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FACULDADE DE DIREITO
2016
Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
Índice
Resumo .......................................................................................................................................... 4
Siglas e Abreviaturas ....................................................................................................................... 5
Delimitação do objecto................................................................................................................... 6
Justificação ..................................................................................................................................... 6
Metodologia ................................................................................................................................... 6
Introdução ..................................................................................................................................... 8
Capítulo I - Responsabilidade criminal. Enquadramento ................................................................. 9
Responsabilidade criminal. Conceito........................................................................................... 9
- As causas de extinção da responsabilidade criminal no Código Penal ..................................... 11
Capitulo II - Causas extintivas do procedimento criminal, das penas e medidas de segurança ....... 12
- Retroactividade da lei que não mais considera o facto como criminoso - Abolitio criminis......... 13
- A morte do criminoso ............................................................................................................ 14
- A prescrição do procedimento criminal .................................................................................. 15
Prazos .................................................................................................................................. 17
Fundamentos ....................................................................................................................... 18
Natureza jurídica e localização sistemática ............................................................................ 19
Da (in) constitucionalidade da imprescritibilidade ................................................................. 19
- A amnistia .............................................................................................................................. 20
O benefício da amnistia pode ser recusado? .......................................................................... 23
A amnistia pode ser revogada? .............................................................................................. 24
- O perdão da parte, ou a renúncia ao direito de queixa em juízo .............................................. 25
- Retratação do agente .............................................................................................................. 26
- A oblação voluntária .............................................................................................................. 26
- A anulação da sentença condenatória em juízo de revisão....................................................... 26
- Caducidade da condenação condicional .................................................................................. 27
- Casos especiais previstos na lei ............................................................................................... 27
- Causas extintivas das penas e medidas de segurança na sua execução ..................................... 28
- O cumprimento ................................................................................................................. 28
- O indulto ........................................................................................................................... 28
- A comutação ...................................................................................................................... 29
- Prescrição da pena e medida de segurança .......................................................................... 30
Capitulo III - Da modificação e extinção dos efeitos penais da condenação .................................. 30
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
Resumo
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
Siglas e Abreviaturas
Art. - Artigo
Ed. - Edição
Etc. - Et caetera
V.g. - Verbi gratia
§ - Parágrafo
Pág. - Página
Segs. - Seguintes
Cfr. - Confira ou confronte
N.° - Número
CRA - Constituição da República de Angola
C.P - Código Penal
C.P.P. - Código de Processo Penal
C.C - Código Civil
Ob. cit. - Obra citada
PR - Presidente da República
AN - Assembleia Nacional
Vol. - Volume
Al. - Alínea
M.P - Ministério Público
FDUAN - Faculdade de Direito – Universidade Agostinho Neto
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
Delimitação do objecto
Justificação
A escolha deste tema foi motivada pela importância que o mesmo encerra para os
cidadãos constituídos arguidos, para os já condenados no âmbito do processo-crime e
também para os operadores de Direito maxime magistrados judiciais e do Ministério
Público i.e., juízes e procuradores, advogados e não só por indubitavelmente enriquecer o
«know-how» de cada um relativamente aos conceitos atinentes às causas de extinção da
responsabilidade criminal, utilizados com frequência no foro e não só.
Optamos pela feitura deste trabalho de investigação em vista a melhoria de nota, também e
sobretudo pelo gosto pela escrita e pesquisa jurídica, galvanizando assim cada vez mais o
nosso espírito de indagação científica e académica, aprendendo com eventuais erros rumo à
excelência.
Metodologia
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
Introdução
O presente trabalho insere-se no âmbito do Direito Penal substantivo1 e como já
referido tem como objecto a extinção da responsabilidade criminal, isto é, a extinção da
punibilidade2 e/ou extinção da pena.3
O objectivo deste trabalho de carácter científico é proceder a análise das várias
causas de extinção da responsabilidade criminal à luz do Código Penal angolano4 em vigor
e da legislação penal complementar pertinente e inerente ao tema; destacando-se a amnistia,
o perdão geral, o perdão especial ou indulto, a morte do condenado, a anulação da sentença
em juízo de revisão ou cassação, a descriminalização, a prescrição, a caducidade da
condenação condicional e o cumprimento da pena; curando de responder a dois problemas
fundamentais:
Primeiro problema: em que consiste a responsabilidade criminal?
Segundo problema: quais as causas de extinção da responsabilidade criminal no
Direito penal angolano?
Dentro destes procurando responder fundamentalmente as seguintes questões:
Quais os fundamentos da prescrição jurídico-penal?
A imprescritibilidade é (in) constitucional?
O que é a abolitio criminis?
O benefício da amnistia pode ser recusado?
Que tarefas político-criminais as medidas de clemência visam realizar?
São portanto, estas e outras questões que merecerão uma análise profusa e
minuciosa neste trabalho académico jurídico que por ora é apresentado.
1
Definido como um sistema de normas jurídicas que definem os actos que constituem infracção
criminal, determinam as situações de perigosidade criminal e estabelecem as penas e medidas de
segurança correspondentes; ou seja, um conjunto sistematizado de normas jurídicas que fixam os
pressupostos da aplicação das penas e das medidas de segurança; vide Orlando Rodrigues, Direito Penal,
Apontamentos, Luanda 2003, pág. 3. Por contraposição ao Direito Processual Penal seu correlativo
adjectivo definido em linhas gerias como um sistema de normas ou regras jurídicas que disciplinam e
regulam a aplicação do direito penal aos comportamentos delituosos submetidos à apreciação dos
tribunais; vide Vasco A. Grandão Ramos, Direito Processual Penal, Noções Fundamentais, 6.ª ed.,
colecção da FDUAN, pág. 12. Note porém que aquele sem este é como "as pernas sem os pés".
2
Podemos definir punibilidade como a possibilidade jurídica do Estado aplicar uma sanção
criminal ao agente de uma infracção penal, o mesmo é dizer, a possibilidade de o agente ser objecto de
uma medida punitiva. Conclui-se portanto, que a punibilidade não é elemento constitutivo do crime, é
deste «exterior»; pois como aprendemos em sede da cadeira de Direito Penal I, a infracção penal no seu
aspecto formal traduz-se numa acção humana, típica, ilícita e culposa; elementos essenciais e
indispensáveis a uma definição de crime, são: comportamento humano dominado (ou dominável) pela
vontade (acção), que preenche os elementos tipificados de um facto proibido (tipicidade), realizado em
tais condições que a ordem jurídica o sofra como um dano não justificado (ilicitude) que o agente
livremente provocou ou que se lhe reprova (culpa), cfr. Orlando Rodrigues, ob.cit. pág. 65.
3
Note que entre punibilidade e pena medeia a condenação.
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Os artigos citados, sem indicação do respectivo diploma legal, referem-se ao Código Penal com
a redacção actual.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
5
Heteronomamente é uma palavra inventada por Kant, que seria o oposto de agir autonomamente.
6
SILVA, Germano Marques da, Direito Penal Português, Parte Geral III - Teoria das Penas e das
Medidas de segurança, Editorial Verbo 1999, pág., 224.
