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À imagem e semelhança

De Evana Ribeiro

Capítulo 75
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CENA 1 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE VALENTINA – INT – NOITE


Continuação da cena final do capítulo anterior. Alice olha para os lados,
evitando olhar diretamente para Valentina.

VALENTINA – O que houve?

ALICE – Eu gostaria de falar com você sobre... Sobre essa


história de você ficar sem jantar! Você quer que Angela
volte pra casa e encontre você assim, doente?

VALENTINA – Eu só estou sem fome.

ALICE – De toda forma, devia comer alguma coisa. Assim


vai acabar ficando doente.

Valentina olha bem para o rosto de Alice, calada.

VALENTINA – Que interessante. É a primeira vez que vejo


você se preocupar desse jeito comigo.

ALICE – É...

VALENTINA – Pode ficar tranqüila, eu me viro bem


sozinha.

ALICE – Nada disso, mocinha! Eu sou sua mãe e você


precisa de mim.

VALENTINA – Será mesmo?

ALICE – Claro que sim!


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VALENTINA – Um dia eu precisei de você, e precisei


muito, sabia? E você, o que tava fazendo? Transformando
o Leon num cara totalmente dependente! Eu tentava,
tentava de todo jeito me tornar um pouquinho importante
pra você, queria que você sentisse orgulho de mim. Nada
adiantava... Você sempre deu toda a atenção pra ele,
como se fosse filho único! Se eu não tivesse Lucille...

ALICE – E agora, o que ela fez? Roubou a alegria da sua


vida! É assim que ela gosta de você?

VALENTINA – Acho que isso não vem ao caso.

ALICE – Claro que vem! Você sempre a considerou uma


mãe... Uma mãe faria o que ela fez com uma filha tão
querida?

VALENTINA – Uma mãe também não faria o que você fez


comigo.

ALICE – Valentina... Por favor, nós precisamos dar um fim


nisso, de uma vez por todas! Somos mãe e filha, moramos
na mesma casa e continuamos com essa palhaçada! O
tempo que passei longe de vocês me fez reconsiderar
muita coisa, inclusive a forma como estávamos nos
relacionando. (t) Eu admito que errei feio com você, dei até
a impressão de que não gostava de você, mas acontece
que... Eu achei que seu irmão podia morrer a qualquer
hora.
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VALENTINA – Eu era uma criança como ele, podia


acontecer qualquer coisa de ruim comigo também.

ALICE – Eu sei, mas naquela época eu não conseguia ver


as coisas assim. Eu vi a hora de perder o meu filho,
exatamente como você está vendo agora... Eu sei
exatamente o que está se passando aí dentro de você,
porque eu passei pelo mesmo. Acho que o mais certo é
deixarmos o passado pra trás e tentar começar outra vez.
(t) Espero que você também pense assim.

Valentina senta na cama e fica de cabeça baixa por um minuto. Ela começa
a chorar. Alice se aproxima, senta-se ao lado dela e a abraça.

ALICE (começando a chorar) – Me perdoe, minha filha...


Nada disso teria acontecido se eu não tivesse te ignorado
tanto!

VALENTINA – Não, você é que tem que me perdoar... Por


ter sido tão boba e rancorosa.

ALICE – Vamos esquecer tudo isso e tentar ser uma


família de verdade, como devia ser, tá?

CORTA PARA

CENA 2 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/SALA – INT – NOITE


Marcelo, Leon e Jerri estão sentados no sofá, olhando em direção a escada
com ar preocupado.
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JERRI – Elas tão demorando demais... Será que não vai


mais ter jantar?

LEON – Será que elas estão discutindo?

MARCELO – Não, não... Elas estão acertando os


ponteiros, só isso.

Alice aparece no alto da escada e começa a descer.

MARCELO – Cadê ela?

ALICE – Ela não vai descer, mas vou levar o jantar dela no
quarto.

LEON (rindo) – Que mordomias!

MARCELO – E como ficou tudo entre vocês?

ALICE – Tudo bem. Finalmente resolvemos tudo! Agora só


falta Angela voltar e podemos ser uma família de verdade!

JERRI – Agora vamos comer alguma coisa, qualquer


coisa, que eu já tô atrasado...

LEON – Atrasado pra quê, criatura?

JERRI – Marquei de sair com uma das secretárias da


gráfica...

LEON – Qual delas?


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JERRI – A Ana.

