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Introdução
O microclima nos espaços abertos das áreas urbanas é influenciado por diversos
parâmetros como a geometria urbana, a vegetação, corpo d’água e propriedades
térmicas dos materiais de construção. Os usos inadequados dessas variáveis
contribuem para um ambiente desfavorável com temperaturas no ambiente urbano
superior a do seu entorno, criando as chamadas “ilhas de calor”.
Ruas e praças estão entre os espaços urbanos que vêm se deteriorando quanto à
qualidade ambiental e conforto térmico. Esta degradação é devida, principalmente, a
uma descontinuidade no uso desses espaços. Em regiões tropicais onde predominam
altas temperaturas quase o ano todo, os espaços públicos abertos só podem ser
freqüentados se houver sombreamento o que torna as temperaturas amenas e
suportáveis.
Os primeiros estudos de conforto térmico foram realizados para áreas fechadas,
locais de trabalho, com a finalidade de proporcionar maior rendimento do trabalhador.
O ambiente interno sofre influência direta do ambiente externo, sendo necessária
também a realização de estudos de conforto térmico em áreas abertas.
Emmanuel et al., (2007) realizou um estudo de microclima urbano em Colombo, Sri
Lanka, utilizando o modelo ENVI-met para simular o efeito dos diferentes desenhos
urbanos, na temperatura e no conforto térmico. Neste estudo o autor utilizou o PET
(physiologically equivalent temperature). O PET é um índice de conforto térmico para
áreas externas que é baseado na temperatura radiante e do ar, bem como na umidade
e no vento. Emmanuel relaciona a razão altura (h) e largura(w), ou seja, a altura
dividida pela largura, dos chamados “cânions” urbanos com valores de temperatura,
ou seja, a temperatura máxima diária diminui com o aumento da taxa h/w. O conforto
térmico, portanto, está diretamente ligado ao desenho urbano, uma vez que o
aumento da referida taxa de 1 a 3 faz com que o índice PET diminua cerca de 10ºC.
Gaitani et al., (2005) estudaram o conforto térmico em espaços abertos na região
de Atenas, usando dois índices de conforto térmico, a saber, COMFA (Brown and
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Área de estudo
A cidade de São Paulo está localizada no Sudeste do Brasil, no Planalto Atlântico
em um compartimento rebaixado. Segundo o IBGE possui uma área de 1523km2 e uma
população estimada (2007), em 10.886.518 habitantes. Segundo Valente de Macedo
(2009) suas características ambientais são definidas por sua condição geográfica
acidentada com colinas que variam entre 650 e 1200m de altitude e a proximidade
com o oceano Atlântico influenciam fortemente o padrão de circulação atmosférica. O
clima é subtropical com a temperatura média no mês de julho de 14,3ºC e do mês de
fevereiro de 22,3ºC. As chuvas são predominantemente no verão, sendo janeiro o mês
mais chuvoso com uma média de 228,6mm de precipitação, dados da prefeitura
municipal (www.prefeitura.sp.gov.br 20/11/2009).
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A área escolhida para simulação refere-se a quatro x quatro quadras (540 x 540m)
do bairro da Consolação. Trata-se de uma região densamente construída, com altos
edifícios e vegetação acompanhando a calçada.
A Figura 2 refere-se à grade de entrada do modelo. A resolução da grade é de:
X = 4,5m, y = 4,5m e Z = 6,0m e foi gerada dentro do próprio modelo. A borda do
modelo (condições de contorno) representada na Figura 2, com a cor amarela não
deve ser analisada, pois o modelo não realiza os cálculos nessa região.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Para este estudo determinou-se um ponto (x) dentro da grade, como mostra a
Figura 2 para análise mais detalhada da temperatura do ar, umidade específica,
velocidade do vento e número de Richardson.
Metodologia
Neste trabalho utilizou-se o modelo ENVI-met versão 3.0/3.1. O modelo micro-
climático é tridimensional concebido para simular a interação superfície - planta -
atmosfera no ambiente urbano, com uma resolução entre 0,5 e 10m. Este modelo foi
desenvolvido por Bruse e Fleer (1998) e Bruse (2004).
Os dados de entrada do modelo são: temperatura do ar, direção e velocidade do
vento e umidade relativa e foram obtidos do site Tempo Agora
(www.tempoagora.uol.com.br em 29/06/2009).
O tempo de simulação foi de 24h, com início às 6h00min. A data escolhida para a
simulação foi 29/06/2009, portanto um dia de inverno na região que apresentou
temperatura máxima média Tmax = 25,5ºC, temperatura mínima média Tmin = 13,4 oC
e sem ocorrência de chuva, dados do Ciiagro (www.ciiagro.sp.gov.br em 27/06/2009).
A simulação foi feita para duas situações: uma com a altura real das construções
existentes no local e outra com uma diminuição de quatro vezes a altura real.
Escolheu-se este valor de diminuição, pois a menor cobertura, na altura real, apresenta
uma altura de 4m.
O modelo forneceu dados de temperatura do ar na superfície, temperatura média
radiante (TMR) e os índices de conforto térmico PMV (voto médio predito) e PPD
(porcentagem de pessoas insatisfeitas) desenvolvidos por Fanger (1972) e adotado
pela norma ISO 7730, norma internacional que estabelece critérios para avaliar o
conforto térmico.
O índice PMV varia segundo a escala a seguir:
Tabela 1 - Escala do índice PMV
-3 muito frio
-2 frio
-1 levemente frio
0 confortável
1 levemente quente
2 quente
3 muito quente
Fonte: ISO7730 - 1994.