7
As consequências jurídicas do crime ou os "efeitos jurídicos do crime " (que são tradicionalmente as
sanções criminais, isto é, as penas cominadas na estatuição das normas penais incriminadoras, e as
medidas de segurança) correspondem de modo geral a todas as reacções que o Estado organiza contra os
agentes dos comportamentos ou acções (lato sensu) que lesam, põem ou poderão pôr em perigo os bens,
valores ou interesses sociais tutelados pelo Direito Penal, comportamentos esses descritos abstractamente
nos modelos legais de crimes (tipos legais de crime) ou correspondentes aos pressupostos de facto de
situações de perigosidade criminal.
9
Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
8
Rodrigues, Orlando, ob.cit. pág. 63.
9
São para MANUEL LEAL HENRIQUES/MANUEL SIMAS SANTOS (Código Penal português
anotado, 1.°, pág. 1212) - causas de isenção de responsabilidade criminal por contraposição às causas de
extinção da responsabilidade criminal.
10
Cfr. Artigos 41.° e segs. do C.P., para maior desenvolvimento ao nível da doutrina vide Orlando
Rodrigues, págs. 124 e segs., sobre a ilicitude e causas de justificação do facto, e págs. 157 e segs, sobre
as causas de exclusão da culpabilidade.
11
As causas justificativas ou que excluem a culpa, contemporâneas da prática do facto isentam de
responsabilidade o agente que praticou o facto. As causas de extinção de responsabilidade verificam-se
em momento posterior ao facto, porém, extinguindo a responsabilidade criminal fazem cessar a
possibilidade de a mesma ser apurada ou de ser executada a pena ou medida de segurança entretanto
aplicada. Cfr. Pedro Filipe Gama da Silva, A prescrição como causa de extinção da responsabilidade
criminal - um estudo de direito penal português, tese de mestrado, Coimbra 2015, pág 13.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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12
«O Código Penal de 1886, ainda em vigor, mistura nos mesmos preceitos (arts.° 125.° e 126.°) sem
unidade sistemática, causas de extinção do crime e das penas (amnistia, perdão geral, perdão especial ou
indulto, morte do condenado, anulação da sentença em juízo de revisão ou cassação, descriminalização,
prescrição, caducidade da condenação condicional e cumprimento da pena), com as causas extintivas dos
efeitos das penas (reabilitação) e até com as causas de extinção do procedimento criminal (perdão de
parte, prescrição, morte do arguido e amnistia) podendo as duas últimas, em certas circunstâncias,
extinguir, ao mesmo tempo, o procedimento e a pena». Cfr. Revista n.° 8 da FDUAN, in relatório do
Ante-projecto do futuro Código Penal da autoria dos Professores Orlando Ferreira Rodrigues, Vasco
Grandão Ramos e Luzia Sebastião de Almeida, págs. 261-262.
13
Seguimos de perto as lições do Professor Manuel CAVALEIRO FERREIRA. Cfr. FERREIRA, Manuel
Cavaleiro, Direito Penal Português II, Verbo 1982, pág. 500 e segs.
11
Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
14
Note que o processo pode ser instruído sem o conhecimento de quem foi o autor do crime, e isto nos é
confirmado pelo corpo do artigo 10.° do Decreto-Lei n.° 35 007, sob a epígrafe "fins da instrução"
segundo o qual «A instrução do processo penal tem por fim verificar a existência das infracções,
determinar os seus agentes e averiguar a sua responsabilidade».
15
Como sabemos a lei penal necessita do processo penal para a sua aplicação ao caso concreto, o termo
processo tem múltiplos significados, na linguagem corrente procedimento e processo são sinónimos e
frequentemente são assim utilizados, mesmo na linguagem jurídica, se usam indistintamente; com isso
queremos advertir que o termo procedimento é aqui utilizado como sinónimo de processo, isto é, o modus
faciendi com que a actividade processual se realiza e se desenvolve.
O conceito de procedimento pode também corresponder a um processo em concreto, a actividade
efectiva, isto é, à sequência de actos processuais correspondentes ao processo (modelo) que se inicia com
a noticia criminis.
Como defende o Professor Germano Marques da Silva, in Curso de Processo Penal I, pág. 13 e segs.,
«não há pois uma distinção que seja imposta por lei nem que tenha recebido acordo unânime da doutrina.
Os termos são usados indistintamente, predominando o uso do termo processo para indicar a actividade
processual e os autos e o termo procedimento para referir-se as formalidades e a sequência com que os
actos processuais se realizam e, tendencialmente, para indicar também a marcha de um processo em
concreto».
16
Haverá promoção oficiosa do procedimento criminal nos termos do artigo 165.° do C.P.P conjugado
com o artigo 6.° do Decreto-Lei n.° 35 007, todavia, para além dos casos em que a «noticia criminis» é
oficiosa o procedimento ou se quisermos a instrução preparatória abre-se a «a partir de fora», mediante
participação ou denúncia de particulares ou de autoridades, agentes de autoridade ou funcionários
públicos no exercício ou por causa do exercício das suas funções (através de autos de notícia, cfr. artigo
166.° do C.P.P) , sendo facultativa para os primeiros e obrigatória para os segundos ( cfr. artigos 7.° e 8.°
do Decreto-Lei n.° 35 007).
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
prescrição. Do mesmo modo, tal não ocorre no caso de se verificar, por exemplo a morte
do arguido.
A prescrição extingue a responsabilidade criminal, sem que haja, muitas vezes,
qualquer apuramento se tal responsabilidade efectivamente existe ou existiu obviamente ao
nível do procedimento criminal, isto é, antes do trânsito em julgado da sentença final do
processo.
O teor do artigo 125.° do C.P dispõe que, além dos casos previstos no artigo 6.° o
procedimento criminal, as penas e medidas de segurança também cessam pelas causas que
seguidamente se enumera.
- Retroactividade da lei que não mais considera o facto como criminoso - Abolitio
criminis
O artigo 6.° do C.P indica os casos de retroactividade da lei penal; quando uma
nova lei elimina uma incriminação anterior, a nova lei aplica-se aos factos passados, e deste
modo os factos incrimináveis pela lei revogada, porque cometidos durante o tempo da sua
vigência, deixam de ser qualificáveis como crime; e também quando uma nova lei modifica
a pena aplicável a um crime essa nova lei aplica-se aos factos cometidos anteriormente à
sua vigência, quando seja mais favorável ao delinquente, desde que não tenha ainda havido
sentença condenatória com trânsito em julgado.
Como se pode depreender, estas duas situações configuram corolários do princípio
da retroactividade da lei mais favorável.
O n.°1 do artigo 6.° do C.P dispõe que «a infracção punível por lei vigente, ao
tempo em que foi cometida, deixa de o ser se uma nova lei a eliminar do número de
infracções. Tendo havido já condenação transitada em julgado, fica extinta a pena, tenha ou
não começado o seu cumprimento».17
Bem vistas as coisas e por uma questão de lógica, por este facto (descriminalização)
o procedimento criminal inevitavelmente se extingue, pois do contrário correr-se-ia o risco
de se condenar uma pessoa por um facto que (já) não constitui crime (pois extinto foi)
consubstanciando tal conduta uma flagrante violação do princípio da legalidade penal,
segundo o qual "Nullum crimen sine lege".
