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ISSN 1517-4786
Outubro, 2007
São Carlos, SP
Foto: Daniel Ayub Coutinho
Imagem: Partículas de Nanossílica obtidas de
Termogravimetria de
Cascas de Arroz
Cavalinha (Equisetum arvense L.)
A produção mundial de arroz está em torno de 590 A casca de arroz, por se tratar de um produto de
milhões de toneladas por ano, sendo que 1,8% desse total origem vegetal, é composta, em sua maioria, por celulose
corresponde à produção brasileira no período de 2001. A e hemicelulose, que correspondem a 50% do peso seco
lavoura orizícola tem grande importância econômica para o da casca; a lignina também está presente e corresponde a
Brasil, sendo que no ano de 2000 a produção, no valor de 26% da massa seca; óleos, proteínas, etc correspondem a
R$ 3,34 bilhões, representou 6,7% do valor bruto da 4%. Os 20% restantes correspondem aos compostos
produção agrícola nacional (R$ 49,75 bilhões). Apenas a inorgânicos, sendo que 94% desse total é formada pela
soja, o milho, o café e a cana-de-açúcar têm valor bruto sílica, enquanto os 6% restantes consistem de K2O, CaO,
maior do que a orizicultura. A orizicultura irrigada é MgO, Al2O3, P2O5 em concentrações decrescentes
responsável por 65% da produção nacional e desse total, (HOUSTON, 1972; GALLO et al., 1974).
60% corresponde a produção da região Sul. A composição de orgânicos e inorgânicos das
(IMPORTÂNCIA..., 2005). cascas de arroz depende de vários fatores, tais como
A casca de arroz, resíduo gerado pela produção, variedade, tipo de solo, condições climáticas e adubação.
possui um elevado poder calorífico (aproximadamente A sílica amorfa e a sílica branca podem ser extraídas a
16720 kJ/kg, o qual corresponde a 33% da capacidade partir da casca e do caule das plantas de arroz, originando
um material de alta área superficial.
térmica do petróleo (KAPUR, 1985)), e vem substituindo a
O objetivo deste trabalho é a caracterização de
lenha empregada na geração de calor nos secadores de
casca de arroz por termogravimetria, demonstrando o
grãos. Esta utilização, ainda que pequena (somente 30% do
potencial da técnica aplicada a este resíduo agrícola, e a
montante), apresenta-se como uma alternativa para o
caracterização dos resíduos de queima da casca de arroz
aproveitamento desse resíduo. Porém, se a queima da
por espectroscopia no infravermelho com transformada de
casca não for controlada, gera-se um outro resíduo, a cinza Fourier (FTIR).
da casca de arroz, que contém, além de matéria orgânica
remanescente, pó de sílica, com partículas de forma Termogravimetria
acicular, que quando em inaladas, podem ocasionar
doenças ao sistema respiratório, como a silicose, e em A termogravimetria é uma técnica de análise
contato com a pele, irritação. As cascas de arroz, assim térmica em que a mudança na massa da amostra é
como as cinzas excedentes, são depositadas a céu aberto determinada como uma função da temperatura e/ou tempo
em beiras de estrada e margens de rios (SOUZA et al., (WENDLANDT, 1986). Três modos de termogravimetria
2002; DELLA et al., 2006; ROMANO et al., 2006). são amplamente utilizados:
¹Eng. de Materiais, Dr., Embrapa Instrumentação Agropecuária, Rua XV de Novembro, 1452 - São Carlos, SP, CEP 13560-970, marconcini@cnpdia.embrapa.br
2
Eng. Químico, Graduando, UFSCar, Embrapa Instrumentação Agropecuária, Rua XV de Novembro, 1452 - São Carlos, SP, CEP 13560-970, rmosor@gmail.com
Termogravimetria de Cascas de Arroz 2
O termo da direita de equação 5 pode ser Calcinação em mufla das cascas de arroz
resolvido utilizando a seguinte expansão por série de
potências As cascas de arroz foram calcinadas em mufla
a ¥
modelo EDG3P-S, marca EDG Equipamentos, com razão
da AEa e - x æ AEa ö e - x de aquecimento de 10ºC.min-1 até 500ºC, mantendo-se
F (a ) = ò = dx @ çç ÷÷ 2
0
f (a ) bR ò0 x 2 è bR ø x nesta temperatura por 1 ou 2 h. Esta temperatura foi
escolhida a partir dos resultados de termogravimetria.