Conforme a ISO 7730, os valores recomendados de PMV estão entre
-0,5 < PMV < + 0,5 e PPD não deverá ultrapassar 10%.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Resultados e discussão
A Figura 3 apresenta os índices PMV para a área de estudo real, às 15h00min, no dia
26 de junho, inverno neste hemisfério. Os valores observados estão entre -1,5 e -1,0
que são considerados fora dos limites de conforto térmico, ou seja, desconforto
tendendo a frio. Esses valores são apresentados tanto por superfície asfaltada quanto
por superfície com concreto e neste horário sofrem o efeito do sombreamento pelas
construções.
Ainda na Figura 3, valores entre 1,5 e 2,0, em vermelho também estão fora da zona
de conforto tendendo a quente. Essas são áreas fora do sombreamento com a
radiação chegando diretamente a superfície, portanto mais aquecidas. O
sombreamento, juntamente com o aumento do albedo e a diminuição da densidade
de construção, tem sido uma alternativa para a mitigação da temperatura média
radiante.
A área com altura dos prédios reduzida, Figura 4, apresenta um PMV para as
15h00min, entre 1,5 e 2,0, ou seja, desconforto térmico tendendo a quente mostrado
em vermelho na figura. Assim, com a redução da altura dos edifícios em quatro vezes,
as áreas antes sombreadas passaram a receber radiação solar direta gerando os
valores acima citados e apresentando desconforto térmico.
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Para as áreas sob o efeito do sombreamento, os valores de PMV ficaram entre -1,5
e -1,0, apresentando desconforto tendendo a frio, como mostra a Figura 4, em áreas
em cor rosa.
Na análise das duas áreas, com relação ao PMV, a redução da altura dos edifícios
não apresentou conforto térmico, uma vez que, a radiação que chega a superfície na
região dos trópicos é intensa mesmo no inverno. Portanto, se a região recebe
insolação direta, em virtude da diminuição da altura das construções, gera desconforto
tendendo a quente, mantendo-se a altura dos edifícios, gera-se sombreamento e
desconforto tendendo a frio.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Na redução da altura dos edifícios, Figura 6, observa-se pequenas áreas com PPD
abaixo de 10% que se pode considerar como manchas que podem ser termicamente
confortáveis dentro da área de estudo.
Observa-se ainda, que a maior parte da região apresenta um PPD acima de 40%, cor
rosa na Figura 6.
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Considerando os valores recomendados pela ISO 7730, ou seja, -0,5 < PMV < + 0,5 e
PPD não deverá ultrapassar 10%, nenhuma das duas situações, altura real ou reduzida,
apresentou conforto para as 15h00min, horário que apresenta as maiores
temperaturas do ar na região.
A TMR ficou entre 20 a 25ºC, para as 15h00min, como mostra a Figura 7. Observa-
se que em regiões não sombreadas, em vermelho, a TMR apresenta valores acima de
60ºC. Embora a superfície esteja toda impermeável, revestida de concreto e asfalto, a
altura dos edifícios tem papel preponderante no aquecimento/resfriamento do ar e no
conforto térmico. Assim, quando se leva em conta apenas a TMR, a região pode ser
considerada confortável. Para o conforto térmico humano, além da temperatura,
deve-se observar também a velocidade do vento e a umidade relativa, assim que os
valores de PMV e PPD apresentam índices de desconforto, apesar da TMR apresentar
valores dentro dos limites aceitáveis pela norma ISO 7730.
A TMR para os edifícios com altura reduzida (Figura 8) apresenta valores acima de
60ºC, para toda a área, excetuando as áreas próximas as construções, sob o efeito do
sombreamento, que apresentam uma temperatura média radiante entre 20 e 25ºC. O
efeito esperado na redução de quatro vezes a altura das construções, que era reduzir
as áreas de sombreamento trouxe para a região valores de TMR acima dos limites
toleráveis para o ser humano.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
20,0
19,0
Temp. do ar ºC
A maior diferença de temperatura entre as duas situações foi de 0,9ºC nos horários
de 13 e 14h00min.
A umidade específica na região de estudo, apresentou o mesmo comportamento da
temperatura, ou seja, com a redução da altura dos edifícios houve redução do
sombreamento e o aumento da temperatura e da umidade específica, que aumentou
entre os horários de 8 e 16h como pode ser visto na Figura 10.
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13,0
12,0
especifica g/kg
11,0 Real Baixa
10,0
Umidade
9,0
8,0
7,0
6,0
5,0
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6
Horas
Figura 10 – Evolução horária da umidade específica na região da
Consolação, São Paulo.
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Conclusão
A redução da altura das construções apresentou modificação das variáveis
ambientais como temperatura e umidade, na representação do espaço analisado.
Na situação de redução da altura dos edifícios, o sombreamento foi diminuído e
aumentaram os valores de temperatura do ar e TMR. Com o aumento da temperatura
houve um aumento da umidade específica do ar. A velocidade do vento apresentou
maior variabilidade na situação real, comparativamente a situação de redução da
altura. As duas situações apresentaram desconforto térmico, sendo que a área real
apresentou desconforto tendendo a frio e a situação da altura reduzida apresentou
desconforto tendendo a quente.
Embora a alteração da altura das edificações não tenha gerado conforto térmico,
mostrou a modificação das variáveis ambientais na camada limite, conseqüentemente
alteração de parâmetros meteorológicos no local, mostrando, portanto, a importância
do estudo da estrutura urbana no clima local.
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Bibliografia
Bueno-Bartholomei, C.L. 2003, Influência da vegetação no conforto térmico urbano e
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