A «abolitio criminis» verifica-se quando o Estado por razões fundamentalmente
de política criminal18, não mais considera determinado facto como crime. Logo, o Estado
17
Aqui está patente a «descriminalização» como causa de extinção da responsabilidade criminal.
18
Cfr. SILVA, Germano Marques da, Direito Penal Português, Parte Geral I – Introdução e Teoria da lei
penal, Editorial VERBO 1997, págs. 160-161. Segundo este ilustre Professor Doutor da Faculdade de
Direito da Universidade Católica Portuguesa, «a política criminal não é uma ciência, mas uma técnica,
um método de trabalho ou até mais exactamente uma arte. É hoje a denominação usada para designar o
critério orientador da legislação, bem como os projectos e programas sociais tendentes à prevenção do
crime e controlo da criminalidade. A política criminal é parte da Política do Direito e da Política em geral
e num primeiro momento designa o conjunto de meios e critérios empregados ou a empregar pelo Direito
penal para o tratamento da criminalidade, no quadro mais geral dos meios jurídicos utilizados ou a utilizar
para a consecução dos fins concretos de uma comunidade jurídica».
Para Américo Taipa de Carvalho, in Direito Penal – Parte Geral. Questões fundamentais - Teoria Geral do
Crime, 2.ª Edição, Coimbra Editora, 2008, págs. 13-14. «A política criminal pode definir-se como o
conjunto dos princípios éticos-individuais e ético-sociais que devem promover, orientar e controlar a luta
contra a criminalidade. O objectivo ou função da política criminal é a prevenção do crime e a confiança
da comunidade social na ordem jurídico-penal, isto é, na afirmação e vigência efectiva dos valores
sociais, indispensáveis à livre realização da pessoa de cada um dos indivíduos integrantes da sociedade.
Esta prevenção do crime, esta luta contra a delinquência, não pode fazer-se a todo custo; ela tem, sim, de
realizar-se no respeito dos próprios valores e princípios que visa defender.
São, portanto, duas as coordenadas da política criminal: eficácia, quanto aos fins; legitimidade (ético-
jurídica), quanto aos meios. Assim, entre os princípios da política criminal de um Estado de Direito
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
entende que o bem protegido pela lei penal já não mais goza da importância exigida pelo
Direito Penal e, em razão disso, decide afastar da incriminação todos aqueles que ainda se
encontram cumprindo pena. Por exemplo os crimes contra a religião (artigo 130.° do C.P -
revogado pelo artigo 4.° do Decreto de 15 de Fevereiro de 1911).
Como defende o Professor Manuel Cavaleiro Ferreira19 e nós corroboramos «se o
facto já não é considerado crime pela nova lei, seria injusto por um lado e inútil por outro,
sujeitar a responsabilidade o seu agente. Para revogar ou suprimir uma incriminação, o
legislador toma em atenção todos os aspectos de carácter social e jurídico; e se eles levam a
considerar como não sendo mais nocivo aos interesses fundamentais da sociedade o facto,
praticado embora quando era considerado como anti-social, seria injusta a punição como
seria inútil a prevenção da criminalidade, porquanto o facto deixou de ser criminoso».
Abrimos aqui um breve parágrafo para tecer algumas considerações relativamente
às modificações das consequências do crime20; o n.° 2 do artigo 6.° do C.P dispõe que
«quando a pena estabelecida na lei vigente ao tempo em que é praticada a infracção for
diversa das estabelecidas em leis posteriores, será sempre aplicada a pena mais leve ao
infractor, que ainda não tiver sido condenando por sentença passada em julgado».21
Na sucessão de leis no tempo é frequente a hipótese de a lei posterior, em vez de
criar novos tipos de crimes ou eliminar uma incriminação já existente, modificar apenas as
consequências jurídicas do facto incriminado. Tal pode suceder por duas formas: ou a lei
modifica a penalidade imposta à infracção ou modifica os efeitos das penas, que são os
constantes dos artigos 74.° e seguintes do Código Penal. Na verdade a consequência
jurídica mais importante do crime é a pena, embora ao lado desta resultem da condenação
os chamados efeitos da pena, que na nossa legislação são os taxativamente indicados nos
citados artigos do Código Penal.
Se a modificação incide sobre a pena aplicável, a solução depende de a nova lei
impor pena mais leve ou pena mais grave.
Se a pena cominada pela nova lei é mais grave, subsiste o princípio da não
retroactividade; se é mais leve, aplica-se a lei mais favorável ao delinquente, de harmonia
com a excepção ao referido princípio.
- A morte do criminoso
Na enumeração que se segue, e no teor do artigo 125.°, indica-se em primeiro lugar
a morte do criminoso22, a qual extingue tanto o procedimento criminal, a pena e medida de
segurança, como só a pena e a medida de segurança, consoante a morte se verifique antes
ou depois da condenação.
Democrático e Social, podem referir-se: o princípio da legalidade, qual garantia contra a arbitrariedade
judicial e administrativa; o princípio da culpa, com a consequente recusa de qualquer forma de
responsabilidade penal objectiva; o princípio da humanidade na definição legal das penas (donde, a
proibição da pena de morte e das penas degradantes da dignidade humana da pessoa do recluso) e na sua
execução (donde, a recusa da prisão perpétua e das consequências jurídicas de duração indeterminada); o
princípio da recuperação social do recluso, o que obriga à criação de estabelecimentos penitenciários
adequados, e a modelação da execução da pena de prisão em condições que possibilitem tal recuperação.
19
In Direito Penal português, Parte geral I, Verbo 1982, pág. 116.
20
Seguimos de perto as lições do Professor Manuel CAVALEIRO FERREIRA, idem, pág. 117 e segs.
21
Cfr. Artigo 65.° n.° 4 in fine , da CRA.
22
A morte prova-se através de um assento de óbito extraído no respectivo livro, onde para além dos
elementos de identificação pessoal do finado, deverão constar dentre outros, a hora, a data, o lugar do
falecimento ou do aparecimento do cadáver e a causa da morte. Sobre o registo do falecimento de
qualquer indivíduo, vide artigos 237.° do Código do Registo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 47 678,
de 5 de Maio de 1967.
Quanto aos deveres processuais, no caso de falecimento de réu preso, veja-se o artigo 637.° do C.P.C.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
"Mors omnia solvit " (a morte tudo apaga, tudo faz desaparecer23), a morte do
agente é a única causa natural de extinção da responsabilidade criminal, sendo todas as
demais causas jurídicas.
A extinção da responsabilidade criminal em virtude da morte do agente da
infracção resulta do princípio da pessoalidade das penas, aludido no artigo 65.° n.°1 da
CRA e nos artigos 28.° e 113.° ambos do C.P.
Relativamente a pena de multa dispõe o § único do artigo 87.° do C.P, sob a
epígrafe "personalidade da pena de multa" que «a obrigação de pagar a multa só passa aos
herdeiros do condenado se em vida deste a sentença de condenação tiver passado em
julgado».
Este artigo contém afloramento, quanto à pena de multa, dos princípios da
individualidade e da intransmissibilidade das penas, nos quais se desdobra o princípio mais
vasto da pessoalidade das reacções criminais. Estes princípios encontram-se como já
frisamos formulados no n.°1 do artigo 65.° da CRA e no artigo 28.°.