LEON – Certo, certo...

CORTA PARA

CENA 3
Tomada aérea de Londres.

CORTA PARA

CENA 4 – APARTAMENTO DE MICHAEL E MONIKA/SALA – INT – NOITE


Ian e Monika conversam, sozinhos.

IAN – Espera, Monika. Conta de novo tudo o que


aconteceu, devagar.

MONIKA – Eu estava procurando fotos antigas da família e


Marianne estava comigo. Então eu ia sair do quarto, e
algumas fotos caíram no chão. Ela viu os retratos e reagiu!
Ela se mexeu como se quisesse apanhar as fotos, e
gemeu, como se quisesse dizer alguma coisa! Eu fiquei
tão assustada... E feliz ao mesmo tempo, é claro. As
fotografias foram estas aqui. (entrega os retratos a Ian)

IAN (olhando as fotos) – Então estamos mais perto do que


nunca de solucionar o problema! (t) O ‘x’ da questão só
pode ser algum problema de família, um trauma que até
agora ninguém conseguiu descobrir até agora.
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MONIKA – E o que faremos agora?

IAN – Vamos tentar outra vez. Nós estamos no caminho


certo, tenho certeza.

A campainha toca. Monika abre a porta, Laurie entra e pára de andar ao ver
Ian.

IAN – Olá, Laurie.

LAURIE – Olá.

MONIKA – Você disse que viria à tarde. Por que só


chegou agora?

LAURIE – Desculpe, eu acabei me distraindo demais nas


compras. As sacolas estão no táxi. E Marianne, como
passou o dia?

IAN – Estávamos falando dela nesse momento.

Ian começa a explicar (fora de áudio) a Laurie, que olha para ele com
especial interesse.

CORTA PARA

CENA 5
Tomada aérea de Salvador.

CORTA PARA
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CENA 6 – SALVADOR/RUA – EXT – NOITE


Cristina e Pietra andam juntas, conversando e rindo.

CRISTINA – Meu Deus, tá muito tarde! A gente perdeu


mesmo a noção do tempo...

PIETRA – Mas foi muito legal. Até esqueci o que foi que
tinha acontecido antes da gente trombar aí! Quando é que
a gente se vê de novo?

CRISTINA – Não sei, viu... Acho que antes de ir pra Recife


a gente se vê.

PIETRA – Você vai pra lá, é?

CRISTINA – É, tô voltando. Sou de lá, né...

PIETRA – E vai fazer o que por lá?

CRISTINA – Não sei direito. Mas preciso ir... Pra que lado
você vai?

PIETRA – Vou ficar aqui mesmo e pegar um táxi. E você?

CRISTINA – Vou andando mesmo, tá pertinho de casa.

PIETRA – Então tchau... Até uma hora dessas.

CRISTINA – Até!
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Cristina acena de longe para Pietra e se afasta sem olhar para trás. Pietra a
observa se afastar, com ar triste.

PIETRA – Caramba... Acabei de conhecer a pessoa mais


legal do mundo e ela tá quase indo embora! Droga!

CORTA PARA

CENA 7
Tomada aérea de São Paulo.

CORTA PARA

CENA 8 – SÃO PAULO/BOATE – INT – NOITE


Uma grande quantidade de pessoas dança ao som de uma música
eletrônica. Jerri pára de dançar, enquanto sua acompanhante Ana continua.

JERRI – Tô cansado... Vamos beber alguma coisa?

ANA – Mas a gente chegou quase agora!

JERRI – A gente vai lá, depois volta...

Jerri pega Ana pelo braço e sai da pista com Ana, que o acompanha a
contragosto. Travelling da ida deles ao balcão. Jerri senta-se em um banco, Ana
continua em pé.

JERRI – O que foi?

ANA – Cê tá muito morgado, sabia?


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JERRI – Morgado por quê?

ANA – Não quer dançar, não conversa...

JERRI – Ô, meu amor... Desculpa aí. A gente bebe algo e


depois vamos fazer o que você quiser, tá?

Jerri puxa Ana Para sentar em seu colo e a beija.

JERRI - Gosto tanto de tu, Ana Paula...

ANA – Peraí, você me chamou de quê?

JERRI – De Ana...

ANA – Ana Paula!

JERRI – Mas...

ANA – Meu nome é Ana Maria! Quem é Ana Paula?

JERRI – Desculpa, eu confundi...

