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DAISAKU IKEDA

REVOLUÇÃO HUMANA

Vol.2
3a- EDIÇÃO

Tradução de Dr. Fumio Tiba

Editora Brasil Seikyo Ltda. São Paulo

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ÍNDICE

Prefácio 5
Montanhas e Rios 9
O Prólogo 46
Luzes e Sombras 79
A Escaramuça 120
Surge da Terra 159
O Eixo 206
Retrospecto 239

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PREFÁCIO

Já se passaram anos e meses desde que eu decidi secretamente que um dia


deveria escrever um romance em torno do Mestre Jossei Toda.
Logo após a publicação do Seikyo Shimbun* na primavera de 1951, o
Mestre disse um dia com a mão no bolso do paletó:
— Escrevi um romance. Já que vai sair o jornal, talvez seja necessária a
publicação de um romance em série.
O Mestre parecia estar acanhado, porém satisfeito.
O material para o primeiro número já estava pronto e guardado dentro de
seu bolso. Assim, deu-se o nascimento de um romance, "Revolução Humana",
com o pseudônimo de Myo Goku.
Percebi nesse instante — Um dia terei que escrever a continuação de
"Revolução Humana".
No verão de 1957, numa noite em Karuizawa, oito meses antes de seu
falecimento, o Mestre recuperava-se de sua doença, pois seu corpo achava-se
bastante enfraquecido. Após diversas orientações em meio a
— Daisaku, o que você acha da minha 'Revolução Humana". .
— Daisaku, o que você acha da minha 'A Revolução Humana'?

Seikyo Shimbun* Jornal informativo da Nitiren Shoshu,

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Pareceu-me que o Mestre estava preocupado com o resultado da
publicação.
Fiquei constrangido, porém, disse com sinceridade:
— Tive a sorte de ler o romance. Penso que a primeira metade foi escrita
num estilo essencialmente de romance; porém, na última metade, senti
admiração pelo registro documental baseado na própria experiência do senhor.
— Você acha? Não posso escrever tudo que há de bom em mim, não é?
O Mestre explodiu em gargalhada.
Compreendi na ressonância de sua voz, que a minha missão era transmitir
corretamente para a posteridade o espírito do Mestre através da existência de
Jossei Toda; e este era seu desejo.
A seguir, aguardei a chegada do tempo.
Como disse o Mestre: — Não posso escrever tudo que há de bom em
mim...
GOETHE escreveu sua autobiografia intitulando-a "Dichtung Und
Wahrheit". Traduzindo, essas palavras alemãs corresponderiam a "Poesia e
Verdade". Porém, em linguagem cotidiana, seria "Mentira e Verdade". Isso é a
sua autobiografia.
Deve-se dizer que ele foi um poeta sincero. As verdades refletidas nas
retinas dos olhos humanos nem sempre traduzem totalmente a realidade. Ao
invés disso, talvez a verdade possa ser distorcida para uma falsidade. Eis o ponto
importante, onde Goethe e outros escritores tiveram delicadas preocupações.
Frente a uma aparente ficção, elabora-se de antemão o panorama da verdade.
Devo preocupar-me com a mesma sutileza a fim de transmitir para sempre
o verdadeiro aspecto do Mestre.
Talvez surjam centenas de personagens no desenrolar do romance em
torno da personalidade do Mestre. Peço estarem cientes de que, dentre todas as
personagens,

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somente Tsunessaburo Makiguti e Jossei Toda possuem os nomes originais e
todos os demais são fictícios. As vezes é necessário que uma personagem real
apareça desdobrada em duas (personagens). Outras vezes as duas personagens
reais podem aparecer conjuntamente na personalidade de um nome fictício. Ou
então, três pessoas podem ser resumidas numa só ou talvez apareçam inúmeras
pessoas declarando o nome de uma personalidade única.
Seja como for, a grandiosa 'Revolução Humana' de uma única pessoa irá
um dia impulsionar a mudança total do destino de um país e, além disso, será
capaz de transformar o destino de toda a humanidade. — Eis, o assunto do
romance.
Finalmente, este romance levará vários anos para ser escrito e será
completado em 7 a 10 volumes. Peço o apoio dos leitores para poder completar a
obra.
12 de Outubro de 1965.

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Montanhas e Rios

Em fins de setembro, as montanhas da Planície de Kantô, já se mostravam


em plena estação de outono.
Os pomares das casas de campo mostravam as plantações de caquis
completamente vermelhos e amadurecidos.
Uma variedade de plantas outonais embelezava cada lado da estrada, com
flores e seus aromas. Dentre elas havia crisântemos verdes dos campos,
tranqüilamente florescidos. A primeira rosa noturna (tsukimissô) ainda
permanecia florida e as espigas de Sussuki (a relva dos pampas japoneses)
remanesciam ainda, como se estivessem anunciando o outono que transcorre.
Jossei Toda e o seu grupo de sete pessoas caminhavam em direção à vila
de Ryogô, desde a madrugada, saindo da cidade de Kurobane, Distrito de Nassu,
Prefeitura de Totigui.
A velha rodovia de Rikuu que contorna o rio Naka, em direção ao seu
nascente, atravessa o Planalto de Nassu e continua em direção a Shirakawa,
Prefeitura de Fukushima.
O grupo desviou para a direita e entrou no caminho da montanha,
deixando aquela rodovia. A subida era suave, porém, havia muitas pedras no seu
caminho, fato peculiar à estrada do campo deste planalto.
Nessa região, próxima ao Planalto de Nassu, as montanhas sobrepunham-
se umas às outras, tanto à direita como à esquerda.

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Ao norte estendia-se a serra vulcânica de Nassu e no seu meio coloca-se o
Monte Tyaussudake em franca atividade vulcânica. Do seu pico que indica a
cratera, as fumaças brancas subiam suavemente.
O céu estava límpido.
A serra mostrava as cores contrastantes, deixando parecer as folhagens
amarelas em florestas isoladas, confrontando com as sombras das montanhas,
Até parecia que a natureza fazia mudar completamente a paisagem
montanhesca, deixando passar rapidamente a metade do outono para o passado.
Como é tranqüilo! É pacífico!
Toda lembrou-se da "Esperança e Primavera" do poeta chinês, Tu Fu.
Mesmo que a nação tenha caído, As colinas e rios prevalecem. A
primavera acaba de chegar ao castelo No meio de árvores e vegetações viçosas.
Pensando na passagem do tempo, Domina-me uma abundante tristeza. Odiando a
separação, dos pássaros Até o gorjeio assusta o meu coração. . .
Aqui não há castelo. Nem a época é primaveril. É outono.
Entretanto, as "vegetações viçosas" eram mesmo uma realidade.
Neste recanto pacífico, não havia sequer um resquício de uma guerra. O
que se encontrava, eram as pessoas que somente desejavam procurar gêneros
alimentícios ou que corriam atrás do dinheiro com toda avidez, através dos seus
negócios na compra e venda.
Entretanto, este grupo estava alegre e contente, ora admirando o céu, ora
contemplando a montanha. Andavam com seus olhos atentos sobre as
curiosidades regionais, lançando seus olhares à sua direita ou à sua esquerda,
tanto longe como perto.
Havia flores chamadas Crista de Galo completamente vermelhas, as dálias
enormemente arredondadas, cri-sântemos do Yeso enormemente crescidos. Os
olhos dos habitantes de Tóquio, habituados com a planície das ruí-

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nas incendiadas, devem ter admirado esta beleza maior do que um quadro
de pintura.
Já se aproximavam os vales e o campo visual tornava-se mais fechado. As
montanhas longínquas escondiam-se atrás de um monte próximo. Começaram,
então, a aparecer as frutas de caqui e os cachos de sementes das castanhas com
cascas espinhosas. Aqueles que cresceram nas cidades pareciam que estavam
fazendo grandes descobertas, apontando com seus dedos dizendo, "isto são
castanhas" ou "aquilo é caqui", assim como fazem as crianças irrequietas.
A atitude de Jossei Toda demonstrava estar radiante de auto-confiança,
andando convicto de que agora estava dando passos firmes para a construção da
Eterna Paz do Futuro sobre as montanhas e rios do Japão, num país destruído.
Oito quilômetros de caminho sobre as montanhas pareciam longos e
monótonos.
— Como é longe! Ainda não está chegando? — per
guntou Toda, chamando Takeo Konishi.
Andando à frente de todos, Konishi, olhando para trás, respondeu:
— Sim. Logo nós chegaremos.
— Mas, como está chegando perto se há muito tempo vem enganando
que está perto, que é logo aí ou que é daqui a pouco? — Protestou Katsu
Kiyohara violentamente contra Konishi.
Todos apoiaram dizendo ao mesmo tempo:
— É isso mesmo. — É isso mesmo.
Toda contemplava prazerosamente, vendo a discordância dos seus
discípulos, através dos óculos de grau acentuado, com os seus olhos paternais.
Disse sorrindo:
— Mais um pouco de Konishi... O seu padrão de distância parece ser
diferente do nosso. Será que não erramos o caminho? Estaremos no rumo certo?
— Sim, Mestre. Aqui é a única estrada. Peço estar tranqüilo. Garanto
que é mais um pouco — respondeu Konishi com seriedade.
— É verdade mesmo, reiterou Toda.
Todos riram juntos.
As vozes dos risos prazerosos romperam o silêncio do vale e apagaram-se
no céu límpido de outono.

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Jossei Toda usava o traje de verão. Entre as golas do seu paletó deixava
aparecer a camisa branca de colarinho aberto. Sobre a sua cabeça havia um
chapéu de caçador colocado despreocupadamente.
Ao redor de sua alta estatura, seis pessoas, tanto os homens como as
mulheres, andavam juntos na subida, uns na frente e outros atrás.
Cada um deles usava roupas completamente desproporcionais. Uns
trajavam o velho uniforme nacional, outros uma calça de oficial de guerra e
sobre esta, um paletó desbotado e desajeitado, e a mulher de meia idade calçava
Mompe, e do paletó que ela emprestara de seu marido, fazia aparecer a ponta dos
dedos através da manga comprida. Até parecia um desfile de fantasias.
Devido à escassez de roupas após a guerra, eles não podiam estar
preocupados com as apresentações pessoais.
Confrontando-se com a iminente escassez de necessidades vitais, certas
pessoas demonstravam uma surpreendente força, capaz e inteligente. Outras, em
vez disso, tornavam-se extremamente fracas e covardes.
Entretanto, desejaria que cada um possuísse a matéria e o espírito
indestrutíveis como diamante em quaisquer situações adversas, que pudessem
sustentar inabala-velmente as suas responsabilidades na condução de uma
família, de um povo ou de um país, para o sucesso.
Os habitantes das vilas observavam este grupo an-dante, pensando que
fossem caçadores de alimentos. Admiravam também com certa estranheza.
Ninguém do grupo carregava sacola nas costas. Não se notava neles
aparência tristonha, face sombria ou olhar de impaciência. Pelo contrário,
faziam-se notar pelas suas atitudes, um aspecto radiante, sadio e repleto de
vitalidade. Havia entre eles, um ambiente alegre e animado, impossível de ser
encontrado nessa época de antes e após guerra. Com franco sorriso, até à
explosão de gargalhadas, faziam com que os camponeses ficassem felizes.
Com olhares estranhos, os moradores da vila desejavam-lhes boa viagem.
— Agora, já estamos na esperada vila. Vejam — disse Takeo Konishi, em
alta voz, apontando o poste de eletricidade. Nesse poste havia sido pregado um
anúncio escrito sobre papel de qualidade inferior.

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Todos se aproximaram deste anúncio e observaram.
SR. JOSSEI TODA ESTA PARA CHEGAR. GRANDE
CONFERÊNCIA DO HOKEKYO. DIA 22 DE SETEMBRO ÀS
14 HORAS. LOCAL: GRUPO ESCOLAR DE RYOGÔ.
— Como trabalham bem! Como trabalham bem! —
disse Koiti Harayama, contemplando o anúncio.
Bem intencionado que era, ele enviava do seu coração, as sinceras
congratulações aos companheiros de luta.
— Como é maravilhosa a família Massuda. Levantou-
se na região como a pioneira do Chakubuku. Vamos to
dos incentivar ao máximo? — nas expressões de Katsu
Kiyohara, transbordava o sentimento fraternal de fazer tudo
que fosse possível a fim de encorajar esta família missionária do Verdadeiro
Budismo.
Toda disse, sorrindo com voz de espontaneidade, olhando para o anúncio
no poste:
— Por falar em Jossei Toda ninguém poderia conhecê-lo. Seria bom
que muitas pessoas viessem procurar satisfazer as suas curiosidades para saber
quem é, afinal, esse homem!
Mais uma caminhada adiante, encontrava-se mais um anúncio no poste.
Assim, a cada aviso no poste, um após outro, os passos do grupo
movimentavam-se cada vez mais leves e acelerados.
— Mestre, é aqui. A casa de Massuda. . . — disse Konishi, apontando
para um rancho ao lado da escada.
— Até que enfim, nós chegamos. Como foi penoso o trecho 'mais um
pouco adiante' de Konishi!
— Oito quilômetros? Não é possível! O certo é que caminhamos mais
de dez quilômetros!
Falando todos ao mesmo tempo, deram voltas ao rancho, foram ao quintal
e chegaram ao jardim voltado para o lado sul.
Ao perceberem as vozes das visitas, os membros da família Massuda
imediatamente recepcionaram-nos.
Eles os esperavam.
A alegria transbordava inteiramente em todas as faces coradas, irradiando
jovialidade.

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Kyuitiro Massuda era um ex-policial, membro da Gakkai, pertencente à
Escola de Makiguti e morava em Omori, Tóquio.
Durante a guerra, ele deixou sua profissão e se registrou numa empresa.
Em maio de 1944, no momento em que as condições de guerra tornaram-se
desfavoráveis, removeu todos os membros da família para uma casa de campo
que comprara na Vila Ryogô, sua terra natal.
Aí moravam a esposa, duas filhas e o genro, casado com a filha mais
velha. Este genro puxava a enchada. As duas filhas que lecionavam em Tóquio,
trabalhavam como professoras no Grupo Escolar dessa vila.
Terminada a guerra, Kyuitiro também deixou Tóquio e foi morar com a
família, na sua terra natal. Uma vez destruído o país e com uma idade avançada,
não havia outro meio de escolher senão viver na lavoura.
Era uma família inexperiente na vida do campo e que só contava com a
ajuda dos membros da família para cultivar 1,5 acres para os arrozais e um acre
para as plantações de hortaliças ou 2,5 acres de terras cultiváveis ao todo. Os
trabalhos braçais eram encabeçados por Kyuitiro que contava mais de 60 anos de
idade. Além disso, nem adubos havia. Os camponeses das vizinhanças não
faziam outra coisa senão rir e caçoar deles.
Realmente, era muito penoso para quem não estava acostumado com a
lavoura. O sistema de trabalho era totalmente diferente. Entretanto, eles
possuíam o Gohonzon que trouxeram cuidadosamente de Tóquio. Numa época
em que a situação mudava tão violentamente, no meio do curso da vida em que
surgem tão grandes transformações no modo de viver, eles não poderiam deixar
de orar, pedindo tudo somente ao Gohonzon.
A família Massuda era uma semente do núcleo de praticantes fervorosos
da região montanhosa de Nassu.
Desde julho, a seca prosseguia. Queriam chuva. Desejavam uma boa
colheita. Era uma questão de vida ou morte!
Apesar da idade, Kyuitiro fazia Daimoku desesperado e ininterruptamente,
empenhando toda sua vida, mesmo nos trabalhos do campo ou mesmo dentro de
casa, como se estivesse ateando fogo em lenha molhada, ou jorrando água das
areias do deserto.

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Vendo o fervor da prática religiosa, os vizinhos começaram a rir e caçoar a
ponto de dizerem "finalmente o velho enlouqueceu".
Entretanto, por estranho que pareça, seu desejo fora correspondido; afinal
começou a chover torrencialmente.
Reconhecendo a atitude sincera no esforço ao tra
balho e pureza na devoção da fé, os olhares curiosos dos
moradores da vila se transformaram em olhares de res
peito,
As atividades do Chakubuku da família haviam sido iniciadas
naturalmente no meio do entusiasmo e da alegria.
A importância da lei é cada vez mais respeitada pelo
merecimento em consideração à pessoa seguidora. A sua
glória brilhará mais evidentemente quanto mais o seu se
guidor é respeitado. Por outro lado, há ocasiões em que
uma pessoa faz desmerecer a dignidade da Lei e conse
quentemente fará afastar as pessoas que vieram com
muito custo à procura da genuína fé no Verdadeiro Bu
dismo.
Pode-se dizer que é de suma importância a atuação verdadeiramente
racional do seguidor e a sua prova resultante.
"Myoho" em si é evidentemente imutável para sempre. Provar ou não, a
dignidade da Lei, resulta na correspondência ou não, da atuação da fé convicta
de seu seguidor.
* * *

A Sede da Soka-Gakkai em Tóquio determinou um período de três dias


para a viagem de orientação regional ao interior, nos dias: 21 de setembro —
sábado, 22 — domingo e 23 — dia do equinócio outonal.
A vila de Ryogô, na Prefeitura de Totigui e a cidade de Kiriu, na
Prefeitura de Gunma, foram escolhidas como locais para a extensão da
orientação regional.
Havia também em Kiriu vários membros da Gakkai, refugiados da capital
bombardeada, que foram se abrigar nessa região.
Com a colaboração dos crentes filiados,ao Templo da Nitiren Shoshu não
pertencentes à Gakkai, eles haviam

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iniciado as palestras do tipo Zadankai e se achavam em plena fase da atividade
de Chakubuku.
Um ano após a rendição, em outono de 1946. . .
Haviam-se passado três anos e mais alguns meses, desde que o Primeiro
Presidente Tsunessaburo Makiguti fora preso no meio da sua orientação em
Shimoda, na Prefeitura de Shizuoka, em julho de 1943.
Agora, a restauração da Gakkai havia progredido suficientemente para
promover a primeira orientação regional após a guerra.
Exatamente há dois meses, apareceu Takeo Konishi numa vila próxima à
cidade de Kurobane, a 15 quilômetros distante da vila de Ryogô, onde ficava a
casa em que nascera.
Um dia Konishi foi informado que seu amigo, do tempo de estudante do
curso normal, estava lecionando no Grupo Escolar de Ryogô. Imediatamente ele
correu de bicicleta pelos caminhos da montanha.
Do campo de recreio da escola ele chamou o seu amigo, que estaria na sala
dos professores, mas nesse momento surgiu na janela, uma conhecida mulher
chamando-o:
— Não á o prot. Konishi? Que surpresa!
Nesse encontro inesperado, Konishi não podia lembrar o nome desta
mulher.
— Sou Naoe. Eu me chamo Naoe Massuda. Sou uma
convertida por intermédio do Chakubuku do prof. Seki.
Naoe, a primeira filha de Kyuitiro, ficou muito contente do encontro nesta
oportunidade e perguntava insistentemente sobre o destino da Soka-Kyoiku-
Gakkai.
A surpresa foi ainda maior quando soube que o Diretor Geral Toda estava
bem disposto e que as atividades da Gakkai já se achavam em franca aceleração.
Em seguida, ela não podia deixar de sentir fortemente, o seu atraso por
morar nas montanhas retiradas, especialmente quando soube que o Curso de
Verão seria iniciado nesse ano, após anos de abandono.
Foi uma alegria para a família essa boa notícia. Aproveitando essa
oportunidade, Naoe partiu para Tóquio, logo que iniciou o período de férias, com
a sua irmã chamada Massako. Em seguida, elas foram procurar as casas dos

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seus amigos íntimos da Gakkai. Compareceram na Sede da Soka-Gakkai para
ouvir as lições do Hokekyo.
Naoe ficou totalmente chocada pelas maravilhas da Filosofia da Vida
explanada por Jossei Toda.
Profundamente emocionada com a lição, automaticamente foi levada pelos
companheiros para obter uma chance de receber as afetuosas orientações
individuais de Toda.
Ela confessou a dificuldade em levar as atividades de Chakubuku a uma
comunidade tradicional da região rural.
Toda ouviu tudo atenciosamente.
Após as calorosas orientações, ele disse:
— Está bem. Irei para ajudar. Divulguem este Budismo com o
"Gueshu" ao máximo. Estamos combinados?
As duas irmãs voltaram à vila em que moravam, ardentemente
entusiasmadas como duas bolas de fogo.
Esta vila seria o ponto estratégico de onde partiriam os primeiros passos
do Kossen-rufu da região em que se ergueria o fogo sagrado do Chakubuku. As
duas irmãs empenharam-se firmemente na luta, iniciando o Chakubuku desde a
noite da decisão.
Aproveitando todo o tempo que lhes permitiam, foram visitar casa por
casa fazendo Chakubuku por toda a vila. Os moradores da vila ouviam
atentamente as explanações das duas jovens professoras-irmãs do grupo escolar,
mas ninguém se manifestava em converter-se. Em suma, eles não entenderam o
assunto. Quando julgavam que o assunto era religião, parecia que não era.
Quando pensavam que o assunto seria uma filosofia, imediatamente mudavam
para os fatos reais da vida diária. Tanto as relatantes como os ouvintes cairam
numa confusão dentro do assunto. Somente restavam as vibrações das emoções
das duas irmãs no fundo do coração de todos os ouvintes.
Passados os dias, chegou a notícia de Tóquio, que o Diretor Geral Toda,
com sete dirigentes ao todo, viriam fazer uma visita de orientação para a vila.
A família Massuda caiu no embaraço.
— O que vamos fazer agora?
Naoe que era pessimista, ficou mais assustada quando leu o nome dos
dirigentes na lista. Massako, sendo

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otimista, deu um grito de alegria. O que preocupava a
família era o caso de fracasso que resultará por falta de
fé e da força dos recepcionistas com esta orientação es
pecialmente planejada.

Todos começaram a ficar preocupado.


— Massako, o que nós vamos fazer...? — perguntou Naoe.
— Eu também não pensava que a luta aumentasse em tão grande
escala. Aqui no meio das montanhas... Esperava que fossem um ou dois
dirigentes.
Até Massako também começou a ficar pessimista.
— Mamãe, o que nós iremos fazer? Estou preocupada.
— Bem. .. — em seguida Yone, sua mãe permaneceu em silêncio.
Kyuitiro estava ouvindo o diálogo delas. Até então permanecera de boca
fechada. Finalmente ele disse, olhando a fisionomia delas.
— Uma rara e maravilhosa oportunidade. Que assunto meritoso! Não
há o que se preocupar.
— Mas, papai, avisaram que viriam especialmente a um lugar tão
distante e se aqui não encontrarem um convidado sequer não haverá o que se
desculpar a eles, não é verdade?
Concordando com as palavras de Naoe, Massako disse também:
— É isso mesmo. Aqui é uma vila ingrata. Mesmo com os nossos
inúmeros esforços do Chakubuku, ninguém se decidiu a converter. Papai não
está nos reconhecendo.
— Independente de que alguém venha a se converter ou não, vamos
nos esforçar em reunir os moradores da vila, com toda nossa dedicação e
sinceridade. Não seria agora o momento de pedir tudo isso ao Gohonzon?
Vamos unir as forças da família e dedicarmo-nos com o máximo esforço? Não
seria possível que as nossas orações deixassem de ser correspondidas — disse
Kyuitiro decisivamente. Todos concordaram, movidos pela forte convicção do
pai. É isso mesmo, todos juntos manifestaram, com atitudes de prontidão.
As divergências familiares inoportunas, afinal chegaram a uma conclusão
unânime, que deveriam fazer convites à reunião do dia 22 — domingo, pedindo

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o comparecimento dos moradores da vila, um por um, à medida que fossem
encontrando.
Em seguida, foi decidida a colocação de cartazes e avísos em todos os
postes de eletricidade da vila, mesmo os mais distantes.
Assim mesmo as duas irmãs continuavam impacien-temente preocupadas.
Dessa noite em diante, suas orações de Daimoku prolongaram-se até altas horas
da noite.
Elas reconheceram através da forte convicção do pai,
que apenas uma pessoa com uma grandiosa fé e decisão
como a dele poderia transmiti-la a tantas pessoas. Uma
simples afirmação do pai serviu-lhes como um exemplo e
orientação para a vida inteira.

* * *

O grupo de sete pessoas deixara Tóquio na véspera, ao meio dia, no meio


de um controle rigoroso do limite de passageiros. Em cada estação havia
racionamento da venda de passagens.
Para adquirir passagens era necessário permanecer mais de meio dia em
pé, na fila, em frente ao guichê, a fim de esperar a sua vez. Talvez, pelo mau
costume próprio dos japoneses, nessas ocasiões, os funcionários da estação
tornavam-se arrogantes, aproveitando o prestígio do seu cargo. Além disso, as
pessoas "eminentes" e "ilustres" possuíam sempre a rota do câmbio negro para
obter seus desejos sem dificuldades. Em todas as épocas quem sofre mais é
sempre o povo humilde em geral.
As dificuldades não eram apenas de suportar a fila de aquisição de
passagens. Não era fácil para os assalariados conseguirem dinheiro para a
despesa de viagem de dois ou três dias. Forçosamente eram obrigados a suportar
como vítimas, o peso da inflação galopante da época. Nenhuma pessoa do Japão,
poderia viver nessa época, só de ordenados mensais.
Para manter as necessidades diárias, precisavam dos trabalhos
complementares ou então vender roupas. Um passo à frente esperava a escuridão
tão negra e sinistra. Apesar de clamar a democracia, rotineiramente como os
cumprimentos do dia e da noite, a vida diária do povo se aproximava cada vez
mais à beira do abismo.

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Os passageiros, na maioria eram turmas de caçadores de gêneros
alimentícios ou então soldados desmilitarizados transformados em traficantes do
comércio de víveres no câmbio negro.
Todos os vagões dos trens estavam superlotados por esse tipo de pessoas.
Freqüentemente essas pessoas viajavam como cacho de uvas dependurados em
todos os cantos do trem, até na parte frontal da locomotiva.
No sábado, na Ferrovia Principal Nordeste, os trens estavam superlotados,
sem espaço para a permanência de um passageiro sequer. Os tripulantes, em
triplo e mesmo até quintuplo da lotação normal do trem, afluíam até na entrada
dos vagões e além disso, numerosas pessoas viajavam dependuradas, segurando-
se nos ferros das portas. Todas as entradas e as saídas dos passageiros em cada
estação efetuavam-se através das janelas. Apesar do outono, dentro do trem
dominava o calor completamente abafado, cheirando poeiras, hálitos e suores.
Além disso, nas horas de permanência na estação, as circunstâncias tornavam-se
extremamente insuportáveis.
Jossei Toda, estava no meio dessa multidão, permanecendo em pé,
esmagado pelos solavancos do trem. Quando a turma preocupada lhe perguntou
sobre o seu estado de saúde, ele respondeu em voz alta e sorridente:
— É realmente uma devoção de penitências e sacrifícios.
Ele compreendia profundamente as condições psicológicas dos
passageiros que o cercavam e sentia até compaixão por eles, que mostravam uma
fisionomia de resignação, olhares de tensão nervosa, instabilidade emocional
resultante do desespero e da insegurança.
Dentro do trem completamente superlotado, abafado, com mau cheiro e
impossível de se mover, sentia-se também extremamente cansado.
Procurou localizar a fisionomia de cada um dos componentes do seu
grupo. Sentiu-se aliviado ao perceber que eles estavam alegres e animados no
meio dessa confusão de passageiros.
Com a sua estatura longilínea podia ver sobre os ombros dos passageiros,
a fisionomia corada e vaporosa de Katsu Kiyohara mergulhada na multidão.
Viu o perfil

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de Yuzo Mishima discutindo com alguém. A uma certa distância, viu as
fisionomias de Konishi e Seki contem-plando-se mutuamente.
Reconheceu paternalmente a dedicação dos seus discípulos que vinham
seguindo-o para irem ao interior das montanhas de Nassu. As dificuldades na
luta diária de cada um, para conseguir empreender essa jornada devem ter sido
penosas! Reconhecia a situação financeira de cada um. Os sacrifícios feitos para
conseguirem recursos para essa viagem de três dias, devem ter sido um esforço
sobre-humano, pensou ele:
— O nosso grupo aparentemente em nada difere dos batalhões de
mascates da conquista dos víveres; mas é um verdadeiro Exército do Buda,
apesar de ser pequeno o número no momento.
Era uma tarde crepuscular, quando o trem chegou a Nishi-Nassuno. O
grupo desceu na estação, fez baldeação para uma outra ferrovia regional
chamada Linha Tono. Eram poucos os passageiros.
A margem dessa ferrovia situavam-se a casa onde nasceu Takeo Konishi.
Após a viagem de 14 km sobre o planalto, o grupo chegou à estação terminal de
Kurobane e entrou num pequeno hotel que havia nessa cidade. Situava-se perto
de uma ponte sobre um desfiladeiro, que se mostrava na sua profundidade, a
correnteza da água limpa do Rio Naka.
A beira de uma janela, por onde vinha o sopro agradável da brisa das
montanhas, ouvia-se a melodia da límpida correnteza das águas sobre o leito do
rio, enquanto Jossei Toda conversava despreocupadamente.
Logo em seguida chegou um monte de espigas de milho cozido, ainda
levantando vapores sobre o prato.
Ele pegou uma, levou-a aos dentes, mostrou a sua fisionomia sorridente e
disse:
— Que delícia! Realmente está bem delicioso. Vamos comer todos
juntos?
O cheiro e o gosto do milho da região fria, perto do planalto, parecia muito
com o de Hokkaido. Lembrou-se

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então com saudade, os momentos passados naquela ilha ao norte do Japão, a sua
terra natal.
Nos tempos idos de sua infância, o seu maior prazer era a leitura dos
livros, mastigando milho cozido, com a espiga na mão, sentado em frente à mesa
diante da janela totalmente aberta, por onde entrava a brisa do mar.
Sua casa situava-se perto de uma praia. A sua janela estava de fronte da
Baía de Otaru.
A superfície das águas do Mar do Norte, no outono parecia cor de bronze.
Até o horizonte, em toda a sua extensão, nada se via a não ser o céu e o mar.
Apenas vaga e longinquamente se via Otaru sobre o horizonte à esquerda. À
direita não havia nem a sombra de uma ilha. Nessa paisagem árida, apenas se
ouvia o murmúrio contínuo de ondas na praia, como o ritmo de uma suave
melodia eterna.
O sonho da infância se expandiu infinitamente como a superfície do mar.
Assim, o seu caráter foi se tornando cada vez mais forte.
Na praia, não havia mais o ânimo da movimentada pescaria de arenques
no período da primavera. Nem o rastro dos pescadores. Via-se apenas uma ou
outra mulher tentando encontrar algas marinhas.
Apoiando-se na mesa com os cotovelos, ele apreciava as espigas de milho
cozido, com a leitura dos seus livros.
Assim, ele conheceu a vida dos grandes líderes e heróis mundialmente
famosos como Napoleão, Byron, Yukiti Fukuzawa Taissuke Itagaki.
A primavera do seu ideai, pode-se dizer que foi alimentada com as espigas
de milho cozido.

* * *

Agora, num pequeno hotel à beira do rio, todos apreciavam com prazer, o
gosto dos milhos cozidos.
Toda relatava sobre a sua terra natal em Hokkaido e o assunto foi
naturalmente desviando-se para a vila dos pescadores do Porto Atsuta, onde ele
cresceu.
Descrevia os movimentos animados da pescaria dos arenques.
Naquela ocasião, na cidade não havia ainda dez mil habitantes. Essa
população crescia para trinta mil no

22
período de abril a julho, na época da pesca dos arenques, quando vinham
confluir os afluxos de pescadores temporários das diversas partes de Hokkaido e
também da ilha principal. Tanto a cidade, a vila e a praia, ficavam com-
pletamente cheias de arenques. O cheiro desses peixes era o mesmo da cidade. A
sua casa era um estabelecimento de negócio em produtos marítimos. O menino
Toda andava também muito ocupado. Automaticamente as escolas permaneciam
fechadas advindo o período de férias.
Em todos os lugares ao alcance da visão, a dezenas e dezenas de milhas de
distância além, a superfície das águas do oceano tingia-se de branco. Parecia
com a água de arroz lavado. Eram enormes cardumes e mais cardumes de
arenque, avançando em direção às praias, à procura das areias para desovarem.
As pescas estavam sendo efetuadas dia e noite, dia após dia.
Todos ouviam espantados, inclinando seus ouvidos cada vez mais para as
excitantes narrações das aventuras do Mar do Norte, que Toda contava.
Com os seus gestos e de pé, imitava até as atitudes como os pescadores
captavam os arenques. Sem querer, todos aplaudiram. Ao sentar, contava como
era gostoso o arenque preparado na hora.
— O nosso bate-papo sempre acaba em comida!
Com suas palavras, a explosão de gargalhadas continuou até altas horas da
noite.
Pelo menos nesse quarto do pequeno hotel, não havia a tristeza do outono.
Em vez disso, o clarão da primavera parecia transbordar.
Amanhece na cidade de Kurobane.
O irmão mais velho de Konishi veio cumprimentar Toda e seu grupo,
trazendo consigo, um crente fanático na seita Butsuryu (Budismo Herético e
Falso Nitirenshu). Este homem foi completamente desmascarado de sua crença e
retirou-se como se saísse voando.
Ainda de madrugada, o grupo partiu em direção a vila de Ryogô,
chegando à casa de Massuda, perto do meio-dia. Aí também, os milhos cozidos
estavam à sua espera.
O início da grandiosa explanação do Hokekyo estava programado para as
duas horas da tarde. Todos estavam completamente ocupados nos arranjos da
programação.

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Terminados os preparativos, o grupo dirigiu-se ao local, um pouco antes
do horário previsto.
O local era o salão do grupo escolar, assoalhado com "tatami", onde
lecionavam as aulas de corte e costura.
Cerca de oitenta ouvintes estavam à espera, sentados desordenadamente.
Uns aguardavam fumando, outros trocando idéias em assunto variados, e alguns
vendo revistas de pouca espessura.
O salão de corte e costura estava praticamente lotado. Massako e Naoe
sentiram-se aliviadas com o resultado do comparecimento.
O coordenador era Kyuitiro Massuda. Sua fisionomia também se
mostrava satisfeita. Com o seu aspecto físico atlético em atitude ereta, iniciou o
discurso de abertura, em voz alta.
Inicialmente ressaltou a tristeza de um país arruinado pela guerra. Em
seguida, revelou o veemente desejo da restauração do bem estar da nação,
afirmando que não haveria outra solução para a reforma de base, a não ser que
aceitassem o Budismo de Nitiren Daishonin. Finalizou, concluindo que de outra
maneira não se poderia concretizar a restauração do Japão e a felicidade de cada
cidadão.
Desde o seu início foi um discurso apaixonado e furioso.
Os moradores que ali compareceram, ficaram surpreendidos e atônitos.
Não haviam imaginado como aquele homem idoso tivesse tamanha força. No
entanto, aquela convicção, aquela eloqüência. . . Antes que viessem a
ridicularizá-lo, eles não puderam esconder o espanto que lhes surgiu no íntimo.
Renovando a respiração após uma tossida, finalmente Kyuitiro foi
apresentando os conferencistas do dia. Ao terminar a apresentação do Diretor
Geral Toda e demais componentes, surgiram salvas de palmas ainda que fracas
em alguns recantos do salão.
Como era domingo, as crianças brincavam de corre-corre no campo de
recreio da escola e o seu barulho de algazarra chegava até o salão.
O primeiro conferencista foi Konishi. Atrás da mesa do orador havia sido
escrito o programa do dia. A primeira

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linha anunciava: "Reconhecimento e Avaliação, por Takeo Konishi."
— Sou filho de um lavrador e nasci em Kurobane
como os meus amigos aqui presentes. A lavoura para
mim seria o melhor ofício, mas, não sei por que motivo,
fui obrigado a ser um professor do curso primário.
Os alegres risos quebraram o ambiente constrangido. Havia também
rapazes que lhe enviavam salvas de palmas com fisionomia sorridente.
— Bem, freqüentemente ouvimos e falamos a respeito do "Objetivo da
Vida". Entretanto, se nós perguntarmos aos eruditos, eles responderão com uma
brilhante e nobre definição afirmando que "é a pesquisa em busca
da verdade". Mas, embora conhecessem a verdade sobre
o giro da terra em torno do sol, isso nada teria proveito
se não aplicássemos em nossa vida diária. Suponhamos
que o objetivo da vida é conhecer a verdade universal.
Sendo assim, quem tiver um pouco de inteligência ficaria
indignado e protestaria sobre as aflições e os sofrimentos
da vida diária, que é uma verdade e afinal, exigiriam soluções. Não é verdade
que o objetivo da vida é o justo
reconhecimento do aspecto real da vida. A realidade da
vida ensina que o objetivo é procurar sempre os valores
existentes.
Foi uma cena impressionante, quando quatro ou cinco pessoas de meia
idade mostravam gestos de concordância a cada palavra do orador.
A explanação de Konishi em nada diferia daquela atitude de um bom
professor lecionando na sala de aula. Ele continuou:
— Portanto, o objetivo da vida é procurar a felicidade. Em afirmação
concreta seria a procura do valor. Assim sendo, o reconhecimento da verdade em
si, não traz valor algum. . . Um reconhecimento sem valor algum, é aclamado
como se tivesse um valor extraordinário e muitos sentem-se orgulhosos com
isso. Ao analisar todas as coisas, encontra-se uma grande confusão nesse ponto e
portanto uma existência confusa não pode prosseguir satisfatoriamente.
Os presentes ouviam com expressão surpreendente A palestra não era
sobre religião. Nem tocava no assunto

25
das graças... As pessoas idosas mostravam suas fisionomias francamente
desapontadas.
— A confusão sobre o Reconhecimento e a Avaliação tem como origem a
falsa concepção em considerar a verdade diretamente como valor. Quem
descobriu primeiro este erro e o pesquisou filosoficamente, foi o nosso primeiro
presidente Tsunessaburo Makiguti. Ele demonstrou claramente na sua tese
chamada "A Filosofia do Valor" que todas as coisas demonstram o seu valor
somente quando elas se relacionam com a nossa vida diária. Entretanto, devido
ao desenvolvimento do nosso senso crítico ou por outros motivos, imediatamente
fazemos críticas arbitrárias com interpretação pessoal com base na opinião
própria, mesmo sobre coisas que não entendemos. Portanto, possuímos hábitos
de interpretar imediatamente da maneira que nos convém. Isso é contradição ou
"Ga-ken". É, também, um erro muito grave e isso se chama a "Avaliação sem
Reconhecimento"! O nosso mestre censurava rigorosamente esse ponto de vista e
orientava de maneira especial. "Antes de julgar se algo tem valor ou não,
devemos partir do reconhecimento correto." Em vez disso, muitos fazem o
reconhecimento negligente com a pressa em concluir a avaliação o quanto antes.
Isso também é uma espécie de confusão do reconhecimento e da avaliação. . .
Em seguida teremos a explanação sobre diversos assuntos, mas, creio que
surgirão também os assuntos ainda não familiarizados. Antes de mais nada, peço
a todos, um reconhecimento correto. Em seguida, peço aos presentes, que
reflitam profundamente qual espécie de valor traz a nossa religião e o que a
atuação da nossa fé oferece à vida diária.
Finalmente, cumprimentando os ouvintes, Konishi deixou a mesa do
orador.
Em seguida, apareceu Hissao Seki, para continuar o assunto, com a sua
voz jovial.
— Há poucos instantes o Sr. Konishi mencionou "A Filosofia do
Valor". Desejo fazer agora uma rápida explanação sobre esse assunto. Desde o
início, peço aos presentes que não façam uma avaliação sem reconhecimento.
O propósito da vida de uma pessoa, em conclusão, resume-se na criação
do valor. A maior ou menor aquisição do valor é o maior ou menor conteúdo da
felicidade.