é 1 1 2 ù
ê (x + 1) - (x + 1)(x + 2 ) + (x + 1)(x + 2 )(x + 3) + ...ú (6)
ë û Espectroscopia na região do infravermelho com
transformada de Fourier (FT-IR)
E
onde x = a . O logaritmo da expansão foi usado por
RT
Doyle, segundo WENDLANDT (1986), para obter a As cinzas das cascas de arroz calcinadas em
equação mufla foram caracterizadas por espectroscopia na região
a ¥ do infravermelho.
da AEa æ e - x ö AEa æ Ea ö
F (a ) = ò = ç ò 2 dx ÷ @
ç ÷ RT pçè RT ÷ø (7) Como referência para comparação dos espectros,
0
f (a ) RT è x x ø foi realizada uma análise de uma amostra de sílica 99,5%.
Para a realização das análises, foram feitas
æ Ea ö
O termo pçè RT ÷ø na equação 7 é a temperatura pastilhas de sal de KBr, na proporção de 100 mg de KBr
integral definida por Doyle, segundo WENDLANDT para 1 mg de amostra.
E
(1986), para 20 < a < 60. Como esta equação Os espectros foram obtidos com 16 scans e
RT
envolve uma integração exponencial que envolve uma resolução de 2 cm-1 em um em um espectrômetro de
sucessão de correlações matemáticas, o método integral infravermelho com transformada de Fourier modelo
de Ozawa (1965) utiliza a aproximação linear de Doyle de Spectrum 1000, marca Perkin Elmer.
æE ö
pç a ÷ dado pela equação 8 para obter a equação 9.
è RT ø
Resultados e discussão
æE ö E (8)
ln pç a ÷ = -5.3305 - 1.0516 a
è RT ø RT Termogravimetria
æ AEa ö E
ln b = lnç ÷ - 5.3305 - 1.0516 a - ln[F (a )] (9) Os resultados de termogravimetria são
è R ø RT
apresentados a seguir segundo tipo de arroz,
Para um grau de conversão constante, ou seja a primeiramente cascas de arroz agulhinha, seguido dos
constante, a curva de ln (b ) versus 1/T, obtida das curvas resultados para cascas de arroz cateto.
TG em várias razões de aquecimento constantes (b)
resulta em uma linha reta cujo coeficiente angular é Casca de arroz tipo agulhinha
E
aproximadamente - 1.0516 a e o coeficiente angular é
AE R
aproximadamente lnæç a ö÷ - 5.3305 - ln[F (a )] A Figura 1 apresenta os resultados obtidos da
è R ø
termogravimetria da casca de arroz agulhinha.
Materiais 5 ºCmin-1
80 10 ºCmin-1
-1
15 ºCmin
Neste trabalho foram utilizados dois tipos de 20 ºCmin-1
cascas de arroz (Oryza sativa), variedade agulhinha, 60
Massa (%)
40
Métodos
Termogravimetria 20
100 -1,0
Voláteis a = 5%
5 ºCmin-1
-1,2 a = 10%
80 10 ºCmin-1
-1,4
15 ºCmin-1
20 ºCmin-1
-1,6
Massa (%)
60
Orgânicos
ln (b)
-1,8
40
-2,0
20 -2,2
Resíduos -2,4
0
0 100 200 300 400 500 600 -2,6
0,00175 0,00180 0,00185 0,00190 0,00195
Temperatura (ºC)
1/T ( K-1)
Fig. 2 - Curvas TG da casca de arroz variedade cateto em Fig. 3 - Gráfico de logaritmo da razão de aquecimento (ln
atmosfera de ar sintético. ) pelo recíproco da temperatura para determinação de
energia de ativação da casca de arroz agulhinha.
Da Figura 2 é possível se observar os dois
patamares de temperatura, o primeiro que representa a -0,8
evaporação de compostos voláteis e o segundo que
-1,0 a = 5%
representa a queima completa de todo o composto a = 10%
orgânico presente na casca. -1,2
-2,6
Tabela 1: Estatística descritiva das porcentagens 0,00175 0,00180 0,00185 0,00190 0,00195
de massa dos compostos voláteis e resíduos inorgânicos 1/T (K-1)
para a variedade agulhinha.