ANA – Isso eu não vou admitir não! Me confundir com


outra já foi demais!

Ana sai correndo. Jerri atrás dela e a segura pelo braço.

JERRI – Volta aqui! Esquece isso, eu só me confundi...

ANA – Me fala quem é essa tal de Ana Paula então.


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JERRI – Não é ninguém.

ANA – É? Ninguém? Tá escrito na tua testa que isso é


mentira.

JERRI – Tá... Eu digo. Ela é...

ANA – Deixa, não quero mais saber. Paga a conta aí,


falou?

Ana sai correndo. Jerri não reage.

CORTA PARA

CENA 9 – PENSIONATO/QUARTO DE GIULIA – INT – NOITE


Giulia está deitada, mas ainda acordada. Seu celular começa a tocar e ela o
pega no criado mudo. Corta para o visor do aparelho, que mostra o nome de
Daniel. Giulia recusa a chamada e volta a colocar o telefone no lugar onde estava.
Ele volta a tocar. Giulia torna a recusar a chamada e cobre a cabeça com o
travesseiro. Passam-se alguns instantes em silêncio. O celular toca novamente.
Giulia levanta da cama, pega o telefone, respira fundo e atende a ligação.

GIULIA – Alô.

DANIEL (off) – Giulia, sou eu!

GIULIA – Eu sei. Eu tava dormindo, sabia?

DANIEL (off) – Desculpa. Mas eu precisava falar com


você.
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GIULIA – Eu não tô em condições de conversar agora, tá?


(t) Depois a gente fala, agora não, não insiste!

Giulia desliga o telefone com raiva e deita na cama.

GIULIA – Onde, meu Deus... Onde foi que eu vim amarrar


o meu burrinho?

Giulia cobre novamente o rosto com o travesseiro.

CORTA PARA

CENA 10
Tomada aérea de Campinas.

CORTA PARA

CENA 11 – CAMPINAS/RUA – EXT – DIA


Giulia caminha despreocupada pela calçada. Um carro vermelho se
aproxima e começa a buzinar. Ela não dá atenção e continua andando. O carro
continua a perseguindo e buzinando. Daniel, que está dirigindo o carro, abaixa o
vidro da janela.

DANIEL – Giulia!

GIULIA (pára e olha para trás) – O que é?

DANIEL – Entra. A gente precisa conversar.

GIULIA – Não tô muito a fim de papo hoje.


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DANIEL – Por favor.

Giulia fica olhando para Daniel, séria. Depois, entra no carro.

CORTA PARA

CENA 12 – CARRO DE DANIEL – INT – DIA


Giulia bate a porta do carro. Daniel dirige.

GIULIA – Ei, pensei que a gente ia conversar aqui!

DANIEL – Vamos prum lugar mais reservado, tá?

GIULIA – Ok, como queira.

Daniel dirige até chegar a um local mais deserto, onde estaciona. Durante o
curto trajeto, nenhum dos dois fala.

GIULIA – Pronto. O que você quer?

DANIEL – Quero resolver essa nossa história.

GIULIA – Resolver como?

DANIEL – Olha, Giulia. Eu tô tentando provar pra você que


as minhas intenções com você são muito sérias. Dei
entrada no processo de divórcio da minha esposa, vou
reparar o meu erro com Liliane... O que mais você quer
que eu faça para provar que eu te amo, hein?
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Giulia não responde.

DANIEL – Não há mais nada, não é? Eu sei que você


também sente algo por mim, mas não quer admitir. (t) Se
você me desse a chance, eu juro que te faria a mulher
mais feliz do mundo! Eu quero casar com você, ter filhos
e...

GIULIA – Eu não posso ter filhos.

DANIEL – Como?

GIULIA – Não posso. Um problema de saúde me impede


de engravidar.

DANIEL – Mas nós podemos...

GIULIA – Você já tem uma filha, que vai nascer em breve.


Cuide dela!

DANIEL – Já disse que vou fazer isso. Mas eu ainda te


amo e quero ficar com você, independente de ser estéril
ou não, entendeu?

GIULIA – Não adianta, eu não vou me desfazer de todas


as dúvidas agora, só porque você tá me prometendo amor
eterno!

DANIEL – Você não tem dúvida nenhuma, que eu sei.