Na pena de multa há diminuição mas não privação do património; por isso esta
pena é conciliável com a pessoalidade, o mesmo sucedendo com a obrigação imposta aos
herdeiros de pagarem a multa, quando a sentença condenatória tiver transitado em vida do
réu. Daqui o preceito do parágrafo único. A multa tem natureza mista, de reacção criminal
e civil; do princípio da pessoalidade das penas dimana que o que se transmite aos herdeiros
é somente a responsabilidade civil 24(cfr. artigo 2071.° do C.C).
A responsabilidade criminal é pessoal e as penas não passam da pessoa do
delinquente. Como lógica consequência não pode haver nem processo contra um
delinquente que morreu, nem execução ou continuação de execução da pena ou medida de
segurança imposta ao condenado que morreu.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
substantiva, já que não têm apenas efeitos sobre o processo (natureza processual), mas
também sobre a própria responsabilidade criminal, sobre a punibilidade do facto objecto
do procedimento.28
Nos termos do n.° 2 do artigo 125.° do C.P a prescrição do procedimento criminal,
embora não seja alegada pelo réu ou este retenha qualquer objecto por efeito do crime,
constitui causa extintiva da responsabilidade criminal.29
Como já referimos, na esteira do Professor Manuel Cavaleiro Ferreira a extinção da
responsabilidade criminal é extinção da punibilidade ou extinção da pena. Entre
punibilidade e pena medeia a condenação. Por isso as causas que só extinguem as penas e
medidas de segurança, pondo termo à sua execução, sobrevêm após a condenação; as
anteriores à condenação extinguem a punibilidade e por isso também a procedibilidade do
processo penal.
A prescrição do procedimento criminal traduz-se na prescrição da própria acção
penal30, definível como o direito subjectivo público de invocar o poder judicial para
aplicar o direito penal substantivo aos comportamentos delituosos. É através do
exercício deste direito que se inicia o processo-crime perante o Tribunal.
Consoante se configure como prescrição da punibilidade ou da procedibilidade, se
lhe atribui correspondentemente natureza processual ou substantiva; como ficou patente
nos parágrafos anteriores muitos consideram-na de natureza mista, isto é, substantiva e
processual.
No que toca à prescrição do procedimento criminal, JORGE DE FIGUEIREDO
DIAS31 diz que «a sua caracterização como pressuposto processual negativo (obstáculo
processual) é pouco menos que indiscutível. Uma vez verificada a prescrição do
procedimento, é exacto que a consequência deve, em correcta técnica jurídica, traduzir-se
no arquivamento do processo, não na absolvição do arguido. A questão reside pois toda (e
só) em saber se este aspecto das coisas esgota a natureza da prescrição, ou se a esta vertente
processual deve juntar-se uma vertente substantiva».
representando uma renúncia do Estado à pretensão punitiva ou ao efectivo poder de punir, é um instituto
de direito substantivo e não de direito processual. A este direito pertence somente a forma como se
processa e declara. O fundamento da prescrição criminal, segundo a orientação hoje dominante, está
essencialmente na não verificação dos fins das penas; na desnecessidade de repressão e de prevenção
geral e especial, relacionada com o esquecimento do facto criminoso. O decurso do tempo apagou a sede
de justiça, mais viva nos primeiros momentos de alarme social. Passado algum tempo, o crime entrou no
esquecimento; se o mau exemplo frutificou, uma pena tardia não o poderia já evitar. E, quanto à
prevenção especial, considera-se que, decorrido um longo lapso de tempo, o criminoso pode estar
regenerado ou ter encontrado uma situação em que a perigosidade se não faça sentir. Fazer, em tais
condições, recordar o crime já esquecido ou ignorado, mediante um processo judicial, será destruir aquela
situação favorável e até aumentar o perigo de novos crimes».
Note porém que Cavaleiro de Ferreira; Curso de Processo Penal, III, pág., 61, citado pelo mesmo, autor
atribui porém a este instituto natureza adjectiva. Cfr. M. Maia Gonçalves, Código Penal Anotado, 6.ª
Edição, Almedina - Coimbra, 1982, pág., 268 e segs.
28
Cfr. A. Grandão Ramos, ob. cit, pág. 308 e segs., que trata da prescrição como pressuposto processual
relativo ao objecto do processo a par da litispendência e do caso julgado diz este ilustre Professor que
«para que o tribunal possa conhecer de um feito penal, dar como provada a existência de um crime e
aplicar ao réu a pena correspondente, é necessário que a questão não tenha já sido ou não esteja a ser
objecto de outro processo, ou que o que o tribunal esteja em tempo de poder conhecer do caso que é
submetido à sua consideração, isto é, que o procedimento criminal ou penal não tenha prescrito».
29
Dispõe o artigo 155.° do C.P.P sob a epígrafe (prescrição) que «os termos, prazos e efeitos da
prescrição e as causas da sua interrupção são os estabelecidos na lei penal; a forma de a deduzir e julgar é
a prescrita nos artigos 139.° e seguintes».
30
A acção penal é pública e compete em princípio ao M.P o seu exercício, com a acusação ou introdução
da causa em juízo. (cfr. artigo 1.° do Decreto-Lei n.° 35 007).
31
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Português, Parte Geral II - As consequências jurídicas do
crime, Aequitas Editorial Notícias 1993, pág. 701.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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CAVALEIRO FERREIRA, defende que «há que observar, contudo, que a acção
penal é direito processual, que se não confunde com pretensão punitiva; é,
preferentemente, de aceitar a natureza processual da prescrição da acção penal. É um
pressuposto processual negativo e como tal uma excepção processual. Ora, parafraseando
o Professor CAVALEIRO FERREIRA «porque o Direito Penal se realiza através do
processo penal, a impossibilidade de instauração ou prossecução do processo acarreta a
impossibilidade do exercício do poder de punir».32
Prazos
Nos termos do § 2.° do artigo 125.° do C.P, o procedimento criminal prescreve
passados 15 (quinze) anos, se ao crime for aplicável pena maior, passados 5 (cinco) anos ,
se lhe for aplicável pena correccional ou medida de segurança e passado 1 (um) ano, quanto
a contravenções; pelo que podemos afirmar que os prazos em que o procedimento criminal
prescreve fixam-se, segundo um método de determinação abstracto, em função da
gravidade do facto, indiciada através da espécie a que corresponde a pena aplicável.
Extintos esses prazos, não é (mais) possível perseguir judicialmente o criminoso.
O prazo da prescrição do procedimento criminal conta-se desde o dia em que foi
cometido o crime33, mas interrompe-se a prescrição a partir do dia da acusação em juízo e
enquanto estiver pendente o processo pelo respectivo crime (cfr. art. 125.°, § 4.°, n.° 1 do
C.P).34
O Código Penal não estabelece a distinção entre causas de interrupção e de
suspensão do procedimento criminal e das penas, outrossim não permite que o prazo do
procedimento criminal interrompido pela acusação volte a correr de novo.
