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................................................................................................... 13
AS AVENTURAS DO JOÃO SEM VIDA .................................................. 17
O JOÃO SEM VIDA E O FANTASMAS DAS CUECAS ROTAS.................... 21
O JOÃO SEM VIDA E OS CLINTSONES ................................................. 24
O JOÃO SEM VIDA NO VATICANO ...................................................... 27
O JOÃO SEM VIDA ENCONTRA O GRANDE EURICO A. CEBOLO........... 30
O JOÃO SEM VIDA NO EGIPTO ........................................................... 34
O JOÃO SEM VIDA NA CAPELA SISTINA.............................................. 37
O JOÃO SEM VIDA NO AUTO DA BARCA DO INFERNO........................ 41
A REENCARNAÇÃO DO JOÃO SEM VIDA ............................................ 45
AS AVENTURAS DO NOVO JOÃO REENCARNADO .............................. 51
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O TEMÍVEL MONG.......................... 57
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE SHAKESPEARE .............. 60
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PADRE MARCELO ROÇA .............. 63
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O HOMEM-CATÁLOGO.................... 67
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PRIMO DO MACACO ANDRÉ ....... 71
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O DAMBI ........................................ 74
A CRISE EXISTENCIAL DO NOVO JOÃO REENCARNADO ...................... 76
O NOVO JOÃO REENCARNADO NO PAÍS DAS MIL MARAVILHAS ........ 79
O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE FREUD .......................... 85
O NOVO JOÃO REENCARNADO E A GRANDE ENTROPIA ..................... 91
AS AVENTURAS DO JOÃO IRREAL ...................................................... 95
O JOÃO IRREAL E OS JETSETSONS ...................................................... 99
O JOÃO IRREAL E O PEQUENO ELEFANTE NEGRO BUMBO................ 105
O JOÃO IRREAL E O PEQUENO PATO LINDO ..................................... 109
O JOÃO IRREAL E O INQUIRIDOR MISTERIOSO ................................ 113
O JOÃO IRREAL EM VÉNUS .............................................................. 117
O JOÃO IRREAL E O GRANDE BUDA ................................................. 121
O JOÃO IRREAL E OS TRÊS PORQUINHOS ......................................... 126
O JOÃO IRREAL E OS TRÊS PORQUINHOS......................................... 131
O FIM DO JOÃO IRREAL ................................................................... 135
AS AVENTURAS DO JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE
OUTRA VEZ ..................................................................................... 143
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ EM
JERUSALÉM ..................................................................................... 146
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O
GRANDE ALÁ................................................................................... 150
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA PRÉ-
HISTÓRIA ........................................................................................ 153
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O ALI
BABASSE ......................................................................................... 156
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O ALI
BABASSE ......................................................................................... 158
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O
GRANDE REI ARTUR ........................................................................ 163
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA
FLORESTA DE CHAIRWOOD ............................................................. 168
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NOS
JOGOS OLÍMPICOS .......................................................................... 170
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O
MARQUÊS DO SADO ....................................................................... 173
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA ILHA
DO TESOURO .................................................................................. 177
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E OS
CAÇADORES DE GAMBOZINOS ........................................................ 181
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NO
CARNAVAL DO RIO .......................................................................... 184
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NÃO
EXISTE MAIS ................................................................................... 187
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............... 194
Pois é. Após tanto tempo de espera* eis que chega às
vossas mãos o segundo volume das aventuras do
personagem mais complexo, mais simples, mais íntegro
e mais díspare da literatura.**
Para aqueles que estão a pensar: “Mas ele não tinha
morrido no outro livro?”, então não pensem, falem. Se
não falarem eu não vos oiço. Não é que eu vos vá ouvir
mesmo, mas sempre fica melhor.
Portanto, para aqueles que estão a perguntar: “Mas
ele não tinha morrido no outro livro?”, a minha resposta
é: não é “tinha morrido”, é “morreu”. Aprendam a falar
bem.
Para além dessa pequena correcção, devo dizer-vos
que são muito cépticos se acham que é uma coisinha tão
insignificante como a morte que vai parar um
personagem destes. Só para verem, a primeira parte
desta livro é toda ela passada com o personagem morto e
depois continua até à reencarnação, até à irrealidade, até
à realidade e até ao fim. Definitivo? Não sei. Aqui não
dá para ter certezas.
Mas, por agora, vamos fazer uma pausa.

*
Espero não estar enganado. É que esta página foi escrita antes
do livro estar acabado. (Primeira Nota Não-Creditada do Autor)
**
Podia perfeitamente trocar o “mais” por “menos”. Não ia fazer
qualquer diferença. (Segunda e última Nota Não-Creditada do
Autor)
Poema do pescador
O pescador acorda cedo para apanhar peixe.
Se o pescador se porta mal não há quem o deixe
Apanhar peixe fresco.
O pescador leva sempre uma rede e um cesto.

O pescador vai para o alto mar


Para o seu peixe apanhar.
O pescador tem um pequeno barco de madeira
Mas gostava de ter uma traineira.

O pescador usa um anzol


Com uma minhoca
E à noite tapa-se com um lençol.

O pescador quer ir para os mares do norte


E, apanhar uma foca.
Mas, o pescador não tem sorte.

Para que é que serviu este poema?


 Para gastar tinta
 Para ocupar espaço na folha
 Para eu escrever
 Para vocês lerem
 Para nada
Destas cinco respostas, qualquer uma delas é
válida. O mesmo acontece em relação a este livro.
Ninguém é obrigado a lê-lo e gostar. Nem tão pouco são
obrigados a ler. Agora, não se admirem se estiverem com
os vossos amigos e começarem a ser postos de lado por
não saberem do que é que eles estão a falar. A culpa é e
será toda vossa.
Não leiam isto, por favor. Está muito mal escrito e é
apenas o último recurso de alguém tem como intuito
obter dinheiro fácil à custa dos outros.
Pessoas assim deviam ser queimadas vivas,
espetadas num pau e acusadas de fraude. Exactamente
por esta ordem.
Parasitas da sociedade, é o que eles são! Andam
entre nós, tipo lobos em pele de cordeiro e assim que um
de nós se distrai… pumba! Saltam-nos para cima.
Eles não se lembram que as pessoas têm um vida
para tratar? As pessoas hoje em dia não têm tempo para
ouvir sempre a mesma lengalenga, sempre as mesmas
pessoas. Ainda por cima, a maioria desses charlatões não
tem certeza daquilo que está a falar.
Um dos onze, perdão, dez mandamentos, o primeiro
ou o segundo… (Ou seria o terceiro? Acho que é o
quarto…) Bom, não interessa. Dizia eu que um desses
mandamentos diz que não devemos enganar o
próximo… acho eu. Mas, esse mandamento (supondo
que exista mesmo) é tanto válido tanto para as pessoas
que estão próximas como para as que estão afastadas.
Enganar as pessoas é feio!
Pedia-vos agora que fizessem um minuto de silêncio
em homenagem a todos aqueles que já foram enganados.
Minuto de silêncio em homenagem a todos
aqueles que já foram enganados.

Vêem como custou? Um minuto não chega para


tanta gente!
Por isso, se não querem fazer parte desse conjunto
de pessoas, não leiam este livro. é um aviso de Deus,
nosso Senhor.
E, por falar em Deus, já adquiriu o seu seguro pós-
vida?
Não? Então, despache-se. A apólice custa apenas
quinhentos mil euros por mês.
Entre outras vantagens, este seguro dá-lhe a
possibilidade de morrer em qualquer parte do mundo,
mesmo em território muçulmano ou hindu ou budista ou
pagão, e ter sempre a garantia de ir para o Paraíso
cristão.
Compre já!

FIM DO COMUNICADO
Neste espaço irei enunciar os nomes das pessoas que, de
algum modo, contribuíram para a origem desta obra.
Muitos deles não os conheço, mas a sua influência foi de
grande influência. Alguns deles, fizeram uma
contribuição póstuma (no sentido em que já estão
mortos) o que torna a sua presença neste livro ainda mais
interessante.
Obrigado a:
Mim
Paulo Lameira (co-autor da primeira história do
pequeno João)
Deus
Gil Vicente Vicente
Eurico A. Cebolo
Padre Marcelo Rossi
Líderes de canais de televisão públicos e privados
William Shakespeare
Walt Disney
Irmãos Grimm
Freud
Marquês de Sade
Robert Louis Stevenson
Lewis Carroll
Não incluo o nome dos meus amigos e familiares
porque quero respeitar a privacidade deles. Aliás, para
ser honesto, não quero é que eles saibam que tiveram
qualquer coisa a ver com isto.
Neste espaço pretendo enumerar algumas pessoas a
quem este livro é dedicado. Como são muitas, optei por
uma conversão universal separada por diversas
categorias.

Este livro é dedicado a:

 todas as pessoas que leram o primeiro livro e


gostaram

 todas as pessoas que lerem o segundo livro e


gostarem

 todas as pessoas que lerem o primeiro e o


segundo livro e gostarem

 se alguém não ler ou não gostar do primeiro ou


do segundo livro, fica excluído da página de
dedicatórias
“Lê-se.”
Rui, jovem irreverente e sem instrução

“O elemento humano é de uma extrema


complexidade quando em ambientes hostis.”
Narrador de documentários não-emitidos

“A divisão entre o personagem e a realidade que o


envolve é parca.”
Pseudo-comentador de assuntos diversos

“Mais outro não!”


Fernando

“É o melhor livro que eu já escrevi.”


Eu

“É o melhor livro que ele já escreveu.”


Quem leu e gostou

“Neste livro, vemos as taxas de juro subindo em


flecha e… É pá! Enganei-me no livro!”
Jovem empresário licenciado em Economia
à procura do primeiro emprego
Num belo dia de Verão o João sem vida estava
acabando de terminar sua viagem até à Zona da
Morte. 1 Aí, o João sem vida chegou ao fim do túnel
e viu uma luz branca. 2 Aí, o João sem vida olhou
para o sítio donde estava a luz… era duma lâmpada.
E à mais à frente estava… outra lâmpada. E à mais à
frente estava… outra lâmpada. E à mais à frente
estava… outra lâmpada. E ainda mais à frente estava
não outra lâmpada mas sim…
3

…. o Purgatório. 4 Aí, o João sem vida olhou 5 e

1
É difícil explicar porque é que era Verão, estando ele morto. Por
isso, não me peçam para explicar isso, está bem? (P. N. A.)
(Primeira Nota do Autor)
2
Não se pode variar muito nestes tópicos sobre a vida e a morte.
Não existem muitas teorias comprovadas cientificamente que
comprovem essas mesmas teorias. (S. N. A.) (Segunda Nota do
Autor)
3
Estou a tentar criar suspense. Se bem que é um suspense um
pouco forçado. (T. N. A.) (Terceira Nota do Autor)
4
Tanta coisa e nem sequer pus um ponto de exclamação. Não é
que o Purgatório seja um sítio muito especial, antes pelo
contrário, mas podia ter dado um bocadinho mais de ênfase. Só
um bocadinho de nada. (Q. N. A.) (Quarta Nota do Autor)
5
Se estão a pensar como é que um morto consegue andar, ver e
fazer todas as coisas que fazia quando estava vivo, não pensem
mais nisso. Alguém consegue explicar porque a gravidade não
nos puxa para cima? (Q. N. A.) (Quinta Nota do Autor)
viu o Guardião do Purgatório - era o Purgador.
Depois de ter morrido, o João sem vida 6 tinha
que ser avaliado pelos seus actos afim de determinar
se iria para o Céu ou para o Inferno. Embora, o João
sem vida já tivesse visitado tanto o Céu como o
Inferno. E até o Paraíso. E tinha sido expulso de
todos. Ou seja, uma entidade morta que não pode ir
para o Céu nem para o Inferno, nem para o Paraíso
vai para onde?
– João.
- João sem vida.
- Calado! Tu morreste há três horas! Porque é
que demoraste tanto tempo a chegar aqui?
- Perdi-me.
- Como é que te perdeste? O túnel é sempre em
frente.
- Só descobri isso depois de ter atravessado
aquela parede. 7
- Qual parede?
- A parede do túnel.
- Qual delas?
- Não sei. Estava escuro.
- Então como é que sabes que era uma parede?
Podia ser o tecto, não podia?
- Podia.
- Continuando… Diz aqui no teu processo que
foste expulso do Céu, do Inferno e do Paraíso. É

6
Reparem bem que ele só recebeu o nome de João sem vida
depois de morrer. (S. N. A.) (Sexta Nota do Autor)
7
Qualquer morto que se preze é capaz de atravessar uma parede
sem ter que a partir. O que não é o caso do João sem vida. (S. N.
A.) (Sétima Nota do Autor)
verdade?
- Acho que sim.
- E como é que isso aconteceu?
Sei lá. Sei que do Inferno fui expulso por
morder a cauda do pequeno demónio Satã. E fui
expulso do Céu porque tinha sido expulso do
Paraíso porque não tinha ajudado o grande pai Deus
a acabar com as minhocas que estavam comendo
suas maçãs premiadas.
- Ah… 8
Aí, o Guardião do Purgatório levantou-se da sua
cadeira e foi pedir aconselhamentos aos espíritos
mortos. 9
Depois de ter falado com os espíritos mortos o
Guardião do Purgatório disse:
- Decidi que… Ai! OK! Decidimos que irás
fazer uma viagem pela Dimensão da Negação. O
sítio para onde enviamos os mortos sem destino.
- Eu não posso ir para aí.
- Porquê?
- Porque assim eu passo a ter um destino.
- Tens razão. Então vais para a Terra. Se provares
que consegues viver na Terra, ficas lá e reencarnas.
Senão vens para aqui trabalhar como varredor.
Pessoalmente não sei o que era pior - isto até que está a
precisar duma varridela - mas, não me apetece nada ter

8
Esta expressão designa toda a compreensão que é possível
mostrar numa frase. (O. N. A.) (Oitava Nota do Autor)
9
Os espíritos mortos eram os espíritos dos mortos que tinham
morrido depois de viver. Se os mortos podem andar e falar como
se estivessem vivos, porque é que não hão-de poder morrer? (N.
N. A.) (Nona Nota do Autor)
que te aturar.
- Tá bom!
- Agora… põe-te a andar!
Aí, o João sem vida saiu do Purgatório e voltou
ao túnel e voltou à Terra. Só não voltou à vida
porque tinha tido tanto trabalho a morrer que era
chato ressuscitar já.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Verão, o João sem vida estava
passeando pelo planeta Terra.10 Estava um lindo dia.11
– Ei! Quer parar de dizer o que é que não me faz
diferença?
Aí, o autor parou de dizer ao João sem vida o que é
que não fazia diferença ao João sem vida.12
Obrigado.13
Pára com isso! Queres que ele desista?14
Vamos continuar então.
Aí, o João sem vida assustou-se.
– Ai! Que susto!
Ou melhor, o João sem vida assustou-se de forma
convincente.
– Ai! Que susto convincente!15

10
Falo do planeta Terra em geral porque, sendo o João sem vida
uma entidade espiritual, podia passear por onde bem lhe
apetecesse. (D. N. A.) (Décima Nota do Autor)
11
Embora isso não lhe fizesse qualquer diferença. (D. P. N. A.)
(Décima Primeira Nota do Autor)
12
Eu já parei de dizer ao João sem vidao que é que lhe faz
diferença. (D S. N. A.) (Décima Segunda Nota do Autor)
13
Embora isso nao lhe faça muita diferença. (D. T. N. A.)
(Décima Terceira Nota do Autor)
14
Não me importava nada. Tinha era que arranjar outro emprego.
(D. Q. N. A.) (Décima Quarta Nota do Autor)
À sua frente estava o Fantasma das Cuecas Rotas.16
O Fantasma das Cuecas Rotas estava a pendurar o seu
lençol branco numa corda. Podia se perceber que era o
Fantasma das Cuecas Rotas porque via-se um par de
cuecas flutuando no ar. Ou isso, ou alguém estava
passando um trote no João sem vida.
– Ei! Quem é você?
– Sou o Fantasma das Cuecas Rotas.
– Sei… E aí?
– Não me arranjas um par de cuecas?
– O quê?
– Não me arranjas um par de cuecas?
– Hã?
– Não sabes o que são cuecas?
– Não sei. O meu autor nunca me despiu, por isso
não sei o que trago debaixo desta roupa.
Eu nunca te despi porque tenho medo do que possa
encontrar.
– Tá bom… Então, você quer um par de cuecas, né?
– É.
– E se em vez disso for agulha e linha? Aí, você
podia cozer as suas cuecas.
É coser com “s”, não é com “z”.
– Nada disso. Para cozer tem de ser mesmo com

15
Era para ter sido um susto com o Vicente, mas como eu não
conhecia ninguém chamado Vincente que estivesse disposto a
pregar um susto, teve de ser assim. (D. Q. N. A.) (Décima Quinta
Nota do Autor)
16
Estava à sua frente porque o João sem vida tinha-se virado para
o lado oposto ao qual ele estava virado quando o Fantasma das
Cuecas Rotas surgiu. (D. S. N. A.) (Décima Sexta Nota do
Autor)
agulha e linha.
– Que grande ideia! Tens aí agulha e linha?
– Não.
– Seu idiota!
– Eu sei que foi uma grande ideia.
– Seu idiota!
– Não é preciso ficar sempre repetindo isso.
– Seu… eu… eu… eu…
– Seu quê?
Aí, o João sem vida aproximou-se um pouco mais e
viu que as cuecas rotas do Fantasma das Cuecas Rotas
estavam penduradas por um fio e no chão (ou na relva)
estava um gravador tocando.17
– Eu… eu… eu…
Aí, o João sem vida viu que o Fantasma das Cuecas
Rotas tinha desaparecido.18

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

17
A teoria confirma-se. Estavam a burlar o João sem vida. Eu já
sabia disso mas, como quiseram que eu ficasse calado, não lhes
disse nada. Agora, o que me incomoda mais no meio disto tudo é:
como é que eles sabiam o que o João sem vida ia dizer antes dele
o dizer? Será que estas histórias são assim tão previsíveis? (D. S.
N. A.) (Décima Sétima Nota do Autor)
18
Na verdade, uma vez que ele nunca chegou a ver o Fantasma
das Cuecas Rotas, o “desaparecido” neste caso é meramente
acessório. (D. O. N. A.) (Décima Oitava Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João sem vida resolveu
aproveitar as vantagens da sua forma mortal e viajar até
à Pré-História19. O seu objectivo era encontrar o seu
velho amigo Eduardo Mãos-de-Sílex.20
Aí, o João sem vida chegou à Pré-História mas, era
uma Pré-História diferente, um pouco mais avançada.
Em todas as cavernas estavam cartazes feitos de pedra:
“VOTE EM CLINTSTONE” ou “VOTE EM AL
ROCK”. Por isso, sendo as cavernas feitas de pedra, os
cartazes estavam gravados nas próprias paredes.
Aí, o João sem vida ficou muito surpreendido.
- Que lugar é este? Isso aqui mudou muito desde a
última vez.
Aí, uma multidão aproximou-se do João sem vida e
agarrou o João sem vida, ou melhor, tentou agarrá-lo
mas, como o João sem vida estava morto eles não
podiam agarrá-lo. Na verdade, eles não podiam ver o
João sem vida por isso mesmo. A multidão estava atrás
doutra pessoa, era o cara que estava no cartaz21 - o
candidato Clintstone.
19
Na sabiam que uma entidade sem vida podia viajar pelo
tempo? (D. N. N. A.) (Décima Nona Nota do Autor)
20
Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (V.
N. A.) (Vigésima Nota do Autor)
21
O que estava no cartaz era só o retracto do candidato
Clintstone, não era o próprio candidato Clintstone. (V. P. N. A.)
(Vigésima Primeira Nota do Autor)
Aí, a multidão agarrou no candidato Clintstone e
colocou-o num saco22 e levou-o para um esconderijo
secreto que não devia ser tão secreto assim já que eles
sabiam onde é que ficava.
Aí, o João sem vida decidiu seguir a multidão. Aliás,
ele decidiu fazer isso antes da multidão ir para o
esconderijo secreto, o que lhe deu algum tempo de
avanço.
Quando chegou ao esconderijo secreto, a multidão
colocou o candidato Clintstone numa prateleira. O João
sem vida estava perguntando o que se estava passando
ali mas, ninguém lhe respondia porque ninguém o via.
- O que se está passando aqui? Ninguém me
responde? Será que ninguém me vê?
Aí, o João sem vida chegou a uma brilhante
conclusão: as pessoas que estavam no esconderijo
secreto eram todas cegas, surdas e mudas.
Aí, o João sem vida tentou agarrar no saco que tinha
o candidato Clintstone mas, como era um ser etéreo23
não conseguiu agarrar em nada.
Aí, o João sem vida saiu do esconderijo secreto e
continuou o seu passeio pela Pré-História moderna.
Quando ao candidato Clintstone, morreu sufocado e
a sua família teve que se candidatar a um subsídio de
pobreza.

22
De pedra, claro. (V. S. N. A.) (Vigésima Segunda Nota do
Autor)
23
Consegui escrever isto sem ir ver ao dicionário mas, continuo a
não ter certeza do que é. (V. T. N. A.) (Vigésima Terceira Nota do
Autor)
NOTA: Esta história surge fora de tempo, dado que
a família Clintstone já não se encontra no centro das
atenções. Mas, não se preocupem, no próximo volume
irão ter um pequeno extra: AS AVENTURAS DO
PRESIDENTE DESTEMIDO CONTRA OS LÍDERES
DO TERRORISMO INTERNACIONAL.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo
um grande peso na sua consciência e resolveu ir ao
Vaticano confessar-se. O que era uma ideia
completamente inútil, uma vez que um ser sem vida não
tem consciência. A única consciência que eventualmente
pode ter é a de que está morto. E, mesmo que tivesse
outra consciência para além dessa, não teriam qualquer
peso, nem material e muito menos moral.
Mas, mesmo assim, o João sem vida decidiu ir até
ao Vaticano para se confessar. (Embora um ser sem vida
não tivesse poder de decisão.)24
Quando chegou ao Vaticano, o João sem vida foi
directamente até à sala de confissões. Ou quase
directamente… Antes tinha passado pela casa de banho
para ver os vitrais.
Aí, o João sem vida pegou numa cadeira e
aproximou-se do Confessionário.25 Aí, o João sem vida
sentou-se numa cadeira e disse para o padre.
- Oi, cara! Eu quero me confessar.
- Não pode estar sentado enquanto se está a
confessar.

24
Mais uma para acrescentar à desigualdade entre as classes. (V.
Q. N. A.) (Vigésima Quarta Nota do Autor)
25
Ao fazer isto, é óbvio que ele já tinha saído da casa de banho. A
não ser que o Confessionário estivesse lá. (V. Q. N. A.) (Vigésima
Quinta Nota do Autor)
- Porque não?
- Porque não. Tem que se pôr de joelhos.
- Mas porquê? Você tá pensando que eu sou uma
secretária?26
- Tens que te pôr de joelhos, meu filho.
- Filho? Vá chamar filho a outro!
- Não posso. Não está aqui mais ninguém.
- Então vá bugiar!
- Não sejas grosseiro. Olha que Deus castiga-te.
- Esse? Esse já não me pode fazer nada. Já me
expulsou do Céu e do Paraíso. Não tenho medo nenhum
dele.
- Ainda vais para o Inferno se continuas com essas
blasfémias.
- Já fui para o Inferno e também já fui expulso de lá.
- O que é que fizeste?
- Mordi a cauda do pequeno demónio Satã.
- Pois… Ele detesta quando lhe fazem isso. E o que
é que estás a fazer aqui? Posso saber?
- Vim me confessar.
- Não. Porque é que estás aqui?
- Porque me quero confessar.
- Não é isso! És burro ou quê?
- Você não se explica.

26
Não façam caso a esta piada. Mesmo que o João sem vida
fosse uma secretária, seria uma secretária morta. A não ser que o
padre fosse um necrófago. E mesmo que o João sem vida
estivesse vivo, e fosse uma secretária viva e o padre gostasse de
transformistas ainda havia a parede do Confessionário entre o
João sem vida e o padre. (V. S. N. A) (Vigésima Sexta Nota do
Autor)
- O que eu quero saber é porque é que estás aqui se
já estás morto?27
- Ah! Já podia ter dito que era isso. Estou aqui
porque o Guardião do Purgatório me mandou para a
Terra.
- Para fazeres o quê?
- Hã… Não sei.
- E não achas que era melhor ires-te embora?
- Mas, eu ainda não me confessei.
- Deixa estar. Eu perdoo-te desde que te vás embora.
- Tá bom.
Aí, o João sem vida foi-se embora. E, acrescento
isto, se ele tivesse uma consciência ela estaria muito
mais tranquila agora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

27
O padre havia deduzido que o João sem vida estava morto, não
por ser um representante de Deus na Terra e isso tudo mas,
porque o João sem vida, sempre lento em tudo, só agora é que se
começara a decompor. (V. S. N. A.) (Vigésima Sétima Nota do
Autor)
Num belo dia de Verão, o João sem vida estava se
sentindo muito triste. Aliás, ele não se estava sentindo
triste porque estava morto e já não podia sentir nada
mas, havia qualquer coisa na sua morte que o estava
incomodando. E não era a sua lenta decomposição. Não.
Faltava qualquer coisa. Qualquer coisa que o animasse.28
Música! É isso aí! Música para o seu coração e os
ouvidos.29
Agora só faltava encontrar alguém que desse música
ao João sem vida.30 Alguém como…
- Eurico A. Cebolo!
Sim, pode ser.
- Não. Eurico A. Cebolo está à minha frente.
Está?