GIULIA – Pára de ficar dizendo que sabe o que se passa


aqui comigo, caramba!
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DANIEL – Mas é a verdade. Você fica aí, com toda essa


pose, mas basta eu chegar perto e você treme... (vai se
aproximando dela)

GIULIA (tentando recuar) – Impressão sua.

DANIEL – Pode negar mil vezes, mas não vai me


convencer nunca, sabe por quê? Porque toda vez que
você diz um ‘não’ pra mim, eu ouço ‘sim’ duas vezes.

Daniel e Giulia se beijam.

CORTA PARA

CENA 13 – CASA DE MEIRE/COZINHA – INT – DIA


Lila entra, abre a porta da geladeira, tira uma jarra de suco de laranja e
enche um copo sobre o balcão. Guarda a jarra e começa a beber o suco. Antes de
terminá-lo, leva a mão à barriga e recoloca o copo meio cheio no balcão.

LILA – Ai meu Deus. (t) Que dor é essa?

Lila fica parada com uma das mãos na barriga e com a outra no balcão,
respirando fundo.

CORTA PARA

CENA 14 – BAR SACRIPANTAS – INT – DIA


Meire, Luigi, Flora e Marcela conversam, enquanto fazem um lanche.
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MARCELA – Por que a gente ainda não foi ver a Aninha,


hein, mãe?

MEIRE – Ela tá trabalhando muito, nos ensaios da peça e


tal...

FLORA – A gente podia ir ver a peça dela, então.

LUIGI – Eu não recomendo!

MARCELA – Tão ruim assim?

LUIGI – Não é isso. É que a peça não é recomendada pra


menores.

MARCELA – Do que se trata?

MEIRE – Ah... É a história de uma prostituta sonhadora


que vive trocando de clientes porque eles vivem fazendo
promessas e ela cai em todas... Depois ela fica mais
espertinha e tals, mas resumindo é isso aí.

MARCELA – Hm... Tá certo. A peça é boa?

MEIRE – Eu gosto. Os jornais é que não curtiram muito...

O telefone do bar começa a tocar.

LUIGI – Alô. (t) Lila, o que foi? (t) Fala mais devagar que
eu não tô entendendo nada. (t) Bebê? Tá, eu digo a ela.
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Luigi desliga o telefone.

LUIGI – Parece que o bebê da Lila vai nascer agora.

FLORA – Já?

MEIRE – Meninas, fiquem aí que eu vou atrás dela.

LUIGI – Eu vou junto.

Meire sai correndo. Luigi vai atrás dela, mas quando está quase saindo,
volta.

LUIGI – Eu ia esquecendo! Meninas, os telefones da


minha filha Giulia tão aí na cadernetinha de telefones.
Liguem pra ela e avisem, sim?

MARCELA – Pode deixar.

Luigi sai correndo. Marcela pega a caderneta de telefones e começa a


folhear.

CORTA PARA

CENA 15 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE JERRI – INT – DIA


Jerri está deitado, lendo um gibi. Ouve batidas na porta.

JERRI – Quem é?

LEON (off) – Eu!


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JERRI – Passa amanhã!

Leon entra.

LEON – Deixa de ser chato, rapaz. Tá doente, é?

JERRI – Não.

LEON – Então por que não saiu do quarto nem pra comer?

JERRI – É que eu não tava muito a fim...

LEON – Como foi a farrinha ontem?

JERRI – Uma droga. A garota me deu um fora porque eu


chamei ela de Ana Paula.

LEON – Mas esse não é o nome dela?

JERRI – Não. Ela se chama Ana Maria, sente a diferença.

LEON – Mas você não podia adivinhar... No crachá dela só


tinha escrito ‘Ana’!

JERRI – Pois é. Aí ela pegou ar, me deixou falando


sozinho e ainda tive que pagar a conta.

LEON – Puxa...

JERRI – E o pior é que depois dessa, passei a noite toda


pensando na Aninha!
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LEON – Tem que esquecer, cara.

JERRI – Ah, mas depois dela ter me humilhado que nem


um cachorro sarnento, eu não quero mais saber dela.
Pode passar mil vezes na minha frente, pedir perdão de
joelhos, lamber o chão que eu piso com água e sabão,
mas eu não quero mais.

CORTA PARA

CENA 16 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/JARDIM – INT – DIA


Milena e Alice conversam.

MILENA – Leon me contou que você e Valentina já fizeram


as pazes. Fiquei muito feliz!

