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16/03/15 – Conquista e Colonização da

América Espanhola

Interpretações Historiográficas de Colombo


- Entre o mito e a ciência: seus feitos
assumiram proporções míticas, mas poucas
foram as tentativas de investigar além do
mito
 O Herói: já por finais do XVIII,
emergem as primeiras descrições de
Colombo como “um homem à frente do
seu tempo”
 História Moralista: apresentava-o como
a ilustração viva das virtudes de
“decisão, energia, perseverança”,
oferecendo ainda a lição acauteladora
de que a virtude não impediu que
Colombo morresse “vítima da
ingratidão e da decepção”
 História Católica (meados do XIX):
enfatizava a fé e a piedade de Colombo
e a natureza católica da exploração
europeia

Exceção – Jacob Abbot: observava que


“existia uma estranha incongruência nos
motivos que pareciam levá-lo em todo esse
cruzeiro de exploração das ilhas – um
exaltado entusiasmo religioso, misturado a
um apetite voraz por riquezas e poder
mundanas”

- Revisionismo de 1892:
 Fontes: coleção de documentos
compilada pelo historiador Martin
Fernandez de Navarrete;
 Justin Winsor (1892): ele trata do
desejo arrogante de Colombo por fama
e fortuna, de suas descrições
equivocadas do que encontrara em sua
travessia do oceano e da má
administração que fez nas Índias, sem
esquecer das qualidades de espírito e
caráter que o transformaram em uma
figura central;
 Reabilita as reputações dos monarcas
espanhóis e de seus conselheiros, aos
quais os admiradores de Colombo
normalmente apresentam como
obstáculos malévolos à sua grandeza;

- História Progressista (1920):


 Rejeitando a abordagem tradicional
centrada nos indivíduos e na natureza
humana, os historiadores do movimento
progressista davam destaque ao
contexto social e econômico da história;
 Colombo e outros exploradores
tornaram-se atores menores no grande
drama que foi a expansão de mercados
ao redor do globo;

- Década de 60, a efervescência social


 História comprometida com as
populações nativas, redundaram em
abordagens tão apaixonadas quantos às
do mito e as históricas;
 Colombo tornou-se um maníaco
genocida que planejou dizimar os
habitantes nativos do hemisfério
ocidental;

Suma:
- Charles Nowell: “Colombo é
alternadamente elogiado e
menosprezado, indicado para ser
canonizado e acusado de pirataria,
louvado como cientista e estigmatizado
como ignorante”;

- Sem uma base de conhecimento


madura sobre o homem e sua época, é
possível acreditar-se em quase tudo.

 Problema: “Falar da descoberta que


o eu faz do outro” Qual outro? O
outro exterior a mim: uma outra
sociedade, que dependendo do caso
pode ser próxima ou longínqua

O Encontro da América

- Justificativa:
 A descoberta da América, dos
americanos, é sem dúvida o
encontro mais surpreendente da
nossa história, pois foge à
previsibilidade, impondo um
sentimento radical de estranhez;
 Além do valor paradigmático,
possui outro de causalidade direta:
é a conquista da América que
anuncia e funda a nossa atual
identidade (problema do mito das
origens);

- As fontes: existem polêmicas quanto à


autenticidade dos diários de Colobo e
também quanto a Vida del Almirante,
escrito por seu filho, Hernando
 Para o historiador, importa
confrontar estes escritos a outros do
mesmo Colombo, buscando decifrar
seus traços de autenticidade à luz da
racionalidade do homem medieval e
renascentista expressa em um modo
ser;
 Ou seja: a forma de narração de
Colombo e de seus contemporâneos
nos permite reconhecer,
concomitantemente, a convenção da
veracidade e da fantasia ou
imaginação;

- Motivos da descoberta:
 Embora não se possa descartar o
motivo da ambição, o verdadeiro
intuito estaria na propagação da fé
 Assim, os contatos com deus
interessam muito mais a Colombo
que os assuntos puramente humanos

- Procedimento: analisar seus


argumentos, para dar o devido peso a cada
uma destas dimensões: imaginação e
experiência

O sistema de interpretação de Colombo


 3 esferas que dividem o mundo de
Colombo: a natural, a divina e a
humana
 As 3 estão ligadas aos 3 motivos da
Conquista: humano (riqueza), divino
(cruzadístico) e ligado à apreciação
da natureza (descobrir como ação
intransitiva)

Finalista (imaginação/fé)
- Colombo anacrônico:
 Sua forma de religiosidade é
particularmente arcaica para a época:
um espírito cruzadista, abandonado
desde a Idade Média;
 Sua crença mais surpreendente é de
origem cristã: refere-se ao paraíso
terrestre;
 Colombo não tem nada de um empirista
moderno: o argumento decisivo é o da
autoridade, não o da experiência. Esta
apenas serve para ilustrar uma verdade
que possui; não para ser investigada

Observador da Natureza (experiência)


- Colombo analógico:
 A estratégia finalista torna-se
preponderante em seu sistema de
interpretação: não se trata mais de
procurar a verdade, mas de
confirmações para esta
 Esta atitude é compensada por outra: a
admiração intransitiva da natureza. Para
descrevê-la, usava de superlativos, de
um verdadeiro “furor nominativo”

Sistema de comunicação inter-humana


-Colombo etnocêntrico: para ele a
diversidade linguística não existe, já que a
língua é natural. Daí os dois
comportamentos possíveis e
complementares:
 Reconhecer que é uma língua e recusar-
se a aceitar que seja diferente (procura
analogias com o espanhol);
 Reconhecer que é diferente e que,
portanto, não é uma língua.
Resultado: a total incompreensão dos
índios.

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