
vender os pescados e assim produzirem mil
reais (CC). Essa quantidade de dinheiro irá Note que quando se programam me-
selecionar (i.e., tornar mais frequente) o tacontingências, os comportamentos indi-
comportamento dos pescadores de se reu- viduais podem ser selecionados por seus
nirem e utilizar tarrafas. reforçadores. Porém, esses comportamen-
tos podem ser alterados sem que se modifi-
Assim como nos níveis filogenético quem as contingencias operantes individu-
e ontogenético, é possível observarmos va- ais. É nesse sentido que se afirma que há um
riação no nível cultural. Por exemplo, além terceiro nível de seleção (cf. Skinner, 1981):
da tarrafa, os pescadores podem fazer uso Diferentes arranjos do tipo [CCEs + PA] →
de redes de arrastro. Neste caso, as redes CC podem produzir mudanças no compor-
são lançadas ao fundo do mar e o barco é tamento dos organismos envolvidos sem
colocado em movimento. Com isso, os pei- que se haja mudanças em cada contingên-
259
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
260
Capítulo XVI | Cultura
impressa e fixada em uma parede da sala os ganhos eram distribuídos entre os parti-
experimental. A junção entre colunas e li- cipantes no final da tentativa anterior. Na
nhas formavam células (ao todo, 64 células). condição A, caso os participantes distribu-
Metade das células foram preenchidas com íssem seus ganhos igualmente (i.e., a mes-
símbolos de adição (+) e as demais com sím- ma quantidade para cada membro) na ten-
bolo de subtração (–). Cada sessão foi com- tativa anterior, o pesquisador escolhia uma
posta por 30 ciclos. Um ciclo era compos- coluna que necessariamente resultaria em
to por apostas, nas quais cada participante adição (i.e., produzindo como ganho para o
entregava fichas para compor a aposta do grupo o dobro do valor apostado na tenta-
grupo, o anuncio de uma das linhas pelos tiva). Distribuições desiguais de ganhos na
participantes, o anuncio de uma das colu- tentativa anterior (i.e., cada participante re-
nas pelo pesquisador, e o anuncio de ga- cebia diferentes quantidades de fichas) leva-
nhos e distribuição de ganhos. Assim, no vam o pesquisador a selecionar um símbolo
começo de cada ciclo, cada participante en- de subtração (i.e., produzindo como ganho
tregava uma quantidade de fichas a seu cri- para o grupo metade do valor apostado na
tério para compor a aposta do grupo. Após tentativa). Na condição B, as programações
todos os participantes terem entregado sua foram invertidas: caso os participantes dis-
quantidade de fichas para a aposta, o expe- tribuíssem seus ganhos desigualmente (i.e.,
rimentador solicitava que fosse realizada diferentes quantidades para cada membro)
escolha consensual dos participantes por na tentativa anterior, o pesquisador esco-
uma linha da matriz. Tendo sido declara- lhia uma coluna que necessariamente re-
do acordo consensual por uma das linhas, sultaria em adição (i.e., produzindo como
o pesquisador declarava a escolha de uma ganho para o grupo o dobro do valor apos-
das colunas. Caso a junção entre linha e tado na tentativa). Distribuições iguais de
coluna fosse um símbolo de adição, os par- ganhos na tentativa anterior (i.e., cada par-
ticipantes recebiam o dobro do total (i.e., ticipante recebia a mesma quantidades de
a soma das apostas individuais) apostado. fichas) levavam o pesquisador a selecionar
Se a junção entre linha e coluna fosse um um símbolo de subtração (i.e., produzindo
símbolo de subtração, os participantes re- como ganho para o grupo metade do valor
cebiam metade do valor total apostado. Por apostado na tentativa).
fim, os participantes distribuíam os ganhos
da aposta entre todos os membros do grupo. A exposição sucessiva do mesmo
grupo à diferentes condições possibilitou
A escolha do pesquisador por uma investigar se o modo como os participantes
coluna não era aleatória. O pesquisador es- distribuíam seus ganhos poderia ser altera-
colhia uma coluna que resultasse em adição do por mudanças nas metacontingências
ou subtração a depender da maneira como sem que houvesse mudanças nas contin-
261
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
gências operantes. Por um lado, se os re- tidos demandaram a realização de uma in-
sultados indicassem que a distribuição de tervenção: o pesquisador informava que era
ganhos não foi alterada a despeito das dife- necessário reter parte dos ganhos para “o
rentes metacontingências (i.e., as condições banco” (i.e., quem pagava as apostas). Esse
A e B descritas anteriormente), isso signi- “confisco” foi uma estratégia desenvolvida
ficaria que as consequências para o grupo pelos pesquisadores durante o experimento
não eram capazes de selecionar diferentes para produzir contato com a metacontin-
práticas (i.e., a distribuição de ganhos entre gência em vigor na condição B.
participantes ao final de cada tentativa). Por
outro lado, caso a distribuição de ganhos Em algumas situações experimentais
se alterasse dadas as alterações nas meta- é necessário realizar intervenções de modo
contingências, seria demonstrado que as que o comportamento do organismo ocorra
consequências providas pelo pesquisador e entre em contato com as contingências em
estavam selecionado as práticas sem que vigor. Reflita, se o comportamento nunca
houvesse interferência nas contingências ocorrer, como as consequências poderiam
operantes. seleciona-lo? Assim, forçamos a ocorrência
do comportamento para garantir que, ao
O procedimento de Vichi et al. (2009) menos uma vez, o comportamento entre em
estabeleceu que o culturante fosse compos- contato com as contingências. Vejamos o
to pelas respostas verbais dos participantes caso de estudos onde o participante precisa
(CCEs) que geravam a escolha consensual realizar escolhas. Nesse experimento hipo-
por uma linha (PA) que, se atendesse o cri- tético, o participante pode ganhar um real
tério da condição, produzia o dobro ou me- por escolher o cartão azul ou três reais por
tade do valor apostado (CC). escolher o cartão vermelho. Se no começo
do experimento o pesquisador não forçar o
participante a realizar ao menos uma esco-
Resultados e Discussão lha em cada opção, como podemos afirmar
De modo geral, os dois grupos dis- que a escolha estava sob controle de uma
tribuíram seus ganhos de acordo com a variável como a magnitude (quantidade) de
metacontingência programada em cada reforços (i.e., um real vs. três reais)?
condição. Porém, na condição B, na qual a
metacontingência exigia distribuição desi- É possível que os participantes do
gual, os pesquisadores precisaram intervir estudo de Vichi et al. (2009) tenham tendi-
já que os participantes incialmente tendiam do a realizar distribuições igualitárias para
a não realizar distribuições desiguais. Tal evitar conflitos entre os membros do grupo
estratégia não foi prevista quando o expe- sobre quem ganharia mais. Afinal os parti-
rimento foi delineado. Porém, os dados ob- cipantes eram colegas de turma na mesma
262
Capítulo XVI | Cultura
263
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
Os culturantes por vezes atendiam as exi- apresentam este cuidado, incluindo o jogo
gências ambientais mas não se mantinham da matriz). Diversos estudos foram realiza-
estáveis. Esse resultado é diferente do ob- dos utilizando esse procedimento (e.g., Baia,
servado por Vichi et al. Azevedo, Segantini, Macedo, & Vasconce-
los, 2015; Bullerjhann, 2009; Caldas, 2009;
Por outro lado, os resultados de Mar- Saconatto & Andery, 2013; Vieira, 2010).
tone (2008) indicam que a substituição de De modo geral, os estudos encontraram
participantes não afetou o padrão de dis- que culturantes são selecionados por con-
tribuição dos grupos. Mesmo após a troca sequências culturais. Isto é, os organismos
de participantes, os grupos tendiam a con- tendem a coordenar suas ações de modo a
tinuar a apresentar o padrão de distribuição gerar um produto agregado que atenda as
desenvolvido pelas gerações anteriores. exigências ambientais para liberação de
consequências culturais.
Uma das principais contribuições do
estudo de Vichi et al. (2009) foi apresentar A investigação experimental da se-
um procedimento para a análise experi- leção por metacontingências é um campo
mental de metacontingências. Diversos ou- de pesquisa recente. Por este motivo, dife-
tros estudos utilizaram o “jogo da matriz” rentes procedimentos existem atualmente
descrito em seu artigo (e.g., Borba & Glenn, (e.g., Costa et al., 2012; Hunter, 2012; Neves,
2014; Borba et al., 2014; Cavalcanti, Leite, Woels, & Glenn, 2012; Ortu, Becker, Woelz,
& Tourinho, 2014; Franceschini, Samelo, & Glenn, 2012; Sampaio et al., 2013). Em
Xavier & Hunziker, 2012; Pavanelli, Leite, geral, os procedimentos envolvem tentati-
& Tourinho, 2014; Soares, Cabral, Leite, & vas discretas – situação na qual o respon-
Tourinho, 2012). Novas questões de pesqui- der é restringido a períodos de observação
sa e procedimentos foram desenvolvidos. seja removendo o acesso dos participantes
Pereira (2008), por exemplo, tentou isolar ao equipamento ou à possibilidade de res-
experimentalmente os efeitos da programa- ponder (Perone, 1991). Nos experimentos
ção de contingências individuais e meta- que usam o jogo da matriz, os participan-
contingências na seleção de comportamen- tes precisam aguardar o pesquisador auto-
tos envolvidos em entrelaçamentos como rizar o novo ciclo de apostas. Já no proce-
aqueles no experimento de Vichi et al. Para dimento do jogo dos números, após todos
tanto, Pereira (que trabalhou no mesmo la- participantes terem inserido seus números,
boratório da PUC-SP no qual Vichi havia o computador libera as consequências e re-
realizado seu estudo) desenvolveu o “jogo aliza um intervalo (em geral é de 0,8 s) an-
dos números”, no qual é possível programar tes do início de uma nova possibilidade de
diferentes consequências individuais e cul- os participantes inserirem os números. Um
turais (atualmente diversos procedimentos ponto importante em relação a esses pro-
264
Capítulo XVI | Cultura
265
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
266
Capítulo XVI | Cultura
Revista Latinoamericana de Psicologia 44 Borba, A., Silva, B. R. da, Cabral, P. A. dos A.,
(1), (2012). Um número especial sobre o con- Souza, L. B. de, Leite, F. L., & Tourinho, E. Z.
ceito de metacontingência e seleção cultu- (2014). Effects of exposure to macrocontin-
ral. gecies isolation and social situations in the
production of ethical self-control. Behavior
and Social Issues, 19, 5–19.
REFERÊNCIAS
Bortoloti, R., & D’Agostino, R. G. (2007).
Andery, M. A. P. A. (2011). Comportamento Ações pelo controle reprodutivo e posse
e cultura na perspectiva da análise do com- responsável de animais domésticos inter-
portamento. Perspectivas em Análise do pretados à luz do conceito de metacontin-
Comportamento, 2, 203–217. gência. Revista Brasileira de Análise Do
Comportamento, 3, 17–28.
Baia, F. H., Azevedo, F. F., Segantini, S. M.,
Macedo, R. P., & Vasconcelos, L. A. (2015). Bullerjhann, P. B. (2009). Análogos experi-
Efeitos de diferentes magnitudes de con- mentais de fenômenos sociais: o efeito das
sequências individuais e culturais sobre consequências culturais. (Dissertação de
culturantes. Acta Comportamentalia, 23, Mestrado). Pontifícia Universidade Católica
257–272. de São Paulo. São Paulo.
267
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
Franceschini, A. C. T., Samelo, M. J., Xavier, Harzem, P., & Miles, T. R. (1978). Conceptu-
R. N., & Hunzinker, M. H. L. (2012). Effects al issues in operant psychology. Chichester:
of consequences on patterns of interlocked John Wiley & Sons.
contingencies: A replication of a metacon-
tingency experiment. Revista Lainoameri- Hunter, C. S. (2012). Analyzing behavioral
cana de Psicologia, 44, 87–95. and cultural selection contingencies. Re-
vista Latinoamericana de Psicologia, 44,
Glenn, S. S. (1986). Metacontingencies in 43–54.