ALICE – Pois é... Demorou muito, mas agora isso não


importa mais. Tudo o que queremos agora é que Angela
volte pra gente; depois disso, tudo o que aconteceu antes
vai ser como um pesadelo que já se acabou.

MILENA – Ontem, lá no hotel, conheci a filha da Karen. O


nome dela também é Angela. Lembrei de Valentina na
mesma hora. Aliás, por que ela não desce?

ALICE – Está muito triste, não quer descer. Passa o dia


todo olhando as fotos da Angie.

MILENA – Acho que vou lá no quarto dela pra fazer


companhia.
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ALICE – Vá, ela tá precisando mesmo disso.

Milena levanta e vai para dentro.

CORTA PARA

CENA 17
Tomada aérea de Recife.

CORTA PARA

CENA 18 – CASA DE JAIRO/SALA – INT – DIA


Aurora, Flávio e Talles estão reunidos.

FLÁVIO – Que demora!

AURORA – Ele disse que chegava às 10. Faltam cinco


minutos ainda...

FLÁVIO – Só que eu tenho compromisso, não posso


esperar muito não!

AURORA – E quem tá te prendendo aqui? Jairo só disse


que Talles e eu precisávamos ficar. Pode ir pro seu
compromisso se quiser.

Flávio se levanta e abre a porta. Jairo e Luciana entram, esta com ar


apático e ainda com algumas marcas visíveis de hematomas.

TALLES (corre e abraça a mãe, que não reage) – Mainha!


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JAIRO – Finalmente, ela está aqui.

AURORA – Graças a Deus!

FLÁVIO – Era ela mesma a mulher do hospital?

JAIRO – Sim.

FLÁVIO – Sejam bem vindos, agora eu tenho que correr.


Tchau. (sai)

JAIRO – Pra onde ele foi?

AURORA – E eu que sei? Ah, Jairo, rapidinho... Vem aqui.

Jairo vai até Aurora e senta ao lado dela. Luciana senta ao lado de Talles,
sem dizer nada.

JAIRO – O que é?

AURORA – É impressão minha ou ela tá meio fora do


juízo?

JAIRO – Mais ou menos. Ela ficou muito tempo dopada,


até agora não fala coisa com coisa.

AURORA – Então ela não explicou nada sobre o sumiço,


nem as contas, nada.

JAIRO – Nadinha. Mas há de ter tempo pra isso.


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AURORA – E Manoel?

JAIRO – Voltou só pra pegar as economias e umas coisas.


Vai comprar passagem de avião pra encontrar Milena em
São Paulo.

AURORA – Ela também foi pra lá...

JAIRO – Foi. Tomara que não demore demais pra


encontrar ela!

Corta para Talles e Luciana, que conversam fora de áudio.

CORTA PARA

CENA 19
Tomada aérea de São Paulo.

CORTA PARA

CENA 20 – HOSPITAL/SALA DE CIRURGIA – INT - DIA


Lila está sendo operada. Close no rosto dela, que olha para o nada. Corta
para a equipe médica, realizando o parto. O médico pega o bebê, que começa a
chorar. Ele leva a menina para que Lila veja.

MÉDICO – Liliana, dê só uma olhada na sua garota!

Lila vira o rosto e sorri ao ver a filha.


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CORTA PARA

CENA 21 – HOSPITAL/SALA DE ESPERA – INT – DIA


Luigi, sozinho, anda de um lado para o outro da sala. Meire chega correndo.

MEIRE – Acabei de falar com o médico.

LUIGI – E aí?

MEIRE – Ela já nasceu! Pesa três quilos e meio e mede 50


centímetros. É fofa!

LUIGI – Graças a Deus! Lila já escolheu o nome?

MEIRE – É Laura. (t) E de Giulia, alguma notícia?

LUIGI – Ninguém conseguiu falar com essa menina até


agora. Estou começando a ficar preocupado com esse
sumiço.

MEIRE – Só espero que ela não demore demais! Lila vai


ficar muito triste se Giulia não aparecer.

CORTA PARA

CENA 22
Tomada de Campinas.

CORTA PARA

CENA 23 – CAMPINAS/RUA – EXT – DIA


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Um carro vermelho pára na frente do pensionato.

CORTA PARA

CENA 24 – CARRO DE DANIEL – INT – DIA


Daniel e Giulia se beijam.

GIULIA (tirando o cinto de segurança) – Tá bom, tá bom...