Por outro lado, utiliza como critério de fixação dos prazos, a natureza da pena aplicável ou
aplicada (maior ou correccional) e não a sua medida, como seria mais razoável e seguro.
O Ante-projecto do futuro Código Penal angolano rectifica estes defeitos de forma
e de conteúdo,35 separando com o devido rigor, os casos de suspensão (artigo 117.°) dos
casos de interrupção (artigo 118.°) da prescrição. Mas qual é então diferença entre estes
dois institutos? A diferença fundamental entre estes dois institutos é a seguinte: na
suspensão, a prescrição volta a correr, a partir do dia em que cessar a respectiva causa,
somando-se o tempo de prescrição decorrido até à suspensão com o tempo de prescrição
que correr a partir da altura em que desapareceu a causa da suspensão; na interrupção,
perde-se todo o tempo até ela decorrido, começando a correr de novo e integralmente o
prazo de prescrição; o mesmo é dizer, enquanto que na suspensão o prazo volta a fluir de
onde parou, contando-se o prazo que sobrou, o prazo para a prática do acto será devolvido
ao interessado pelo quanto faltava para o seu término, na interrupção o prazo volta a correr
32
Cfr. Manual de Direito Penal Português II de Manuel CAVALEIRO FERREIRA, ob. cit. pág. 503.
33
O Código não discrimina o início da contagem consoante o crime seja permanente ou instantâneo pelo
que entendemos (salvo melhor argumento) que o prazo de prescrição do procedimento criminal inicia-se
com o último facto praticado, quando a infracção, em vez de ser instantânea, se consuma por factos
sucessivos ou reiterados ou a consumação perdura, ou se mantém, enquanto não desaparecer a situação
criada com a violação dos respectivos preceitos legais.
34
No anterior texto da lei (anterior ao Decreto-Lei n.° 184/72, de 31 de Maio) a prescrição interrompia-
se com a prática de um acto judicial. Foram muitas as dúvidas levantadas quanto à interpretação da
expressão «acto judicial», como causa da interrupção da prescrição. O novo texto pôs termo à
possibilidade e também à prática frequente de promoção de um acto do juiz ou até de acto de simulada
instrução com a exclusiva finalidade de interromper-se a prescrição do procedimento criminal. A lei hoje
exige portanto, expressamente a acusação em juízo. No entanto, se a acusação não puder ser apresentada
em razão da pendência de uma acção sobre uma questão prejudicial, o prazo da prescrição interrompe-se
igualmente durante a pendência desta última (cfr. art. 125.°, § 4.°, n.° 2 do C.P). Idem, pág. 503.
35
Cfr. Ante-projecto em WWW.CRJD-ANGOLA.COM
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
por inteiro, ou seja, do zero, devolve-se ao interessado o prazo integral para a prática do
acto processual, in caso para o procedimento processual, é como se o prazo nunca tivesse
fluido.
Os prazos de prescrição da acção civil, quando esta seja cumulada com a acção
penal, são os da acção penal, sendo mais longo que os da prescrição da acção civil; nos
demais casos valem os prazos de prescrição da lei civil, e isto resulta do disposto no artigo
125.°, § 5.° do C.P.
Fundamentos
O instituto da prescrição está previsto nos artigos 125.° e 126.°; um referente à
prescrição do procedimento criminal; e o outro referente à prescrição das penas. A
distinção reside em que o decurso de certos prazos torna impossível, no primeiro caso o
procedimento criminal e, por essa via, a aplicação de uma qualquer sanção criminal; no
segundo, ele torna impossível a execução de uma pena constante de uma condenação
transitada em julgado. Pode por isso afirmar-se, com inteira justeza, que as duas espécies de
prescrição se justapõem, no sentido de que (por estranho que tal à primeira vista possa
parecer) uma delas começa no preciso momento em que a outra termina, isto é, com o
trânsito em julgado da decisão.
Indo para os fundamentos como tal36, dizer que a prescrição justifica-se, desde logo,
por razões de natureza jurídico-penal substantiva, o decurso do tempo sobre a prática de
um facto não constitui por si só motivo para que tudo se passe como se ele não houvesse
ocorrido; considera-se também que uma tal circunstância é, sob certas condições, razão
bastante para que o Direito Penal se abstenha de intervir ou de efectivar a sua reacção. Por
outro lado, a censura comunitária traduzida no juízo de culpa esbate-se, se não chega
mesmo a desaparecer. Por outro lado, e com maior importância, as exigências da prevenção
especial, por ventura muito fortes logo a seguir ao cometimento do facto, tornam-se
progressivamente sem sentido e podem mesmo falhar completamente os seus objectivos:
quem fosse sentenciado por um facto há muito tempo cometido e mesmo por ventura
esquecido, ou quem sofresse a execução de uma reacção criminal há muito tempo já ditada,
correria o sério risco de ser sujeito a uma sanção que não cumpriria já quaisquer finalidades
de socialização ou de segurança. Por último, e sobretudo, o instituto da prescrição justifica-
se do ponto de vista da prevenção geral positiva: o decurso de um largo período sobre a
prática de um crime ou sobre o decretamento de uma sanção criminal não executada faz
com que não se possa falar de uma estabilização contrafáctica das expectativas
comunitárias, já apaziguadas ou definitivamente frustradas.
Por todas estas razões, ao instituto da prescrição poder-se-ão ligar exigências
político-criminais claramente ancoradas na teoria das finalidades das sanções criminais e
além do mais a própria consciência jurídica da comunidade.
Do ponto de vista processual, o instituto geral da prescrição encontra pleno
fundamento. Sobretudo enquanto causa de extinção do procedimento criminal, na medida
em que o decurso do tempo torna mais difícil e de resultados duvidosos a investigação (e a
consequente prova) do facto e, em particular, da culpa do agente, elevando a quotas
insuportáveis o perigo de erros judiciários, defende J. FIGUEIREDO DIAS que a
conclusão vale, também, para o instituto da prescrição da pena, por isso que é a sua própria
execução que se torna inadmissível e deve, portanto, ser impedida, eu porém corroborando
a posição de JESCHECK, para quem a prescrição da sanção (diversamente do
procedimento) só pode ter fundamentação jurídico-material e não processual, discordo.
36
Seguimos de perto as lições de Direito penal português do ilustre Professor Catedrático Jorge de
Figueiredo Dias, ob. cit. pág. 699-700.
18
Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
37
Cfr. Pedro Filipe Gama da Silva, A prescrição como causa de extinção da responsabilidade criminal,
ob. cit. págs. 55 e segs.