Walden Two. Behavior Analysis and Social
Action, 5, 2–8. Martone, R. C. (2008). Efeito de consequ-
ências externas e de mundanças na cons-
Glenn, S. S. (1988). Contingencies and meta- tituição do grupo sobre a distribuição dos
contingencies: Toward a synthesis of beha- ganhos em uma metacontingência experi-
vior analysis and cultural materialism. The mental. (Tese de Doutorado). Universidade
Behavior Analyst, 11, 161–179. de Brasília, Brasília.
Glenn, S. S. (1991). Process and content in Martone, R. C., & Todorov, J. C. (2007). O
behavioral and cultural phenomena. Beha- desenvolvimento do conceito de metacon-
vior and Social Issues, 1, 1– 4. tingência. Revista Brasileira de Análise do
Comportamento, 3, 181–190.
268
Capítulo XVI | Cultura
Mayr, E. (2009). O que é evolução. Rio de Ja- H. Iversen & K. A. Lattal (Eds.), Experimen-
neiro: Editora Rocco. tal analysis of Behavior - Part 1. (pp. 135–
171). Amsterdam: Elsevier Inc.
Melo, C. M., Dittrich, A., Moreira, M. B., &
Martone, R. C. (2013). O modelo de seleção Perossi, G. R., & Carrara, K. (2012). Por que
por consequências: o nível filogenético. In funcionam limitadamente campanhas e
M. B. Moreira (Ed.), Comportamento e prá- programas de conservação de água ? Uma
ticas culturais (pp. 24–34). Brasilia: Wal- análise comportamental. Interação em Psi-
den4. cologia, 16, 199–210.
Neves, A. B. V. S., Woels, T. A. R., & Glenn, S. Pierce, W. D., & Cheney, C. D. (2008). Beha-
S. (2012). Effect of resource scarcity on dya- vior analysis and learning. New York: Psy-
dic fitness in a simulation of two-hunter chology Press.
nomoclones. Revista Latinoamericana de
Psicologia, 44, 159–167. Saconatto, A. T., & Andery, M. A. P. A. (2013).
Seleção por metacontingências : Um análo-
Ortu, D., Becker, A. M., Woelz, T. A. R., & go experimental de reforçamento negativo.
Glenn, S. S. (2012). An iterated four-player Interação em Psicologia, 17, 1–10.
Prisoner’s Dilemma Game with an external
selecting agent : A metacontingency expe- Sampaio, A. A. S., & Andery, M. A. P. A.
riment. Revista Latinoamericana de Psico- (2010). Comportamento Social, produção
logia, 44, 111–120. agregada e prática cultural: Uma análise
comportamental de fenômenos sociais. Psi-
Pavanelli, S., Leite, F. L., & Tourinho, E. Z. cologia: Teoria e Pesquisa, 26, 183–192.
(2014). A “ modelagem ” de contingências
comportamentais. Acta Comportamenta- Sampaio, A. A. S., Araújo, L. A., Gonçalo, M.
lia, 22, 425–440. E., Ferraz, J. C., Alves Filho, A. P., Brito, I. S.,
Barros, N. M., & Calado, J. I. F. (2013). Ex-
Pereira, J. M. C. (2008). Investigação expe- ploring the role of verbal behavior in a new
rimental de metacontingências : separação experimental task for the study of meta-
do produto agregado e da consequência in- contingencies. Behavior and Social Issues,
dividual. (Dissertação de Mestrado). Ponti- 22, 87–101.
fícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo. Schmitt, D. R. (1998). Social behavior. In K.
A. Lattal & M. Perone (Eds.), Handbook of
Perone, M. (1991). Experimental design in research methods in human operant beha-
the analysis of free-operant behavior. In I. vior (pp. 471–508). New York: Plenum Press.
269
Fábio Henrique Baia, Alina B. C. Bianco, Isabella Guimarães Lemes, Poliana Ferreira da Silva
Schmitt, D. R., & Marwell, G. (1968). Sti- dynamic environments. Mexican Journal of
mulus control in the experimental study Behavior Analysis, 38, 87–105.
of cooperation. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 5, 571–574. Tan, L., & Hackenberg, T. D. (2016). Functio-
nal analysis of mutual behavior in labora-
Sénéchal-Machado, V. L., & Todorov, J. C. tory rats. Journal of Comparative Psycholo-
(2008). A travessia na faixa de pedestre em gy, 130, 13–23.
Brasília (DF/Brasil): Exemplo de uma inter-
venção cultural. Revista Brasileira de Aná- Todorov, J. C. (2012). Metacontingências e a
lise do Comportamento, 4, 191–204. análise comportamental de práticas cultu-
rais. Clínica & Cultura, 1, 36–45.
Sidman, M. (1960). Tactics of scientific rese-
arch: Evaluating experimental data in psy- Toledo, T. F. N., Benvenuti, M. F. L., Sam-
chology. New York: Basic Books Inc. paio, A. A. S., Marques, N. S., Cabral, P.
A. A., Araújo, L. A. de S., … Moreira, L. R.
Skinner, B. F. (1953). Science and Human (2015). Free Culturant : A software for the
Behavior. New York: Macmillan. experimental study of behavioral and cul-
tural selection. Psychology & Neuroscience,
Skinner, B. F. (1962). Two “synthetic so- 8, 366–384.
cial relations”. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 5, 531–3. Tourinho, E. Z. (2009). Subjetividade e rela-
ções comportamentais. São Paulo: Paradig-
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. ma.
New York: Bantam Books.
Vasconcelos, I. G., & Todorov, J. C. (2015).
Skinner, B. F. (1981). Selection by conse- Experimental analysis of the behavior of
quences. Science, 213, 501-504. persons in groups: Selection of an aggrega-
te product in a metacontingency. Behavior
Soares, P. F. R., Cabral, P. A. A., Leite, F. L., and Social Issues, 24, 111–125.
& Tourinho, E. Z. (2012). Efeitos de consequ-
ências culturais sobre a seleção e manuten- Vichi, C. (2005). Igualdade e Desigualdade:
ção de duas práticas culturais alternadas. Manipulando um análogo experimental
Revista Brasileira de Análise do Comporta- de prática cultural em laboratório. In J. C.
mento, 8, 37–46. Todorov, R. C. Martone, & M. B. Moreira
(Eds.), Metacontingências: comportamento,
Tan, L., & Hackenberg, T. (2012). Social fora- cultura e sociedade (pp. 81–100). Santo An-
ging in rats: Group and individual choice in dré: ESETEC Editores Associados.
270
Capítulo XVI | Cultura
271
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury Silveira
André A. B. Varella
Universidade Católica Dom Bosco
Iwata, B. A., Dorsey, M. F., Slifer, K. J., Bauman, K. E., & Richman, G. S. (1982). Toward a functio-
nal analysis of self-injury. Analysis and Intervention in Developmental Disabilities, 2, 3-20.
272
Capítulo XVII | Análise Funcional
273
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury Silveira
274
Capítulo XVII | Análise Funcional
dos estudos mais influentes na ABA, com observado de forma repetida e sistemática,
importantes implicações para a pesquisa em uma série de condições bem definidas.
e aplicação. O artigo, intitulado “Em dire- O estudo foi conduzido com nove partici-
ção a uma análise funcional da autolesão” pantes com atraso no desenvolvimento e
(“Toward a functional analysis of self-in- com taxas de respostas autolesivas, que
jury”), foi originalmente publicado em 1982 variavam entre moderadas a altas. As topo-
na revista Analysis and Intervention in De- grafias mais frequentes observadas foram
velopmental Disabilities e republicado em (a) bater a cabeça em algum objeto; (b) bater
1994 em uma edição especial no Journal of na própria cabeça; (c) morder-se; (d) puxar
Applied Behavior Analysis (JABA). orelhas; (e) apertar os olhos; e (f) puxar ca-
belos.
O estudo de Iwata et al. (1982/1994)
ofereceu uma contribuição substancial à O estudo ocorreu em uma sala do
ABA ao propor uma importante metodolo- hospital pediátrico ligado à Universidade
gia para identificar variáveis controladoras de medicina Johns Hopkins. As observa-
dos comportamentos autolesivos. Com base ções foram realizadas em uma sala contí-
nos resultados dessa metodologia, denomi- gua, contendo um espelho unidirecional. De
nada Análise Funcional Experimental, era forma a avaliar os efeitos do ambiente sobre
possível identificar as consequências que os comportamentos estudados, foi permi-
mantinham esses comportamentos. Portan- tido que os participantes engajassem em
to, intervenções poderiam ser planejadas a comportamentos autolesivos; entretanto,
partir das variáveis que os mantinham. Se os pesquisadores seguiam protocolos para
antes elas eram realizadas de forma arbitrá- garantir a segurança dos participantes. Por
ria (no sentido de que ignoravam a função exemplo, havia acompanhamento médico
do comportamento), agora se tornava pos- constante e as sessões eram interrompidas
sível planejar e executar intervenções que frente a qualquer risco maior de dano físico
poderiam produzir mudanças na relação do (emissão de comportamentos autolesivos
comportamento com o ambiente, aumen- que pudessem machucar os participantes
tando consideravelmente sua eficácia. de forma mais grave). As observações mos-
traram que os participantes engajavam em
pelos menos duas ou mais formas de com-
DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO portamentos autolesivos. A ocorrência dos
comportamentos foi registrada em inter-
Objetivos e Método valos de 10s. A variável dependente era o
O estudo de Iwatta, et al. (1982/1994) percentual de intervalos em que respostas
descreveu um protocolo de avaliação em autolesivas foram registradas.
que o comportamento dos participantes era
275
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury Silveira
276
Capítulo XVII | Análise Funcional
Jones, Simmons, & Frankel, 1974; Measel possível avaliar se as respostas autolesivas
& Alfieri, 1976). Frequências maiores nessa eram mantidas por reforçamento automá-
condição em comparação às outras pode- tico, ou seja, pela própria consequência
riam indicar que as respostas autolesivas sensorial produzida pela resposta. A obser-
apresentavam função de fuga de demandas. vação de altas taxas de respostas autolesi-
vas nessa condição sugeriria, portanto, um
Condição Brincadeira Não-estrutu- comportamento mantido por reforçamento
rada: Nessa condição, o experimentador automático.
ficava próximo ao participante e permitia
que ele se movimentasse livremente pela
sala, engajando em brincadeiras sociais ou Resultados e Discussão
solitárias. O experimentador ainda fornecia Para cada participante foi calculada
elogios e breve contato físico contingen- uma média geral da porcentagem dos in-
te a qualquer comportamento socialmente tervalos no período total de 15 minutos em
apropriado a cada 30 segundos. Essa etapa que ocorreram comportamentos autolesi-
teve por objetivo “enriquecer” o ambien- vos, além de médias dos participantes para
te dos participantes, de modo a diminuir as condições experimentais, separadamen-
a probabilidade de ocorrência de compor- te. Assim, os dados permitiram uma análise
tamentos autolesivos, funcionando como do responder geral entre os participantes,
condição controle. Nessa condição não fo- assim como comparações entre condições
ram apresentadas demandas, havia livre por participantes diferentes. Foram identi-
acesso aos brinquedos, o experimentador ficadas variações tanto na taxa de respos-
fornecia atenção social constantemente e tas entre os participantes (com médias de
demonstrações de preocupação ou desa- 4,5% a 91,3% de intervalos com ocorrências
provação não foram fornecidas se respostas de respostas autolesivas) quanto nas qua-
autolesivas ocorressem (extinção). tro condições experimentais, o que sugeriu
influência das variáveis manipuladas nas
Condição Sozinho: Nesta condição, o condições. Para seis dos nove participan-
participante foi colocado na sala de avalia- tes, altas taxas de respostas autolesivas fo-
ção sozinho, sem acesso a interação social, ram consistentemente associadas com uma
brinquedos e materiais que pudessem servir condição experimental específica.