Olha, pois está.
Com efeito, à frente do João sem vida estava o
grande Eurico A. Cebolo.
- Tá vendo?
Mas, ele já está morto.

28
Animar aqui vem no sentido de algo que pode alegrar. (V. O. N.
A.) (Vigésima Oitava Nota do Autor)
29
Embora o seu coração esteja parado e os seus ouvidos já não
ouçam nada. (V. N. N. A.) (Vigésima Nona Nota do Autor)
30
Literalmente falando. (T. N. A.) (Trigésima Nota do Autor)
- E daí? Eu também tou.31
Pois é.
Aí, o João sem vida aproximou-se do grande Eurico
A. Cebolo.
- Oi! Você é o grande Eurico A. Cebolo?
- Grande Eurico A. Cebolo? Sim, acho que me podes
chamar isso.
Porque é que lhe perguntaste se ele era o grande
Eurico A. Cebolo, se já sabias que ele era o grande
Eurico A. Cebolo?
- Era só para a confirmar.
Passa lá à frente, mas é!
- Mas, se eu passar à frente dele isso não é falta de
respeito?
E desde quando é que tu tens respeito por alguma
coisa?
- Mas, assim fico com menos ainda.
Então, olha, mete-te ao lado dele.
Aí, o João sem vida colocou-se ao lado do grande
Eurico A. Cebolo.
- O que você tá fazendo aqui?
- Estou a passear.
- Mas, você está morto, não está?
- De corpo, sim. Mas, a alma… essa vive para
sempre!
- Tá bom. É como você quiser.
- Eu sei.
- Mas o que eu queria saber era o que você tá
fazendo aqui na Terra.

31
Finalmente ele compreendeu que está morto. (T. P. N. A.)
(Trigésima Primeira Nota do Autor)
- Estou à procura dum sentido para a morte.
- Ah… Deve ser sempre em frente.
- Em frente não é porque foi donde eu vim.
- Você veio foi de trás.
- Não eu vim em frente mas o frente donde eu vim
agora é trás.
- Tá bom. Oiça, você não me quer ensinar a tocar
uma música?
- Pode ser.
Aí, o grande Eurico A. Cebolo fez duas violas
aparecerem do nada.
- Legal!
Aí, o João sem vida pegou numa das violas e
começou tocando muito depressa, muito depressa, muito
depressa, muito depressa, muito depressa, muito
depressa, muito depressa, muito depressa, muito
depressa, muito depressa, muito depressa, muito
depressa, muito depressa, até que… partiu as cordas.32
- Quem é que te mandou seres bruto? Agora, ficas aí
quieto e ouves.
Aí, o grande Eurico A. Cebolo começou tocando.
Mas… a música era ruim para caramba! Seria pelo
grande Eurico A. Cebolo estar morto e já não saber tocar
bem?
Aí, o João sem vida colocou as mãos nos ouvidos e
gritou:
- Você não tem dó, não?33

32
Convém dizer que as violas, obviamente, também estavam
mortas. (T. S. N. A.) (Trigésima Segunda Nota do Autor)
33
Ele destapou os ouvidos quando estava a gritar, para confirmar
que o grande Eurico A. Cebolo o estava a ouvir. (T. T. N. A.)
(Trigésima Terceira Nota do Autor)
- Tenho. Pões este dedo aqui e este aqui. E depois
fazes:
34

Aí, o João sem vida finalmente desistiu de ouvir o


grande Eurico A. Cebolo tocar e foi-se embora, deixando
o grande Eurico A. Cebolo tocando para o boneco.
35

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

34
O som era tão mau que nem me atrevo a descrevê-lo. Também,
mesmo que quisesse, ou melhor, mesmo que me obrigassem, não
o podia fazer. Estas folhas não funcionam com som e eu também
não sei escrever pautas. (T. Q. N. A.) (Trigésima Quarta Nota do
Autor)
35
Um boneco de borracha que alguém tinha deixado ali. (T. Q. N.
A.) (Trigésima Quinta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João sem vida gostaria de estar
num sítio verde e belejante, perdão, belo e verdejante.
Mas, em vez disso, estava num sítio arenoso36 tentando
subir uns degraus enormes.
Como sempre, o João sem vida estava numa
situação inexplicável e, mesmo que soubesse porquê,
não a poderia evitar, uma vez que já estava nela.
Lentamente, o João sem vida foi subindo os degraus.
Primeiro subiu um. Depois subiu outro. E depois…
outro. E depois… outro. E depois… outro. E depois…
outro. E depois… outro.37 Aí, quando o João sem vida
chegou ao cimo, ele teve que descer tudo de novo.38
Mas, enquanto estava a descer, o João sem vida
reparou numa entrada secreta.39
Aí, o João sem vida resolveu entrar na pirâmide.40

36
Que tem areia. (T. S. N. A.) (Trigésima Sexta Nota do Autor)
37
Para quem ainda não percebeu, ele está a subir uma pirâmide.
(T. S. N. A.) (Trigésima Sétima Nota do Autor)
38
O motivo desta descida é muito simples: não me apetecia ir ter
com ele para continuar a história. (T. O. N. A.) (Trigésima Oitava
Nota do Autor)
39
Que não devia ser assim tão secreta já que ele a viu. (T. N. N.
A) (Trigésima Nona Nota do Autor)
40
Se ele queria entrar na pirâmide podia muito bem atravessar a
parede. Não era preciso nenhuma entrada secreta. (Q. N. A.)
(Quadragésima Nota do Autor)
NOTA: O texto que se segue é a transcrição do
relato da viagem do João sem vida no interior da
pirâmide feita a mim pelo João sem vida.

NOTA 2: O que ele fez foi a viagem, não a pirâmide.

Quando entrou na pirâmide, o João sem vida


caminhou por um corredor escuro em busca de luz. Aí, o
João sem vida chegou numa sala muito grande iluminada
por quatro archotes. (Um em cada parede.) No centro da
sala estava uma tumba. O João sem vida estava se
sentindo mal.
- O que estou fazendo aqui?
Aí, o João sem vida ouviu uma voz vindo da tumba.
- Está aí alguém?
- Quem falou?
- Está aí alguém?
- Se eu estou falando, é porque estou aqui, né?
- Ajuda-me a sair daqui.
- Porquê?
- Porque eu estou-te a mandar!
- Tá bom.
Aí, o João sem vida abriu a tumba41 e saiu de lá de
dentro uma múmia – a múmia do Faraó Flipzés I.
- Obrigado.
- O que você estava fazendo aí?
- Estou sepultado.

41
Ele conseguiu abrir a tumba porque a pedra estava morta.
Depois de tantos milénios ali presas era natural que as pedras não
estivessem vivas. (Q. P. N. A.) (Quadragésima Primeira Nota do
Autor)
- E você não se cansa disso?
- Não. É chato é pela sujidade. A mulher da limpeza
só vem cá uma vez por século.
- Pois.
- Importas-te de me ajudar a trocar as ligaduras?
- O que é que eu tenho que fazer?
- É só ajudar-me a trocar as ligaduras.
- Como?
- Agarras aqui nesta ponta e puxas.
Aí, o João sem vida agarrou na ponta e puxou.
- Tem cuidado para não espirrares.
- Atchim!
Esqueçam lá isso…
- Ei! Cê tá me ouvindo?
Aí, como o Faraó Flipzés I não respondeu, o João
sem vida resolveu ir-se embora dali e sair da pirâmide e
ir ter comigo à esplanada da cidade mais próxima.42

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

42
Pensavam que eu estava à espera dele ao sol? Cancro da pele.
Diz-vos alguma coisa? (Q. S. N. A.) (Quadragésima Segunda
Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João sem vida estava
visitando a Itália de há muitos séculos atrás quando um
impulso irresistível o atraiu uma modesta capela. Um
impulso na forma de um íman gigante.
Aí, o João sem vida ficou preso no íman gigante,
juntamente com muitas outras almas. O cheiro deveria
ser insuportável se os espíritos deitassem cheiro43, o que
não acontecia.
Felizmente, alguém desligou a tomada do íman
gigante ou fez qualquer coisa assim do género tipo isso.
O que é certo é que o íman gigante deixou de funcionar e
o João sem vida e as outras almas mais desprevenidas
caíram no chão; as mais sábias flutuaram para fora da
capela. Saíram todos da capela, ou quase todos, o João
sem vida foi o único que ficou para observar melhor
aquele lugar.
O João sem vida começou caminhando pela capela.
Fazia-lhe lembrar aquele igrejinha do Vaticano mas, não
tinha nada a ver. O tecto era muito esquisito – tinha
umas pinturas mal acabadas e um cara em um andaime
pintando o tecto.

43
Passada a fase da decomposição corporal, o João sem vida
entrava agora na fase da decomposição espiritual. (Q. T. N. A.)
(Quadragésima Terceira Nota do Autor)
Aí, o João sem vida gritou:44
- Ei! Que é que você está fazendo aí?
Aí, o cara que estava pintando o tecto da capela
desequilibrou-se e caiu. Caiu mas, não morreu. Ficou a
olhar para o João sem vida por alguns momentos e
depois disse:
- Meu Deus!
- Não sou eu, não. Esse aí que você tá falando é um
velho de barbas.
- Ai que desgraça! Agora quem é que vai pintar o
tecto?
- Ora… você.
- Eu? Com uma perna partida?
- E daí? É a perna que tá partida, não é o braço.
- Tu é que me assustaste! Foi por tua causa que caí!
Aguentem aí um bocadinho.

BREVE INTERLÚDIO

Na qualidade de autor do João sem vida45 decidi dar-


lhe a capacidade de falar com qualquer personagem seja
ela histórica ou criada por mim (excepções feitas ao
rapaz do quisto, ao pequeno rapaz hispânico-masoquista
e outros que não me atrevo a mencionar só para não vos
lembrar que fui eu que os criei.
Podem continuar.

44
Gritou porque, como já não tinha cordas vocais, tinha medo
que não o ouvissem. (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quarta Nota
do Autor)
45
Até certo ponto… (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quinta Nota
do Autor)
- Tá bom, eu pinto. Mas, você tem que me dizer
como é que é.
Aí, o grande pintor Michelangelo46 tirou um papel
do bolso.
- Faz como está aqui.
Aí, o João sem vida olhou para o papel e disse:
- Isso é muito difícil. Posso fazer outra coisa?
- Hum… podes. Mas vê lá o que é que fazes.
Aí, o João sem vida subiu no andaime e pegou no
pincel e no balde de tinta e começou pintando o tecto da
capela.
Começou por pintar uma bola branca, depois um
triângulo branco, depois um quadrado, depois um
rectângulo, depois um hexágono, depois um pentágono,
depois um octógono, depois um trapézio e depois um
casal de trapezistas.47
Aí, o grande pintor Michelangelo gritou:48
- Desce já daí! Pára com isso!
- Mas, para eu descer, tenho que parar primeiro.
- Não me respondas! Desce daí e vai-te embora!
Aí, o João sem vida desceu do andaime.
- Olhem só para isto! Agora vou ter que dar duas de
46
Eles aproveitaram o interlúdio para se apresentarem. (Q. S. N.
A.) (Quadragésima Sexta Nota do Autor)
47
Tanto o quadrado, como o rectângulo, como o hexágono, como
o pentágono, como o octógono, como o trapézio, como o casal de
trapezistas eram brancos. Não me apeteceu estar sempre a
escrever a mesma coisa. (Q. S. N. A.) (Quadragésima Sétima
Nota do Autor)
48
Não por ter medo que o João sem vida não o ouvisse mas por
estar zangado. (Q. O. N. A.) (Quadragésima Oitava Nota do
Autor)
mão. Tanto trabalho para nada. Vai-te já embora!
Aí, o João sem vida saiu da capela e foi-se embora.
Entretanto o grande pintor Michelangelo ficou à
espera que a sua perna ficasse curada e depois foi acabar
de pintar o tecto.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Verão, o João sem vida estava
passeando por um lugar inospitamente estranho. Era um
sítio quente e escuro mas, o João sem vida estava
reconhecendo aquele sítio. Fora por ali que ele tinha
vindo quando tinha vindo ali pela primeira vez. Era o
caminho para o inferno do pequeno demónio Satã!
E à frente do João sem vida estava algo que ele
nunca tinha reparado antes: um stand de barcos e
automóveis49 do inferno. Aí, o João sem vida decidiu ir
pedir um barco para atravessar o rio dos mortos e dar um
olá para seu velho chapa, o pequeno demónio Satã.
Aí, o João sem vida chegou junto do dono do stand e
disse50:
- Oi! Importa-se de me emprestar um desses barcos
aí?
- Não.
- Então, vou escolher.
- Não é “Não, não me importo.” É “Não, não
empresto.”

49
É claro que ele já tinha visto um stand de automóveis antes. A
novidade era haver um ali. (Q. N. N. A.) (Quadragésima Nona
Nota do Autor)
50
Na verdade, a pessoa que estava lá era um simples empregado.
O dono tinha ido para as Caraíbas mas, isso não interessa nada
para a história. (Q. N. A.) (Quinquagésima Nota do Autor)
- Porquê não?
- Porque os barcos são para alugar.
- Eu não quero alugar. Só quero levar emprestado.
- Não podes. Se queres atravessar o rio tens que ir
naquela barca.
- Aquela barca?
- Sim, a… Barca do Inferno!

Música tenebrosa.51

INÍCIO DUMA PAUSA NARRATIVA

Nunca gosto de fazer isto, mas sinto-me no dever de


vos esclarecer sobre um assunto: esta história era para
ser focalizada, inicialmente, no stand de barcos e
automóveis do inferno mas, acabei por mudar de ideias.
Acho que para melhor.

FIM DUMA PAUSA NARRATIVA

Aí, o João sem vida subiu a bordo daquela barca que


ia para o inferno. Era uma barca pequena.52
Aí, o João sem vida olhou para os outros
passageiros: um empresário53, o seu empregado54, um

51
De meter medo. Não confundir com músicas de discoteca que,
apesar de meterem medo, não se enquadram no espírito desta
história. Até certo ponto… (Q. P. N. A.) (Quinquagésima
Primeira Nota do Autor)
52
Era o mínimo que se podia dizer. (Q. S. N. A.)
(Quinquagésima Segunda Nota do Autor)
53
Condenado por enganar toda a gente. (Q. T. N. A.)
(Quinquagésima Terceira Nota do Autor)
anjo55, um cara com disfunções mentais56, um
sapateiro57, um padre58, uma mulher da praça59, um
judeu60, um Juiz e um advogado61, um homem sem
cabeça62 e quatro cantores de rap63.
Aí, os quatro cantores de rap começaram cantando e
todo mundo começou discutindo e falando frases sem
sentido.
Aí, o João sem vida disse:
- Esta barca é pequena demais para nós todos!
Aí, o capitão da barca, um sujeito alcoólico e

54
Condenado por ser enganado por toda a gente. (Q. Q. N. A.)
(Quinquagésima Quarta Nota do Autor)
55
Desconheço se este anjo fazia parte de algum ajuntamento
musical. (Q. Q. N. A.) (Quinquagésima Quinta Nota do Autor)
56
Condenado por falta de espaço no Céu. (Q. S. N. A.)
(Quinquagésima Sexta Nota do Autor)
57
Talvez tenha sido condenado ao inferno por usar couro de
segunda categoria. (Q. S. N. A.) (Quinquagésima Sétima Nota
do Autor)
58
Condenado por heresia e pedofilia. (Q. O. N. A.)
(Quinquagésima Oitava Nota do Autor)
59
Condenada por vender peixe podre. (Q. N. N. A.)
(Quinquagésima Nona Nota do Autor)
60
Condenado por fazer circuncisões mal feitas. (S. N. A.)
(Sexagésima Nota Do Autor)
61
Condenados por razões óbvias. (S. P. N. A.) (Sexagésima
Primeira Nota do Autor)
62
Era para ser um homem enforcado mas, com a decomposição
do corpo, a sua cabeça caiu. (S. S. N. A.) (Sexagésima Segunda
Nota do Autor)
63
Dignos representantes da nova mensagem espiritual. (S. T. N.
A.) (Sexagésima Terceira Nota do Autor)
enganado pela mulher64 disse:
- Tens razão.
Aí, o capitão da barca lançou o João sem vida pela
borda fora.
A barca continuou o seu caminho até chegar ao mar
de lava onde ardeu por completo.
Quanto ao João sem vida, desistiu de ir ter com o
pequeno demónio Satã porque, entretanto, se lembrara
que não gostava dele, e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

64
Portanto, era vermelho, tinha cornos e um grande rabo. (S. Q.
N. A.) (Sexagésima Quarta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo
um formigueiro mental. Quase como se um bando de
formigas estivesse passeando dentro de sua cabeça. Mas,
não era bem isso que estava acontecendo. O formigueiro
estava agora em todo o seu corpo. Alguma coisa estava
prestes a acontecer. O João sem vida conseguia sentir
isso.65
Aí, sem mais nem menos, mas com um sinal de
vezes e outro de dividir na cabeça, surgiu a imagem do
Guarda do Purgatório.66
– João!
– Já disse pra você que é João sem vida! Ainda não
aprendeu direito, não?
– Cala-te! Os meus pais não podiam pagar a
faculdade. Tenho estado a observar-te.
Não deve ter mais nada que fazer.
– E?
– E tal como te tinha dito, caso ficasses apto,

65
Logicamente, ele não sentia pois o seu sistema nervoso já
estava morto. Quanto à tal sensação de formigueiro, é apenas um
pequeno adiantar de acontecimentos que irão surgir brevemente.
(S. Q. N. A.) (Sexagésima Quinta Nota do Autor)
66
Na verdade, a imagem surgiu apenas ali. Era para ter surgido
em todo o lado por causa do efeito cénico, mas depois pensei que
as outras pessoas não iam ter qualquer interesse em ver o
Guardião do Purgatório. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sexta Nota do
Autor)
poderias regressar à vida na Terra.
– Sei.
– Bom, a verdade é que não passaste no teste.
– Tive negativa?
– Sim.
– Quanto é que tive?
– Não faço ideia… Não conseguimos descobrir que
número é aquele. Mas, é também verdade que não podes
vir para aqui porque nós não queremos. Os meus
superiores julgam que a tua presença na Terra pode levar
muita gente a cometer suicídio, homicídio, talvez, quem
sabe, genocídio, e isso poderia ajudar a combater o
aumento da densidade populacional que tanto ameaça a
vida deste planeta.
– Cê tá querendo dizer que eu vou ficar aqui?
– Eu não estou a querer dizer nada. Eu estou mesmo
a dizer.
– Sabe, é que eu tenho estado sentindo aqui um
formigueiro e…
– É o teu corpo que está a voltar à vida.
– Então não vou ter um corpo novo?
– Pensas que isto aqui é o quê? Algum stand de
corpos? Levas esse e já vais com sorte.
Aí, o Guardião do Purgatório desapareceu do céu.
Aí, o João sem vida começou sentindo o formigueiro
aumentando. O seu corpo transparente estava começando
a ficar sólido.67 O sangue estava de novo fluindo em suas
veias. Conseguia mexer seu corpo e fazer tudo o que
fazia antes de ter morrido. O João sem vida havia

67
Sólido e visível. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sétima Nota do
Autor)
reencarnado!68
– Agora que já reencarnei que tal um nome novo?
Estás muito calmo. O que é que se passa?
– Nada. Já me acostumei a estas mudanças.
Então, a partir de agora, serás o novo João
reencarnado.
Aí, o novo João reencarnado colocou as mãos nos
bolsos e foi dar um passeio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

68
Já perceberam que o corpo é o mesmo, não já? Por isso, para
mim, essa história da reencarnação é mas é uma grande treta. (S.
O. N. A.) (Sexagésima Oitava Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando pela rua, sentindo uma alegria imensamente
imensa. Ele estava vivo de novo!69 Ele tinha regressado
para que suas velhas glórias pudessem ser de novo
relembradas.
E, para provar isso, nada melhor que enviar o novo
João reencarnado para um canal de reposições para que o
próprio público se possa deliciar com o seu passado
glorioso.70
– O que é que você está querendo dizer?
Estou a querer dizer que vamos para a televisão.
– Então diga!
Vamos para a televisão.71

Assim, o novo João reencarnado caminhou por entre


corredores cheios de programas que outrora foram
grandes sucessos junto do público e que agora estavam
condenados a viver uma existência forçada junto de

69
É uma nota um pouco inútil esta. Mesmo morto ele fazia tudo
como se estivesse vivo. Redundante, não acham? (S. N. N. A.)
(Sexagésima Nona Nota do Autor)
70
É o passado do novo João reencarnado e não o passado do
público. (S. N. A.) (Septagésima Nota do Autor)
71
Não estou nada confiante em relação a isto. (S. P. N. A.)
(Septagésima Primeira Nota do Autor)
audiências fantasmas.72
Aí, o novo João reencarnado chegou junto do
Revivador, o cara que pegava em objectos de
entretenimento lúdico que tiveram um sucesso
considerável junto do público em eras remotas e
conseguia reavivá-los de tal modo que eles eram
apresentado como sendo algo completamente novo.
Estou a empatar um pouco, não estou?
Aí, o novo João reencarnado chegou junto do
Revivador e disse:

Esperem. Primeiro tenho que estabelecer um plano
de aproximação.

Narrativa oculta.73

Já sei.
Aí, o novo João reencarnado disse:74
– Oi. Cê não quer colocar minhas histórias aí, não?
– Não! Quem és tu?
– Sou o novo João reencarnado.
– O que é queres daqui?
– Quero que transforme minhas histórias em
72
No máximo, está poético. No mínimo, é tudo mentira. (S. S. N.
A.) (Septagésima Segunda Nota do Autor)
73
Isto significa que mesmo que eu tivesse escrito alguma coisa,
vocês não poderiam ler. Isto é bastante prático, porque poupa-me
o trabalho de escrever. (S. T. N. A.) (Septagésima Terceira Nota
do Autor)
74
Mesmo sabendo que é um plano de aproximação, não nos
podemos esquecer que o novo João reencarnado já estava
próximo do Revivador. (S. Q. N. A.) (Septagésima Quarta Nota
do Autor)
objectos de cultivo.
Não é “cultivo”, é “culto”
– Para você também.
– O quê?
– Não é com você.
– Bom, conta-me lá algumas dessas histórias.
– Bom, teve uma vez em que eu caí de um abismo e
fui salvo três vezes durante a queda e depois caí. Teve
outra vez que eu ajudei o Pai Natal e…
– Pára! Pára! Que histórias são essas de cair dum
abismo e ajudar o Pai Natal? Tanto quanto sei o Pai
Natal não existe e quando alguém cai dum abismo
geralmente costuma morrer.75 A não ser que esteja a ser
filmado.76
Aí, o novo João reencarnado contra-argumentou:
– É verdade que quando alguém cai de um abismo,
morre. Mas, eu não sou qualquer, eu sou o novo João
reencarnado.
– E o que é que eu tenho a ver com isso?
– Hã… que eu saiba, nada. O que eu quero dizer é
que eu não morro facilmente. Só morro se quiser.
– Gostava de ver isso.
É melhor não te pores com experiências.
– Fique tranquilo. Ele não vai fazer nada.