26
A filosofia alemã, com Kant à frente, considerava a Verdade, o Bem e o Belo
como elementos do Valor. Até então nunca houve alguém que viesse fazer
objeções à Tridimensionalidade axiológica de Kant. Entretanto, todos nós
sabemos como produzir arroz. Saber produzir significa saber uma verdade. É o
reconhecimento de uma idéia. Apesar de conhecermos pormenorizadamente, só
com isso não conseguimos sentir o gosto da plena felicidade. Embora
ignorássemos a verdade sobre a produção do arroz, uma vez que foi totalmente
preenchido o estômago vazio com uma refeição de arroz, todos vem a reconhecer
o valor do arroz. Portanto, a verdade em si não vem preencher o conteúdo do
valor. Há um provérbio sobre "a moeda diante do gato" que vem sendo citado
desde os tempos antigos. A moeda, apesar de possuir um valor absolutamente
enorme para os seres humanos, nada vale para os animais como o gato. Enfim, o
valor existe quando há relação entre o Sujeito e o Objeto. Portanto, surge da
relação entre as nossas vidas com o nosso mundo exterior. ..
Em seguida, ele analisou o Belo, o Lucro e o Bem como os elementos do
Valor. Assim, o Belo, o Lucro e o Bem, sendo o valor correto, o inverso, como o
Feio, o Prejuízo e o Mal, seriam os elementos do anti-valor. O Valor Correto é o
conteúdo da felicidade humana e o Anti-Valor é o conteúdo da infelicidade.
Assim, ele falou sobre a axiologia de Makiguti.
Seus olhos cintilantes brilhavam radiantemente no semblante corado.
Prosseguiu, entusiasticamente, o discurso de Seki.
— . . .Eis aqui, a breve explanação sobre a "Filosofia do Valor", a
teoria original do Prof. Makiguti. Portanto somente a criação dos verdadeiros
valores é que enriquece a sorte das nossas vidas para merecer a felicidade e
portanto, não há outro meio senão, adquirir esses valores.
— Assim sendo, o local onde surge o valor está relacionado com a vida
e o seu mundo exterior, e a questão da vida vem se tornando um assunto de suma
importância.

27
O aspecto real da vida excelente e vigorosa se relacionam com o mundo
exterior excelente. O aspecto da vida fraca ou pior irão forçosamente criar
relações piores com o mundo exterior.
— Quem cria o valor certo, o anti-valor, a felicidade ou a infelicidade é
a própria vida em si. A religião vem ensinando essas questões fundamentais da
vida. Entretanto, há religiões que vieram pregando isso da maneira certa,
enquanto outras vieram pregando da maneira errada. A primeira é a religião
verdadeira e a última é a religião falsa. Portanto, necessariamente chega-se a
uma conclusão natural de que verdade ou falsidade da religião é que decide
drasticamente a felicidade ou a infelicidade da vida humana. Por isso mesmo,
não há coisa mais temerosa do que a religião falsa. Mesmo as pessoas mais
famosas ou muito bem intencionadas, enquanto estiverem iludidas pelas falsas
religiões, não poderão caminhar senão no sentido da infelicidade. Inversamente,
mesmo aquelas que são completamente mal intencionadas, certamente atingirão
afinal o estado da felicidade, quando seguirem a religião correta.
— Nitiren Daishonin declarou que "A origem da infelicidade, em
suma, está na religião falsa." Seja um país, uma famíla ou um indivíduo,
ninguém consegue escapar deste princípio. Como todos sabem, a derrota do
Japão, consequentemente a infelicidade atual, tem como causa única e exclusiva
a aplicação como ideologia política, a religião xintoísta, que não possui as
comprovações filosóficas.
— Atualmente, antes de mais nada, deve ser iniciada a solução básica
dos problemas da vida, como primeiro passo para a recuperação do Japão. Do
contrário, todos os esforços bem intencionados serão inúteis. Então, como nós
poderemos conseguir uma vida pura e vigorosa em nossos corpos? Por isso
mesmo é que se tornam necessários a fé e a prática de uma religião correta.
Então o que é uma religião correta? Esta questão "A Purificação da Vida" é o
assunto que será explanado em seguida pela conferencista Katsu Kiyohara.
Foi uma brilhante transmissão do bastão de corrida.
Quando Hissao Seki mudou o assunto da Filosofia do Valor para a
religião, o ambiente voltou ao silêncio

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completo. Quando ele encerrou com o seu cumprimento ao auditório, surgiram
aplausos em conjunto.
O auditório aguardava com curiosidade a próxima oradora.
Kyuitiro Massuda apresentou Katsu Kiyohara. Antes de terminar a
apresentação, um corpo de pequena estatura já estava caminhando para a mesa
do orador.
O aparecimento de uma jovem no auditório foi de uma sensação
extraordinária para os olhos dos lavradores.
Nesse instante, as senhoras idosas olhavam umas às outras. Em seguida
observaram com olhares especulativos aos seus movimentos.
— Como sou afobada e não possuo eloqüência, direi
de início minhas conclusões para não trazer confusões
no meio da palestra. — Dito isto, ela mostrou na fisionomia um sorriso
espontâneo.
Sorrisos leves do auditório mudaram o ambiente silencioso. Na sua
expressão demonstrava a pura e forte convicção e esperança. Kiyohara continuou
em voz timbrante.
— A fonte vital da nossa felicidade está, sobretudo,
na purificação de nossas vidas. Esta purificação nunca
terá o seu resultado se não recorrermos a religião correta
e forte. Além disso, fé não é teoria. É a prática. Portanto,
a vida consiste na purificação através da prática de uma
religião correta e forte. Então o que vem a ser esta religião certa?. . .
Aqui, ela mudou de assunto e entrou na história do Budismo.
Relatou sumariamente os Cinco Períodos e Oito Ensinos de Sakyamuni e
provou teoricamente a supremacia do Hokekyo como sendo o seu ensino mais
elevado. No momento em que o assunto chegou ao Budismo de Mappo, o Nam-
myoho-rengue-kyo de Nitiren Daishonin, surgiram dois ou três ouvintes
discordantes acenando a cabeça mostrando gestos de não aceitação. Ela não
deixou escapar isso de vista.
Dirigiu mais à frente e naturalmente foi elevando a sua voz.
— Aqui é o ponto mais importante. Os homens modernos não querem
entendê-lo de maneira alguma. No

29
tocante ao Budismo, só pensam em Sakyamuni. Apesar disso, eles não lembram,
a não ser por ocasião das cerimônias funerais. Já estão sentindo que o Budismo
de Sakyamuni não possui mais a força de salvação.
— Mesmo sabendo disso, quando se ouve do maravilhoso Budismo
de Nitiren Daishonin, imediatamente protestam.
— A maior infelicidade dos homens modernos na era de Mappo é
a impossibilidade de compreender a verdadeira natureza deste Budismo. Assim
como não existem dois-sóis no firmamento, não podem existir duas ou mais
religiões que sejam a única e suprema. Esta única e suprema essência do
Budismo é o Gohonzon das Três Grandes Leis Secretas de Nitiren Daishonin.
Esta corrente religiosa legítima que vem defendendo e provando na prática há
mais de seis séculos, chama-se Nitiren-Shoshu.
— Fui, também, uma mulher infeliz. Talvez a mais
infeliz de todos os presentes. Hoje estou marchando sobre o caminho direto para
a felicidade. Conheci este Budismo, sensibilizada pela minha própria
experiência. Conforme os ensinamentos de Nitiren Daishonin, absolutamente
não há outro meio de praticar a vida, radicalmente,
senão oferecer Daimoku ao Dai-Gohonzon, a maior revelação das melhores
obras de todo precioso ensinamento
Budista.
Esta ardente e emocionante explanação acolheu intensos aplausos do
auditório.
As fisionomias concordantes, as discordantes que mostravam a
inconformação intima, e outras. . . eram diversidades de fisionomias. Seja o que
for, não houve dúvida que todos foram atravessados por uma profunda emoção.
O coordenador levantou-se do seu lugar e disse:
— Em seguida apresentaremos os relatos de experiência. Peço a Sra.
Sakata relatar "Provas sobre os trabalhos da fábrica".
Take Sakata, a mulher meio gorda, de meia idade, dirigiu-se à mesa do
orador, caminhando com certa hesitação e cumprimentou delicadamente o
auditório.

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Ela começou a falar, mas, logo interrompeu. "Calma! calma". Na sua
retaguarda, Toda encorajava em voz baixa.
— A minha fábrica era uma pequena indústria da
mineração e durante a guerra funcionou como fábrica de
munições. Quando me converti, a família inteira veio a
contrariar intensamente a minha fé. O meu marido ameaçou-me com o divórcio.
Desde criança, cresci como órfã
e realmente a minha vida foi uma sucessão de infelicidades. Neste mundo,
somente podia amar minhas crianças
e não havia outra alternativa senão suportar os sofrimentos e devotar-me
intensamente à fé.
Era o grito de uma sinceridade. A sua vibração emocional sensibilizou
uma profunda emoção aos presentes. O auditório retornou ao silêncio.
Na vida de Take Sakata havia algo que chamava o sentimento de
solidariedade.
— Entretanto, as pessoas que insistiam em opor-se à minha fé, foram
morrendo horrivelmente, e durante um ano presenciei oito mortes sucessivas.
Reconhecendo o resultado trágico destas calúnias ao Verdadeiro Budismo, a
minha empregada converteu-se em primeiro lugar. Mas, meu marido continuava
opondo-se constantemente. A sua vida diária era uma desordem. A sua
fisionomia era irritante. Com o desejo de transformar em uma família alegre e
tranqüila, comecei a praticar cada vez mais intensamente.
— Três anos após minha conversão, em 3 de junho de 1942, um dia
inesquecível. Finalmente o meu marido converteu-se! Com alegria e mais
alegria, chorei em alta voz diante do Gohonzon. Até agora não posso esquecer.
Ela é uma simples dona de casa, Não possui a eloqüência e nem grandes
conhecimentos. Entretanto, suas palavras emocionantes possuíam a verdade.
Como poderá sensibilizar as pessoas, se o próprio autor não despertar a
sua profunda emoção? Na voz da verdade existe algo que faz chocar o coração
humano, jcomo relâmpago. As falsas palavras poderão iludir as pessoas
momentaneamente, mas nunca a multidão por um longo espaço de tempo.
Sakata limpou os seus olhos fortemente com o seu lenço.

31
— Sou péssima em falar...

A audiência tornou-se sorridente. rans


— Após a conversão do meu marido, a fábrica
formou como o fulgor do sol levante. Logo então, começaram os bombardeios.
Por diversas vezes sofremos bombardeios e tivemos as experiências horríveis.
Entretanto, a minha casa foi salva em todas essas ocasiões. Com a sirena de
alarme, a família inteira fazia Daimoku ao Gohonzon. Nas horas de perigo,
carregávamos o Gohonzon
por todos os cantos. Pensando agora, fico surpresa ao
ver que, como em uma pessoa tola como eu, surgiu aquela extraordinária
coragem e inteligência capaz de dirigir
ou merecer a confiança das pessoas da vizinhança, a fim
de apagar as bombas incendiárias, todas juntas!
A sua explanação era a sua própria experiência e a sua teoria, o resultado
da sua visão adquirida. Era a expressão da árdua experiência da vida.
Há pessoas que vivem com o prazer de manusear as teorias. Inversamente,
há pessoas que vivem sob a importância da experiência e da prática. Mas afinal,
a vida é a prática e não há o melhor testemunho senão a experiência. Não poderá
sentir o gosto da maçã, embora explique por horas e horas. O sabor do seu
paladar após a sua apreciação, seria a sua melhor prova.
— Até à cessação do fogo, toda a região de Kamata
transformou-se numa planície incendiada em conseqüência dos sucessivos
bombardeios. Mas, a minha casa ?
mais as vizinhas, seis ao todo, foram completamente salvas. Ao descer da
estação de Kamata, a primeira casa
que eu vi, foi a minha. Realmente, é o Gohonzon que
possui a força. Assim minha casa foi protegida durante
a guerra. Após a guerra, o mundo transformou-se completamente. Mas a fábrica
permaneceu como antes. Sinto-me grata por ter prosperado satisfatoriamente. A
casa foi salva e é agora usada freqüentemente para as palestras religiosas.
Compreendi profundamente que em quaisquer eventualidades, é absolutamente
tranqüilo, quem possui o Gohonzon. Sinto-me penalizada pela infelicidade das
pessoas que em casos de acidentes, não possuem
o Gohonzon.
Aqui foi interrompida a sua explanação. Desejava ainda dizer algo mais,
porém, abaixou a cabeça, cumprimentou

32
o auditório e afastou apressadamente da mesa do orador.
Alguns aplaudiram enquanto outros respiravam profundamente.
Jossei Toda analisou a reunião do dia.
Reexaminou aquele costume que vem desde antes da guerra que não podia
fazer o Chakubuku sem iniciar com a "Filosofia do Valor".
Felizmente, no auditório estava os jovens rapazes e moças. A começar do
diretor do grupo, estavam os professores e os funcionários públicos, que
apreciavam as polêmicas.
Estas pessoas devem ter a Filosofia do Valor com simpatia.
Entretanto, o que mais impressionou a verdadeira sensibilidade foi, acima
de tudo, a experiência de Take Sa-kata.
O Benefício, a Força Grandiosa do Dai-Gohonzon, a jncorporacão da
praticadas três mil espécies de vida num estado momentâneo da existência —
isto, não poderia de maneira alguma ser compreendido através da teoria ou
estudo, É necessário a comprovação experimental e não há outro meio de
convencer senão através da prática.
Além disso, a Paz Mundia e o maior movimento das massas, É O maior
movimento vivo do povo. O povo respeita a distância, a teoria e aprecia mais as
realidade"? ligadas à vida diária. Isso é a inteligência das massas. É a a sua força.
Toda sentiu dolorosamente a necessidade premente em libertar-se da
estreita carapaça de antes da guerra.
Em seguida, Koiti Harayama dirigiu-se para a mesa do orador a fim de
relatar sobre o assunto "A Concretização da Fé" e Yuzo Mishima desenvolveu o
título "O caminho que vim almejando". Cada qual analizou respectivamente os
passos do seu passado e concluiu que, se não tivessem a oportunidade fortuita de
encontrar com o Nam-myoho-rengue-kyo nessa época turbulenta, estariam sendo
arrastados pelas avalanches das ondas de sofrimentos.
Ambos pronunciaram por várias vezes o termo "absolutamente". Os
ouvintes começaram a se interessar em saber o conteúdo deste "absoluto".

33
Finalmente, Kyuitiro Massuda clamou: "Não há mais Budismo no Japão"
e com altas vozes convidou o orador seguinte, dizendo: "Peço as palavras do
Prof. Jossei Toda."
Nesse instante, os olhares calorosos dos oitenta ouvintes concentraram-se
ao mesmo tempo sobre a alta postura de Toda.
Através da janela totalmente aberta, penetravam os raios crepusculares.
Apagaram-se as vozes das crianças e o silêncio retornava ao ambiente e
cercanias.
Toda colocou as suas mãos levemente em cada extremidade da mesa. Em
seguida, começou a relatar tranqüilamente, iniciando pelo aspecto real dos dez
estados! da vida.
Com sua serenidade, irradiava o senso de humor, fazendo os ouvintes
sentirem indescritível afeto e simpatia.
Desse modo, fazia-os compreender facilmente, a tão difícil filosofia da
vida.
— Os dez aspectos da vida, desde o Estado de Inferno até o Estado de
Buda, cada qual surge sempre relacionado a um fato e desenvolve em nosso
corpo e mente as alegrias ou as tristezas. Isto é o aspecto real das nossas vidas.
Além disso, tanto o aspecto real do universo, assim como todos os fenômenos, a
cada instante pertencem forçosamente a um dos Dez Estados.
— Ninguém deseja os fenômenos ou estados maus. Os bons fenômenos
ou estados, ou melhor, todos desejam ser feliz. Para se conseguir isso, não
adiantaria só desejar, como todos sabem através da própria experiência da vida.
— Aqui se torna necessária uma religião potente, a energia propulsora
da vida diária, por assim dizer. Nitiren Daishonin nos ensina isso com o risco de
Sua própria vida. Para atingir o estado de Felicidade Absoluta e indestrutível,
não conseguiremos só com a nossa convicção. É absolutamente necessário a
existência do Objeto que revela a Vida do Buda, uma vez que todas e quaisquer
situações surgem sempre relacionadas a um evento.
A relação a este Objeto, em suma, é o Dai-Gohonzon. É através da Lei
Mística que podemos transformar o feio em belo, o prejuízo em lucro e o mau
em bem, por meio do surgimento da Vida de Buda, eterna e imperecível.

34
Nós devemos saber que aqui existe o significado do advento do Buda
Original de Mappo, Nitiren Daishonin.
A explanação de Toda cada vez mais mostrava a sua convicção. Assim,
suas palavras penetravam cada vez mais forte no coração dos ouvintes.
Em seguida, mudou de assunto para a situação do Japão, explanando a
derrota, a confusão, a revolta (o estado de ira), a estupidez (o estado de
animalidade) e o sofrimento (o estado de inferno).
— Estas situações caóticas sucessivas, nada mais são, senão resultantes
da ignorância ou da oposição aos ensinamentos de Nitiren Daishonin desde há
setecentos anos. O país tombou em conseqüência da calúnia ao Verdadeiro
Budismo. — Assim, ele afirmou veemente e prosseguiu:
— Sinto-me profundamente triste e humilhado pela situação atual do
Japão. Para ressuscitar uma nação, é obrigatoriamente necessária uma filosofia.
Esta filosofia é necessariamente posta em prática ao mesmo tempo. Uma
filosofia sem a prática, não passaria de um jogo de teorias.
— Baseando-se em que princípio ideológico ou moral, o Japão poderá
ressuscitar após a guerra com as enormes perdas após a imposição do Xintoísmo
à nação durante a guerra?
— Nessa época em que proliferam as religiões que iludem o público e
as ideologias anarquistas invocando o Comunismo, a nossa sociedade Soka-
Gakkai procura contribuir na restauração do país com a nossa própria ex-
periência.
Ele estava eloqüente. Era um discurso apaixonante e entusiástico. Cada
palavra que saltava a jato possuía um imensurável valor dourado. — Era o brado
da verdade.
— Como nação sinceramente amante da paz, apesar do Japão derrotado
na guerra, não há outra forma senão basear na verdadeira religião ou na ideologia
certa e sem contradições. É desnecessário dizer que sobre esse alicerce deverá
suplantar a política, a economia e a cultura.
— O que preenche estas condições é realmente a Grandiosa Filosofia
da Nitiren Shoshu, cuja base é o Dai-Gohonzon.

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Sua expressão era evidentemente decisiva. Entretanto, nas suas afirmações
havia uma fortíssima convicção e profunda comprovação prática.
— O Dai-Gohonzon tão formidável assim, existe no
Japão desde há setecentos anos. Apesar disso, a maioria das pessoas ignoravam a
Sua existência. Mesmo sabendo disso, nós fomos indiferentes. Hoje, a maioria
dos ouvintes devem ter o Seu conhecimento pela primeira vez.
Entretanto, uma vez tomado o conhecimento, desejo sinceramente que todos
sejam abençoados pela benevolência do Dai-Gohonzon para o seu próprio bem,
para o bem da família e para o bem da nação.
Toda levantou seus olhos e em seguida apreciou o auditório, como se
estivesse conversando pessoalmente a cada um dos presentes.
O moderador Massuda que estava de pé ao lado da mesa do orador,
pronunciou em alta voz:
— Agora vamos passar às perguntas e respostas.
Naturalmente, após a explanação devem ter surgido numerosos pontos
duvidosos. Não há necessidade de receio. A todos que tiverem dúvidas, por
favor, levantem
as mãos.
Um rapaz levantou a mão, identificou-se e ficou de pé. Em seguida,
perguntou ingenuamente:
— Peço explanar sobre a relação entre o Hokekyo e a Democracia.
— Ah! Que pergunta formidável! — Toda aceitou imediatamente e
começou a conversar delicadamente com o rapaz.
— De repente, após a guerra, todos ao mesmo tempo vieram repetindo
democracia e mais democracia. Esta tendência natural, é um fato evidente para o
povo que detesta o totalitarismo militar, de antes da guerra, que levou o Japão a
uma situação errônea. Assim, a nação compreendeu claramente que não
conseguiria a felicidade, sem base na soberania do povo, em oposição à época da
guerra.
O rapaz começou a manifestar os seus gestos de compreensão.
Toda continuou explicando com atitude como se estivesse tentando
convencer o seu próprio filho.

36
— A liberdade, a igualdade e a fraternidade; são os
três princípios básicos da democracia. Não é verdade?
Muito bem. Sinceramente, eu também estou de acordo.
Entretanto, isso não passa de uma parcela da verdade
quando é visto através da profunda filosofia da vida de Nitiren Daishonin. Por
que razão? É porque a democracia que nasceu no mundo ocidental originou-se
de uma filosofia que tem por base o cristianismo que não evidencia plenamente
a Lei da Causa e Efeito e nem mesmo a
Eternidade da Vida no seu presente, passado e futuro.
Portanto, a democracia atual trata da liberdade, bem como
a igualdade apenas leve e superficialmente, somente dentro de uma existência da
vida. Quando nós pensamos na
felicidade ou na infelicidade, a estrutura social e a organização política podem
exercer uma grande influência solucionadora, mas quando se trata de liberdade
verdadeiramente íntima e das libertações dos maus destinos, nada
podemos fazer. Aqui está o limite vital da democracia
moderna.
— A vida do homem nas três existências, e a sua purificação, não
poderão ser solucionadas, senão, pela doutrina do Nam-myoho-rengue-kyo de
Nitiren Daishonin.
— Como poderá ser atingido o ideal da verdadeira democracia, senão
concretizar a implantação dos princípios fundamentais da humanidade? A
democracia ocidental é a democracia cristã. Tem como base, o espiritualismo.
Em oposição, a democracia do povo, que se baseia no materialismo, é o
comunismo. É desnecessário dizer que ambos são ideologias unilaterais. Agora
afirmo fortemente que, não há outro meio de realizar uma democracia que a
humanidade tanto deseja, se não fundamentar sobre a Filosofia de Shiki-Shin-
Funi (inseparabilidade da matéria e espírito) de Nitiren Daishonin ou a Democra-
cia, Budista que não é materialista e nem espiritualista. Daqui para diante, desejo
que analise profundamente a sua própria conclusão.
— ... Compreendi perfeitamente.
O rapaz respondeu sincera e sumariamente.
Toda, então, disse sorrindo:
— Não. Não poderá compreender tão facilmente.
A gargalhada explodiu no auditório.

37
As perguntas foram surgindo uma após a outra. Uns desejavam saber
sinceramente a verdade; outros perguntavam por ironia; alguns, escondendo o
seu senso crítico, inquiriram para irritar o autor e também levantavam
questões por curiosidade; acontecia o mesmo, como na maioria das sociedades.
Apesar disso, ele respondia com clareza e convicção, a cada um dos
interessados.
As perguntas continuaram. Já passavam das cinco horas da tarde.
Toda chamou Massuda e conversou em voz baixa.
Interrompendo as perguntas, disse Massuda:
— Sendo moderador, sinceramente, estou muito contente em realizar uma
reunião assim vivamente proveitosa, nesta vila do interior. Agradeço
profundamente a todos os presentes. Como as horas já estão adiantadas e
reconhecendo as exigências naturais dos presentes, devo encerrar esta reunião.
A seguir, às dezenove horas haverá uma reunião de confraternização em torno do
Prof. Jossei Toda na minha casa e aqueles que desejarem, estão convidados com
todo prazer. Agradeço sinceramente a todos os que hoje compareceram.
As nuvens estavam completamente vermelhas, tingidas pelo crepúsculo. O
grupo saiu para fora, deixando o ambiente caloroso do auditório. A brisa de
outono, à tar-dinha, suavizava a sensibilidade.
Os relevos das montanhas descreviam uma variedade de figuras como
aquelas encontradas nos tecidos. Era exatamente uma enorme tela panorâmica
desenhando as maravilhas do céu e da terra.
As espigas de arroz moviam-se como ondas douradas.
Esta sinfonia pastoral, essa tranqüilidade, era o canto de uma melodia
silenciosa. Era outono, outono dos frutos em todos os campos.
O grupo logo chegou à casa de Massuda e, imediatamente fez o Gongyo
da noite. Após o jantar simples, novamente levaram a espiga de milho cozido aos
dentes. Durante a apreciação do chá, o ambiente floresceu alegre e
animadamente, com as conversações agradáveis.
A tarde morria e aproximava-se a noite. Nessa chegaram cinco ou seis
camponeses. As duas irmãs

38
Massuda penetraram na escuridão à procura dos seus convidados.
Iniciou-se o Chakubuku individual, perto do aquecedor e nos cantos da
sala. Uma vez decidida a conversão, levavam os convertidos à frente de Toda.
Em primeiro lugar, um professor primário de cerca de vinte anos de idade
resolveu converter-se. Foi ele quem perguntou sobre a democracia.
Os dois camponeses que pareciam ser simples e honestos estavam
perturbados na questão da rejeição dos objetos religiosos anteriores (Hobo-Barai)
para praticar esta, pura e genuinamente. Uma certa jovem de dezessete a dezoito
anos, por iniciativa própria, veio de boa vontade para se informar sobre o que se
deveria fazer para converter-se.
Quatro pessoas converteram-se. O grupo ficou bastante entusiasmado.
Quem mais se sentiu satisfeito e orgulhoso foi o próprio Kyuitiro. Sua
fisionomia estava mais corada do que a dos jovens. Ele foi junto à sua esposa
que estava arrumando a cozinha e intimou-lhe com suas cutucadas:
— Traga tudo o que tiver em casa. Ofereça tudo que
se possa comer!
Do fundo da despensa, Kyuitiro trouxe cuidadosamente um vaso. Naquela
época, em todas as casas onde se plantava arroz, havia sempre preparado o
"sake" integral (Doburoku). Era uma bebida feita secretamente pelo ex-policial,
com especial carinho e dedicação.
— É a primeira vez, nesta noite, que eu venho apreciar um sake feito
por um policial. Como é gostoso!
Brincando com Massuda, Toda mostrava-se eufórico.
Sobre a mesa do jantar havia uma variedade de pratos como: abóboras,
batatas cozidas, beringelas assadas, uvas do mato, castanhas, verduras em
conservas, "Kim-pira-Gobô" (bardana apimentada) e os peixes do rio cozidos a
vapor. Eram pratos interessantes e genuinamente campestres.
Todos comiam e conversavam sem cerimônias. O jantar foi se
transformando num ambiente de banquete agradável e feliz.
Com a sugestão de Toda, cada um começou a cantar entusiasticamente.
Surgiram até bailados. Foram apresentados

39
desde a tradicional canção folclórica até à mú-
sica popular como o "Canto da Maçã"!
O sucesso da apresentação das lições fizeram com que eles se tornassem
mais vividos e vigorosos.
Nessa noite, aquela casa isolada no interior das montanhas, estava
dominada pela atmosfera alegre e animada, nunca experimentada antes.
O próprio Toda cantou. Em seguida ele mesmo dançou. A sua dança
parecia como um. bailado flutuando no ar. Era como aquela apresentação de
"noh" que dignificava a coragem e a nobreza. Os movimentos do seu corpo
longilíneo descreviam no ar os traços surpreendentes de ação a cada momento;
da parada ao início e do início à parada. Os atos representavam a sua visão
inspiradora.
Os aplausos ecoavam sucessivamente. As ondas de
vozes sorridentes chocavam-se mutuamente. Todos sentiram-se felizes e
sorridentes. Ninguém percebera o anoitecer.
Não havia outras casas na vizinhança. O ar da noite nas montanhas cobria
essa casa repleta de alegria. Até a escuridão protegia-a com a sua ternura.
Sob as folhagens da redondeza, os insetos do outono cantavam juntos e
intensamente, fazendo a apresentação do seu coral.
— Amanhã teremos muito que fazer. Vamos descansar? — quando
Toda assim disse, já passava da meia noite.
— Quatro e meia da manhã é a hora da nossa partida. É necessário
acordar às quatro. O trem da Linha Tono que para na estação de Kurobane
partirá às seis horas.
O grupo estava planejando chegar à cidade de Kiriu, Pref. Gunma, ao meio
dia. Os membros da Gakkai em Kiriu estariam aguardando ansiosamente.
Caminharam apressadamente pela estrada escura em direção a Kurobane.
O ar frio da madrugada era um bom remédio para eliminar o sono. Assim
mesmo estava muito frio.
Após uma certa caminhada pela descida, Toda que era fortemente míope,
escorregou à beira de um riacho. Até chegou a molhar uma das pernas até à coxa.

40
Kiyohara e Sakata correram junto a ele e começaram a limpar.
Apoiando a sua mão sobre o ombro de Kiyohara, Toda disse rindo:
— Ainda bem que não era uma fossa.
Todos riram ao mesmo tempo. Em todo lugar e em quaisquer
circunstâncias, ele nunca esquecia o seu senso de humor.
As irmãs Massuda que vieram para se despedir, não paravam de rir.
Enfim, o céu começou a clarear.
Massako uma das irmãs, aproximou-se abruptamente de Toda e
perguntou:
— Mestre. . .
— Diga.
Ela fechou a boca e hesitou em falar.
— Fale o que deseja. Ouvirei tudo.
— Mestre. . . Eu gostaria de ir a Tóquio.
— Como?. . . Ah! já sei. É sobre o seu casamento? Massako,
envergonhada, emudeceu.
A sua intenção foi acertada pela intuição de Toda. Intimamente ela se
surpreendeu.
— Não seja impaciente. A felicidade nem sempre está longe de si —
disse-lhe brevemente.
— Mas, Mestre . Já se passaram três anos, desde que saí de Tóquio.
Surgiram muitas propostas mas nenhuma delas achei interessante. Em primeiro
lugar, eu percebi que não podia encontrar no meio desta montanha, nenhum
homem na altura de ser meu companheiro. Desejo voltar para Tóquio de
qualquer maneira.
As suas palavras formulavam uma afirmação fortemente decidida. Como a
maioria das moças da época, a guerra fez com que Massako retardasse
forçosamente a idade do casamento.
Mesmo após a guerra, ela foi obrigada a permanecer em meio às
montanhas de Nassu. Fazia-se pressentir que a idade do casamento ia-lhe
fugindo rapidamente. Antes que percebesse isso, ela já estava impaciente.
— Então você acha que em Tóquio poderia encontrar um noivo
excelente?
— Eu penso que sim. . .

41
— Não vai encontrar. Não deve se afobar. Só traz
a infelicidade.
Definitivamente, ele desaprovou esta idéia. Ela se mostrou completamente
desanimada pelo seu desapontamento.
— Faça uma prática religiosa pura, firme e correta.
Mesmo pensando que seja iludida. Prossiga com a fé
admirável e verá. No interior das montanhas ou nas grandes cidades, em algum
lugar encontrará um homem admirável e adequado a você. Como sucederá? Eu
não sei. Certamente, isso acontecerá. O importante não é o lugar.
É a fé. Se assim não fosse, o Gohonzon seria falso,
As orientações eram feitas em qualquer lugar e em qualquer momento,
sem formalidades de orientador ou do orientado. Esse era o método de
orientação de Toda. Simples orientações como essa, influirão grandemente na
vida de uma pessoa. Portanto, deve ser condenada a imposição forçada pela
ignorância. Não se cometerá nun-ca_o_-erro, se a orientação for baseada somente
no Myoho "ou na fé_legitima.
— Não há o que se preocupar. Nem um pouco.
Atuando a fé, abra amplamente o seu destino. Estarei
observando sempre. Não deverá nunca ser impaciente —
disse Toda numa tonalidade rigorosa.
Massako meditou profundamente e compreendeu. Toda segurou as mãos
de Massako e disse como um pai carinhoso.
— Seja sadia. Não fique complexada. Com sua fé,
lute com bravura em Nassu.
As lágrimas brotaram nos olhos da moça.
A noite já se fora e já clareava o dia.
O trem partiu exatamente às seis horas da manhã.
Respondendo à flutuação do lenço com que Kiyohara acenava, as irmãs
Massuda abanavam da plataforma da estação, suas mãos sem parar.
O trem partiu vagarosamente. Talvez devido à falta do sono na véspera,
logo dormiram todos tranqüilamente.
Toda mastigava demasiadamente as pílulas mentola-das. Em seguida,
contemplava a extensa planície que se via através da janela.

42
Ao norte, as filas de montanhas mostravam-se uma atrás das outras, cada
qual com o seu elevado pico.
Lançando os seus olhares fixos sobre a relva dos pampas à beira da
ferrovia, ele se absorvia na mais profunda meditação, sem perder, por um longo
tempo, a expressão séria e rigorosa.
Se caminhar até os picos das montanhas, poderá certamente chegar até lá.
Mesmo que sejam longínquos, elevados ou acidentados. . . Se caminhar passo a
passo poderá, certamente, transpor quaisquer montanhas. Não há dúvida sobre
isso. Entretanto, quando e onde surgirão as montanhas e os rios por onde irá se
arrastar a Paz Mundial? Que espécie de montanhas seriam estas?
Já se foi uma noite de Toda, no primeiro passo da orientação regional. As
montanhas e rios pareciam tão distantes. . .
Nesse momento, fora absorvido num vácuo imenso, dentro do qual as
montanhas do mundo exterior encontravam-se com as montanhas do seu mundo
interior.
Montanhas e rios da Paz Mundial.
Sem dúvida, deverão ser cordilheiras formando filas de cinco, dez, vinte
ou mais montanhas.. . Não poderiam ser transpostas apenas pelos passos de uma
caminhada.
Seriam então, as montanhas de maldades. A luta contra essas maldades
que não mostram nem mesmo a sua sombra! É luta que não permite um
momento de falha e descuido!
Enfim, as montanhas e rios do "Kossen-rufu" não seriam atualmente as
maldades que permanecem difundidas no Universo sem fim?
Toda meditava. Contemplava com nostalgia e saudades de Nitiren
Daishonin, enquanto serenamente fazia as preces de Daimoku. . .
* * *
O trem entrou na estação de Nishi-Nassumo. O grupo transportou-se para
a Linha Principal Nordeste e chegou à estação de Koyama. Em seguida fez
baldeações para a linha Ryomô.
Havia dois ou três companheiros na estação de Kiriu, aguardando-os.

43
O grupo foi conduzido à casa de um antigo praticante da Nitiren Shoshu
que se situava numa rua movimentada dessa cidade. Nesta casa morava a família
Miyata. Yamada, Noguti, Kito e outros membros da Gakkai que durante a guerra
se abrigaram nela, realizavam freqüentemente reuniões de Zadankai mesmo
debaixo do racionamento da luz. Vieram mantendo acesas as chamas da fé sem
serem apagadas. Aí havia um templo da Nitiren Shoshu e deve ter servido de
academia para o exercício do Budismo entre eles.
Imediatamente, Toda iniciou o Gongyo na casa de Miyata. Com surpresa,
a maioria dos praticantes não conseguiam ler as sutras.
Após um breve descanso, o grupo foi à casa de um recém convertido
chamado Mizuta, local onde havia sido escolhido para a reunião.
No caminho, Toda conversou insistentemente com Yoshizo Mishima:
— A fé atinente aos membros desta região parece
ser impura. Se não purificarem o quanto antes, terão gran
des dificuldades mais tarde. Peço retornar freqüentemen
te aqui, a fim de fazer orientações rigorosas. Terá que
fazer sacrifícios.
Nessa ocasião Mishima nada percebeu. Entretanto, até essa região atingir
ritmo normal das atividades da fé, foram dispendidos meses e anos.
Dez pessoas estavam presentes na reunião. Dentre eles apenas um
convidado.
Jossei Toda conversou individual e fraternalmente com todas as pessoas.
Perguntou das condições de vida de cada um deles e orientou minuciosamente.
Em seguida, explanou a preciosidade do ensino e da profundidade da
benevolência do Budismo de Nitiren Daishonin.
Finalmente ele concluiu:
— Eu, Toda, farei o "Kossen-rufu". Não deixarei a
ninguém. Sigam-me todos, firmemente. Certamente acumularão a sorte imensa
pela Paz Mundial.
Converteu-se aquele convidado único.
À tarde, o grupo deixou apressadamente a cidade de Kiriu.
A confusão da Ferrovia Tobu, no dia do feriado era bem pior do que a da
Ferrovia Nacional.

44
Com o afluxo de caçadores de gêneros alimentícios nos períodos de
feriados sucessivos, as vidraças de todas as janelas foram danificadas e os
passageiros moviam-se aflitos. Quando se abria a boca, só saía discussões. As
pessoas encurraladas nos vagões pareciam sardinhas em lata. Nem espaço havia
para provocar agressões violentas.
Quando chegaram à Assakussa, as pernas de Toda perderam totalmente a
sensibilidade.
A primeira orientação regional de após guerra de três dias pode-se dizer
que superou uma dificuldade. Através disso criou a convicção de que, sejam
quais forem as montanhas e rios, podem ser atravessados pela caminhada. Os
discípulos também devem ter conseguido a mesma convicção.
Agora, sabe-se que naquela época uma cunha enorme foi fincada na
região.
Atualmente há 50.000 membros da Gakkai na Prefeitura Totigui e 65.000
na Prefeitura Gunma, correndo pelas montanhas das duas prefeituras,
desfraldando as numerosas bandeiras dos respectivos capítulos.

45
O Prólogo

A época muda a cada instante,


Sem pausa, mesmo um momento sequer.
...É a Nova Era. por assim dizer,
Como águas velozes do rio possante.

No dia 3 de novembro de 1946, foi promulgada a "Nova Constituição do


Japão'".
A Constituição do "Grande Império Japonês" conhecida como a
Constituição de Meiji, foi radicalmente reformada nessa ocasião. A Velha
Constituição era, por assim dizer, um regime de centralização em torno do
Imperador e que favorecia a ascenção do militarismo.
Como todos sabem, houve alterações radicais nos dois pontos da Nova
Constituição que foi o Artigo 1.° e o 9.°. Entretanto, ninguém imaginava que o
conteúdo desses artigos iriam exercer grande influência no futuro. E
extremamente duvidoso que os lideres da época como Gen. MacArthur, Kijuro
Shidehara ou Shigueru Yoshida tivessem realmente compreendido o espírito
destas leis.
Artigo 1.° — O imperador é o Símbolo do Estado e da Unidade Nacional,
cuja posição se baseia na soberania do povo.
Artigo 9o —
Parágrafo 1 — A nação japonesa, com a sincera aspiração à Paz
Internacional baseada na justiça e na ordem, renuncia para sempre à guerra como
direito soberano da Nação, bem como às ameaças ou ao uso da força como meios
de resolver os conflitos internacionais.

46
Parágrafo II — Para cumprir o Parágrafo anterior, não manterá Exército,
Marinha, Aviação ou outras Forças. Não será reconhecido o direito de
beligerância do Estado.
A Nova Constituição, em última análise, é conhecida como a
"Constituição da Paz" e proclama a completa destruição do Sistema Imperial
Totalitário e a Renúncia à Guerra.
"A Soberania emana do povo". A declaração do princípio como este é
muito natural do ponto de vista das principais potências mundiais. A dissolução
do sistema imperial era uma expectativa comum no pensamento da maioria.
Entretanto, a renúncia eterna da guerra, certamente foi um choque
completamente surpreendente no senso da política mundial.
Foi um fato muito estranho presenciar no Japão, conhecido como um país
pró-belicismo, o surgimento do artigo 9.° que contém uma ideologia do
pacifismo absoluto.
Há controvérsias sobre a publicação desta lei, se foi imposto pelo Quartel
General ou se partiu da livre vontade expressa do Governo Japonês, mas, não
importa a sua origem.
O importante é que, mesmo a Constituição, respeitada como a Carta
Magna da Nação, é alterada pelos homens com o decorrer da época. Tudo neste
mundo é transitório ou Chogyô-Mujô. Se todos soubessem disso, desejariam
unanimemente a necessidade da Lei Básica da Eterna Imutabilidade da Magna
Filosofia e da grande Ideologia da Existência Eterna do Verdadeiro Budismo.

* * *

No início da ocupação, o país estava numa situação extremamente


insegura, a tal ponto que a nação iria perder totalmente a sua faculdade
contemplativa.
O aparecimento inesperado deste artigo, como um cavalo que surgisse da
cabaça, foi um fenômeno surpreendente que seria admirado por mais que se
meditasse profundamente.
Nessa ocasião, MacArthur estava encerrando a destruição do potencial
bélico do Japão. Estaria ciente de que a sua missão seria retirar essa capacidade a
fim de que o Japão não pudesse mais levantar novas guerras no futuro.
Entretanto, ele reconhecia que isso seria um

47
problema dentre os mais difíceis e sem precedentes na história. Deve ter sido a
questão que mais o preocupou em dispender o máximo do seu esforço.
A inteligência do Governo Japonês sob ocupação, quer o do Ministro
Shidehara ou Yoshida, dirigia toda atenção à preservação do Regime Imperial
ameaçada pelo Comando Geral do Extremo Oriente. Embora o julgamento do
Imperador como criminoso de Guerra fosse suspenso, a conservação da família
imperial era para oi líderes japoneses, uma preocupação das mais importantes.
Em conclusão, eles estavam prontos para aceitar quaisquer exigências ou
impedimentos pela preservação da família Imperial. Para isso, achavam-se
obrigados a mostrar uma atitude franca de um país absolutamente pacifista.
Pode-se dizer também que no meio das operações
de táticas e estratégias de ambas as partes, quer do lado
vitorioso como do derrotado, surgiu inesperadamente o
artigo 9.°.
A Revisão da Constituição foi cogitada inicialmente em 11 de outubro,
logo após a guerra, quando MacArthur propôs a Reforma da Constituição do
Japão em bases democráticas, ao Ministro Shidehara.
O Governo iniciou imediatamente os preparativos para o projeto da
Reforma. Os partidos políticos, bem como as organizações políticas, cada qual
por si elaborou os projetos da sua reforma. O interesse das opiniões públicas
sobre o assunto elevara-se gradativamente.
Sob a aprovação do Gen. MacArthur, o Governo preparava a reforma
junto com Fumimaro Konoe, o Ministro do Interior em exercício, por motivo de
que o Quartel General Americano em Tóquio, havia enviado previamente,
sugestões baseadas em doze principais artigos. Nesses artigos não haviam sido
mencionadas evidentemente as mudanças de posição quanto à soberania do
Imperador e nem sobre a renúncia à guerra.
Passado certo tempo, a opinião pública mudou-se repentinamente, em
virtude da exigência de que a "Reforma Constitucional é da competência do
Governo e não do Ministério da Casa Imperial. O Gen. MacArthur, por outro
lado, desmentiu que nunca havia comentado com Fumimaro Konoe a esse
respeito.