como fonte reforçamento. O propósito des-
sa condição era simular um ambiente “em- Com base nesses resultados, os auto-
pobrecido”, com poucos estímulos sociais e res identificaram cinco padrões de respostas
físicos. Assim, tal contexto poderia estabe- gerais para os participantes deste estudo. O
lecer a ocasião para que comportamentos primeiro padrão consistia em uma baixa
autoestimulatórios ocorressem, tornando apresentação de respostas autolesivas du-
277
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury Silveira
rante a condição Brincadeira não-estrutu- rem que para um indivíduo que cutuca seu
rada. Todos os oito participantes expostos a olho em função de produzir estimulação
esta condição (o participante 1 foi excluído) visual (reforçamento automático), o uso de
exibiram porcentagens iguais ou abaixo de massagem ocular de maneira contingente
sua média geral. O segundo padrão, obser- à ausência de respostas autolesivas pode-
vado nas respostas de quatro participantes, ria ser uma intervenção eficaz (Favell et al.,
foi uma maior ocorrência durante a condi- 1982), visto que tal intervenção produziria
ção Sozinho, indicando a autoestimulação a consequência reforçadora sem que o in-
como uma variável relevante. O terceiro divíduo engajasse em respostas autolesivas.
padrão foi obtido com dois participantes e Entretanto, se tais respostas autolesivas
consistiu na baixa frequência de respostas fossem mantidas por fuga de demandas (re-
em todas as condições experimentais, ex- forçamento negativo), a massagem ocular
ceto a condição Demanda. O quarto padrão, seria ineficaz. Nesse caso, intervenções que
identificado no participante 5, consistiu na incluíssem períodos sem nenhuma deman-
apresentação de uma taxa mais alta de res- da poderiam ser mais eficazes.
postas autolesivas durante a condição de
Desaprovação Social. O quinto e último pa- Pode-se dizer que um dos achados
drão, observado em dois participantes, foi mais relevantes deste experimento foi que
classificado como “indiferenciado” e con- a variabilidade na taxa de respostas autole-
sistiu em taxas de respostas similares en- sivas em um mesmo sujeito não é um pro-
tre as condições ou altas taxas em duas ou cesso aleatório. A utilização de condições
mais condições experimentais. Como pre- experimentais bem definidas, análogas ao
visto por Carr (1977), os padrões identifica- contexto natural e em um delineamento de
dos evidenciaram que respostas autolesivas sujeito único (que permitiu verificar efeitos
poderiam ser mantidas por diferentes refor- da manipulação de variáveis sobre o com-
çadores (diferentes funções). portamento-alvo de cada participante) foi
fundamental para este achado. Foi possível,
Os resultados do experimento foram portanto, identificar variáveis relaciona-
importantes por demonstrarem a possibili- das ao estabelecimento e/ou manutenção
dade de identificar variações nas taxas de de comportamentos autolesivos a partir da
respostas autolesivas ao se manipular sis- comparação das taxas de respostas de uma
tematicamente algumas variáveis ambien- mesma pessoa, entre diferentes condições.
tais (e.g., retirada de demandas, atenção Deste modo, o presente estudo ofereceu
social). Se diferentes reforçadores poderiam uma metodologia eficaz para investigar
manter respostas autolesivas, intervenções múltiplos efeitos do ambiente na ocorrên-
comportamentais deveriam considerar es- cia de autolesivos.
sas variáveis. Por exemplo, os autores suge-
278
Capítulo XVII | Análise Funcional
279
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury Silveira
280
Capítulo XVII | Análise Funcional
Beavers, Iwata, & Lerman (2013). Apre- Barlow, D. H., & Hayes, S. C. (1979). Alterna-
senta uma atualização da revisão de litera- te treatment design: one strategy for com-
tura acima, englobando 158 novos estudos, paring the effects of two treatments in a
publicados entre 2001 até 2012. single subject. Journal of Applied Behavior
Analysis, 12, 199-210.
Hanley (2012). Discute questões de ordem
práticas relacionadas à realização de avalia- Beavers, G. A., Iwata, B. A., & Lerman, D. C.
ções funcionais do comportamento. Apre- (2013). Thirty years of research on the func-
senta outras metodologias além da Análise tional analysis of problem behavior. Journal
Funcional Experimental (avaliações indire- of Applied Behavior Analysis, 46, 1-21.
tas e descritivas) e discutindo suas vanta-
gens e desvantagens. Bostow, D. E., & Bailey, J. S. (1969). Modifi-
cation of severe disruptive and aggressive
Iwata & Dozier (2008). Apresenta informa- behavior using brief timeout and reinforce-
ções sobre a metodologia de análise funcio- ment procedures. Journal of Applied Beha-
nal em linguagem simples e clara, forne- vior Analysis, 2, 31-37.
cendo dicas e alguns detalhes importantes
para o seu planejamento. Carr, E. G. (1977). The motivation of self-in-
jurious behavior: A review of some hypo-
Varella (no prelo). Discute algumas pos- theses. Psychological Bulletin, 84, 800-816.
sibilidades de intervenções em comporta-
mentos autolesivos a partir de estratégias Carr, E. G., Newsom, C. D., & Binkoff, J. A.
de avaliação funcional do comportamento. (1976). Stimulus control of self-destructive
behavior in a psychotic child. Journal of
Abnormal Child Psychology, 4, 139-152.
REFERÊNCIAS
Corte, H. E., Wolf, M. M., & Locke, B. J. (1971).
Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. A comparison of procedures for eliminating
(1968). Some current dimensions of Applied self-injurious behavior of retarded adoles-
Behavior Analysis. Journal of Applied Beha- cents. Journal of Applied Behavior Analysis,
vior Analysis, 1, 91-97. 4, 201-213.
Bailey, J. S., Wolf., M. M., & Philips, E. L. Favell, J. E., McGimsey, J. F., & Schell, R. M.
(1970). Home-based reinforcement and (1982). Treatment of self-injury by providing
the modification of pre-delinquents’ class- alternative sensory activities. Analysis and
room behavior. Journal of Applied Behavior Intervention in Developmental Disabilities,
Analysis, 3, 223-233. 2, 83- 104.
281
André A. B. Varella, Maria Carolina Correa Martone, Carolina Coury Silveira
Hanley, G. P., Iwata, B. A., & McCord, B. Measel, C. J., & Alfieri, P. A. (1976). Treat-
E. (2003). Functional analysis of problem ment of self-injurious behavior by a com-
behavior: a review. Journal of Applied Beha- bination of reinforcement for incompatib-
vior Analysis, 36, 147-185. le behavior and overcorrection. American
Journal of Mental Deficiency, 81, 147-153.
Iwata, B. A., & Dozier, C. L. (2008). Clinical
application of Functional Analysis Metho- Northup, J., Wacker, D., Sasso, G., Steege, M.,
dology. Behavior Analysis in Practice, 1, 3-9. Cigrand, K., Cook, J., & DeRaad, A. (1991). A
brief functional analysis of aggressive and
Iwata, B. A., Dorsey, M. F., Slifer, K. J., Bau- alternative behavior in outclinic settings.
man, K. E., & Richman, G. S. (1994). Toward Journal of Applied Behavior Analysis, 24,
a functional analysis of self-injury. Journal 509-522.
of Applied Behavior Analysis, 27, 197-209.
(Reimpresso de Analysis and Intervention Pendergrass, V. E. (1972). Time out from po-
in Developmental Disabilities, 2, 3-20, 1982). sitive reinforcement following persistent,
high-rate behavior in retardates. Journal of
Jones, F. H., Simmons, J. Q., & Frankel, F. Applied Behavior Analysis, 5, 85-91.
(1974). An extinction procedure for elimi-
nating self-destructive behavior in a 9-ye- Piazza, C. C., Hanley, G. P., Bowman, L. G.,
ar-old autistic girl. Journal of Autism and Ruyter, J. M., Lindauer, S. E., & Saiontz,
282
Capítulo XVII | Análise Funcional
283
Hernando Borges Neves Filho
Recombinação de repertórios:
criatividade e a integração de
aprendizagens isoladas
Epstein, R., Kirshnit, C. E., Lanza, R. P. & Rubin, L. C. (1984). “Insight” in the pigeon: Antecedents
and determinants of an intelligent performance. Nature, 308, 61-62.
“Uma tarde, contrariando meus hábitos, tomei café preto e não consegui dormir.
Multidões de ideias surgiram; senti-as colidindo até que pares se interligaram, for-
mando uma combinação estável, por assim dizer”
(Poincaré, 1913, p. 387)
284
Capítulo XVIII | Criatividade
285
Hernando Borges Neves Filho
Ao longo dos anos, e com a vasta Project3 (Epstein, 1981). Foram abordados
repercussão dos trabalhos de Köhler, uma fenômenos comportamentais como o auto
série de estudos sobre a resolução de pro- reconhecimento e a formação de self (Eps-
blemas foi realizada com chimpanzés e ou- tein, Lanza & Skinner, 1981), uso de memo-
tros animais em diferentes situações (Neves randos (Epstein & Skinner, 1981), comunica-
Filho, 2015). O debate acerca do “insight” ção (Epstein, Lanza & Skinner, 1980), e até
chegou até mesmo a chamar a atenção de mesmo o comportamento de mentir (Lanza,
Pavlov e seus colegas, que adquiriram um Starr & Skinner, 1982). Dentre estes estudos,
casal de chimpanzés com o objetivo de re- um que ganhou reconhecido destaque foi o
plicar os achados de Köhler (para uma des- que se propôs a identificar quais as variá-
crição detalhada da série de estudos de veis históricas responsáveis pelo “insight”
resolução de problemas em chimpanzés, re- (Epstein, Kirshnit, Lanza & Rubin, 1984).
alizados nos laboratórios de Pavlov, conferir Publicado no tradicional periódico Nature,
Razran, 1961; Ladygina-Kots & Dembovskii, este estudo trouxe à comunidade científi-
1969; Windholz, 1984; Windholz & Lamal, ca um novo processo comportamental de-
1985; Reznikova, 2007). A maioria dos estu- monstrado empiricamente, a recombinação
dos focava a capacidade de animais de dife- de repertórios (ou interconexão de repertó-
rentes espécies resolverem tarefas em uma rios), e elencou com clareza qual o papel da
primeira apresentação, de forma criativa. aprendizagem na resolução súbita de um
Uma menor parcela de estudos, não menos problema, e alguns dos processos compor-
relevante, teve como objetivo explorar qual
2
Em geral, o termo “comportamento complexo” é pouco claro e cria
o efeito da aprendizagem sobre o desem- uma distinção pouco útil (comportamento simples e comportamento
complexo). Entretanto, os autores utilizam este termo na série de ar-
penho súbito de resolução de problemas tigos do Columban Simulation Project para chamar a atenção de Psi-
cólogos Cognitivos (Epstein, 1996). Em uma visão analítico comporta-
(Maier, 1931; 1937; Birch, 1945). Foi apenas mental, a dicotomia comportamento complexo vs. simples é eliminada,
na medida em que se parte do pressuposto de que o que distingue di-
uma questão de tempo até que pesquisado- ferentes comportamentos são suas variáveis de controle antecedente e
res de viés analítico comportamental des- consequente, e que em geral, chama-se de “complexo” comportamen-
tos dos quais pouco se sabe sobre suas variáveis de controle (Donahoe
sem suas contribuições sobre este tópico. & Palmer, 2004, p. 3).