38
Esta é desde já uma expressão imprecisa, vaga e perigosa no âmbito do Direito Penal, em total
desarmonia com o princpio da legalidade penal, cfr. Artigo 6.º da CRA e as disposições combinadas dos
artigos 1.º, 5.º, 6.º e 18.º do C.P, carecendo por isso de concretização e precisão no âmbito da legislação
ordinária (No Brasil há por exemplo a lei n.° 8.072, de 25 de Julho de 1990- Lei dos Crimes Hediondos)
39
Perante esta disposição constitucional poderiam surgir as seguintes questões: poderá legitimamente, o
Poder Constituinte Derivado ou o legislador ordinário ampliar as hipóteses elencadas, tornando outros
crimes imprescritíveis? Quando o legislador constituinte originário pretendeu que determinados crimes
fossem imprescritíveis não o fez expressamente, e a contrario sensu, os demais crimes seriam
prescritíveis? O elevado grau de abstraccionismo do n.° 2 (sobretudo) desta disposição constitucional não
a enfraquece como garantia dos direitos e liberdades fundamentais? Diante de todas estas questões limito-
me a recomendar ou melhor sugerir que se emende tal norma constitucional no sentido de a tornar mais
clara e precisa em conformidade com o princípio da legalidade penal que aliás é um princípio de
emanação jurídico-constitucional.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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- A amnistia
O n.° 3 do artigo 125.° do C.P, refere como causa extintiva do procedimento criminal,
das penas e medidas de segurança, a amnistia.41
A amnistia, o indulto e comutação da pena, segundo o Professor Manuel Cavaleiro
Ferreira (ob. cit. pág. 504) correspondem à antiga clemência régia, que compreendia a
amnistia e o perdão real.
O perdão real já na vigência das Ordenações do Reino abrangia o perdão geral e o
perdão especial.
O perdão especial era o correspondente ao actual indulto e comutação da pena; o
perdão geral seria o indulto geral das penas.42
Para evitar-se a concessão de amnistias pelo Chefe do Estado ou pelo Governo e
premunindo uma intromissão estranha à seriedade da justiça ou mesmo atentatória dela, ou
ainda se quisermos premunindo uma intromissão indevida ou arbitrária na boa
administração da justiça que cabe ao Poder Judicial, a amnistia passou a compreender o
indulto geral e a ser da competência do Poder legislativo.
40
Idem, pág. 81 e segs, para maior desenvolvimento.
41
Dispõe o artigo 150.° do Código Geral Tributário aprovado pela Lei n.° 21/14, de 22 de Outubro que «a
responsabilidade penal tributária extingue-se mediante: d) A amnistia».
42
Assim qualificado pela doutrina e nas Ordenações, dogmaticamente falando o indulto e a comutação
continuam sendo estudados como modalidades do perdão especial; importa todavia referir que não
obstante continuarem a ser um dos modos de individualização durante a execução da pena, a sua
concessão não está entre nós de jure constituto subordinada à previa apreciação judicial da concordância
do perdão, no caso concreto, com o sentido de justiça, isto é, ao parecer favorável do Tribunal de
Execução como ensinara Manuel Cavaleiro Ferreira (ob.cit. pág. 504,), pelo que é discutível se a sua
concessão (que como sabemos é da competência do Chefe de Estado) constitui ou não uma intromissão
indevida ou arbitrária na boa administração da justiça, que cabe ao Poder judicial.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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43
Ensina o Professor V. Grandão Ramos que a amnistia (art. 125.° n.° 3 e § 1.°) determina a extinção do
próprio crime e, por via dela, da pena. Trata-se de uma ficção jurídica que determina o esquecimento do
crime e o desaparecimento de todas as consequências jurídicas de natureza criminal decorrentes da sua
prática. Só os direitos de terceiros são acautelados (§ 1.° do art. 125.°). Cfr. Estudo das Penas - Sumários
das aulas ministradas na cadeira de Direito Penal II, Luanda 2001, pág. 37.
Rudolf von Jhering definiu a ficção jurídica (do latim Fictio iuris) como «uma mentira técnica consagrada
pela necessidade». In THOMAS, Yan. Fictio legis; L΄empire de la fiction romaine et ses limites
médiévales, Droits, vide Wikipédia.
44
Na senda da Reconciliação Nacional A CRA no seu artigo 244.º decretou a amnistia dos crimes
militares, dos crimes contra a segurança de Estado e outros com eles relacionados, bem como dos crimes
cometidos por militares e agentes de segurança e ordem interna, praticados sob qualquer forma de
participação, no âmbito do conflito político-militar terminado em 2002.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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pessoas com emprego de armas de fogo, crimes de estupro, violação, rapto violento ou
fraudulento, crimes de promoção e auxilio à imigração ilegal, etc.
A amnistia é uma medida de clemência de carácter impessoal, objectivo, pelo que
pode e deve ser aplicada no início do processo-crime, com abstracção da pessoa do
delinquente, ela por sua vez só é, natural e logicamente causa extintiva da pena e medida de
segurança se for posterior à sentença condenatória, pois antes desta não há pena nem
medida de segurança. A amnistia pode ser declarada inclusive mesmo depois de cumprida a
pena. Tal declaração tem um grande interesse jurídico-prático, uma vez que, nos termos do
artigo 127.°, § 5.°, n.° 1.° do C.P serão (também) canceladas no registo criminal, não
devendo dele constar para quaisquer efeitos as condenações por crimes amnistiados.45
A amnistia é de natureza objectiva, abstracta. Toda voltada a infracção, esquece os
seus agentes. Em virtude do carácter impessoal da amnistia, deve atender-se à pena
abstractamente cominada na lei para o crime amnistiado, e não à pena concretamente
aplicada ao delinquente. Não tem relevo, para afastar a amnistia, o facto de, em virtude de
circunstância modificativa, caber ao delinquente pena superior à prevista no diploma da
amnistia. Mas importará indagar meticulosamente se se trata de circunstâncias
modificativas, ou antes da criação de um novo tipo de crime. Neste último caso, a amnistia
não é aplicável.46
Segundo o Professor Manuel Cavaleiro Ferreira (ob. cit. pág. 505), haverá que
distinguir a amnistia como abolitio criminis, amnistia dos crimes, de uma amnistia
imprópria47 que incide só sobre a punição; e é evidente que só a primeira, determina o
cancelamento no registo criminal das condenações por crimes amnistiados. Como indulto
ou comutação geral de penas, a amnistia imprópria pode ser delimitada ou
condicionada.48
Segundo Taipa de Carvalho49, a diversidade de efeitos práticos é fonte de injustiça
relativa, pois que a classificação da amnistia própria - quando a lei de amnistia entra em
vigor antes do trânsito em julgado da sentença - ou como imprópria - quando a referida lei
de amnistia entra em vigor depois do trânsito em julgado - depende, muitas vezes, do mero
acaso. Exemplificando com o seguinte «pode dar-se o caso de ser prejudicado o infractor
45
Na doutrina brasileira, e no mesmo sentido DAMÁSIO DE JESUS defende que «a amnistia opera ex
tunc, i.é., para o passado, apagando o crime, extinguindo a punibilidade e demais consequências de
natureza penal», vide, JESUS, Damásio E. de, Direito Penal Parte Geral, 30.ª edição São Paulo: Saraiva,
2009.
46
Cfr. M. Maia Gonçalves, Código Penal Anotado, pág. 270.
47
Ensina o ilustre Professor V. Grandão Ramos referindo-se ao «Perdão Geral» que este é o que alguma
doutrina chamada de amnistia imprópria. Incide não sobre o crime, mas directamente sobre as penas.