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Konoe lavou as suas mãos, abandonou a elaboração da reforma e suicidou-
se, logo após tomar o conhecimento de que seria preso como criminoso de
guerra.
No dia 8 de dezembro, o Ministro do Estado Joji Ma-tsumoto propôs na
Assembléia .Nacional, os quatro princípios para a reforma. Entretanto, estes
eram quase idênticos àquela Primeira Constituição de Meiji.
No Projeto da reforma de cada partido, todos davam direito de poder
soberano ao Imperador.
Mesmo o partido socialista que era considerado como avançado, pensava
na divisão da soberania ao Imperador e ao Estado. Até o partido comunista que
exigia a abolição do Sistema Imperial, nada havia ventilado sobre a renúncia à
guerra.
Tanto os políticos liberais como os conservadores são homens. Os planos
políticos são também elaborados pelos homens. Nessa época não havia políticos
que lutavam com todo seu esforço e inteligência possuidora de visão acertada
para a época em prol do futuro, embora possam alegar o motivo de que a nação
estava no meio da intensa confusão social.
Atualmente, estão surgindo novas tumultuações a respeito de uma outra
reforma. A política do Japão, como sempre, é ainda muito decepcionante.
No dia 4 de fevereiro, o Governo aprovou o Projeto Matsumoto que se
baseia em quatro princípios. Era ainda, evidentemente, tradicional como sempre,
ilustrando, "o Imperador deve ser respeitado e não deve ser violado". De maneira
alguma este projeto poderia ser aprovado pelo Quartel General. No dia 8 de
fevereiro, o General MacArthur rejeitou este Projeto do Governo.
Como são incompetentes os políticos do Japão! Não havia homens de
visão ou de convicção. Foi, realmente, um evento muito triste.

* * *

O próprio MacArthur, por outro lado, contou um fato


estranho.
No seu "MEMORIAL" revela o seguinte:
— No dia 24 de janeiro, o Ministro Shidehara visitou
MacArthur uma vez, numa oportunidade em que Shidehara

49
elaborava a Nova Constituição do Japão. Ele sugeriu ao General, a inclusão da
renúncia para sempre do poderio militar e do direito à guerra.
— Tão grande foi o meu espanto ao ponto de perder o equilíbrio.
Parecia-me ser imune à surpresa e à emoção pelos longos anos de experiência da
minha vida, mas desta vez fiquei tão chocado ao ponto de perder até a
respiração.
— Era um sonho de longos anos da minha ansiedade, resolver
internacionalmente o impedimento da guerra e rejeitá-la como um meio de
solução por considerar-se fora da época.
Talvez não exista um homem entre todos os vivos que mais sentiu a
experiência da guerra e a sua destruição do que eu. A minha participação nas seis
guerras de grande escala, em vinte campanhas... e finalmente a conclusão da
bomba atômica, o meu sentimento de ódio contra a guerra, naturalmente já
estava no auge.
— Quando eu toquei nesse assunto, Shidehara ficou tão surpreso que,
ao sair do meu escritório ele me respondeu, voltando a sua face enrugada e
banhada de lágrimas:
— O mundo irá nos lisongear como visionários ou sonhadores. Mas
daqui a cem anos, seremos chamados de profetas.
Assim, de acordo com esta prova, um general com o seu idealismo
sistemático e um velho primeiro ministro que estava sacrificando tudo de si
como último esforço para a preservação da família imperial, permaneciam jun-
tos, surpreendidos e emocionados mutuamente. Ambos estavam em torno de
setenta anos de idade.
O que se deve chamar a atenção" foi o dia em que estes dois homens
idosos ficaram surpresos na afirmação um para outro, era justamente 24 de
janeiro. Por outro lado, o Plano Matsumoto, quase idêntico àquela Constituição
de Meiji, foi escolhido como Plano do Governo para a Nova Constituição,
justamente no dia 4 de fevereiro, onze dias depois desse encontro... Em seguida,
esse Plano do Governo foi rejeitado pelo Quartel General no dia 8 de fevereiro.

50
É muito estranho o fato da apresentação deste Plano Matsumoto pelo
Primeiro Ministro Shidehara, o responsável máximo do Governo da época,
apesar de ter sido emocionado no dia 24 de janeiro.
Suponhamos que o episódio da emoção lacrimejante dos dois homens de
idade avançada fosse um fato verídico.
Esta idéia de rejeição do poderio bélico e da guerra como um plano
imaginário tão desejado, não poderia ser considerada como uma visão rápida que
passou inesperadamente na mente de ambos durante o encontro?
Enfim, por mais que se pense, não se pode dizer que a cláusula contra a
guerra partisse do idealismo firmemente implantado no pacifismo absoluto.
Para MacArthur, a idéia da rejeição à guerra e do poderio militar surgida
na conferência de 24 de janeiro, deve ter sido tomada certamente como uma
inspiração divina vinda do céu.
O meio mais eficaz e inteligente para eliminar para sempre o potencial
bélico do Japão, seria afirmar corajosamente esta rejeição na Constituição.
O íntimo de um idealista foi assim apalpado com a penugem pruriginosa.
* * *
No dia 13 de fevereiro, o projeto da Nova Constituição foi entregue pelas
mãos do Quartel General para o Governo Japonês. Era um projeto elaborado por
MacArthur, baseado nos três princípios novos. Foi o momento em que apareceu
pela primeira vez a Renúncia à Guerra e a Abolição do Rearmamento, em um
dos três princípios.
A cúpula do Governo Japonês ficou totalmente desesperada perante o
projeto enviado pelo Comando Geral.
Foi, realmente, como uma trovoada em pleno céu azul.
O gabinete dividiu-se em duas opiniões e os debates ainda não se
concluíam, apesar de ter esgotado o prazo de entrega do resultado até o dia 20.
Então, foram solicitados mais dois dias de prorrogação pelo Gabinete e
houve até mesmo uma nova confirmação quanto à opinião do General.

51
MacArthur opinou que a União Soviética e a Austrália, entre outros países,
ainda continuavam temendo o Japão, e por isso protestaram veementemente
contra o Regime Imperial. Para que o povo japonês possa manter a continuidade
do Regime Imperial, argumentou que seriam absolutamente necessárias, a
simbolização do Imperador e a renúncia à guerra na Constituição. Deu o seu
parecer, que a aceitação destes dois princípios iria favorecer a situação do Japão
e possibilitaria a continuidade do Regime Imperial.
Na verdade, a opinião do Comando Geral do Extremo Oriente ainda era
muito desfavorável para o Japão. Mesmo na investigação da opinião pública dos
USA , a exigência da abolição do Regime Imperial era de 71% e ao mesmo
tempo, o Governo da China Nacionalista exigia que a manutenção ou a abolição
do Regime Imperial deveria ser decidida pelo plebiscito do povo japonês.
Portanto, o problema centralizou-se em torno da questão de como
solucionar a situação do Imperador, diante da pressão dos países vitoriosos.
Para isso, os Arts. 1.° e o 9.° da Nova Constituição seriam chaves para a
salvação.
O Quartel General transmitiu novamente ao Governo Japonês, a intenção
do General MacArthur:
— Caso o Governo Japonês não seguir fielmente o desejo do Comando
Geral, o próprio MacArthur está disposto a revelar esta questão perante a nação
japonesa.
Independente da sinceridade ou da ameaça, ele afirmou categoricamente
desta maneira.
A revelação à nação, desse modo, seria um golpe mortal para o governo
japonês que vinha mostrando o sucesso na sua administração indireta do país sob
Ocupação.
Shidehara tomou a decisão e comunicou ao Imperador. O Imperador
aceitou a opinião do Gen. MacArthur. O Gabinete aprovou esta solução e este
plano foi subitamente anunciado no dia 6 de março, como a Nova Constituição
do Japão elaborado pelo Governo.
Desencadeou-se uma surpresa na camada intelectual e a nação foi também
surpreendida ao mesmo tempo. Era um fato inacreditável, pois, o Plano
Matsumoto apoiado

52
pelo Governo sofreu tamanha transformação no período de um mês.
É o Governo do Partido Conservador que desta vez lança o projeto, cujo
conteúdo é bem mais progressista do que o dos socialistas.
Os socialistas ficaram desapontados. Os comunistas devem ter sentido
como se estivessem enganados pelos lobos. Evidentemente, a maioria sofreu
para compreender o significado.
— A Filosofia do Pacifismo Absoluto com Renúncia
à Guerra mostrou subitamente a sua fisionomia no território japonês devastado
pela guerra. Tal documentação no artigo e parágrafo da Constituição é um
exemplo sem precedente na História da Humanidade.
Se recorrer ao exemplo anterior, poder-se-ia encontrar o 'Pacto de Não
Agressão' proposto pelo Primeiro Ministro Francês Bryant e assinado no dia 27
de agosto de 1928 por 15 países inclusive o Japão, os U.S.A., a Inglaterra, a
Alemanha e a Itália. Entretanto, a sua natureza é intrinsecamente diferente da
Constituição do país.
Nele se evidencia o seguinte:
Artigo 1.°:
— Os países pactuantes reconhecem solenemente
em nome do respectivo povo, considerando como crime,
o uso da guerra para a solução dos conflitos interna
cionais. . .
O pacto de "Não Agressão" elaborado no Ministério das Relações
exteriores da França, transformou-se posteriormente num simples pedaço de
papel.
Nesse ínterim, a Constituição Espanhola anunciava a renúncia à guerra de
invasão e o mesmo se dava com a Constituição Italiana. Entretanto, nunca
chegaram a afirmar até então a renúncia completa da guerra e do rear-mamento.
A História registra que o Rei Asoka da índia, apesar de ter feito inúmeras
conquistas, abandonou finalmente a guerra, obedecendo fielmente o pacifismo
baseado no Ensino Budista.

***

O Gabinete Shidehara retirou-se deixando como presente o projeto da


Nova Constituição. O Ministro do Exterior

53
Shigeru Yoshida que o sucedeu, reorganizou o seu novo Gabinete. Em
seguida, a Nova Constituição foi revisada na Dieta e nessa ocasião, ele revelou a
sua verdadeira intenção na resposta a uma das perguntas sucessivas.
— Embora surja uma Nova Constituição, penso que
não haverá alteração no estilo político da Nação Japonesa.
É surpreendente esta declaração.
Festejando a Nova Constituição com uma mera ideologia da paz, ele
respondeu que na realidade, não haveria quaisquer alterações como se estivesse
dentro do espírito da Velha Constituição.
Portanto, é mais acertado dizer que o governo da época estivesse
aproveitando o Artigo 9.° como uma bandeira para poder atravessar o profundo
vale cavada na mais tensa situação internacional.
Nossaka, o líder do Partido Comunista, levantou sua crítica na Câmara dos
Deputados anunciando que a renúncia à guerra estava avançando
demasiadamente até chegar ao ponto de rejeitar a guerra de legítima defesa.
Nessa ocasião, Yoshida refutou-a dizendo:
— Parece que a guerra para a legítima defesa do pais
está sendo considerada como ato legal, mas eu penso que
tal conceito é prejudicial ao país.
Posteriormente ambos retornaram a discutir o mesmo assunto, porém em
posições opostas. Hoje, ao ler o registro das atas da Câmara, percebe-se
numerosos absurdos completamente estúpidos.
Todos eles são mortais comuns. Parecem ser inteligentes, mas são
medíocres. Penso que é necessário abrir cada vez mais suas atenções para os
ensinos de Nitiren Daishonin.
De ambos os lados, apenas estavam brincando com o Artigo 9.° como se
fosse um brinquedo. Portanto, não seria possível que este artigo surgisse do
debate sincero dentro da verdadeira compreensão.
Seja o que for, a Nova Constituição foi aprovada na Câmara dos
Deputados no dia 24 de agosto, com a aclamação pela maioria absoluta. Em
seguida, no dia 7 de outubro, a mesma foi aprovada no Senado e assim teve a sua
existência em vigor.

54
Entretanto, quem mais se arrependeu diretamente alguns anos depois, foi
sem dúvida o próprio General Mc-Arthur. Ele deve ter sentido desesperadamente
a necessidade do rearmamento do Japão para a defesa americana por ocasião da
Guerra na Coréia em 1950. Porém, o Artigo 9.° permanecia em sua frente como
um obstáculo intransponível.
Nada podia-se fazer com os jovens japoneses. Graças a este Artigo 9.° os
jovens japoneses foram salvos da convocação para a Guerra da Coréia e do
Vietnã.
O motivo que levou urgentemente à elaboração da Nova Constituição foi a
intenção de eliminar para sempre o potencial bélico do Japão. Em contraposição,
o Governo Japonês aceitou como o meio de preservar a Família Imperial a
qualquer custo, diante da pressão da política internacional fortemente
desfavorável ao Japão.
Para isso, o Artigo 1.° que se refere ao Imperador Simbólico e o Artigo 9.°
que se refere a renúncia à guerra, foram aproveitados como protesto legal. Isso
não seria a opinião mais acertada?
Entretanto, o Artigo 9.° vem contrariando as preten-ções políticas e
atualmente possui uma força particularmente específica em relação à paz no
Japão.
Os tempos passaram. Vinte anos depois. — Surge uma relação enigmática
entre o Artigo legal imutável e a mutação da mente humana em conseqüência
das circunstâncias da época.
O Partido Conservador está planejando atualmente a revisão da
Constituição atual, com o propósito de rearmamento através dos processos
políticos legais baseados na ampliação das Forças do Sistema de Auto-Defesa. O
seu adversário, o Partido Comunista, protesta contra a revisão como se fosse o
próprio pacifista, aproveitando o Artigo 9.° que surgiu inesperadamente como a
retribuição aos sacrifícios dramáticos da derrota.
Os conservadores e revisionistas da Constituição vigente disputam em
torno do Artigo 9°. ora repetidamente, ora violentamente, conforme a constante
mudança da situação. Seja como for, a Constituição é a lei básica do país, que a
nação deve resguardar.

55
A sua reforma deve ser baseada na opinião unânime da nação. Não deve
ser alterada pelos partidos políticos e nem por um punhado de usufrutuários do
poder. Alguns autores são de opinião que a mudança da Constituição ocorre em
conseqüência da transformação social. Nisso há razão até certo ponto, mas há
possibilidades em mudar para o pior e assim terá a mudança da Constituição
também para o pior. O que devemos observar seriamente é a unanimidade. Não
deve ser cogitada apenas na formalidade ou na legalidade, mas sim, deve ser
sempre baseada na verdadeira opinião unânime da nação.
Novembro de 1946.
Toda permanecia em profunda meditação no seu leito, na madrugada do
dia da promulgação da Nova Constituição.
A análise contemplativa feita dessa maneira era o seu hábito de sempre,
na hora do alvorecer.
Surgiu um ruído barulhento sobre o forro do teto. Era um bando de ratos.
— Ei. ratos. Como estão animados!
A diversão dos ratos significava a mudança da situação dos gêneros
alimentícios no seu lar. Nesses anos passados, nem os ratos faziam as suas
visitas costumeiras.
O Artigo sobre a renúncia da guerra e do poderio militar, fê-lo pensar
inicialmente como que um fenômeno totalmente anômalo. Desde a sua
elaboração até à publicação final, o trâmite dos processos foi completamente
ambíguo. Até parecia com o conto da chuva e da fonte no deserto.
O início do fio da meada do seu pensamento era a respeito sobre qual
sistema político partidário teria qualidade para evidenciar naturalmente o ideal
desta Constituição; ao pensar nisso, Toda percebeu algo como que estivesse
agarrando o raio brilhante que iluminasse o futuro.
— Não poderia ser posta em prática pela estrutura
política do capitalismo e nem seria possível ser realizada
pela estrutura política do comunismo. A realidade prova

56
isso claramente. A seqüência dos fatos da história mostra-o bem evidentemente.
Se não transformar o homem que é a base fundamental, não poderá
renovar a sociedade no futuro, embora mude a estrutura social, mesmo que
aplique o regime socialista da melhor espécie ou que adote o sistema político dos
mais democráticos.
Não poderiam ter coragem para renunciar à guerra, vivendo com o temor
da explosão nuclear. Como o ser humano é mal feito! Mesmo que esteja muito
bem intencionado, uma vez que se relaciona com as más circunstâncias, poderá
imediatamente provocar atos tão desastrosos! Assim é a natureza do homem.
Aqui está o limite dos inúmeros estadistas assim considerados famosos até
agora. Tão pouco se pode acreditar que eles possuam capacidades para preservar
eternamente o Artigo 9.°.
O Artigo 9.°, — atualmente é uma expressão vazia. Porém, não há dúvida
que é o anseio criado nos corações das pessoas que conheceram a tragédia e a
crueldade da guerra. Para possibilitar a evidenciaçáo dess9 anseio, na realidade,
é absolutamente necessária a aplicação de uma ideologia política totalmente
nova.
Qual será, então? Tanto o capitalismo como o comunismo, poderiam ser
considerados como um limite à inteligência da atualidade. Entretanto, com as
bases nestas ideologias, já se torna inevitável o impedimento da Terceira Guerra
Mundial e infelizmente, torna-se impossível evitar a guerra, apesar do anseio
desesperado da humanidade para a paz.
— O Materialismo ou o Espiritualismo, por mais que se aproximem,
tais posições não permitirão realizar a paz, na base dos seus debates teóricos. Na
compreensão de todos, isso é bem evidente.
— Estou convicto! Creio na ideologia que poderá orientar plenamente
ambas as ideologias. — É a Filosofia de Shiki-Shin-Funi de Nitiren Daishonin.
A repercussão desse princípio na sociedade é a Paz Mundial. Chamar-se-ia
de 'Obutsu myogo' que é a aplicação desse princípio na política.

57
Quando surgir uma estrutura política com base nesta ideologia, esta
Constituição poderá ser compreendida sincera e naturalmente por toda a nação.
Poderá ao mesmo tempo ser anunciada amplamente para o mundo, como a
Constituição do Pacifismo Absoluto.
Nessa ocasião, esse canto da terra, certamente acordará do seu eterno
delírio, e usufruirá da paz eterna para viver plenamente de esperança e
tranqüilidade.
O fato do surgimento espontâneo deste artigo que parecia não ter a sua
eficácia no Japão atualmente, apelava algo no coração de Toda.
É a prova da realização do Kossen-rufu neste país, antes de mais nada. A
Paz Mundial é tão acertada como fazer o alvo sobre a terra e é uma diretriz tão
claramente revelada no Gosho. As condições do "tempo", a "oportunidade" e o
"pais", já estão amadurecidos. Ensinar a "doutrina" e realizar a "propagação", eis
aqui as nossas tarefas deixadas para serem cumpridas agora . . Apesar disso,
ninguém percebeu isso. Mesmo que o alertasse, ninguém viria a acreditar.
Jossei Toda rolava sobre o seu leito, por diversas vezes. Em seguida,
colocou as suas mãos sobre o peito e respirou profundamente.
Ele começou a se preocupar sobre o dia da comemoração do falecimento
do saudoso mestre Presidente Makiguti e da Primeira Assembléia Geral depois
da Guerra.
Naquela decisão do ano passado, firmada no dia 18 de novembro,
prometeu a realização da comemoração do 3.° Ano do Falecimento do Mestre,
naquela cerimônia em Kankiryô, Nakano. Esse dia já estava se aproximando.
Novamente, os ratos faziam suas algazarras atrevidamente sobre o forro do
teto.
— Vocês ratos, aí. Não sejam tão levados assim!
Ele estava fazendo uma análise retrospectiva de um ano de luta. Sem
dúvida, gradativamente a Gakkai estava reconquistando a força e a coragem.
Os três mil discípulos de Makiguti, assim chamados, poucos restaram em
virtude da desmobilização e da desistência. Apesar disso, o dia da comemoração
estava sendo comunicado sem falta. Vinham chegando cada vez

58
mais as cartas de adesão provenientes dos membros comunicando sua ida
para Tóquio.
* * *
Dia 17 de novembro, na véspera do dia da morte de Makiguti, a cerimônia
do 3.° ano comemorativo do seu falecimento, foi celebrada no Auditório
Educacional de Kanda, num ambiente de cordialidade.
Na parte central da tela em frente à plataforma, havia sido colocada uma
enorme fotografia de Tsunesaburo Makiguti. Era o local que fazia sentir
saudades do tempo anterior à guerra; pois, aí se realizavam freqüentemente as
Assembléias da Soka-Kyoiku-Gakkai.
As sensibilidades inexprimiveis faziam tremer o corpo das pessoas,
quando percebiam a fotografia do saudoso mestre num auditório nostálgico.
Até a galeria estava quase lotada. Calculava-se 500 a 600 participantes.
Às 10 horas da manhã, a cerimônia foi prosseguida com a leitura de sutras
e as orações de Daimoku. Uns após outros, os participantes iam queimando os
incensos.
Quem estava dirigindo esta cerimônia era o 59.° Sumo Prelado aposentado
Hori-Nitikô-Shonin. Ao seu lado estavam,, Reverendo Taiei Horigome de
Kankiryô (atual Templo Shorinji), em Nakano e Reverendo Hossoi.
A lembrança dos tempos idos e vividos do Presidente Makiguti; a sua
morte trágica na prisão; a sensibilidade profunda, repercutiam em emoções no
coração de todos os participantes. Muitos choravam por não poder conter mais as
lágrimas. Conjuntamente com a fumaça dos incensos, o auditório estava repleto
de profundas emoções.
Quando a cerimônia chegou ao seu final, Jossei Toda dirigiu-se à
plataforma e cumprimentou solenemente Hori-Nitikô-Shonin, Reverendo
Horigome e Reverendo Hossoi.
O Ex-Sumo Hori-Shonin aproximou-se de Toda e murmurou algo.
Toda fez gesto de concordância, ergueu a sua cabeça, voltou-se em direção
ao auditório e disse:
— Ouviremos agora as palavras de Hori-Nitikô-Shonin.

59
O Sumo Prelado aposentado dirigiu-se ao centro da plataforma, retirou o
papel do interior do seu kimono e começou a falar em direção ao auditório.
A sua estatura era pequena. Porém algo fazia lembrar uma velha árvore
resistente. As suas sobrancelhas pareciam brancas e grossas, projetava o reflexo
da faca corada e os olhares penetrantes às vezes brilhavam.
Nessa época, já era um velho Sumo Prelado que havia completado 79 anos
de idade. Disse ele:
— Ao receber a notícia de que hoje os numerosos discípulos do
falecido Presidente Makiguti-Nitijo-Koji iriam realizar uma cerimônia através da
Gakkai em memória do seu mestre, senti profunda admiração e respeito pela es-
tima que todos tem com o mestre e vim especialmente a Tóquio mesmo
estimulando este corpo envelhecido.
— O tempo não me permite relatar agora aqui a respeito do sr.
Makiguti, bem como da Soka-Gakkai em relação a mim. Entretanto, acredito que
a devoção do Sr. Makiguti à propagação do Budismo, correspondeu profunda-
mente ao espírito de Nitiren Daishonin.
— Nehangyô é a sutra que contém os últimos ensinamentos de
Sakyamuni e ali se encontram diversas orientações sobre os cuidados no
prosseguimento da fé para os discípulos após a sua morte. Há uma frase no
Tyoju-bon desta sutra que se refere ao bonzo bem intencionado. . .
Hori-Nitikô-Shonin citou aqui a Interpretação do Nehangyô de Shoan-
Daishi que diz — "A falsa amizade sem benevolência é o ato do inimigo; aquele
que elimina o mau para o seu próprio bem é, portanto, o seu pai" — e fez
lembrar que aquele que permanecer indiferente diante dos atos de profanação ao
verdadeiro Budismo, não é o verdadeiro discípulo; portanto é o falso discípulo.
Entretanto o Presidente Makiguti não permaneceu indiferente diante dos atos de
profanação. Assim como está escrito no Nehangyô, foi um verdadeiro discípulo
do Buda que repudiou com a própria vida, a profanação contra o Verdadeiro
Budismo. Assim, ele elogiou o Presidente Makiguti.

* * *

Hori-Nitikô-Shonin foi um grande magistrado ainda que fosse


desconhecido pelo mundo. Nasceu em 1867

60
como o primogênito da família de Samurai guerreiro do Clã Kurume, em
Kyushu e perdeu a mãe no primeiro ano da Era Meiji.
Com seis anos de idade começou aprender os Quatro Livros e Cinco
Escritas Clássicas do Confucionismo e Tratados de Artes Bélicas do seu avô
Rinta, até ingressar no curso primário quando foi inaugurado em 1875. No verão
de 1879 foi distinguido como o aluno mais aplicado e mereceu o seu ingresso no
2.° ano do Ginásio Meizen. Aos treze anos começou a lecionar no curso primário
e durante vários anos ele experimentou numerosos trabalhos na sociedade.
Em 1885, aos 19 anos, converteu-se à Nitiren Shoshu por intermédio do
Chakubuku de Itiji Mukai, na ocasião em que estava em convalescência de uma
doença.
Em julho de 1887 entrou na vida sacerdotal como discípulo de Myojuni,
chefe do Templo Denmyoji. Exatamente nessa época, o 52.° Sumo Prelado
Nitiden-Shonin estava de saída após terminada a cerimônia oficial de
consagração do Gohonzon nesse templo, e ele, ajuntando-se aos seus seguidores,
tornou-se também seu discípulo.
No ano seguinte, em maio de 1888 foi ao Daissekiji para servir junto ao
Sumo Prelado aposentado e durante nove meses leu por três vezes as escrituras
de Nitiren Daishonin da Nitiren Shoshu e de outras seitas.
No Templo Supremo serviu diretamente a Nitiden-Shonin, e foi-lhe
ordenado a ser bonzo custódio da biblioteca, onde iniciou as suas pesquisas
sobre os documentos históricos da Nitiren Shoshu e das seitas correlatas.
Foi a Tóquio para aperfeiçoar em filosofia na Escola Tetsugakkan em
setembro de 1890 e lá ouviu e estudou inclusive o Budismo de Tendai.
Em 1893, aos 26 anos tornou-se Bonzo de Jorembò e devotou-se
profundamente os seus estudos em Gakuren, no seminário de Daissekiji.
Em maio de 1901, aos 34 anos foi nomeado Bonzo Chefe de Hozaiji,
Templo em Tóquio e em outubro do mesmo ano recebeu o convite oficial para
trabalhar como comissário das pesquisas sobre documentos antigos da Nitiren
Shoshu e das compilações dos materiais históricos. A partir dessa época ele
iniciou verdadeiramente os seus

61
estudos, dando toda a sua capacidade para a investigação e pesquisa nos
documentos históricos da Nitiren Shoshu.
Em março de 1903 iniciou as suas viagens de inspeção em todo o país.
Visitou todos os templos históricos e locais importantes como: a casa do tesouro
de Hoda-Myohonji, o material histórico da Universidade de Tóquio, oito
Templos ao redor do Daissekiji, os Sete Pagodes do Nordeste, Yohoji e Kuonji
do Monte Minobu. A sua jornada perdurou, na verdade, por trinta anos.
Durante esse período foi nomeado Bonzo Chefe do Templo Josenji,
Tóquio, em setembro de 1905 e em novembro tornou-se o Professor dos Bonzos.
Ocupou a posição de Presidente do Conselho da Nitiren Shoshu em 1913 e
publicou o seu "Manual da Nitiren Shoshu" em 1922.
Em 1925 lecionou na Universidade Rissho, inclusive "a História da
Despedida do Monte Minobu" e em dezembro do mesmo ano aos 59 anos,
tornou-se 59.° Sumo Prelado. No ano seguinte, em 1926 foi morar no Daissekiji,
mas como os afazeres do Sumo Prelado eram tão intensos que não permitiam
continuar as suas pesquisas, cedeu o alto posto de Sumo Prelado do Templo
Supremo ao 60.° Nikkai-Shonin em 1927 e retirou-se para o prédio de Sessembô,
Daissekiji, a fim de continuar as suas investigações sobre o Budismo.
Aproximadamente em 1929 iniciou a compilação das obras completas da
Nitiren Shoshu, reproduzindo as cópias dos documentos originais.
Ao mesmo tempo escreveu várias obras, como a Bibliografia Completa de
Nikkan-Shonin, de Nanjo-Tokimitsu e de Myoju-Nitijô-kini. Além disso,
publicou em 1937 a "História da Despedida do Monte Minobu".
Em 1933, aos 67 anos construiu uma pequena capela no Templo Jozaiji,
em Ikebukuro, Tóquio e lá concentrou todos os trabalhos para a confecção das
Obras Completas da Nitiren Shoshu até que em 1935 foram publicados os doze
primeiros volumes.
Assim, pela sua dedicação meticulosa na investigação, pesquisa e
elaboração que durou 45 longos anos de extensão na era Meiji, Taisho e Showa,
até que, finalmente,

62
em 1938 foi completada a Obra em 134 volumes denominada: "Obras
Completas da Escola de Fuji" (Fuji-Shu-gaku-Yoshu, cujo original está sendo
conservado no Templo Denmyoji, em Kurume, Kyushu).
Desse modo, foi claramente revelada a verdade ou a falsidade dos Ensinos
do Budismo, do ponto de vista bibliográfico, lógico e objetivo.
Mostrando todas as interpretações imperfeitas, dúbias ou falsas e
demonstrando evidentemente a luz da verdade através da sua crítica criteriosa,
provou com bases históricas, doutrinárias e formais, a razão por que Fuji-Daisse-
kiji é o tronco da linhagem mais legítima e ortodoxa do Budismo.
Nenhum crítico audacioso poderá encontrar no futuro, um dado de falha
sequer, diante desta obra completa. Com essa admirável minuciosidade ele
completou a vasta obra de 134 volumes.
Hori-Nitikô-Shonin construiu um sólido alicerce de tamanha
invencibilidade no Budismo da Nitiren Shoshu, devotando a sua vida inteira de
conformidade com os Ensinos de Nitiren Daishonin: "Não devemos aceitar
quaisquer outras doutrinas a não ser esta, até que seja superada por uma outra
maior".
Deve-se dizer que foi um grande magistrado que surpreendentemente
apareceu na Terra para a eterna preservação do Budismo. O seu mérito é
realmente grande. Haja vista que as atividades do Kossen-rufu pela Soka-Gakkai
vem sendo acelerado diretamente para o êxito, sem um ponto nebuloso falível
sequer.
Jossei Toda, admirava profundamente a obra grandiosa de Hori-Shonin.
— Se ele não tivesse nascido, o Kossen-rufu estaria cincoenta anos
atrasado no mínimo. . . seria muito penoso, se nós precisássemos atualizar todos
os estudos daqui para frente.
Na primavera do ano de 1953, a marcha do progresso da Soka-Gakkai
começava se mostrar como o vigor das ondas torrentosas da maré do Japão.
Um dia, no jardim do Daissekiji, o ex-Sumo Hori-Shonin palestrava
animadamente com Jossei Toda. O Kossen-rufu tem sido um longo sonho no
anseio da Nitiren Shoshu. Eis que, surge agora, formando um aspecto real

63
Sobre esse assunto, um dos líderes que o acompanhava, perguntou ao ex-
Sumo:
— Por que razão o Kossen-rufu não foi realizado
antes?
Nitikô-Shonin voltou os seus olhares à face de Toda e disse com sorriso de
ironia provocante:
— Bem. O culpado é o senhor Toda. Deveria ter nas
cido antes!
Ouvindo essa acusação, Toda deu uma gargalhada.
— Então, o responsável sou eu?
— É isso mesmo! Se o senhor tivesse nascido na era da Guerra Civil há
500 anos no Japão, a Nitiren Sho-shu já estaria amplamente propagada, e não
haveria necessidade agora de fazer tantas tumultuações. Infelizmente foi um
atraso!
Flutuava uma certa seriedade na fisionomia delicada. Sentiu no corpo
longilíneo de Toda, a penetração de algo lancinante.
— O mal está no senhor que não nasceu naquela época. Mesmo que eu
quisesse não poderia, pois estava comprometido de tal maneira que deveria
nascer 30 anos depois do seu nascimento. Como o senhor está presente agora, eu
também nasci com o atraso de 30 anos, exatamente como o destino marcou.
Esperei o seu nascimento e sua pesquisa laboriosa para vir depois.
— É isso mesmo. Ah, ah, ah.. .
O ex-Sumo riu com altas vozes. Toda riu, também, olhando para o céu.
Via-se o maravilhoso Monte Fuji do início da primavera projetando no céu
que Toda contemplou.
Os dirigentes que os cercavam juntos pareciam compreender a misteriosa
relação da causalidade do Budismo, que havia no diálogo espontâneo de ambos.
Todos eles estavam ouvindo atenciosamente.
* * *
O pesquisador profundamente sistemático assim como foi o ex-Sumo
Prelado, era do tipo congênere do Presidente Makiguti que vivia também
absorvido nas pesquisas da "Filosofia do Valor" e portanto, ambos se entendiam
mutuamente nas trocas de idéias e opiniões.

64
Elogiando a franqueza e a sinceridade do ex-Presidente Makiguti, ele
falava freqüentemente:
— O que o senhor Makiguti disse está muito certo.. porém, eu não gosto
dele.
Deve ter havido uma certa indisposição própria dos pesquisadores
eruditos. O que mais o Hori-Shonin detestava era estar constrangido pelas
formalidades excessivas. Mesmo depois de aposentado andava mal humorado
quando os bonzos e os seguidores o aclamavam cerimo-
niosamente.
Às vezes ele dizia: "Mandem-me voltar à posição de bonzo comum" e nas
outras vezes exigia um túnel entre Sessembô, a sua residência e Hoanden, o altar
supremo, para evitar a cortesia formal dos bonzos.
* * *
Atendendo agora à comemoração do 3.° ano de falecimento do ex-
Presidente, ele começou a falar a respeito da vida de Makiguti aos presentes,
com profunda emoção
e saudade.
— ... a vida de Nitiren Daishonin foi uma corajosa revelação deste
maior remédio que é o Gohonzon e dos ensinamentos francos com grande
benevolência.
— Agora, o Presidente Makiguti na posição de seguidor, ultrapassou o
trabalho dos bonzos, com a elevação do seu espírito grandioso e benevolente
para salvar a nação, estendendo constantemente as suas mãos tão misericordiosas
ao Chakubuku, levando consigo as instruções exigidas por Sakyamuni, as
interpretações de Shoan Daishi e sobretudo, os Ensinamentos de Nitiren
Daishonin até à sua morte honrosa, para a majestosa causa do Verdadeiro
Budismo. Em qualquer época, aquele que, deixando o espírito de falsidade,
aproxima-se do povo com o verdadeiro sentimento de amor, quando menos
espera, é invejado.
A voz de Hori-Shonin fazia gradativamente mover a profundidade do
coração dos presentes.
— Houve numerosos exemplos na história da Nitiren
Shoshu e de fatos como ocorreram com ele. Por exemplo...

* * *

Na história da Nitiren Shoshu houve numerosos casos em que as


perseguições foram suportadas heroicamente.

65
Todos esses fatos foram registrados meticulosamente, nas "Obras
Completas da Escola de Fuji", com extensos materiais de prova. Um ano depois
de ter completado esta obra, em 1939, ele transferiu o seu alojamento do Daisse-
kiji para a sua residência particular chamada Sessen-Sô, em Hatake, na Prefeitura
Shizuoka.
Durante a guerra e mesmo nos caos de após-guerra, dedicou diariamente
com afinco, no sucessivo acúmulo de pesquisas, com o seu corpo diante da mesa.
Depois da guerra, ele escreveu a "História Detalhada sobre Fuji-Nikko-
Shonin" e confeccionou a Nova Edição das "Obras Completas de Nitiren
Daishonin" (comumente chamado Gosho), publicado pela Soka-Gakkai em
comemoração ao 7.° centenário da fundação da Nitiren Shoshu. Nessa época ele
contava 86 anos de idade. Se não tivesse acumulado os seus trabalhos de 60 anos
de pesquisas, esta grandiosa obra que é o Gosho, talvez não poderia ter sido
publicada.
Em 1956 foram publicadas as Novas Edições das Dez Obras Condensadas
sobre a Escola de Fuji (Edição San-kibô, atualmente usada no Departamento de
Estudo da Soka-Gakkai), através destas obras, nós podemos conhecer uma das
facetas de Hori-Nitikô-Shonin como um grande sábio.
Toda a sua vida, até o seu falecimento em novembro de 1957, quatro
meses antes do falecimento de Jossei Toda, foi dedicada na construção das bases
sólidas e eternas do Budismo da Nitiren Shoshu.

* * *

O discurso de Hori-Shonin sobre as perseguições corria como a correnteza


d'água.
— ... uma vez publiquei a "História da Perseguição Religiosa em
Atsuhara" há mais de trinta anos e em seguida, por ocasião da confecção das
"Obras Completas da Nitiren Shoshu" reuni todos os materiais sobre o assunto e
escrevi 250 páginas sobre as perseguições.
— Nesta obra estão descritas as perseguições bárbaras dos três Irmãos de
Atsuhara em Kamakura, no ano de 1280; a decapitação dos quatro camponeses
da Vila Tatabe, em Shimofusa, no ano de 1706; a prisão do Bonzo

66
Keishin, que veio a falecer na cela de Marukame em 1757; a morte de
Hatiemon Takeuti na prisão de Kanazawa, em 1786; a prisão e a morte do Kando
Nitijô em 1797; o caso de Kazussaya Zenroku seguidor do Templo de Jozaiji que
faleceu na prisão em Denmatyô e mais, além disso, incluindo as outras
perseguições e os exílios dos bonzos e dos leigos, o número de vítimas são
elevados, atingindo mais de mil pessoas.
— O assunto foi descrito em 11 itens, mas a perseguição que o
Presidente Makiguti suportou é incalcula-velmente maior em todos os sentidos
em comparação às anteriores.
— Se me permitisse a outra chance de escrever, desejaria registrar sem
falta uma adenda para deixar claramente o exemplo do Presidente Makiguti, do
Diretor Toda e dezenas de outras pessoas como espelho para a posteridade.
— Espero que todos compreendam a intenção sublime do Presidente
Makiguti, para que juntos possamos intensificar as nossas lutas em prol da Paz
Mundial, e deixar os nossos respectivos nomes e trabalhos no mar sagrado da
riqueza do Budismo.
Encerrando o seu discurso, ele voltou rapidamente para o seu lugar. Foi
uma atitude essencialmente espontânea.
Refletindo o nosso progresso de hoje, cuja obra foi construída sobre as
nobres vítimas da perseguição da história, nós devemos orar sinceramente
desejando a sorte aos nossos predecessores, os fissionários da Paz.
Nitikô Shonin, acrescentou as perseguições que a Soka-Gakkai suportou,
com o Presidente Makiguti à frente, na nova edição das "Obras Completas da
Nitiren Shoshu", no seu Capítulo das Perseguições, dez anos depois dessa
cerimônia, exatamente como ele prometeu.

* * *

O Reverendo Horigome falou em seguida. Era um Gossoryo que possuía


uma amizade profunda com o ex-Pre-sidente. Como sempre, iniciou o seu
discurso, tranqüilamente.