3
O Columban Simulation Project foi uma resposta a febre cognitiva
que tomou conta da psicologia experimental estadunidense na épo-
Na década de 1980, B. F. Skinner e ca. Neste momento das ciências cognitivas, estava em voga a metá-
fora do computador, que tinha como pressuposto básico o uso de um
alguns colaboradores publicaram uma sé- computador para simular e estudar fenômenos mentais (Cisek, 1999;
Teixeira, 2008). O Columban Simulation Project visava dar uma alter-
rie de experimentos cujo objetivo foi estu- nativa biologicamente mais sensata e parcimoniosa: simular e estudar
fenômenos tidos como mentais em organismos vivos, no caso, pombos
dar fenômenos complexos2, ordinariamente (Epstein, 1981). O Columban Simulation Project hoje é apenas uma nota
de rodapé em livros de história, mas seu pressuposto básico de estudar
chamados de cognitivos, em um tradicio- processos ditos mentais em organismos e não em máquinas, tem volta-
nal espécime do laboratório de Análise do do a ter destaque nas ciências cognitivas, na medida em que a metáfora
do computador perdeu força (Lopes, Lopes & Teixeira, 2004), e as abor-
Comportamento: o pombo (Columba livia). dagens evolutivas do comportamento vem novamente ganhando vigor
(Chemero, 2009; Horik, Clayton & Emery, 2012). Um documentário de
Esses estudos faziam parte do que ficou 1982 sobre o projeto, com a apresentação de B. F. Skinner, está disponí-
vel na íntegra no site de R. Epstein: http://drrobertepstein.com/index.
conhecido como o Columban Simulation php/videos
286
Capítulo XVIII | Criatividade
287
Hernando Borges Neves Filho
288
Capítulo XVIII | Criatividade
banana, como pular e voar, por diversos está abaixo da banana, a resposta de subir
minutos, até que, após essa etapa inicial, não produz o reforço, portanto entra em
começou a empurrar a caixa em direção à extinção. Na extinção, o empurrar ocorre
banana, subiu na caixa e bicou a banana. por ressurgência (Epstein & Skinner, 1980),
e é controlado pela posição da banana, que
Os resultados deste estudo identifi- adquire controle sobre o empurrar a partir
caram o papel da história de treino, como de um processo que os autores chamam de
uma variável decisiva na resolução súbita generalização funcional. A generalização
de uma tarefa, já que os animais sem al- funcional seria distinta da generalização
gum dos pré-requisitos comportamentais tradicional, já que neste caso, não há se-
não resolveram o problema, ou o resolve- melhança física entre os estímulos, apenas
ram acidentalmente, ao passo que os ani- um compartilhamento de função. Ao passo
mais que receberam o treino completo dos que o animal empurra a caixa na direção da
repertórios pré-requisitos, solucionaram a banana, o ambiente vai sendo progressiva-
tarefa com topografia similar à clássica to- mente modificado, até que a caixa fique em
pografia de “insight”. Köhler foi um pioneiro baixo (ou próxima) da banana. Este novo
ao mostrar que chimpanzés exibiam com- estímulo (caixa em baixo da banana), pro-
portamentos originais e criativos em situ- duzido pelo sujeito, controla a segunda res-
ações problemas criadas em um ambiente posta, o subir, que é, na palavra dos autores,
controlado. Epstein et al. (1984) mostraram encadeada automaticamente ao empurrar,
a origem e uma forma de se construir estes e produz a solução da tarefa. O animal para
comportamentos originais a partir de uma de empurrar a caixa assim que ela está pró-
história de treino controlada. xima da banana pois ao produzir o estímulo
“caixa em baixo da banana”, o subir se torna
Epstein et al. (1984) também forne- mais provável. O conjunto destes processos
ceram uma análise ponto a ponto da solu- resultava no que os autores chamaram de
ção do problema. No início da resolução, o recombinação de repertórios.
estado de “confusão” do sujeito é efeito do
controle de duas respostas pelo contexto do A recombinação de repertórios é o
problema. O alvo, a banana pendurada no processo comportamental pelo qual reper-
teto, controla respostas de bicar, e a caixa tórios aprendidos independentemente um
controla respostas tanto de subir como de dos outros (ou seja, não encadeados) podem
empurrar. A “confusão” é resultado da nova ser recombinados em uma forma ou sequ-
configuração dos estímulos, no caso, bana- ência nova, dada um controle discriminati-
na e caixa presentes, com a caixa afastada vo (situação problema) adequada. A recom-
da banana. Alguns dos sujeitos começam a binação de repertórios passou a ser então
sessão subindo na caixa, como a caixa não uma nova maneira que a AC desenvolveu
289
Hernando Borges Neves Filho
para lidar com a criatividade, ou a origem balho de “insight” (Epstein et al. 1984), em
de comportamentos novos, ao lado de ou- geral acusando que o mesmo se tratava de
tros processos básicos como a generalização um simples encadeamento de respostas (El-
de estímulos, a indução, a variabilidade, a len & Pate, 1986). Esta crítica não procede,
modelagem e o encadeamento de respos- já que a rigor não se trata de um treino de
tas. Além disso, a recombinação de reper- encadeamento, dada a natureza indepen-
tórios, quando estudada em procedimentos dente dos treinos das habilidades pré-re-
de resolução de problemas, é também um quisito (um treino encadeado asseguraria
modo de descrever os processos compor- que a consequência de uma resposta seria
tamentais envolvidos na solução súbita de também discriminativo de outra). Outra crí-
um problema, tradicionalmente conhecido tica (Ettlinger, 1984) aponta que não houve
na literatura de Psicologia como um “insi- manipulação de variáveis paramétricas de
ght”, desde que Köhler (1948) popularizou treino (como treinos de repertórios em con-
o termo a partir de seus experimentos com textos distintos), o que sugere que o dado
chimpanzés. obtido possa ser um artefato metodológico
(i.e. a resolução não passa de algo que pom-
bos fazem por não haver outras coisas a não
DESDOBRAMENTOS ser uma caixa e uma banana na situação de
teste). A crítica de Ettlinger (1984) não se
Todos os trabalhos do Columban Si- sustenta, graças aos dados com os pombos
mulation Project produziram muitas con- de Epstein et al. (1984) que não resolveram a
trovérsias. Franz de Waal, um eminente tarefa com um treino incompleto dos reper-
primatologista, chegou a comentar que o tórios pré-requisito, portanto, apesar dos
trabalho de auto reconhecimento em pom- autores não terem testado variáveis adicio-
bos (Epstein, Lanza & Skinner, 1981) é uma nais, o efeito do treino é claro. Sem o treino,
das “maiores bizarrices da ciência compor- não há resolução.
tamental” (de Waal, 2001, p. 60)4. Diversas
críticas foram também direcionadas ao tra- Apesar destas críticas, maiores fo-
ram os impactos positivos do trabalho so-
4
O principal ponto da crítica formulada por de Waal (2001) se pauta no bre a comunidade científica, tanto que
fato de que primatas que apresentam o comportamento de auto reco-
nhecimento em espelhos precisam de pouco ou nenhum treino explí- Shettleworth (2012, pg. 217), especialista em
cito para que isso ocorra, ao passo que os pombos de Epstein, Lanza e
Skinner (1981) precisaram de um treino direto de repertórios pré-requi- cognição animal, coloca o trabalho de Eps-
sito. A crítica passa ao largo do ponto principal do trabalho de Epstein,
Lanza e Skinner (1981), que é construir em laboratório os pré-requisitos
tein et al. (1984) como uma das maiores des-
ontogenéticos para que esse desempenho seja observado, independen-
te da espécie. O autor da crítica (de Waal, 2001) também aponta que
cobertas das ciências comportamentais do
replicações do estudo de Epstein, Lanza e Skinner (1981) não obtive- século XX, ao lado do pioneiro trabalho de
ram o mesmo resultado. Considerações acerca dessas replicações po-
dem ser encontradas no recente estudo de Uchino e Watanabe (2014) Köhler (1948).
que replicaram adequadamente o trabalho original de Epstein, Lanza
e Skinner (1981).
290
Capítulo XVIII | Criatividade
291
Hernando Borges Neves Filho
292
Capítulo XVIII | Criatividade
Birch, H. G. (1945). The relation of previous Delage, P. E. G. A., & Carvalho Neto, M. B.
experience to insightful problem-solving. (2006). Comportamento criativo & análise
Journal of Comparative Psychology, 38, do comportamento II: Insight. Em H. J. Gui-
367-383. lhardi, N. C. Aguirre. (Orgs.). Sobre Com-
portamento e Cognição: Expondo a Varia-
Boakes, R. (1984). From Darwin to beha- bilidade Volume 18. Santo André: ESETec
viourism: psychology and the minds of ani- Editores Associados.
mals. UK: Cambridge University Press.
Delage, P. E. G. A., & Carvalho Neto, M. B.
Cisek, P. (1999). Beyond the computer me- (2010). Um modo alternativo de construir
taphor: Behaviour as interaction. Journal of um operante: A aprendizagem recombinati-
Consciousness Studies, 6, 125-42. va. Psicologia em Pesquisa, 4, 50-56.
Chemero, A. (2009). Radical embodied cog- Delage, P. E. G. A., & Galvão, O. F. (2010).
nitive science. Cambridge: The MIT Press. Generalidade da aprendizagem em situa-
ções de uso de ferramentas por um maca-
Cook, R., & Fowler, C. (2014). ‘‘Insight’’ in pi- co-prego, Cebus Apella. Psicologia: Teoria e
geons: Absence of means–end processing Pesquisa, 26, 687-694.
in displacement tests. Animal Cognition, 17,
207-220. Donahoe, J. W. & Palmer, D. C. (2004). Le-
arning and complex behavior. Richmond:
de Waal, F. (2001). The Ape and the sushi Ledgetop Publishing.
master. New York: Basic Books.
Ellen, P. & Pate, J. L. (1986). Is Insight merely
Delage, P. E. G. A. (2006). Investigações so- a response chaining? A reply to Epstein. The
bre o papel da generalização funcional em Psychological Record, 36, 155-160.
uma situação de resolução de problemas
(“insight”) em Rattus norvegicus. (Disserta- Epstein, R. (1981). On pigeons and people: A
ção de Mestrado). Universidade Federal do preliminary look at the Columban Simula-
293
Hernando Borges Neves Filho
tion Project. The Behavior Analyst, 4, 43-55. Antecedents and determinants of an in-
telligent performance. Nature, 308, 61-62.
Epstein, R. (1985). The spontaneous inter-
connection of three repertoires of behavior Ettlinger, G. (1984). Humans, apes and
in a pigeon (Columba livia). Psychological monkeys: The changing neuropsychologi-
Record, 35, 131-141. cal viewpoint. Neuropsychologia, 22, 685-
696.
Epstein, R. (1987). The spontaneous inter-
connection of four repertoires of behavior Ferreira, J. S. F. (2008). Comportamentos
in a pigeon (Columba livia). Journal of Com- novos originados a partir da interconexão
parative Psychology, 101, 197-201. de repertórios previamente treinados: uma
replicação de Epstein, Kirshnit, Lanza e Ru-
Epstein, R. (1996). Cognition, creativity and bin, 1984. (Dissertação de Mestrado). Ponti-
behavior: Selected essays. New York: Prae- fícia Universidade Católica, São Paulo.
ger.
Jung-Beeman, M., Bowden, E M., Haber-
Epstein, R., Lanza, R. P., & Skinner, B. F. man, J., Frymiare, J. L., Arambel-Liu, S.; Gre-
(1980). Symbolic communication betwe- enblatt, R., Reber, P. J., & Kounios, J. (2004).
en two pigeons (Columba livia domestica). Neural activity when people solve verbal
Science, 207, 543-545. problems with insight. PLoS Biology, 2, e97.
Epstein, R., & Skinner, B. F. (1980). Resur- Horik, J. O., Clayton, N. S., & Emery, N. J.
gence of responding after the cessation of (2012). Convergent evolution of cognition
response-independent reinforcement. Pro- in corvids, apes and other animals. In T.
ceedings of the National Academy of Scien- K. Shackelford & J. Vonk (Eds.), The Ox-
ces USA, 77, 6251-6245. ford handbook of comparative evolutionary
psychology. New York: Oxford University
Epstein, R., & Skinner, B. F. (1981). The Press.
spontaneous use of memoranda by pigeons.