75
Isto do “costuma morrer” aplica-se apenas uma vez por pessoa,
dado que, uma vez morto, pode-se saltar do abismo quantas vezes
se quiser sem que haja qualquer perigo de morrer. (S. Q. N. A.)
(Septagésima Quinta Nota do Autor)
76
É uma piada pessoal. Só uma pessoa é que a percebe… eu. De
qualquer modo, decidi colocá-la na mesma. Pode ser que alguém
a perceba. Alguém que não seja eu, entenda-se. (S. S. N. A.)
(Septagésima Sexta Nota do Autor)
– Não vou? Aí é que tu te enganas!
Aí, o Revivador deu um tiro no novo João
reencarnado mas não aconteceu nada. Aliás, não
aconteceu nada do que era esperado.
Como o novo João reencarnado era lento, o seu
corpo ainda não estava totalmente ressuscitado e a bala
atravessou um bocado de espírito que ainda estava a
descoberto.
– Tá vendo? Ainda estou vivo. Agora… Vai passar
minhas histórias para aí ou não?
– Sabes… O problema é que as tuas histórias não
têm grande interesse temporal.
– Interesse temporal?
– Sim.
– É que eu já viajei através do tempo várias vezes.
Se for esse o problema–
– Não é nada disso. As tuas histórias são muito giras
e eu gosto muito delas. O problema é que as histórias são
escolhidas segundo as audiências que tiveram enquanto
eram exibidas num canal principal.
– Não compreendo.
– O que eu quero dizer é que as pessoas que
escolheram as séries a serem reavivadas são muitas
vezes demasiado broncas para perceber quando é que
uma coisa tem qualidade.77 E mesmo que gostassem das
tuas histórias, elas só poderiam ser reavivadas se já
tivessem existido antes num canal principal e, para isso
acontecer, as pessoas teriam que gostar das tuas histórias

77
Não quero dizer com isto que estas histórias têm qualidade.
Quer dizer, hão-de ter qualquer coisa, mas eu ainda não consegui
descobrir o que é. (S. S. N. A.) (Septagésima Sétima Nota do
Autor)
sem as ver.
– Fiquei na mesma.
Eu também.
– Eu também.78
Eu acho é melhor passarmos à realidade.79

Aí, a história regressou à realidade.80

– … por isso, só daqui a muitos anos é que as tuas


histórias poderão ser reavivadas e já que se tratam de
livros, isso será feito através de segundas, terceiras e
quartas edições. Até lá, podes esperar.
– Sentado?
– Sim. Desde que não esperes aqui.
– Posso esperar lá fora?
– Podes.
Aí, o novo João reencarnado foi esperar na sala de
esperas até que fosse chegada a hora de reavivar suas
histórias.

Uma hora depois…


Aí, um cara se chegou junto do novo João
reencarnado e disse:
– Vai fechar.
– Hã?
– Vai fechar.
– Vou fechar o quê?
– Tu não vais fechar nada, eu é que vou fechar isto.

78
É melhor explicar de novo. Acho que ninguém percebeu. (S. O.
N. A.) (Septagésima Oitava Nota do Autor)
79
Óptima ideia. (S. N. N. A.) (Septagésima Nona do Autor)
80
Tanto quanto possível. (O. N. A.) (Octogésima Nota do Autor)
– Ah… Faliu, foi?
– Não. Ainda não.
– Eu estou esperando que o Revivador me chame.
– Quem?
– O Revivador. Um cara que está ali dentro daquele
escritório.
Aí, o novo João reencarnado apontou para a porta do
gabinete do Revivador.
– Ali? Ali é o armário das vassouras.
– Não é não.
Aí, o cara abriu a porta e o novo João reencarnado
viu duas vassouras. E o cara também as viu.
– Vês? Agora, se não for pedir muito, põe-te a andar.
Aí, o novo João reencarnado foi-se embora.
Quanto ao personagem do Revivador foi
considerado desinteressante pelo público autorial… (eu)
e foi condenado a ver a sua vil e apagada existência
reduzida ao máximo da sua nulidade.81
E assim termina a história de um homem como
tantos outros, um homem que viu a sua vida arrastada
para os meandros mais recônditos e obscuros da… Zona
do Crepúsculo.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

81
Esqueci-me do que ia pôr aqui. (O. P. N. A.) (Octogésima
Primeira Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando quando de repente sentiu um tremor. E não
era ele que estava tremendo – era o chão82. O chão
estava tremendo por todo o lado. O céu estava vermelho
e estava chovendo fogo. Era um verdadeiro inferno!
Aí, uma nave surgiu do céu e apanhou o novo João
reencarnado com um gancho.
O novo João reencarnado foi parar dentro da nave.
Era uma nave como qualquer outra: uma decoração
italiana estilo século XVI com influências barrocas mas
estava muito desarrumada. Havia muita coisa espalhada
pelo chão. Era um caos total! Quem seria a mente insana
responsável por tudo aquilo? Aí, uma porta abriu-se e o
responsável por tudo aquele caos surgiu – o temível
Mong.
Aí, o novo João reencarnado começou rindo da cara
do temível Mong.83
– Pára! Ninguém se ri assim do temível… Mong!
– Quem?
– O temível… Mong!

82
Aliás, como ele estava em cima do chão que tremia, era natural
que ele tremesse também. (O. S. N. A.) (Octogésima Segunda
Nota do Autor)
83
Se vocês o vissem também se riam. Acreditem… (O. T. N. A.)
(Octogésima Terceira Nota do Autor)
– Que som é esse?
– Som? Que som?
– Você não tá ouvindo?
– Não.
– Diga lá seu nome outra vez.
– Temível… Mong.
– Agora já ouviu?
– Espera um pouco.
Aí, o temível Mong carregou duas vezes num botão
e dois guardas vindos do nada caíram no chão e ficaram
carbonizados instantaneamente.84
– Quem são esses?
– São, eram a minha guarda pessoal. Agora têm,
tinham a mania que são, eram músicos. Já não os podia
ouvir!
– Porque não? Cê tava surdo?
– Hoje de manhã, sim. Fui assistir a um
bombardeamento em Tetretia ontem à noite. Aquela
barulheira toda deixou-me surdo.
– Mas agora já ouve não já?
– Já.
– E quando é que eles começaram tocando?
– Foi assim que tu apareceste.
– Cê tá querendo dizer que a culpa disso foi minha?
– Estou. Porquê. Tens problemas?
– Tenho, mas você não tem nada que ver com isso.85

84
O mais certo é terem caído do tecto. (O. Q. N. A.) (Octogésima
Quarta Nota do Autor)
85
Tendo dois intervenientes tão dotados como o novo João
reencarnado e o temível Mong, esta conversa até que está a ter
um certo nível. (O. Q. N. A.) (Octogésima Quinta Nota do
Autor)
– Não fales assim comigo!
– Então falo como?
– Sobes para cima daquele degrau, depois
equilibras-te na perna esquerda, levantas o braço direito
e inclinas a cabeça para trás num ângulo de…
– Eu vou é embora daqui!
– Ai sim? E como é que vais fazer isso?
– Não sei. Mas…
– Mas o quê?
– Mas, nada.
– Ah!
– Ah! Já sei! Mas, se você conseguiu me trazer até
aqui também me pode enviar de novo para donde eu
vim.
Aí, o novo João reencarnado começou carregando
em tudo o que era botão. E então… aconteceu: os
desastres na Terra pararam86, o novo João reencarnado
regressou de volta à Terra e a nave do temível Mong
explodiu.
Aí, uma vez de novo na Terra, o novo João
reencarnado foi dar um bem merecido passeio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

86
Desastres como chuvas de fogo e terramotos artificiais. Os de
viação continuaram. (O. S. N. A.) (Octagésima Sexta Nota do
Autor)
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando por um sítio que não visitava há muito tempo.
Era um sítio nebuloso onde o novo João reencarnado
encontrara pela primeira e última vez o velho empirista
de ângulo sexo-sónico. A única diferença é que o novo
João reencarnado na altura era conhecido por pequeno
grande João.87
Hoje estava menos nevoeiro mas, o sítio também
estava diferente. Era o mesmo sítio mas, havia ali
qualquer coisa de estranho. As luzes não podiam ser
porque não se via luz nenhuma.
Aí, o novo João reencarnado quase que ia sendo
atropelado por uma carroça. E, então, o novo João
reencarnado percebeu o que tinha acontecido: (ou
melhor, eu percebi e fiz de conta que ele também tinha
percebido) aquela névoa transportara o novo João
reencarnado através dos tempos para uma época
desconhecida.
Aí, o novo João reencarnado decidiu ir dar uma
passeio para ficar a conhecer melhor aquele sítio igual
mas, diferente ao que ele tinha conhecido antes e que

87
Ver O PEQUENO GRANDE JOÃO E OS EMPIRISTAS DE
ÂNGULO SEXO-SÓNICO in A SAGA DO PEQUENO JOÃO I
(O. S. N. A.) (Octagésima Sétima Nota do Autor)
agora estava igual mas, diferente em relação àquele sítio
onde ele estava agora.
Aí, o novo João reencarnado chegou numa casa
muito estranha. Além de ser a única casa naquela rua, era
transparente.88 Aí, o novo João reencarnado viu um cara
sentado numa secretária escrevend. Aí, o cara levantou-
se, a secretária parou de escrever e escondeu-se atrás
duma árvore.89
Aí, o outro cara gritou:
– Raios e coriscos! Assim não dá! Esta gaja não me
inspira nem um bocadinho!
Aí, o novo João reencarnado decidiu ir ajudar aquele
cara zangado, que não era nem mais nem menos, mas o
próprio… Shakespeare, o grande William Shakespeare!
- Porque é que eu tenho de ir?
Porque sim.
– Mas porquê? Eu não conheço esse cara de lado
nenhum.
E desde quando é que isso te faz diferença?
– Desde agora.
Vai lá ter com ele.
Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do
grande Shakespeare e disse:
– Oi. Eu venho… ajudar você.
– Vens me ajudar, é?
– Você é surdo? Foi o que eu falei, não foi?

88
Podemos concluir duas coisas: uma, ele já tinha saído da casa e
estava agora no campo; duas, a casa tinha janelas grandes. (O. O.
N. A.) (Octagésima Oitava Nota do Autor)
89
Das duas, três: ou a árvore estava dentro de casa ou a porta
estava aberta ou não havia nenhuma casa. (O. N. N. A.)
(Octogésima Nona Nota do Autor)
– Sim, tu disseste que eu era surdo, mas…
– Eu não disse que você era surdo, eu disse que você
é surdo.
– Mas, não sou.
– Já podia ter dito. E aí, o que é que você quer que
eu faça?
– Eu preciso que alguém me inspire. Inspira-me se
conseguires.
Aí, o novo João reencarnado tentou inspirar o
grande Shakespeare. Primeiro pela narina esquerda. Não
conseguiu. Depois pela narina direita. Também nada. Aí,
o novo João reencarnado tentou inspirar o grande
Shakespeare pela boca90 mas, também não conseguiu.
Desiludido mas, ao mesmo tempo, satisfeito por
dado o seu melhor, o novo João reencarnado foi-se
embora à procura de uma saída de volta para a sua
época.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

90
O que deve ser muito incómodo porque já se sabe que a boca
não tem filtros para filtrar as impurezas do ar. (N. N. N. A.)
(Nonagésima Nona Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando em frente a uma igreja quando ouviu alguém
cantando. Pior ainda, era alguém cantando mal, mas mal
mesmo.
Aí, o novo João reencarnado entrou na igreja e ficou
surpreso com o que viu. A igreja por dentro era um
armazém e em cima dum monte de caixotes estava um
cara de branco cantando. E mais estranho ainda era o
facto de estarem dentro dessa igreja-armazém pessoas
ouvindo esse cara de branco cantando. E mais estranho
ainda era o facto dessas pessoas que estavam dentro da
igreja-armazém ouvindo o cara de branco que estava
cantando estarem gostando de ouvir o cara de branco
cantando!
Aí, o cara de branco começou cantando uma música
diferente e aí as pessoas começaram indo embora.
Aí, o cara de branco se pôs de joelhos e começou
rezando no seu telemóvel de último modelo:
– Perdoa-lhes, Senhor. Eles não sabem o que fazem.
E do outro lado ouviu-se uma voz profunda,
tenebrosa e grave91:
– Mas é melhor que aprendam. Ando a gastar muito
dinheiro contigo.

91
Grave no sentido de não ser aguda. (N. P. N. A.) (Nonagésima
Primeira Nota do Autor)
Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do
“palco” e disse para o cara de branco.
– Oi.
– Quem está aí? Ah! Olá. Vejo que ficou aqui.
Gostou da música, foi? Já tem um lugar garantido no
Céu.
– Não gostei de sua música, não. Ela é muito ruim!
E já estive no Céu e não gostei.
– Quem é você?
– Sou o novo João reencarnado.
– João da parte da mãe e reencarnado da parte do
pai?
– Deve ser. Não sei.
– Muito prazer. Eu sou o padre Marcelo Roça.
– Marcelo da parte da mãe e Roça da parte do pai?
– Ao contrário.
– Eu não consigo dizer isso tudo ao contrário!
– Tente.
– Iap od etrap ad açoR e eãm ad etrap ad olecraM?92
- Não era isso que eu queria dizer.
– Ah! Pai do parte da Roça e mãe da parte da
Marcelo?
– Não!
– Roça da parte do pai e Marcelo da parte da mãe?
– Não…
– Roça da parte da mãe e Marcelo da parte do pai?
– Sim.
– Já podia ter dito antes, né? Não era preciso ficar
perdendo esse tempo todo.
Aí, o novo João reencarnado perguntou:
92
Notem que fui eu que escrevi isto ao contrário. (N. S. N. A.)
(Nonagésima Segunda Nota do Autor)
– Porque é que aqueles caras foram embora?
– Acho que eles não gostam da minha música.
– Você quer que eu o ajude a fazer uma música
nova?
– Pode ser. Como é que você acha melhor?
Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e uma
música começou.
Aí, o novo João reencarnado perguntou:
– Ei! Como é que você fez isso?
– Shiu…
Aí, o novo João reencarnado se calou e o padre
Marcelo Roça começou cantando.

Ó meu Deus, ó Deus meu!


Aleluia, irmãos e irmãs!
Ele é o Senhor do Céu
Que abençoa nossas manhãs!

Coro:
Ele é o Salvador!
Ele é o Salvador

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e a música


parou.
– Gostou?
– Hum… não. Tente outra coisa.
Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e outra
música começou. Era a mesma música só que dessa vez
estava mais rápida.

Ó Deus meu, ó meu Deus!


Vós que abençoais nossas manhãs!
Vós sois o Senhor dos Céus!
Aleluia, irmãos e irmãs!
Coro:
Ele é o Redentor!
Ele é o Redentor!

Aí, a música parou. Mas, desta vez, foi o novo João


reencarnado quem bateu palmas.
– Acho que você devia desistir de cantar e dedicar-se
à pesca.
– Acha que eu canto assim tão mal?
– Pior.
– Óptimo! Vou aceitar seu conselho.
Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela
igreja-armazém e continuou seu caminho.93
Quanto ao padre Marcelo Roça, dedicou-se à pesca e
terminou seus dias pescando bacalhau nos mares do
norte.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

93
Isto de continuar o seu caminho não quer dizer que ele andava
a fazer uma estrada. (N. T. N. A.) (Nonagésima Terceira Nota do
Autor)
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando pelas ruas de uma cidadezinha quando sentiu
um cheiro muito ruim. Um cheiro parecido com aquele
que ele tinha quando estava morto e em decomposição.
Aí, ele apareceu. Vinha vestido de preto e tinha a
cabeça parecida com um porco-espinho.
Aí, o novo João reencarnado tentou falar com ele.
– Oi.
– Olá!! Posso ajudar-te nalguma coisa?
– Eu sou o novo João reencarnado.
– Encantando! Eu sou o Emperor-Man, ou em
português, Homem-Catálogo94!
– Porque é que você cheira tão mal?
– Eu não cheiro mal! Isto é o cheiro do sucesso!
– É? Pois esse seu sucesso não me está cheirando
bem, não.
– Achas isso, é? Quero ver o que é que dizes do meu
parceiro, o…
– Não é preciso. Eu acredito em você.
– Mas acreditas no quê?
– No que você quiser.
– Óptimo.

94
A tradução não é das melhores, mas estou no meu pleno
direito. Com as traduções que se fazem por aí, esta até está muito
boa. (N. Q. N. A.) (Nonagésima Quarta Nota do Autor)
– O que é que você faz, então?
– Ajudo as pessoas a expandirem os seus horizontes.
– Não acredito.
– Ainda agora disseste que acreditava em tudo o que
eu dissesse.
– Sim, mas só no que fosse verdade. O horizonte é
do mesmo tamanho para todo mundo.
– Aí é que tu te enganas! Se uma pessoas estiver
muito perto do horizonte ele parece mais pequeno do que
se estiver longe. É ou não é?
– É. Tem razão. E que mais você faz?
– Sou capaz de decorar catálogos de música…
– Completos?
– Sim, completos, e de identificar qualquer música
através dum simples nota.
– Já pensou em ir até à televisão?
– Não. A fama não me interessa.
Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta. Por
todo o lado estavam cartazes com a cara do Homem-
Catálogo. Um avião voava no céu deixando uma
mensagem com fumo: “O HOMEM-CATÁLOGO É
VESTIDO PELA MÃE.”95
– Quer dizer que vcoê é um super-herói?
– Um, não! O super-herói! E dos bons!
– E tem muitos inimigos?
– Alguns. Os piores são o Super Feijão Verde
Atómico, o Fantasma das Bandas Desconhecidas, o
Homem-Gás e o Professor Doutor Carlos Alberto.

95
Desnecessário será dizer que o avião estava a deitar aquele
fumo todo porque estava a cair, mas eu digo na mesma: o avião
estava a deitar aquele fumo todo porque estava a cair. (N. Q. N.
A.) (Nonagésima Quinta Nota do Autor)
– Puxa vida! E como é que você os consegue vencer
a todos?
– Bom, consigo disparar o meu cabelo a dez metros
de distância.
– O seu cabelo?
– E tenho também a minha arma secreta, o meu bafo
super-poderoso a alho. Queres experimentar?
– É melhor não.… Mas, e se por acaso algum dos
seus inimigos cortar seu cabelo e tapar sua boca? O que
é que você faria?
– Em primeiro lugar, o meu nome não é Faria, é
Homem-Catálogo! E se isso acontecesse, usava a minha
arma ultra-secreta: emanações odoríficas sovacais.
Quem as respirar, desmaia.
– E se eles estiverem usando máscaras?
– Não há máscara que resista a isso.
– E se houver?
– Se houver, posso sempre contar com a ajuda do
meu fiel parceiro.
– E se o seu parceiro também estiver preso?
– Ouve lá! O que é que tu queres, afinal? Queres que
eu deixe de ser um super-herói, é?
– Não era má ideia, não. Você é o super-herói mais
ridículo que eu já vi em toda a minha existência. E olhe
que eu já vi muitos.
– Bom, mas eu não vou desistir! Vou continuar a ser
o Homem-Catálogo até ao fim dos meus dias!
– Faça como você quiser, eu vou-me embora.
– Óptimo! Esta cidade é pequena demais para nós os
dois.
Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela
cidade, deixando sob a protecção do Homem-Catálogo e
do seu fiel parceiro, o Rapaz-Sagaz.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando por uma praia quando ouviu um barulho
estranho. Aí, o novo João reencarnado saiu da praia e
entrou numa floresta, sempre ouvindo aquele barulho
estranho. Aí, o novo João reencarnado encontrou um
macaco com as mãos em sua barriga.96… 97
Aí, o novo João reencarnado e perguntou:
- Que é que você tem?
- Fome! Quem és tu?
- Sou o novo João reencarnado. E você, quem é?
- Sou o primo do macaco André.
- Não conheço. E você, quem é?
- Sou o primo do macaco André.
- Você não se cansa de ficar sempre repetindo o
mesmo? Qual é o seu nome?
- É este! Primo do macaco André!
- Posso tratá-lo por você?
- Podes.
Aí, o barulho aumentou.
- Ai! Ajuda-me, por favor!
- O que é que você quer que eu faça?

96
Na parte de fora da barriga. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sexta
Nota do Autor)
97
Na barriga do macaco. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sétima Nota
do Autor)
- Preciso de bananas.
Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta e só
viu bananeiras.98
- Mas, você tem aqui muitas bananas.
- Não são destas. São umas bananas azuis. Só
crescem numa ilha perdida no meio do mar. Vou-te
desenhar um mapa.
Aí, o… símio falante99 pegou num graveto e
desenhou um mapa no chão.
- Vês? É aqui no x.
- Mas, se é aqui porque é que você está tão
preocupado?
- Não é aqui… é aqui!
- É o que eu tou dizendo.
- Olha, é assim: vais até à água, nadas sempre em
frente e páras na primeira ilha que encontrares.
- Tá bom.
Aí, o novo João reencarnado foi-se embora para a
praia e nadou até à primeira ilha que encontrou.
Quando lá chegou pegou num ramo de bananas e
nadou de volta para a outra margem.100 Aí, o novo João
reencarnado foi ter com o símio falante.

98
Ele até viu mais coisas, mas, o que interessa para agora é que
ele tenha visto as bananeiras. (N. O. N. A.) (Nonagésima Oitava
Nota do Autor)
99
Estou a usar esta designação só para simplificar. Este símio
falante não tem nada a ver com os símios falantes da história O
NOVO PEQUENO JOÃO NO PLANETA DOS SÍMIOS
FALANTES. Ver a SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais
detalhes. (N. N. N. A.) (Nonagésima Nona Nota do Autor)
100
Ele podia não ter feito nada disto. Se bem se lembram, o
primo do macaco André só lhe disse para ir até à ilha, não disse
para fazer mais nada. (C. N. A.) (Centésima Nota do Autor)
- Aqui estão suas bananas.
Aí, o símio falante pegou nas bananas, apalpou-as,
provou uma e depois deitou-as fora.
- E aí? Gostou?
- Não! Tão molhadas! Sabem a sal! E estão muito
maduras! Para a próxima não me ajudes!
- Tá bom.
Aí, o novo João reencarnado foi-se embora e o símio
falante morreu de fome.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passando por um bosque encantado quando ouviu um
animal chorando.101 Aí, o novo João reencarnado foi à
procura e encontrou um filhote de veado. E esse filhote
de veado estava chorando porque tinha uma de suas
patas presas em uma armadilha para ursos.102 Aí, o novo
João reencarnado tentou falar com o filhote de veado.
- Oi. Cê precisa de ajuda aí?
Mas, o filhote de veado não respondeu porque os
animais não falam e porque isto não é uma fábula.
- Cê tá me ouvindo?
Como o filhote de veado não respondeu, o novo
João reencarnado concluiu que aquele filhote de veado
estava surdo. Aí, o novo João reencarnado disse:
- Fazemos assim: eu falo e você diz que “sim” ou
que “não” com a cabeça103, tá bom?
Aí, o filhote de veado fez que “sim” com a cabeça e
o novo João reencarnado reformulou a sua teoria: aquele

101
Neste caso, não seria bem chorar mas, o equivalente. (C. P. N.
A.) (Centésima Primeira Nota do Autor)
102
Portanto, ele estava a chorar por ter sido apanhado numa
armadilha destinada a outro animal. Já viram tamanha xenofobia
entre animais? (C. S. N. A.) (Centésima Segunda Nota do Autor)
103
Sendo o “sim” para sim e o “não” para não. (C. T. N. A.)
(Centésima Terceira Nota do Autor)
filhote de veado sofria de um problema na fala.104
Aí, o novo João reencarnado sentiu um cheiro de
queimado. Aí, o filhote de veado começou se debatendo
e o novo João reencarnado soltou a pata do filhote de
veado. Aí, o filhote de veado começou correndo e o novo
João reencarnado foi atrás dele sem saber porquê.
E aí, de repente, todos os animais do bosque
estavam correndo e lá atrás tudo vinha em último lugar
um cara com um lança-chamas pegando fogo em tudo.
Aí, todo o mundo chegou junto dum abismo e aí, todo
mundo conseguiu saltar o abismo. Isto é, todo o mundo
menos o novo João reencarnado e o cara do lança-
chamas que caiu e bateu com a cabeça numa rocha e teve
morte imediata. O novo João reencarnado caiu nas água
dum rio e deixou-se levar pela corrente.
Os outros animais, enganaram-se no caminho e
foram parar numa zona de caça onde tiveram morte
imediata. Todos menos o filhote de veado, Dambi, que
foi apanhado numa armadilha para veados e morreu feliz
de forma lenta agonizante.