67
— Sinto novas emoções hoje, ao participar nesta cerimônia da Gakkai
em memória do Prof. Makiguti. Durante cinco anos tivemos a oportunidade para
pesquisarmos as literaturas budistas, todas as semanas e assim, viemos
devotando na prática do Verdadeiro Budismo...
— Ao completar a "Filosofia do Valor" ele aplicou a sua teoria sobre a
atuação da sua fé e demonstrou as provas reais na vida prática e veio ensinando
aos outros. Devemos meditar profundamente o seu sacrifício. Se este sacrifício
tiver êxito, um novo caminho abrir-se-á. O Professor Makiguti deixou-nos após
tê-lo superado sozinho. O Professor Makiguti foi uma rara pessoa que conseguiu
abraçar o princípio do Nam-myoho-rengue-kyo através das suas investigações
sobre a "Filosofia do Valor". . .
O caminho que o filósofo seguia, chegou, enfim, à essência do Budismo.
Através do seu discurso, o Reverendo Horigome enalteceu fortemente esta
nobreza de uma vida inteira dedicada ao pensamento e à prática, que foi uma
existência de Makiguti.
A seguir, o Reverendo Hossoi iniciou o seu discurso com sua vez sonora e
ressoante.
Relatou a origem da profanação contra Tien-tai e Nitiren Daishonin e
atitudes hostis contra o Budismo por parte do Xintoísmo Contemporâneo criado
por Norinaga Motoori, Atsutane Hirata e outros. Afirmou que, desde então,
nasceram as heresias maldosas a partir das falsas doutrinas dos eruditos e assim,
chamou um destino que é o Japão de após-guerra. Ele concluiu:
— O Japão foi derrotado pelo Xintoísmo herético e
além disso, agora está degenerando em conseqüência
dos falsos eruditos. Em face a esta situação, desejo a
todos nós que nos aprofundemos e estudemos o Budismo de Nitiren Daishonin,
esforcemos cada vez mais amplamente à nossa propagação e investiguemos as
verdades que devem ser reconhecidas como certas, seguindo
sempre os ideais do Professor Makiguti.
É realmente uma satisfação imensa, ao sentir a profunda relação de
causalidade que existe entre a Soka-Gakkai e a Nitiren Shoshu, demonstrada pela
presença dos dois ilustres bonzos que oraram pela alma do ex-Pre-sidente
Makiguti, que foram destacados especialmente entre

68
os numerosos outros bonzos, nesta cerimônia e na anterior e que mais tarde se
tornaram Sumo-Prelados.
O Reverendo Horigome tornou-se mais tarde o 65.° Sumo Prelado Nitijun-
Shonin e o Reverendo Hossoi é o atual 66.° Sumo Prelado Nittasu-Shonin.
O ambiente estava completamente em silêncio. Nem havia o ruído de uma
tosse.
O coordenador anunciou o discurso em memória do falecido e indicou o
nome do Kizo Iwamori.
Era um dos dirigentes do grupo dos economistas. Ele acompanhou a triste
cerimônia fúnebre do Presidente Makiguti que saiu morto da prisão. Relatou o
aspecto maravilhoso do seu estado de Jobutsu quando faleceu. Encerrou o seu
discurso chorando e afirmando que "o mestre, até o final da sua vida, nos
ensinou com a sua própria experiência, provando o alcance do Estado de Buda
com o seu próprio corpo."
Yoshizo Mishima e Takeo Konishi, dirigindo-se ao retrato, repetiram as
palavras de agradecimento e afirmaram as suas promessas e decisões.
Já se foi o mestre e os discípulos ficaram com a tristeza e a solidão.
Em seguida, os sete discípulos representantes levantaram-se
sucessivamente e expressaram as memórias com suas emoções e tristezas. Tudo
era uma eloqüência magnífica. Dentre eles, havia criadores de dificuldades como
Yozo Terakawa. Muitos desistentes da fé, no período da guerra, até pareciam
estar agora justificando as suas desculpas e pedindo perdão ao mestre'.
Kyuitiro Massuda que veio das longínquas montanhas de Nassu, estava no
auditório pela primeira vez, pedindo a sua permissão de estar diante da alma
falecida, após longo período de ausência.
— Os educadores, os homens de negócio, os camponeses, os jovens que
foram delinqüentes, eram os discípulos de diversas categorias. Eles conviveram
com o Presidente Makiguti, cada qual com a sua posição situa-cional. Assim,
eles sentiram as novas tristezas próprias nesta cerimônia memorável pela perda
do mestre querido que estimavam para toda a vida e declaravam firmemente as
suas decisões para o futuro.

69
Toda levantou-se finalmente e dirigiu para a frente e começou a falar
diante da alma falecida exatamente como se estivesse conversando com uma
pessoa viva. . .
— Recordando aquele dia em setembro de 1943, quando o senhor
deixou a Delegacia de Polícia para ir à Casa de Detenção. Aquele nosso encontro
foi a última despedida.
— Mestre! desejo-lhe boa saúde... Foi o que consegui lhe dizer de
todo o coração.
— Aquela atitude inesquecível que o senhor me correspondeu sem
resposta e aquele olhar de infinita coragem e benevolência, deixou-me
profundamente emocionado.
— Seguindo os mesmos passos seus, fui também até à Casa de
Detenção de Sugamo. Preocupado com sua idade, orei ao Gohonzon de manhã à
noite, para que o senhor voltasse o quanto antes para a sociedade. Entretanto,
pela incompetência da minha fé ou talvez, pela infinita sabedoria do Buda, ouvi
de um oficial de Justiça no dia 8 de janeiro de 1945 que o senhor já havia partido
para Ryojussen, o Paraíso dos Budas. Foi o momento da minha profunda tristeza.
Com a solidão imensa, como se alguém perdesse a bengala que serve de apoio
ou a luz que ilumina o caminho, vivia chorando de tanta melancolia e nostalgia.
A essa altura, Toda procurou resistir à emanação das lágrimas e fez uma
pausa para o silêncio.
Vozes de pranto surgiram no auditório como ruídos das ondas do mar à
distância. Uns esforçavam-se em conter as suas emoções, outros com seus lenços
procuravam limpar os seus olhos. — Até Katsu Kiyohara com seu traje a rigor,
novo e sob medida, também procurava conter as suas lágrimas.
Toda continuou a falar, reforçando mais a sua voz.
— A sua benevolência infinitamente vasta e profunda levou-me
consigo até à prisão. Graças a isso, consegui
ler com o próprio corpo, uma frase do Hokekyo: "Em cada
ocasião e em cada lugar onde nascemos, estaremos jun
to do próprio mestre". Através desse benefício, compre
endi o que significa na verdade o "Jiyú-no-Bossatsu" e
consegui ler vagamente o contexto do Hokekyo através
do meu próprio corpo. Como seu felizardo!

70
A sua voz ecoava vivamente no auditório. Os presentes voltaram ao
silêncio completo como a superfície da água tranqüila e ouviam atentamente
cada palavra e cada frase de Toda.
— Quando a Soka-Kyoiku-Gakkai estava no apogeu, evitei de ser o seu
sucessor. Recomendei inicialmente Yozo Terakawa e depois, Takeharu Kanda
como sucessor do seu estudo filosófico e planejei a Gakkai para que Tatsuji
Miyajima viesse a ser o vice-Diretor para supervisionar a Sociedade e assim, fui
um discípulo que me acovardei, fugindo das responsabilidades.
— Peço-lhe desculpas. Mas, este filho e discípulo ingrato, após dois
anos de vida presidiária, devotado inteiramente ao Buda, decidiu entregar o seu
corpo impuro para a causa da Paz Mundial, todo o resto da sua vida.
— Veja-me agora, por favor. É um corpo impuro, sem inteligência ou
habilidade, mas estou decidido a suceder ao seu ideal, cumprir plenamente a
missão da Gakkai e um dia o encontrarei com certeza no Paraíso dos Budas para
receber o seu elogio. Do seu discípulo, Jossei Toda.
Ele dobrou as folhas de inscrição do seu memorial e ofereceu ao altar do
falecido mestre, limpando suas lágrimas.
A cerimônia da Gakkai foi encerrada. Mas as emoções não cessavam.
Enfim, logo em seguida, a fisionomia das pessoas transformou-se em alegres e
sadias como que banhados pelo sopro agradável da brisa.
Aqueles que possuíam a fé pareciam estar plenamente decididos a uma
nova luta, em vez de manter o sentimento de tristeza.
Após uma breve pausa para o intervalo, o Sumo Prelado e seus bonzos
retiraram-se.

* * *

Após uma hora de intervalo, no mesmo lugar, foi celebrada a Primeira


Assembléia Geral da Soka-Gakkai. Foi um passo verdadeiramente concreto e de
grande escala, cuja atividade correspondia plenamente como o PRÓLOGO à
propagação do Budismo.
Uma vez terminada a guerra, os líderes das diversas agremiações sociais
libertados do confinamento e os das

71
diversas associações, iniciaram sua partida cada qual da sua maneira. Entretanto,
não houve outra partida mais bela e tão profunda como esta. Não havia a glória,
o interesse e nem a ambição.
— O verdadeiro caminho da relação genuína entre mestre e discípulo, a
unidade harmoniosa do pastor e rebanhos ou a união de bonzos e seguidores e
sobretudo a sublime e a profunda causa para a Paz Mundial que é o ideal da
Nitiren Shoshu — era algo incomparável.
Foi uma assembléia geral da Gakkai que ressuscitou após quatro anos e
meio, tendo a sua etapa na Assembléia Geral da primavera do ano de 1942.
Esse período histórico de sucessivas perseguições, precedido pela
Organização da Soka-Kyoiku-Gakkai no outono de 1930, sua inauguração em
1937, a publicação da Revista "A Criação do Valor" em 1941, as atividades
dinâmicas incluindo as palestras do tipo Zadankai e a in-centivação à Sociedade
e aos seus membros no intuito da criação dos valores humanos para o futuro, foi
um período de dificuldades.
Em seguida, foi anunciado o plano de uma nova organização com a
formação de nove Departamentos como a Administração, o Estudo, etc, com a
apresentação dos respectivos responsáveis e da criação de 15 Capítulos, sendo 10
nas grandes cidades e 5 no interior.
Um ano após o término da guerra, a atitude da marcha para o progresso foi
preparada com toda segurança.
Além disso, com a realização das reuniões de Cha-kubuku iniciadas com a
presença do Diretor Geral Toda, desde janeiro até agora, resultou a conversão de
duzen-tas pessoas.
Com o prosseguimento da Assembléia Geral, centenas de membros da
Gakkai começaram a sentir gradati.-vamente o nascimento do seu entusiasmo.
Ouviam com a máxima atenção e por diversas vezes respondiam com os seus
aplausos estrondosos. Toda estava contente, porém, ao sentir a sua
responsabilidade reconhecendo as sucessivas marchas grandiosas para o futuro,
não podia permitir um descuido sequer.
Há, no Gosho, o seguinte:
"Parecem estar entusiasmados no início, enquanto ouvem o Budismo,
porém, uma vez afastados, poderá surgir

72
o espírito de abandono. O exemplo da incessante correnteza das águas é o
sinônimo da constante atuação da fé."
Dentro de si, ele fazia as suas preces. Não podia deixar de orar
sinceramente, pois almejava que todos mantivessem a fé até o final da vida, sem
nenhuma desistência.
Sucederam numerosos relatos de experiência. Foi realmente a
apresentação de 15 pessoas que relataram ininterruptamente por mais de duas
horas, sendo homens e mulheres, de idades, profissões, temperamentos, grau de
estudo, dialetos diferentes; um conjunto de variedades num só ambiente, com o
entusiasmo ímpar em torno de um ideal único.
Houve um relato de experiência surpreendente que ocorreu na guerra, após
a convocação e durante a repartição; o terrível relato de penitência de um
caixeiro viajante que andou desesperadamente pelos campos devastados, após ter
perdido o Gohonzon no incêndio em conseqüência do bombardeio; o relato de
uma ocorrência milagrosa de uma professora que foi transferida para o interior
junto com os seus alunos para fugir dos bombardeios, que através da oração de
Daimoku feita por noites inteiras ajudaram a recuperar os olhos de um aluno
acometido de conjuntivite gonocócica, a oftalmia que o médico abandonou de
tratar por julgar incurável; o relato de uma pessoa completamente cercada pelo
fogo durante o bombardeio e que após a intensa oração de Daimoku, encontrou
uma saída para a fuga; o relato de um dos membros de uma família que após a
guerra, desesperados pela pobreza e desemprego, decidiram suicidar-se todos
juntos, mas durante a última oração de Nam-myoho-rengue-kyo lembraram-se
do conselho do Presidente Makiguti que dizia "O importante é a nova partida" e
em seguida, retomando a coragem, fizeram a mudança radical com a fervorosa
atuação da fé e enfim, com o resultado dos contínuos esforços, chegaram até
construir uma pequena casa.
Os desconhecidos dirão: Não posso acreditar em tais milagres. Mas, o
que eles dirão se tais fatos milagrosos

73
surgissem sucessivamente? O Budismo é a filosofia da vida que revela a Lei da
Causa e Efeito.
Seja o que for, os sinceros relatos de experiência daquela época faziam
comover o fundo do coração de cada um dos ouvintes.
Foi uma Assembléia Geral onde após vários anos fazia-se sentir a
ressurreição do Budismo de Nitiren Daishonin sobre o solo devastado e
incendiado.
Apesar do tempo longo decorrido na Assembléia, não havia um
participante que se mostrasse enjoado. Todos eles por sua vez levavam consigo
os sérios problemas da subsistência. Uma vez ouvidas as 15 experiências dos
respectivos relatores, cada qual não podia deixar de reconquistar a convicção e a
coragem.
É impossível deixar de realizar o que foi feito por outras pessoas. Se
Gohonzon é justo, a mesma prova deve surgir não somente a eles, mas também a
todos.
A Primeira Assembléia de após-guerra foi prossegui-da sem acidentes e
durou mais de quatro horas. Apesar da longa duração de tempo, não se via
desordem e em vez disso, o ambiente estava repleto de entusiasmo.

* * *

Terminadas as orientações dos dois ou três dirigentes, Jossei Toda


finalmente se apresentou para a mesa central da plataforma.
Os aplausos foram intensos. Havia até pessoas chorando de emoção. E a
aclamação não parava de cessar. Através dessa manifestação, ele percebeu que
toda confiança e a esperança dos presentes estavam depositadas sobre o seu
corpo.
Desejou falar com delicadeza e simplicidade.
Nitiren Daishonin enviou sua orientação para os seus crentes utilizando a
linguagem escrita popular em "Hira-gana" para fazer os japoneses daquela época
compreenderem melhor a Filosofia do Budismo embora complexo. Os bonzos da
época, absorvidos no estudo de Tien-tai em língua chinesa, ridicularizaram
Daishonin que escrevia nesse estilo.
— Mesmo hoje, há numerosos falsos eruditos convencidos de que julgam
ser grandes intelectuais e manipulam

74
as teorias complexas como se fossem os seus brinquedos.
O seu objetivo é fazer a multidão compreender. O intelectual sábio é
aquele quê possui a capacidade de orientar com habilidade da maneira mais fácil
e concreta possível. Um jogo de teorias para as teorias nada difere do jogo de
brinquedo das crianças que fazem casinhas com os blocos de madeira.
Ele cumprimentou sorridente e disse com sua face tranqüila:
— Se falarmos de Punições ou Prejuízos assim chamados "Bati" ou de
Benefícios eu Lucros conhecidos como "Riyaku", a maioria acha que é o
monopólio dos Deuses ou dos Budas, especialmente hoje em dia onde os Deuses
ou Budas da sociedade concorrem em torno de benefícios. Dizem eles: "Deus
Narita tem benefício. Deusa Loba Inari traz benefícios, É na Seita Butsuryu que
tem mais benefícios". E assim, o povo está sendo perturbado com tantos
benefícios. Não acham?
— Então os benefícios e as punições poderão ser coisas monopolizadas
por Deuses ou Budas? Na realidade, isso absolutamente não é verdade. A
verdade é que nós os seres humanos vivemos no meio de benefícios e de
punições, independente da existência da fé. Apenas há diferença no seu grau de
intensidade, pureza e conteúdo.
— Por exemplo: Um pescador vai pescar. Se o peixe cair no anzol e
benefício para ele, e se não pescar ou se o barco for avariado, isso será prejuízo
do ponto de vista comercial. Alguém vai abrir o bar para vender a geléia de
"Oden". Se vierem os fregueses e deixarem dinheiro será benefício. Mas se o
freguês fizer estragos ou se a venda for baixa, isso será prejuízo para o dono do
bar, do ponto de vista comercial. Para a Deusa Loba Inari talvez tenha lucros ou
prejuízos próprios dela. Para o Deus Narita poderá haver benefícios ou punições
inerentes à ele. Desta maneira, os pescadores, o dono do bar de "Oden", terão
lucros e prejuízos próprios da sua vida diária.
Todos estavam ouvindo com aquela fisionomia: "Isso é coisa muito
natural!"

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— O que se deve tomar muito cuidado aqui é a diferença entre o
benefício ou prejuízo de um negócio que vai iniciar com cem milhões de ienes e
o benefício e prejuízo de um outro negócio que vai iniciar com cinqüenta
milhões de ienes.
— Myoho-rengue-kyo é a maior atividade em que engloba todos os
fenômenos do universo e é a Lei Suprema da Humanidade. Os benefícios e os
prejuízos que surgem daqui são incomparavelmente maiores do que aqueles que
surgem na vida diária em relação aos pequenos deuses e os falsos deuses ou
Budas.
A sua voz tornava-se gradativamente mais eloqüente.
— A vida diária em torno da fé em myoho-rengue--kyo é agraciada por
benefícios grandiosos e místicos. É o surgimento da prova real de uma felicidade
surpreendente. Em oposição, para os descrentes ou heréticos, deve surgir a
conseqüência das provas da punição horripilante pela Lei da Causa e Efeito.
Sobre isso, há explanações detalhadas no Hokekyo e em numerosas lições das
páginas do Gosho de Nitiren Daishonin.
— O nosso honorável mestre Professor Makiguti enfrentou as
perseguições em defesa da Lei, das pessoas e da humanidade. Caluniar esse
mestre é o mesmo que caluniar o Myoho e a punição que resultará será muito
grande e a pessoa atingida será uma coitada. Aqueles que caluniam a Gakkai
estão, de maneira idêntica, ofendendo uma associação de missionários do Myoho
e portanto, se não tivessem punições, o que teriam então?
O seu discurso veemente parecia como o rugido de um leão.
Jossei Toda declarou perante a sociedade, a sua grande convicção sobre a
existência da punição divina evidente em relação as críticas maldosas contra a
Gakkai comprovando com as citações nas sutras e no Gosho.
O relógio do auditório, à sua frente, já marcava cinco e meia da tarde.
Esta Primeira Assembléia Geral, significava no seu íntimo, a libertação da
Soka-Kyoiku-Gakkai que vigorara até então.
A salvação e a revolução do Budismo não deveria apenas abranger o
mundo educacional como seu objetivo.

76
Desejava, além disso, rejeitar aquele método antigo que dependia apenas da
"Filosofia do Valor".
Consolidou-se a firme convicção de que agora deveria penetrar
profundamente dentro de cem milhões de habitantes mergulhados nos
sofrimentos.
Para isso, necessitava encerrar a Cerimônia em memória do falecido
mestre Makiguti, satisfazendo a todos e sem deixar um remorso sequer. Uma vez
resolvida a necessária reorganização da Gakkai, iniciou sem perda de tempo, a
abertura da Assembléia Geral, transformando a Soka-Kyoiku-Gakkai para Soka-
Gakkai.
Desde a sua libertação da prisão, decorrido um pouco mais de um ano,
Toda sentiu fortemente a necessidade evidente de anunciar a nova Soka-Gakkai
como sendo a linha de partida.
Ele estava satisfeito nesse dia. Daí para frente, precisava preocupar com o
controle da velocidade, o encorajamento dos discípulos, bem como suprir as
falhas se fossem precisos. . .
Não foi apenas a Soka-Gakkai, que chegou até à linha de partida.
Na mesma época, em novembro, podia-se dizer que o Japão derrotado,
chegou também à linha de partida, fazendo a reviravolta da sua história de três
mil anos, com a Nova Constituição.
Já escurecia lá fora e fazia-se perceber o frio.
Das alamedas de árvores remanescentes que sobreviveram do incêndio,
iam se despregando uma por uma, as folhas de Paulownia dos ramos de Kiri.
Uma simples folha da árvore em despreendimento anunciava o outono ao
céu e à terra. Agora, ele reconheceu claramente nas profundezas do seu peito, a
chegada do tempo da marcha progressiva para a Paz Mundial.
No caminho, em direção à estação de Suidobashi, ele foi acompanhado por
certo número de rapazes. Eles pareciam estar muito jubilosos por poderem seguir
con-fiantemente a reta razão que alguém com certeza ensinou.
Todos pareciam ser pobres. Apesar disso, eram forças propulsoras no
futuro que guardavam consigo uma relíquia preciosa dentro do seu coração.
Todos eram jovens puros e fortes. Toda estava contente.

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Os rapazes começaram cantar juntos espontaneamente aquela canção da
juventude, sem se preocupar com os barulhos confusionais da cidade.
Com as ondas da glória que surgem Na era da imersão da luta de
ambições, A pura fé se levanta, no declínio da heresia, Para brilhar eternamente a
sua glória.
Chegou a esperança dos meus amigos, A Era da Propagação Mundial!
Levantem-se, jovens valentes, com sua paixão E hasteiem a bandeira da Lei
Suprema.

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Luzes e Sombras

No dia 17 de novembro de 1946, foi celebrada a Primeira Assembléia da


Soka-Gakkai, após a guerra. Dois dias antes, subitamente, Akiyama Nitiman
Shonin solicitou o seu afastamento de Sumo Prelado do Templo Supremo de
Daissekiji.
Havia completado um ano, desde quando ele assumira a posição de 63.°
Sumo Prelado, em 28 de outubro de 1945. Em virtude do seu estado de saúde
que não se recuperava desde a primavera e por razões pessoais, solicitou uma
reunião extraordinária do Conselho de Nitiren Shoshu no dia 14 de outubro.
No dia 15 de novembro foi resolvido oficialmente o seu afastamento, após
a deliberação do Conselho.
No dia seguinte, o Rev. Mizutani Sonnôshi foi convidado a assumir a
posição de Mestre da Escola do Budismo (Gakutô) que estava em vacância desde
há muito tempo. A seguir, foi resolvida a sucessão do Sumo Prelado.
Alguns dias depois, às oito horas da noite, iniciou-se a cerimônia da
sucessão. O prédio Renzobô, comumente chamado "Gakutoryô", estava
intensamente iluminado com as luzes brilhantes. O "Ushitora Gongyo" e demais
cerimônias estavam sendo celebradas nesse prédio de alojamento, desde após o
incêndio do Salão de Recepção. Mas ali, ainda não era meia-noite e nem o
período de "Ushitora".
Somente este prédio, porém, refletia luzes brilhantes para a escuridão que
descia no meio da floresta de cedros

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com centenas de anos de existência. Apesar disso, não havia sombras de
pessoas no Templo Principal. Apenas o administrador geral (atual chefe do
Templo Jozaiji, Rev. Sato) estava sentado num canto do corredor. Assim mesmo,
ele estava bem distante do Santuário.
Fora do Templo Principal, nos seus quatro cantos ao redor, estavam os
encarregados da administração religiosa, os bonzos-chefes e professores, todos
atentamente na função de sentinela.
No ambiente reinava a atenção fora do comum.
O tempo ia passando instante a instante. Os preparativos, tudo estava
pronto. A impressão solene reinava no ambiente, dentro e fora do prédio.
Nesse prédio iluminado, havia sido consagrado o Dai-Gohonzon do Salão
de Recepção e o altar do Templo Supremo estava cercado por biombo pintado de
ouro.
Meia-noite. Atrás do biombo dourado, estava sendo celebrada
solenemente a cerimônia da transferência do 63.° Sumo Prelado Nitiman Shonin
para o novo 64.° Nissho Shonin.
A sucessão única e exclusiva (Yuiju Itinin) vinha sendo celebrada desde os
tempos antigos de Nitiren Daishonin a Nikko Shonin e de Nikko Shonin à
Nitimoku Shonin, através desta cerimônia da transferência da água pura original
do antecessor para o sucessor (Hossui shabyô).
A via da transmissão sucessiva chamada "Ketimyaku sojô", vem assim
sucedendo de uma única pessoa para apenas uma pessoa. A água pura do
Budismo de Daishonin vem sendo conservada sucessivamente sem a mudança na
cor, no aroma ou no gosto, havendo apenas a mudança do cálice dos Sumos
Prelados sucessores.
Esta cerimônia para a eterna conservação e transmissão do Budismo
(Ryoho-kuju) é verdadeiramente um ato solene.
A Lei Suprema infinitamente profunda, foi transmitida para o 64.° Sumo
Prelado Nissho Shonin, da maneira idêntica há setecentos anos atrás.
Os tempos foram passando a cada instante, envolvidos pelo ar silencioso
da floresta cuja atmosfera fazia lembrar o nascimento um evento solene.

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Decorridos uma hora e meia, enfim, as vozes das orações de Daimoku dos
dois veneráveis Sumos Prelados transbordaram para fora, quebrando assim, o
silêncio do ambiente.
Assim, os expectadores puderam saber que a cerimônia estava terminando
após várias horas, desde que se iniciou o ato da transmissão.
Todos os bonzos sentiram-se aliviados.
Após então, foi iniciada solenemente a cerimônia de "Ushitora Gongyo",
com a direção do novo Sumo Prelado.
A sua voz sonora durante a leitura da sutra, ressoava pelos arredores,
como se estivesse comunicando o significado de uma nova era vindoura.

* * *

No Testamento de Minobu (Minobu Sojo Sho) que Nitiren Daishonin


escreveu em setembro de 1282, um mês antes de Seu falecimento, encontra-se na
sua última linha, o seguinte: "Ordem de Sucessão de Nitiren para Nikko
(Ketimyaku noshídai Nitiren Nikko)".
Evidentemente, os cinco discípulos eminentes de Daishonin chamado
"Gorossô" que foram: Nissho, Nitiro, Nikô, Nitiro e Nitiji, não receberam a
Ordem na Veia Sucessória de uma pessoa única para o sucessor exclusivo
chamado "Yuiju Itinin". Alguns eram veteranos. Outros eram companheiros.
Além disso, havia naquela época o pensamento feudal de ordenar a idade e eles
não puderam compreender a necessidade vital do sucessor único da Água Pura
da Lei para a eterna propagação e conservação do Budismo conhecido como
"Ryoho Kuju".
Todos eles voltaram-se contra o 2.° Sumo Prelado Nikko Shonin.
A História conta posteriormente todos os procedimentos e o destino final
dos Cinco Velhos Bonzos provando como é triste o fim do Budismo que não
possui a mais importante Veia de Transmissão. As numerosas seitas da
Nitirenshu que existem hoje, irão por si só descobrir a heresia na sua origem.

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A posse do Sumo Prelado Mizutani Nissho Shonin tornou-se o marco mais
importante para uma grande transformação na História da Nitiren Shoshu.
O 64.° Sumo Prelado contava 68 anos de idade. A sua atitude serenamente
simpática e o seu aspecto simples e jovial poderia fazer lembrar a analogia com o
símbolo do Novo Japão Renascente.
Nos dez anos de sua administração religiosa até o seu afastamento em
março de 1956, deixou obras realmente gloriosas, que corresponderam ao
dinamismo fulgurante para brilhar tão bem o nome Nissho que significa 'o sol
levante".
Junto com o progresso da Soka-Gakkai, a restauração da Nitiren-Shoshu
foi notavelmente magnífica, ao ponto de chegar a concluir as obras sem
precedentes na história de setecentos anos.
Entretanto, na época da sua posse o Templo Supremo possuía numerosos
problemas dentro e fora do seu domínio, e estava tão devastado pela guerra, de
tal maneira que não podia imaginar a suntuosidade do seu sucesso após dez anos.
A perda não era apenas o prédio do Salão Principal que fora incendiado. A
começar de Tóquio e Osaka, a destruição dos templos e das igrejas pelos
incêndios da guerra, atingiram mais de vinte em todo o país.
No dia 28 de março de 1946 foi criado o "Departamento da Restauração
dos Templos Destruídos pela Guerra". O plano da reconstrução consistia em
derrubar a floresta de cedros do Templo Supremo e utilizá-los como materiais de
construção após transportados aos templos que necessitavam de reformas. A
reconstrução dos templos regionais destruídos pela guerra, requeriam mais
urgência do que a restauração do Salão Principal. Para isso, era necessário
convocar o auxílio financeiro a todos os templos do país e dos seus respectivos
devotos.
O projeto da reconstrução da Nitiren Shoshu iniciou-se com as
dificuldades desta natureza. Entretanto, havia ocorrido um outro incidente que
lhe obrigou a interrupção da reconstrução.

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Foi a Primeira Reforma Agrária que surgiu em fevereiro de 1946. Essa
reforma limitou a área cultivada dos proprietários e independentes.
Apesar disso, as fortes críticas surgiram da Inglaterra e da Rússia,
protestando que a democratização do Japão ainda era insuficiente.
O Quartel General então idealizou uma segunda Reforma Agrária e
mandou à Dieta em fins de outubro para que fosse aprovada.
De acordo com esse projeto, as propriedades não cultivadas pelo próprio
dono seriam obrigadas a serem vendidas ao Governo pelo preço imposto, com
exceção dos 10.000 m2 que ficavam para o cultivo dos respectivos proprietários.
Com as terras compradas, o Governo fazia concessões de vendas, de preferência
aos antigos lavradores que as arrendavam.
O Templo Supremo era também dono de uma grande área de terras não
cultivadas. Além disso, a Sociedade Religiosa não podia ter o direito à posse
nem mesmo 10.000 m2 de terras.
Nessa época havia nos arredores do Daissekiji, cerca de 600.000 m2 de
arrozais e sítios pertencentes ao Templo Supremo. Toda essa área ia ser
confiscada pelo Governo.
Evidentemente, deve ter recebido um choque muito grande. Além disso, a
Comissão do Confisco das Terras da Vila Ueno, estavam sob o controle dos
comunistas. A Comissão lançou seus olhos às numerosas florestas de cedro,
além dos 600.000 m2 de terras cultivadas.
Com o pretexto de que as florestas com declive de 15 graus
transforrrnariam-se em terras cultiváveis, a comissão veio exigir a venda forçada
de 400.000 m2 de florestas ao redor do Templo Supremo com a ameaça na
obediência à lei. Portanto, um milhão de metros quadrados de propriedades do
Templo Supremo estavam, na verdade, sendo extorquidos por preço irrisório.
Os bonzos, mesmo os mais simples, premeditando o perigo do avanço das
mãos extorsionárias do confisco, ajuntaram suas cabeças para pesquisar
profundamente, a fim de procurar uma saída melhor.

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Precisavam conservar o restante das terras remanescentes. Para isso, seria
necessário cultivar as florestas ameaçadas de confisco, por meio das mãos dos
próprios bonzos. Perceberam a necessidade urgente de transformar estas terras
em áreas cultiváveis dos pequenos proprietários.
Foram obrigados a abandonar a profissão de bonzo para se tornar lavrador,
a fim de cumprir esse propósito. Não havia outro meio de evitar o confisco,
senão, pedir a autorização ao Governo para cultivar essas áreas e serem
aprovados nos exames para tirar o certificado de habilitação para os trabalhos da
agricultura.
Alguns bonzos decidiram voluntariamente tirar de imediato o certificado
para trabalhar na agricultura, com o ideal exclusivo para a defesa desta terra
sagrada do Daissekiji, contra os extorsionários. Queriam de qualquer maneira,
mesmo transformando-se em simples lavradores.
Para piorar ainda mais a situação, a época vivia de problemática escassez
de viveres. Os bonzos de Daissekiji começaram a cultivar cada qual os 20.000
m2 de terras que lhes foram permitidos.
Eles aguardavam a chegada do momento, acreditando firmente na chegada
de uma era de glória, cientes dos obstáculos e impedimentos que viriam de onde
e quem quer que seja.
Puxaram as enxadas, mesmo inabituadamente, em defesa do Templo
Supremo e da própria subsistência. Um dia após outro, o seu trabalho era sempre
lavoura. Enfim. o seu programa diário era ser lavrador.
Às vezes, os devotos vinham fazer suas peregrinações e nesse dia, quando
havia Cerimônia de Gokaihi, a Abertura das Portas do Dai-Gohonzon, os bonzos
da sentinela corriam pelas áreas do Templo para chamar os seus companheiros.
Isso ocorria algumas vezes num mês. Nesse dia, da tarde em diante, era
considerado feriado para as suas lavouras e então, fazendo uma pausa assim,
lembravam profudamente que ainda eram bonzos.
Eles inventaram o termo "Bonzo-lavrador". Entretanto nenhum deles
possuía cavalos ou instrumentos de agricultura.

84
Antigamente, falava-se em 'Bonzo-soldado'. Esses bonzos-soldados
nasceram da necessidade em defender a própria classe contra os bárbaros ataques
armados da classe dos samurais. A Reforma Agrária de após-guerra causou o
nascimento dos 'Bonzos-lavradores'.
Naquela época, os bonzos jovens repatriados voltavam esporadicamente
ao Templo Supremo, um após outro. Eles começaram a sentir-se saturados pela
monotonia da vida diária da lavoura. As suas refeições diárias eram de batatas,
de arroz com aveia e de soja. A situação alimentar dos bonzos que viviam no
centro, era pior do que os da periferia que possuíam alguns devotos que traziam
os auxílios.
Dentre os jovens bonzos desmobilizados, havia alguns que decepcionados
com a situação dos bonzos, perderam a paciência e abandonaram o Templo
debandando-se para baixo do planalto.
* * *

Eu agradeço sempre e penso. A enorme prosperidade da Nitiren Shoshu e


o grande progresso da Soka-Gakkai foram devidos pelas inesquecíveis atuações
da fé e do esforço dos bonzos veteranos que trabalharam tanto para a construção
dos alicerces e pilares, sólidos e profundos, mesmo lutando contra imensas
dificuldades da época.

* * *

Nessa época, ao mesmo tempo, foi revelada uma triste noticia do Kaihoji,
o templo da Nitiren Shoshu em Maoka, pelo Rev. Nakamura que voltou da Ilha
Sakalina.
Este jovem bonzo Rev. Nakamura foi para Maoka, a sua terra natal,
situada na costa oeste desta ilha, em abril
de 1945.
Ele deixou o Templo Supremo para ocupar o seu posto em Aomori,
situado no extremo norte da ilha principal. Devido à dificuldade de trânsito da
época, viajou de navio a partir de Niigata e fez uma volta até a Ilha Sakalina por
via marítima e passou pela sua terra natal, aproveitando esta oportunidade.
Entretanto, as vias de comunicações

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pioraram de tal maneira que ele foi obrigado a permanecer na casa dos pais em
Tikonai, a vila dos pescadores perto de Maoka.
Em Maoka, havia um único templo da Nitiren Shoshu da Ilha Sakalina,
chamado Kaihoji, situado numa das vertentes da montanha, que lá de cima dava
uma visão total deste porto. O chefe do templo era Rev. Kaido Tatsuno, um
bonzo solteiro de mais de cincoenta anos de idade. Estava defendendo o Castelo
da Lei do extremo Norte, apenas com três pessoas: ele, um discípulo e sua irmã.
Subitamente veio o término da guerra, no dia 15 de agosto. Iniciaram-se as
remoções das mulheres japonesas que viviam em Sakalina para a Ilha Principal,
utilizando todas as embarcações disponíveis.
Na viagem marítima do dia 19, o Rev. Tatsuno mandou embarcar o seu
discípulo com sua irmã mais velha, fazendo levar conjuntamente as cadernetas
de todas as contas bancárias.
A seguir, ele decidiu defender sozinho o Castelo do Budismo.
O exército russo avançou para o sul e no dia 20 aproximou-se até Maoka.
Os soldados japoneses parecem ter contra atacado e em seguida retiraram-se,
escondendo nas montanhas que situavam atrás. Ouviam-se os tiros temíveis nas
ruas e logo em seguida, iniciaram os bombardeios das belonaves que faziam
ecoar estrondos intensos na superfície do mar. As casas foram investigadas uma
por uma pelos soldados russos e cerca de mil japoneses foram ajuntados e
levados presos ao armazém do porto.
O Rev. Nakamura, após a despedida dos navios repatriados na véspera,
estava em casa do seu sogro, mas foi preso pelo soldado russo e levado junto
com os mil japoneses presos.
Nesse meio, porém, não se encontrava a figura do Rev. Tatsuno.
Continuavam os tiroteios nas ruas. Os bombardeios dos navios de guerra
faziam as explosões intensas nos locais próximos e distantes.
Era a noite do dia 21. No vertente esquerdo da montanha surgiu a chama
totalmente vermelha. Aos olhos de

86
mil japoneses presos no armazém, fizeram premeditar, se não era o incêndio do
Templo Kaihoji.
Certamente, era Kaihoji.
Por volta das oito horas da noite, subitamente ali surgiu o fogo. No salão
principal que vomitava o fogo, prosseguia-se incessantemente a leitura das
Sutras e Daimoku em altas vozes.
A causa do incêndio seria talvez o bombardeio, o fogo lançado por alguém
ou pelo próprio Rev. Tatsuno; porém, não se podia certificar no meio da
desordem. Socorros para salvar do incêndio eram ineficazes. Apenas a voz do
Daimoku e as batidas de tambor ressoavam incessantemente no meio de intenso
fogo para as adjacências.
No templo, as chamas já atravessavam o telhado, queimando o céu da
noite escura. A seguir, o incêndio foi perdendo a sua intensidade e o telhado
desmoronou quando parecia que fora completamente queimado. Ao mesmo
tempo cessaram as batidas dos tambores e do Daimoku. Novamente as chamas
se levantaram ainda mais alto.
No alvorecer do dia seguinte, dois ou três devotos encontraram os ossos
brancos no meio do incêndio no local supostamente considerado em frente onde
havia o altar do Gohonzon do Templo.
O Rev. Tatsuno teria pensado que o seu dever sublime seria acompanhar o
mesmo destino do Gohonzon.
Contendo as suas lágrimas, os devotos foram colhendo os ossos brancos
do Rev. Tatsuno. Em seguida, juntaram todos a um canto do recineto onde havia
o Templo, enterraram condignamente levantando ali um marco para o seu
túmulo.
O Rev. Nakamura revelou essa passagem para o Templo Supremo, com
lágrimas de tristeza e concluiu da seguinte maneira.
— . Nós que estávamos presos no armazém à beira do mar, fomos
libertados após alguns dias. Não tive outra vontade senão chegar imediatamente
ao Kaihoji. Chegando ao local o mais depressa possível, vi que o Templo fora
realmente incendiado. Ao lembrar do Rev. Tatsuno... achei uma estaca de
madeira queimada afincada no chão, deixando reconhecer o marco do seu
túmulo. Com todo o

87
meu respeito, enviei a leitura da sutra e orações de Daimoku, profundamente, de
todo o meu coração.
— Alguns dias depois, tive a permissão de levantar
nesse local, um novo túmulo, uma estaca da madeira e
o monumento com as devidas inscrições formais. Agora,
no alto da montanha, estaria sentindo o vento frio que
vem soprando da Sibéria.
Um companheiro que ouvia a narração, levantando a sua fisionomia
compassiva, perguntou-lhe:
— O que aconteceu com os devotos? Houve alguém que sofresse por
acaso o evento trágico?
— Sim! Todos sofreram, na verdade. Entretanto, no fim, voltaram
todos à terra-mãe, sãos e salvos. . . ah! lembro-me que havia um templo da seita
M, no setor norte da praia de Maoka. O bonzo responsável fugiu do seu templo
no meio da agonia, carregando um embrulho enorme nas costas; porém, quando
chegou à praia, foi descoberto pelo soldado inimigo e foi morto com a
baioneta... Além disso, haviam pessoas que se suicidaram no meio daqueles
patrícios remanescentes. Um professor do Ginásio de Maoka suicidou-se à
maneira honrosa, fazendo "harakiri".
Na véspera da capturação pelos russos, as nove moças de plantão no
Serviço de Telecomunicações, enviaram o seu último telegrama: "Adeus a todos
os companheiros do Japão. Adeus!" E, todas suicidaram-se logo em seguida.
As lágrimas brilhavam nos olhos do Rev. Nakamura. Deve ter sentido a
revivescência dos fatos trágicos ocorridos naquela ocasião.
Os bonzos do Templo Supremo ouviram atentamente, fazendo
transparecer a profunda seriedade nas suas fisionomias. Eles, por sua vez,
lembraram-se da destruição do Salão Principal e de Nitikyô Shonin que faleceu
no meio desse incêndio. Assim, eles perceberam fortemente a chegada de uma
era crítica em torno deles.
Foi, realmente, uma era perigosa para a Nitiren Shoshu. As preocupações
foram penetrando agudamente na consciência de todos os bonzos, sem distinção
de hierarquias.
Conservar o Templo Supremo era uma necessidade. Para tal, não haveria
outro meio senão atuar a fé convicta na própria morte em favor da Propagação.
Embora possam

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dizer desse modo, eles estavam preocupados no que fazer e o que se deveria
fazer.
O que eles podiam fazer, no meio dos trabalhos da lavoura, de uma
enxadada após outra?
No Templo Supremo, o perigo de fome foi superado com muito custo,
graças aos trabalhos dos "Bonzos-lavradores'. Foi um período de víveres
escassos indescriti-velmente pior, mesmo para o povo em geral. Entretanto,
apenas os agricultores puderam viver sem sentir esse tipo de sofrimentos. Pelo
contrário, havia até artigos que davam lucros, se vendessem no câmbio-negro.
Mas, os Bonzos-lavradores não eram agricultores habituados. A sua vida pastoril
de última hora, parecia ser a dos camponeses que viviam na miséria.
A vida diária dos Bonzos- lavradores continuou desta
maneira até outubro de 1951.
No meio das intensas dificuldades desta natureza, quer dentro ou fora da
Nitiren Shoshu, foi nessa época que Nissho Shonin tomou posse do 64.° Sumo
Prelado.
Mesmo nessas condições precárias, a cerimônia de Ushitora-Gongyo para
a Paz Mundial vinha sendo celebrada ininterruptamente desde há 700 anos.
Dignificando a devoção do Sumo Prelado, sentimos como devotos, um profundo
respeito nos nossos sentimentos.