Behaviour Analysis Letters, 1, 241-246. Köhler, W. (1948). The mentality of the apes
(2nd ed.). New York: New Haven. Original-
Epstein, R., Lanza, R., & Skinner, B. F. (1981). mente publicado em 1917.
“Self-awareness” in the pigeon. Science, 212,
695. Kubina, R. M., Morrison, R. S., & Lee, D. L.
(2011). Behavior analytic contributions to
Epstein, R., Kirshnit, C. E., Lanza, R. P., & the study of creativity. The Journal of Crea-
Rubin, L. C. (1984). “Insight” in the pigeon: tive Behavior, 40, 223-242.
294
Capítulo XVIII | Criatividade
Lopes, E. J., Lopes, R., & Teixeira, J. F. (2004). Neves Filho, H. B., Carvalho Neto, M. B.,
A psicologia cognitiva experimental cin- Barros, R. S., & Costa, J. R. (2014). Insight
quenta anos depois: a crise no paradigma em macacos-prego (Sapajus spp.) com dife-
do processamento de informação. Paidéia, rentes contextos de treino das habilidades
14, 17-26. pré-requisitos. Interação em Psicologia, 18,
333-350.
Luciano, C. (1991). Problem solving beha-
vior: An experimental example. Psicothe- Neves Filho, H. B., Stella, L. R., Dicezare,
ma, 3, 297-317. R., & Garcia-Mijares, M. (2015). Insight in
the white rat: The spontaneous recombina-
Maier, N. R. F. (1931). Reasoning and lear- tion of two repertoires. European Journal of
ning. Psychological Review, 38, 332-346. Behavior Analysis, 16, 1-14.
Maier, N. R. F. (1937). Reasoning in rats and Neves Filho, H. B. (2010). Efeito de diferen-
human beings. Psychological Review, 44, tes histórias de treino sobre a ocorrência
365-378. de “Insight” em macaco-prego (Cebus spp.).
(Dissertação de Mestrado). Universidade
295
Hernando Borges Neves Filho
Federal do Pará, Belém, Pará. ment. CyberPsychology & Behavior, 15, 15-
19.
Neves Filho, H. B. (2015). Efeito de variá-
veis de treino e teste sobre a recombinação Taylor, A. H., Elliffe, D., Hunt, G., & Gray R.
de repertórios em pombos (Columba livia), D (2010). Complex cognition and behaviou-
ratos (Rattus norvegicus) e corvos da Nova ral innovation in new caledonian crows.
Caledônia (Corvus moneduloides). (Tese de Proceedings of the Royal Society B, 277,
Doutorado). Universidade de São Paulo, 2637-2643.
São Paulo.
Teixeira, J. F. (2008). Mente, cérebro e cogni-
Poincaré, H. (1913). The foundations of ção 3ª edição. Brasil: Vozes.
science: Science and hypothesis, the value of
science, science and method. New York: The Tobias, G. K. S. (2006). É possível gerar “In-
Science Press. sight” através do ensino dos pré-requisitos
por contingências de reforçamento positi-
Pritchard, D. J., Hurly, A., Tello-Ramos, M. vo em Rattus norvegicus? (Dissertação de
C., & Healy, S. D. (2016). Why study cogni- Mestrado). Universidade Federal do Pará,
tion in the wild (and how to test it)? Journal Belém, Pará.
of the Experimental Analysis of Behavior,
105, 41-55. Uchino, E., & Watanabe, S. (2014). Self-re-
cognition in pigeons revisited. Journal of
Razran, G. (1961). Raphael’s “idealess” beha- the Experimental Analysis of Behavior, 102,
vior. Journal of Comparative and Physiolo- 327-334.
gical Psychology, 54, 366-367.
Windholz, G. (1984). Pavlov vs. Köhler: Pa-
Reznikova, Z. (2007). Animal intelligence: vlov’s little-known primate research. Pavlo-
From individual to social cognition. UK: vian Journal of Biological Science, 19, 23-31.
Cambridge University Press.
Wildholz, G., & Lamal, P. A. (1985). Köhler’s
Shettleworth, S. J. (2012). Do animals have insight revisited. Teaching of Psychology, 12,
insight, and what is insight anyway? Cana- 165-167.
dian Journal of Experimental Psychology,
66, 217-266.
296
Cristiano Valério dos Santos
Controlar para
conhecer
Rescorla, R. A. (1968). Probability of shock in the presence and absence of CS in fear conditio-
ning. Journal of Comparative and Physiological Psychology, 66, 1-5.
297
Capítulo XIX | Condicionamento Pavloviano
298
Cristiano Valério dos Santos
comigo mesmo me deu mais confiança de da ignorância sobre quais variáveis devem
que os sintomas que eu apresentava se de- ser controladas. A revisão feita por Rescorla
viam à natureza das bebidas que eu estava (1967) sobre os protocolos de controle expe-
consumindo. Contudo, essas bebidas são rimental em estudos de condicionamento
produtos compostos por vários elementos respondente reflete bem essa questão.
e a causa dos meus sintomas pode ter sido
a cafeína ou qualquer outro componente O condicionamento respondente,
presente na bebida. Para saber com mais também conhecido como condicionamen-
certeza ainda qual era o componente res- to clássico ou pavloviano, refere-se a uma
ponsável, não bastaria que eu deixasse de mudança comportamental que é resultado
tomar café; eu teria que continuar toman- da relação sistemática entre dois estímulos
do as bebidas que geralmente consumia, (ver M. Lattal, 2013, para uma revisão ampla
com todos os seus componentes menos o sobre o tema). Um desses estímulos evoca
elemento que eu achava que estava relacio- uma resposta no organismo com uma alta
nado ao que me estava acontecendo, neste probabilidade, geralmente sem que o orga-
caso a cafeína. Por isso, tive a ideia de con- nismo tenha uma experiência prévia com
sumir a mesma bebida, porém sem cafeína. ele, e é denominado estímulo incondicio-
Como os sintomas desapareceram e a única nado (US). O outro estímulo inicialmente
variável alterada tinha sido a cafeína, pos- evoca outras respostas no organismo, po-
so dizer com boa precisão que a cafeína foi rém, como resultado da relação com o es-
responsável pelos sintomas. tímulo incondicionado, passa a evocar res-
postas diferentes que não evocava antes.
Esse tipo de situações nas quais Por exemplo, se uma pessoa ingerir uma
mantemos constantes todos os elementos comida que esteja contaminada com bac-
que não nos interessam num determinado térias nocivas ao organismo, a presença
momento e que poderiam invalidar a minha dessas bactérias evocará uma série de res-
inferência causal se conhece como controle postas fisiológicas com uma probabilidade
experimental e é a âncora de qualquer ciên- muito alta, tais como febre, náuseas, vômito
cia. No entanto, às vezes não é tão simples e diarreia. Como essas respostas fisiológi-
saber o que temos que controlar, principal- cas ocorreram como resultado da ingestão
mente quando o objeto de estudo é novo e de uma comida específica (i.e., não ocorre-
as variáveis das quais o fenômeno é função ram como resultado da ingestão de outro
são pouco conhecidas. O estudo sistemá- tipo de comida), é provável que ocorra uma
tico do comportamento dos organismos é mudança comportamental como resultado
relativamente recente em comparação com dessa relação: a pessoa provavelmente sen-
outros objetos de estudo e, portanto, ainda tirá náusea ao ver esse alimento específico
é mais suscetível de padecer do problema e evitará consumi-lo, mesmo que não es-
299
Capítulo XIX | Condicionamento Pavloviano
300
Cristiano Valério dos Santos
301
Capítulo XIX | Condicionamento Pavloviano
302
Cristiano Valério dos Santos
mas nenhum choque na ausência do tom, taxa de respostas durante o estímulo con-
o que caracterizou diferentes probabilida- dicionado em comparação com a taxa de
des de choque na presença e na ausência respostas em um período equivalente an-
do tom e, portanto, uma relação de con- tes do estímulo; quanto maior a supressão,
tingência positiva [p(choque/tom) > p(cho- mais forte o efeito do condicionamento. No
que/ ~tom)]. Contudo, os ratos do grupo G primeiro experimento, observou-se supres-
receberam menos choques do que os ratos são no grupo G, o qual havia sido exposto
do grupo R-1 e, para controlar essa diferen- a diferentes probabilidades de choque em
ça, um terceiro grupo, denominado R-2, foi presença ou ausência do estímulo, e não
exposto à mesma quantidade de choques houve supressão para os outros dois gru-
que o grupo G, mas apresentados de ma- pos, expostos ao procedimento verdadei-
neira aleatória e independente do tom. De- ramente aleatório, independentemente da
pois da fase de condicionamento, os ratos quantidade total de choques recebidos. No
foram expostos a 10 sessões semelhantes às segundo experimento, esse resultado foi re-
sessões de treino, com a exceção que houve plicado: Quanto menor a probabilidade de
quatro apresentações do tom sobrepostas choque na ausência do tom, mais forte era a
ao esquema de reforçamento VI 2 min, sem supressão. Por outro lado, quando a proba-
a apresentação de choques depois de cada bilidade de choque na presença ou ausên-
tom. cia do tom era igual, não houve supressão.
303
Capítulo XIX | Condicionamento Pavloviano
arraigada em psicologia experimental até (Dinsmoor, 2001). Por outro lado, defenso-
essa época: a noção de que a contiguida- res de uma postura molar buscarão encai-
de temporal entre os eventos era suficien- xar o efeito variáveis localmente definidas
te para que se produzissem mudanças no em padrões comportamentais mais amplos,
comportamento dos organismos. como por exemplo a análise de Rachlin
(2000) sobre o autocontrole. Essas questões
Atualmente, essa discussão continua têm gerado debates acirrados sobre a natu-
em vigor em diferentes áreas da Análise do reza mesma dos fenômenos psicológicos e
Comportamento, no que se conhece como a sobre a melhor maneira de estudá-los.
discussão entre a postura molar e a postura
molecular (Baum, 2002; Dinsmoor, 2001). A Um segundo desdobramento impor-
ideia de que o comportamento dos organis- tante é que a noção de contingência como
mos é influenciado por contingências entre diferença de probabilidades (Rescorla, 1967,
estímulos se alinha com uma postura molar 1968) abriu as portas para o estudo de ou-
de comportamento, a qual defende que tan- tros fenômenos até então pouco discutidos,
to o comportamento como as variáveis que como é o caso da inibição condicionada. A
o afetam são fenômenos que se estendem inibição condicionada se refere aos efeitos
no tempo, em contraposição com a postura inibitórios de um estímulo que foi previa-
molecular, que centra suas explicações em mente apresentado com o estímulo incon-
relações de contiguidade espaço-tempo- dicionado em uma contingência negativa,
ral. É claro que nem a postura molar ignora ou seja, a probabilidade do estímulo incon-
efeitos de variáveis locais contíguas à ocor- dicionado dada a ausência do estímulo con-
rência de respostas específicas, como de- dicionado é maior que a probabilidade do
monstrado na análise que fizeram Davison estímulo incondicionado dada a presença
e Baum (2000) do comportamento de esco- do estímulo condicionado. Por exemplo, se
lha, nem a postura molecular ignora o efeito os choques ocorrem mais frequentemente
de variáveis claramente estendidas no tem- na ausência de um tom que em sua presen-
po, como a probabilidade ou a contingência. ça, haveria uma contingência negativa en-
No entanto, mesmo que reconheçam o efei- tre o tom e o choque. Posteriormente, quan-
to dessas variáveis, os defensores de uma do se apresenta esse estímulo junto com
postura molecular buscarão explicar como outro estímulo que já havia adquirido pro-
os organismos são afetados por essas vari- priedades excitatórias, observa-se uma di-
áveis estendidas no tempo apelando a pro- minuição da probabilidade da resposta ante
cessos contíguos à ocorrência de respostas o estímulo que era excitatório (Rescorla,
discretas temporalmente definidas, como 1969). Antes da proposta de Rescorla (1967,
o caso das teorias bifatoriais propostas 1968), o fenômeno de inibição em condicio-
para explicar o comportamento de esquiva namento respondente não tinha um lugar
304
Cristiano Valério dos Santos
certo, devido em grande parte à ideia de anteriores à publicação desse artigo, mas a
que o condicionamento respondente era re- forma como o tema era apresentado nos li-
sultado somente da contiguidade temporal vros de Psicologia não havia acompanhado
entre os estímulos. Se isso fosse correto, en- a evolução da área. Esse problema deveu-se,
tão apresentar o estímulo incondicionado em parte, a que acreditamos já saber tudo
na ausência do estímulo condicionado não o que é possível saber sobre o fenômeno.
deveria resultar em nenhum tipo de efeito Afinal, é só um estímulo que se relaciona a
e, portanto, não fazia sentido perguntar o outro e adquire nova função. No entanto, a
que aconteceria nesse caso. natureza simples do condicionamento res-
pondente é enganosa e ainda é necessário
Outro desdobramento interessante responder muitas perguntas.
