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MOVIMENTO CLARIDOSO

O movimento claridoso é a inauguração do período da cabo-verdianidade, ocorreu entre os anos de


1936 a 1957, no qual foram publicadas duas revistas: Claridade e Certeza.
 Revista CLARIDADE
1ª publicação – 1936 - cidade de Mindelo, S. Vicente. Publicações entre 1936 e 1960 - total de 9
números divididos em 3 fases:
1ª: a fase inicial - 1936 a 1937 - 3 números;
2ª - 1947 a 1949 - 4 números;
3ª - e último período - 1958 a 1960 - 2 números.
* Obs.: Apenas a primeira fase contou com a colaboração de todos os elementos, sendo que os
restantes números foram elaborados e publicados à responsabilidade de Baltasar Lopes. Isto dado ao facto
de os outros elementos do grupo se encontrarem ausentes e dispersos por motivos profissionais. Nesse
período Jorge Barbosa tinha sido exilado para a Ilha do Sal e Manuel Lopes encontrava-se na Ilha de Faial,
Açores, para onde tinha sido transferido por motivos profissionais, como telegrafista na Western
Telegraph.
FUNDADORES: Baltasar Lopes (que usou o pseudónimo poético de Osvaldo Alcântara), Jorge
Barbosa e Manuel Lopes. Respectivamente oriundos das ilhas São Vicente, São Nicolau e Santiago.
Colaboradores: Teixeira de Sousa, António Pedro, José Osório de Oliveira, João Lopes, Jaime de
Figueiredo, Sérgio Frusoni, Pedro Corsino de Azevedo, José Osório de Oliveira, nos primeiros números;
Henrique Teixeira de Sousa, Félix Monteiro, Nuno Miranda, Abílio Duarte, Arnaldo França, Luís Romano
de Madeira Melo, Tomás Martins, Virgílio Pires, Onésimo Silveira, Francisco Xavier da Cruz, Corsino
Fortes, entre outros.
Durante a vigência da revista, publicaram inúmeros artigos, focados sempre na tradição local, como
por exemplo nos primeiros números deram grande relevo a tradição Oral:
- Nº 1: Lantuna & motivos de finaçom - batuque da Ilha de Santiago;
- Nº 2: Vénus – morna de Xavier;
- Nº3: Poema de quem ficou de Manuel Lopes;
- os restantes números deram igualmente grande destaque a cultura cabo-verdiana, em particular a
língua cabo-verdiana, publicando artigos sobre a música do arquipélago, em particular da Ilha de
Santiago, como dos géneros musicais “Finaçon” e “Batuque”.
- Similarmente, o “Batuque” teve na revista nº 6 e 7 artigos de carácter científicos sobre a sua origem e
evolução, ainda publicaram vários outros artigos de carácter etnográfico e sociológico sobre a realidade
social e cultural cabo-verdiana.
Perante a penosa situação vivida em Cabo Verde, o grupo afirmou que tinha de intervir e a arma seria a
imprensa.
A ideia inicial - criar um jornal com a finalidade de:
- pôr cobro a lacuna existente no arquipélago da imprensa;
- debruçar-se sobre a situação social e política que se vivia em Cabo Verde.
Porém, perante o preço do depósito prévio que rondava os 50 mil escudos e tendo em conta,
sobretudo, a época em questão, década de 30, e os problemas financeiros existentes localmente,
desistiram da ideia do jornal, canalizando assim os esforços para a criação de uma Revista, que vieram a
dar o nome de CLARIDADE, influenciados pela existência na Argentina de uma revista chamada
CLARIDDAD e também da França, através da revista e do movimento pacifista CLARTÉ, de Henri
Barbusse, que era do conhecimento de todos.
Claridade (referência à luz do dia)
Clar = Luz (iluminação, entendimento) idade = Idade clara (opõe-se a obscuridade, idade obscura)
Claridade surge para trazer à luz do dia os problemas de Cabo Verde. A relação do nome da revista
com a luz mostra a negação da escuridão que antes existia na literatura cabo-verdiana, escuridão sobre a
abordagem de temáticas relacionadas ao contexto social do arquipélago.
O conteúdo temático da revista é «fincar os pés na terra», por outras palavras, um olhar atento sobre os
problemas vitais de Cabo Verde e as condições de vida do seu povo.
IDEOLOGIA: cabo-verdianidade
Atentos à realidade do quotidiano do povo das ilhas na década de 1930, os claridosos preocuparam-
-se com a precária situação vivenciada pelo povo. Estes filhos esclarecidos de Cabo Verde resolveram
assumir no arquipélago a causa do povo na sua luta pela afirmação de uma identidade cultural autónoma
baseada na criação da “cabo-verdianidade” e na análise das preocupantes condições socioeconómicas e
políticas das Ilhas de Cabo Verde.