* * *

As lições do Hokekyo e do Gosho, dirigidas por Jossei Toda, nas


segundas, quartas e sextas-feiras, prosseguiam com atividades intensivas,
imediatamente após o encerramento da Primeira Assembléia de após-guerra. Isso
foi devido ao aumento assombroso da freqüência dos estudiosos.
A convicção ardente de Toda, foi transformando esses ouvintes estudiosos,
rapidamente, em práticos habilidosos.
Na construção, há esperanças e paixões. Essa construção continuará
perene e profundamente ao mesmo tempo com as atividades cada vez maiores,
se contiver o idealismo grandioso na sua base profunda. Uma construção que não
contém ideologia ou idealismo, terá mais cedo ou mais tarde o seu destino para a
ruína.

89
Intensificaram-se as palestras e as reuniões do domingo, realizadas em
diversos lugares. Foram realizadas com entusiasmo, as reuniões extraordinárias
nas terças, quintas e sábados. À vezes notavam o comparecimento dos
convidados não convertidos nas reuniões e o aspecto do Chakubuku mostrava
tamanha seriedade, que até parecia resultar brigas.
Jossei Toda precisava supervisionar todas essas reuniões com a sua
presença. Embora os discípulos tivessem força de vontade em levar avante as
atividades, ainda não possuíam capacidade suficiente para convencer plenamente
os convidados.
Eles conclamavam que a "nossa religião não tem erro" ou que a "nossa fé
e absoluta", mas, era necessário comprovar por que não tem erro ou por que é
absoluta. Para isso, Toda precisava orientá-los através da prática.
Todos eles eram devotos esforçados. Cada qual possuía as provas
evidentes e resultantes da própria experiência. Foram aprendendo com Toda,
como convencer logicamente e desenvolver as habilidades em procurar as
comprovações nas literaturas.
À medida em que o tempo permitia, Toda comparecia em todas as
reuniões noturnas em Tsurumi, Koiwa e Ka-mata e também, em Nakano e
Mejiro. Não havia luzes nas ruas. As noites eram escuras e frias. Para a sua visão
extremamente míope, os caminhos esburacados da noite eram terríveis. Muitas
vezes esteve ameaçado de tropeçar. Apesar disso, ele chegava pontualmente,
com todo o seu ânimo.
O local da reunião, às vezes era um pequeno apartamento de apenas quatro
"tatamis" e meio de extensão, caindo aos pedaços. Outras vezes era um velho
quarto sem forro, com o assoalho inclinado. Era obrigado a permanecer sentado
em posição forçada a fim de lutar contra a lei da gravidade. Além disso, talvez
por perder o seu apoio, o assoalho provocava a cada passo o ruído nas maçanetas
das gavetas do armário.
A maioria das casas eram mal iluminadas. Quando Toda se apresentava
radiante debaixo dessas lâmpadas fracas, dizendo: — "Estão bem?"; todos
mostravam suas fisionomias alegres.

90
As perguntas de todos os tipos surgiam impaciente-mente. A partir desse
instante, iniciava a reunião, apesar do pequeno número de comparecimento. Ele
aplicava o método realista, evitando as formalidades. A formalidade acaba
criando a burocracia. O mútuo contato natural da vida humana, faz nascer a
verdade real e cria o fundamento social com a firmeza de ferro. Atualmente,
reinam com maior freqüência, as formalidades e as aparências na alta sociedade,
porém, aquela verdade simples e natural encontra-se com mais freqüência na
camada popular. Analisando deste ponto de vista, deve-se compreender que o
caminho primordial para o humanismo é ouvir sempre a voz da opinião pública.
Mastigando as pílulas de cânfora, Toda ouvia pacientemente as perguntas
insistentes. Após então, sintetizava sumariamente a questão e formulava
claramente uma resposta. Em seguida, ensinava a força e a profundidade da fé.
Encorajava-os, mostrando o brilho do grande poder benevolente do Gohonzon
para aqueles desiludidos da vida.
Muitas pessoas chegavam atrasadas em virtude dos seus trabalhos. A sala
ficava lotada na hora em que elas vinham chegando e era necessário apertar os
lugares por diversas vezes. Nessas reuniões, como sempre, circulava a corrente
de ar quente de animação.
Toda chamava os seus discípulos mais diretos. Em seguida, fazia-os
explanar sobre a História do Budismo, o Objetivo da Vida e também a teoria da
Felicidade ou dos Dez Estados da Vida. Após então, ele iniciava cordialmente e
seu Chakubuku para os novos convidados.
Antes de mais nada, oferecia abundantemente os materiais para as críticas
e fazia levantar as dúvidas. É o princípio do Budismo que se chama 'Doshu-
Shogui' que significa: levantar as dúvidas para fazer perceber a verdade ou
falsidade.

* * *

Zadankai é a reunião entre dez ou vinte pessoas. Mesmo que ela seja
grande, não passará de algumas dezenas de pessoas. Não haveria uma outra
reunião tão

91
simples assim. Apesar disso, tanto os velhos como os jovens, mulheres ou
aleijados, podem ajuntar-se ali, à vontade.
Nesse local, não há diferença entre ricos e pobres, professores ou
analfabetos. Evidentemente, nessa reunião há a figura central do dirigente. Mas o
seu objetivo é o comparecimento de todos. Portanto, quer os novos convidados
ou os dirigentes, cada qual pode expressar livremente as suas opiniões ou
experiências, dialogar sem formalidades até convencer ou compreender a
verdadeira fé. Eis a finalidade da reunião séria e franca ou animada e alegre ao
mesmo tempo.
É uma reunião muito procurada, onde se admira a beleza natural
integralmente humana, através da interco-municação de uma vida a outra, cujos
corações pulsam simultaneamente no mesmo ritmo da compreensão mútua.
Não posso deixar de afirmar que isso é a verdadeira fórmula para a
democracia.
'Zadankai' é como a superfície do oceano. 'Gakkai' é como um grande
navio para a Salvação da Humanidade. Somente ela poderá avançar quando
flutuar sobre as ondas na superfície do oceano.
Faz bem ouvir conferências; é bom assistir assembléias de maior alcance,
entretanto, se as reuniões fossem somente grandes assim, criariam naturalmente
as brechas que distanciariam os dirigentes dos dirigidos. Além disso, mesmo que
os líderes tentassem manipular a massa com formalidades, com as persuasões
imediatistas ou com as habilidades políticas, o povo é perspicaz. Mais cedo ou
mais tarde, o fio de ligação será cortado pela visão ou reação. Nestas
circunstâncias surgem forçosamente os pensamentos astutos e maldosos nos
bastidores da sociedade e conseqüentemente aparecem as cenas infelizes onde
mostram as contraditoriedades entre a realidade e a pretensão.
Alguém poderá dizer com esperteza: para a propagação deve-se usar o
rádio, ou então, a televisão. Que opinião imprudente! Para a Soka-Gakkai é
absolutamente dispensável o uso dos meios comuns de publicidade ou das
relações públicas como instrumento de propaganda. São meios convenientes que
as numerosas religiões novas

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estão utilizando para angariar fundos em proveito de empresa religiosa.
A Religião Verdadeira nunca toma atitude que desprestigia a sua doutrina.
É desnecessário tomar medidas assim. Sobretudo, esta Zadankai é a palestra
dotada de nobreza tradicional na Gakkai, desde os tempos do Presidente
Makiguti.

* * *

Na hora em que a reunião passava às perguntas e respostas, os novos


convidados se manifestavam, cada qual com suas tendências das mais diversas.
Uns pareciam ser profundamente desconfiados e dis-traidamente faziam
suas perguntas inocentes; alguns revoltosos ouviam com indignação; havia
também outras perguntas desconexas que deixavam outros rirem.
Toda respondia a cada questão com delicadeza e serenidade. Dava toda
sua atenção, a fim de que todos chegassem à sua compreensão.
Entretanto, no momento em que muitos dos convidados estavam prontos
para decidir a conversão, por estranho que pareça, surgiam freqüentemente
tumultuações violentas num dos cantos da sala.
A maioria desses reacionários eram jovens com uniforme e soldados
desmobilizados. Eles apresentavam suas faces encovadas e olhares penetrantes.
' Atacavam violentamente como loucos, por meio de palavras aberrantes,
lançando seus olhares provocantes com a fisionomia horrivelmente encovada.
— Não adianta me enganar! Quem poderá cair nesse
conto do vigário. Não quero saber dessa mentira!
O apresentante do rapaz ficou surpreendido e tentava fazer o rapaz sentar,
puxando a calça e o paletó. Percebendo isso, Toda disse delicadamente:
— Deixe o rapaz falar. Deixe expor tudo o que ele
desejar.
Em seguida, chamou calmamente o rapaz, olhando para a sua direção.
O rapaz estava perturbado; porém, logo voltou a si. Entretanto não podia
interromper agora a sua ira, uma vez que ele manifestou comportando-se desta
maneira.

93
Há pessoas conscientes. Há também pessoas sensíveis. Entretanto, a
surpresa é grande, quando percebemos que há tantos emotivos, mesmo entre
aqueles que parecem ser conscientes à primeira vista. Sendo assim, não poderia
deixar de pensar que o homem é essencialmente emotivo, É realmente cômico
ver a atitude de um crítico por exemplo, que opina sobre os outros, mas uma vez
que as críticas fossem lançadas contra si, torna-se imediatamente furioso.
Disse uma vez um erudito. "Uma grande razão levanta-se sobre uma
grande emoção. As grandes emoções crescem brilhantemente em conseqüência
das grandes razões".
Os jovens que perderam as esperanças em conseqüência da guerra,
perderam também a sua consciência e não possuía outra voz ativa, senão,
manifestar-se pela sua emoção que restou.
— ...isso é realidade! Não serei mais traído. Não adianta mais me
enganar com essa pregação de "Construir o Paraíso dos Budas". Jamais me
enganará. Refletindo bem, nós viemos sendo traídos continuamente, desde que
tivemos o uso da consciência. Se não, vejamos:
— O "Exército do Imperador", a "Marinha Invencível", a "Harmonia
Universal" (Hakkô-ltiu), a "Guerra Sagrada". Não desejamos nada até vencer..."
Coitados! Fiquei emocionado e no fim acabei entrando no Regimento de
treinamento da Tokkotai para o ataque especializado da Marinha e lutei na
Universidade Kamikaze como piloto do Avião Suicida do Vento Divino. A
"Indestrutibilidade da Terra Sagrada", o "Orgulho da Morte em Viver para a
Grande Causa do Universo"... nestas alturas, fiquei um pouco triste.
Sinceramente, eu pensei que podia morrer contente, se a minha morte
contribuísse para a causa da eterna prosperidade da nação.
— Entretanto, vejam só agora! É uma anarquia completa. Uma vez
recuperado o meu sentido e fazendo uma análise retrospectiva do meu passado,
fiquei surpreendido. Eram só mentiras. Nós, jovens, estávamos somente dan-
çando ébrios no ritmo da demagogia dos belicistas.
— A seguir então meditei profundamente até chegar à conclusão final.
Compreendi que o autor das nossas

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danças foi um grande maldoso, mas por outro lado, nós, os contínuos iludidos,
fomos também estúpidos e idiotas da marca maior! Não se resolve nada odiando
os outros. Decidi, então firmemente: Jamais serei enganado.
A sua calça parecia como a de um gaúcho. Deve ter sido usada na época
dos ataques suicidas dos Kamikazes. Sua face estava pálida. Permaneceu em pé
como se estivesse olhando para o céu, de boca cerrada, fazendo notar os
tremores na sua musculatura mímica. Parecia ser inocente, forte, desesperado e
ao mesmo tempo um mal educado. Poder-se-ia dizer que é um mau elemento ou
que estivesse tomando uma atitude antipática.
— No que foi dito, não deve ter havido realmente o engano. Se disser
que é uma verdade, pode ser uma realidade, pois isso é a sua experiência. O fato
de compreender que foi engano é uma verdade indispensável para a sua vida
atual. Entretanto, o que vai fazer com a sua infelicidade...?
— Não brinque comigo. Não me taxe de infeliz assim tão
sumariamente. Na verdade, não sou infeliz e nem feliz.
— Então o que é?
— Não sou nada. O assunto é só isso e basta!
O rapaz riu com sarcasmo. Toda não deixou escapar a infinita solidão atrás
desse riso sardônico. Não podia deixar de sentir compaixão por esse rapaz. Ele
merecia o seu carinho.
— Parece que o senhor está pensando seriamente
agora. Então, eu direi também seriamente. Venha mais
perto aqui e sente-se por favor.
Enfim, o atacante suicida avançou para frente. Sentou-se formalmente
diante de Toda, deixando entre os dois a presença da mesinha. Foi se apagando
aquela atitude revoltada.
Toda disse sorrindo:
— Então, o senhor passou um ano revoltado com a
traição? Mas, pense bem agora. É uma estupidez. A partir
de hoje a noite, deixe de ser revoltado.
As pessoas ao seu redor começaram a rir baixinho. Entretanto o rapaz não
ria. Parecia que se revoltara outra vez.

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- O senhor disse que foi traído, mas antes de ser traído, estava acreditando
sinceramente como se fosse verdade, não é?
— Sim. Estava acreditando. Acreditava sinceramente.
É isso que me deixa revoltado.
Com atitude concordante, com aquela mesma atitude de acariciar uma
criança, Toda disse:
— O mal não estava no senhor. Apenas o mal estava no que o senhor
acreditou. Isso, o senhor não percebeu. Mas, quando o percebeu, a revolta já não
mais cessava. Não é verdade?
— É isso mesmo.
— Com sua experiência mostra claramente, acreditar cegamente é uma
coisa terrível. Não há coisa no mundo pior do que isso. Uma pessoa cai na mais
profunda infelicidade, quando acredita numa coisa errada. Mesmo que seja
honesta, ou que seja uma pessoa impecável, é impossível contrariar este
princípio. Por acaso, o senhor já pensou alguma vez a esse respeito?
O rapaz não respondeu. Ao contrário, abaixou a sua cabeça.
— Não estou opinando isso arbitrariamente. Já, há 700 anos, uma
pessoa chamada Nitiren Daishonin revelava isso tão claramente, como a imagem
do espelho. Fatos desta natureza tem a sua origem na fé. Por isso, essa realidade
aparece mais fortemente e da maneira mais drástica no setor da religião.
Portanto, penso que isso ocorre igualmente na vida em toda sua variedade.
— O senhor poderá definir esta ideologia errônea numa só palavra que
é o militarismo. Mas, o senhor viveu até agora acreditando como certo este
conceito falso, desde a sua infância. A conseqüência disso, nada mais resultou
senão, o nascimento da vida que o senhor leva hoje.
— O senhor pensa que os maldosos são aqueles que o obrigaram a
acreditar nisso e que merecem ser odiados. Entretanto, eles mesmos devem ter
ensinado ao senhor, simplesmente acreditando que fosse certo. Eles também, por
sua vez, como a maioria, juntos foram caindo evidentemente num caminho
completamente ignorado que nem é

96
felicidade e nem é infelicidade, tal qual o senhor disse agora. Isso é pura
verdade.
— Forçosamente é uma situação irresistível e é uma
realidade evidente. Entretanto, como as criaturas não po
dem viver sem que acreditem em algo, chegam a acreditar
em qualquer coisa. O senhor deve ter percebido agora, o
temor sobre a crença. Por isso mesmo, o senhor vem
resistindo para não mais ser enganado. Esta reação que
provém da sua mente, eu compreendo muito bem.
O rapaz lançou um olhar fixo para Toda, com sua fisionomia atenta. Tenha
chegado talvez o momento de sedimentar gradualmente a sua mente confusa —
sua fisionomia triste começou a mudar para uma atitude tímida.
Acendendo o cigarro, Toda fumou umas duas vezes, apagou em seguida e
começou a falar. Os ouvidos de todos estavam aguardando suas palavras
subseqüentes. Não havia mais as pessoas que se moviam.
— Mas, o que o senhor deve pensar agora, é saber, se existe ou não,
neste mundo, algo que realmente possa acreditar. Cícero, o filósofo romano dizia
sempre: "uma idéia doentia é pior do que o corpo doente", além disso é mais
freqüente do que parece.
— Como conclusão, Nitiren Daishonin afirma que a origem de toda
infelicidade está nas idéias ou religiões erradas. Em última análise, pregou isso
corajosamente, com a convicção inabalável e com o risco da própria vida, pois
Ele sabia da existência desta religião correta. Adiantaria alguma coisa para
Nitiren Daishonin, enganar o senhor?
— Se considerarmos que a causa da infelicidade é a falsa ideologia ou
religião, seria muito natural que a verdadeira levaria as pessoas à felicidade. Não
há nada estranho aqui. Esta Religião Correta, chama-se "Nam-myoho-rengue-
kyo de Sandai-Hihô". É isso, que Nitiren Daishonin deixou de forma concreta e
visível para a massa infeliz da era de Mappo, em virtude da Sua grande com-
paixão humana. Isso é o Gohonzon que está consagrado inclusive aqui, nesta
casa, como o senhor está vendo. Não é mera ideologia ou pura teoria.
Absolutamente não é ideologia. É uma religião que faz exteriorizar a força do
Buda do próprio corpo, através do Objeto de Adoração

97
claramente evidente. Assim se constrói a própria fé e cria o mais alto grau da
personalidade para a revolução do caráter humano e para o acúmulo de boa sorte,
revelando assim o Estado de Buda.
— O senhor pode pensar que é um modo de falar muito superlativo.
Isso porque o senhor ainda não conhece o grau de superioridade ou de
profundidade no Budismo. Em outras palavras, poder-se-ia dizer que sua
ignorância nesse assunto provém do completo desconhecimento do Budismo. É
o mesmo que tentar conhecer a astronomia sem saber o seu estudo sistemático.
Acontece o mesmo com a matemática ou com a economia. Com bases no Estudo
e na Teoria, poderia logicamente concluir também que o Budismo é uma religião
verdadeira. Porém, esse processo é mais ou menos complicado e mesmo que
explicasse desta maneira, seria algo completamente estranho para o senhor.
Entretanto, pode-se pesquisar à vontade, até convencer. Se estou enganando ou
não o senhor, isso é assunto fora de cogitação.
— Assim como através do espelho refletem-se todos os fenômenos do
universo, podemos reconhecer a existência de um verdadeiro Princípio da Vida
— que existe evidente e independentemente do reconhecimento humano.
Chama-se a isso, o Princípio do Verdadeiro Budismo. Tudo se torna errôneo,
com o desconhecimento desse princípio básico.
— Não há coisa mais temível do que a ignorância. Agora, diante do
senhor, não posso deixá-lo abandonado, como um simples desconhecido. Não
estou lhe dizendo isso visando algum interesse. O senhor também concordaria
comigo. Não é?
— Sim... concordaria. — o rapaz concordou obedientemente e com
espontaneidade.
Toda continuou a falar com gentileza e com sorriso:
— O senhor não percebeu ainda, mas apesar disso,
o seu futuro é realmente brilhante. Não há dúvida. É necessário apenas levar a
vida nova com o máximo de
proveito, com a ideologia nova e uma Religião Correta.
A sua vida depende em se conservar ou não, com todo
cuidado e dedicação, esta Grande Causa, que é o Gohonzon. Através deste
Gohonzon, o senhor decide a sua

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longa existência — se a vida é uma viagem como um bailado cheio de
esperança e de convicção num mundo novo completamente livre e alegre,
firmemente em uníssono com a Grande Lei do Universo, ou uma caminhada
dentro de um estreito e tenebroso tubo de ferro, pensando que é a sua liberdade.
Não! Não haverá outra alternativa.
— Sinceramente, estou de acordo com o senhor. Porém, no momento
estou confuso. Desejo refletir bem para em seguida mudar o pensamento. —
Dito isso, ele olhou a face de Toda. Havia um sotaque peculiar no seu modo de
falar.
— Está bem. Parece que o senhor gosta de meditar. Desejo uma
contemplação proveitosa. Aconselho ponderar sobre o assunto, como sendo uma
decisão de vital importância para toda sua existência.
Todos os presentes ficaram alegres ao mesmo tempo. Mostravam as
fisionomias sorridentes que pareciam congratular-se calorosamente com o rapaz.
Enfim, o rapaz rubefaciente, respondeu gaguejando:
— Pensarei! Chegarei certamente à conclusão final
e voltarei novamente. Prometo isso em resposta à sua
dedicação a mim. Sinceramente, eu lhe agradeço.
Não podia mais desafiar contra a ternura de Toda. Passada uma semana,
chegou a notícia para Toda, que o rapaz finalmente, se converteu, na casa de seu
amigo que o apresentou.
Logo em seguida, ele visitou Toda e nessa ocasião não apresentava mais
aquele aspecto sombrio do passado.
Com aquele mesmo sotaque, mas calmamente, ele relatou o estado atual
da sua família e revelou alegremente para Toda, a sua decisão de voltar
definitivamente para sua terra natal que fica numa vila do interior em Kyushu.

* * *

As ruas estavam repletas dessa juventude criada pela devastação e o tédio


de após-guerra.
Os jovens que ainda não perderam o poder da sua consciência, eram
considerados os melhores. Quão numerosos foram os rapazes que perderam as
faculdades mentais!

99
Assim como eles foram doutrinados pela ideologia militarista durante a
guerra, agora, na era da democracia de após-guerra, foram imediatamente
atraídos pela propaganda de idéias socialistas.
Os rapazes desta natureza apareciam freqüentemente nas palestras.
Lançavam delirantemente as vozes ofensivas, usando orgulhosamente os lemas
socialistas que aprenderam na véspera.
Toda tentava fazer compreender o profundo significado da Filosofia da
Vida do Budismo de Nitiren Daishonin, sorrindo com muito custo; porém, a
membrana do tímpano dos seus ouvidos rejeitava os conselhos, como se
estivesse brincando. Nessa época, a questão mais importante da massa
trabalhadora era como ganhar o pão de cada dia. Sendo assim, não podia perder
o tempo em ouvir assuntos fora desta questão. O caminho único para a salvação
como eles julgavam, estava somente no aumento dos salários. Na furiosa
tempestade inflacionária — apenas podiam permanecer sofridos e temerosos,
dentro da caverna escura e tenebrosa.
As ondas de movimentos dos Sindicatos dos Trabalhadores se expandiram
por todo o país, como a queimada numa vasta planície. Explodiram-se as greves
em diversos lugares. As bandeiras vermelhas que ali se levantaram como
florestas, pareciam a chamas de incêndio nesse local. Esta luta para os aumentos
salariais era considerada como uma linha vital para a salvação dos trabalhadores.
Desde o outono de 1946, a massa trabalhadora avançava sobre essa linha
vital, como as ondas bravias e torrenciais. Esta avalanche marchava empurrando
todos os obstáculos, transformando-se em correntes cada vez mais velozes,
provocando as lutas econômicas e progrediu até em lutas políticas, que culminou
numa Greve Nacional no dia 1.° de fevereiro do ano seguinte.
Seja por bem ou por mal, não há outro fato mais temível do que a ira do
povo.
Os comunistas que aclamaram com "Viva MacArthur" em frente do
Quartel General, logo após a libertação de seus líderes presos, em outubro de
1945, acreditavam que as forças de ocupação seriam as Forças de Libertação.

100
Além disso, julgaram que a intensificação das lutas dos trabalhadores
fosse devida aos seus méritos, que na verdade não foram deles e assim,
começaram a sonhar com otimismo excessivo, a respeito da sua revolução
política.
Enquanto a sociedade se transformava violentamente no meio da invasão e
sucessivas e novas marés — Jossei Toda parecia estar extremamente solitário.
Desviava toda sua paixão para os dias sobre Lições do Hokekyo e do
Gosho. Em seguida, comparecia às reuniões e fazia orientações contando
anedotas, como atitude calma e tranqüila. Isso parecia até uma conduta inteira-
mente fora da época.
Entretanto, ele não estava de maneira alguma se esquivando das
transformações da época.
No meio dessas condições sociais, ele dedicava todo o seu esforço em
procurar os meios para fazer compreender a essência do Budismo de Shikishin-
Funi de Nitiren Daishonin para as pessoas, visando a Paz Mundial que ninguém
podia imaginar ou sonhar. Além disso, continuar diariamente as lições sem
interrupção ou sem tédio, era o seu maior e o mais alto grau de reação para a
época.
Ele estava ciente de que, não podia resolver radicalmente, toda e qualquer
atividade, sem equacionar com os fundamentos desta Religião Suprema.
O Jornal Asahi de 14 de dezembro de 1946, publicou a carta de
MacArthur endereçada ao Dr. Louis Newton, Presidente da Congregação das
Igrejas Batistas do Sul dos USA., residente em Atlanta, com as seguintes
palavras:
— Agora é uma ótima chance para difundir o Cristianismo no Japão;
pois, a vida espiritual dos japoneses está vazia em conseqüência da guerra. Se
esta oportunidade for bem aproveitada pelos missionários cristãos americanos,
poderá ser realizada uma revolução espiritual de tal maneira que irá transformar
favoravelmente os múltiplos setores da civilização, muito mais do que o sucesso
da revolução política ou econômica na história da humanidade.
A Ocupação do Japão, diante desta concepção, vem precedendo com o
mínimo de intervenção das Forças Aliadas. Enquanto o seu curso tem sido
firmemente caracterizado

101
para a realização do nosso objetivo político, o progresso se baseou mais na
orientação inerente à nossa fé cristã, ou seja, a justiça, a tolerância e a
compreensão do que por meio do uso de forças ou da ameaça de baio-netas pelas
Potências Aliadas.
Além disso, posteriormente o Gen. MacArthur confessou: "Lamentei tanto
da falta de espírito religioso no povo japonês".
Portanto, mesmo que se diga que é para o proveito do Plano de Ocupação,
havia evidentemente pensado na necessidade da religião como a base
fundamental para a nação.
Entretanto, mais tarde, após uma análise retrospectiva, conclui-se que esta
tentativa falhou completamente.
Toda pensava que isso seria uma ocorrência natural.
Na verdade, o Cristianismo não poderia se propagar com as raízes
profundas no solo das nações orientais, especialmente no meio da nação
japonesa. Por outro lado, o Velho Budismo Tradicional permaneceu apenas em
formalidades e já perdeu o poder de salvar os povos. Somente há um Budismo
que vive para a época. Ele estava convicto de que só o Budismo de Nitiren
Daishonin poderia restaurar certamente a nação japonesa e servir de força
propulsora para alimentar a sua vida diária em todos os sentidos.
Acreditava firmemente que esta lógica de absoluta infalibilidade, havia
sido revelada no Gosho e comprovada na experiência.
A sua decisão estava firmemente convicta na propagação do Verdadeiro
Budismo. Por isso, ele permanecia com tranqüilidade absolutamente inflexível
em quaisquer eventualidades.
Entretanto, era necessária a forte coragem e convicção para caminhar com
passos firmes, no meio das intensas movimentações de mares da época.
As torrentes de marés avançavam sobre o seu corpo longilíneo,
fragmentavam-se voando e transformando em espumas e em seguida recuavam
outra vez. Mas, com a enorme força da sua fé, ele enfrentava sozinho contra o
avanço das marés da época e suportava tudo inabalavelmente.

102
Há religiões que desaparecem como o crepúsculo. Outras há, como as
primitivas, sem nenhuma filosofia, que se transformam em empresas de negócios
ou crescem como gramas. A verdadeira religião é concreta, provada lógica,
literal e experimentalmente na prática. Não pode haver nenhum engano. Nem
pode sofrer alterações com a época e também deve servir para todos os povos.
Não poderá merecer validez da religião se não possuir esses requisitos da
invariabilidade no tempo e da imutabilidade no espaço.
Eis aqui, a existência de uma religião viva, possuidora da força do sol, que
tem raízes profundas nos 700 anos de tradição.
Na interpretação de Tendai, encontra-se o seguinte:
— O Ensino Pré-Hokekyo pereceu com o surgimento do Hokekyo
Provisório. Este por sua vez perdeu a validez com o aparecimento do Hokekyo
Real. O último cederá o lugar para o Ensino Supremo do Hokekyo.
Este Ensino Supremo é a Religião com base no Nam-myoho-rengue-kyo
que irá salvar radicalmente os povos.

* * *

Janeiro de 1946, Toda e seus discípulos fizeram peregrinações ao Templo


Supremo, Daissekiji.
Era uma turma de 30 pessoas. Lembrando aquela época da lição inicial do
Hokekyo, realizada com apenas seis pessoas em janeiro do ano passado, o
número de peregrinos havia sido multiplicado.
Apesar do ano novo, o aspecto da vida diária da massa trabalhadora era
uma situação de vida ou de morte. O esperançoso movimento inicial da União
Trabalhista, avassalava-se naturalmente para todo o pais.
A inflação galgava-se dia após dia. Por mais que trabalhasse, ou que
ganhasse, a moeda ia caindo de valor. Tudo parecia estar desvalorizado.
Por outro lado, o Quartel General ordenava as instruções para a dissolução
do "Zaibatsu", os trustes do monopólio econômico-industrial do Japão.
Os grandes capitalistas não podiam elaborar nenhum plano para sua
produção e deixavam permanecer sem

103
solução o fabuloso estoque de materiais em desuso. Isso porque era mais
proveitoso conservar materiais até uma época oportuna do que aplicar na
produção.
Era uma época em que o material valia mais do que o dinheiro. Da noite
para o dia, os bens materiais aumentavam de preço, mesmo deixando-os
abandonados. Sabotar a produção era objetivo do negócio para os grandes
capitalistas.
Quem mais sofreu foram os operários, os funcionários e os técnicos
assalariados.
Desejo acrescentar aqui uma opinião. Não posso deixar de esquecer aquela
união da força humana dos operários da Alemanha Ocidental que, na mesma
época de após-guerra, lutaram como a energia da bola de fogo, a fim de se
libertarem da má sorte do seu país, por meio da cooperação do capital e do
trabalho.
Nos grandes capitalistas do Japão, não havia nem um pouco do mais
natural senso humano ou patriotismo? Ou eles se transformaram em grandes
engrenagens para a proteção própria?
Diante de uma fábrica em dificuldades, a colaboração mútua entre os
companheiros atingidos, era o fenômeno natural que ocorreria nessa ocasião e os
seus operários, técnicos e os encarregados de escritório, uniam seus esforços
para resolver os problemas. Tais pessoas começaram a movimentar suas fábricas
em diversos lugares, iniciando as produções por si próprios, deixando os capi-
talistas de lado, colocando-os em cima da prateleira.
Essa medida chama-se "Produção Controlada".
Era uma tática exclusiva para combater a sabotagem dos capitalistas
contra a produção.
O Sindicato dos Transportes Elétricos de Tóquio entrou em entendimento
com a diretoria da Empresa em dezembro de 1945 e resolveram iniciar os
trabalhos, aumentando 'Cinco Vezes' os salários dos operários.
Naturalmente, foi decidido no meio das greves. Entretanto, preocupados
com a terrível situação dos passageiros com o trânsito infernal da época, foi
aplicada uma nova estratégia, a condução gratuita.
Os dois mil e trezentos trabalhadores levantaram-se indignados. Com
suas próprias mãos, levaram todas as

104
obras avante. Reformaram os vagões para fazer circular mais veículos
quanto possíveis para conduzir o maior número possível de passageiros. Em
seguida, planejaram a garantia dos salários de 'Cinco Vezes Mais' por meio do
aumento de renda dos transportes.
Por dias e noites, os 289 mecânicos trabalharam na oficina de manutenção
dos veículos. Dentro de três dias, enquanto circulavam as conduções gratuitas,
foram rapidamente concertados vinte veículos na oficina. Bateram o recorde no
conserto. Normalmente consertavam-se um ou dois veículos por dia, em virtude
dos numerosos operários faltosos em conseqüência da dificuldade dos gêneros
alimentícios. Vinte veículos foi um número surpreendente.
A partir do dia 14 de dezembro foram transformados em passagens pagas
e o transporte foi aumentando cada vez mais.
O incentivo de "estar movendo a empresa com as próprias mãos", fez com
que os trabalhadores até chegassem a rejeitar os seus feriados.
A renda total conforme a soma da Sede do Trabalho Conjunto, atingiu a
229.000 ienes em cinco dias. A despesa mensal da Empresa para o pagamento
dos salários eram de 120.000 ienes naquela época. Portanto, com a produção
controlada, fizeram estimativa de 600.000 ienes em apenas 15 dias e a Sede do
Trabalho Conjunto teve a segurança no êxito do aumento de salário em 'Cinco
Vezes Mais'.
As Empresas, como o Jornal Yomiuri e a Mina de Carvão de Mitsui em
Bibai, Hokkaido, entraram também no sistema de produção controlada. A mina
que produzia 250 toneladas de carvão por dia em média, subiu para 600
toneladas com a produção controlada.
Havia preocupações quanto à extração desordenada. Porém, com a
supervisão dos especialistas das Forças de Ocupação, o trabalho foi procedido de
acordo com o plano cuidadosamente elaborado segundo as revelações. Além
disso, o tempo de serviço foi encurtado de 12 horas para 8 horas.
O estado de alerta dos trabalhadores proclamava a abertura da cortina para
a nova era.

105
Devemos observar o espírito vigoroso da produção que levou a
reconstrução do Japão, começou a crescer entre os trabalhadores, diante dessa
situação social deses-peradora; mas, isso foi motivado diretamente pelo desejo
de segurança para os melhores salários. Poder-se-ia dizer que o sistema de
produção controlada ameaçou o princípio básico da economia capitalista e
começou a caminhar no sentido da transformação para o socialismo.
Nessas alturas, o governo e os capitalistas, começaram a perceber, enfim,
os seus perigos e ficaram desesperados com essa intensa onda de reviravolta.
Aproveitando a chance da deliberação sobre a instalação do sistema de
produção controlada na Empresa Siderúrgica do Japão, o governo elaborou a
conferência dos Gabinetes dos Quatro Ministérios e após então, no dia 13 de
junho de 1946, rejeitou o reconhecimento do sistema de produção controlada
com a resolução formal do governo e anunciou que iria pressionar contra esse
sistema.
Daí por diante, os debates dos trabalhadores tornaram-se cada vez mais
intensos.
Surgiram as lutas de traições nos bastidores das Empresas e as disputas
dos políticos conservadores e liberais entre os próprios japoneses, sem nenhum
proveito construtivo. Foi realmente uma luta intensa, caracterizada no Budismo
de "Lutas Internas ou Jikai-Hongyaku".
Os operários foram obrigados a lutar frontalmente contra os policiais do
governo; este que planejava a reconstrução da Economia Nacional, incentivando
a produção através da inflação galopante, provocava o desemprego de muitos
trabalhadores, na tentativa de racionalizar o pessoal da administração.
Em outono de 1946, foi publicada a demissão de 43.000 operários da
Empresa de Transportes Marítimos e de 130.000 trabalhadores da Empresa de
Transportes Ferroviários do Japão. Ao mesmo tempo, formou-se a Comissão,
'Junta dos Sindicatos de todo o Japão'. Outras associações solidificaram
rapidamente suas posições, prontos para fazerem oposições.
Tornou-se inevitável a greve gerai, a não ser que o Governo cancelasse a
ordem da dispensa em massa dos

106
operários. Diante desse protesto, o governo desistiu da sua intenção ou à
aplicação do plano de decapitação e teve finalmente uma pausa, com a vitória
dos sindicatos.
A vitória da União dos Trabalhadores da Empresa dos Transportes
Marítimos e Terrestres repercutiu até aos Sindicatos Agrícolas, e provocou o
impacto da 'Ofensiva de outubro' de todos os sindicatos trabalhistas, inclusive as
indústrias em geral.
Com a Empresa Elétrica Toshiba à frente, prosseguiram-se as greves em
grande escala em diversas outras empresas, como a do Jornalismo, Radiodifusão,
Cinema, Teatro, Carvão, Maquinarias, Imprensa, Eletricidade, etc.
A vitória dessa luta persistente contra as necessidades do conforto à vida,
foram na maioria das vezes favoráveis para o lado dos trabalhadores. Entretanto,
mesmo que eles conseguissem o aumento dos seus salários, não podiam vencer
contra a aceleração e a opressão provenientes da própria inflação. Porém, eles
reconheceram pela primeira vez, o significado e a convicção necessários para
lutarem unidos.

* * *

Jossei Toda meditava silenciosamente sobre a situação social que estava


na iminência de explodir como um perigo temível.
Entre os seus discípulos, haviam muitos que se distanciavam das reuniões,
por terem sido promovidos como os membros do Comitê Pró-Movimento
Trabalhista. Ele se preocupava com a sorte desses discípulos. Mesmo entre os
discípulos mais chegados, havia alguns que começaram a pensar na revolução
social como a mais importante base para a luta pela vida no momento. — Para a
situação atual, a Construção da Sociedade Democrática seria o objeto direto de
primeira importância, mesmo que não abandonassem as atividades da Gakkai,
que deveriam ser consideradas como a importância da segunda ordem.
Diante dessa indagação, Toda apresentava-se extremamente severo.
— Vocês pensam que eu não compreendo os seus anseios, por acaso? —
respondia violentamente e depois respirava profundamente. Dizia, em seguida:

107
— Meus queridos discípulos lutam com todos os seus esforços para
poderem viver. Se é para a necessidade de vocês, que eu amo de todo o coração,
estarei à frente dos movimentos ou desfraldarei até a bandeira vermelha ou
qualquer outra coisa se vocês acharem que isso seja necessário. Façam
livremente o que desejarem, mas com segurança.
— Vocês pensam que tudo se resolve dessa maneira, entretanto, estão
iludidos. Solucionará apenas uma parte mínima, nem um por cento dos
problemas. Mas, se é para lutar, é necessário vencer. Sejam quais forem as even-
tualidades, pedir ao Gohonzon até o fim, com o máximo de Daimoku é a fonte
original de toda força propulsora na eflorescência dos êxitos em tudo. Isso não
deve ser esquecido, nem um instante. Se isso não fosse verdade, não haveria a
validez da atuação na fé.
Parecia nos ouvidos, como um incentivo ou como um conselho.
A essas palavras de Toda, os discípulos se mostravam surpreendidos.
Entretanto: 'se é para a necessidade de vocês, estarei à frente dos movimentos ou
desfraldarei a bandeira vermelha ou qualquer outra coisa'; esse amor de Toda
repercutiu particularmente no coração dos discípulos.
Novamente, os discípulos observaram cada qual, a fisionomia de Toda.
Como que, interrompida a contemplação, ele cerrava fortemente os seus
lábios e continuava a responder como se fosse a sua própria confissão.
— Seja uma luta econômica ou política, termina sempre no
compromisso. Como a questão é a sobrevivência do momento, é natural que este
problema se torne importante. Entretanto, com esta atitude apenas é o mesmo
que fazer o papel do pequeno barco sobre as ondas do oceano.
— A nossa luta para a Paz Mundial é a luta para tranqüilizar as ondas
elevadas do oceano, a fim de fazer navegar um grande navio. Portanto, devemos
realizar uma luta original, ímpar e rigorosa, sem compromissos e isso se chama
"revolução religiosa". Mais cedo ou mais tarde, chegará a época em que tudo
será evidentemente esclarecido.