FIM
105

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

104
O mais estúpido nisto tudo é o novo João reencarnado pensar
que o filhote de veado percebe o que ele diz. (C. Q. N. A.)
(Centésima Quarta Nota do Autor)
105
O filhote de veado morreu de negligência autorial. (C. Q. N.
A.) (Centésima Quinta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, que estava prestes a tornar-se
menos belo, o novo João reencarnado estava se sentindo
muito estranho. O novo João reencarnado tinha uma dor.
Mas, não era uma dor física, era uma dor metafísica106.
O novo João reencarnado sabia que havia algo se
passando com ele mas, não sabia o quê.
Aí, o novo João reencarnado tentou perceber o que
se estava passando com ele e recordou todos os
momentos que vivenciara desde sua primeira história107
E aí, o novo João reencarnado chegou a uma
conclusão.
- Como é que você sabe tanto de mim? Porque é que
eu não me lembro de nada do que aconteceu antes de
minha primeira história?
E então, eu vi-me obrigado a responder-lhe:
Eu sei tanto de ti porque fui que te criei e…
- Você o quê???
Fui eu que te criei e sou eu quem escreve as tuas
histórias.
- Então, tudo o que eu falo, faço penso e digo…

106
Dor metafísica é uma dor com uma meta. (C. S. N. A.)
(Centésima Sexta Nota do Autor)
107
A HISTÓRIA DO PEQUENO JOÃO. Ver A SAGA DO
PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (C. S. N. A.) (Centésima
Sétima Nota do Autor)
Sou eu que escrevo.
- Não acredito nisto.
Mas é verdade. E o motivo de não te lembrares de
nada do que aconteceu antes da tua primeira história, é
porque eu não escrevi histórias contigo antes disso. Pelo
menos, ainda não…
- Porque é que você nunca me disse nada antes?
Tu nunca perguntaste.
- E como é que eu podia saber disso?
Não me digas que nunca tinhas desconfiado de nada.
- Não.
Pensavas que a falares com vozes ocultas eras o
quê?
- Um padre.
Podias ser mas, não era.
- Um maluco.
Também.
- Tá vendo? Eu podia ser outras coisas sem ser um
personagem de ficção.
Mas, ser um personagem de ficção faz parte da tua
natureza.
- Faz, porque você diz que faz.
Não. Faz porque eu escrevo que tu dizes que faz.
- Mas, eu podia ser outra coisa!
Não podias! Tens que compreender duma vez por
todas que as tuas histórias são muito importantes.
- Importantes para o quê?
Primeiro, porque ajudam-me a gozar com as pessoas
sem elas saberem e segundo, porque posso prestar
homenagem às coisas que gosto de forma pessoal.
- Só por isso?
Não. É também porque gosto de escrevê-las. Tens
que ver uma coisa, tu sem as minhas histórias não
existias. Mas, eu sem ti também não existia.
- Como é que você sabe que sem você eu não
existia?
Não sei. Mas, percebes o que eu digo ou não?
- É. Acho que você tem razão.
Então, o que me dizes a acabar esta história e passar
para outra?
- Pode ser uma no País das Mil Maravilhas?
Pode.
- Então, vamos lá!

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
passeando no País das Mil Maravilhas.108
- Brigadão!
Aí, o novo João reencarnado viu um camelo branco
saltitando. O que era muito estranho, pois o novo João
reencarnado sabia que ali não deviam estar camelos
brancos, ali era a zona das senhoras cenouras cantoras.
Aí, surgiu um cão recitando Nietzsche e o novo João
reencarnado reparou que alguém tinha trocado as coisas
todas ali no País das Mil Maravilhas.
Aí, o novo João reencarnado foi ter com o chefe do
local, o Xeque de Paus para saber o que estava passando.
Mas, quando chegou ao palácio do Xeque de Paus, o
Xeque de Paus não estava lá. Em vez do Xeque de Paus,
estava o Sultão de Ouros.
Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do
Sultão de Ouros.109
- Ahá! O que é que tu queres?

108
Como podem ver, cumpri a missa promenha, perdão, minha
promessa. (C. O. N. A.) (Centésima Oitava Nota do Autor)
109
Obviamente, o Sultão de Ouros estava protegido por vários
guardas. E foram esses guardas que pegaram no novo João
reencarnado e levaram-no junto do Sultão de Ouros. Vistas as
coisas, não foi nada mau: ele não se cansou nada. (C. N. N. A.)
(Centésima Nona Nota do Autor)
- Quem é você? O que é que você está fazendo no
lugar do Xeque de Paus?
- Sou o Sultão de Ourros.
Eu já sabia.
- Já podia ter dito.
- Só agorra é que perrguntaste.
- O que é que você fez com o Xeque de Paus?
- Mandei encerrá-lo.
- Encerrá-lo?
- Não, encerrá-lo. Ele estava todo riscado.
- E quem é que trocou os camelos brancos de sítio.?
- Fui eu. Não gostava de os verr onde eles estavam.
Agora sou eu quem manda aqui. Vou mudarr isto tudo.
- E aquele cão? Ele não costumava recitar Nietzsche.
Ele sempre gostou de Kant e de Hegel.
- Isso não me interressa.
Essa foi a gota de água! Se havia coisa que o novo
João reencarnado não suportava era crueldade com os
animais.
- Onde é que estão os outros?
- Quais outrros?
- Os outros dois, o Marajá de Copas e Princesa de
Espadas?
- Não sei. Estão em lua-de-mel.
- Isso aí é mentira! O Marajá de Copas é diabético.
Eu vou procurá-los e contar-lhes o que você está fazendo
aqui.
Aí, o novo João reencarnado saiu do palácio do
Xeque de Paus, agora ocupado pelo Sultão de Ouros e
foi procurar o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.
FLASHBACK ou ANDALÉPCE

Este é um momento novo nas aventuras do novo


João reencarnado. Pela primeira vez irei realizar uma
andalépce.
Uma andalépce, por definição, é quando o autor e
narrador, neste caso eu, recua atrás na acção para
explicar acontecimentos que estão ocorrendo no presente
e que não foram explicados ao leitor.
Como é que o novo João reencarnado sabe tanto
acerca do País das Mil Maravilhas se é a primeira vez
que ele o visita?
Na verdade, não faço a menor ideia. Se bem se
lembram, o espaço temporal entre esta história e a
história anterior é quase nulo, ou seja, não houve tempo
para o novo João reencarnado visitar o País das Mil
Maravilhas previamente nem antes disso.
Mas, não se preocupem. Esta história irá confundir-
vos ainda mais do que as outras.

ACÇÃO PRENDA

Aí, o novo João reencarnado pegou num tapete


voador e voou até à lua-de-mel.
O caminho foi fácil, apesar de alguma turbulência.
O pior foi mesmo para aterrar – a abelha rainha não
queria dar autorização ao novo João reencarnado para
ele aterrar. Mas, por fim, a abelha rainha acabou por ir
para a cama com um zangão e o novo João reencarnado
aterrou na lua-de-mel.
Aí, o novo João reencarnado procurou pelo Marajá
de Copas e pela Princesa de Espadas mas, eles não
estavam lá. Tal como o novo João reencarnado
suspeitava. Porque é que ele tinha ido lá? Para perder
tempo e para eu acrescentar mais espaço à história.
Aí, o novo João reencarnado voltou ao seu tapete
voador e enquanto estava voando, uma vaca voadora110
se aproximou do novo João reencarnado e passou em
direcção ao céu mas, ainda teve tempo de dizer ao novo
João reencarnado:
- Camelo!
- Camelo é você, sua vaca!
Mas aí, o novo João reencarnado começou
pensando. Aquela vaca sabia que nem ele nem ela eram
camelos.111 Por isso, o que é que ela poderia estar
querendo dizer?
Aí, o novo João reencarnado ouviu a voz da vaca ao
longe:
- Cão!
- É você!
Aí, o novo João reencarnado compreendeu tudo. Ou
por outra, compreendeu o que era necessário
compreender nesta altura.
- O cão e o camelo branco! É isso!

110
A vaca não tinha asas. Ela usava um cinto anti-gravitacional.
Infelizmente, para ela, o cinto só ligava, não desligava e a vaca ia
em direcção às estrelas. (C. D. N. A.) (Centésima Décima Nota
do Autor)
111
Não sei qual dos dois está mais longe. (C. D. P. N. A.)
(Centésima Décima Primeira Nota do Autor)
Ainda sem saber o que isso “É isso!” queria dizer112,
o novo João reencarnado decidiu voltar ao local onde a
história tivera início.
E assim, o novo João reencarnado voltou ao País das
Mil Maravilhas. E quando chegou lá é que ele reparou
em uma coisa: o cão tinha um símbolo de copas na sua
coleira e o cam; duas coisas: o cão tinha um símbolo de
copas na sua coleira e o camelo branco tinha o símbolo
de espadas numa bossa e não era; três coisas: o cão tinha
um símbolo de copas na sua coleira e o camelo branco
tinha o símbolo de espadas numa bossa e não era um
macho.
Feitas as contas, o novo João reencarnado percebeu
que alguém tinha dado os símbolos de copas e de
espadas àqueles animais para eles os guardarem.
Aí, o novo João reencarnado tirou a coleira do cão e
tirou o autocolante da bossa da camela branca e aí, uma
coisa espantosamente previsível aconteceu: o cão
transformou-se no Marajá de Copas e a camela branca
transformou-se na Princesa de Espadas.
- Ei!
- Obrigado por nos teres salvo.
- Depressa! Temos que voltar para o palácio.
Aí, o novo João reencarnado, o Marajá de Copas e o
Princesa de Espadas voaram no tapete voador até ao
palácio mas, foram derrubados por um míssil terra-ar. Aí,
o novo João reencarnado olhou para baixo113 Era o

112
Isto é ridículo. Uma expressão não pode querer dizer nada,
porque as expressões não falam. (C. D. S. N. A.) (Centésima
Décima Segunda Nota do Autor)
113
Isto enquanto caía. (C. D. T. N. A.) (Centésima Décima
Terceira Nota do Autor)
exército das senhoras cenouras cantoras, que estavam
fartas daquela inércia governamental e resolveram dar
um golpe cenoural. Os outros dois regentes, o Xeque de
Paus e o Sultão de Ouros já tinham sido eliminados, só
faltavam o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.114
Aí, o novo João reencarnado parou de cair para
baixo e começou caindo para cima, pois a vaca voadora
tinha conseguido consertar o cinto anti-gravitacional e
estava levando o novo João reencarnado para fora do
País das Mil Maravilhas.
Mas, muitas perguntas ficaram por responder:
Afinal, como é que o novo João reencarnado
conhecia aquilo tudo se era primeira vez que ele estava
lá?115
E a resposta é: eu não sei, ele também não e vocês
muito menos.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

114
Mas já falta pouco. (C. D. Q. N. A.) (Centésima Décima
Quarta Nota do Autor)
115
Todas as outras perguntas podem-se englobar nesta. (C. D. Q.
N. A.) (Centésima Décima Quinta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava
sonhando com aquela garota116 que tinha conhecido uma
vez.117 Era um sonho muito erótico para os padrões de
censura do novo João reencarnado por isso, como o novo
João reencarnado não tem qualquer tipo de padrões de
censura, daqui a algumas linhas podem imaginar como é
que o sonho seria.
Aí, o novo João reencarnado acordou mas a garota
continuava lá. Agora estavam numa praia e ela estava…
Aí, o novo João reencarnado acordou (desta vez a
sério). Ela tinha desaparecido.
Aí, o novo João reencarnado levou com uma folha
de papel na cara e aí, o novo João reencarnado
perguntou:
- Que negócio é esse aqui?
É um papel.
- Não. Aí no papel.
Ah! É “Sigmund Freud, psiquiatra especializado”

116
Ele estava a sonhar sozinho e não acompanhado porque a
partir do momento em que ele estivesse a sonhar acompanhado já
não estaria a sonhar sozinho. E vice-versa. (C. D. S. N. A.)
(Centésima Décima Sexta Nota do Autor)
117
Até se esquecer dela e conhecê-la de novo, só a terá conhecido
uma vez. (C. D. S. N. A.) (Centésima Décima Sétima Nota do
Autor)
- O que é isso?
O quê?
- Um psiq… psiq…
Tás engasgado?
- Não. Não consigo dizer psiq…
Não consegues dizer o quê?
- Psiq… psiq…
Fala!
- Psiq… psiq…
Não consegues dizer psiquiatra?
- Não.
Então é o quê?
- É isso.
Isso o quê?
- Você tá complicando tudo porquê? Quem complica
as coisas aqui sou eu, tá ouvindo?
Adiante…
Um psiquiatra é uma pessoa que analisa os sonhos
das pessoas e tenta perceber porque é que as pessoas se
comportam de determinada maneira.
- E isso quer dizer o quê?
Não sei. Mas, se estás tão preocupado, porque é que
não vais ter com ele?
- É. Acho que vou indo.
Se vais não achas que vais é porque vais mesmo.
- Quer parar com isso?
Já me calei!

Aí, o novo João reencarnado foi até ao consultório


do grande Freud e depois de bater à porta do gabinete do
grande Freud, o novo João reencarnado entrou no
gabinete do grande Freud.
- Oi. Posso entrar?
- Entra. Deita-te aí.
Aí, o novo João reencarnado deitou-se118 e dormiu.
- Acorda!
Aí, o novo João reencarnado acordou.
- Não era para dormires.
- Eu vim aqui para saber o que se está passando
comigo.
- Eu sei.
- Como é que você sabe?
- O teu autor contou-me. Ele é meu paciente.
Então e a minha privacidade?
- Pois… Como se eu fosse o único a saber dos teus
problemas.
- Ei! É a minha vez agora!
- Vamos começar então. Tocaste à campainha com
que mão?
- Não toquei à campainha, bati à porta.
- Tens medo de tocar à campainha?
- Não.
- Então porque é que não tocaste?
- Porque não havia nenhuma campainha.
- Ahá! E bateste à porta com que mão?
- Com a direita.
- Porque é que não bateste com a esquerda?
- Porque tava coçando a cabeça com ela.
- Costumas coçar sempre coçar a cabeça com a mão
esquerda enquanto bates à porta com a mão direita?

118
Não sei bem onde é que o grande Freud mandou o novo João
reencarnado deitar mas, deve ter sido num daqueles sofás que os
psiquiatras costumam ter nos seus gabinetes. (C. D. O. N. A.)
(Centésima Décima Oitava Nota do Autor)
- Não. Foi só agora.
- Porquê?
- Pergunte para ele. Ele que está escrevendo.
Eu não sei de nada.
- Porque é que dormiste quando eu te disse para te
deitares aí?
- Porque tava com sono.
- Ainda tens sono?
- Sim.
- E porque é que não dormes?
- Você disse para não dormir.
- Gostas de dormir.
- Gosto.
- Gostas de sonhar?
- Às vezes.
- Quando é que não gostas?
- Às vezes sonho com uma garota que conheci e nós
estamos a…
- Estão a quê?
- Você sabe.
- Como é que eu hei-de saber?
- Ele não contou para você?
- Nós não estamos a falar dele.
- Tá bom. Eu digo no seu ouvido.
Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do
grande Freud e disse o que ele e a garota faziam em seus
sonhos.119

119
Estão todos a pensar em sexo, não é? Para quem não sabe,
essa garota misteriosa surgiu na história A INICIAÇÃO
SEXUAL DO NOVO PEQUENO JOÃO QUE JÁ NÃO É
GRANDE. Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I. (C. D. N. N.
A.) (Centésima Décima Nona Nota do Autor)
Podem imaginar agora.
- Deita-te lá. Deixa-me respirar um pouco. Ufa! Isso
tudo?
- Não conte a ninguém, tá bom?
- Porquê? Achas que comer cem biscoitos duma só
vez é assim tão mau?
- Eram de chocolate! E eu disse-lhe para não contar!
- Agora já contei.
- Você ainda não me disse o que é que se está
passando comigo.
- Calma. Ainda faltam algumas perguntas. Como é
que é a tua relação com o teu autor?
Vê lá o que é que dizes.
- Sabe, ele às vezes é um pouco chato. Tou sempre
dizendo e fazendo a mesma coisa. E isso é muito chato
para um personagem multi-facetado como eu.
- Consideras-te um figura imaginária?
- Sim.
- Não acreditas que és real?
- Não.
- Quem é que te disse isso? Não vês, não sentes, não
falas?
- Sim.
- Achas que se fosses irreal, fazias isso tudo?
- Não…
Isso é ridículo! Ele é um personagem de ficção!
Qual é a discussão?
- Não o oiças! Conta-me mais. Não te preocupes
com ele que ele tem medo do escuro.
Não tenho nada!
- Tens sim que eu sei! Fala!
Não fala nada!
- Não tenhas medo dele!
- Ele é muito possessivo. Tem que ser sempre do
jeito dele.
Isso é mentira!
- E nunca aceita que os outros tenham razão.
Mentira!
- Nunca me deixa falar sobre os meus problemas.
Agora chega! Não te deixo falar, é? Sou chato? Sou
possessivo? Sabes o que é que este chato e possessivo
vai fazer? Vai acabar com a história!

FIM

Quero ver com quem é que tu falas agora.


- Eu falo com quem quiser!
Só se eu quiser!

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
120

Num belo dia de Verão… o novo João reencarnado


desapareceu.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

120
ENTROPIA: s. f. Medida da capacidade de um sistema em
poder efectuar transformações espontâneas; termodinâmicante, a
variação de entropia numa variação infinitesimal é igual ao calor
absorvido dividido pela temperatura absoluta a que se deu a
absorção; estatisticamente, medida do grau de desordem ou caos
de um sistema. (N. A. M. D. C. U. D. L. P. C. S. P. S. S. E.)
(Nota do Autor que Mesmo Depois de Consultar Um Dicionário
de Língua Portuguesa Continuou Sem Saber o que é a
Entropia) (D. V. N. A.) (Centésima Vigésima Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João irreal estava navegando
pelos mares salgados de um oceano qualquer quando…
- Espere! Que ideia é essa de me tar chamando João
irreal?
Pensava que já soubesses.
- Não. Não sabia.
Ficas a saber agora. Posso continuar?
- Pode.
Aí, o João irreal chegou numa ilha. Devia ser uma
ilha deserta mas, estava cheia de gente.
- Que sítio é este?
Deixa-me ver no mapa. Espera aí. Ah! É a ilha da
dona São.
- Quem é essa dona São?
Não faço ideia.
- O que é que se gente toda tá fazendo aqui?
E eu é que sei?
- A história é sua.
E lá por a história ser minha, sou obrigado a saber
tudo? Pergunta lá a alguém.
Aí, o João irreal aproximou-se de um cara e tentou
falar com esse cara:
- Oi. O que vocês estão fazendo aqui?
Mas, o cara não respondeu. O João irreal pensou que
o cara fosse surdo ou mudo.121
Mas, na verdade, o cara não respondeu porque não
viu o João irreal.
- Ah! Ele é cego, é?
Não. Tu é que não existes.
- Não existo?
Se és irreal é porque não existes.
- Isso não tem nada a ver. Se eu sou irreal é porque
não sou real e eu nunca fui real. Fui sempre uma figura
de ficção.
Desde quando é que tu pensas tanto?
- Deve ser passageiro…
Queres saber o que é que eles estão a fazer?
- Pensava que você não sabia.
Mas sei.
- Então, porque é que você me disse para perguntar?
Para ocupar espaço.
- Só por isso?
Não. Era para ver se eles tinham alguma ideia
melhor que a minha.
- Se calhar ajudava se eles me pudessem ouvir.
Se calhar.
- E qual é a sua ideia?
Isto que está a acontecer aqui é um reality-show.
- Você quer dizer um irreality-show, né?
Não queiras tudo também.
- Isso aí é o quê?
Bem, eles reúnem várias pessoas e depois filmam

121
Mas rapidamente deixou de pensar que fosse mudo a partir do
momento em que o ouviu falar. E, assim, também não podia ser
mudo. (C. V. P. N. A.) (Centésima Vigésima Primeira Nota do
Autor)
tudo que essas pessoas fazem.
- Ah! E que é que elas fazem?
Nada.
- E os que não sabem nadar?
Morrem afogados ou são comidos pelos tubarões.122
- E fora isso?
Falam, passeiam. Sei lá.
- Tipo minhas histórias, né?
Mais ou menos.
- Sem graça, desinteressantes. O povo vê, fala nos
cafés mas, não percebe nada.
Ei! Nada de auto-críticas!
- Não posso falar mal de mim?
Não. Quando falas mal de ti estás a falar mal de
mim porque sou eu que controlo as tuas acções.
- Isso não quer dizer nada. E se eu quiser participar
nesse tal de irreality-show?
Não podes.
- Não posso? Espere para ver!
Aí, o João irreal aproximou-se da equipa de
filmagens mas, a reacção foi igual:123 ninguém lhe ligou
nenhuma.
Desanimado, o João irreal voltou para o sítio onde
estava antes.
- Droga.
Conseguiste?

122
Nesse caso, podemos supor que mesmo os que sabem nadar
são comidos pelos tubarões. (C. V. S. N. A.) (Centésima
Vigésima Segunda Nota do Autor)
123
Igual à reacção do outro cara com que o João irreal tinha
tentado falar antes. (C. V. T. N. A.) (Centésima Vigésima
Terceira Nota do Autor)
- Não.
Vês? Eu avisei-te.
- Porque é que não me ligam nenhuma?
Já te expliquei que é por seres irreal.
- E eu já disse que o oposto do irreal é o real e se eu
não sou real é porque sou um personagem de ficção.
Não compliques as coisas ainda mais do que elas já
estão! Não existes e acabou-se!
- Você sabia de tudo, não sabia?
Se soubesse, fazia alguma diferença?
- Não.
Nesse caso, sabia.
Aí, o João irreal regressou ao seu barco e navegou
para fora daquela ilha.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Num belo dia de Ferão, o João irreal estafa se
interrogando como seria a actual sociedade elitista que
pofoafa as refistas cor-de-rosa daqui a muitos anos.124
A actual sociedade PMI, Pessoas Muito
Importantes125 é um enigma que os psicólogos do nosso
tempo ainda não conseguiram explicar. Uma raça que
por desígnios misteriosos do destino coloca-se à parte de
outras espécies, fifendo num isolamento total. Mas, isto
não interessa para nada, o que interessa é… como é que
essa classe será daqui a fários anos?
- Você além de tar repetindo tudo ainda por cima tá
repetindo tudo errado.
Se eu estou a repetir mal é porque não estou a
repetir, estou a dizer a mesma coisa de maneira
diverente.
- Pois acho que já era altura de você me enviar para
esse tal sítio.
Qual sítio?
- Onde a história se vai passar.
A história fai-se passar aqui na volha. Onde é que
querias que vosse?

124
Entende-se por revistas cor-de-rosa, todas as revistas que
tenham artigos que toquem no coração das pessoas, ou seja,
revistas para cardíacos. (C. V. Q. N. A) (Centésima Vigésima
Quarta Nota do Autor)
125
Não confundir com PMI – Pessoas Muito Imbecis. (C. V. Q.
N. A.) (Centésima Vigésima Quinta Nota do Autor)
- Porque é que você tá falando assim?
Assim como?
- Assim. Trocando as letras todas.
Oufiste-me a trocar alguma coisa?
- Deixe para lá… Eu tava falando do espaço da
história.
Como é que queres que eu saiba o espaço da história
se ainda não a escrefi? Quando chegar ao vim logo fejo o
espaço que ela ocupa.
- Você não tá entendendo? Local da história!
Percebeu?
Mau! Tás a gozar comigo ou quê?
126

Tu também? Tou a acabar a história não tarda.


- Eu passo bem sem você.
Ah é? Diz-me como.
- Eu falo, né? E o cara das notas escreve a acção.
Qual acção?
- Quer ver?
127

- Ei! Você tem que pôr isso aqui!


128

- Não dá, não. Tem que ser você a escrever.


Eu afisei-te.
Aí, um milagre aconteceu. Aliás, não voi um milagre

126
Acho que já era tempo de parares com isso e começares a
trabalhar. Estamos fartos desses impasses. (C. V. S. N. A.)
(Centésima Vigésima Sexta Nota do Autor)
127
Aí, o João irreal falou para (C. V. S. N. A.) (Centésima
Vigésima Sétima Nota do Autor)
128
Só posso escrever aqui. (C. V. O. N. A.) (Centésima Vigésima
Oitava Nota do Autor)
mas, um mero despertar de uma consciência
anteriormente adormecida.
Tu quando estavas a dizer local querias dizer sítio,
não era?
- Não. Queria dizer local mesmo.
Mas, sítio é a mesma coisa.
- Eu sei.
Está bem. Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.
Aí, o João irreal fiajou para o vuturo.129
Vuturo.130
Quando lá chegou, o João irreal vicou espantado
com o que fiu. Parecia uma cidade do vuturo.131
Aí, o João irreal procurou alguém que o pudesse
informar sobre a sociedade PMI daquela era. Aí, o João
irreal caminhou pela cidade até encontrar algum PMI.
132

O quê?133
Ah! Já sei. É assim: quando escrefi “enviar” e
apareceu “enfiar”, resolfi escrever “enfiar” para que
aparecesse “enviar”.134

129
Para onde? (C. V. N. N. A.) (Centésima Vigésima Nona Nota
do Autor)
130
Ah… (C. T. N. A.) (Centésima Trigésima Nota do Autor)
131
Talvez porque fosse mesmo uma cidade do futuro. (C. T. P. N.
A.) (Centésima Trigésima Primeira Nota do Autor)
132
Como é que fizeste aquilo lá atrás? (C. T. S. N. A.)
(Centésima Trigésima Segunda Nota do Autor)
133
Quando disseste “Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.” (C. T.
T. N. A.) (Centésima Trigésima Terceira Nota do Autor)
134
Sabes o que é que se está a passar? (C. T. Q. N. A.)
(Centésima Trigésima Quarta Nota do Autor)
Sei lá. Acho que apanhei um vírus no computador.135
Deve ser psicológico.