Pode ser total e parcial. Este tipo de perdão é matéria de lei, tal como a amnistia, sendo pois da
competência do Poder legislativo. Normalmente, é decretado na própria lei de amnistia, para os crimes
que por ela não são abrangidos (vide artigo 2.° da lei n.° 11/16, de 12 de Agosto - Lei de Amnistia)
chamando a atenção para o facto de que «quando o perdão geral é decretado antes da condenação, só
produz efeitos penais depois de o réu ser condenado. O juiz, então, declara na sentença o perdão de toda
ou parte da pena, conforme for o caso. Idem. Pág. 37
48
Na doutrina brasileira segundo Fernando Capez, a amnistia pode ser:
a) Especial: para crimes políticos;
b) Comum: para crimes não políticos;
c) Própria: concedida antes do trânsito em julgado da sentença condenatória;
d) Imprópria: concedida após o trânsito em julgado;
e) Geral ou plena: refere-se apenas aos factos, atingindo a todos que o praticaram;
f) Parcial ou restrita: faz alusão aos factos, mas exige o preenchimento de algum requisito, como
por ex. – a amnistia que só atinge os réus primários;
g) Incondicionada: não exige a prática de nenhum acto como condição para a sua concessão;
h) Condicionada: estabelece a prática de algum acto como condição para a sua concessão.
Cfr. CAPEZ, Fernando A. N Galvão de, Curso de Direito Penal. 10.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
49
CARVALHO, Américo A. Taipa de, Sucessão de Leis Penais, Coimbra editora, 1990, pág. 11.
22
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50
Advogada e Professora de Direito Penal II, aula XI tema: Extinção da punibilidade, CEAP - Brasil p. 2.
23
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51
Para J.J. GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA «como acto essencialmente político - ainda que
sob a forma de lei -, a amnistia é essencialmente insindicável quanto à sua oportunidade e quanto à sua
extensão, bem como quanto à determinação dos seus efeitos». Cfr. Constituição da República Portuguesa
Anotada, Vol. II, 4.ª edição, Agosto 2010, Coimbra editora, pág. 292.
52
É indesmentível o efeito útil e salutar das medidas de clemência no que a prevenção especial diz
respeito, pois cá entre nós, analisando a questão com realismo são notórios os efeitos criminógenos das
prisões, ademais as taxas de reincidência das pessoas que estiveram presas são altíssimas.
53
Este é um dado de indiscutível importância, não fosse o facto de maior parte dos delinquentes postos
em liberdade ao abrigo do indulto decretado pelo P.R em 2015 e pela amnistia provada pela A.N
aprovada em 2016, num contexto socioeconómico difícil, ter voltado a delinquir e boa parte deles ter sido
presa novamente.
Não nos esqueçamos que um dos princípios orientadores do sistema prisional é o princípio da
ressocialização do recluso - consagrado na lei n.° 8/08, de 29 de Agosto - Lei Penitenciária, segundo o
qual «a execução das medidas privativas de liberdade deve orientar-se de forma a reintegrar o recluso na
sociedade, prepará-lo para no futuro conduzir a sua vida de modo socialmente responsável», cfr. art. 3.°
n.°1 da respectiva lei.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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54
Vide o preâmbulo da lei da amnistia, Lei n.° 7/00 de 15 de Dezembro.
55
Dispunha o revogado o § 2.° do revogado artigo 629.° do C.P.P que « a decisão sobre a aplicação de
amnistia, indulto ou comutação de penas é da competência do Tribunal de Execução das Penas, sempre
que os processos aí se encontrem, ainda que transitoriamente».
Cfr., contudo o artigo 43.° da lei que revogou o citado artigo, i.é., da lei n.° 20/88, de 31 de Dezembro –
Lei sobre o ajustamento das leis processuais penal e civil.
25
Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
- Retratação do agente
Há retratação, quando o agente repõe a verdade, desdizendo-se ou dando como
não dito o que antes havia afirmado. Ao repor a verdade, o agente desfaz a falsidade que
cometera; nisto se distingue a retratação da confissão, pois nesta o agente limita-se à
afirmação de que cometeu os factos que lhe são imputados.
Nos termos do artigo 239.° sob a epígrafe "falso testemunho" «Cessa a pena de
testemunho falso, se aquele que o deu se retractar antes de estar terminada a discussão da
causa.56
- A oblação voluntária
Constitui causa específica de extinção das contravenções57 puníveis com multa e
consequentemente do procedimento criminal, a oblação voluntária, de harmonia com o n.°
5 do artigo 125.° (este número do artigo 125.° foi incluído no Código Penal pela redacção
que ao artigo foi dada pelo Dec.-Lei n.° 184/72, de 31 de Maio, em correspondência com o
artigo 167.° do C.P.P, segundo o qual, antes do auto de transgressão ser remetido a juízo, o
contraventor pode pagar voluntariamente a multa).
Mediante o pagamento voluntário (oblação) a contravenção penal extingue-se. É
um caso de extinção da responsabilidade criminal pela extinção da própria contravenção e
privativa desta espécie de infracção.
56
Vide também o artigo 72.º da lei n.º 07/06 de 15 de Maio - Lei de imprensa sob a epígrafe
«Responsabilidade criminal» que no seu n.º 3 prescreve que «A retractação ou publicação de resposta, se
aceite pelo ofendido, isenta de pena o autor do escrito, som ou imagem».
57
«Considera-se contravenção o facto voluntário punível, que unicamente consiste na violação ou na falta
de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos, independentemente de toda a
intenção maléfica.» É esta a noção que o artigo 3.° do Código Penal dá de contravenção. A contravenção
é um facto voluntário, no sentido de que se trata de uma conduta ou comportamento, dominado ou
dominável pela vontade, violador ou transgressor das disposições preventivas das leis e regulamentos,
quer dizer, não é necessário que seja violado ou ofendido um determinado bem jurídico ou interesse
jurídico-penalmente tutelado, basta a simples violação da disposição preventiva. Vide nosso estudo sobre
as contravenções penais, FDUAN - Fevereiro de 2015 Direito Penal I.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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58
Esta lei define um prazo prescricional especial quer para as penas, quer para o procedimento criminal
dos crimes nela previstos, cfr., artigo 4.°.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
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- O cumprimento
O cumprimento (artigo 126.° n.° 1) é o modo normal de execução da pena e da
medida de segurança, com a duração, com as modalidades ou modificações compreendidas
na espécie de pena ou medida de segurança aplicada, constituindo por este e em
consequência deste facto o modo normal e natural de extinção, quer da pena, quer da
medida de segurança aplicadas.
Terminado o cumprimento da pena ou medida de segurança privativas de
liberdade, os condenados serão soltos por mandado isto é, mandado de soltura do
respectivo juiz, de harmonia com o disposto no artigo 636.° do C.P.P.
No acto da soltura deve ser entregue ao recluso uma declaração comprovativa da
capacidade profissional, os seus objectos pessoais apreendidos e os proventos do trabalho
remunerado e prestado durante o tempo de cumprimento da pena, se a ele tiver direito,
conforme o disposto no n.° 3 do artigo 17.° da Lei n.° 8/08, de 29 de Agosto - Lei
Penitenciária.