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No outono de 1946, "o Ataque de outubro' da massa operária teve êxito
considerável. Através desse estímulo, as ondas de greve atingiram até os
funcionários do Governo.
Apesar de serem passivos e indecisos, eles começaram a tomar atitudes de
rejeição contra a política salarial do Governo. Levantaram-se exigindo a reforma
do salário, a aprovação do Décimo terceiro e a fixação do salário mínimo. Além
disso, no dia 26 de novembro, formou-se a 'União dos Comitês pró Luta de
Todos os Funcionários Públicos'. Era uma força constituída por 350.000
ferroviários, 388.000 funcionários da telecomunicação, 503.000 professores,
80.000 funcionários nacionais e 230.000 funcionários locais.
Além do aumento considerável de oficiais, estavam incluídos como
funcionários durante a guerra, os numerosos desmobilizados repatriados. Era um
verdadeiro Estado Burocrático. A super-expansão da máquina administrativa,
própria de um país sub-desenvolvido, mostrou toda a sua inconveniência nessa
oportunidade.
Por outro lado, os funcionários também precisavam defender ao máximo a
sua manutenção que já estava no último da precariedade.
Eles negociaram com o Governo. Ou melhor, poder-se-ia dizer que foram
obrigados a lutar contra o plano econômico e trabalhista do Governo que vieram
sustentando até então. Portanto, a sua luta, que à primeira vista parecia
inicialmente uma luta econômica, por fim, levou-os forçosamente a mudar de
direção para a luta contra o Governo. A proporção dos funcionários era a quarta
parte de todos os trabalhadores do país. Naturalmente, o aumento dos salários
como eles exigiam, traria uma grande influência econômica desastrosa em todos
setores da produção de todo o Japão. O Governo temia naturalmente esse movi-
mento, sentindo o perigo da possibilidade em arruinar todos os seus planos.
Nessas alturas, aderiram aos manifestos os 16 sindicatos e operários das
diferentes indústrias que estavam em prontidão, ajuntaram-se com o Conselho
Nacional dos Funcionários Públicos e o Comitê pró-União das Lutas de todos os
Trabalhadores do Japão.

109
Essa unificação foi se intensificando.
Essa Frente Unida lançou inicialmente uma exigência econômica no início
de dezembro em nome da Comissão da Luta de todos os Funcionários Públicos.
Nesse dia, o Governo rejeitou inteiramente essa exigência.
Imediatamente, os Sindicatos convocaram o Congresso e exigiram a
demissão do Gabinete Yoshida. O Governo tentou desesperadamente manter a
sua atitude inflexível e planejou a instalação de uma aliança política junto com
os socialistas, convidando a sua ala direita. Entretanto, esse plano falhou com os
protestos veementes dos socialistas da esquerda, e então procurou a tática da
divisão da Frente Trabalhista Unida, mas não teve êxito.
No dia 17 de dezembro, às 11 horas, a Convenção Nacional Pró-Segurança
do Direito à Vida e Pró-Rejeição do Gabinete Yoshida, foi realizada na praça em
frente ao Palácio Imperial.
A Sede da Convenção anunciou a presença de 500.000 participantes,
aproximadamente.
Essa convenção foi organizada pelo Congresso da União Nacional dos
Trabalhadores, União dos Agricultores do Japão e Partido Socialista. Os adeptos
dessa Convenção foram: Congresso da União Industrial do Japão, Confederação
Trabalhista do Japão, União dos Operários do Japão, União dos Funcionários da
Telecomunicação, Conselho Nacional e Regional dos funcionários Públicos,
União dos Trabalhadores Metropolitanos de Tóquio, Grupos Civis, Ligas
Assistenciais, Organizações Pró-Repatria-dos, etc, e além disso, a União dos
Trabalhadores dos Estaleiros Navais de todo o Japão e de outras Uniões Inde-
pendentes que aderiram em massa a esta demonstração.
As bandeiras vermelhas das respectivas Uniões e os seus cartazes,
pareciam como ondas elevadas que avançavam.
Outrora, era uma Praça em que o Exército do Imperador marchava em
ordem, nas paradas comemorativas, mas passados dois ou três anos, agora, esta
mesma Praça, transformara-se num palco inteiramente dominado pelos
trabalhadores. Muda-se a época e transforma-se infalivel-mente. Os pioneiros
devem crer sempre na sua convicção

110
para a construção da geração vindoura, inabalavelmente, sejam quais forem os
obstáculos e os sofrimentos.
Às onze horas da manhã, com certo atraso no horário previsto, iniciou-se a
abertura da Convenção, com o discurso de Massaru Nomizo, da União dos
Agricultores do Japão.
Em seguida, foram nomeados o Presidente e os dois Vice-Presidentes e
além disso, mais 40 representantes de cada Associação.
O céu estava límpido. Os participantes mostravam-se compenetrados e
com seus passos leves dotados de entusiasmo. Por outro lado, pareciam
desejosos de conquistar o heroísmo.
O primeiro orador era o representante da Confederação dos Trabalhadores
do Japão, que proclamou: "exigimos a imediata retirada do Gabinete Yoshida por
ser inimigo de toda classe trabalhadora."
Em seguida, outros representantes do Congresso da União dos
Industriários, União dos Trabalhadores do Japão e 22 outros grupos trabalhistas,
todos sucessivamente, declararam os motivos por que o Gabinete Yohida deveria
ser rejeitado.
O representante da Confederação dos Trabalhadores Metropolitanos de
Tóquio, leu a decisão da Convenção e outro representante da União dos
Sindicatos leu a resolução da Convenção, dirigindo-se aos partidos políticos da
oposição do Governo e que foram aprovados unanimemente. Kato e outros
membros da Comissão de Execução, depois dessa resolução, iniciaram a marcha
em direção a Dieta.
Às 12,30 horas, liderados pelo corpo de tambores em caminhões, foi
iniciada a parada de protesto.
Deixando a ponte Babassaki, desfilaram por Kyobashi, rua Showa,
Shimbashi, Torano-mon, passaram a Dieta Nacional, a sede da Polícia
Metropolitana e finalmente a longa linha de manifestantes retornou à praça,
dispersan-do-se um pouco após às 16 horas.
Diante dessa demonstração, uns ficaram contentes por terem manifestado
os seus desejos, outros ficaram preocupados com o futuro do Japão. Alguns
ficaram tristes ou sentiram-se atemorizados.

111
Nesse mesmo dia, foi realizada uma Convenção com o mesmo objetivo,
em Ooguimati, Osaka, a partir do meio-dia. Foi uma convenção de 30.000
pessoas. Além disso, também em Yokohama teve inicio um Congresso
semelhante às 10 horas da manhã, com 30.000 participantes.
Em resposta a esses movimentos fora do parlamento, os três partidos da
oposição ao Governo, o comunista, o socialista e o da Coperação Nacional,
apresentaram a sua resolução conjunta a fim de dissolver a Dieta na seção
plenária do Congresso dos Deputados que se iniciou às 13,22 horas do dia 17.
Os discursos prós e contras a essa resolução foram sendo levantados
alternadamente. Mas, uma vez terminados os debates, a eleição final resultou na
rejeição da proposta dos três partidos, com a diferença de 76 votos, sendo 160 a
favor e 236 contra. Os ataques e vaias que surgiram nesse período , nada perdiam
dos de hoje, ou melhor, pareciam ser ainda mais terríveis.
A área política continuava tumultuando-se dessa maneira, enquanto o
tempo passava com a disputa do capital e do trabalho e assim, a nação recebeu o
Ano Novo de 1947.
O Primeiro Ministro Yoshida, enviou sua mensagem do Ano Novo pelo
rádio. Autoritário como era, nessa ocasião, dirigindo-se aos trabalhadores que
estavam enfronhando seriamente nos movimentos reivindicatórios, chegou a
bfendê-los dizendo: "Seus Estúpidos."
— Estúpidos!
Esta palavra saiu da boca de um representante máximo da
responsabilidade da nação que tem o dever de conduzir o país para a felicidade.
Foi uma resposta sem um fragmento sequer de amor ao próximo. Será que ele
viu o povo como se fosse o seu inimigo, uma vez que se sentou sobre o assento
da autoridade? — O objetivo da política democrática não visa formar um
governo para o bem estar da nação?
O ódio intensificava-se cada vez mais na reação dos trabalhadores, como a
fogueira que recebesse o banho de gasolina. Após esse acidente, os
funcionários uniram-se

112
ao mesmo tempo com trabalhadores. Tornou-se inevitável uma colisão
desastrosa.
Os líderes do Comitê Central das Forças Conjuntas Pró Movimento dos
Trabalhadores estavam sob a influência dos comunistas. Nessa situação tensa, as
exigências econômicas foram se transformando visivelmente para as lutas
políticas.
Eles acreditavam com otimismo na possibilidade do êxito em estabelecer o
Governo da Democracia do Povo, com a aliança dos partidos Socialistas e
Comunistas. Estavam sonhando com uma revolução diante dos seus olhos.
Uma vez confirmados os objetivos e as perspectivas, começaram a pensar
que todas as eventualidades vinham a sorrir em favor deles, por exemplo, os
operários consideravam os 16 princípios para a União dos Trabalhadores do
Japão, apresentados pela União Soviética e aprovado pelo Comitê Pró-Extremo
Oriente, como sendo os apoios favoráveis pela esfera internacional.
Nesses princípios incluíam os artigos como "permitir a livre participação
dos trabalhadores unidos; a permissão dos apoios políticos e não opressão da
política e de outras organizações nas atividades políticas e reivindicatórias da
união dos trabalhadores". Mas por outro lado, havia sido incluído um outro
artigo que dizia: "O Comando das Forças de Ocupação pode proibir a greve e
outros movimentos, caso estes venham prejudicar os seus objetivos". Isso estava
também incluído infalivelmen-te. Parece que eles não prestaram atenção nesse
ponto.
Nas ilhas enfileiradas do Japão, sob o céu frio do inverno rigoroso, o povo
estava sofrendo, chorando e revoltado ao mesmo tempo.
Não havia uma pessoa com a fisionomia tranqüila. Nem podia haver desse
modo. Nestas circunstâncias, não poderia deixar de imaginar senão, um dia
terrível nos estados de Ira e Inferno, que se repetia também no dia seguinte. Até
o próprio futuro parecia ser o estado de Inferno, Ira e de Animalidade.
Dia 11 de janeiro, o Comitê Central Pró Movimento Conjunto de
Operários e Funcionários, apresentou sua exigência ao Governo pela segunda
vez e isso foi rejeitado novamente no dia 15.

113
Então, o Comitê Central anunciou no dia 18 de janeiro, que iniciaria Greve
Geral Indefinida a partir do 1.° de fevereiro, se todas as exigências não fossem
aceitas pelo Governo, dentro de duas semanas.
A União dos Trabalhadores das Indústrias Nacionais das mais importantes
como as Indústrias Maquinarias, Energias Elétricas, Indústria de Aparelhos
Elétricos, Indústrias Químicas, Empresas de Transportes Nacionais e também as
Empresas de Jornais, Radiodifusão, Imprensa e Publicidade, que estavam
aguardando a ordem, todos começaram juntos, uniformemente, a tomar as
atitudes preparatórias em prontidão para iniciar a greve. A quantidade de adeptos
era de quatro e meio milhões.
Tornavam-se cada vez mais densa a possibilidade para desencadear uma
greve geral sem precedentes. Além disso, incluindo os adeptos dos sindicatos
que estavam sob a influência da União Nacional dos Trabalhadores, seus adeptos
realmente estavam atingindo seis e meio milhões.
Entretanto, isso nunca seria uma união verdadeira. Poderiam ter sido
incluídas as pessoas que aderiram atraídas pela curiosidade do momento, ou que
foram participar a fim de evitar as opressões, as ameaças ou por medo da
insegurança. Eram muitos numericamente, mas, uma vez que soubessem da
possibilidade da repressão do Governo, esse número nem seria a metade, ou
melhor, restaria apenas um terço ou um quinto.
Nestas alturas, o Governo tomou medidas desesperadas para impedir a
greve. Uma das medidas foi a propaganda nos rádios e em outras comunicações,
mas tudo foi inútil. Já era tarde demais. Até os extremados violentos da direita
entraram também em ação. No dia 20, surgiu até o caso de agressão física para
Katsuki Kikunami, Presidente da União das Indústrias.
A grande massa unida que já iniciara a marcha em direção para o dia 1.°
de fevereiro, estava acelerando cada vez mais.
Como é impotente o Governo que não está ligado diretamente com a
massa popular! Como é ilusória a marcha dos trabalhadores com visão
extremamente míope que

114
tumultuam violentamente, servindo de instrumentos dos agitadores!
Quem deveria assumir essa responsabilidade? Após a dolorosa derrota
pela guerra, e agora, esta luta interna que ameaçava a nação. O povo não podia
contar com ninguém que podia atendê-lo no meio desta insegurança e
tumultuação.
No dia 28 de janeiro, realizou-se a "Convenção Nacional Pró Dissolução
do Gabinete Yoshida e Eliminação dos Perigos para o Povo", promovidas pela
"União de Todos os Trabalhadores do Japão".
Foi uma Concentração de 300.000 participantes, em Tóquio.
O clima apreensivo do povo, realmente atingiu todas as cidades e até as
vilas do Japão e fazendo lembrar uma noite da véspera de uma revolução.
A greve geral significava a paralização de toda produção nacional e de
todas as atividades sociais do país.
O povo corria à cata dos mantimentos e velas para o seu estoque e muitos
deles preparavam-se até para uma eventualidade da paralização do trânsito.
Enquanto isso, aproximava-se o momento decisivo do dia 1.° de Fevereiro.
Na véspera, dia 30 de janeiro, o Brigadeiro General Marquat, Chefe do Serviço
Econômico-Científico do Quartel General, chamou o Presidente os líderes da
União Nacional dos Trabalhadores e comunicou verbalmente a ordem do
General MacArthur para que cancelasse a greve geral:
— Somente com a eleição o Gabinete poderá ser dissolvido. Como
Supremo Comandante das Forças de Ocupação, não posso permitir a derrubada
do Governo por meio da greve geral. . .
A Sede da Junta de Comissões Pró Movimento Trabalhista não
reconheceu esta comunicação verbal como ordem oficial. Por isso mesmo,
reiterou a confirmação da greve geral e instruiu os trabalhadores de todo o país a
fim de que se preparassem para o estado de sítio nos seus locais de trabalho.
Às duas e meia da tarde do dia 31, o General Mac 'Arthur assinou a ordem
de suspensão da greve geral. Em seguida, chamou o Presidente da Convenção
Pró-Greve

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Geral, entregou o ofício em suas mãos e ordenou seriamente que
anunciasse a suspensão da greve geral pelo rádio da NHK.
O Presidente da Convenção opinou que não podia anunciar sem consultar
o Conselho Deliberativo a ser convocado quando voltasse à sede. Sobre os seus
ombros caia o peso dos quatro e meio milhões de trabalhadores. Mas o Quartel
General não quis saber disso. Apenas chamou o Presidente da União dos
Ferroviários do Japão e apresentou ao Presidente da Convenção que se entendes-
se. O Presidente da União dos Ferroviários aprovou a comunicação da suspensão
da greve geral pelo rádio e após então, o Presidente da Convenção, finalmente,
começou escrever o manuscrito para o pronunciamento no rádio.
O Presidente da Convenção foi à difusora NHK e no momento em que
andava pelo corredor, encontrou-se fron-talmente com Kyuiti Tokuda, do Partido
Comunista.
Imediatamente, ele virou as costas e desapareceu, deixando a seguinte
resposta:
— Não deixe de anunciar a suspensão da greve pelo
rádio.
As pessoas falavam dele mais tarde: — Essa é a tática do Partido
Comunista para fugir do Crime de Responsabilidade. Tokuda foi lá para aplicar
os seus golpes antecipados.
Às 9:15 horas da manhã, a voz pesarosa do Presidente foi transmitida
através das ondas do rádio e atingiram aos ouvidos dos trabalhadores
esquerdistas que estavam preparando a greve para o dia seguinte em todos os
locais de trabalho do país.
— Peço licença para transmitir aos meus queridos
funcionários, operários e professores de todo o país, como
se eu estivesse realmente com a dor de uma facada no
meu ventre, sobre a suspensão da greve marcada para
amanhã, por ordem do Gen. MacArthur, o Comandante Su
premo das Forças de Ocupação. Espero que todos os tra
balhadores compreendam isso.
Lembro-me agora, uma frase: "um passo em retirada para o avanço dos
dois passos". Encerro a minha mensagem clamando Viva (Banzai) aos
trabalhadores, operários

116
e lavradores do Japão, exaltando a minha voz de apelação.
— ... Nós devemos permanecer unidos.
Imediatamente após a transmissão pelo rádio, a Convenção foi dissolvida.
A Junta de Comitês Pró Movimento Trabalhista e as Uniões Operárias foram
também debandadas.
No dia seguinte, não surgiu greve em nenhum lugar. Apesar de estarem
sob controle das Forças de Ocupação, poder-se-ia dizer que esta oposição contra
o poder público foi estrategicamente fracassada.
Os líderes estavam atrevidamente ébrios à frente do movimento trabalhista
sem precedentes. Estavam convencidos. O convencimento traz como
conseqüência a insegurança na marcha para o futuro e é o mesmo que conduzir o
leme em direção à escuridão.
Por outro lado, a atitude da Força de Ocupação começou demonstrar as
mudanças estranhas desde o 'Incidente May Day' do ano anterior. Nos Estados
Unidos, o 'Plano New Deal" do Presidente Roosevelt estava sendo progres-
sivamente substituído pela "Tática da Guerra Fria" do Presidente Truman. O
reflexo desta transformação já começava aparecer nas mudanças das pessoas e
das atitudes do Quartel General.
Por outro lado, aos olhos dos dirigentes da massa, ebriamente atrevidos,
parecia tudo um mar de rosas e consequentemente, os seus objetivos políticos e
estratégicos foram extremamente frágeis, apesar dessas demonstrações de
concentração e movimento em grande escala.
— Qual o padrão de vida e que tipo de existência es
tariam passando agora esses líderes da massa daquela
época?

* * *

Dia 2 de fevereiro, à noite, disse Jossei Toda, ao responder uma pergunta


que surgiu após a Lição do Hokekyo.
— Se a doença é curável pela Medicina, é natural que deva procurar o
médico. Porém, há doenças que nunca poderão ser curadas pelos médicos. Essa é
a questão mais complexa. Mas apesar de ser uma questão complexa, há

117
um meio para curar qualquer doença. O que diriam, então, se for verdade?
— Dessa maneira, se a questão pode ser resolvida
pela greve, poderá ser resolvida dessa maneira. Seja a
questão econômica ou política, que a maioria está tentando resolver seriamente
agora, resolvam à vontade se qui
serem; mas, isso e ainda uma questão muito simples.
Os estudiosos do Hokekyo ouviam atentamente a lição de Toda com
atitudes sérias, engolindo até a própria saliva. Ele continuava:
— Por outro lado, há questões de máxima importância, mas que não
podem ser resolvidas de maneira alguma. Diante de tais problemas, a maioria
desiste de enfrentar ou conforma-se em vez de procurar a solução. Entretanto, se
analisarmos cuidadosamente, percebemos que esses problemas são realmente
numerosos, tais como:. . o caráter, a harmonia familiar, os quatro sofrimentos de
nascimento, envelhecimento, doença e morte e também outros eventos que
seriam numerosos para serem mencionados aqui. Mesmo que procurássemos
analisar a sociedade, o povo, os funcionários ou operários, não passariam de
aglomerações que se iniciam com uma pessoa. Assim sendo, a solução radical do
problema individual de cada pessoa, torna-se uma questão de importância
primordial para poder resolver as questões da coletividade. Para isso, não há uma
outra solução, senão recorrer à Religião Verdadeira e Suprema.
— O movimento recente como a greve geral surgirá com aspectos dos
mais variados e por diversas vezes no futuro. Cada vez que isso venha a surgir,
poderão experimentar a alegria e a tristeza resultantes dessa situação. Quando
esgotarem todos os meios ou falharem todas as tentativas para a solução dos
problemas vitais, chegarão por fim, à verdadeira compreensão da maravilha
existente no Budismo de Daishonin; eles não poderão deixar de concordar
seriamente. Essa hora será a da paz mundial.
No momento, nós estamos fazendo uma luta com tenacidade
irreconhecida, mas, chegará com certeza, uma era magnífica. Agora vocês
pensam que a greve geral é uma demonstração de grande escala mas, se
compararmos com a nossa luta para o bem estar da nação, o futuro dirá,

118
quando chegar a época, que essa greve foi uma luta das menores. Eu deixo
aqui a minha afirmação. Vamos trabalhar firmemente?
O sobrado daquele prédio da Nihon-Shogakkan (onde Toda trabalhava e
dirigia diariamente) estava com a iluminação fraca naquela noite, por causa do
racionamento da energia elétrica por ser o período de inverno rigoroso.
A voz de Jossei Toda estava dominando vivamente este ambiente. A sua
eloqüência parecia como aquela de maestro que possuísse uma ressonância
misteriosa a fim de fazer palpitar o coração dos ouvintes. Todos os ouvintes
estavam segurando o próprio suor nas palmas das suas mãos. Ninguém mostrava
a fisionomia triste ou preocupada. Pelo contrário, eles estavam animados e
esperançosos.
Enquanto a maioria das pessoas do Japão se preocupava ou lamentava do
mal da época no momento cru-ciante da greve, a atitude serena de Toda
permanência imutável, de maneira idêntica daquele tempo em que ele se
manteve firme e inabalável no período da guerra, quando todas as pessoas do
Japão viviam angustiadas por causa do militarismo. Enquanto a sombra da
escuridão da derrota impregnava a perdição no espírito do povo, o marco
indicativo para a paz mundial estava sendo alicerçado brilhantemente com o raio
do sol nascente.
Profundamente, no seu íntimo, eie guardava a sua convicção de
invencibilidade em servir como o Pilar da Nação.

119
A Escaramuça

Próximo ao poste do telefone público, na ladeira de Nogui, em Akassaka,


Tóquio, três rapazes estavam juntos, falando algo em voz baixa. De vez em
quando olhavam os trilhos dos bondes. Parecia que eles estavam aguardando
ansiosamente a chegada do bonde numa das direções, da direita ou da esquerda.
Raramente os bondes transitavam por ali.
Os danos do trânsito em conseqüência da guerra, ainda não haviam sido
restaurados, mesmo após, passados um ano e meio. Quinze minutos após, até que
enfim, apareceu um bonde. Era um bondinho antigo, fazendo os barulhos típicos
de um carro velho.
Domingo, cerca de meio dia, felizmente o veículo não estava lotado. Ao
deixar aproximadamente dez passageiros no ponto, o seu interior ficou
inteiramente vazio. O condutor puxou o cordão, deu o sinal característico de
partida com o "Tin-Tin" do sino e o bonde começou a mover.
No meio desses passageiros, havia duas moças e um rapaz, radiantes e
vividos, com os sorrisos nas suas faces. Rapidamente, eles correram em direção
ao poste onde permaneciam aqueles três rapazes.
— Bom dia!
— Boa tarde! Estão bem?
Os rapazes que os esperavam, cada qual levantou levemente as suas mãos.
Os seis jovens, rapazes e moças, permaneceram ali, calados, aguardando sem
muita fala, a chegada de mais alguém.

120
Em seguida, uma das moças perguntou com preocupação:
— O que estará acontecendo com Iwata? Como ele está atrasado!
— Virá, sim. Como foi reiterado tantas vezes, hoje ele virá com
certeza. Talvez o bonde que ele pegou tenha sido avariado.
Um outro rapaz respondeu:
— Olha, Takimoto; mesmo assim, já são 12:40 horas.
— Mikawa, como sempre, você é afobada!
Takimoto era um rapaz magro, alto e usava óculos. Ele falava olhando de
cima para baixo, a moça de pequena estatura chamada Mikawa. Logo ao lado
deles situava a ex-residência do General Nogui, o Comandante Supremo do
Exército Japonês na Guerra Russo-Japonesa, que agora foi transformada em
Santuário Nogui, mas que eles não deram muita atenção por terem passado todos
aí por diversas vezes.
Os jovens aguardavam a chegada do próximo bonde, mas que não vinha
tão facilmente.
Estavam em pleno meio dia da segunda quinzena de março, cujo inverno
ia passando para que tudo aguardasse a primavera. O Sol primaveril fazia sentir
o calor agradável em todo o corpo humano, tal como 'uma vez que está em pleno
inverno, a primavera não poderá estar longe'. — A memória desse último
inverno rigoroso que eles passaram sem sobretudo, — já havia dissipado de suas
mentes.
Estavam entusiasmados sem saberem por que razão e por outro lado, os
seus olhos lançavam brilhos penetrantes. Havia neles, um certo plano estratégico
em segredo.
Um bonde apareceu lá, muito distante. Olhares de expectativa correram
atrás. O bonde parou no ponto e muitos dos passageiros desceram juntos
tumultuosamente. Partiu o bonde em seguida, quase vazio, mas vagarosamente.
Dentre os passageiros que desceram, não se encontrava Iwata. A cor
desesperada surgiu nos jovens impacientes. Olharam uns aos outros.

121
O rapaz mais novo, chamado Yussuke Yoshikawa, que ainda se mostrava
à sombra saudosa da infância, olhando ao seu relógio, disse:
— O que será que aconteceu com Iwata?
Mikawa, também olhou o seu relógio. O mesmo, fez
Tokimoto.
Uma hora da tarde já havia sido passada. Todos olhavam uns aos outros.
Takimoto preocupado, inclinando o seu pescoço, disse:
— Não é possível! É um fato estranho. . . Mas, ele virá, certamente.
Não posso pensar que ele traiu os seus companheiros.
— Eu não posso confiar na convicção do senhor Takimoto, —
respondeu Mikawa, impacientemente, mostrando os seus lábios em forma
triangular na face aborrecida.
Os seis jovens formaram um círculo para poderem trocar suas idéias.
Alguém opinou para que aguardassem a chegada de mais um bonde. . . Outro
dizia que seria melhor ir na frente. ..
Havia alguns outros que diziam preocupadamente que seria necessário
mudar o plano de ontem, caso Iwata não comparecesse. Ninguém era a favor da
dissolução.
— Não seria melhor vocês irem na frente, entrando
já, de fininho como penetras? Enquanto isso eu ficarei
aqui esperando até que chegue Iwata, para irmos depois
junto com ele. Concordam?
Foi a sugestão ponderada de um rapaz muito gentil, chamado Guiiti
Sakata.
— Que tal? Estão de acordo?
No momento em que Takimoto ia confirmar a resolução por unanimidade,
Yoshikawa com a voz alta gritou:
— Lá vem Iwata.
Repentinamente, Iwata surgiu de uma direção totalmente inesperada. Ele
não chegou de bonde. Aproximara-se dos seis companheiros, andando a passos
largos. Era um rapaz gordo e corpulento com a atitude e fisionomia de um
invencível. Como veio a pé, subindo a ladeira de Nogui, a sua respiração estava
acelerada.
— Ei! Vocês estão aí?
Como você pode dizer uma coisa dessa, se nos deixou esperando tanto
tempo? Iwata, que hora você está

122
pensando agora? — Eiko Mikawa atacou violentamente Iwata, com uma
explosão furiosa.
— Que horas são? Já! É mais de uma hora da tarde? Infelizmente eu
não tenho o relógio. O que posso fazer — disse ele, encolhendo o seu pescoço
gordo. Todos caíram na gargalhada.
— Não se preocupem, já investiguei tudo. Está comparecendo muita
gente hoje. Pela quantidade de sapatos e chinelos, calculo que vieram cerca de
150 a 200 ouvintes. — A voz grossa de Iwata ressoava ainda mais forte.
Ele era a figura central. Os seis jovens retomaram os seus sentidos e se
mostravam com mais firmeza.
Começaram a mover-se em direção pré-determinada. Iwata parou de
repente e confirmou mais uma vez o plano.
— Finalmente, hoje, é o dia em que nós vamos cortar
o mal pela raiz. Vamos lutar com toda coragem? Todos
estão cientes daquele plano de ontem à noite? Não é bom
irmos juntos, e portanto, vamos separadamente. Cada um
deve penetrar como se nada soubesse do plano. Irei primeiro. . . Em seguida,
cada um segue isoladamente. Está
bem?
—Já sei. Já sei.
Os seis companheiros manifestaram-se de acordo, dizendo dessa maneira.
Deixando uma certa distância os sete jovens misturaram-se com os
pedestres. A luz da primavera banhava em cheio, em pleno domingo.
Seus trajes eram diversos e desbotados, em conseqüência da aberrante
penitência da escassez de roupas e alimentos da época.
Os rapazes estavam com suas barbas totalmente feitas. Brilhavam as cores
sadias nas faces. As moças estavam com seus cabelos bem arrumados e posuíam
brilhos puros nos seus olhos.
Não era atividade dos comunistas. Nem parecia aquela atividade tímida
peculiar dos grupos cristãos. Eram completamente diferentes dos jovens que
andavam pelas ruas. — Pareciam atitudes dos jovens que sonhavam com uma
nova geração, possuindo ardentemente a sua missão grandiosa.
Quando as pessoas estavam entrando em duas, três ou cinco
sucessivamente, como aspirados pela porta da

123
entrada, nesse momento, Iwata penetrou rapidamente e desapareceu dentro do
prédio. Era a Sede da 'Associação S'.

* * *

Esta sociedade fantasmagórica, nasceu da seita Omo-to-Kyô. O seu


presidente, Kishiharu Taniyama, criou uma doutrina herética chamada "Bankyo-
Kiitsu" ou o "fim único para todas as doutrinas religiosas", aproveitando e
remendando as belas frases contidas nas religiões diversas, sejam quais forem,
Xintoísmo, Cristianismo ou Budismo.
Segundo ele, há uma diversidade de religiões pelo mundo afora, mas, as
verdades que se pregam são as mesmas. Mesmo Buda ou Cristo, seus ensinos em
última análise, voltam-se ao mesmo ponto em comum. A Associação S prega
justamente essa última verdade. Se crerem na S, chegarão a compreender as
essências das respectivas religiões e ao mesmo tempo, conseguirão compreender
a realidade da vida e portanto, a felicidade é conseguida por todas as pessoas.
Todo o problema está no seu espírito. Assim sendo, devem ler as obras escritas
de Taniyama, como "A Realidade da Vida" e "A Verdade", a fim de saber o
aspecto real da vida. Mesmo que não queiram ler, há pessoas que se libertaram
da sua infelicidade, apenas conservando o seu livrinho no bolso.
Até parece contos de fadas para iludir as crianças. É um ensino
demagógico extremamente inferior e completamente irresponsável. Sakyamuni
afirma na Sutra de Lotus, que é o "Ladrão da Lei", apontando para esse tipo de
indivíduos. Entretanto, a maioria ignorante sobre a religião, sente-se admirada
com apenas as palavras iniciais de Sakyamuni ou de Cristo. Aproveitando muito
bem esta psicologia, usou como a arma do seu poder e com esta imponência veio
zombando o público, por meio da demagogia lançada pela sua língua de três
polegadas.
Falando francamente, esta associação tencionava como objetivo a
ampliação do negócio dos numerosos livros e revistas de Taniyama. Os leitores
eram chamados de membros da 'Sociedade dos Amigos da Leitura'. A imprensa,
a publicação e a distribuição eram organizadas

124
em forma de Sociedade Anônima de tal maneira que funcionava como uma
perfeita Empresa de Negócios, incluindo os seus membros como seus acionistas.
O lema tal como "lendo os livros e as revistas, a felicidade da vida diária
será realizada e o corpo se tornará sadio", dava a impressão de um ensino
realmente prático e muito simples para as pessoas da época. A leitura é a prática
desta Associação.
Os desiludidos foram aos poucos concordando, após persuadidos pela
leviandade. Tornavam-se amigos da leitura e transformavam-se em fiéis
compradores de impressos. Se perguntarem qual foi a intenção da Associação S,
a resposta seria o aumento dos amigos da leitura. Era esse o aspecto real da S.
Havia, portanto, a necessidade de montar sobre a corrente da época, a fim
de realizar o seu objetivo. Durante a guerra, no mundo sob o regime do
militarismo, convidada um certo oficial para ocupar o lugar de Diretor Geral.
Aproveitando as circunstâncias pegou a chance para ampliar as redes do seu
negócio no continente chinês, junto com a expansão do poderio militar. Apoiava
a guerra, enaltecendo excentricamente a ideologia ultranacionalista. As
expressões demagógicas davam proveitos espetaculares. Como o Budismo, o
Cristianismo ou o Xintoísmo era tudo misturado, no momento conveniente, pu-
xava a frase xintoísta, a fim de utilizar para o consolo dos soldados ignorantes da
religião. Dentro das numerosas associações religiosas, não havia uma outra que
colaborou tão bem devotada para a guerra.
Naturalmente, como conseqüência, as críticas centralizaram-se em torno
da S, após a guerra, apesar de que a sua influência estava em declínio nessa
época. Ao mesmo tempo, a situação horrível e perigosa da época havia criado
cem milhões de infelizes. A esses coitados sofredores, a S começou usar, então,
as frases convincentes dos ensinos de Sakyamuni ou de Cristo.
Uma leitura simples e rápida como a prática de êxito imediato era muito
conveniente para as pessoas que sonhavam com milagres. Para o povo ignorante,
isso era até uma aceitação atraente.
Parece que esta Associação acertou na delicada sensibilidade do povo.
Entretanto, chegará um dia em que o

125
público, uma vez tendo reconquistado a sua tranqüilidade, ficará surpreso
pela tamanha tolice quanto à divulgação dessa natureza. A infelicidade das
pessoas que seguiram essa Ordem é ainda uma tragédia além da imaginação.
Assim, por volta do outono de 1946 a S havia iniciada novamente o
levantamento do seu pescoço como a cobra. Suas atividades sem
responsabilidades ou vergonha, realmente parecia como a tenacidade da cobra.
Seria tolerável se fosse uma contribuição para a orientação sobre o retorno
dos cristãos à sua religião. Teria uma certa lógica se o seu objetivo fosse o
retorno ao Budismo, considerando Sakyamuni como Objeto de Adoração.
Entretanto, jamais poderá ser permitida essa atitude de violar o espírito divino
dos Sábios furtando os seus Ditos Dourados a seu proveito arbitrário como se
fosse a sua afirmação para se mostrar como se fosse o próprio objeto de
adoração.

* * *

Nas palestras da Nitiren Shoshu, começaram a comparecer de vez em


quando, os membros da S, e por intermédio desses "amigos da leitura", os
membros da Gakkai souberam que naquela Sede promoviam reuniões com ati-
vidades até certo ponto movimentadas.
Os rapazes da Capital foram penetrando discretamente na reunião da Sede
situada na Ladeira Nogui, levando um ou dois companheiros. Experimentaram
jogar banhos de perguntas sagazes contra as explanações tolas ou fazer
Chakubuku para os recém convidados na reunião dos Amigos da Leitura. Apesar
disso, não receberam as manifestações contrárias. Apresentavam-se indolentes
como um boneco de madeira. Os rapazes começaram a tornar-se impacientes.
Os sete jovens do Grupo Iwata, infiltraram-se nesta reunião dos Amigos
da Leitura, conforme os planos pré-estabelecidos e firmemente decididos a
paralisar nesse dia, a raiz dos movimentos respiratórios da S.
Há conflitos altos ou baixos, vitoriosos ou derrotados, benéficos ou
maléficos, em todo o mundo, seja na economia ou no esporte, especialmente na
Religião, na Ideologia ou na Filosofia, que é a base de todos os ramos da

126
atividade humana; desde a antigüidade vem sendo avaliada rigorosamente a
superioridade ou a inferioridade por debates ou outros critérios diversos.
Os jovens começaram a possuir uma dose apreciável de convicção. A
doutrina majestosamente verdadeira de Nitiren Daishonin que Toda lecionava
com todo o seu entusiasmo e paixão, era uma única luz gloriosa para eles.
O trânsito era inadequado. Os bondes estavam mortiferamente
superlotados. No meio dessas circunstâncias, vinham todas as noites aprender
junto com Jossei Toda, até mesmo de local distante. A vida de todos era de
sacrifícios. Muitos deles conseguiam as despesas de viagem sacrificando até suas
refeições. Toda ficava comovido ao ponto de oferecer a passagem para eles.
Eram lições tão sérias ao ponto de superar essas dificuldades. Portanto, cada
afirmação de Toda ia sendo absorvida como nutritivos para o organismo.
Entretanto, no início eles não percebiam que estavam sendo fortalecidos. Às
vezes, por ocasião do Chakubuku para os seus amigos, eles ficavam surpresos
com o seu desenvolvimento rápido, pela fisionomia surpresa dos amigos e
conhecidos com que se comunicavam.
Percebiam retrospectivamente que os seus debates, ampla e
profundamente convictos, eram conseqüências da transmissão integral das lições
de Toda na véspera.
Certa vez, um conhecido disse:
— Por favor, leve-me uma vez e apresente-me ao
Professor com quem você está aprendendo. Desejo ouvir
algo mais do seu Professor. Tenho assunto para co
nhecer. . .
Um outro conhecido também disse:
— Compreendo o que você pretende dizer. A sua
explanação tem o seu trâmite correto. Mas, você não poderia falar mais
tranqüilamente? Desejo encontrar com o
seu Professor. . .
Freqüentemente, o diálogo queimava-se em ardente entusiasmo dos
rapazes até à meia noite, com o debate em torno da Veracidade e da Falsidade
nas Religiões, da Missão da Nitiren Shoshu e do Ideal de Toda em salvar o
futuro do Japão.
Havia um fato que mais surpreendeu os jovens.

127
Foi a descoberta da completa ignorância em matéria de Religião, sua
Doutrina e Filosofia nos bonzos hereges do Budismo Antigo e nos dirigentes das
Novas Religiões, por ocasião do Chakubuku individual. Em vez de especialistas
em Religiões, eram apenas cartazes. Contra os argumentos dos jovens ainda
convertidos, ficavam subitamente sem respostas para permanecerem mudos.
Outras vezes protestavam violentamente com faces coléricas ou transformavam
repentinamente de atitudes como psico-patas.
As velhas religiões budistas eram como os restos mortais e as novas eram
empresas de negócios lucrativos. Os jovens foram aprofundando cada vez mais a
sua confiança, iluminados pelos Ensinamentos de Daishonin.
Sakyamuni também profetizou — entrando na Era de Mappo, o mundo
viverá em conflitos e os bonzos heréticos, no interesse de aproveitar os seus
seguidores para saciar o seu gozo diário, pensarão somente em cortejá-los, como
os caçadores que procuram prender os animais ou como os gatos que perseguem
as suas presas.
É exatamente esse o caso. Através do Chakubuku, os jovens chegaram a
compreender profundamente por que uma palavra julgadora da verdade ou da
falsidade da Religião possui força que provoca tamanhas reações. Uma
afirmação dos jovens que não passaria de uma simples frase da lição de Toda,
era a espinha dorsal do Budismo de Mappo. Enfim, eles conseguiram adquirir
uma forte e mais firme auto-confiança. Adquiriram uma absoluta invencibilidade
no debate doutrinário no campo da Religião.
Atualmente, há pessoas que pensam na superstição, ao falar em religião,
mesmo entre aqueles crentes que seguem a religião tradicional ou nova. Pode-se
dizer que é uma verdade. Quem foram os responsáveis que levaram a essa
conseqüência, quer nos fatos ou nos pensamentos? Foram em primeiro lugar, os
bonzos heréticos e os religiosos profissionais; e em segundo lugar, o público que
não soube avaliar ou analisar severamente essas religiões.
Dizem que no Japão existem atualmente 180.000 religiões registradas
legalmente. Pode-se dizer que é uma Era da Guerra Civil das Religiões.

128
Um certo jornalista estrangeiro disse com surpresa:
— Fiquei assustado. Que país surpreendente! Japão
é a Meca das Religiões.
Um outro jornalista disse:
— Europa e América são geralmente países católi
cos. Atrás da Cortina de Ferro domina o Comunismo. No
Sudeste Asiático por sua vez, predomina o Budismo Pri
mitivo. Na índia existe o Hinduísmo. No oriente médio a
maioria segue o Islamismo. O Japão nunca terá a paz de
espírito a não ser que faça uma unificação ou revolução
religiosa.