Foltando à história…
Aí, o João irreal encontrou uma vamília de PMIs, os
Jetsetsons.136
Como é que pode? Já estiveste no futuro?137
Se estás agora não é vuturo, é presente.138
- Como é que vocês são?
139

Idem.
- Isso quer dizer o quê?
Quer dizer que concordo com ele. Vaz outra
pergunta.
- Já tou farto de fazer perguntas!
Ainda só vizeste uma!
- Fiz mais quando vocês estavam falando um com
outro.
Mas, tu não podes vazer isso!
- Mas fiz.
E o que é que perguntaste?
- Como é que se chamavam, o que é que faziam…140

135
É estranho é isso só aparecer quando és tu a falar. (C. T. Q. N.
A.) (Centésima Trigésima Quinta Nota do Autor)
136
Isso por acaso não é inspirado naquela família do futuro? (C.
T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sexta Nota do Autor)
137
Estou agora. (C. T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sétima
Nota do Autor)
138
Continua lá com isso! (C. T. O. N. A.) (Centésima Trigésima
Oitava Nota do Autor)
139
Que pergunta idiota. Ele não tem olhos? (C. T. N. N. A.)
(Centésima Trigésima Nona Nota do Autor)
Não. Era circunstancial. Ou por outra, ele quis
convirmar se eles não tinham mudado de nome, não era?
- Não.
141

E o que é que eles responderam?142


- Nada. Ignoraram-me por completo. Era como se eu
não existisse.
Mas, tu não existes.143
- A quem é que você tá chamando inferior?144
- É verdade.
Vamos mas é foltar para o presente.145
Se eu quisesse dizer passado, tinha dito passado.146
Mas não queria.
E agora acabou-se a discussão.

Aí, o João irreal foltou ao presente147


140
Ele perguntou-lhes como é que eles se chamavam? Isso quer
dizer que aquele nome que tu disseste dos Jetsetsons era falso?
(C. Q. N. A.) (Centésima Quadragésima Nota do Autor)
141
Como é que ele podia saber se eles mudaram de nome sem
saber o nome anterior? (C. Q. P. N. A.) (Centésima
Quadragésima Primeira Nota do Autor)
142
Não respondes? (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima
Segunda Nota do Autor)
143
Isso é verdade. Mas, também pode ser que estes PMIs sejam
iguais aos PMIs do passado e ignorem todos os seres inferiores.
(C. Q. T. N. A.) (Centésima Quadragésima Terceira Nota do
Autor)
144
A ti. Eles eram maiores que tu, não eram? (C. Q. Q. N. A.)
(Centésima Quadragésima Quarta Nota do Autor)
145
Passado, queres tu dizer. (C. Q. Q. N. A.) (Centésima
Quadragésima Quinta Nota do Autor)
146
Pensava que querias dizer passado. (C. Q. S. N. A.)
(Centésima Quadragésima Sexta Nota do Autor)
Presente.148

- É melhor ser eu a acabar isto:

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

147
Passado. (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima Sétima
Nota do Autor)
148
Passado. (C. Q. O. N. A.) (Centésima Quadragésima Oitava
Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João irreal estava caminhando
por um sítio desselado desolado quando ouviu um grito
de sofrimento.149
Aí, o João irreal, qual bom samaritano, decidiu ir
procurar a fonte do sofrimento gritante porque aquele
barulho já o estava incomodando.150
Aí, o João irreal viu uma jaula e dentro da jaula
estava um pequeno elefante negro.
Aí, o João irreal aproximou do pequeno elefante
negro.
- Oi. Tudo bem?
- Não. Quem és tu?
- Eu até dizia o meu nome mas não vale a pena. E
você?
- Eu sou o pequeno elefante negro Bumbo.
- Pequeno elefante negro Bumbo? Que raio de nome
é esse?
- E eu é que sei? Eu não escolhi o nome antes de
nascer!
- E você tá preso porquê?

149
Este grito de sofrimento, embora pudesse ter origem em dor
física, tinha origem em dor psicológica. (C. Q. N. N. A.)
(Centésima Quadragésima Nona Nota do Autor)
150
É mais sensível do que eu pensava. (C. Q. N. A.) (Centésima
Quinquagésima Nota do Autor)
- Sou uma aberração.
- Isso não é razão para estar preso. Há muita gente
aberrante por aí andando à solta. Eu, por exemplo.
Deixa-te estar calado.
- Isso eu não sei.
Aí, o João irreal reparou em algo no pequeno
elefante negro Bumbo que chamou logo151 sua
atenção.152
- Puxa vida! Você tem uma grande tromba!
Aí, o pequeno elefante negro Bumbo começou
chorando.
- Porque você está chorando? Eu só disse que você
tinha uma grande tromba.
Aí, o pequeno elefante negro Bumbo começou
chorando ainda mais.
- Não é preciso ficar assim. Tá chorando de alegria
porque eu disse que sua tromba é grande, né?
Aí, o pequeno elefante negro Bumbo começou
chorando ainda mais e o João irreal, seguindo a lógica do
“quem cala, consente” ou, neste caso, “quem não diz
não, quer dizer sim mesmo que não diga nada”, resolveu
animar ainda mais o pequeno elefante negro Bumbo.
- Você tem uma tromba grande! Você tem uma
tromba grande! Você tem uma tromba grande! Você tem
uma tromba grande! Você tem uma tromba grande! Você
tem uma tromba grande! Você tem uma tromba grande!
Você tem uma tromba grande!

151
Não foi logo, foi mesmo no próprio momento. (C. Q. P. N. A.)
(Centésima Quinquagésima Primeira Nota do Autor)
152
Se ele tinha reparado em qualquer coisa, é porque a atenção
dele já tinha sido chamada. Ou talvez não. (C. Q. S. N. A.)
(Centésima Quinquagésima Segunda Nota do Autor)
Ainda não percebeste que eles está a chorar por
causa disso?
- Eu sei. Por isso é que estou gritando. Ele está
chorando de alegria.
Se ele estivesse contente, ria-se.
- Isso é porque ele está tão contente que já nem
consegue rir.
Talvez ele seja negro e não seja branco.
- Que frase estúpida é essa? Ele já é negro.
Só tu é que as podes dizer?
- Por regra, sim.
Está bem. Só não digas que ele tem a tromba grande.
- Quem disse isso?
Tu.
- Eu não disse isso não!
Ainda há pouco estavas só a gritar que ele tinha uma
tromba grande.
- Não. Eu gritei que ele tinha uma grande tromba,
não uma tromba grande.
E não é a mesma coisa?
- Não.
153

Ai, o pequeno elefante negro Bumbo desculpou-se:


- Então, peço desculpa, fui que percebi mal. Pensava
que estavas a gozar pelo facto de ter um órgão pequeno
em relação aos meus conterrâneos.
- Hã?

153
A parte mais chata destas interacções é que o protagonista fica
relegado para segundo plano. Mas, também… se fosse só ao
protagonista que acontecesse isso… Se falar em construção
gramatical, é melhor ficar calado. (C. Q. T. N. A.) (Centésima
Quinquagésima Terceira Nota do Autor)
- Pensava que eu era o alvo da tua escórnia devido
às diminutas dimensões da minha parte pendurada.
- Hã?
- Esquece.
Mas, afinal qual é o teu problema?
- Eu não percebo nada do que ele está falando!
Ora, é muito simples. Admira-me não saberes.
- É o quê?
É… hã… ele diz que tem… Posso interromper?
- Pode.
Aí, o pequeno elefante negro Bumbo disse para o
narrador.
- Se por acaso passar a ser um ponto central duma
forma de gozo perpetrada por ti, agredir-te-ei com o meu
órgão adjacente.
Isso quer dizer o quê?
- Se não te calas, dou-te com a tromba.
Já me calei.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

- Ainda não me disse o que ele estava falando.


Se não te calas, dou-te com a tromba.
- Não. Antes disso.
Thump!!! 154
154
É o problema das onomatopeias. Muitas vezes, nem com a
imaginação percebemos o que querem dizer. (C. Q. Q. N. A.)
(Centésima Quinquagésima Quarta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João irreal estava sentado no
cimo duma ponte quando ouviu alguém cantando. A sua
voz era aguda, estridente e estava espantando os pássaros
da zona. A princípio, o João irreal pensou que fosse um
corvo mas, depois que olhou para baixo e viu um cara
baixinho de branco lá em baixo saltitando de um lado
para o outro, mudou de ideia.
O mais curioso nisto tudo, é que esse… “cantor”
tinha óculos e a letra de sua música era bem diferente de
todas as outras:
“O imposto é pago todos os anos!
Somos felizes por contribuir!
Ohhhhhh!”
Aí, o João irreal saltou da ponte e caíu em terra.155
- Ai!

Quem gritou?
A – o João irreal
B – o “cantor”
Resposta certa: C

Fui eu que gritei. O “-” era só para disfarçar.

155
Era suposto cair num rio e caiu mas, o rio estava seco. (C. Q.
Q. N. A.) (Centésima Quinquaségima Quinta Nota do Autor)
MOMENTO DE MATURAÇÃO OU
AMADURECIMENTO

Esta não teve piada. Desculpem…

Continuando.
- Oi! Quem você que está cantando tão mal?
- O destino destinou-me um nome pelo qual os
homens me possam chamar. Podereis tratar-me por…
Tó.
- Tó?
- Diminutivo de Pedro Miguel.
- E as mulheres chamam-lhe o quê?
- Não gosto de mulheres.
- Tou vendo… Então… Eu vou indo. Foi um prazer
conhecer você! Adeus…
Onde é que tu vais? Posso saber?
- Vou para longe. Ele diz que não gosta de mulheres,
só gosta de mulheres.
Ele não disse que só gostava de homens, pois não?
- Não, mas…
Eu sei que não disse porque fui que escrevi.
E mesmo que gostasse de homens, achas que isso
iria colocar-te no centro das atenções dele?
- Não percebi.
Vai ao dicionário e vê.
- Porque é que você canta tão mal?
Mudaste logo de assunto, não foi?
- É uma canção de revolta contra a revolta contra o
sistema. Temos que ser submissos e fazer o que nos
mandam.
- Você é um pau mandado! Não gosta dos pássaros,
não?
- Gosto, porquê?
- Porque você os está espantado com essa berraria.

NOTA: Apesar do título desta história ser O JOÃO


IRREAL E O PEQUENO PATO LINDO, não irão ver
aparecer aqui nenhum pato, seja ele pequeno, médio,
grande, lindo ou feio. O “pequeno pato lindo” desta
história é uma metáfora sob a forma dum eufemismo
utilizada para criar um estereótipo.
Este “cantor de sucesso” é uma antítese a todos os
cantores de imagem que aparecem no topo das tabelas e
que falam das namoradas dos outros porque andam
muito ocupados a dormir com os companheiros de
grupo.
Os outros cantores são burros e este é esperto. Não
digo inteligente porque não é preciso chegar a tanto.
- Isso quer dizer o quê?
- Os pássaros?
- Não. Aquilo que o narrador escreveu.
- Você também o vê? Não sou só eu? E eu que
pensava que fosse maluco.
- Se ele escreve os meus diálogos, porque é que não
hei de poder ver o resto?
- Bem visto.
Vamos falar então. Tu vais para uma posição
secundária.
- Qual é o teu problema?
O meu problema? Eu só disse a verdade. Tu és feio e
esperto porque se fosses bonito, eras burro que nem uma
porta.
- O meu pai era bonito, tás a chamá-lo burro?
Se a tua mãe fosse uma mula, SIM!
- Não fales assim da minha mãe!
Eu falo como quiser. Fui eu que te criei. Aliás, vou
descriar-te, vou vetar-te ao esquecimento.
- Ahhhhh…
É para aprenderes a não ser esperto.
Mas o que é que eu estou a dizer? Ele só era esperto
porque eu queria.
Bem, vistas as coisas, aprendi uma grande lição.
Onde é que eu tinha a cabeça quando resolvi
inventar um personagem baseado num cantor de imagem
esperto?
- Já posso voltar?
Se perguntaste isso é porque já voltaste, não é?
- Pois. Deve ser.
Aí, o João irreal atravessou o rio e foi para a outra
margem.156

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

156
Ele não era nenhum Messias, embora caminhasse sobre as
águas, porque as águas estavam secas. (C. Q. S. N. A.)
(Centésima Quinquagésima Sexta Nota do Autor)
Num bem aventurado belo dia de Verão, o onírico João
irreal deslocava-se pelos fortuitos e tortuosos caminhos
do desconhecido voraz.
Estava numa estrada de pedra; uma pedra tão dura
como a vida que levava, uma estrada tão longa como a
sua vida. Tentava orientar-se através da luz pálida das
estrelas que alumiavam o seu caminho mas, hoje em dia,
as estrelas são efémeras, rotineiras como o tempo.
O João irreal interrogava-se não sobre as respostas
mas sobre as perguntas com que deveria confrontar o
desconhecido que surgira à sua frente.
O indivíduo trajava um fato de tecido acinzentado e
olhava o João irreal com um olhar de surpresa, o mesmo
olhar com que um falcão olha para a presa que sabe que,
por mais que tente, é impossível escapar à penitência do
ser que tem perante si.
Com uma voz grave e ressonante, o indivíduo
dirigiu-se ao João irreal.
- Muito boa tarde. Por acaso estou a falar com o Sr.
João irreal?
- Oi pra você também.
- Gostaria de resolver um assunto que tem pendente.
- Isso é o quê?
- Quer dizer pendurado.
- Seu tarado! O que eu tenho pendurado não é da sua
conta não!
- Sr. João irreal, tem aqui uma notificação de
despejo.
- Não tenho não. Você é que tem.
- Mas deixarei de ter a partir do momento em que a
entregá-la a si.
- Eu não quero isso.
- Não se trata de uma questão de querer, Sr. João
irreal.
- Eu sei. É uma questão de não querer.
- Sr. João irreal, eu vou ser claro.157
- Pare de me chamar isso!
A agressividade para com o seu velho companheiro
de tantas andanças poderia significar várias coisas mas,
por serem muitas, ficou-se apenas por uma: o João irreal
estava zangado.
- Ao que tudo indica você tem circulado por este
planeta sem nunca ter pago um imposto ou taxa na sua
vida. Temos também a indicação que você morreu,
reencarnou no mesmo corpo e, passo a expressão,
irrealizou.
- Você tá me perguntando isso?
- Estou-lhe a explicar a sua situação.
- Se você sabe que eu sei que fiz isso é porque eu já
sabia antes de saber que eu tinha feito aquilo que sabia.
- O problema, Sr. João irreal,
- Já disse para não me chamar isso!
- Desculpe. Como estava prestes a dizer-lhe, existe
um débito quanto à sua pessoa que deve ser esclarecido.
157
Com esta expressão é mais fácil perceber que este tal
inquiridor misterioso devia ter problemas epidérmicos. (C. Q. S.
N. A.) (Centésima Quinquagésima Sétima Nota do Autor)
- Hã?
- Quando você morreu, reencarnou e irrealizou, você
não pagou o I. L. C. E.158
- Isso não existe!
- Pois não. Mas, a agravante que torna o seu caso
ainda mais grave é você não tomar a iniciativa de tornar
isso real. As minhas ordens são claras: você tem até ao
fim do livro para me convencer que essas passagens
foram feitas involuntariamente, que houve alguém que o
manipulou.
- Houve alguém que manipulou isso tudo, sim! Foi o
narrador.
- Desculpe mas, a pessoa a quem se refere não
existe. Na verdade, você também não existe e o facto de
eu estar a falar consigo prova que eu também não existo.
Mas, isso são pormenores meramente secundários. A
verdade nua e crua significa que a última história pode
mesmo ser a última história.
- É claro que se for a última é mesmo a última.
- Depois dessa não há mais nenhuma.
- E antes?
- Antes pode ser.
- E no meio?
- Também. Mas, depois não. E agora, peço desculpas
mas tenho que ir ser atropelado.
Nesse momento, o inquiridor misterioso colocou-se
no meio da estrada e sentiu o impacto indolor de dois
camiões a dividirem o seu corpo em vários

158
Imposto de Livre Circulação Espiritual. (C. Q. O. N. A.)
(Centésima Quinquagésima Oitava Nota do Autor)
pedacinhos.159
O João irreal continuou parado no mesmo sítio por
alguns instantes, acomodando as informações recentes
no seu cérebro. Ao fim de alguns momentos, esqueceu-
se do que tinha passado, colocou as mãos nos bolsos
furados e contemplou a sua viagem pela estrada da vida.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

159
Dois pedaços já são mais que um, logo já se pode dizer que
são vários. (C. Q. N. N. A.) (Centésima Quinquagésima Nona
Nota do Autor)
Num belo dia de Verão escaldantemente frio, o João
irreal estava sentindo uma brisa quente arrefecendo o seu
corpo morno.160
Bem como o estava o João irreal que, nesse
momento, começava a sentir o suave factor forte dos
elementos castigando o seu corpo com mil carícias. A
falta de roupa era desde há muito tempo uma realidade,
mas só agora é que ele reparara nela.161
Todos aqueles farrapos, ou melhor, a falta deles
deixava-o desconfortável. Era urgente cobrir o seu corpo
com qualquer coisa.162
Assim, o João irreal caminhou pela rua abaixo e
chegou ao que parecia ser um grande empreendimento

160
No meio de todas estas contradições, uma coisa permanece
certa: o clima estava instável. (C. S. N. A.) (Centésima
Sexagésima Nota do Autor)
161
Nela, a falta de roupa, não a realidade. Não se esqueçam que
ele é irreal. (C. S. P. N. A.) (Centésima Sexagésima Primeira
Nota do Autor)
162
Não era o pudor que o preocupava nem tampouco a falta dele
– era mais o frio. Embora, como personagem fictício, ele devesse
ser insensível aos elementos. Resta então a já mencionada
hipótese do pudor, se bem que convém lembrar que a
visualização máxima que pode ser feita sobre o personagem é
meramente especulativa e, como tal, todo o pudor que puderem
imaginar ou não será apenas um produto da vossa imaginação.
(C. S. S. N. A.) (Centésima Sexagésima Segunda Nota do
Autor)
comercial.163

Mais tarde. (Já depois de ter descoberto que aquele


grande empreendimento comercial era afinal uma loja de
roupas.)
Aí, o João irreal resolveu resolver o seu problema de
roupa. Mais concretamente, a falta delas. Não que ele
estivesse nu ou isso.164
Mesmo assim, com todas estas complicações
metafísicas (chamam-se assim porque são complicações
físicas – tipo dores musculares ou tubos de ensaio
furados – que têm uma meta a atingir, seja aumentar as
dores ou destruir todos os tubos ou vice-versa.165)

Adiante que se faz tarde.


O João irreal estava já dentro da loja. Restava-lhe
agora o mais difícil – escolher o tipo de roupa a escolher.
Uma coisa ele já sabia: ia escolher roupa de homem ou

163
Mais tarde, ele descobriu que aquele empreendimento
comercial era afinal uma loja de roupas. (C. S. T. N. A.)
(Centésima Sexagésima Terceira Nota do Autor)
164
Não sei definir bem o que é o “isso”. Penso que será o estar
vestido como estado contrário ao de estar nu. Mas, sabendo tão
bem como eu sei que o João irreal não gosta de usar roupa de
mulher, é difícil acertar no significado do “isso”. (C. S. Q. N. A.)
(Centésima Sexagésima Quarta Nota do Autor)
165
Por vice-versa não se entenda diminuir os tubos de ensaio e
destruir as dores musculares. (C. S. Q. N. A.) (Centésima
Sexagésima Quinta Nota do Autor)
algo muito próximo disso.166
A loja era toda ela em tons de vermelho, azul,
branco e muitas outras cores, tantas quantas as que
restam. A decoração do local era medianamente insólita,
uma vez que nos pólos mínimos e máximos continuava a
ser insólita com os seus pilares de borracha e cortinas de
látex semitransparente.
Aí, uma empregada resolveu encurtar a distância
entre ela e o João irreal.
- Posso ajudá-lo nalguma coisa?
- Eu vinha aqui para comprar qualquer coisa para
vestir.
- Lamento muito mas aqui só vendemos roupa.
- Mas é isso mesmo que eu quero.
- Só temos camisas de látex.
- E isso não serve para vestir?
- Bom, serve mas…
- Me dê uma então!
- Não pode vestir isso na rua.
- Eu experimento aqui então.
- Não. Esqueça. Não o posso deixar levar isto.
- Porquê?
Mas tens que ser tão teimoso. Ela trabalha na loja,
ela sabe o que está a fazer, não achas?
- Tá bom.
Finalmente o João irreal compreendeu a verdade.
- Quer dizer que vocês não têm roupas.

166
O mais próximo de roupa de homem que estou a ver é roupa
de mulher mas, como já disse, o facto de ele não estar nu não
quer dizer que ele tenha um vestido vestido nem que esta história
tenha que fazer sentido. (C. S. S. N. A.) (Centésima Sexagésima
Sexta Nota do Autor)
- Não.167
A verdade era agora lúcia, perdão, lúcida;
completamente opaca em relação à mentira ou à
especulação que pretendia ser antes de ser realidade – o
João irreal estava em Vénus, não a loja mas, o planeta –
ou talvez não estivesse porque, no meio desta parábola
interplanetária, o João irreal apercebeu-se de outra coisa:
ele não podia estar em Vénus ou, pelo menos, não devia.
O seu passaporte não estava actualizado, melhor ainda,
ou pior (conforme o ponto de vista que se tomar), o João
irreal nem sequer tinha passaporte. Por isso, o João irreal
acordou na Terra e o sonho terminou.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

167
Isto não quer dizer que os funcionários e os clientes
estivessem todos nus. Embora estivessem todos com roupas
curtas de cabedal justo ou borracha transparente. (C. S. S. N. A.)
(Centésima Sexagésima Sétima Nota do Autor)
Num belo dia de Verão ensolarado168, o João irreal
estava decidido a evoluir espiritualmente. Uma função
semelhante ao upgrade que fizera no Tibete169 há algum
tempo atrás com a sagrada Bundha Aber-Tah. Mesmo
sem ter a certeza se um novo upgrade faria alguma
diferença num espírito irreal o João irreal fez as malas e
partiu para o templo budista mais próximo.170
Talvez tivesse sido o facto de se ter perdido que
levara o João irreal até aquele local místico.171 Ou isso
ou então foi apenas uma mera coincidência. Apesar de
tudo, o João irreal decidiu entrar.

QUEBRA
A história começa um pouco mal, eu sei. Quer
dizer… não é começar mal, simplesmente comecei a
história a partir de um certo ponto omitindo algumas
informações que, embora possam considerar relevantes,
irei dar depois. Gosto de criar alguma expectativa. Não

168
Porque também os há chuvosos. (C. S. O. N. A.) (Centésima
Sexagésima Oitava Nota do Autor)
169
Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (C.
S. N. N. A.) (Centésima Sexagésima Nona Nota do Autor)
170
O que foi muito rápido já que ele não tinha malas para levar e
o templo budista mais próximo estava à sua frente. (C. S. N. A.)
(Centésima Septuagésima Nota do Autor)
171
Talvez por não ter nada para fazer. (C. S. P. N. A.) (Centésima
Septuagésima Primeira Nota do Autor)
sou como alguns autores de telenovelas portuguesas que
revelam a história toda nos primeiros três episódios e
depois passam seis meses a encher chouriços.172

CONSERTO (entenda-se como conserto e não


concerto. Qualquer um dos dois faria sentido pelas
razões que irão ver mas, dado que a história tem que ter
uma continuidade narrativa, o conserto surge como
consequência da quebra. Portanto, ao falar aqui em
continuidade narrativa, não quer dizer que não possa
falar de acontecimentos passados. Essa possibilidade
existe e eu sei usá-la.)

Após esta breve lição de gramática que em nada


contribuiu para a sua felicidade, o João irreal entrou no
templo budista.173 Era um lugar lúgubre174 e
amendontrador, do género daqueles que metem medo ao
susto. Não pela desarrumação; uma vez que os budistas
não são materialistas e não podem ter objectos para
deixar desarrumados mas, pela quietude e silêncio do

172
Sinceramente, não percebo como é que uma actividade tão
tradicionalmente portuguesa, pode ser aplicada a tantas coisas.
Deve ser um eufemismo. (C. S. S. N. A.) (Centésima
Septuagésima Segunda Nota do Autor)
173
Com estes empates todos, ele ainda não tinha atravessado a
estrada. Na verdade, o trânsito estava um caos e se não fossem
estes empates narrativos, iríamos ficar muito tempo à espera que
a acção tivesse lugar. Não que isso vá acontecer. Pelo menos, não
em larga escala. (C. S. T. N. A.) (Centésima Septuagésima
Terceira Nota do Autor)
174
Do latim lugubris. (C. S. Q. N. A.) (Centésima Septuagésima
Quarta Nota do Autor)
lugar (e também pela cor das paredes)175.
Aí, o João irreal acendeu uma vela e a luz revelou a
figura estática176 da entidade suprema do budismo, o
grande Buda. Para o João irreal era apenas um gordo
careca dormindo mas, um observador mais atento
constataria que estava na presença duma divindade.177
Aí, o grande Buda178 abriu os olhos e falou:179
- Que horas são?
Ou talvez uma frase mais profunda.
- Ganda ressaca!
Aí, o grande Buda reparou na figura do João irreal
que era mesmo o próprio João irreal e não apenas uma
figura e falou:
- Quem és tu? Que queres daqui?
- Vim cá para melhorar o meu espírito.
- Aqui?
- Sim.
- O que é que queres fazer?