Fig. 4 - Gráfico de logaritmo da razão de aquecimento (ln)
Cascas de Perdas de Media Desvio Erro padrao Valor Valor Numero de
arroz massa (%) padrao (%) da media (%) maximo (%) minimo (%) amostras pelo recíproco da temperatura para determinação de
Agulhinha Volateis
Inorganicos
8,54
8,60
0,22
1,26
0,11
0,63
8,77
10,48
8,55
7,82
4
4
energia de ativação para casca de arroz cateto.
Volateis 8,51 0,29 0,14 8,73 8,10 4
Cateto
Inorganicos 16,52 1,21 0,60 18,24 15,57 4
A Tabela 2 mostra as energias de ativação e os
As porcentagens de massa de resíduos fatores pré-exponenciais das duas variedades de arroz
inorgânicos, diferentemente dos voláteis, apresentaram calculados a partir do método de Ozawa (equação 9),
altos valores de desvio padrão. mostrando uma maior energia de ativação do processo
Comparando-se os valores de resíduos inicial de queima para o arroz cateto.
inorgânicos de arroz agulhinha (8,60%) e cateto
(16,52%), observa-se nítida diferença das quantidades de Tabela 2: Energia de ativação (Ea) e fator pré-
resíduos, o que ocorre devido às diferenças de variedade, exponencial (A) do processo de queima para as duas
condições de plantio, clima e safra. variedades de arroz
Termogravimetria de Cascas de Arroz 5
Tipo de casca de arroz Ea (kJmol-1) A (min-1) De maneira similar à casca de arroz tipo
agulhinha, a ocorrência de picos de absorbância nos
Agulhinha 126,7 30,41 mesmos números de onda indica a presença de sílica na
Cateto 144,1 30,36 casca de arroz da variedade cateto. O sinal intenso
característico em 1080 cm-1, das Figuras 5 e 6, referente
à ligação Si O Si (SILVERSTEIN e WEBSTER, 2000) é
nitidamente observado nos espectros.
Caracterização da sílica
Realizou-se comparativamente com tempos
distintos de patamar de calcinação. Não houve diferenças
Espectroscopia na região do infravermelho com
significativas entre os espectros obtidos após 1 e 2h de
transformada de Fourier (FT-IR) calcinação. A partir deste resultado, padronizou-se com o
tempo de uma hora de patamar de calcinação para todas
A partir das cinzas obtidas da calcinação na as amostras para a obtenção de sílica, para melhor
mufla foram obtidos espectros no infravermelho, com o comparação de resultados.
objetivo de caracterizar, de maneira qualitativa, as cinzas
de casca de arroz. Conclusões
A Figura 5 ilustra os espectros obtidos da sílica
comercial (pureza de 99,5%) e das cinzas das cascas de A partir dos resultados de termogravimetria
arroz do tipo agulhinha. observaram-se diferenças nas quantidades de resíduos
entre diferentes tipos de casca de arroz, cerca de 8%
para a variedade agulhinha e 16% para a variedade
cateto. A técnica também proporcionou escolher as
temperaturas de queima e calcular as energias de
ativação para o início do processo de queima.
Agradecimentos
Referências
ROMANO, J. S.; RODRIGUES, F. A.; BERNARDI, L.T.; SOUZA, M. F.; MAGALHÃES, W. L. E.; PERSEGIL, M. C.
RODRIGUES, J. A. SEGRE, N. 'Calcium silicate cements Sílica Derived from Burned Rice Hulls, Materials Research,
São Carlos, v. 5, n. 4, p. 467-474, 2002.
obtained from rice hull ash: A comparative study'. Journal
of Materials Science, Norwell, v. 41, n. 6, p. 1775-1779,
WENDLANDT, W. W. Thermal Analysis. [S. l.]: John
2006.
Wiley & Sons, 1986. p. 9-86.
Comunicado Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Dr. Carlos Manoel Pedro Vaz
Técnico, 89 Embrapa Instrumentação Agropecuária Publicações Membros: Dra. Débora Marcondes B. P. Milori,
Rua XV de Novembro, 1542 - Caixa Postal 741 Dr. João de Mendonça Naime,
Ministério da Agricultura, Dr. Washington Luiz de Barros Melo
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www.cnpdia.embrapa.br Expediente Rervisor editorial: Dr. Victor Bertucci Neto
Normalização bibliográfica: Valéria de Fátima Cardoso
1a. edição Tratamento das ilustrações: Valentim Monzane
Editoração eletrônica: Valentim Monzane
1a. impressão 2007: tiragem 300