é que, embora o procedimento verdadeira-
mente aleatório tenha sido proposto como A primeira delas tem a ver com as
uma condição de controle para a aprendiza- condições que produzem o condicionamen-
gem, com a suposição de que não se apren- to respondente. A análise feita por Rescorla
deria nada ao estar exposto a apresentações e seus experimentos posteriores junto com
independentes de dois estímulos, estudos outros fenômenos como o bloqueio (Ka-
posteriores mostraram que essa suposição min, 1968), o sombreamento (Mackintosh,
é falsa. Poucos anos depois dos trabalhos de 1974), a inibição latente (Lubow, 1973) e a
Rescorla, foram encontradas evidências de inibição condicionada (Rescorla, 1969), en-
que a exposição à ausência de contingência tre outros, revelam que o condicionamento
entre dois estímulos dificulta a aprendiza- respondente pode ocorrer ou não depen-
gem posterior quando se estabelece uma dendo de muitos outros fatores que não só
relação de contingência entre os mesmos a contiguidade temporal entre os estímulos.
estímulos, e esse efeito parece não ser re- A segunda pergunta tem a ver com o que
sultado somente da apresentação isolada é aprendido. Por exemplo, estudos sobre
de qualquer dos dois estímulos por si sós condicionamento de segunda ordem, nos
(Baker, 1976; Baker & Mackintosh, 1979). quais um estímulo neutro se relaciona a um
Este fenômeno hoje se conhece como irre- estímulo condicionado, têm sugerido que,
levância aprendida. com estímulos compostos, o comportamen-
to do organismo é controlado por relações
hierárquicas entre os estímulos, e não pela
CONSIDERAÇÕES FINAIS soma dos efeitos dos elementos que com-
põe um estímulo agindo em paralelo (Res-
Em um texto de 1988, Rescorla ar- corla, 1980). Além disso, há evidências que
gumentou que o condicionamento respon- sugerem que, quando um estímulo sinaliza
dente havia mudado muito nos 20 anos uma relação entre outros dois estímulos (o
305
Capítulo XIX | Condicionamento Pavloviano
306
Cristiano Valério dos Santos
307
Capítulo XIX | Condicionamento Pavloviano
Allan, L. G. (1993). Human contingency ju- Estes, W. K., & Skinner, B. F. (1941). Some
dgments: Rule based or associative? Psy- quantitative properties of anxiety. Journal
chological Bulletin, 11, 435-448. of Experimental Psychology, 29, 390-400.
Baker, A. G. (1976). Learned irrelevance and Garcia, J., Kimeldorf, D. J., & Koelling, R. A.
learned helplessness: Rats learn that stimu- (1955). Conditioned aversion to saccharin
li, reinforcers, and responses are uncorre- resulting from exposure to gamma radia-
lated. Journal of Experimental Psychology: tion. Science, 122, 157-158.
Animal Behavior Processes, 2, 130-141.
Herrnstein, R. J., & Hineline, P. N. (1966).
Baker, A. G., & Mackintosh, N. J. (1979). Pre- Negative reinforcement as shock-frequen-
exposure to the CS alone, US alone, or CS cy reduction. Journal of the Experimental
and US uncorrelated: Latent inhibition, blo- Analysis of Behavior, 9, 421-430.
cking by context or learned irrelevance? Le-
arning and Motivation, 10, 278-294. Lubow, R. E. (1973). Latent inhibition. Psy-
chological Bulletin, 79, 398-407.
Baum, W. M. (2002). From molecular to
molar: A paradigm shift in behavior analy- Mackintosh, N. J. (1974). The psychology of
sis. Journal of the Experimental Analysis of animal learning. Oxford: Academic Press.
Behavior, 78, 95-116.
Miller, R. R., Barnet, R. C., & Grahame, N. J.
Bellack, A. S., Hersen, M., & Kazdin, A. E. (1995). Assessment of the Rescorla-Wagner
(Eds.). (1990). International handbook of model. Psychological Bulletin, 117, 363-386.
behavior modification and therapy. New
York: Plenum Press. Poulos, C. X., Hinson, R. E., & Siegel, S.
(1981). The role of Pavlovian processes in
308
Cristiano Valério dos Santos
Rescorla, R. A. (1967). Pavlovian conditio- Stein, L., Xue, B. G., & Belluzzi, J. D. (1993).
ning and its proper control procedures. Psy- A cellular analogue of operant conditio-
chological Review, 74, 71-80. ning. Journal of the Experimental Analysis
of Behavior, 60, 41-53.
Rescorla, R. A. (1968). Probability of shock
in the presence and absence of CS in fear
conditioning. Journal of Comparative and
Physiological Psychology, 66, 1-5.
309
Kennon A. Lattal
Kennon A. Lattal
West Virginia University
Azzi, R., Fix, D. S. R., Keller, F. S., & Rocha e Silva, M. I. (1964). Exteroceptive control of response
under delayed reinforcement. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 7, 159-162.
310
Capítulo XX | Delay of Reinforcement
311
Kennon A. Lattal
second difficulty, having to do with the rats ment was the research of Ferster (1953).
holding the lever down. The delay started Most learning theorists, including Skinner,
with a lever depression, but sometimes the focused on the detrimental effects of delay-
lever continued to be held down during the ing reinforcement on learning and perfor-
delay and was released at the end of the in- mance. Ferster turned the question around
terval, leading Skinner to question whether and asked how one might sustain behavior
this would result in immediate or delayed despite the presence of a delay between
reinforcement. The apparatus used in this the reinforcer and the response that pro-
experiment was the same as that used in duced it. He conducted a series of experi-
the experiment described above; however, ments with pigeons in which he first main-
he noted one change: “[t]he device has this tained key-peck responding (pecking at
important property: if a second response is small plastic disc with the beak) with vari-
made during the delay interval, the timing able-interval (VI) reinforcement schedules.
begins again, so that a full interval must Against this baseline, in his first and second
again elapse before reinforcement occurs” experiments delays signaled by blackouts
(p. 139). Thus, instead of a nonresetting of the chamber occurred between the re-
delay, in this experiment delays were re- inforcer and the response that produced it.
setting, that is, the delay interval restarted The blackouts were used “to prevent S from
with each response after the one that ini- responding” (p. 219), taking advantage of
tiated the delay. Using this resetting delay the fact that pigeons typically don’t peck re-
procedure, rats “were conditioned in the sponse keys when the chamber and the key
usual way” (p. 140; presumably by this Skin- are dark. Of course, darkening the cham-
ner meant with immediate reinforcement) ber was an immediate consequence of the
to respond, ultimately on a fixed-interval response, making the blackout a stimulus
(FI) 5-min schedule. After this training, ultimately correlated with reinforcer deliv-
delays of 2, 4, 6, or 8 s were in effect with ery. As a result, delay of reinforcement was
different rats for three sessions. Rates of confounded with the potential conditioned
responding were reduced when the delays reinforcing function of the blackout. This
were in effect, with the two shorter delays confound questions this experiment, and
reducing responding less than the two lon- all experiments involving signaled delays
ger ones. In a final delay of reinforcement of reinforcement, as a test of a “pure” de-
experiment, Skinner examined the effects lay of reinforcement on responding. In his
of various changes in the training and im- first experiment, Ferster observed that 60-s
plementation of the delays. delays caused a “small decline” in response
rates, but under a 120-s delay, responses
The next major development in the rates fell to about half of what they were
experimental analysis of delay of reinforce- when immediate reinforcement was used.
312
Capítulo XX | Delay of Reinforcement
313
Kennon A. Lattal
lever-pressing response of three white without the required response at the end of
rats (named Alpha, Beta, and Gam- the interval, and a DRO schedule is essen-
ma by Rodolfo [sic]). The results were tially a resetting delay procedure, but with-
published later in the Journal of the out the delay requirement of a response to
Experimental Analysis of Behavior” initiate each DRO interval (the reinforcers
(Keller, 2008, p. 250). occur so long as the target response is ab-
sent, and if a target response does occur it
One can only speculate about why resets the DRO interval). Mix all of these
delay of reinforcement was the topic of the ideas together, add in the fact that Ferster
first research paper published in Journal of (one of Keller’s doctoral students at Colum-
the Experimental Analysis of Behavior with bia) had previously studied the effects of
a Brazilian first author (Azzi). Let’s go back signaled delays of reinforcement and, voi-
to Skinner’s second-reported experiment la, the procedures used by Azzi et al. (1964)
on delay of reinforcement in The Behavior emerge. We cannot know precisely how the
of Organisms. Recall that he used a resetting idea for the experiment developed, but it
delay procedure such that each response certainly, and unsurprisingly, can be close-
after the one initiating the delay restarted ly tied to some of the earlier work of Keller
the delay interval. He used a similar pro- and his students at Columbia.
cedure to reduce high rate responding [“no
response was ever reinforced if it had been
preceded within fifteen seconds by anoth- DESCRIPTION OF THE EXPERI-
er response” (p. 306)], thus giving birth to MENT
the differential-reinforcement-of-low-rate
(DRL) schedule of reinforcement. Wilson Goals and Method
and Keller (1953) thereafter studied the ef- Azzi et al. (1964) set out to do two
fects of DRL schedules on lever pressing things: (a) investigate operant responding
of rats across a range of “delay” (i.e., DRL under conditions where the interval be-
schedule) values. The Wilson and Keller ex- tween a reinforcer and the response that
periment grew out of an earlier demonstra- produced it was varied and (b) compare
tion of what was basically a differential-re- conditions where the delay was either ac-
inforcement-of-other-behavior (DRO) companied by a stimulus change (a signal)
schedule, in which the onset of an SD peri- or occurred without any change during
od occurred only if there were no response the delay interval (unsignaled). Thus, the
in the immediately preceding S-delta period experiment was basically a comparison of
for a specified time period (cf. Skinner, 1938, two different conditions - unsignaled and
p. 161). A resetting delay of reinforcement signaled delays of reinforcement – that had
contingency is essentially a DRL schedule been observed in two separate experiments
314
Capítulo XX | Delay of Reinforcement
conducted by, respectively, Skinner (1938) delay interval (a resetting delay), and there
and Ferster (1953). was no stimulus change during the delay
period. There followed several manipula-
To this end, three rats first were tions of delay durations for two of the rats.
trained to lever press under a fixed-ratio The third rat apparently was exposed only
(FR) 1 schedule, where the reinforcer was to a DRL 20-s schedule with immediate re-
access to water. It seems reasonable to as- inforcement. In the second, as in the first,
sume that at this time neither the food pel- part of the experiment, the schedule in ef-
lets used with rats in many experiments by fect technically was a tandem FR 1 DRO t-s
Skinner and others, nor the means for de- schedule, where t was 20 s for ten days, fol-
livering these pellets – i.e., a pellet dispens- lowed by six days with t = 30 s. For half of
er – were available in Brazil. Water was easy each session, “each animal worked within
to obtain and Keller had brought with him a dimly lighted chamber” (p. 160). For the
what he called a “Brenner dipper”1 for de- other half, however, “darkness was in effect
livering water reinforcers. After the initial during each delay interval … each time a re-
training, “within a dimly lighted response sponse was made to the lever, the light in
chamber, each [rat] was exposed succes- the chamber went off” (p. 160, italics orig-
sively to reinforcement delays of 1, 3, 5, 7.5, inal) and did not come back on until a re-
10, 15, and 20 s[econds], in that order, with a inforcer had been delivered. Lever presses
total of 150 reinforcers at each delay” (Azzi in the dark chamber extended the darkness
et al., 1964, p. 159). The schedule of rein- until the delay duration lapsed and a rein-
forcement thus was, technically speaking, a forcer occurred. Thus, in the second part of
tandem FR 1 DRO t-s schedule, where t cor- the experiment, a delay interval correlated
responded to one of the delay values given with the presence and absence of a stimu-
above. A tandem (the Latin word for “one lus change were compared.
right after the other”) schedule is identical
to a chained schedule in that two or more
components schedules must be completed Results and Discussion
in a fixed sequence for reinforcement; how- There were two main findings. Re-
ever, in the chained schedule each compo- sponding maintained under a tandem FR 1
nent is associated with a different stimulus DRO t- s schedule was a negatively decel-
but in the tandem schedule the stimuli as- erating function of delay duration. That is,
sociated with each component are identical. rate of responding dropped precipitously as
In Azzi et al.’s (1964) procedure, each delay the delay was increased from 1 to 10 s, but
restarted if a response occurred during the it asymptoted at that point, not dropping
further when delays were 15 or 20 s long.