175
Apesar de não serem materialistas, é engraçado ver como os
templos budistas são tão grandes e como as estátuas do Buda têm
tanta aceitação junto dos fiéis e não só. (C. S. Q. N. A.)
(Centésima Septuagésima Quinta Nota do Autor)
176
Sem electricidade. (C. S. S. N. A.) (Centésima Septuagésima
Sexta Nota do Autor)
177
Na verdade, era mesmo um gordo careca dormindo mas, era
chato estragar a história só por isso, não acham? (C. S. S. N. A.)
(Centésima Septuagésima Sétima Nota do Autor)
178
Mesmo sabendo que ele não é o grande Buda, vou continuar a
tratá-lo assim só para não fazer confusão. (C. S. O. N. A.)
(Centésima Septuagésima Oitava Nota do Autor)
179
Notem que ele podia muito bem falar sem abrir os olhos mas,
caso o fizesse, poderia dar a imagem de ser maluco. (C. S. N. N.
A.) (Centésima Septuagésima Nona Nota do Autor)
- Quero que você me ajude a atingir o Nirvana.
- Qual deles?
- Hã? Não percebi.
- Qual deles?
- Isso eu percebi, não percebi foi a pergunta.
- Mas tás a gozar comigo ou quê?
Diz-lhe que é o significado da pergunta que tu não
percebes.
- É o significado da pergunta que você não percebe.
- Eu é que não percebo? Agora sou burro, é?
És tu que não percebes.
- É você que não percebe.
- Já me começas a chatear com essas bocas!
Vamos lá a ter calma.

Aí, o grande Buda acalmou-se e respirou fundo.


- Eu estou calmo… Então é assim, eles eram três. Só
que um morreu e os outros dois foram para outra
religião.
- O quê?
- Posso arranjar um boneco, se quiseres.
- Pode ser.
Aí, o grande Buda arranjou um boneco de borracha
do Nirvana e deu três pedras ao João irreal.
- Toma. Dá-lhe com força.
- Isso não é um pouco violento?
- Não. Ele é de borracha não se queixa.180
Aí, o João irreal lançou as três pedras e atingiu o
Nirvana três vezes seguidas. Aí, o João irreal sentiu-se

180
Faz sentido. É a prova de que a violência só existe quando as
vítimas se queixam. (C. O. N. A.) (Centésima Octagésima Nota
do Autor)
bem e foi-se embora. Quanto ao grande Buda continuou
a sua vida de ócio e uma semana depois morreu devido a
uma cirrose.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
VERSÃO A

Num belo dia de Verão, que parecia ser maior do que os


outros181, o João irreal estava passeando por um bosque
frondoso. Atento ao que se passava à sua volta, o João
irreal estava perdido no seu mundo interior182. Um ruído
ensurdecedor ressoava nas folhas – o João irreal estava
ficando com fome.
Aí, o João irreal caminhou alguns metros183 e
chegou numa clareira.184
181
Isto já contando que os dias de Verão são maiores que os dias
de Inverno. (C. O. P. N. A.) (Centésima Octagésima Primeira
Nota do Autor)
182
Infelizmente, ele ainda não é capaz de concentrar em duas
coisas ao mesmo tempo. É pena. (C. O. S. N. A.) (Centésima
Octagésima Segunda Nota do Autor)
183
Seria fácil dizer quantos metros foram se tivesse uma fita.
Mas, como não tenho fita, tem de ser assim. Aliás, eu penso que
foram três metros por isso, mesmo que tivesse uma fita com três
metros, e fosse mais de três metros, o máximo que poderia
colocar seria três metros e tal. Não acho que isso seja muito
preciso. Não é que assim seja mas, pelo menos, sempre fica tudo
igual. (C. O. T. N. A.) (Centésima Octagésima Terceira Nota do
Autor)
184
Clareira define-se como sendo um espaço aberto no meio da
floresta. Sei que a definição não é das melhores mas, quando
compraram isto, não deviam estar à espera dum dicionário, pois
não? (C. O. Q. N. A.) (Centésima Octagésima Quarta Nota do
Autor)
No meio da clareira estava uma casa de palha,
possivelmente de algum cidadão sem abrigo que
recebera aquele domicílio como prémio de consolo. 185 A
casa era composta por vários montes de palha presos
com um fio amarelecido pelo sol e humedecido pela
chuva. Não era o melhor dos sítios para se viver por isso
não era de estranhar que no interior desta casa rústica186
não se encontrasse uma pessoa mas, um porco. Não no
sentido alegórico do termo mas, no sentido real. Um
porco na verdadeira acepção da palavra. E, fora da casa
de palha, batendo à porta de palha da casa de palha,
estava o lobo mau.187 Passível de ser confundido com um
senhorio impiedoso ou um fiscal das finanças
inoportuno, o lobo mau era mesmo um lobo, embora não
fosse tão mau como faziam crer, tinha era fome. E foi
justamente essa proximidade de ruídos provocados por
zonas estomacais (aliado ao mau cheiro e à não
existência de ambos) que levou o João irreal a ajudar o
lobo mau a arrombar a porta de palha da casa de palha e,
uma vez lá dentro, a pôr o porco do inquilino188 no
espeto.
Serviram-no com batatas cozidas. O lobo, apesar de

185
Não há nada como um bom eufemismo. (C. O. Q. N. A.)
(Centésima Octagésima Quinta Nota do Autor)
186
Outro eufemismo. (C. O. S. N. A.) (Centésima Octagésima
Sexta Nota do Autor)
187
Sabendo que o lobo mau estava lá fora, é possível saber que
alguém se encontra dentro da casa. Encontra-se não quer dizer
que esse alguém esteja a passar por uma crise de identidade, quer
dizer apenas que está alguém em casa. (C. O. S. N. A.)
(Centésima Octagésima Sétima Nota do Autor)
188
Que neste caso é o próprio inquilino. (C. O. O. N. A.)
(Centésima Octagésima Oitava Nota do Autor)
mau, sabia cozinhar bem e os dois lá conseguiram calar
os estômagos um bocadinho.

- Soube bem, não soube?


- É… mas eu ainda tenho fome.
Assim, o João irreal e o lobo saíram da casa de palha
que entretanto ardera devido à grande ideia que tiveram
de deixar o lume aceso e seguiram à procura de novos
petiscos.189
Chegaram numa casa de madeira velha190 situada
num bairro-da-lata qualquer. Era o lar do segundo porco
da história.191 O lobo mau bateu à porta mas, ninguém
respondeu. Talvez não estivesse ninguém ou talvez este
porco não seja burro ao ponto de responder como o
outro.192 Mas, apesar da cautela que teve, o porco não se
safou do tacho. Sim, porque apesar das implicações que
isto possa ter, foi por culpa do primeiro porco que o
destino do segundo porco ficou traçado.

Eu explico: o João irreal sentiu-se mal e como não


havia nenhuma casa-de-banho ali perto, resolveu pedir
ao lobo para arrombar a porta para poder usar a casa-de-

189
Aqui está uma frase simples. (C. O. N. N. A.) (Centésima
Octagésima Nona Nota do Autor)
190
Tanto a casa como a madeira eram velhas. (C. O. N. N. A.)
(Centésima Nonagésima Nota do Autor)
191
Também em sentido alegórico. (C. N. P. N. A.) (Centésima
Nonagésima Primeira Nota do Autor)
192
Isto não significar responder literalmente da mesma maneira.
(C. N. S. N. A.) (Centésima Nonagésima Segunda Nota do
Autor)
banho. Qual não foi a sua surpresa193 ao verem o porco
sentado no sofá.194

A preparação do segundo porco foi mais simples e


num lapso de bom cidadanismo decidiram assar o porco
ali mesmo queimando a barraca de madeira contribuindo
assim para o desaumento das barracas.195196
Tudo corria bem e, segundo a velha máxima popular
“não há duas sem três”, o João irreal e o lobo seguiram
até ao último pitéu do dia.

O terceiro porco vivia num apartamento na


Almirante Reis. Pela primeira vez, o lobo mau estava
com dificuldades. Primeiro, porque a porta do prédio
estava fechada e ninguém do prédio a queria abrir.
Segundo, porque por mais que soprasse, não havia meio
do prédio cair. Terceiro, porque não havia nenhuma
terceira razão mas máxima repete-se.
Pareciam ter chegado ao fim do seu rally quando o

193
Surpresa para qualquer um deles. (C. N. T. N. A.) (Centésima
Nonagésima Terceira Nota do Autor)
194
Afinal a surpresa tinha sido para todos eles, menos para o
porco, ou seja, apenas deles os dois, sendo que nenhum deles era
porco sem ser eufemisticamente. Resta dizer que o porco só se
surpreendeu quando lhe espetaram um garfo no lombo. (C. N. Q.
N. A.) (Centésima Nonagésima Quarta Nota do Autor)
195
É o que se chama unir o útil ao agradável embora, a meu ver
comer seja mais útil que queimar barracas. É o que eu acho. Não
vejo nada de agradável nisso, principalmente se eu morasse
numa. (C. N. Q. N. A.) (Centésima Nonagésima Quinta Nota do
Autor)
196
Outra frase simples. (C. N. S. N. A.) (Centésima Nonagésima
Sexta Nota do Autor)
milagre aconteceu.
O prédio todo entrou em derrocada e o terceiro e
último porco viu-se ao ar livre.197 O João irreal e o lobo
não esperaram mais. Agarraram o porco antes que ele
fugisse e resolveram comê-lo mesmo cru.198 Foi o
melhor da noite e o que se pode chamar um final em
beleza porque, graças a um alvará mal dado, o João
irreal e o lobo tiveram uma farta refeição.
Aí, depois de palitar os dentes, o João irreal foi-se
embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

197
Graças ao espelho que tinha na mão. (C. N. S. N. A.)
(Centésima Nonagésima Sétima Nota do Autor)
198
Quando o resolveram comer, já o porco já estava a comer. (C.
N. O. N. A.) (Centésima Nonagésima Oitava Nota do Autor)
VERSÃO B

Num belo dia de Verão, o João irreal continuava


cheio de fome apesar de ter comido três porcos na
história anterior.199 Era essa a razão que levava o João
irreal a procurar pelo menos mais um porco.
Mas onde é que o João irreal iria encontrar um
porco? Num talho? A hipótese era demasiado ridícula
para ser ponderada.200
Ali na cidade o João irreal nunca iria encontrar um
porco. Aí, o João irreal decidiu sair da cidade e ir para
uma zona rural.201 Chegando lá, o João irreal viu três
porcos pastando.202 Rapidamente, o João irreal correu

199
Bem, não foram exactamente três porcos, uma vez que ele não
os comeu sozinho. Deve ter sido um porco e meio. Aliás, como o
lobo mau só era mau quando tinha fome, o João irreal só deve ter
comido um porco. Não me perguntem o que é que ele andou a
fazer durante o resto da história. (C. N. N. N. A.) (Centésima
Nonagésima Nona Nota do Autor)
200
Tão ridícula que nem devia ter sido mencionada, só que agora
é tarde para apagar. Quer dizer, ainda posso apagar mas, depois o
que é que eu faço com esta nota de rodapé? (D. N. A.)
(Duzentima Nota do Autor)
201
Campestre. (D. P. N. A.) (Duzentima Primeira Nota do
Autor)
202
Na verdade eram leitões. (D. S. N. A.) (Duzentima Segunda
Nota do Autor)
atrás do porco mais próximo que estava junto dele203 e,
rapidamente, o porco correu à frente do João irreal. Os
outros dois porcos ficaram olhando. Estavam muito
calmos para quem estava numa situação daquelas. Talvez
eles soubessem que o João irreal já tinha comido pelo
menos um porco e pensassem que mais um iria matar-lhe
a fome mas, mesmo que soubessem quantos porcos é
que o João irreal tinha comido, é impossível calcular o
tamanho do estômago do João irreal. Por isso, só um
deles é que devia estar e não os dois. Talvez pensassem
que se dois não chegassem, três seriam conta certa e um
deles iria se safar.
Aí, o João irreal apanhou o porco e, no momento em
que ia fincar o dente no lombo, um cara num cavalo
vestido de branco surgiu galopando204 e impediu o João
irreal de cometer tão pérfido acto.
- Pára!
- Porquê?
- Porque Deus manda ser amigo de todos, até dos
porcos.205
- Eu não ligo para o que esse cara diz não.
- Estás a cometer um sacrilégio!
- Olhe a minha cara de preocupado.206 Se você

203
Dele do João irreal e não dele do próprio porco. (D. T. N. A.)
(Duzentima Terceira Nota do Autor)
204
O cavalo é que vinha galopando. (D. Q. N. A.) (Duzentima
Quarta Nota do Autor)
205
Talvez seja por isto que os porcos se estavam a rir. (D. Q. N.
A.) (Duzentima Quinta Nota do Autor)
206
Bem gostaria que conseguissem ver a cara dele neste
momento porque, efectivamente, ele não está preocupado. (D. S.
N. A.) (Duzentima Sexta Nota do Autor)
continuar me chateando assim desse jeito, eu não vou ser
seu amigo não!
- Bolas!
Tudo parecia indicar que o cara no cavalo vestido de
branco207 iria desistir. Bom, não era exactamente tudo,
apenas a grande maioria dos factores relacionados com o
caso.
- Já sei! Não podes comer esse porco por causa do
embargo!
- Tá bom… Eu como só os outros dois.
- Não. Também não podes. É a toda a carne de
porco.
- Droga!
- Também não podes.
- Não é droga no sentido de droga, é droga no
sentido de droga.208
- Vá. Vai-te embora.

PAUSA

Entramos agora num momento de softgorenarrativo.


- Você toma banho?

207
Era mesmo o cavalo que estava vestido de branco. O cavaleiro
tinha um vestido cor-de-rosa. Talvez fosse por isso que ninguém
o levasse a sério. (D. S. N. A.) (Duzentima Sétima Nota do
Autor)
208
Isto soa bem dito. A entoação ajuda muito. É claro que eu
podia criar o efeito pretendido com uma melhor pontuação. Mas,
também podia ser médico e cientista astrofísico se quisesse, não
é? Uma coisa não impede a outra. (D. O. N. A.) (Duzentima
Oitava Nota do Autor)
- Sim. Porquê?
- Existe algum embargo à carne humana?
- Não.
Aí, o João irreal saltou para cima do cavaleiro
vestido com um vestido cor-de-rosa, sentado no cavalo
vestido de branco e fincou os dentes no seu pescoço209
mas, o cavaleiro do vestido cor-de-rosa sentado no
cavalo vestido de branco sabia tão mal que o João irreal
vomitou-o e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

209
O João irreal fincou os dentes no pescoço do cavaleiro do
vestido cor-de-rosa sentado no cavalo vestido de branco. (D. N.
N. A.) (Duzentima Nona Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, que iria ficar muito feito210, o
João irreal estava sentado numa pedra pensando na sua
vida. Não que tivesse uma vida muito interessante para
pensar ou mesmo sequer a capacidade de fazer isso mas,
soa melhor do que escrever que ele não estava a fazer
nada.211
Num belo dia de Verão, o João irreal estava sentado
numa rocha sem fazer nada.212
(Querias que fosse literal onde? Na televisão?)
E digo mais, era uma rocha granítica.213
É para não dizeres que eu não disse que a rocha era
granítica e depois eles pensam que é basáltica.214
Mas o que é que tu percebes disso? És algum
rochólogo?215

210
Não seria bem o dia que iria ficar feio. Embora eu preveja
alguns acontecimentos para esta história é possível que esses
acontecimentos só aconteçam à noite. (D. D. N. A.) (Duzentima
Décima Nota do Autor)
211
A desonestidade para com o leitor soa melhor, não é? (D. D. P.
N. A.) (Duzentima Décima Primeira Nota do Autor)
212
Não é preciso ser tão literal. (D. D. S. N. A.) (Duzentima
Décima Segunda Nota do Autor)
213
Não creio que isso vá ter muito interesse para a história. (D.
D. T. N. A.) (Duzentima Décima Terceira Nota do Autor)
214
Na verdade, a rocha é sedimentar. (D. D. Q. N. A.)
(Duzentima Décima Quarta Nota do Autor)
215
Isso é o quê? (D. D. Q. N. A.) (Duzentima Décima Quinta
Nota do Autor)
Alguém que estuda as rochas.216
Isso é quem estuda o gelo.217

Continuámos nesta conversa sem nexo até que o


João irreal interrompeu-nos.
- Ei!
“Ei!” o quê? O que é que queres?
- Eu não quero nada. Você é que me disse para
interromper.
E tinhas logo que fazer esse “Ei!”?218
Tu cala-te!219
Mas pode avisar.220
Agora que falas nisso. Sabes dalguma coisa?221
Eu bem me queria parecer que faltava qualquer
coisa. Qual é o título?222
O FIM DO JOÃO IRREAL. Vamos lá pensar em

216
Não queres dizer geólogo? (D. D. S. N. A.) (Duzentima
Décima Sexta Nota do Autor)
217
Não te esqueças que o gelo também pode vir em pedras. (D.
D. S. N. A.) (Duzentima Décima Sétima Nota do Autor)
218
Sempre soa melhor que “Vou interromper.” (D. D. O. N. A.)
(Duzentima Décima Oitava Nota do Autor)
219
Calo-me porquê? Quando alguém vai interromper não diz que
vai interromper, interrompe e pronto. (D. D. N. N. A.)
(Duzentima Décima Nona Nota do Autor)
220
Se quiser. O mais engraçado é que parece que estamos a
esquecer-nos de qualquer coisa. (D. V. N. A.) (Duzentima
Vigésima Nota do Autor)
221
Não. Desde a história começou que ainda não parámos de
discutir. (D. V. P. N. A.) (Duzentima Vigésima Primeira Nota do
Autor)
222
O FIM DO JOÃO IRREAL. (D. V. S. N. A.) (Duzentima
Vigésima Segunda Nota do Autor)
qualquer coisa.
- Para o meu fim?
Tu não pensas.
- Isso já eu sei.
Não é isso. Não pensas na história, fica só para nós
os dois que somos as partes não intervenientes.
- Parece é que vocês andam interferindo demais.
O que é queres dizer com isso? Queres dizer que por
termos a maior percentagem de texto desta história que
estamos a monopolizá-la?
- Não.
Mas pensaste, não foi?
- Você disse que eu não penso.
O. K.

Aí, nós começámos pensando numa história para a


ideia.223 Não! É uma história para a ideia! A ideia já
temos, é o fim dele, só nos falta a história.

PAUSA PARA INSPIRAÇÃO


Inspira…

PAUSA PARA EXPIRIÇÃO


Expira…
Já sei!224
Vais ver.

223
Ou uma ideia para a história. (D. V. T. N. A.) (Duzentima
Vigésima Terceira Nota do Autor)
224
Não me digas que tiveste uma ideia dum só fôlego? Deve ser
uma bela ideia… (D. V. Q. N. A.) (Duzentima Vigésima Quarta
Nota do Autor)
Aí, o João irreal levantou-se e caminhou para longe
da rocha.225
Tem lá calma contigo!
Após tantas andanças, o João irreal decidira que
estava farto de ser irreal.
- Estou?
Sim, estás.226
Vem a propósito da história.227
Ora! Real, é claro.
- Mas o Real não é claro.228
É por não ser claro que se torna mais visível.
- Então eu vou ser real de novo?
Vais.
- Como?
Deixa isso comigo.

Aí, o João irreal foi parar num laboratório


pertencente a um cientista maluco.229
Como? Sei lá como! Foi! É preciso saber mais o
quê?230 Tu fazes o mesmo!231 Sim. Andas sempre a

225
Até agora não vi nada. (D. V. Q. N. A.) (Duzentima Vigésima
Quinta Nota do Autor)
226
A que propósito é que vem essa ideia? (D. V. S. N. A.)
(Duzentima Vigésima Sexta Nota do Autor)
227
Não. A ideia de não querer ser irreal. Vai ser o quê? (D. V. S.
N. A.) (Duzentima Vigésima Sétima Nota do Autor)
228
Um pequena piada de âmbito pessoal. (D. V. O. N. A.)
(Duzentima Vigésima Oitava Nota do Autor)
229
Como? (D. V. N. N. A.) (Duzentima Vigésima Nona Nota do
Autor)
230
Omissão de factos. (D. T. N. A.) (Duzentima Trigésima Nota
do Autor)
omitir que és parvo!
- Ei! A história é minha!
Tu cala-te! Vou despachar-te já!
Aí, o João irreal foi agarrado por um cientista
maluco e foi colocado numa máquina e ficou real.232
Eu disse-lhe.233
Eu disse-lhe.
Aí, o João irreal decidiu chamar-se João que já foi
irreal mas que agora existe outra vez.
- Decidi?
Sim. E a história acabou.234
Ele já era maluco. Se não fosse não tinha aceitado235
entrar na história.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

231
Eu?! (D. T. P. N. A.) (Duzentima Trigésima Primeira Nota do
Autor)
232
Como é que o cientista sabia que o João irreal estava lá? (D. T.
S. N. A.) (Duzentima Trigésima Segunda Nota do Autor)
233
Como é que ele sabia que tu estavas lá? (D. T. T. N. A.)
(Duzentima Trigésima Terceira Nota do Autor)
234
Esqueceste-te de dizer que o cientista só ficou maluco depois
de conhecer o João irreal. (D. T. Q. N. A.) (Duzentima Trigésima
Quarta Nota do Autor)
235
É aceite que se diz. (D. T. Q. N. A.) (Duzentima Trigésima
Quinta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez decidiu partir numa missão secreta
à lua. De facto, a missão era tão secreta que ninguém,
nem mesmo ele, sabia da sua existência.236 Assim, o João
que já foi irreal mas agora existe outra vez entrou num
foguetão e partiu em direcção à lua.237
A culpa não foi minha!238
- Importam-se de me dar uma mão?
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez foi parar na lua.239
Cala-te.240
No outro lado.241

236
Coloca-se assim o porquê da missão. (D. T. S. N. A.)
(Duzentima Trigésima Sexta Nota do Autor)
237
Ou teria partido se alguém não tivesse calculado mal a
trajectória. (D. T. S. N. A.) (Duzentima Trigésima Sétima Nota
do Autor)
238
Tu é que te picaste. (D. T. O. N. A) (Duzentima Trigésima
Oitava Nota do Autor)
239
Sabes que isso não é muito convincente, não sabes? (D. T. N.
N. A.) (Duzentima Trigésima Nona Nota do Autor)
240
Em que lado é que ele calhou? (D. Q. N. A.) (Duzentima
Quadragésima Nota do Autor)
241
Como é que sabes que é o outro lado e não o lado de cá? (D.
Q. P. N. A.) (Duzentima Quadragésima Primeira Nota do
Autor)
Porque a partir do momento em que existem dois
lados, passam os dois a ser opostos em relação ao outro
lado. Percebes?242
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez levantou a gola do seu sobretudo e ajeitou os seus
óculos escuros e…243
Alguma vez viste alguém partir numa missão secreta
sem sobretudo e óculos escuros?244
Então como é que sabes que o sobretudo e os óculos
escuros não fazem parte dos itens recomendados?245

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra


vez partiu em direcção à base lunar.246
A base lunar que está na lua.247
É onde se vai passar a acção.248
- Posso falar?