Agora eu vou embora mesmo.

DANIEL – Vamos nos ver hoje de novo?

GIULIA – Não, não... Hoje não.

DANIEL – Mas por que não?

GIULIA – Ah, Daniel, eu...

Giulia para de falar ao sentir o telefone celular vibrando dentro de sua


bolsa. Ela pega o aparelho e olha no visor quem está chamando.

GIULIA – É do bar do meu pai. (atende) Alô? (t) Filha da


Meire... Sim. (t) Como é? Já nasceu? (t) Eu... Eu dou um
jeito de chegar aí correndo, tá? Brigada.

Giulia desliga.

DANIEL – O que houve?

GIULIA – A sua filha nasceu! Temos que ir pra lá, logo!


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DANIEL – Nós dois?

GIULIA – Claro! Você é o pai, tem que aparecer por lá, não
é?

DANIEL – Tem razão. Eu disse que ia assumir as


responsabilidades, a hora é essa.

GIULIA – Tem gasolina suficiente pra ir até São Paulo?

DANIEL – Tem sim.

GIULIA – Então pisa fundo que a gente tem que chegar lá


o mais rápido possível.

Giulia recoloca o cinto de segurança. Daniel dá a partida no carro.

CORTA PARA

CENA 25 - CAMPINAS/RUA – EXT – DIA


O carro de Daniel sai cantando pneu.

CORTA PARA

CENA 26
Tomada aérea de São Paulo.

CORTA PARA

CENA 27 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE VALENTINA – INT – DIA


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Milena e Valentina conversam, enquanto está folheia um álbum de


fotografias antigo.

MILENA – Eu nunca vi uma foto do Leon pequenininho.


Ele não tinha nenhuma foto de família em casa quando a
gente se conheceu.

VALENTINA (procurando) – Vai ver uma agora. (mostra


uma página do álbum) Leon e eu no nosso aniversário de
sete anos. Ele saía com esse sorriso amarelo em quase
todas as fotos, porque sempre se chateava com alguma
coisa ou alguém. (t) Geralmente o alguém era eu, que
chamava a atenção de todo mundo e deixava ele meio
apagadinho. Até parecia que a festa era só minha...

MILENA – Pelo jeito, você gosta muito de fotografia...

VALENTINA – Tanto quanto eu gosto de animais. Antes de


começar a trabalhar como veterinária, fui fotógrafa de
festas, era boa nisso. Agora passo o dia todo vendo fotos
de Angie e rezando pra ela voltar logo pra mim...

Milena pega um álbum de fotos de Angela e começa a folhear, olhando


cada retrato com muita atenção.

MILENA – É muita foto mesmo... Tão lindinha a sua filha!

VALENTINA – Hoje ela parece mais comigo, mas quando


era bebê era a cara do Vinícius... Linda, mas eu torcia pra
vê-la crescer logo e mudar, porque eu tinha muita raiva
dele na época.
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MILENA – Não tem mais?

VALENTINA – Não... Sinceramente não tenho mais


nenhum rancor dele.

MILENA – Ele comentou comigo que tá muito preocupado


com a menina.

VALENTINA – Ele me disse isso também. Ele mudou um


bocado desde a última vez que nos falamos, porque antes
ele falava de Angela como se não fosse nada dele.

Milena termina de ver as fotos de um álbum e pega outro.

VALENTINA – Esse aí que você vai ver é mais recente.


Foi de quando a gente tinha acabado de chegar a Londres.

Milena abre o álbum. Corta para a foto da primeira página, de Angela. Corta
para o rosto de Milena, surpreso.

FADE PARA

CENA 28 – HOTEL/APARTAMENTO DE JULIAN E KAREN – INT – TARDE


Flashback de parte da cena 17 do capítulo 74.
Karen entra, trazendo Angela pela mão.

JULIAN – E falando nela... Esta é Angela, nossa filha.


Angela, venha conhecer nossos amigos, Milena e Vinícius.

Angela se aproxima timidamente deles. Milena sorri e Angela sorri de volta.


28

FADE PARA

CENA 29 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE VALENTINA – INT – DIA


Continuação da cena 27. Milena continua olhando para o retrato de Angela,
espantada.

VALENTINA – Milena, o que houve?

Milena desvia a atenção do álbum e olha para Valentina, sem dizer nada.

********** FIM DO CAPÍTULO 75 **********

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