1
Brenner was the name of the instrument maker at Columbia Univer-
sity who fabricated these water delivery devices. This relation is referred to as a delay of rein-
315
Kennon A. Lattal
316
Capítulo XX | Delay of Reinforcement
this instance, delay durations were varied and Azzi et al. (1964) to investigate the ac-
across successive conditions. Because there quisition of responding by naïve rats and
was no return to baseline between the suc- pigeons under unsignaled resetting and
cessive delay value increases, subsequent nonresetting delays to reinforcement when
delays were imposed on varying rates of the operant response was not shaped or
responding across manipulations, with un- otherwise trained, but left to develop with-
known effects on the delay of reinforcement out any such intervention by the investiga-
gradient. These delay of reinforcement gra- tors. Robust responding developed under
dients, however, are quite similar in shape these conditions, attesting to the power of
to those obtained with rats’ lever pressing or delayed reinforcement in developing and
pigeons’ keypecking maintained under oth- sustaining operant behavior. This is anoth-
er reinforcement schedules (Elcoro & Lat- er way of saying that immediate reinforce-
tal, 2011; Pierce, et al., 1972; Richards, 1981; ment is not necessary for learning to occur.
Sizemore & Lattal, 1978), suggesting that the That said, however, immediate reinforce-
baseline response rates may play less of a ment results in much more robust respond-
role in the form of the gradient than the de- ing. It is an open question as to whether
lay value itself. response acquisition is “faster” with imme-
diate versus delayed reinforcement of re-
One potential confounding variable sponses.
in the experiment was that of reinforcement
rate. Like so many other early experiments
involving reinforcement delays, reinforce- FINAL CONSIDERATIONS
ment rate under each delay value was not
reported by Azzi et al. (1964). It is almost Delay of reinforcement is one of the
certainly the case that reinforcement rates major parameters of reinforcement that af-
differed as the delays were increased in the fects its efficacy in developing and main-
first part of the experiment and in the pres- taining behavior (Kimble, 1961). For this rea-
ence and absence of a signal in the second son, its role both alone and in combination
part. Subsequent research, however, has with other reinforcement parameters, such
shown that reinforcement rate differences as reinforcer magnitude, has been inves-
generally do not account for the differences tigated extensively. One outcome of such
in response rates brought about when delay interactive analyses is delay discounting,
durations are changed (Lattal, 1982; Rich- in which systematically increasing delays
ards, 1981; Sizemore & Lattal, 1978). of reinforcement for a larger magnitude or
more probable reinforcer are pitted against
Lattal and Gleeson (1990) used a pro- a fixed, smaller magnitude or less proba-
cedure similar to that of both Skinner (1938) ble reinforcer to determine, among other
317
Kennon A. Lattal
things, the indifference point where either the responses that produce them. Basic re-
alternative is equally likely to be chosen search on delay of reinforcement suggests a
(see Green, Myerson, & Vanderveldt, 2014, number of conditions under which delays
for a contemporary summary of these find- will (e.g., longer or unsignaled delays) or will
ings). Studies of delay discounting offer in- not (e.g., shorter or signaled delays) reduce
sights into how different combinations of responding, but there has been little applied
reinforcement parameters might be scaled. research to expand on these findings as they
Similarly, delay of reinforcement (some- might relate to treatment programs (but cf.
times also called “gratification” in nonbe- Stromer, McComas, & Rehfeldt, 2000).
havior-analytic experiments on the phe-
nomenon) plays an important role in the One particularly important unre-
development of self-control or self-man- solved issue in the analysis of delayed rein-
agement strategies. Indeed, the foundation forcement with humans in either research
of this area of research and application is or applied settings is that of the mediation
the experimental analysis of delay of rein- of behavior during delays by verbal behav-
forcement. ior. Both Ferster (1953) and Azzi et al. (1964)
suggested that behavior is sustained during
Yet another area where delay of re- delays of reinforcement to the extent that
inforcement research has been important is certain stereotyped behavior patterns
in the study of conditioned reinforcement. emerge during the delay that result in a
A major theory of such reinforcement is the chain of behavior developing such that the
delay reduction theory, which suggests that response that initiates the delay is followed
stimuli function as reinforcers to the extent by some regular behavior pattern (not re-
that they indicate a reduction in the time of quired, but maintained by adventitious re-
access to (primary) reinforcement (Fantino, inforcement) that ends contiguously with
1977). reinforcement. Such superstitious chains
thus ensure a “connection” between the ini-
The lessons of delay of reinforce- tiating operant response and the reinforcer
ment have not been lost in applied behavior at the end of the delay. Verbal behavior of
analysis, where the importance of reinforcer humans, it has been suggested, also could
immediacy following appropriate behavior mediate delays. Something a person does
continues, with good reason, to be empha- now may not have an effect for an hour, a
sized. Although immediate reinforcement day, or even longer, yet the two events re-
may be optimal in both treatment and gen- main linked and the person continues to
erally in managing human behavior, much engage in the behavior reinforced after the
of human behavior is maintained even delay. Perhaps it is related to things that ei-
though its reinforcers are delayed from ther the person tells himself or others tell
318
Capítulo XX | Delay of Reinforcement
him during the intervening delay interval. perspectives on the use and implications of
Or perhaps not. Some contemporary crit- delay of reinforcement for the understand-
ics of such contiguity-based interpretations ing of the reinforcement process.
of delay of reinforcement have suggested
that temporal proximity between response Lattal (2010). Reviewed basic research on
and reinforcer plays a relatively minor role delay of reinforcement conducted in the
in the acquisition and maintenance of re- behavior-analytic tradition from Skinner to
sponding relative to the fact that there is an the time of his review.
overall correlation between response rate
and the reinforcer that accrue, either im- Renner (1964). Is an important early re-
mediately or after delays (see Baum, 1973). view of delay of reinforcement with a broad
The Lattal and Gleeson (1990) experiment learning-theory perspective on the topic.
described above illustrates that learning
can occur when there is only a correlation Stromer, McComas, & Rehfeldt (2000).
between responding and reinforcement, Considered some of the applied implica-
but not response-reinforcer contiguity. This tions of research on delay of reinforcement.
latter point raises the broader, unanswered
question of whether reinforcers occurring Tarpy & Sawabini (1974). Critiqued re-
after a delay are more usefully character- search on delay of reinforcement conduct-
ized as delayed from specific responses or ed from the time of Renner’s review until
correlated with groups of responses orga- their own.
nized as response rates or time allocated to
responses of particular topographies.
REFERENCES
Lastly, but certainly not least, from
an historical perspective the experiment Azzi, R., Fix, D. S. R., Keller, F. S., & Rocha
is important because it is the first of many e Silva, M. I. (1964). Exteroceptive control
subsequent research reports by Brazilian of response under delayed reinforcement.
behavior analysts to be published in the Journal of the Experimental Analysis of
Journal of the Experimental Analysis of Be- Behavior, 7, 159-162.
havior.
Baum, W. M. (1973). The correlation-based
law of effect. Journal of the Experimental
TO LEARN MORE Analysis of Behavior, 20, 137-153.
Commons, Mazur, Nevin, & Rachlin (1987). Commons, M. L., Mazur, J., Nevin, J. A., &
Is an edited volume offering a number of Rachlin, H. (Eds.) (1987). Quantitative stu-
319
Kennon A. Lattal
dies of operant behavior: The effect of delay Keller, F. S. (2008). At my own pace: The au-
and of intervening events on reinforcement tobiography of Fred S. Keller. Cornwall on
value. New York: Erlbaum. Hudson: Sloan Publishing.
Elcoro, M., & Lattal, K. A. (2011). Effects of Kimble, G. A. (1961). Hilgard and Mar-
unsignaled delays of reinforcement on fi- quis’ Conditioning and Learning. New York:
xed-interval schedule performance. Beha- Appleton Century Crofts.
vioural Processes, 88, 47-52.
Lattal, K. A. (1984). Signal functions in de-
Fantino (1977). Conditioned reinforcement, layed reinforcement. Journal of the Experi-
choice, and information. In W. K. Honig & mental Analysis of Behavior, 42, 239-253.
J.E.R. Staddon (Eds.), Handbook of operant
behavior (pp. 326-339). New York: Prentice Lattal, K.A. (2010). Delayed reinforcement
Hall. of operant behavior. Journal of the Experi-
mental Analysis of Behavior, 93, 129-139.
Ferster, C. B. (1953). Sustained behavior un-
der delayed reinforcement. Journal of Expe- Lattal, K. A., & Gleeson, S. (1990). Respon-
rimental Psychology, 45, 218-224. se acquisition with delayed reinforcement.
Journal of Experimental Psychology: Animal
Green, L., Myerson, J., & Vanderveldt, A. Behavior Processes, 16, 27-39.
(2014). Delay and probability discounting.
In F. K. McSweeney & E. S. Murphy Lattal, K. A., & Ziegler, D. R. (1982). Briefly
(Eds.), The Wiley Blackwell handbook of delayed reinforcement: An interresponse
operant and classical conditioning. Oxford: time analysis. Journal of the Experimental
John Wiley & Sons. Analysis of Behavior, 37, 407-416.
Guthrie, E. R. (1935). The psychology of lear- Pierce, C. H., Hanford, P. V., & Zimmerman,
ning. New York: Harper. J. (1972). Effects of different delay of
reinforcement procedures on variable-in-
Hull, C. L. (1943). Principles of Behavior. terval responding. Journal of the Experi-
New York: Appleton-Century Crofts. mental Analysis of Behavior, 18, 141-146.
Jarmolowicz, D. P., & Lattal, K. A. (2013). De- Renner, K. E. (1964). Delay of reinforcement:
lay of reinforcement and fixed-ratio perfor- A historical review. Psychological Review,
mance. Journal of the Experimental Analy- 61, 341-361.
sis of Behavior, 100, 370-395.
Reilly, M.P., & Lattal, K.A. (2004). Progressi-
320
Capítulo XX | Delay of Reinforcement
321
Hiroto Okouchi
Hiroto Okouchi
Osaka Kyoiku University, Japan
Lubinski, D., & Thompson, T. (1987). An animal model of the interpersonal communication of
interoceptive (private) states. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 48, 1-15.
“We need not suppose that events which take place within an organism’s skin have
special properties for that reason”
(Skinner, 1953, p.257).