242
Quase. (D. Q. S. N. A.) (Duzentima Quadragésima Segunda
Nota do Autor)
243
Calminha aí! Sobretudo e óculos escuros? Donde é que isso
veio? (D. Q. T. N. A.) (Duzentima Quadragésima Terceira Nota
do Autor)
244
Eu nunca vi ninguém a partir numa missão secreta para lado
nenhum. (D. Q. Q. N. A.) (Duzentima Quadragésima Quarta
Nota do Autor)
245
Não sei. De qualquer modo, és tu que pagas. (D. Q. Q. N. A.)
(Duzentima Quadragésima Quinta Nota do Autor)
246
Qual base lunar? (D. Q. S. N. A.) (Duzentima Quadragésima
Sexta Nota do Autor)
247
É claro que a base lunar está na lua!!! Se é uma base lunar é
porque está na lua! Eu quero saber é o que ela faz lá. (D. Q. S. N.
A.) (Duzentima Quadragésima Sétima Nota do Autor)
248
Mas a acção não se vai passar na lua. (D. Q. O. N. A.)
(Duzentima Quadragésima Oitava Nota do Autor)
Não! Isto é conversa de gente grande! Não te
metas!249
E não achas isso estranho? Porque é que não
existem? Porque alguém não quer que elas existam.250
Gostavas de viver na lua?
- Não.
Então vai passear!
- Tá bom.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez foi passear para a Terra e a missão secreta acabou.
Acabou por não haver pois ninguém sabia o que era para
fazer.
E o homem do casaco branco fez xeque ao rei.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

249
Que interesse é que a base tem para a história? Nem sequer
existem bases lunares. Nem na lua, nem em lado nenhum. (D. Q.
N. N. A.) (Duzentima Quadragésima Nona Nota do Autor)
250
Talvez ninguém as tenha construído ainda. Já pensaste nisso.
Pergunta lá a ele se gostava de viver na lua? (D. Q. N. A.)
(Duzentima Quinquagésima Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez, imbuído de espírito natalício251, o
João que já foi irreal mas agora existe outra vez resolveu
pôr em prática o maior número de boas acções possível.
A melhor opção seria talvez apostar nas empresas
privatizadas, nos grandes grupos económicos ou nos
negócios de vanguarda. Assim, o João que já foi irreal
mas agora existe outra vez resolveu ir num lugar onde
suas boas acções seriam muito mais apreciadas –
Jerusalém.252
Dito e feito! O João que já foi irreal mas agora
existe outra vez estava em Jerusalém.253

251
Era o João que já foi irreal mas agora existe outra vez que
tinha o espírito natalício e não o dia. No Verão, não há Natal. (D.
Q. P. N. A.) (Duzentima Quinquagésima Primeira Nota do
Autor)
252
Na verdade, qualquer razão é válida uma vez que o título
implica que ele vai para lá de qualquer. Sendo que “de qualquer
maneira” não só se refere ao motivo da viagem como também ao
meio de deslocação. (D. Q. S. N. A.) (Duzentima
Quinquagésima Segunda Nota do Autor)
253
E agora a primeira fala da História. Não da História em si,
apenas desta. (D. Q. T. N. A.) (Duzentima Quinquagésima
Terceira Nota do Autor)
- Uau!
O João que já foi irreal mas agora existe outra vez
estava pasmado. Aquilo era só areia.
- Em quem é que eu vou praticar as minhas boas
acções?
Já viram um espírito tão generoso?254
- Cambada de idiotas que só me tão fazendo perder
tempo!
Aí surgiu a primeira vítima do dia.255 Era um
homem velho e careca e com uma barba branca e grande.
Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra vez
aproximou-se e perguntou para ele.
- Você precisa de ajuda?
Aí o velho começou falando numa língua estranha256
e o João que já foi irreal mas agora existe outra vez
percebeu o que se passava com ele257 - o velho não sabia
falar. Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez deu uma valente surra no velho.258

254
Com esta expressão não estou a desejar que o João que já foi
irreal mas agora existe outra vez morra, nem tão pouco estou a
compará-lo a um vinho. (D. Q. Q. N. A.) (Duzentima
Quinquagésima Quarta Nota do Autor)
255
Resta saber se era vítima antes ou depois. (D. Q. Q. N. A.)
(Duzentima Quinquagésima Quinta Nota do Autor)
256
Por língua, entenda-se dialecto. Embora, para alguns, uma
língua seja sempre uma língua, neste caso não é. (D. Q. S. N. A.)
(Duzentima Quinquagésima Sexta Nota do Autor)
257
Com ele, o velho. (D. Q. S. N. A.) (Duzentima
Quinquagésima Sétima Nota do Autor)
258
O que não o curou nem o pôs a falar bem. Mas, como não
voltou a falar mal, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez achou que estava tudo bem. (D. Q. O. N. A.) (Duzentima
Quinquagésima Oitava Nota do Autor)
Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra vez
mandou o velho embora. A primeira vítima estava
curada.
Pouco depois259, apareceu a segunda pessoa. Era
uma criança que também não sabia falar bem mas aí, o
João que já foi irreal mas agora existe outra vez não quis
ajudá-la.
- Porque não?
Porque pensaste como não há duas sem três, o resto
das pessoas também deve falar mal.
- Pensei, é?
Não é “pensei, é?”, é “pensei, foi?”
- Foi?
Foi.
- Porquê?
Porque chegaste à conclusão que cometeste um erro.
- Cheguei?
Mas tu és estúpido ou fazes-te? Não tens vontade
própria para assumires os teus actos?
- Não.
Claro que não! Hã… Espera lá. Sou eu que estou a
escrever isto, não é?
- Não é “não é?”, é “não sou?”.
Não és o quê?
- Nada.
Eu sei disso.
- O quê?
Esquece.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
259
Isto ao leitor não faz muita diferença. Ser pouco depois,
depois ou muito depois – o tempo de leitura é o mesmo. (D. Q.
N. N. A.) (Duzentima Quinquagésima Nona Nota do Autor)
vez esqueceu-se do estava a fazer ali.
- O que é eu estou fazendo aqui?
Vêem? Ele quando quer até sabe.

E assim, o João que já foi irreal mas agora existe


outra vez decidiu ir para um sítio onde as pessoas
falassem bem e foi-se embora.

- Decidi partir para um sítio onde as pessoas falem


bem e vou-me embora.
Agora, estás a ser chato.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

260

Ele não espancou o resto das pessoas. Queres


melhor boa acção do que essa?

260
Então e o resto das boas acções? (D. S. N. A.) (Duzentima
Sexagésima Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez estava perdido no lado do
deserto.261 Parecia inevitável o que ia acontecer e tanto
era que aconteceu mesmo – o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez perdeu-se no deserto. Aí, o João
que já foi irreal mas agora existe outra vez começou
avançando à procura da saída.262
Sim, mas se ele fizesse isso a história acabava aqui.
É isso que tu queres?263
Não, obrigado.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez caminhou pelo deserto. E, algum tempo depois,
estava perdido no deserto. Aí, o João que já foi irreal
mas agora existe outra vez começou ficando com fome e
sede e frio e264

261
Digo lado porque ele ainda não tinha saído da zona periférica.
(D. S. P. N. A.) (Duzentima Sexagésima Primeira Nota do
Autor)
262
Sem saber que bastava voltar para trás. (D. S. S. N. A.)
(Duzentima Sexagésima Segunda Nota do Autor)
263
Isso é uma pergunta de retórica, não é? (D. S. T. N. A.)
(Duzentima Sexagésima Terceira Nota do Autor)
264
Frio?! (D. S. Q. N. A.) (Duzentima Sexagésima Quarta Nota
do Autor)
Era de noite.265o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez estava desesperado pois tinha perdido as
chaves de casa.
- Mas eu não tenho casa.
Aí tens mais um motivo para ficares desesperado,
não achas?
- Mas se eu não tenho a culpa é sua.
Ai é assim que retribuis a minha generosidade?266
Tu cala-te que a conversa não é contigo.
Assim, o João que já foi irreal mas agora existe
outra vez continuou com fome e sede e frio mas já não
estava tão desesperado como antigamente.267
Importas-te?
Aí, o personagem central268 desta história surgiu
perante um António, perdão, atónito269 João que já foi
irreal mas agora existe outra vez – o grande Alá. O
grande Alá tinha uma missão – converter o João que já
foi irreal mas agora existe outra vez à não-violência.
- Ahbakroa jfreg ihssmolek.
- Oi para você também.
Em troca, o grande Alá diria ao João que já foi irreal
mas agora existe outra vez como sair do deserto.

265
Tens sempre resposta para tudo, não tens? (D. S. Q. N. A.)
(Duzentima Sexagésima Quinta Nota do Autor)
266
Tu é que começaste. (D. S. S. N. A.) (Duzentima Sexagésima
Sexta Nota do Autor)
267
Embora continuasse sem casa. (D. S. S. N. A.) (Duzentima
Sexagésima Sétima Nota do Autor)
268
É central porque o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez encontrou-o no centro do deserto. (D. S. O. N. A.)
(Duzentima Sexagésima Oitava Nota do Autor)
269
Do latim atonitum. (D. S. N. N. A.) (Duzentima Sexagésima
Nona Nota do Autor)
- Fahzi fohlar ahkbir.
- É isso aí.
O único problema é que o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez não conseguia perceber nada do
que o grande Alá estava falando. Por isso, o João que já
foi irreal mas agora existe outra vez decidiu ir-se embora
e voltou para trás.270
Eu nunca disse que ele não sabia, o que eu disse foi
que se ele tivesse voltado atrás logo no início, não ia
haver história271
- Eu também não gostei.
Mas tu aqui não mandas nada.
Assim, o João que já foi irreal mas agora existe
outra vez saiu do deserto e continuou sem mandar nada.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

270
Afinal, ele sabia. (D. S. N. A.) (Duzentima Septuagésima
Nota do Autor)
271
E achas que assim houve? (D. S. P. N. A.) (Duzentima
Septuagésima Primeira Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez decidiu regressar ao passado.272
Mais concretamente à Pré-história, à época e local273
onde conhecera o seu velho amigo274 Eduardo Mãos-de-
Sílex.275
- Porquê?
Porquê o quê?
- Porquê que eu vou para a Pré-História?
Não leste o primeiro parágrafo?
- Sim, mas já é a segunda vez que eu vou para a Pré-
História neste livro.
Não é a segunda, é a primeira, a outra primeira não
contou.
- Aquilo não era a Pré-História?

272
Chama-se regresso porque ele já tinha estado no passado
antes. Basta estar no presente para ter estado no passado, não é?
(D. S. S. N. A.) (Duzentima Septuagésima Segunda Nota do
Autor)
273
Não tenho muito certeza quanto ao local. (D. S. T. N. A.)
(Duzentima Septuagésima Terceira Nota do Autor)
274
Desde a Pré-História já deve ser um fóssil. (D. S. Q. N. A.)
(Duzentima Septuagésima Quarta Nota do Autor)
275
Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (D.
S. Q. N. A.) (Duzentima Septuagésima Quinta Nota do Autor)
Mais ou menos, era a Pós-Pré-História.
E assim, sem que o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez reparasse, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez foi parar na verdadeira Pré-
História.276
- E o que é que eu vou fazer quando o vir?
Dizes olá.
- E depois?
Ainda não sei.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez viu o seu amigo Eduardo Mãos-de-Sílex.
- Hã… Esqueci.
Olá…
- É isso. Oi.
Não é “oi”, é “olá”.
- Oi.
Olá!
- Oi.
Olá!!!
- Olá para vocês também.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez e eu ficámos surpreendidos. Desde quando é que o
Eduardo Mãos-de-Sílex conseguia falara tão bem?
- Tive que aprender. Afinal de contas, o gestor da
primeira multi-cavernal da História277 não pode ser um
bruto selvagem e insensível. Quer dizer, nem sempre…
Como é que tu viste o outro parágrafo?

276
Não que a outra fosse falsa. (D. S. S. N. A.) (Duzentima
Septuagésima Sexta Nota do Autor)
277
É a primeira porque ainda não se tinha falado de nenhum
antes. (D. S. S. N. A.) (Duzentima Septuagésima Sétima Nota do
Autor)
- Faz parte da minha consciência universal.
- Eu não gosto dele! Quero ir embora!
Eu também. Não suporto gente que pensa.
- É por isso que você anda comigo?
É.
- O que é que você quis dizer com isso?
Nada, nada.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez voltámos ao presente278 e a história acabou.

Quanto ao Eduardo Mãos-de-Sílex, continuou na


Pré-História e fez da Fumo-Pizza uma empresa de
prestígio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

278
Não importa onde eles vão. É sempre presente se estiverem lá
presentes, perceberam? (D. S. O. N. A.) (Duzentima
Septuagésima Oitava Nota do Autor)
VERSÃO A

Num belo dia de verão, o João que já foi irreal mas


agora existe outra vez sentiu uma apetência gravítica
proveniente do chão.279 Antes de se levantar do chão280 o
João que já foi irreal mas agora existe outra vez ficou
com o ouvido encostado no chão e ouviu um trotar
várias vezes.281 Aí, o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez levantou-se e olhou para o horizonte e
não viu nada.282 Aí, o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez olhou para trás e viu um bando de caras
cavalgando em camelos.283 Eram muitos, tantos que o
João que já foi irreal mas agora existe outra vez não os

279
Acho que isto é uma queda. (D. S. N. N. A.) (Duzentima
Septuagésima Nona Nota do Autor)
280
Foi mesmo uma queda. (D. O. N. A.) (Duzentima Octagésima
Nota do Autor)
281
Ele não ouviu um várias vezes, ouviu vários várias vezes, mas
como vinha tudo junto era difícil distinguir. (D. O. P. N. A.)
(Duzentima Octagésima Primeira Nota do Autor)
282
Porque eles vinham do outro lado. (D. O. S. N. A.)
(Duzentima Octagésima Segunda Nota do Autor)
283
Cavalgar também dá para camelos, não dá? (D. O. T. N. A.)
(Duzentima Octagésima Terceira Nota do Autor)
conseguia contar. Aí, o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez tentou fugir, mas antes que tivesse
tempo de pensar em fazer isso284 o bando dividiu-se e
rodeou o João que já foi irreal mas agora existe outra vez
por todos os lados.285 O João que já foi irreal mas agora
existe outra vez estava cercado.286
Aí, o bando parou e todos desceram dos seus
camelos. Todos menos um. Aí, o João que já foi irreal
mas agora existe outra vez pensou:
“Deve ter medo de descer e não conseguir subir.”
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez resolveu ir junto do cara que estava no camelo, mas
antes que fizesse isso287 o resto do grupo288 agarrou no
João que já foi irreal mas agora existe outra vez e
afastou-o do cara que estava no camelo. O João que já
foi irreal mas agora existe outra vez estava preso por um
bando de malfeitores.289 Este era o bando dos cinquenta
ladrões290 e o cara que estava no camelo era o seu chefe

284
E em fugir. (D. O. Q. N. A.) (Duzentima Octagésima Quarta
Nota do Autor)
285
Menos por cima e por baixo. (D. O. Q. N. A.) (Duzentima
Octagésima Quinta Nota do Autor)
286
Menos por cima e por baixo. (D. O. S. N. A.) (Duzentima
Octagésima Sexta Nota do Autor)
287
Esta foi um bocado fora de tempo. (D. O. S. N. A.)
(Duzentima Octagésima Sétima Nota do Autor)
288
Não foi todo o resto. Foram só dois ou três. (D. O. O. N. A.)
(Duzentima Octagésima Oitava Nota do Autor)
289
O “possivelmente” refere-se ao bando ser de malfeitores e não
ao João que já foi irreal mas agora existe outra vez estar preso.
(D. O. N. N. A.) (Duzentima Octagésima Nona Nota do Autor)
290
A contar com o chefe. (D. N. N. A.) (Duzentima Nonagésima
Nota do Autor)
Ali Babasse, um facínora sanguinário com grandes
problemas de incontinência salivar. Aí, um dos
malfeitores colocou um balde debaixo do queixo do
chefe Ali Babasse e o chefe Ali Babasse disse:
- Tu!
Foi o suficiente para o balde ficar cheio. O malfeitor
pegou logo noutro balde e colocou-o debaixo do queixo do
chefe Ali Babasse.
- Quem? Eu?
- Estás a ver mais alguém?
Mais cinco baldes e um copo para o ponto de
interrogação.
- Tou. Olhe aí tanta gente.
- Eles não contam.291
Mais três baldes.
- Sabes para que lado é que fica o horizonte?
Mais nove baldes e um copo.
- É sempre em frente.
Aí, o bando de malfeitores foi-se embora e o João
que já foi irreal mas agora existe outra vez ficou sozinho
com dezoito baldes e dois copos cheios de saliva.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

291
Isto não significa que eles não sabem contar, significa que a
opinião deles não interessa. Isto também não quer dizer que a
opinião deles nunca interessa. Neste caso, não. (D. N. P. N. A.)
(Duzentima Nonagésima Primeira Nota do Autor)
VERSÃO B

Num belo dia de Verão, a sede era tanta que o João


que já foi irreal mas agora existe outra vez não podia
aguentar mais com tanto sofrimento. Teria sido bem
melhor se em vez de ter ido para o deserto, tivesse ido
para uma lanchonete ou qualquer outro sítio onde
houvesse água. Potável, de preferência.
- Foi você que quis começar a história no deserto e
não eu.
Porque é que só abres a boca para me criticares?
- Não tou criticando, tou reclamando.
- E não é a mesma coisa?
- Não.
Ai não? Então qual é a diferença?
- Não sei.
Não sabes?
- Não.
Então se não sabes qual é a diferença como é que
sabes que não é a mesma coisa?
- Porque sei.
Mas como?
292

292
Eu explico. (D. N. S. N. A.) (Duzentima Nonagésima
Segunda Nota do Autor)
Sou todo ouvidos.293
Isso quer dizer que ele tem inveja de mim?294
Ai é? Então agora é que começo mesmo a história
no deserto!295
Não. A história começa agora.

Vagueando pelas tórridas areias do deserto, sob um


sol escaldante, o João que já foi irreal mas agora existe
outra vez andava em busca de água. E tudo porque é um
personagem muito mal agradecido.
- Você não é capaz de aceitar uma crítica!
Ai agora já é crítica? Agora não quero saber!
Então, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez chegou numa zona habitacional296 e perguntou se
tinham água.
- Vocês t-
Mas, antes que o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez pudesse concluir a sua pergunta, eles
responderam logo:
- Não!
- Porque é que você não me deixou terminar a

293
Reclamar é quando não gostamos daquilo que um pessoa faz
ou fez. Criticar é quando gostamos daquilo que uma pessoa faz
ou fez mas dizemos que não gostamos daquilo que essa pessoa
faz ou fez porque temos inveja daquilo que essa pessoa faz ou
fez. (D. N. T. N. A.) (Duzentima Nonagésima Terceira Nota do
Autor)
294
Não. Quer dizer que ele não gosta do que você faz ou fez. (D.
N. Q. N. A.) (Duzentima Nonagésima Quarta Nota do Autor)
295
Pensava que isto era já a história. (D. N. Q. N. A.) (Duzentima
Nonagésima Quinta Nota do Autor)
296
Habitacional no sentido de ter casas. (D. N. S. N. A.)
(Duzentima Nonagésima Sexta Nota do Autor)
pergunta?
Porque eu disse “antes que o João que já foi irreal
mas agora existe outra vez pudesse concluir a sua
pergunta” e não “depois do João que já foi irreal mas
agora existe outra vez concluir a sua pergunta”.
- Mas você tinha dito antes que eu ia fazer a
pergunta toda.
Mudei de ideias. Tens algum problema, vai-te
queixar ao autor.
- Mas o autor é você!
Que pouca sorte a tua.
- Você tá fazendo tudo isso só porque eu disse aquilo
no início da história?
Quem? Eu? Alguma vez eu era capaz de guardar
rancor só porque um mísero e insignificante personagem
teve a ousadia de me criticar pela escolha de um espaço
para acção que tanto trabalho me deu arranjar?
- Sim.
Pois enganas-te. Eu seria incapaz de guardar rancor
só porque um mísero e insignificante personagem teve a
ousadia de me criticar pela escolha de um espaço para
acção que tanto trabalho me deu arranjar. Ouviste bem?
- Aposto que essa gente tem água. Você é que não
quer dizer. É verdade ou não é?
É verdade.
- Eu sabia! Eles têm água. Você é que não quer
dizer.
Eu não quero dizer ou por outra eu não não quero
dizer. É que a água que eles têm não é das melhores.
- Não me interessa! Eu quero água!
Está bem. Se é isso que tu queres.
Então as pessoas daquela zona habitacional deram
água ao João que já foi irreal mas agora existe outra vez
que a bebeu sofregamente.297
- Ah…
Mas depois cuspiu-a porque aquela água em saliva.
- Porque é que você disse que era saliva?
Eu disse-te. Tu é que não quiseste ouvir.
- Você não disse que era saliva, você disse que era
água em péssimas condições.
Não andei muito longe da verdade.
- Você não sabe explicar as coisas e depois os outros
é que ficam encrencados.
Olha, sabes que mais? Estou farto das tuas críticas!
- Eu não estou criticando! Eu estou reclamando!

Ai é? Então vai reclamar para outro lado porque a


história acaba aqui.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

298

297
Como um alarvo. (D. N. S. N. A.) (Duzentima Nonagésima
Sétima Nota do Autor)
298
Tem piada que eu nem dei pela história começar. (D. N. O. N.
A.) (Duzentima Nonagésima Oitava Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, nas verdes e frondosas colinas
do norte de Inglaterra, o João que já foi real mas agora
existe outra vez corria desenfreado à frente dum grupo
de ameaçadores cavaleiros que queriam pegar o João que
já foi real mas agora existe outra vez e dar uma baita
duma surra no João que já foi real mas agora existe outra
vez. E porquê?
– Isso gostava eu de saber. Esse negócio de começar
a história com gente querendo me bater não tem jeito
não!
Calma que eu vou fazer uma andalépce.
– E isso aí é o quê?
É algo que vai servir para explicar porque é que eles
te perseguem.
– Ah! Tipo uma explicação?
Sim… Mais ou menos.
– E porque é que não explicou antes?
Mas quem é que escreve a história afinal? És tu ou
sou eu?
– Só queria sa–
És tu ou sou eu?
– É você.
Então, se sou eu que escrevo, sou eu que sei como é
que as coisas devem ser feitas e, como tal, não devo
explicações a ninguém. Muito menos a um personagem
tão insignificante como tu.
– Anda logo, vai.

FLASHBACK299:

Tudo começou quando o João que já foi real mas


agora existe outra vez resolveu ir para Inglaterra.300
Perguntam eles, não. Perguntas tu.301
Porque a história passa-se na Inglaterra.
Esclarecido?302
Chegado a Inglaterra, o João que já foi real mas
agora existe outra vez deu de caras com um pais303
O quê?304
Mas tu tás parvo ou quê? Onde é que “pais” leva
acento?305
Mas “país” já tem acento.306
Continuado…
Aí, o João que já foi real mas agora existe outra vez

299
Vai em inglês porque a história passa-se na Inglaterra. (D. N.
N. N. A.) (Duzentima Nonagésima Nona Nota do Autor)
300
E porque é que ele resolveu ir para Inglaterra?, perguntam
vocês. (T. N. A.) (Trizentima Nota do Autor)
301
Prontos. Pergunto eu. (T. P. N. A.) (Trizentima Primeira Nota
do Autor)
302
Muito. (T. S. N. A.) (Trizentima Segunda Nota do Autor)
303
Falta-te o acento. (T. T. N. A.) (Trizentima Terceira Nota do
Autor)
304
Falta-te um acento em “pais”. (T. Q. N. A.) (Trizentima
Quarta Nota do Autor)
305
Não é “pais”, é “país”. (T. Q. N. A.) (Trizentima Quinta Nota
do Autor)
306
Esquece. (T. S. N. A.) (Trizentima Sexta Nota do Autor)
deu de caras com um país sem rei.307
Porque o último rei tinha falecido e não tinha
deixado nenhum sucessor.308
(Espaço necessário para o autor pensar num possível
motivo para a envolvência do rei Artur e na coerência de
toda esta história, tendo em conta que o motivo principal
de interesse acabou de ser negado.)
É sobre… é sobre… é porque ele disse qualquer
coisa aos soldados309
São soldados também, não são?310
E isso significa o quê?311
Portanto, o João que já foi real mas agora existe
outra vez proferiu em relação àqueles que o perseguem,
certos vocábulos passíveis de serem considerados
diminuidores de estatuto e imagem.312
– Eu fiz isso tudo?
Não. Estás a fazer. Isto é passado, lembras-te?
– Mas como é que eu posso tar fazendo uma coisa
que já fiz?
Porque isto ainda é a andalépce e na andalépce, a
acção passa-se no passado dito no tempo presente. O que

307
E porquê? (T. S. N. A.) (Trizentima Sétima Nota do Autor)
308
Espera lá! Isto por acaso nao terá nada a ver com aquela
história da espada na pedra? (T. O. N. A.) (Trizentima Oitava
Nota do Autor)
309
Cavaleiros. (T. N. N. A.) (Trizentima Nona Nota do Autor)
310
Sim, mas como têm cavalos, são também cavaleiros. (T. D. N.
A.) (Trizentima Décima Nota do Autor)
311
Nada. (T. D. P. N. A.) (Trizentima Décima Primeira Nota do
Autor)
312
Actividade lúdico-recreativa também conhecida por ofender
ou insultar. (T. D. S. N. A.) (Trizentima Décima Segunda Nota
do Autor)
significa que tu não podes falar do que vai acontecer no
tempo posterior ao da andalépce.313
Não.314
É lógico que não. Se a andalépce é passado, o tempo
posterior será o presente.315

ACÇÃO PASSADA NO MOMENTO POSTERIOR


À ANDALÉPCE:
De volta à perseguição, o João que já foi real mas
agora existe outra vez continuava a ser perseguido.
– Estou ficando cansado disso aqui, viu?
E agora?316
Em que tempo verbal é que a acção se passa?317
Ainda bem que admites. Posso terminar a história
aqui.