- O indulto
O indulto, a que se refere o n.° 2 do artigo 126.°, é o indulto especial e consiste na
extinção total da pena ou medida de segurança pondo termo à execução, enquanto o
indulto geral é abrangido no conceito de amnistia imprópria, e só pode ser concedido por
lei. Pelo contrário, o indulto especial é uma forma de individualização da pena na sua
59
O indulto e a comutação de penas constituem as chamadas atribuições de clemência do PR, que
remontam à figura da indulgentia principis (clemência do soberano). Cfr. Constituição da República
Portuguesa Anotada, Vol. II, ob.cit., pág. 193.
60
Não obstante tal observação, no meu entender a reabilitação não deixa de constituir uma causa de
extinção da responsabilidade criminal, daí a sua inserção no capítulo atinente a extinção da mesma e não
noutro, na medida em que não sendo embora causa extintiva da responsabilidade que ocorre antes da
sentença condenatória transitada em julgado, atingindo o jus puniendi e extinguindo por conseguinte a
pretensão punitiva do Estado; ou depois do trânsito em julgado em julgado da sentença condenatória,
cessando a execução da sanção criminal, ela extingue os efeitos penais da condenação, ou seja ela faz
cessar os efeitos penais colaterais da condenação.
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
execução, concedida pelo Chefe de Estado (mais alto representante do Poder estadual ou
como sói dizer-se "Mais Alto Magistrado da Nação".61
Nos termos da al. n) do artigo 119.° da CRA compete ao Presidente da República,
enquanto Chefe de Estado: «indultar e comutar penas62, diferentemente do que dispõe a al.
g) do artigo 161.° da CRA segundo a qual compete à Assembleia Nacional, no domínio
político e legislativo: «conceder amnistia e perdões genéricos».63 Há quem entenda
entretanto que a competência assistida à A.N de conceder "perdões genéricos" por
argumento de maioria de razão (ad maius) inclui o indulto e a comutação de penas, pois não
está claro que apenas o PR concede indulto e comutações de penas.
O indulto supõe, por definição, a existência de uma condenação definitiva. O acto
do indulto é um acto discricionário do PR. Não existe um direito ao indulto, muito menos
um dever de indulto.64 Tal como a amnistia, o indulto não é revogável, embora possa ser
concedido sob condição.
Embora o indulto e a comutação de penas sejam tradicionalmente configurados
como actos de clemência pessoal, a sua caracterização rigorosa não se reconduz à vontade
de uma pessoa, mesmo que com a qualidade de Chefe de Estado. É uma emanação do jus
puniendi, de que é titular o Estado (e não o PR), no sentido de extinguir uma pena imposta
por sentença penal ou de renunciar à sua aplicação. Por isso, justifica-se em Portugal por
exemplo a exigência constitucional da audição do Governo, responsável pela política
criminal.65
Problemática é a questão de saber se pode haver indulto ou comutação dos
próprios titulares de cargos políticos (a começar pelo próprio PR: auto indulto),
nomeadamente por crimes de responsabilidade.
Questão duvidosa é também a da sindicabilidade contenciosa dos actos de indulto
que infrinjam os respectivos limites constitucionais.66
- A comutação
A comutação, diferentemente, consiste na redução, substituição das penas e
medidas de segurança aplicada na sentença ao réu, na limitação ou extinção dos efeitos
penais da condenação, tratando-se no fundo, de uma forma de substituição da pena na sua
execução.
O regime jurídico do indulto e da comutação (modalidades do perdão especial) está
genericamente definido no § 1.° do artigo 126.°67
61
Cfr. Decreto Presidencial n.° 173/15 de 15 de Setembro.
62
A título informativo em Portugal, compete ao Presidente da República, na prática de actos próprios,
indultar e comutar penas, ouvido o Governo, cfr., artigo 134., al. f) da Constituição portuguesa. Cá entre
nós não faria sentido tal exigência visto o Poder Executivo ser unipessoal.
63
A concessão de amnistia e de perdões genéricos é da competência reservada da A.N, isto significa, por
conseguinte, que a matéria constitui reserva não só de lei, mas de lei formal; e significa, por outra parte,
que as disposições editadas têm de observar o carácter de generalidade e de abstracção que é apanágio da
lei. Respeitadas estas características, a A.N pode conformar livremente o conteúdo da lei, amnistiando
grupos de factos ou grupos de agentes, segundos critérios fundados que entenda fixar e combinar de
forma que repute preferível, sem prejuízo do limite político-criminal, desta não servir como instrumento
político, quando não mesmo político-partidário das maiorias.
64
Cfr. Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol. II, ob.cit., pág. 194
65
Deve acentuar-se no entanto que as formalidades exigidas não podem opor-se ao PR como conditio
sine qua non do exercício do direito do indulto, senão na parte em que dêem execução ao imperativo
constitucional de audição do Governo. Assim, por ex., é inaceitável que a iniciativa de indulto tenha de
partir do Governo, através de uma proposta por este feita ao P.R, exacto é que o PR pode tomar a
iniciativa da concessão; essencial é só que ele não conceda o indulto sem previamente ter ouvido o
Governo.
66
Idem.
29
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67
"O perdão público ou indulto, bem como a comutação, têm a natureza de medidas de clemência,
incompatível com uma regulamentação em moldes precisos. Não são medidas jurisdicionais, sujeitas ao
controle dos tribunais". Cfr. M. Maia Gonçalves, Código Penal Anotado, pág. 275.
68
FERREIRA, Manuel Cavaleiro, Direito Penal português, Parte geral I, ob.cit, pág. 120.
30
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69
Para maior desenvolvimento sobre este instituto remetemos às lições de Direito Penal português do
ilustre Professor Catedrático Jorge de Figueiredo Dias - As consequências jurídicas do crime, ob. cit.,
pág. 653.
70
Sobre o ponto. Idem, págs. 652-653.
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Considerações finais
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Extinção da responsabilidade criminal - um estudo de Direito penal angolano
Valdano Afonso Cabenda pedro
Bibliografia
CAPEZ, Fernando A. N Galvão de, Curso de Direito Penal. 10.ª ed. São Paulo: Saraiva,
2006.
CARVALHO, Américo A. Taipa de, Sucessão de Leis Penais, Coimbra editora, 1990.
CANOTILHO, J.J. Gomes, Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Português, Parte Geral II - As consequências
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FERREIRA, Manuel Cavaleiro, Direito Penal Português II, Verbo 1982.
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Revista n.° 8 da Faculdade de Direito – Universidade Agostinho Neto.
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Código Penal (Decreto de 16 de Setembro de 1886).
Código de Processo Penal (Decreto n.° 16 489, de 15 de Fevereiro de 1929).
Decreto-Lei n.° 35 007, de 13 de Outubro de 1945.
Lei n.° 11/16, de 12 de Agosto - Lei de Amnistia.
Lei n.° 20/88, de 31 de Dezembro – Lei sobre o ajustamento das leis processuais penal e
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Lei n.° 25/11, de 14 de Julho - Lei contra a violência doméstica.
Lei n.° 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes ao
Branqueamento de Capitais.
Lei n.° 8/08, de 29 de Agosto - Lei Penitenciária.
Lei n.º 07/06 de 15 de Maio - Lei de imprensa.
Código Geral Tributário aprovado pela Lei n.° 21/14, de 22 de Outubro.
Decreto Presidencial n.° 173/15, de 15 de Setembro.
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