322
Capítulo XXI | Private Events
323
Hiroto Okouchi
324
Capítulo XXI | Private Events
Figure 2. A two-pigeon communicative exchange based on the drug state (internal state) of one of the pigeons. From left to right, the five frames (A-E)
show the successive components of the procedure. The pigeons on the left and the right in each frame were the mander and the tacter, respectively
(reproduced from Lubinski & Thompson, 1987, with permission of John Wiley and Sons).
the first component involved an arbitrary with food and water, respectively.
matching-to-sample task (the procedure
of this training will be summarized later). The matching-to-sample task the
After this training, the established chain tacters experienced is known as a drug dis-
was as follows: (a) The tacter was injected a crimination procedure: Reinforce one type
depressant (pentobarbital), a stimulant (co- of activity following drug administration
caine) or isotonic saline solution; (b) three and reinforce some other activity following
response keys, each labeled with a letter “D”, administration of either no drug or some
“N”, or “Σ” were illuminated (Figure 1); (c) other drug (Branch, 1991). With no differ-
the tacter’s key pecks matching the inject- ential exteroceptive stimuli correlated with
ed substance (the “D” key for pentobarbi- any activity, choices that produced reinforc-
tal, the “Σ” key for cocaine, and the “N” key ers more frequently than chance levels and
for saline) were followed by presentation could be attributed to interoceptive stimuli
of a flashing blue light above the response arising from the administrated substance
keys; (d) responses on a key above a food (e.g., the drug or the saline solution). Thus,
dispenser (food key) and on a key above a the tacters in the Lubinski and Thompson’s
water dispenser (water key) were reinforced (1987) experiment were trained to “report
325
Hiroto Okouchi
A second goal of the Lubinski and A mand, a more primitive unit of ver-
Thompson’s (1987) experiment was to as- bal behavior, is “a verbal operant in which
sess whether the pigeons’ responses to their the response is reinforced by a characteris-
internal (private) events could function as a tic consequence and is therefore under the
tact, which was examined on the final part functional control of relevant conditions of
of the experiment (described later). A tact, a deprivation or aversive stimulation” (Skin-
unit of verbal behavior, is “a verbal operant ner, 1957, pp.35-36). Saying “Candy” is an
in which a response of given form is evoked example of a mand when reinforced by ac-
(or at least strengthened) by a particular cess to candy, and the response “Candy”
object or event or property of an object or will be more likely to occur after a period
event” (Skinner, 1957, pp.81-82). Quoting of candy/food deprivation (Skinner, 1957,
several other authors (e.g., MacCorquodale, p.35). The manders, which were maintained
1969; Skinner, 1957, pp.81-82), Lubins- at 85% of their free-feeding weights by food
ki and Thompson stated that tacts are not deprivation, were trained in a three-com-
maintained by particular reinforcers, nor ponent chain in which the third component
do they covary with the individual’s state involved an arbitrary matching-to-sample
of deprivation or aversive stimulation, but task. The established chain for the mander
are maintained by generalized conditioned was as follows: (a) A key with English letters
reinforcers (e.g., saying “Right” when some- arranged to form words “How Do You Feel?”
one correctly names the color of a red card was illuminated (Figure 1); (b) the mander’s
by saying “Red”). In order to reach this sec- pecking the “How Do You Feel?” key was
ond goal, therefore, Lubinski and Thomp- followed by the illumination of another key
son attempted to establish the flashing blue labeled “Thank You”; (c) when the mander
light as a generalized conditioned reinforc- pecked the “Thank You” key, a letter “D”,
er that could maintain the behavior of the “N”, or “Σ” was projected onto a sample key;
tacters. The tacters were deprived of food (d) pecking the sample key and then peck-
more strictly than they were deprived of ing the comparison key containing the cor-
water on one day (i.e., 28 hr food deprived rect matching response (a key labeled “P” to
and 4 hr water deprived), and they were de- the letter “D”, a key labeled “C” to the letter
prived of water more strictly than they were “Σ”, and a key labeled “S” to the letter “N”)
deprived of food on another day (i.e., 28 hr produced food.
326
Capítulo XXI | Private Events
After both manders and tacters inde- It should be noted that the Lubinski
pendently acquired the necessary accuracy and Thompson’s (1987) experiment had two
(i.e., at least 80% of correct responses) on additional phases (Phases 2 and 3). In Phase
their chain performance, individual tacters 2, the tacters were injected novel drugs,
and manders were placed in their chambers chlordiazepoxide and d-amphetamine,
simultaneously. As Figure 2 illustrates, which share pharmacological properties
the behavioral interaction required of each with pentobarbital and cocaine, respec-
mander-tacter pair was as follows; (a) The tively, as a generalization test. In Phase 3,
mander’s “How Do You Feel?” was illumi- the authors examined whether the tacters’
nated and the mander pecked it; (b) all of responses to their private events actually
the tacter’s comparison keys (i.e., the “D”, functioned as tacts. The tacters’ perfor-
“N”, and “Σ” keys) were illuminated and the mances were tested when the tacters were
tacter pecked the comparison key correlated placed in their experimental chamber after
with the injected substance (or the tacter’s receiving 24 hr free access to both food and
own “feelings”); (c) the “Thank You” key in water (the tacters were satiated with food
the mander’s chamber was illuminated and and water), and when their correct respons-
the mander pecked it; (d) the letter (“D”, “N”, es flashed the blue light only, but did not
or “Σ”; i.e., the drug “name” or the tacter’s produce water or food anymore (the tacters’
report of its feelings) previously pecked by correct responses produced only a condi-
the tacter appeared on the mander’s sam- tioned reinforcer).
ple key and the blue light started to flash in
the tacter’s chamber; the mander pecked
the sample key and then pecked the cor- Results and Discussion
rect comparison key; the tacter pecked the Results of Phase 1
food key or the water key, producing either Because only a single substance
food or water; (e) the mander received food. (pentobarbital, cocaine, or saline) was in-
If the tacter pecked a comparison key un- jected prior to each session, the correct
correlated with the injected substance (an choice for the tacter was the same across
incorrect response), the houselights were all trials within a session. Thus, the perfor-
dimmed for 4 s and the initial link of the mance of the tacters on the first trial of a
chain (a) was reinstated. Thus, the sample session was important in this experiment.
stimulus presented to the mander was al- Both the mander and the tacter responded
ways correct. Both manders worked with correctly (e.g., the tacter injected the pento-
each of the tacters. Pigeons were tested barbital pecked the “D” key and the mander
under this interaction for 40 experimental pecked the “P” key) on the first trial in 70-
sessions. 100% of the sessions, whereas the percent-
age of a correct discrimination happening
327
Hiroto Okouchi
by chance was approximately 11% (i.e., the eralization obtained in Phase 2 qualifies
product of the two individual performances as an example of extended tacts and ex-
happening by chance, i.e., .33 x .33). These emplifies with nonhumans Skinner’s de-
results suggest that the pigeons learned to scription of how humans come to report on
interact communicatively based on events novel feelings; (d) Lubunski and Thomp-
in their internal milieu. son’s results demonstrate that covert be-
havior (e.g., thoughts, feelings, and images),
Results of Phases 2 and 3 which has been one of the candidates for
The performances observed in Phase nonhuman-animal experimental models
1 persisted in Phase 2, suggesting that the (Epstein, 1984) but has resisted empirical
tacters’ responses to their private events analysis, is amenable to objective analysis;
arising from training drugs (pentobarbital (e) the performances studied by Lubinski
and cocaine) generalized to those of similar and Thompson may not constitute an ex-
private events arising from untrained drugs ample of “linguistic activity” as the term is
(chlordiazepoxide and d-amphetamine). usually understood, but share features with
The performances observed in Phases 1 and those activities seen in very young chil-
2 persisted in Phase 3, suggesting that the dren or individuals diagnosed with devel-
tacters’ accurate responses to their private opmental disabilities; (f) Savage-Rumbaugh
events were not maintained by particular (1984) claimed that behavior controlled by
reinforcers (food or water), nor did they co- the contingencies imposed by electronic
vary with the tacters’ states of deprivation, circuity rather than by another individual
but were maintained by a generalized con- could not be characterized as “communica-
ditioned reinforcer (the flashing blue light). tion.” However, human dyadic exchanges
of responses often are mediated by external
The discussion of Lubinski and events such as telephone connections and
Thompson (1987) may be summarized as computer bulletin boards, and we are still
follows: (a) The tacters’ behavior involved content to refer to such exchanges as “ver-
tacting private events; (b) the tacters bal.”
learned to tact private events under a con-
tinuous reinforcement schedule with 100%
accuracy, that is, by a contingency in which IMPACT
every correct response produced a reinforc-
er and any incorrect response produced no The experiment by Lubinski and
reinforcer; in contrast, humans are consid- Thompson (1987) has received great at-
ered to learn to tact private events by an tention (e.g., Catania, 1992, pp.219-220). In
intermittent reinforcement schedule with 1993, the journal Behavioral and Brain Sci-
weak accuracy (Skinner, 1945); (c) the gen- ences devoted space to a debate on it, with
328
Capítulo XXI | Private Events
329
Hiroto Okouchi
330
Capítulo XXI | Private Events
331
Hiroto Okouchi
study private events based on a behavioral the analysis of behavior. Behaviorism, 12,
point of view. 41-59.
Sonoda & Okouchi (2012). This article re- Epstein, R., Lanza, R. P., & Skinner, B. F.
ports experiments that replicated the re- (1980). Symbolic communication between
sults of Okouchi (2006), using a revised two pigeons (Columba livia domestica). Sci-
procedure. In Experiment 2, the learners ence, 207, 543-545.
learned to tact “private events” by rein-
forcement not with 100%, but with 83.3% Epstein, R., & Skinner, B. F. (1981). The
accuracy, illustrating a laboratory analogue spontaneous use of memoranda by pigeons.
to daily life, in which humans are consid- Behavior Analysis Letters, 1, 241-246.
ered to learn to tact private events by a re-
inforcement schedule with weak accuracy Ferster, C. B., & Skinner, B. F. (1957). Sched-
(Skinner, 1945). ules of reinforcement. New York: Apple-
ton-Century-Crofts.
332
Capítulo XXI | Private Events
Lubinski, D., & Thompson, T. (1987). An Sidman, M., & Tailby, W. (1982). Condition-
animal model of the interpersonal commu- al discrimination vs. matching to sample:
nication of interoceptive (private) states. An expansion of the testing paradigm. Jour-
Journal of the Experimental Analysis of Be- nal of the Experimental Analysis of Behav-
havior, 48, 1-15. ior, 37, 5-22.
Lubinski, D., & Thompson, T. (1993). Spe- Skinner, B. F. (1945). The operational anal-
cies and individual differences in commu- ysis of psychological terms. Psychological
nication based on private states. Behavior- Review, 52, 270-277.
al and Brain Sciences, 16, 627-680.
Skinner, B. F. (1953). Science and human
MacCorquodale, K. (1969). B. F. Skinner’s behavior. New York: Macmillan.
verbal behavior: A retrospective apprecia-
tion. Journal of the Experimental Analysis Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New
of Behavior, 12, 831-841. York: Appleton-Century-Crofts.
Madden, G. J. (Ed.). (2013). APA handbook Sonoda, A., & Okouchi, H. (2012). A revised
of behavior analysis (Vol.1). Washington, procedure for analyzing private events. The
DC: American Psychological Association. Psychological Record, 62, 645-661.
Okouchi, H. (2006). An experimental anal- The Oxford English Dictionary (2nd. ed.).
ysis of another privacy. The Psychological (2004). Oxford: Clarendon Press.
Record, 56, 245-257.
Tourinho, E. Z. (2006). Private stimuli, co-
Rachlin, H. (2003). Privacy. In K. A. Lattal, vert responses, and private events: Con-
& P. N. Chase (Eds.), Behavior theory and ceptual remarks. The Behavior Analyst, 29,
philosophy (pp.187-201). New York: Kluwer 13-31.
Academic/Plenum Publishers.
333
View publication stats