* * *

Os jovens que se dirigiram à Sede da S lembravam das lições de Jossei


Toda para a salvação das massas, nos seus sucessivos movimentos espontâneos.
Há centenas e milhares de pensamentos diferentes dentro de uma filosofia.
Esses pensamentos são completamente diversos, quer nos graus superior ou
inferior, pura ou confusa, e correta ou falsa.
Essa filosofia vem sendo desenvolvida sempre no sentido da seleção
progressiva para a verdade, superioridade e pureza, desde que não degenerassem
para o for-malismo convencional. Vendo-se a seqüência histórica de uma raça ou
uma nação, isso se torna bem claro.
Pensando com base na moralogia, pode-se dizer que. desde a idade da
pedra em que reinava o mundo de lutas encarniçadas do tipo da antropofagia, o
homem vinha progredindo até a moralidade feudal como a moral pater-no-filial,
a ética do mestre-discípulo, a conduta conjugai, a fraternidade, etc. Em seguida,
vem sendo cada vez mais respeitada a liberdade e a dignidade individual. Em
última análise, vem progredindo sempre visando a decantação da confusão para a
pureza, da infelicidade para a felicidade, conforme a evolução natural.
As lições de Toda desenvolviam-se dentro do raciocínio lógico e da ordem
sistemática.
A nossa vida diária apresenta-se em condições precárias em virtude da
decadência da conduta moral e dos sofrimentos em conseqüência da guerra e dos
conflitos. Surgem até críticas de tal maneira que a ciência vem

129
progredindo a passos largos. Evidentemente, é uma era conflitante.
Apesar disso, mesmo dentro desse infortúnio, a evolução para a nova era
corre no sentido da restauração da liberdade e da fraternidade individual e da
construção do mundo pacífico sem guerra. . . Mesmo no Japão, a atitude em
favor à unidade nacional, rejeitando mesmo a forte reação contra a Nova
Constituição, não é uma prova evidente?
Além disso, tanto a política, assim como a economia vem progredindo
sucessivamente, adotando de preferência a mais certa. O despotismo, que não
respeita a liberdade individual foi esmagado e, em vez disso, domina a corrente
da ideologia democrática que dignifica o valor individual. A vida humana vem
sendo reformada radicalmente em todos os sentidos, quer na Reforma Agrária ou
na Dissolução do Monopólio Econômico.
A época da submissão passiva ao controle da unificação do pensamento
pelo poder autoritário já passou, e veio a era da marcha uniforme e ativa para
uma direção baseada na opinião livre de cada um. Consequentemente, o público
atual está sendo controlado pela opinião de que o pensamento nunca será
controlado pelo poder da autoridade. Mas a unificação, a uniformidade e a
unanimidade possuem significados básicos distintos, apesar de expressarem a
unidade.
Assim, o mundo ideológico está se transformando constantemente e como
conseqüência disso, a vida humana também mostra suas transformações
surpreendentes.
Especialmente, com o progresso das ciências naturais, a vida moderna
tornou-se tão confortável e além dos sonhos dos homens da antigüidade e da
idade média. Entretanto, o que mais surpreende na realidade é a existência de
religiões primitivas de centenas e milhares de anos atrás, vigorando até hoje
como base das nossas vidas diárias, permanecendo sempre o mesmo como nos
velhos tempos.
Por que somente o mundo religioso foi abandonado assim?
A maior causa da decadência foi a aceitação da proteção do governo e
adesão às autoridades por parte dos templos e das igrejas. Além disso, a
religião primitiva

130
remanescente não oferece as necessidades na vida do homem moderno e assim já
perdeu a sua finalidade última. Por outro lado, o mundo religioso que não vem
sentindo as dores dos revezes, no Japão, permaneceu demasiadamente em sono
tranqüilo.
Entretanto, surgiu a mudança drástica, após a guerra. Foi a proliferação
das novas religiões dos "Benefícios nesta Existência" com a libertação pelo
regime totalitário durante a guerra e assim, as religiões antigas foram colhidas de
surpresa ao ponto de serem sufocadas pelas novas.
Em seguida, estimulados pela proliferação progressiva das falsas religiões,
enfim, surgiram forçosamente os debates sérios no meio dos assim chamados
entendidos, em torno das 'Questões Religiosas'.
Por esse motivo, nossa Nitiren Shoshu não poderá nessa hora, deixar de
exigir firmemente o reconhecimento do certo e do falso ou da pureza e da
confusão da religião, para todo o povo.
Assim como o homem vem rejeitando todos os pensamentos falsos,
confusos ou inferiores para a investigação da descoberta do correio, puro e
elevado, a religião, ao mesmo tempo, deve ser avaliada com o senso crítico,
visando a mais correta, original e superior. É necessário pesquisar, de início, a
sua originalidade, sem perder tempo emocionalmente em assuntos secundários.
Nessa oportunidade, será naturalmente selecionada no sentido para a religião
suprema.
A unificação por meio do poder autoritário é manobra completamente
estúpida. A verdadeira tendência humana é a aproximação em torno do valor
supremo, assim como aprovamos lâmpada elétrica em substituição à luz do
lampião ou da tocha que naturalmente irão se apagando.
Eis aqui uma questão: como avaliar essas numerosas religiões e como
descobrir a religião correta? É uma questão da máxima importância. O Estudo
Comparativo das Religiões deve ser necessariamente estabelecido e reconhecido
corretamente no futuro.
Por exemplo: a maioria hoje acha que "toda religião é boa". Entretanto,
mesmo no Budismo, a doutrina de Nembutsu é completamente oposta do
Hokekyo.

131
Nembutsu é um ensinamento que teve proveito nos tempos passados há dois a
três mil anos, como dizia o próprio Sakyamuni, mas tornou-se completamente
impróprio para a era atual de Mappo. Torna-se bem evidente para qualquer
estudioso que aprenda direta e corretamente um pouco do Budismo.
Além disso, revela-se que, entretanto na Era de Mappo, "todas as outras
sutras e mesmo a de Lótus perderão o valor" e antecipando a conclusão, apenas o
Gohonzon de Sandai-hiho é a Única e Suprema Essência do Budismo.
Apesar disso, o homem moderno é completamente ignorante no assunto de
religião, e por esse motivo, deve-se fazer criticas profundas estudando o
"Critério de Avaliação Religiosa".

* * *

Os sete jovens, tiveram a coragem de por as lições de Toda em prática


nessa oportunidade e por iniciativa própria, para se convencerem da certeza ou
da falsidade e da superioridade ou da inferioridade da religião.
Ajuntaram-se, nesse dia, mais de duzentas pessoas na assembléia da S, em
sua sede. O salão foi dominado por um tipo de odor peculiar. Não era
proveniente da sudorese. Era uma espécie de um odor estagnante que estimulava
as narinas.
Na plataforma frontal estava uma senhora pálida, falando rapidamente e ao
mesmo tempo arrumando seus cabelos soltos. Parecia estar testemunhando a sua
própria conduta.
Era como uma fanática proveniente de algum lugar.
— ... Ouvi respeitosamente as lições do professor Taniyama. há vinte dias
apenas. Como todos estão vendo, a minha transformação foi tão grande em vista
dos vinte dias atrás. Há vinte dias, vim aqui acompanhada com muito sacrifício,
sofrendo gravemente de doença na coluna. O professor disse que a doença
provém da má disposição do próprio espirito. Aprendi que sanando a situação
mental, a doença seria também curada.
Aqui, ela afinou a sua voz.

132
— No inicio não podia acreditar, mas voltando para casa, meditei em
torno da minha situação sofredora. Se a minha doença é proveniente do mau
estado espiritual, qual seria o mal que poderia ser encontrado na minha mente.
Nesse ínterim, percebi subitamente o seguinte: há seis meses, como havia
dificuldades para viver, pois, eu era a única sacrificada em casa, fiquei com ódio
da família e pensei em ficar doente a fim de poder permanecer mais descansada.
Um doente não se pode mover. Sendo assim, seria mais cômodo para mim .
Passando algum tempo, fiquei realmente doente e recebi o diagnóstico de
tuberculose da coluna, pelo médico.
— Assim que ouvi a palestra do professor Taniyama, lembrei da minha
falta de precaução contra os meus maus pensamentos provenientes do meu
espírito em más condições. Eis aqui a causa da minha doença. Quanto eu fora
pecadora! Em seguida, molhei o travesseiro de tantas lágrimas de
arrependimento. Pedi desculpas à família e passei a noite em claro fazendo auto-
crítica, censurando a minha tolice.
— Por incrível que pareça, a partir do dia seguinte
fiquei completamente restabelecida e agora, não posso
deixar de pensar que isso foi até mentira . .
O relato de experiência da mulher durou cerca de vinte minutos.
Os sete jovens permaneciam sentados, separadamente, entre os membros
da S com as fisionomias de inocentes. Uns pareciam estar fitando os olhares
atentos para a plataforma frontal. Outros pareciam estar ouvindo com atitudes
contemplativas, voltando suas faces para cima. Havia alguns sentados nos cantos
da sala e que pareciam estar em forma de meditação, com os seus olhos brilhan-
tes.
Eiko Mikawa, que tomou o seu assento na frente, observava curiosamente
a fisionomia da mulher que fazia o seu relato de experiência. A face da mulher
estava pálida e sem sangue, como a cor da vela, fazendo lembrar aquela pele
típica do portador de Mal de Potts. Apenas os olhos congestos brilhavam às
vezes, como olhares em neurose.
Em seguida foi à frente, um homem de meia idade, que parecia estar
cansado da vida. Fez o relato prolongado

133
da sua vida, iniciando com a situação familiar complexa, desde o seu
nascimento. Aproximava-se mais à confissão do que o relato de experiência.
Habitualmente, muitos gostam de ouvir a confissão dos segredos de outras
pessoas. Tornam-se mais atraentes, quanto mais infelizes fossem as confissões.
O auditório permanecia quieto, ouvindo o relato prolongado desse homem. Não
seria em conseqüência do gosto pelas curiosidades?
O assunto deveria ser denominado "A Vida de Um Bastardo". Apenas isso
bastava para satisfazer tanto a curiosidade do auditório.
Esse homem de meia idade relatou brevemente a sua experiência religiosa
e para encerrar a narração, ele complementou:
. .. e assim, se eu responder com o meu passado, inclusive por duas vezes
na prisão como Jean Vargean (da obra de Victor Hugo, "Os Miseráveis"), saber
de que modo iria marchar pelos caminhos da restauração, a partir de hoje eu diria
que a salvação foi o meu encontro com um dos volumes dos impressos da S. As
palavras do professor Taniyama me fizeram esquecer que sou "Bastardo".
Ressuscitei-me com a convicção de que eu também sou filho de Deus. . .
Os ouvidos de ignorantes poderão concordá-lo. De fato, é um belo conto
de fadas como o da idade média. Por outro lado, aos olhos dos possuidores da
base da filosofia budista, seria apenas um meio para iludir as crianças. Os sete
jovens começaram a sentir-se saturados por tamanha tolice.
Iwata, que era impaciente, olhava freqüentemente em direção à Sakata,
mas ele parecia não estar percebendo a irritação do seu companheiro. Kinya
Takimoto, no fundo do auditório, movia o seu corpo incessantemente, tirando os
óculos para limpar. Para os presentes, parecia que ele estava limpando suas
lágrimas de admiração. Yoshikawa, o menor de todos, mostrava os sorrisos
forçados.
Em seguida, chegou a vez do relato de experiência de um rapaz
desmobilizado. Já havia decorrido mais de uma hora.
Os sete jovens estavam decididos a esperar pacientemente até o final,
quando deveria comparecer Taniyama

134
sobre a plataforma. Isso fazia parte do plano estratégico do dia. Não teriam
tanto proveito, se lutassem contra os soldados rasos.
Enfim, surgiram intensos aplausos quando o presidente Kishiharu
Taniyama apresentou-se na plataforma frontal.
Deu uma olhada em volta do auditório e começou a falar com aparência de
dignidade. Ao seu redor carregava uma espécie de poder mágico. Elogiou
longamente os relatos de experiências e continuou sua palestra com eloqüência
habilidosa.
— ... Iluminar o próprio espírito, diariamente, du
rante uma hora, pela "Luz da Verdade" — A melhor ma
neira para isso é ler as minhas obras escritas sobre as
verdades vitais como a "Realidade da Vida".
De início, elogiou a sua própria obra. É um ato estratégico para a
promoção de venda dos impressos.
Continuou a falar sossegadamente, sem perceber que existiam os agentes
secretos.
— Falando a verdade, não é o meu livro que vai curar a doença. Como
originalmente não existe doença nos filhos de Deus, na verdade estão curados,
independentemente da existência ou não de doenças. Surge nas pessoas
entretanto, o fenômeno que se chama doença, devido à existência do erro na sua
"mente", ou melhor na sua "fé". Esses "pensamentos" errôneos surgem no corpo
em forma de sombras e tomam o aspecto de enfermidades. Suponhamos que
alguém estivesse com hemoptise no momento. Isso quer dizer que formou um
orifício na matéria que é o corpo. Dizem que sofrem de febre, expectoração ou
tosse, mas sendo matéria, não passa de um mero pretexto e portanto não é
possível que o corpo sinta a dor ou sofrimento. Não é verdade?
— A matéria não possui a faculdade de sentir a dor ou sofrimento.
Entretanto o corpo sente-se sofredor. Isso é a prova de que o corpo não é matéria
e portanto é a "sombra da mente" ou melhor, uma "existência imaginária".

135
— Sente-se o sofrimento, como o reflexo da sensação do sofrimento
mental sobre o corpo que faz revelar a mente. Portanto, o sofrimento existe na
mente e não há razão para existir na matéria. . .
— Não diga asneiras. Se quiser, conte piadas mais pausadamente. —
Juiti Iwata murmurou indignado.
Finalmente, Taniyama puxou uma frase da Grande Sutra Hannya, pregou a
igualdade das verdades quer antigas ou atuais e que o ensinamento a S é idêntico
daquela Sutra, e dessa maneira, ele envolveu a fumaça sofismática para culminar
com a palavra "Bankyo-Kiitsu", o único ensinamento que faz convergir todas as
doutrinas.
Nesse instante, Iwata fez flutuar um sorriso invencível na sua face e
observou ao redor.
Havia numerosas faces desesperadas em franca neurastenia. Seus desejos
eram somente algo que pudessem agarrar para a salvação própria.
Iwata sentiu pena dessas pessoas. Por outro lado, o material de ataque já
estava tudo pronto.
Murmurando para si — pronto! — levantou em seguida, a mão e disse em
voz alta:
— Tenho uma pergunta.
Os dirigentes em fila sobre a plataforma, lançaram seus olhares, todos ao
mesmo tempo sobre Iwata. Um deles, correu apressadamente para frente e disse:
— Por favor, espere um pouco. Preciso consultar a
disponibilidade do professor Taniyama.
Esse dirigente de pequena estrutura dirigiu-se a Kishiharu Taniyama,
inclinou o seu corpo, murmurou algo no seu ouvido, concordou plenamente, foi
em seguida à frente da plataforma e disse movendo suas mãos juntas.
— Hoje, o nosso mestre concedeu-nos o especial
favor de responder as perguntas. Que gratidão meritosa!
Deve ter compreendido nosso entusiasmo sincero. Entre
tanto, como o professor é sempre muito atarefado, con
cedeu-nos apenas trinta minutos. Por favor, queiram per
guntar. . .
Quatro ou cinco pessoas levantaram as mãos. O moderador ignorou a
presença de Iwata. Indicou alguém lá no fundo que levantou a sua voz aguda.
— Desejo perguntar sobre Deus.

136
Essa voz clara era evidentemente de Kimya Takimoto. Juiti Iwata, que
levantou a mão, quando ouviu essa voz, deu um sorriso amarelo — Que pena!
Perdi a partida com Takimoto. Como é vivo, esse rapaz!
— Há pouco, ouvi sobre Deus da S. Entretanto, não
compreendi absolutamente. Que Deus é? Peço esclarecimento mais concreto.
A pergunta foi diretamente ao ponto central do assunto.
Taniyama concordou suavemente e começou a falar com imponência
como conhecedor de alto gabarito.
— Essa é a questão básica da fé. Um Deus absoluto
que é "um ente infinito" mora dentro de nós e por isso,
nós somos filhos de Deus, mas no Japão existem numerosos Deuses, como por
exemplo, os "Oito Milhões de
Deuses".
— Aqui surge o controvertido problema do monoteísmo ou politeísmo,
mas a origem é a mesma. Somente há diferença no seu modo de aparição em
cada ocasião. — O significado da palavra que nós denominamos "Deus", po-
demos dividir resumidamente em três espécies.
— Em primeiro lugar refere-se a "Deus Criador" que é o trabalho do
amor que faz surgir todas as coisas. Realmente, é o "Deus misterioso" que cria o
princípio criador. É o primeiro Deus.

— O segundo Deus é o ente que irradia as luzes. Conforme o


Cristianismo é aquilo que está na bíblia: "E Deus disse: "Faça a luz e a luz se
fez"! É Deus da Radiação. Entre os exemplos, Kanazeon-Bossatsu, deusa da
misericórdia ou Buda que aparece com aspectos diversos conforme as
circunstâncias. São coisas que surgem evidentemente como incorporação das
"vibrações da alma salvadora" emitidas pelo Deus Único e Fundamental. O Deus
da S. também é o ente incorporado por essas ondas.
— A terceira espécie de Deus não pode ser vista pelos olhos da carne,
mas isso não quer dizer que não exista a sua matéria original, mas que possui
secretamente o corpo que são milhares de espécies de uma variedade dos
diversos Deuses. Entre os inferiores estão o espirito das pessoas mortas que
ainda não conseguiram abrir suas iluminações ou que incluem também os espí-
ritos dos animais. . .

137
Com a arrogância de um erudito, Taniyama continuava orgulhosamente a
palestra toda ambígua, tipicamente sofismática à sua maneira. Não possuía
nenhuma lógica sistemática ou provas que pudessem servir de base fundamental.
Nesse instante, a resposta foi subitamente interrompida por Takimoto.
— Entendi. Estou satisfeito apenas por compreender Deus. De acordo
com a palestra do professor, há pouco, Deus da S existe dentro do livro "As
realidades da Vida" e então, posso interpretar dessa maneira?
— Pode ser aceito dessa maneira. De qualquer modo, o meu livro tem a
função de conduzir as ondas espirituais. Se compreendermos que a nossa "Vida"
é filha de Deus, surgirá com certeza, o poder salvador dos sofrimentos por meio
dessa força. — respondeu Taniyama como se estivesse falando razoavelmente.
Tornou-se rápida a pergunta de Takimoto, como que fossem avançar sobre
essa afirmação.
— Sendo assim, se por acaso encontrasse algo errado escrito dentro das
"Realidades da Vida", então, esse Deus seria falso?
— Sim. Naturalmente! — acabou respondendo dessa maneira,
reflexivamente.
Entretanto, não podia esconder nesse momento, a fisionomia horrorizada
pelo próprio embaraço. Em seguida, fixou os seus olhares sobre Takimoto, com
a sua face obstinada.
— Qual é a natureza da Deusa do Sol? Conforme a
interpretação anterior, ela parece ser a "Deusa do Uni
verso", entretanto, ela não é uma Deusa do Japão? Ela
não deve ser portanto a Deusa na América e nem na China.
Estou pensando que é a Deusa da raça japonesa. Peço
esclarecer esse ponto.
Assim, Takimoto avançou calma e friamente, mudando o ponto de
convergência do diálogo.
Por outro lado, a palestra de Taniyama ficou totalmente desmembrada.
— Naturalmente. É a Deusa do Japão. É a Deusa que faz crescer todas
as coisas, refletindo-se do Japão para o Universo.
— Então, é a Deusa que defende o Japão em primeiro lugar, não é?

138
É isso mesmo.
— Entretanto, na última guerra, a Deusa do Sol não conseguiu defender
a nação japonesa. Como explicar essa realidade?
Os ataques de Takimoto, tornaram-se cada vez mais intensos. Além disso,
ele foi avançando passo a passo em direção à plataforma. Vendo isso, tanto
Iwata, como Sa-kata, foram avançando também, cada qual por si, como se nada
tivesse acontecido.
Certos ouvintes observaram atentamente a abertura da boca de Taniyama.
Outros olhavam Takimoto atrás, virando sua cabeça por diversas vezes.
Reinou um período de silêncio. Parecia que Taniyama estivesse
procurando algo para responder.
Tomando essa vantagem, Takimoto avançou veementemente.
— Qual é a resposta? Essa Deusa que tem o dever de salvaguardar a
sua raça — por que ela não conseguiu defendê-la? Não é a prova de que não
existia a verdadeira Deusa do Sol no Japão?
— Dever? Como!? Não acho que os Deuses tenham os seus deveres.
— Suponhamos então que sejam as atribuições. Como Deus que cuida
constantemente da evolução do universo, conforme a sua afirmação, por que
razão deixou de cumprir a sua atribuição?
As perguntas transformaram-se inquisitórias em vez de interrogatórias.
Takimoto enunciou o "dever", porque na véspera havia participado da lição do
Hokekyo de Toda:
— No recinto onde Sakyamuni pregou o Hokekyo, os
Deuses Budistas inclusive Shoten-Zenjin (Deusa do Sol)
manifestaram seus juramentos, prometendo defender abso
lutamente os devotos do Verdadeiro Budismo.
Sem saber ou perceber, ele estava lembrando disso. Taniyama não possuía
mais nenhum argumento para continuar.
Sentia-se um clima de tumultuações no ambiente. Takimoto deu o golpe
de encerramento e disse:
— Um Deus que não consegue cumprir a sua obri
gação, seria então, um Deus desempregado? Deus cristão
dos americanos vencedores, a Deusa Sol do Japão que

139
foi derrotada e a Deusa da S como sabemos, de que maneira poderíamos
classificá-los, de acordo com a hierarquia militar?
Levantaram vaias de gargalhadas ao mesmo tempo. As palavras hierarquia
militar, foram toques mágicos para despertar o senso humorístico do auditório.
Parecia que a vitória no debate estava claramente ao lado de Takimoto.
Somente Kishiharu Taniyama não podia rir dessa situação. Permanecia
com a sua face empalidecida. Em seguida levou suas mãos sobre os cantos da
mesa e disse, dirigindo os olhares para o Takimoto.
— A intenção das perguntas não é o desejo de conhecer o nosso Deus?
— Isso mesmo.
— Sendo assim, há método direto e seguro para isso. Não é possível
entendê-lo por meio da explanação. É necessário exercitar o nosso chamado
"SHINSOKAN", meditando e contemplando o nosso Deus. Por acaso o senhor o
conhece?
— Não sei.
Com a astúcia de uma velha raposa, Taniyama desviou habilmente a
ofensiva de Takimoto.
— Está vendo? Experimente-o, então. Peço que soli
cite depois as instruções para os meus dirigentes. Por
favor, volte para casa hoje. O senhor é uma pessoa interessante. Um dia
encontrar-nos-emos outra vez. . . Quem
deseja fazer a pergunta seguinte?
Takimoto sentiu com muita pena a interrupção do seu interrogatório.
Tentou protestar, mas o moderador já havia indicado um outro candidato. Era
Iwata que estava levantando a mão no meio dos outros. Parece que o moderador
acabou escolhendo naturalmente aquele rapaz gordo que estava sentado na
frente.
Takimoto ficou aliviado por ter conseguido passar o bastão de corrida para
ele.
— Como foi mencionada na palestra, há pouco, que
a doença surge do erro espiritual e sendo assim, pode
ríamos concordar que um rapaz completamente sadio
como eu teria uma integridade espiritual perfeita e esta
ria bem próximo à posição de Deus?
— Isso mesmo! O corpo nunca passa de uma sim
ples sombra do espírito — respondeu Taniyama, estendendo

140
o seu peito. Olhares firmes de Iwata que observam Taniyama, continham doses
de indignação.
— Então, perguntaria por que razão muitos sofrem tanto de pobreza,
desarmonia, e outros, chegando mesmo ao ponto de cometerem o suicídio,
apesar da saúde perfeita?
— Enquanto o corpo, que é a sombra psíquica, segundo a sua doutrina,
possui a saúde física de um atleta e ao mesmo tempo o espírito que é a
substância essencial, está esquartejado de tanto sofrimento. A substância
essencial, que é o espírito, está agonizante e ao mesmo tempo nada acontece para
o lado da sombra! Taniyama, não acha isso estranho?
— Não acho nada estranho. Refere-se à pobreza, aqueles que não
perceberam que são filho de um "Ser Infinito" ou que "Ele" vive dentro de nós.
Por isso mesmo estão sofrendo.
— Se compreendermos isso, poderemos receber todas as necessidades
pela fonte fornecedora infinita, como oferta de um depósito de uma fartura
inesgotável. Originalmente, o ser humano nunca pode ser pobre. Somente que,
essa verdade dificilmente poderá ser compreendida por aqueles avarentos
portadores de mente estreita e possuidora de vasilhame espiritual muito pequeno.
— Um momento — disse Iwata, prevenindo que Taniyama desviasse
do assunto. Aquele que possui uma forte convicção baseado no seu princípio
básico pode conseguir o desenvolvimento do seu debate lógico em pleno êxito.
— O que eu quero saber, é a questão da mente e a sombra como foi
afirmado. Não posso deixar de pensar que é muito estranho considerar a matéria
como a sombra do mundo da não existência e que o espírito é a verdadeira
substância essencial que existe no mundo real ou mundo da realidade.
— Apresentei a questão do corpo e da mente como um exemplo. No
entretanto, o assunto desviou-se para a pobreza. Sinceramente, como o senhor
encara a ciência?
— "A Ciência", evidentemente, é o estudo sobre o mundo material.
Como a matéria é a sombra do espírito, mesmo que pareça como o mundo real,
intrinsecamente

141
é o mundo da sombra. Vendo-se pelo mundo da realidade, na verdade, é o
mundo da não existência.
— Para o homem moderno, isso é incompreensível.
As dúvidas tornam-se cada vez mais profundas quanto
mais se encara com o pensamento de que a Ciência é
soberana. Assim o mundo da realidade cada vez mais se
afasta do mundo da divindade. Assim não é possível ha
ver salvação. A origem do sofrimento na atualidade, po
de-se dizer que está aqui. Acho melhor que o senhor tam
bém previna-se disso.
Subitamente, a explanação de Taniyama tornou-se ofensiva. Até flutuava o
sorriso frio no seu rosto.
Iwata acabou de se convencer que chegou a hora decisiva. Foi mais a
frente, aproximou-se até a um metro da plataforma frontal.
— Taniyama, por acaso pretende rejeitar a verdade cientifica, ou
melhor, os princípios imutáveis do mundo da realidade, não é?
— A questão não é rejeitar ou aceitar. A Ciência não passa de um
estudo das sombras. Apenas estou advertindo para que não abuse da Ciência.
— Há, por exemplo, a Lei da Gravidade, conhecida por todos. Isso é a
verdade do mundo da sombra ou é a verdade que realmente existe? Qual é a
certa?
— Como você também é insistente! O mundo da matéria é o mundo da
sombra do espírito e portanto, não existe originalmente. O que não existe, não
existe. Aqueles que pensam que o mundo existente é o mundo da matéria, como
é o seu caso, não pode haver outro meio de ensinar senão que somente poderá
entrar no "mundo da realidade" quando se libertar do "mundo da matéria".
Mesmo os eminentes discípulos do Senhor de Sakya estavam sendo presos por
esse mundo da matéria. . .
Iwata interrompeu o assunto de Taniyama. Em seguida, perguntou
levantando a sua voz grossa:
— Taniyama, como o homem pode viver sem o mun
do da matéria? Poderei deixar esse meu corpo? Seria
possível que se consiga isso com sua arte mágica? Seus
argumentos não passam de uma teoria sem fundamento.
Quem poderá confiar nessa conversa anti-científica e de
baixa categoria? — dizendo dessa maneira, ele deu a

142
meia volta e retirou um fósforo calmamente do seu bolso e mostrou para o
auditório, dizendo:
— É verdade que o meu corpo não passa de uma
sombra do espírito? Vejam todos, estes fósforos que é
a matéria. Como pode ser uma sombra ou uma coisa não
existente?
A verdade existe num local tão próximo. Até mesmo os Ensinos de
Sakyamuni guardados nas oitenta mil bibliotecas de Sutras, não passam de uma
verdade que esclarece a vida de um ser. Por mais que os líderes das religiões
inferiores professassem da maneira longínqua e elevada, os exemplos de
verdades existentes na intimidade, provariam a verdade e a falsidade para se
tornarem tão evidentes por apenas uma visão.
O auditório estava totalmente desapontado. Dois ou três homens que
pareciam ser os dirigentes da S vieram avançar atrás de Iwata, respirando
violentamente e mostrando as veias ressaltadas. O ambiente começou a ser
envolvido pelo ar temeroso.
Nesse momento, alguém manifestou com a sua voz, no meio dos ouvintes.
— Professor Taniyama, por favor, peço ensinar e fa
zer compreender esse rapaz ignorante. Peço por gentileza, que salve este rapaz
com sua orientação minuciosa.
Para nós, ouvintes também, tornaria muito interessante e
proveitoso.
Era Guiiti Sakata. Iwata sorriu satisfeito. Tudo estava correndo de acordo
com o plano. A atitude de Sakata fez a maioria aderir ao seu lado. Ao mesmo
tempo, era um golpe de lança para deter Taniyama.
Iwata permanecia de pé. Seus olhos observavam Taniyama cada vez mais
ferozmente.
Taniyama respondia com olhares fitos sobre Iwata, mas logo em seguida,
começou a falar com suavidade surpreendente:
— O senhor é materialista?
— Não sou. Não rejeito a existência do espirito e nem a existência da
matéria.
— A S adota o Espiritualismo Histórico de "Yushin Shikan".
— "Yushin"? O que é isso?

143
É o contrário do Materialismo Histórico, "Yuibu-tsu-Shikan" ou visão
materialista. A matéria não existe. Somente existe a onda de imaginação da
"existência" traduzida apenas em forma de matéria, através dos cinco sentidos,
que são os receptores de ondas imaginárias. O verdadeiro corpo é o espírito. A
matéria é sua sombra. Sabendo esse conceito, a existência do mundo da realidade
torna-se bem clara. Hospedando-se a inteligência de Deus Onisciente dentro de
nós, conseguiremos o estado de liberdade absoluta.
Taniyama respondia olhando constantemente para o seu relógio. Iwata
sentiu-se temeroso em ser interrompido o seu debate pelo esgotamento do tempo.
A Ciência demonstrou um progresso espantoso, tendo como chance a
Segunda Guerra Mundial. É um espetáculo jamais previsto por alguém. Em
contraposição, as questões da vida, do espírito, da ideologia, da religião, etc. . .,
como foram infantis os progressos e as compreensões nesse sentido!
Iwata interrompeu novamente:
— Taniyama, sua teoria está ficando cada vez mais estranha. Peço
responder as minhas perguntas. A realidade não é ver e conhecer as coisas
exatamente como elas são? Não está vendo que eu, o senhor, assim como esta
casa, enfim, tudo existe na realidade, não é? Ou então, não existem realmente,
fora do espírito? É muito estranho! Por mais que se pense, é impossível que tudo
isso é o mundo da sombra do espírito. Por acaso o senhor não estaria sonhando?
Não pode haver a força da salvação nos dizeres de um sonhador. Pelo contrário,
isso traz até confusões. Do ponto de vista religioso é o pior impostor. Agora,
faço a minha última pergunta:
— Vai parar de pregar essa tolice, ou não quer?
Era uma expressão veemente de Iwata, repleta de coragem. O auditório
havia transformado em silêncio. Os olhares de todos caíram em seguida sobre ele
e Taniyama.
Um dos líderes da S dirigiu-se para a frente e disse, no momento em que
Taniyama viu rapidamente o seu relógio:
— Professor, já passou da hora.
Ele concordou delicadamente e respondeu grosseiramente para Iwata.

144
A sua intromissão não me interessa. Falo ou não,
é a vontade livre do meu espírito.. . A todos, está encerrada a ordem do dia.
Devo comparecer imperiosamente a um local combinado onde numerosos
amigos da leitura estão me aguardando ansiosamente. Peço licença para
me retirar.
Com esse cumprimento, ele se dirigiu à uma porta de saída, atrás da
plataforma.
Iwata levantou a voz ainda mais intensamente, como se estivesse correndo
para trás dele.
— Espere aí, espere! Se o espírito é livre, por que
não vai só com a mente e não deixa o seu corpo aqui.. .
Que decepção! Até a sombra vai junto? Olha, isso a
fraude.
Essa fraqueza seria a conseqüência da indignação própria da juventude. O
corpo de Taniyama desapareceu como se fugisse, deixando essa voz nas costas.
Os três líderes da S, avançaram imediatamente sobre Iwata e em seguida
tentaram agarrar os braços.
— Não permitiremos a expressão violenta.
Os três homens estavam descontrolados pelo furor. Em seguida, tentaram
liquidar Iwata. Entretanto, foram rapidamente cercados por Takimoto, Sakata,
Yoshikawa e outros.
A manobra foi ultra-rápida. Os três homens continuavam enfrentando
Iwata, sem nada poder fazer.
— Não usem violências. Respeitem a liberdade de
diálogo — esse grito partiu de Yusuke Yoshikawa.
A seguir, surgiram então as vozes no auditório.
— É isso mesmo, É liberdade de diálogo!
— Conversem livremente. A ordem é trocar as idéias calmamente.
— A violência física vai afetar o prestígio da Socie
dade S.
Diversas pessoas se levantaram do assento e juntaram a eles.
— Deixem falar. Vocês não estão desejosos em
ouvir mais? Sendo assim, vocês devem ouvir.
Parece que os interessados despertaram o humor piIhérico da torcida. Por
outro lado, talvez sentissem uma certa simpatia pela expressão de Iwata.
Uma voz alta surgiu do auditório.

145
Ele tem motivos para falar. Por que não o deixa à vontade?
— Estamos no mundo da liberdade das palavras.
Todos devem ouvir as razões por que pretende falar.
— É isso mesmo. É isso mesmo. Deixem-no falar!
O auditório estava na eminência de entrar em comoção.
Cada um possui sua opinião própria. — A "Liberdade de Diálogo", esta frase de
após-guerra possuía uma força expressiva notável e estava sendo respeitada ao
máximo naquela época em que a opinião pública reagia contra a supressão da
liberdade de palavras.
Por esse motivo, os três dirigentes tomaram uma atitude passiva, sem
violência.
A situação de Iwata e seus companheiros nessa oportunidade, estava cada
vez mais vantajosa, quanto mais esperassem as manifestações das opiniões do
auditório.
Um dirigente de pequena estatura que foi moderador, disse finalmente,
com franqueza.
— Permitirei o uso de palavras. Se tem argumento,
fale. Porém, o tempo é limitado para dez minutos.
Silenciosamente e com a fisionomia aborrecida, Iwata foi subindo
rusticamente para a plataforma.
Após uma breve apresentação pessoal, disse com sua voz grossa:
— Nós somos os Jovens da Nitiren Shoshu "Soka
-Gakkai".
Não surgiu nenhuma tumultuação no auditório, Isso porque ninguém havia
sido informado sobre o nome da Nitiren-Shoshu ou a respeito da Organização
Soka-Gakkai. Isso seria impossível de ser imaginado atualmente, mas naquela
época, o nome da Nitiren Shoshu estava longe de chamar as atenções do público.
— O que? Parece que é uma das seitas da Nitiren-
-Shu — apenas os murmúrios dessa natureza foram as
reações dos presentes.
Os dirigentes da S por serem profissionais no ramo da religião, parece que
sabiam da denominação Nitiren Shoshu. Entretanto, não sabiam dos
pormenores.
Eles estavam ridicularizando a Organização, pensando que fosse um
agrupamento religioso muito frágil, comparando com a sua Organização.

146
Nesse dia, pela primeira vez, eles sentiram realmente uma rajada fria nas
vísceras.
Apenas aconteceu um fato uma semana atrás, quando apresentando-se
como professores primários, Takeo Konishi e Hissao Seki, foram à S para
praticar um Cha-kubuku intensivo.
Konishi perguntou com atitude digna e com toda segurança.
— Quem é o "Jogyo Bossatsu"?
— É o próprio Taniyama. — Essa foi a resposta dos líderes da S.
Seki, então, inquiriu:
— Por que razão, os senhores não consideram a
Sutra de Lótus como o Ensino Supremo, se o próprio Sakyamuni afirmou no
Hoben-Pon que o Hokekyo é o supre
mo e não pode ser colocado no segundo ou no terceiro
plano?
Imediatamente, eles perderam a resposta.
— Hoje, a maldade infiltrou em nós. Vamos inter
romper o assunto.
Havia surgido um motim dessa natureza em que eles confessaram a
ignorância da doutrina apresentando os atos vexatórios como doutrinários.
Entretanto, esta vez foi a revelação da verdade, diante de mais de duzentos
seguidores da S. Os dirigentes ficaram completamente desnorteados. Os sete
jovens, com o prosseguimento do incidente, formaram uma fila a cada lado de
Iwata, deixando-o no centro. Vendo o aspecto da Divisão dos Jovens, os
presentes se mostraram desejosos de ouvir com toda atenção e surpresa.
Nesse instante, reinou o silêncio no auditório.
Iwata sentiu uma estranha convicção.
— Antes de mais nada, afirmo claramente em primeiro lugar, que nós
acreditamos numa única religião que
pratica corretamente o Ensino de Nitiren Daishonin, o
Verdadeiro Buda na Era de Mappo, como a verdadeira
Religião para a época moderna.
Iwata continuou falando seriamente, apesar de que não transparecesse a
ternura na sua explanação.
— Toda nossa doutrina nunca foi alterada, nem um
pouco sequer, desde Nitiren Daishonin há setecentos anos.
Portanto, é o Único Budismo Verdadeiro que chegou para

147
a época atual, com a mais alta pureza, e que vem sucedendo de Nitiren
Daishonin para Nikko Shonin o segundo Sumo Prelado, de Nikko Shonin para
Nitimoku Shonin o terceiro Sumo Prelado e assim sucessivamente até hoje, pela
veia de transmissão através da herança sucessória única.
— De acordo com a profecia de Sakyamuni, há três mil anos, Nitiren
Daishonin nasceu no Japão, no país do Budismo Supremo e propagou a Essência
do Budismo para os povos infelizes numa época totalmente perigosa que é a Era
de Mappo.
— É o Budismo da Nitiren Shoshu com setecentos anos de tradição. A
nossa Sociedade é uma organização que conduz esta Doutrina de Nitiren
Daishonin fielmente na prática, sem nenhuma falha, por meio da nossa atividade
religiosa e dos nossos movimentos de propagação desta filosofia. Estamos
ardentemente convictos de que devemos salvar a nação japonesa que vive na
infelicidade e também, no sentido amplo, para a felicidade da humanidade.
— Deixarei de lado os pormenores históricos, porém, peço
encarecidamente, não confundir como qualquer Budismo antigo ou novo da
Seita Nitiren-Shu que existe por aí. O ensino original de Nitiren Daishonin é
único e exclusivo, assim como um só rei governa o pais. Como há notas
legítimas e falsas, não devemos ser enganados pelas religiões falsas.
— Todos conheciam, por acaso, essa realidade evidente e rigorosa?
Falou até aqui, sem interrupção. Ele mesmo ficou surpreso da sua
explanação tão bem feita, apesar de que não esperasse isso. A surpresa
transformou-se em confiança. O ambiente estava no silêncio absoluto.
Todos são humanos. Estão à procura de algo para se tornarem felizes. São
criaturas inocentes, mas que são infelizes e não merecem ser infelizes, com
exceção dos líderes que trabalham visando interesses e proveitos. Pode-se dizer
que as pessoas são traídas em virtude da ignorância. Entretanto, a pena é maior
para os traidores. Apesar disso, por que razão a maioria corre atrás de uma
diversidade de religiões tolas?