FIM

– Muito obrigado.
318

313
Que é o futuro. (T. D. T. N. A.) (Trizentima Décima Terceira
Nota do Autor)
314
Não? (T. D. Q. N. A.) (Trizentima Décima Quarta Nota do
Autor)
315
Mas tu mesmo disseste que a andalépce é dita no presente e a
seguir ao presente vem sempre o futuro. (T. D. Q. N. A.)
(Trizentima Décima Quinta Nota do Autor)
316
Agora o quê? (T. D. S. N. A.) (Trizentima Décima Sexta Nota
do Autor)
317
No presente. (T. D. S. N. A.) (Trizentima Décima Sétima
Nota do Autor)
Não faltou não. Simplesmente, confiei na tenacidade
mental dos leitores para deduzirem esse tipo de
informações.
319

Isso também eu gostava de saber.


320

Em Inglaterra. Se é lá que a história se passa, é


natural que ele estivesse lá. Se a história se passasse em
França, eu não iria colocar o rei Artur nela.321
O que é que queres dizer com isso?322

FIM
(mesmo a sério)

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

318
Faltava dizer que os cavaleiros ou soldados deixaram de
perseguir o João que já foi real mas agora existe outra vez. (T. D.
O. N. A.) (Trizentima Décima Oitava Nota do Autor)
319
Ficou ainda por saber qual foi a ofensa que o João que já foi
irreal mas agora existe outra vez fez. (T. D. N. N. A.) (Trizentima
Décima Nona Nota do Autor)
320
E o rei Artur? Onde é que ele estava? (T. V. N. A.) (Trizentima
Vigésima Nota do Autor)
321
Tal como não colocaste nesta? (T. V. P. N. A.) (Trizentima
Vigésima Primeira Nota do Autor)
322
Nada. (T. V. S. N. A.) (Trizentima Vigésima Segunda Nota do
Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez estava sentado numa cadeira de
madeira no meio da floresta de Chairwood.323 Perante os
seus olhos ávidos de sangue e violência desenrolava-se
um espectáculo cheio de sangue e violência: o combate
entre o xerife e o cara que roubava a quem tinha para dar
a quem não tinha ia entrar no terceiro round. O público
estava a delirar com o espectáculo.
O árbitro anunciou a partida. Aí, o João que já foi
irreal mas agora existe outra vez levantou-se e foi-se
embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

Nota: Tomei a liberdade de antecipar algumas


questões que decerto acabaram de surgir nas vossas

323
Tal como já disse noutras histórias, a posição geográfica da
cadeira de madeira em relação ao espaço físico onde está
colocada não é exacta. (T. V. T. N. A.) (Trizentima Vigésima
Terceira Nota do Autor)
pequenas mentes. Tomei também a liberdade de colocar
apenas as respostas.
1 – Não, a história não se passa na Inglaterra. Eu sei
que parece que é mas não é.324 Também acho.
2 – A acção está centrada na acção do João que já foi
irreal mas agora existe outra vez. Se lerem o título,
aperceber-se-ão de que tal como o título o diz, o João
que já foi irreal mas agora existe outra vez estava na
floresta de Chairwood. Portanto, bastava-me ter escrito a
primeira frase e o objectivo da história estaria cumprido.
Só que como eu sou uma pessoa simpática, decidi ir um
pouco mais longe. Mas só o suficiente para descrever a
acção à volta do João que já foi irreal mas agora existe
outra vez. O título da história era “O JOÃO QUE JÁ
FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA
FLORESTA DE CHAIRWOOD” e não “O JOÃO QUE
JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ
NA FLORESTA DE CHAIRWOOD ASSISTINDO A
UM COMBATE SANGRENTO E VIOLENTO ENTRE
O XERIFE E O CARA QUE ROUBAVA A QUEM
TINHA PARA DAR A QUEM NÃO TINHA QUE IA
ENTRAR NO TERCEIRO ROUND E QUANDO
COMEÇASSE, O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS
AGORA EXISTE OUTRA VEZ VAI-SE EMBORA”.
Habituem-se àquilo que eu vos dou que é muito bom.
- Oi.325

324
Que má frase. (T. V. Q. N. A.) (Trizentima Vigésima Quarta
Nota do Autor)
325
A única fala do personagem nesta história. Ou depois dela, não
interessa. Sem qualquer sentido útil, mas quem é que disse que
isto era uma ferramenta ou um antibiótico? (T. V. Q. N. A.)
Trizentima Vigésima Quinta Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez estava fazendo um aquecimento
para iniciar sua prestação na prova de atletismo.
- Oi! Oi! Pera aí! Eu tou fazendo o quê?
Estás a fazer um aquecimento.
- Com esse calorão? Cê tá maluco?
É aquecer no sentido de te prepares.
- De me preparar para o quê?
Para uma prova de atletismo. É logo a primeira frase
da história. Não me digas que não viste.
- Vi. Mas pensei que fosse depois.
Não é depois. É agora.
- Eu acho isso uma tremenda falta de
responsabilidade.
O quê?
- Marcar a prova assim de repente sem me dar
tempo para mim de estudar.
Estudar o quê?
- Nossa! Você hoje está lento! Estudar para a prova.
Mas tu queres estudar o quê? Isto é só para correr.
- Como assim? É só correr e passo?
Sim. Tens é que chegar em primeiro.
- Quantos concorrentes é que são?
Dez. A contar contigo.
- Assim fica mais difícil. Não posso ser só eu?
Não.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez foi parar na linha de partida. O juiz estava prestes a
dar a partida. Foi então que o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez reparou numa coisa.
- Reparei numa coisa.
Mas tu tens que reparar em tudo?
- Foi você que disse que eu tinha reparado.
“Fui eu que disse. Fui eu que disse”326 Que raio de
desculpa é essa?
- Não é desculpa, não. Foi você que disse.
Reparaste em alguma coisa?
- Não.
Não reparaste que os outros atletas estão nus?
- Pensei que estivessem com um uniforme bem
curtinho.
- Sabes o que tens a fazer, não sabes?
- Não. O quê?
Tens que tirar a roupa.
- Porquê?
Porque é um sinal de pureza.
- Não é pobreza que você tá querendo dizer?
Não. É pureza. O desprendimento total das coisas
materiais. A união entre o Homem e o seu espírito.
- É pobreza mesmo.
Não interessa. Tiras a roupa
- Não.
Então adeus.

326
Deve-se ler com um tom sarcástico. (T. V. S. N. A.)
(Trizentima Vigésima Sexta Nota do Autor)
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez foi desclassificado e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
(INCLUI CAMEO DO RAPAZ DO QUISTO)

Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas


agora existe outra vez viu-se subitamente transportado
para um local que ele já não via fazia muito tempo.327
Havia sido aí que o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez sofrera sua primeira transformação física
nas mãos do cara da armadura azul com riscas amarelas.
Nessa altura,328 o João que já foi irreal mas agora
existe outra vez era apenas329 o pequeno João330 e andava
fugindo do rapaz do quisto.

Pausa para breve rectificação


Tal como tinha anunciado no entre parêntesis depois

327
Não gosto de parágrafos introdutórios. Aqui é sempre a abrir.
(T. V. S. N. A.) (Trizentima Vigésima Sétima Nota do Autor)
328
Não considerem isto como um flashback. É apenas para
aqueles incultos que não leram o primeiro livro perceberem. (T.
V. O. N. A.) (Trizentima Vigésima Oitava Nota do Autor)
329
A palavra “apenas” não implica inferioridade em relação ao
seu estado actual. (T. V. N. N. A.) (Trizentima Vigésima Nona
Nota do Autor)
330
Até porque não houve uma evolução assim tão grande. (T. T.
N. A.) (Trizentima Trigésima Nota do Autor)
do título, aqui está a participação relâmpago do rapaz do
quisto.

De volta à história…
331

Sim.332
Por isso mesmo. Foi tipo um relâmpago. Vush! 333
Sim. Tu só vês um relâmpago a passar, não o vês a
ficar ou vês?334
Olha se continuas assim, mas vale ficarmos por
aqui.335
Um relâmpago quando passa deixa rasto, não é?336
Ora, aí é que tu te enganas. Pois olha à tua volta. Vê
como as paredes estão destruídas e o castelo cheio de
teias de aranha. Queres melhor prova que o rapaz do
quisto esteve aqui?337
Claro que não. Foi ainda há bocado.338

331
Chamas a isso uma participação relâmpago? (T. T. P. N. A.)
(Trizentima Trigésima Primeira Nota do Autor)
332
Mas ele nem chegou a aparecer! (T. T. S. N. A.) (Trizentima
Trigésima Segunda Nota do Autor)
333
Vush? (T. T. T. N. A.) (Trizentima Trigésima Terceira Nota do
Autor)
334
Vush? (T. T. Q. N. A.) (Trizentima Trigésima Quarta Nota do
Autor)
335
Não, espera. Diz lá outra vez. (T. T. Q. N. A.) (Trizentima
Trigésima Quinta Nota do Autor)
336
Sim, o que não é o caso. (T. T. S. N. A.) (Trizentima
Trigésima Sexta Nota do Autor)
337
Que ele esteve aqui, sei eu. Só não foi agora. (T. T. S. N. A.)
(Trizentima Trigésima Sétima Nota do Autor)
338
Não percebo. (T. T. O. N. A.) (Trizentima Trigésima Oitava
Nota do Autor)
É muito simples. Se ele esteve aqui uma vez, é
natural que ninguém tenha voltado aqui com medo de
encontrar novamente. Por isso é que o castelo está
abandonado.
- Nesse caso, o que estou fazendo aqui?
(Acordou agora este.)
Não te preocupes que ele já não aparece mais.339
Podemos continuar ou não?
- Vamos nessa.340
Aí surgiu o actual proprietário do castelo. O temível
Marquês do Sado.341
Uma vírgula aonde?342
Ó inteligência! E depois ficava o “O” grande a
seguir à vírgula? Queres que os leitores pensem que nós
não temos cuidado com a ortografia?
- Por favor! Importam-se de me dar atenção?
Aguenta os cavalos um bocadinho!
- Assim não dá. Ó miúdo!
- Quem, eu?
- Sim, tu. Vai-me ali comprar uma caixa de
parafusos. Dos maiores que tiverem
- Tá bom.
- Diz que é para pôr na minha conta.

339
Mas ele não apareceu ainda sequer. (T. T. N. N. A.)
(Trizentima Trigésima Nona Nota do Autor)
340
Vá lá. (T. Q. N. A.) (Trizentima Quadragésima Nota do
Autor)
341
Acho que devias ter posto uma vírgula em vez de um ponto.
(T. Q. P. N. A.) (Trizentima Quadragésima Primeira Nota do
Autor)
342
Depois de “castelo”. (T. Q. S. N. A.) (Trizentima
Quadragésima Segunda Nota do Autor)
Não vais nada lá. Ficas aí.
- Vai sim porque eu mandei.
Mas quem é que tu pensas que és?
- Eu sou o protagonista desta história! Exijo que me
tratem com respeito!
Começas a falar muito e a gente vai-se embora e
pomos aqui o rapaz do quisto!
- Não! Eu… eu não sei o que me deu. Foi qualquer
coisa que… eu não queria dizer isto.
Tarde demais.
Aí, todo o mundo foi-se embora, menos o Marquês
do Sado e o rapaz do quisto que passou de uma
participação relâmpago para uma aparição permanente.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

Depois disto, o Marquês do Sado saiu para ir


comprar parafusos e nunca mais voltou. O rapaz do
quisto continua aguardando pelo seu regresso com
impaciência.
Num belo dia de Verão, ainda longe do Outono, o João
que já foi irreal mas agora existe outra vez estava à beira
do mar observando o horizonte. Até agora não tinha
visto nada pois o horizonte era sempre o mesmo. Mas, a
sua capacidade de percepção estava com níveis tão
elevados que qualquer coisinha que passasse no
hemisfério perante os seus olhos seria o suficiente para
despoletar um gatilho no seu cérebro e captar a sua
atenção.
Infelizmente, não era isso que estava acontecendo. A
mosca estava zumbindo no ouvido do João que já foi
irreal mas agora existe outra vez fazia tempo e ele não
fazia nada para a mandar embora. Talvez só mesmo os
grandes eventos tomassem a sua atenção. Talvez ele
estivesse num plano acima de nós, comuns mortais.343
O quê?344
Por acaso ainda não.
Ei tu! Estás a dormir?345

343
Ou talvez estivesse a dormir. (T. Q. T. N. A.) (Trizentima
Quadragésima Terceira Nota do Autor)
344
Já pensaste nisso? (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima Quadragésima
Quarta Nota do Autor)
- Eu? Não. Estava apenas concentrado.346
E viste alguma coisa de interessante?
- Não sei. Tem ali qualquer coisa ali bem no fundo
que eu não sei bem o que é.
Achas que é uma ilha?
- Não sei.
Queres ir lá ver?
- Tá bom.347
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez viu-se transportado para aquela coisa ao bem no
fundo que ele não sabia bem o que era, mas que era
afinal uma ilha e já não estava ao fundo uma vez que o
João que já foi irreal mas agora existe outra vez estava
agora lá. Estranhamente, o horizonte continuava no
mesmo sítio.
- E a agora? O que é que eu faço?
Não sei. O que é que diz o título?348é isso! Tens que
procurar o baú com o tesouro.

345
Eis que se deve chamar uma pergunta estúpida. Se ele não
responder é porque está dormir. Se responder, será que está a
dormir ou só a fingir. A escolha é sua. Use o fórum do pequeno
João. Quando este for criado… (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima
Quadragésima Quinta Nota do Autor)
346
Parece que me enganei. (T. Q. S. N. A.) (Trizentima
Quadragésima Sexta Nota do Autor)
347
Que péssima introdução. (T. Q. S. N. A.) (Trizentima
Quadragésima Sétima Nota do Autor)
348
O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE
OUTRA VEZ NA ILHA DO TESOURO. (T. Q. O. N. A.)
(Trizentima Quadragésima Oitava Nota do Autor)
- Mas como?! Essa ilha é enorme!349
Só tens de procurar o “x”.
- Boa ideia!
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez começou procurando pelo “x” que marcava o baú do
com o tesouro.350sim?351
E?352lá tinhas de vir tu com o teu espírito
negativo!353
- Você não é o único.
Cala-te e procura!
Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra vez
continuou procurando até que encontrou um baú com a
letra “x” gravada na tampa.354
Cala-te! 355
Tu! Abre a arca!
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez abriu a arca e perante os seus olhos surgiu uma
montanha de acções de grandes empresas.

349
Olha, se isto é a tua maneira de tornares esta história num
épico de grandes dimensões, terás de fazer melhor. (T. Q. N. N.
A.) (Trizentima Quadragésima Nona do Autor)
350
Eu não queria ser chato nem nada, mas… (T. Q. N. A.)
(Trizentima Quinquagésima Nota do Autor)
351
Normalmente o “x” vem no mapa. (T. Q. P. N. A.) (Trizentima
Quinquagésima Primeira Nota do Autor)
352
Bom, uma vez que não temos mapa, pensei que… (T. Q. S. N.
A.) (Trizentima Quinquagésima Segunda Nota do Autor)
353
Só acho que estamos a perder tempo. (T. Q. T. N. A.)
(Trizentima Quinquagésima Terceira Nota do Autor)
354
Tu és mesmo… (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima Quinquagésima
Quarta Nota do Autor)
355
Eu terei a minha vingança. (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima
Quinquagésima Quinta Nota do Autor)
O João que já foi irreal mas agora existe outra vez e
o autor da história estavam ricos!356
Infelizmente o quê?357

De volta ao seu estatuto económico nulo, o João que


já foi irreal mas agora existe outra vez regressou ao
outro lado e continuou observando o horizonte.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

356
Infelizmente… as acções estavam fora de prazo. (T. Q. S. N.
A.) (Trizentima Quinquagésima Sexta Nota do Autor)
357
Eu disse-te que ia ter a minha vingança. (T. Q. S. N. A.)
(Trizentima Quinquagésima Sétima Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez continuava observando o
horizonte tal como fizera na história anterior.358
Aí, farto de fazer isso, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez resolveu erguer seu corpo e
caminhar ao longo da margem. O João que já foi irreal
mas agora existe outra vez foi caminhando e dentro de
pouco tempo chegou numa floresta.
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez olhou em volta e não viu ninguém. Nem gente, nem
animal. Nada. O João que já foi irreal mas agora existe
outra vez não sabia o que estava acontecendo mas a
resposta era simples: os animais haviam sido todos
devorados pelos humanos que depois de tão farta
refeição haviam caído num sono profundo.
- E agora o que é que eu como?
O instinto começava a fazer-se notar. Seria a fera
que tomava o lugar do homem? Seria o ar ancestral da
floresta que despertava nele um sentimento de ligação
com a natureza? Algo que todos nós possuímos, mas
esquecemos como usar?

358
O exactamente refere-se à actividade e não à posição. (T. Q.
O. N. A.) (Trizentima Quinquagésima Oitava Nota do Autor)
- Não é nada disso! É mesmo fome que eu tenho!
Mas não te sentes um bocadinho em comunhão com
o espaço envolvente?
- Não! Eu quero é comer!
Prontos! Vai lá comer…
Eu bem tento dar um sentido diferente, mas isto vai
sempre dar ao mesmo.
O que é queres comer?
- Não sei. O que é que tem?
Aí, antes que o narrador pudesse responder, surgiu
um bando de homens barbudos e fortes.
- Não viste aí nenhum gambozino?
- Nenhum quê?
- Gambozino. É um bicho assim redondo. Deste
tamanho. Mais ou menos. Com pêlo.
- Não vi, não. O que é que cês querem fazer com
eles?
- Comê-los.
- A carne de gambozinos é boa?
- Ó! Maravilha! É de se lhe tirar o chapéu!
- Mas nenhum de vocês está usando chapéu.
- Mas se estivéssemos, tirávamos.
Qual é o objectivo de ter um chapéu e depois tirá-lo?
Para isso mais vale não ter.
- Você já provou para saber que é boa?
- Não. Mas já me disseram que é.
- O que é que você acha?
Podes comer.359
Cala-te.

359
Não lhe vais contar a história dos gambozinos? (T. Q. N. N.
A.) (Trizentima Quinquagésima Nona Nota do Autor)
- Que história dos gambozinos?
Nada. Não ligues.
Tu deixa-te estar calado!360
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez seguiu o bando de caçadores pela floresta. Cada um
com o seu saco de apanhar gambozinos.361
Está bem! Eu conto!
- Conta o quê?
Eu menti-te acerca dos gambozinos.
- Você mentiu?
Sim. Os gambozinos não… não…
- Os gambozinos não… não quê?
Os gambozinos… não…362não prestam para comer.
- Não!
Não. São muito duros. E picam na língua.
- Tá bom. Então arranje outra coisa.
OK.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
363

Nunca estás contente com nada, tu.

360
Já não digo nada. (T. S. N. A.) (Trizentima Sexagésima Nota
do Autor)
361
Eu acho que devias contar-lhe. (T. S. P. N. A.) (Trizentima
Sexagésima Primeira Nota do Autor)
362
Desembucha! (T. S. S. N. A.) (Trizentima Sexagésima
Segunda Nota do Autor)
363
Sabes que não era isso que devias ter contado. (T. S. T. N. A.)
(Trizentima Sexagésima Terceira Nota do Autor)
Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas
agora existe outra vez estava com uma vontade enorme
de sambar.
- Quem foi que disse isso?
Mau! Ainda agora comecei e já tás a reclamar?
Aguenta só um bocadinho. Já só faltam duas histórias
para o fim do livro.364
Como assim “que livro?”? Este livro.365
Porque me apeteceu. Não posso?366
Mas porque é que havia de ser por fascículos?367
Estás-te a esquecer duma coisa.368
Eu não faço isto por dinheiro. 369

364
Que livro? (T. S. Q. N. A.) (Trizentima Sexagésima Quarta
Nota do Autor)
365
Porque é que puseste dois pontos de interrogação? (T. S. Q. N.
A.) (Trizentima Sexagésima Quinta Nota do Autor)
366
É só porque eu pensava que isto era por fascículos. (T. S. S. N.
A.) (Trizentima Sexagésima Sexta Nota do Autor)
367
Dava mais dinheiro. (T. S. S. N. A.) (Trizentima Sexagésima
Sétima Nota do Autor)
368
Do quê? (T. S. O. N. A.) (Trizentima Sexagésima Oitava Nota
do Autor)
369
Deve ser lido com uma entoação altiva e pomposa. (T. S. N.
N. A.) (Trizentima Sexagésima Nona Nota do Autor)
Pausa para o autor calcular o lucro que poderia ter
obtido se tivesse lançado a primeira história a sessenta
cêntimos e as restantes a oitenta e a encadernação a
quatro euros e depois chorar se o resultado for bom ou
suspirar de alívio se até não for nada por aí além

Fim da pausa para o autor calcular o lucro que


poderia ter obtido se tivesse lançado a primeira história a
sessenta cêntimos e as restantes a oitenta e a
encadernação a quatro euros e depois chorar se o
resultado for bom ou suspirar de alívio se até não for
nada por aí além

- Se você disse que não está fazendo isso pelo


dinheiro, porque é que fez essa pausa?
Foi para ver o preço da minha convicção.
370

Diz.371
- Não podemos ir tortos?372
Ei! Quem faz as piadas aqui sou eu!
Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez foi parar no meio de um desfile de samba.
- Ei! Me tirem daqui!

370
Sabem uma coisa? (T. S. N. A.) (Trizentima Septuagésima
Nota do Autor)
371
Pensei que talvez por estarmos tão perto do fim, pudéssemos
ir direitos à história. (T. S. P. N. A.) (Trizentima Septuagésima
Primeira Nota do Autor)
372
Pausa para o autor e eu lamentarmos a má piada. (T. S. S. N.
A.) (Trizentima Septuagésima Segunda Nota do Autor)
Aproveita mas é!
- Ei! Me tirem daqui!
Não sabes outra frase?
373

E o que é que sugeres?374


É que o Carnaval do Rio só sugere samba.375
Não devo ter mais nada para fazer.376
Bem dito.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

377

Para quê se isto mal teve início?


- Adeus!
E tu cala-te!

373
Eu também não acho que esta história do samba tenha muita
piada. (T. S. T. N. A.) (Trizentima Septuagésima Terceira Nota
do Autor)
374
Não sei. (T. S. Q. N. A.) (Trizentima Septuagésima Quarta
Nota do Autor)
375
Podias fazer uma história sobre a estratificação social. (T. S.
Q. N. A.) (Trizentima Septuagésima Quinta Nota do Autor)
376
Então acaba. Se é para estarmos a enrolar, mais vale ficarmos
por aqui. (T. S. S. N. A.) (Trizentima Septuagésima Sexta Nota
do Autor)
377
Podias ter posto uma frase de conclusão. (T. S. S. N. A.)
(Trizentima Septuagésima Sétima Nota do Autor)
Não sei se foi num belo dia de Verão ou não que isto
aconteceu, o que eu sei é que assim que escrevi este
título apercebi-me que não valia a pena continuar.
Não sei onde é que ele foi parar (juro!) mas, uma
vez que ele não se encontra mais connosco, já não tenho
que me preocupar se isto fica bom ou não. (Até porque
nunca me preocupei com isso antes.)
Adeus e obrigado pelo tempo dispensado.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko


Versão mal traduzida: Humberto Ricardo
Ajuda o João sem vida a descobrir as sete diferenças
entre a vida e a morte.

VIDA

MORTE
Ajudem o novo João reencarnado a chegar à
sanidade mental.

A
B

C
Ajuda o João que já foi irreal mas agora existe outra
vez a solucionar estes enigmas:

1 – Qual o número que adicionado a dez dá um e


depois multiplicado por dois, dá metade do número
inicial?

2 – Como é que a galinha e o ovo apareceram sem


um galo?

3 – Qual a cor que misturada com verde dá


vermelho?

4 – Qual a diferença entre uma pergunta e uma


questão?

5 – Porque é que as ambulâncias chamam-se


ambulâncias e não retro-escavadoras?

6 – Porque é que estão a perder tempo a responder a


isto?

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