A voz do Poeta, agora, é a voz da própria terra, do próprio povo, da própria realidade cabo-
-verdiana.
OBJETIVOS:
• Ao nível político e ideológico, a Claridade tinha como objetivo procurar afastar definitivamente os
escritores cabo-verdianos do cânone (modelo) português, procurando refletir a consciência coletiva cabo-
verdiana e chamar a atenção para elementos da cultura cabo-verdiana que há muito tinham sido
sufocados pelo colonialismo português, como é o exemplo da língua crioula;
• «fincar os pés na terra», ou seja, abordar a terra e o homem na sua relação umbilical e a cultura
nacional, criando, deste modo, «raízes com o chão, de forma a proporcionar uma íntima e profunda
ligação de amor firme do homem à terra que o sustém.» - lema da Claridade, segundo os seus fundadores:
(“fincar os pés na terra e falar da realidade cabo-verdiana”).
• pensar nos problemas que afectavam o homem cabo-verdiano como: as estiagens, a decadência do Porto
Grande, o encerramento da emigração para os Estados Unidos de América, a abertura do contrato para as
roças de São Tomé;
• apontar as raízes crioulas.
Laranjeira, ao citar António Aurélio Gonçalves, acrescenta que:
“ [...] intervieram outras determinantes mais poderosas e de raízes mais fundas, como, por exemplo, a
convicção de uma originalidade regional cabo-verdiana, a necessidade de protestar e de dar o alarme
perante uma crise económica, causada pela estiagem, pelo abandono do porto de S. Vicente, pela
sufocação proveniente do encerramento da emigração para a América do Norte” - (Pires LARANJEIRA).
Essa revista deu oportunidade ao estudo do folclore cabo-verdiano, da língua crioula, das
especificações culturais do arquipélago, dando luz às problemáticas políticas, sociais e geográficas de
Cabo Verde.
INFLUÊNCIAS: elementos exógenos e elementos endógenos.
Elementos Exógenos (influência externas):
a) A presença pessoal de alguns escritores portugueses em Cabo Verde, nos anos compreendidos entre os
fins de 20 e os princípios de 30 como Augusto Casimiro, António Pedro e José Osório de Oliveira;
b) A revista portuguesa «Presença»;
c) A moderna literatura brasileira, nomeadamente a da segunda fase e o realismo nordestino.
Elementos Endógenos (influências internas):
a) A tradição literária e cultural cabo-verdiana, personificadas praticamente em três escritores: José Lopes,
Pedro Cardoso e Eugénio Tavares, pois valorizam o homem ilhéu e da sua língua, o crioulo cabo-
verdiano; 
b) A publicação do livro de poemas de António Pedro, “Diário” (1929);
c) O discurso oculto que se desenvolveu entre aqueles que haveriam de fundar a revista Claridade.
d) A publicação do livro de Jorge Barbosa, “Arquipélago” (1935), que abriu as portas para o exercício de
uma literatura moderna cabo-verdiana, por se impor pela renovação da retórica e temática da poesia cabo-
verdiana.
Chegaram aos poetas Baltasar Lopes da Silva, Manuel Lopes e Jorge Barbosa obras da literatura
brasileira dos anos 20 e 30 do século XX e a partir de sua leitura eles começaram a pensar a literatura
cabo-verdiana do Movimento Claridade.
SÍNTESE
Esta revista constitui a primeira mudança importante no panorama da literatura insular, pelo seu
carácter grupal e de cabo-verdianidade.
Teve um grande impacto social, fundamentalmente a nível literário, publicando inúmeros artigos
literários dos jovens autores cabo-verdianos, dando a conhecer através da literatura: poemas, contos,
romances etc., apresentando sempre como “pano de fundo”, a realidade social, política, cultura e quiçá
religiosa do arquipélago.
Todavia, tendo em conta o regime que vigorava na altura baseado na censura, através dos seus
agentes, designadamente da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), tiveram de ser discretos,
caso contrário corriam o risco de serem alvos de processos polícias, do referido órgão e encarcerados no
temido campo de concentração de Tarrafal, onde foram presos e torturados várias vozes contra o regime.
Ela lançou sementes literárias que germinariam em outras importantes publicações cabo-verdianas, tais
como: Certeza, Suplemento Cultural, Raízes e Ponto & Vírgula, em que se se destacaram os escritores:
Gabriel Mariano, Ovídio Martins, Aguinaldo Fonseca, Terêncio Anahory, Yolanda Morazzo, Leão Lopes e
Germano de Almeida.

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