148
Há liberdade na fé religiosa. Evidentemente, isso não traz dúvidas.
Certamente, a liberdade precisa ser respeitada por todos. Assim sendo, a
liberdade religiosa significa que, tanto a propagação como o debate, devem ser
livres. Nessa eventualidade, haverá uma seleção no sentido cada vez mais para o
supremo, pela seleção natural. Entretanto, o povo é cada vez mais enganado
pelas religiões rudimentares. A quem cabe essa culpa? Ao governo? Aos
políticos? Ao próprio povo? Aos líderes heréticos? Ou então, à deficiência da
força dos devotos que têm a missão de propagar o Verdadeiro Budismo?
Iwata prosseguiu com a voz ainda mais elevada.
— Estamos profundamente decepcionados com os ensinos da S ao
ponto de ficarmos boquiabertos. Furtando os fragmentos das frases dos ensinos
de Sakyamuni e Cristo, inventou uma doutrina arbitrária com o pretexto na
"Unidade das Religiões" e além disso, afirma que é o princípio último da
verdade. Por acaso Taniyama não estai ia convencido de que é Deus ou Buda?
— Tanto Sakyamuni assim como Daishonin afirmam que "aqueles que
fazem pregações sem fundamento, fora dos princípios do Verdadeiro Budismo
são maldosos e pertencentes ao "Kenzoku dos Demônios". Assim, sem perceber,
foram pertencer aos demônios temíveis.
Chama-se demônio em oposição ao Buda. O demônio é aquele que ilude
as pessoas com palavras atraentes que soam agradavelmente nos ouvidos.
Iwata continuou falando ainda mais claramente.
— Ignorando completamente o rigoroso Princípio da
Causalidade que se baseia na lei da causa e efeito su
plantada na Vida Eterna em Três Existências, é a Suprema Filosofia da Vida.
Mas agora vêm pregar que a doença e a pobreza provém do modo de pensar do
espírito, que a saúde se recupera com a imaginação sadia do enfermo ou que a
pobreza se resolve pensando em Deus Infinito? Ora, tudo isso na verdade, não
vêm confirmar as atitudes do demônio, dos piores?
Os líderes da S começaram a ficar desesperados. Até agora permaneceram
pacíficos, mas a essa hora, começaram a murmurar entre eles. Um deles correu
até o local do moderador. O moderador anunciou imediatamente com sua voz
rouca:

149
Esgotou o tempo. Já passou dez minutos.
Nesse instante, Kinya Takimoto vem intervir a fim de lançar uma advertência.
— Não minta. Ainda faltam mais dois minutos.
Ele esteve marcando o tempo no seu relógio. Com essa tática, o
moderador foi afastado. Takimoto não perdeu a chance e chamou a atenção do
auditório:
— Nesse momento fomos interrompidos no meio do
discurso. Jamais poderemos ser molestados importunadamente assim. Por favor,
peço a permissão para a prorrogação do tempo o quanto necessário.
Correspondendo ao pedido, surgiram aplausos em diversos lugares e a
liderança do auditório passou naturalmente para os jovens.
A seguir, Iwata prosseguiu de novo o seu discurso.
— A matéria é a sombra do espírito e é uma existência real; a matéria,
na realidade não existe". Essa é a "Realidade da Vida" que a S professa,
camuflando como se fosse uma religião elevada e profunda, mas que ilude os
infelizes e ignorantes. Por outro lado, promove os negócios lucrativos. Isso é
atentado !
— Possamos tolerar ignorando os negócios lucrativos ou cedendo os
cem passos. O que não podemos perdoar é conduzir milhares e milhares de
infelizes para o inferno.
— Nitiren Daishonin ensina-nos que a origem de toda infelicidade está
na falsa doutrina ou religião herética! Em seguida, nos deixou a Suprema
Filosofia indestrutível através da comprovação na literatura, pela prova conclu-
siva da especulação lógica e além disso, pelo resultado evidente nas realidades
da vida diária.
— Sobre a matéria e o espírito, Daishonin nos ensina que ambos, em
última análise significa SHIKI-SHIN-FUNI (une in totum). Assim, a matéria e o
espírito nunca são entes separados. Em última análise é um ente comum. Essa
Suprema Filosofia da Vida, já vem sendo sustentada com dignidade há
setecentos anos.
— Ninguém conhece ainda uma outra filosofia que supera esta. Já é do
conhecimento na consciência dos entendidos que nem o materialismo e nem o
espiritualis-mo são ideologias adequadas para salvar sinceramente a
humanidade. Entretanto não conhecem uma outra filosofia.

150
— Há, atualmente, as ideologias possuem força para salvar este mundo
corrupto? Ninguém poderá afirmar que existe, com toda sua convicção.
Absolutamente não existe!
— Somente a Suprema Filosofia da Vida de Shiki-Shin-Funi de Nitiren
Daishonin é a única Religião Viva que possui a força para salvar radicalmente,
com Sua Ideologia, transformando bilhões de habitantes do mundo em felizes, e
ao mesmo tempo liderar o materialismo e o espiritualismo.
Era um discurso cheio de entusiasmo. O próprio orador não sabia como
deter.
Os expectadores estavam fascinados pela sua eloqüência e fisionomia que
merecia dizer: "Como é grandioso esse assunto!".
Iwata era um operário que trabalhava numa das fábricas da cidade. Apenas
completou o curso primário e não possuía nenhum gabarito. Apesar disso, agora
fazia um discurso eloqüente por longo período de tempo. Seus companheiros
também estavam profundamente encantados. De períodos em períodos, olhavam
a face brilhante do orador, totalmente coberta de suor e admiravam: "Como
Iwata está maravilhoso hoje!".
O aspecto do meio ambiente parecia que a hegemonia, o direito do poder
de liderança, estivesse totalmente nas mãos de Iwata.
Elevou ainda mais a voz no auditório.
— Não podemos permitir, sabendo que os senhores
irão ser cada vez mais infelizes, perdendo a vitalidade e
iludidos pelos sermões da S, por não conhecerem a veracidade e a falsidade das
religiões. Se alguém dos presentes se julga convicto de que foi sinceramente
salvo ou que será salvo no futuro, peço, por favor, levante as mãos.
Foi uma persuasão corajosa. O ar tenso percorreu o auditório.
Levantaram-se as mãos em alguns lugares do auditório mas ao perceberem
que a maioria ao redor não se manifestou, logo desistiram.
É de se notar que em primeiro lugar, nenhum dos líderes da S levantou as
suas mãos.
— Estou satisfeito. Muito obrigado. Posso afirmar
que essa atitude é a melhor prova.

151
— Nitiren Daishonin afirma que a causa original de toda infelicidade é
a falsa doutrina ou a religião herética! E reciprocamente ao mesmo tempo, nos
deixou uma religião única e verdadeira que fará as pessoas absolutamente
felizes, mesmo aquelas profundamente infelizes. Assim com a afirmação de que
'Eu, Nitiren, escrevo com Sumi tingida com o Meu Espírito', inscreveu o Dai-
Gohonzon para toda humanidade e deixou para a salvação dos povos da era de
Mappo.
— Esse Dai-Gohonzon está majestosamente consagrado em Fuji-
Daissekiji, durante o período de setecentos anos.
Conservando e dedicando ao Gohonzon, disse o 26.° Nikkan-Shonin:

'Não há oração sem resposta,


Nem pecado imperdoável;
Toda fortuna será concedida
E toda justiça será provada'.

Desse modo, pela atuação da fé verdadeira, poderemos sem dúvida, gozar


de uma vida realmente feliz.
— Nós desejamos sinceramente, dar o conhecimen
to da existência do Dai-Gohonzon, que é a fonte original
de emancipação da nação japonesa. Ao mesmo tempo
significa a luz que ilumina a paz mundial. Além disso,
Nitiren Daishonin concluiu afirmando há setecentos anos,
no Rissho-Ankoku-Ron que é uma admoestação por es
crito para o Período de Mappo, ou dez mil anos subsequentes:
'Vós deveis corrigir imediatamente o espírito da fé e render-vos
incondicionalmente para o Bem único do Verdadeiro Budismo.'
— De acordo com esse Ensino, os senhores devem
deixar o quanto antes, a religião e a fé incorreta e aceitar o Bem Único do
Verdadeiro Budismo que é o Nam-myo
ho-rengue-kyo de Sandai-Hiho proposto por Daishonin.
Caso contrário, cada existência que é importante, passa
rá ser uma vida de arrependimento.
Iwata concluiu aqui, o seu discurso, ensinando o endereço da Gakkai com
sede em Kanda.
— Agradeço profundamente a atenção merecida por
todos e encerro as minhas palavras.

152
Ele cumprimentou-os atenciosamente. Os seis companheiros agradeceram
também.
O auditório dirigia seus olhos simultaneamente para os líderes da S, que
permaneciam num dos cantos da plataforma, aguardando que eles protestassem.
O silêncio sufocante reinava no ambiente. Nesse momento, os jovens
dirigiram-se passo a passo, tranqüilamente, em direção à porta de saída.
Imediatamente o ambiente começou a tumultuar-se. Eles deixaram a sede
da S ouvindo atrás as vozes agudas e os gritos que pareciam como os latidos
longínquos.
O sol já estava bem próximo do poente. No céu límpido, o crepúsculo
dourado e brilhante, excitava os olhos dos jovens. Era um brilho sufocante.
A natureza é imensa! É sempre tranqüila, É grandiosa. É majestosa,
mesmo que a humanidade continue repetindo as suas disputas intensas!
Todos estavam em silêncio. Apesar disso, possuíam elevado espírito de
entusiasmo. Admiraram os ramos de uma grande árvore situada ao lado da
ladeira.
O semblante de todos mostrava o brilho de alegria. Deve ser uma alegria
em conseqüência de uma luta heróica no cumprimento da missão sublime.
Yussuke Yoshikawa interrompeu o silêncio e disse:
— Formidável! Formidável!
Riram todos ao mesmo tempo. As vozes de alegria que faziam lembrar o
grito da vitória, pareciam ressoar no céu da primavera.

* * *

Agora os jovens pareciam ser companheiros íntimos e vitoriosos no campo


de batalha. Apesar disso, ninguém percebeu claramente que o resultado
surpreendente ou as expressões de júbilo era, na verdade, o fruto da rigorosa
instrução de Jossei Toda.
Ninguém podia imaginar que o treinamento paciente e seguro de Toda em
curto espaço de tempo dedicado aos jovens, fosse revelar tamanha força potente
no momento decisivo.
Pode-se admirar assim, a grandeza e a eficácia da força orientadora que
Toda possuía.

153
O debate surpreendente entre as religiões travado pelos jovens nesse dia,
surgiu da própria iniciativa, sem persuasão de alguém. Eles enfrentaram sem que
ninguém tivesse sugerido. Haviam alcançado rápido progresso, graças ao
treinamento diário com Toda, ao ponto de reconhecer mais que suficiente a força
da sua convicção. Criaram a coragem de levantar por si mesmo na disputa da
supremacia estratégica, contestando a academia adversária com o ideal honroso
de refutar a heresia.
Os jovens deliberaram-se entre si, organizaram os planos por si mesmos,
criaram minuciosamente a própria estratégia e finalmente, dirigiram a ponta de
lança em direção à S.
Eram, todos, jovens simples. Com o amparo de Toda que amava muito a
juventude, eles foram se transformando até que um dia se tornaram pioneiros da
revolução religiosa.
Se considerarmos a posição social de cada um, Juiti Iwata era um rapaz
delinqüente insuportável. Atualmente é um torneiro mecânico habilidoso, mas
que não passava de um simples operador de máquina. Guiiti Sakata era
descendente de um proprietário de uma oficina da cidade e filho de Take Sakata,
que acompanhou a turma de Chakubuku regional no planalto de Nassuno. Kinya
Ta-kimoto era também, um operário recém-convertido. Yussu-ke Yoshikawa era
um funcionário do Correio. Kazuo Ma-tsumura era filho de um fabricante de
macarrão num bairro humilde. Eiko Mikawa e Kyoko Imamatsu eram apenas
simples e simpáticas secretárias da editora.
Toda sabia que não havia diferenças vitais nas pessoas quanto à força
eficiente. Gênios ou tolos, excepcionais ou ordinários, sejam quem forem, apesar
de possuírem cada qual certa diferença na sorte da predestinação, ele estava
consciente na possibilidade de poderem revelar plenamente as suas eficiências e
os seus talentos em todos os sentidos por meio da instrução e treinamento.

* * *

Os jovens compareceram juntos, à noite seguinte, para assistir a lição do


Hokekyo. Os presentes já haviam sido informados da notícia do ataque à S na
véspera.

154
Olhares dos companheiros sobre eles pareciam ser calorosos e até
invejosos, mesmo antes do início da lição. Parecia até mesmo uma recepção para
os heróis.
Após a lição, eles fizeram o relato de atividades do dia anterior, na frente
de todos.
Juiti Iwata foi o primeiro. Os jovens que lutaram juntos foram também à
frente para se apresentarem a todos.
Relataram minuciosamente, desde a organização dos planos estratégicos, a
maneira de execução e a evolução da luta dentro daquela multidão. Até os gestos
e as atitudes foram admiráveis. Surgiram por vezes as explosões de gargalhadas,
seguidas de aplausos para elogiá-los.
— Muito bem! Sucesso maravilhoso!
Eles convenceram que a face dos numerosos veteranos sorriam para eles.
Com o otimismo desenfreado eles afirmaram abertamente:
— Nós, da Divisão dos Jovens, prometemos lutar
assim, também no futuro, até à morte, na linha de trin
cheira mais avançada na luta pela aniquilação da heresia,
sob as ordens do mestre Toda. Surjam Três Inimigos Po
tentes diante do Verdadeiro Budismo, mas, contra a nossa
missão, como eles poderão ser os nossos obstáculos? To
dos poderão entender isso muito bem, uma vez ouvidos os
nossos relatos. Realmente, foi uma vitória com apenas
um golpe armado. Apesar disso continuamos sempre so
licitando os conselhos.
Foi um aplauso fervente.
Sentaram-se banhados de elogios tomando atitudes de heróis valentes.
Os participantes da lição estavam realmente desejo-sos em elogiar os
jovens e isso se notava nitidamente nas manifestações. Somente Toda
permanecia muito sério.
No início ele também estava ouvindo com certo ânimo, mas, após certo
tempo, a sua fisionomia tornou-se de repente nublada. Em seguida, fechou os
seus olhos e apresentou-se muito triste.
Ninguém percebeu a contradição de Toda. Subitamente ficou sério e
respondeu severamente:
— Levantem-se, os que foram à S ontem.
Os jovens levantaram com a fisionomia desconfiada.

155
Nunca eduquei os discípulos como vocês que estão orgulhosos por uma
pequena vantagem obtida em
provocação contra Taniyama. Vocês estão muito convencidos. Isso me
entristece. As intenções não foram exatamente como as minhas orientações.
Assim sendo, vocês são discípulos de quem? Responda-me agora, Iwata.
Quem ficou totalmente desnorteado foi Iwata. Permaneceu completamente
mudo. Os numerosos dirigentes presentes mostravam-se totalmente perdidos
também, talvez diante da cólera de Toda.
— Discípulo de quem? Não podem responder?...
Vocês não são mais os discípulos de Toda.
Uma vez repreendidos, eles estavam perdidos sem poderem chegar a
compreensão. Além disso, estavam tremendo.
— Se possuíssem consigo, mesmo uma parcela da
essência do Budismo de Nitiren Daishonin, todas as doutrinas alheias, sejam
quais forem, não trariam nenhum problema. A vitória ou a derrota já está
decidida, desde início. Entretanto, como podem existir os estúpidos convencidos
que se vangloriam como se fosse o seu próprio
mérito? Detesto o espírito de invasão às outras academias. Parem com a intenção
de conquistar o heroísmo. Sejam prudentes com o uso de termos violentos, e
procurem tornar-se pessoas sinceramente admiradas, quer
entre os amigos e mesmo entre os inimigos. Nunca me
lembro de ter ensinado tais procedimentos a vocês.
Toda voltou os seus olhos em direção aos diretores e disse:
— Harayama, Konishi e Kiyohara, qual é sua opinião?
Vocês poderiam compreender o pensamento de Toda?
Os diretores responderam com gestos de concordância mas, nada mais
podiam fazer, senão, permanecer em silêncio. Isso porque eles estavam também
juntos no ritmo, aplaudindo a euforia dos jovens.
Toda tranqüilizou a sua cólera e começou a falar de novo.
— Digo mais uma vez. Ouçam bem... Fico mais
triste ao pensar na mediocridade de vocês, que se torna
ram imediatamente orgulhosos, convencidos e arrogantes
dessa maneira. Gravem na memória que a Paz Mundial

156
é o ideal sublime e sagrada que os missionários do Buda devem lutar.
— Os inimigos que virão surgir daqui para frente no caminho para o
alcance do grande objetivo, serão tão maiores e temíveis que vocês nem podem
imaginá-los.
— Não estou repreendendo a ida de vocês à S. Nem pretendo elogiá-los
especialmente. Mas, se vocês desejarem ir, de qualquer maneira, não faço
objeções.
— Chakubuku nunca deverá ser impedido em prol da Paz Mundial.
Seria lamentável, por outro lado, que o Chakubuku fosse mal interpretado como
atividade especial visando contra a sede das outras religiões. Há ocasiões em que
uma atitude seria muito mais superior, como por exemplo, uma senhora que
procura salvar seus vizinhos, sinceramente de coração. É completamente errô-
neo, se pensarem que poderão aniquilar os hereges, repetindo essas façanhas por
diversas vezes.
— Deve-se pensar que agora estamos na fase de treinamento, e de
preparatório necessária para acumular a capacidade orientadora, a fim de que
possamos realmente salvar as pessoas do futuro. Seria desastroso pensar que a
luta do futuro fosse uma brincadeira de criança como essa. Nessa ocasião não
desistam e nem debandem. Os que estão eufóricos é mais certo que irão mais
tarde abandonar ou trair a verdadeira fé.
— Toda está repreendendo vocês agora, porque não quero que vocês
façam "taiten" ou que abandonem a verdadeira fé, quando se tornarem elementos
úteis para a pacificação do país pelo Verdadeiro Budismo. Gravem sempre na
memória este conselho.
Toda falou paulatinamente e com paciência.
Os olhos dos jovens começaram a ficar cada vez mais congestos.
Nas atividades do Chakubuku, poderão encontrar os personagens que
devem merecer atenção especial ou não. Um bom dirigente deve acertar
intuitivamente o caráter de outras pessoas. Aqueles que não reconhecerem perso-
nalidade humana jamais poderão dizer que são dirigentes.
Desde então, esses jovens continuaram suas atividades, junto com os
novos companheiros integrantes, durante aproximadamente dois anos,
respeitando sempre esses conselhos de Toda.

157
Um dia eles visitaram o Templo Principal da Nitiren--Shu Ikegami-
Honmonji; no outro dia, a Igreja Católica; certa vez, a sede do partido
comunista; outras vezes, o Templo Budista da Seita Nembutsu ou da Zen; ou
então as diversas sedes das religiões novas.
Em todas essas ocasiões amontoaram-se as criticas. Entretanto, sua
convicção, força na refutação da heresia e na elucidação da verdade foram
avançados assustadoramente.
Por outro lado, com essa rajada de movimentos religiosos revolucionários,
as numerosas religiões amedrontaram-se ou ficaram desesperadas. Ora se
defenderam, ora se arrependeram, mostrando todas elas atarefadís-simas.
Toda disse, contemplando os jovens:
— Se alguém proceder nas atividades da Gakkai,
pensando somente na própria glória, ou para se mostrar
com o fim de ser admirado, tudo será um fracasso. Tal
pessoa será o mesmo que um impostor.
Em seguida, ele acrescentou:
— Como os homens podem chorar após o retorno da
batalha com vitória?
— Ué? As moças também estão no meio! Desculpe.
Toda riu em voz alta, olhando Eiko Mikawa e Kyoko Imamatsu.
No meio da orientação rigorosa do Mestre-Discípulo, reinava também no
recinto, o ambiente de amor e ternura.
Infelizmente os quatro jovens, principalmente Iwata, afastaram-se
temporariamente e com muito custo chegaram a levantar-se até que,
recentemente conseguiram enquadrar nas atividades da Nitiren Shoshu,
regularmente, como dirigentes médios.

158
Surge da Terra

Desde a primavera de 1947, diversos planos para a democratização do


Japão pelas Forças de Ocupação americana, começaram a mostrar, finalmente, os
seus aspectos mais concretos.
Antes de mais nada, iniciou-se a execução do "Sistema Educacional
Compulsório 6 e 3" na prática. Entraram em vigor os três anos do Curso Ginasial
Obrigatório, além dos seis anos Primários.
Os primeiros passos da Reforma Educacional pós-guerra tiveram o seu
início em outubro do ano anterior, com o Decreto da Democratização
Educacional. Portanto, em dezembro foi ordenada inicialmente a proibição do
ensino da matéria como a Educação Moral, História e Geografia do Japão.
Quanto às outras matérias, os próprios alunos tiveram que iniciar os trabalhos de
riscar com tintas, os ensinos militares, à medida que fossem encontrando nos
livros escolares.
Foi uma democratização completamente antiquada para a educação dos
japoneses, sem ouvir a opinião dos próprios japoneses.
Devido ao Regime de Ocupação, não se podia encontrar um outro meio.
Apesar disso, o Sistema Educacional deveria ter uma base imutável, mesmo com
as mudanças drásticas das épocas a fim de que a mesma consiga promover
sempre o progresso da nação, o aperfeiçoamento do caráter do povo, o
treinamento da sua habilidade no reconhecimento da cultura e a aquisição da

159
própria felicidade, bem como contribuir, ao mesmo tempo e sempre, para a paz
mundial.
Naquela época, de acordo com o relatório da Missão Americana de
Ensino, estavam sendo cogitados até a descentralização do controle educacional
e a abolição do Ministério da Educação.
Em seguida, como solução final, foi transportado exatamente o mesmo
sistema americano, como a freqüência mista desde os seis anos primários, três
ginasiais, três colegiais até quatro universitários que vigora até hoje.
Até parecia um aspecto "Contra-Natura" como se os europeus e
americanos se apresentassem de Kimono ou que os japoneses aparecessem de
batina preta como os padres.
A Alemanha Ocidental rejeitou totalmente a reforma educacional imposta
pelas Forças Aliadas. Cada país deve se encarregar do seu próprio sistema
educacional adequado.
No caso do Japão, como a educação foi imposta incondicionalmente pelas
Forças de Ocupação, surgiram contradições e imperfeições que ainda
permanecem, mesmo atualmente. Na verdade, é um fato muito triste.
Einstein disse uma vez: — "A educação é o que restou, após ter esquecido
tudo o que se aprendeu na escola"; e portanto, quem definiu inteligentemente
dessa maneira, deve ter sua visão acertada.
Por incrível que pareça, poder-se-ia dizer o mesmo em relação ao sistema
educacional de hoje.
Embora ordenasse a execução do "Sistema Educacional Compulsório 6 e
3", quase nada havia sido preparado. Houve portanto, a falta de 24.000 classes
em todo o país e em diversas regiões surgiram escolas abertas para o céu azul.
A falta de professores foi realmente um drama e mesmo assim a educação
americana foi imperiosamente aplicada, apesar dos problemas difíceis e
numerosos. Em virtude das insatisfações resultantes, criaram-se até críticas
contra a própria educação democrática. Portanto, pode-se dizer que esta foi a
pior reforma dos Planos de Ocupação.
Para Jossei Toda, que foi um educador, a confusão reinante em
conseqüência do novo sistema educacional,

160
deve ter sido, sem dúvida, insuportável. Às vezes, ele dizia com indignação:
— Os americanos ignoram o sentimento nacional do povo japonês.
Desconhecem a originalidade dos orientais. Apesar de serem vitoriosos na
guerra, criaram inimizades com a nação, em vez de conquistarem amizades
sinceras. Com essa reforma educacional, eles poderiam ser interpretados como se
estivessem com a intenção de transformar o Japão num país eternamente
subordinado.
Infelizmente, a sua visão pessimista parece que foi acertada.
Em cada Prefeitura foram criadas numerosas universidades, ao ponto de
serem chamadas de "Universidades do Bar da Estação" e isso persiste até hoje e
os professores sinceros não conseguiram modificar nada, apesar dos vinte anos
passados. Consequentemente, eles ainda lamentam o baixo nível cultural dos
estudantes.
Logicamente, não poderiam surgir líderes capazes de dirigir o mundo
novo, com tal sistema universitário que visava apenas o diploma, o ambiente ou
o emprego. Isso demonstra a causa da falta de elevação do nível cultural, embora
haja considerável afluxo dos estudantes universitários.
No dia 5 de abril foi realizada a primeira eleição para os prefeitos e os
vereadores. Foram concretizadas as reformas, umas após outras, como flechadas
sucessivas. Foram promulgadas a Lei Básica do Trabalho no dia 7, a Lei da
Proibição do Monopólio no dia 14 e a Lei da Autonomia Local no dia 17.
No meio dessa confusão foi realizada a primeira eleição dos deputados no
dia 25. Foram eleitos consequentemente 143 deputados do Partido Socialista,
131 do Partido Liberal, 124 do Partido Democrático, 31 da União Nacional, 4 do
Partido Comunista, 20 dos demais partidos e 13 independentes.
Foram eleitos senadores, 47 do Partido Socialista, 37 do Partido Liberal,
28 do Partido Democrático, 9 da União Nacional, 4 do Partido Comunista, 12
dos demais partidos e 113 independentes.
O Partido Comunista que possuía a maior força de ressonância dos
trabalhadores, com a derrota dos movimentos grevistas em fevereiro, resultou
num fracasso, pela

161
perda de confiança dos trabalhadores. Apesar de agir a todo custo para
reconquistar o apoio dos trabalhadores, após a greve, foram obrigados a adotar a
tática de conciliação com os trabalhadores e essa falta de habilidade criou a
derrota por terem provocado embaraços nos movimentos trabalhistas.
Por outro lado, a marcha inflacionária galopante atemorizava dia após dia,
a subsistência dos operários. Até mesmo parecia o trabalho maldoso dos
demônios.
Os votos dos trabalhadores devem ter sido depositados naturalmente na
esperança para os socialistas, em virtude da perda de confiança com os
comunistas, após a greve geral. Poder-se-ia dizer que os socialistas aproveitaram
habilmente a situação para ganhar o terreno perdido pelos comunistas.
Mesmo o Partido Liberal, que pertencia à ala Conservadora, sabia que
seria difícil defender-se contra os movimentos revolucionários da massa, vendo
as experiências da greve geral.
Hitoshi Ashida, que desertou do Partido Liberal e Ken Inukai que deixou o
Partido Progressista, foram proclamando a política de equilíbrio em nome da
reforma capitalista, devido à necessidade de apresentar um programa
desenvolvimentista, visando à restauração econômica. Em seguida, criaram o
Partido Democrático do Japão, formando a facção progressista nos
conservadores, e assim, surgiu a divisão nos partidos conservadores.
A divisão partidária do mundo político em tendências progressistas e
conservadores, trouxe a vitória dos socialistas como primeiro partido. De
maneira alguma, isso foi devido à força do próprio Partido Socialista.
A cúpula do Partido Socialista tencionava formar uma política de
coligação dos quatro partidos Socialistas, Liberal Democrático e União
Nacional, sob o lema "Um Sistema Político de Todos os Partidos para salvar o
País". Entretanto, antes da formação do Gabinete, o Partido Liberal mudou de
atitude, rejeitando a coligação, com o pretexto de que o Partido Socialista aceitou
a ala esquerda do seu partido pró-Comunista e tomou a atitude de oposição,
alegando que os partidos de oposição não deveriam cooperar com essa situação.

162
Assim, os três partidos restantes, Liberal, Democrático e a União Nacional
formaram o Gabinete dos Três Partidos no dia 1.° de junho, com o Partido
Socialista à frente, elegendo Tetsu Katayama para Primeiro Ministro. Pela
primeira vez o Partido Socialista dominou o poder político do Japão.
Diante da crise inflacionária que ia transformando cada vez mais em
calamidades, o gabinete Katayama sustentou a desastrosa medida de contenção
inflacionária, do tipo de solução cômoda, em cima da mesa do gabinete e
congelou os preços a 65 vezes e o salário a 27 vezes ao valor que vigorava antes
da guerra.
Com a intenção de reconstruir a economia da nação: ajuntaram os materiais
e o capital do Governo para o suprimento das indústrias importantes como
carvão e o ferro, visando à restauração da economia do país com o titulo de
"Produção Inclinada"; mas a vida diária da nação foi piorando cada vez mais.
Como conseqüência disso, em menos de seis meses, a partir de outono
começaram a se intensificar as atividades ofensivas dos trabalhadores. Em
seguida, até os socialistas da esquerda começaram tomar atitudes de críticas
contra o Governo e devido à desorganização interna do partido, o Gabinete
Katayama foi totalmente dissolvido logo após, em fevereiro do ano seguinte.
Aqui, poder-se ia dizer que o verdadeiro aspecto do primeiro gabinete
socialista foi todo revelado ao público sob a claridade do sol.
Em seguida, formou-se o Gabinete Ashida, com a aliança dos três
partidos, fazendo a propaganda do Plano de Investimento Estrangeiro" para
aproveitar a ajuda americana, como meio de restaurar a economia japonesa. Seja
como for, amontoou-se uma diversidade de reformas políticas, inclusive a
mudança do poder administrativo e apesar disso, o nível de vida do povo foi
caindo dia após dia.
Em março de 1947, o atraso na distribuição dos gêneros alimentícios de
primeira necessidade foi tornando crônico e a situação do país tornou-se
insuportável.
Por exemplo, o atraso na distribuição dos gêneros em Sapporo foi de 21
dias, Otaru 30, Hakodate 20, Muro-ran 27, Hirossaki 12, Hatinoe 24, Oominato
17, Tóquio 13.

163
Yokohama 8, Osaka 3, Sakai 3, Fukuoka 5; assim, os atrasos foram mais sérios
na parte leste do que oeste do Japão. Em fins de junho, o atraso das rações
atingiram em média para 9,3 dias.
A sobrevivência! — Quantos sofrimentos existem atrás dessa palavra! A
subsistência! — Como isso é difícil! Nunca a nação pensou tão seriamente em
toda sua história.
Deixar ou não a nação nessas condições, o responsável é o seu governo.
Quem seleciona o Governo e seus líderes é a própria nação. Portanto, devido à
existência do povo, a questão da sua inteligência, bem como a sua união e a
visão devem ser assuntos de suma importância.
A deficiência total do arroz nesse ano atingiu a 3 800.000 sacas
aproximadamente.
No meio da agonia entre os cem milhões, a Força de Ocupação distribuiu
600.000 toneladas de gêneros alimentícios. Com isso, a crise foi salva
temporariamente, mas em dezembro, o atraso na distribuição dos gêneros foi
para 17,3 dias em média em todo país, e essa protelação continuou para o ano
vindouro.
A quantidade total dos gêneros alimentícios distribuídos pela Força de
Ocupação no período de fins de 1946 a outubro de 1947 era de 1.613.315
toneladas e as conservas enlatadas atingiram a 43.474 toneladas. Apesar disso,
não conseguiram encurtar o atraso da distribuição dos gêneros de 17,3 dias em
média.
Foi um castigo geral para o Japão.

* * *

Nem Jossei Toda e nem seus discípulos puderam escapar dessa situação
precária. Apesar disso, eles não desanimaram.
Todas as noites reuniram-se na sede em Kanda. Havia muitos famintos no
meio das pessoas que procuravam as lições e as orientações de Toda. Seus trajes
eram de uma diversidade exótica e só alguns possuíam recursos para uma vida
regular. Apesar disso, eles viviam com ânimo.
Possuíam uma esperança ardente, convictos de que, através da revolução
religiosa transformariam os grandes

164
males em grandes benefícios. Vieram superando as condições da vida adversa
num esforço conjunto, tendo como orgulho o supremo ideal de ser um
revolucionário autêntico.
No meio em que a maioria se afundava no desespero e no egoísmo, eles
brilhavam como possuidores de uma convicção exemplar, cumpridores da
missão mais nobre.
As atividades das reuniões foram-se tornando cada vez mais intensivas.
Numerosos convertidos novos foram sendo vistos nas reuniões de palestra e nos
salões das lições de Explanadores do Estudo do Budismo. Por vezes, às reuniões
da sede em Kanda, as pessoas afluíam até à escadaria. Apesar disso, o número de
convertidos chegava apenas a dez ou vinte famílias.
A orientação regional, que foi iniciada em outono de 1946 continuava
progredindo sem retroceder, mesmo após então. A campanha do Chakubuku foi
se estendendo seguramente.
Sem cogitar das regiões de Gunma e Totigui que ficam relativamente perto
de Tóquio, foram destacados os dirigentes para os locais distantes como Suwa
em Nagano, setores de Izu em Shizuoka, e Yame na longínqua Kyushu.
A missão para a Paz Mundial — Os lutadores e os concretizadores desse
ideal nunca devem esquecer os passos dessa marcha um instante sequer, até o
fim da vida. Não há outra batalha mais intensa senão aquela que é sublime, que
se baseia na convicção fortemente resoluta de que essa é a própria missão para
ser cumprida nesta existência. Assim, tudo pode ser construído com forte
vitalidade. Se por acaso não despertarem a sua missão na própria consciência, o
homem seria o mais fraco e o mais impuro de todos os seres.
Sobretudo, para as pessoas cientes do Bem Supremo, jamais sua luta
poderá ser derrotada pelos sofrimentos e dificuldades que avançam como nuvens
escuras, quando possuírem a convicção máscula do desejo ávido para o
progresso e para a profunda compreensão na Filosofia e na Cultura, na
concretização da paz e da liberdade para o bem da humanidade, do Estado, da
Nação e da Sociedade.
Os discípulos de Jossei Toda. que foram por ele treinados, iam vencendo
valentemente contra a carestia da

165
vida e a escassez dos viveres, através da sua força jovial e da paixão ardente.
Enfim, eles conheceram o prazer do Chakubuku. Não há outro sentimento mais
feliz do que isso. Eles sentiram pela própria experiência, em todo o seu corpo,
até no âmago profundo, que Chakubuku é a única atividade que mais beneficia o
próximo, a humanidade, a Lei Suprema e ao mesmo tempo a própria revolução
do caráter.
Nos seus encontros revelavam sempre as façanhas do Chakubuku. Nessas
ocasiões o estudo de júbilo não tinha fim.

* * *

Sakata e Mikawa viviam em Kamata, Tóquio. Eram companheiros de


estudo, desde o curso primário. Ambos não pareciam ter ainda os seus vinte
anos. As famílias de ambos haviam sido convertidas antes da guerra, por
intermédio do Chakubuku de Harayama e Seki, ora dirigentes da Gakkai.
Desde que houve o incidente da "S", Sakata e Mikawa procuravam os seus
companheiros de classe e foram fazendo Chakubuku à medida que os foram
encontrando. A maioria mudou-se em conseqüência do lar incendiado ou
transferiu-se para o interior e ainda não havia retornado. Visitavam sempre e
pacientemente, alguns remanescentes do incêndio.
Entre esses companheiros da classe, havia um jovem chamado Shin-lti
Yamamoto.
Em virtude do coleguismo de classe, eles visitaram por diversas vezes,
mas ainda não puderam expor diretamente os assuntos da fé e da religião.
Para os jovens da época, os assuntos da cultura e da "política ainda eram
aceitáveis, mas não havia um outro interesse mais remoto do que a religião.
Além disso, quando foram convidados para entrar no quarto de
Yamamoto, viram as estantes cheias de livros de uma diversidade de assuntos. A
maioria dos livros eram obras culturais antigas, modernas, ocidentais ou orien-
tais. Embora eles conhecessem o nome dos livros e os seus respectivos autores,
havia muitos que ignoravam completamente o seu conteúdo.

166
Comparando-se com os seus colegas de estudo, Shin--iti Yamamoto era
um leitor muito dedicado.
Quando percebiam que existiam obras de Doppo Kunikida, encontravam
também os autores como Nietzsche; ao lado dos livros de Ikutaro Nishida e de
Kiyoshi Miki havia obras de Montaigne; perto de Byron havia uma coleção de
Oito Escritores Chineses Famosos da Era de Tang e Sung (Toso-Hakka-Bun); ao
perceber que existia o Tratado de Moralogia Japonesa da Escola Confuciana
(Guenshi-Shiroku), encontravam as obras de Carlyle e poemas da Grécia antiga.
Apesar da pobreza, conservava cuidadosamente os livros, especialmente como
sendo o seu patrimônio mais valioso.
Além disso, havia sobre a sua mesa, um livro ainda no meio da leitura e
um caderno universitário para as anotações. Nessas páginas, encontravam-se as
impressões das leituras escritas em letras minúsculas.
Tanto Sakata, como Mikawa não conseguiam encontrar com sua
inteligência, as idéias que pudessem captar a tendência ideológica de Yamamoto.
Eles ficaram diminuídos diante da amplitude do conteúdo da biblioteca, ao
ponto de sentir a tamanha dificuldade em criar uma chance para abrir uma brecha
no assunto da Filosofia. Em virtude disso, procuravam conversar sobre os
companheiros de estudos ora desaparecidos, as lembranças dos tempos sofridos
nos bombardeios e da saúde dos seus amigos no período escolar.
Por outro lado, analisando os assuntos de Yamamoto, eles compreenderam
que ele possuía o interesse primordial pela Filosofia .
Numa noite abafada em pleno verão, enquanto se despedia de Yamamoto,
Mikawa disse:
— No dia 14 à noite, haverá uma palestra sobre Filosofia, em minha
casa. Você não quer vir para assistir?
— Filosofia? — ele perguntou com atitude hesitante, a fim de
confirmar o convite. Percebendo isso, Sakata respondeu para Yamamoto:
— É isso mesmo. O assunto é Filosofia.
— É a Filosofia de Bergson?
Yamamoto lembrou reflexivamente a "Filosofia da Vida" de um pensador
francês do século XX. Teria ele a simpatia pelo filósofo que recebeu o Prêmio
Nobel de

167
Literatura em 1927, ou então, possuía uma admiração pela filosofia do autor que
preconizou a teoria complexa sobre a reação espontânea inerente à vida, que é o
Intuicionismo, em oposição ao Materialismo Mecanicista?
Sem dúvida, ele também era um rapaz comum que vagava em vão pelo
pensamento ideológico em busca do ideal concretizado, ainda que, apesar disso,
não conseguisse até o momento, adotar uma Filosofia para si.
Sakata ficou totalmente perplexo pelo completo desconhecimento a
respeito do Bergson e não tinha o que responder.
Yamamoto continuou a perguntar com intuito de que iria sem falta, se o
assunto girasse em torno da Filosofia bergsoniana.
— Quem é o professor?
— É o professor chamado Jossei Toda. É formidável! Venha sem falta.
— Jossei Toda! É filósofo?
Ele torceu o pescoço, como que descobrisse algo novo.
Mikawa respondeu no lugar de Sakata:
— Ele ensina uma filosofia que elucida concretamente a vida em todos
os pontos de vista. Vamos sem falta? Eu virei buscá-lo aqui.
— Poderei ir. então? Poderia convidar, também, alguns amigos?
Sakata, muito contente, disse:
— Poderá levar quantos amigos quiser. Eu também
virei convidá-los.
Os dois companheiros deixaram a casa de Yamamoto.
Ele perguntou dos "amigos também" por ter lembrado de um grupo de
companheiros seus que, como ele, pertenciam a "Kyoyukai" como os membros
integrantes do Grêmio da Confraternização.

* * *

Nessa época, estavam sendo criados numerosos grêmios ou clubes da


juventude em todo o país, com seus respectivos nomes.
O lema de pós-guerra "A Construção de uma Nação Culta" era o único
anseio da juventude.

168
Sem dúvida, a derrota provocou uma violenta transformação em todos,
indistintamente.
Enquanto os homens formados viviam desesperados pela contínua
situação perplexa sob as sucessivas crises crises sociais, o sopro vital da
juventude, por outro lado, parecia nascer como uma força propulsora do
crescimento das plantas que rompem precocemente a terra gélida do inverno. A
maioria dos jovens iniciou as atividades culturais com sua própria iniciativa, É O
privilégio da nova geração como acontece em todas as épocas.
Entretanto, eles não possuíam uma elevada ideologia e nem uma visão
cultural profunda. Apesar de invocarem "Um país Cultural", no entretanto, a
maioria apenas possuía uma vaga idéia a respeito do significado real de uma
cultura almejada.
Afastados cada vez mais das salas de aulas em virtude dos serviços
intensivos convocados pela Pátria no meio da guerra, consequentemente
precisavam recuperar urgentemente o atraso e preencher a lacuna formada na sua
inteligência.
Antes de mais nada, os jovens procuravam novos conhecimentos. Não
podiam deixar de procurá-los, exatamente como aquele desejo de encontrar os
alimentos na ânsia de saciar o estado de fome.
São maldosos os líderes que apenas pensam em explorar e sacrificar os
jovens, impedindo que eles possam estudar e progredir iivremente à vontade.
Imperiosamente, isso fará destruir a construção da sociedade da geração futura.
Ora eles emprestavam os livros aos seus companheiros, ora lhes pediam
emprestados no proveito das leituras. Quando se reuniam, organizavam os
debates, liam em conjunto os livros de assuntos complexos, ora ouviam músicas.
Uma vez informados da existência de intelectuais os jornalistas nas
proximidades, imediatamente batiam às suas portas a fim de ouvirem suas
opiniões sobre os assuntos da atualidade. Outras vezes, convidavam os
especialistas ou jornalistas para as suas reuniões, a fim de ouvirem as exposições
dos seus conhecimentos.
Em outras ocasiões, promoviam entre os seus amigos, as reuniões de
diálogos ou estudos sobre a língua estrangeira.

169
Esses numerosos grupos, logo começaram a mostrar as suas características
diversas e peculiaridades, de acordo com as tendências e aptidões dos seus
líderes jovens. Uns promoviam as reuniões para a apreciação musical ouvindo os
discos, outros formavam as orquestras com guitarras e bandolins. . . ou
organizavam bandas para tocar nas boates, especialmente para as Forças de
Ocupação.
Alguns se transformaram num grupo especializado para danças, ao passo
que alguns outros se tornavam meramente um grupo social para o encontro de
rapazes e moças.
No fim, eram agremiações formadas por elementos jovens. Assim sendo,
estavam sendo sujeitos a mudarem facilmente de aspecto à mercê da vontade e
da arbitrariedades dos jovens.
Se um jovem de mau caráter tomasse a liderança do grupo, transformava-o
imediatamente em turma delinqüente e perambulavam em bandos à noite nos
mercados de câmbio negro. Eles sentiam apenas o prazer de estarem juntos. A
satisfação deles era a oportunidade de expressar livre e espontaneamente as suas
opiniões.
Esse agrupamento de voluntários e amadores era o único ambiente para o
conforto da juventude da época e ao mesmo tempo, o local para o
aperfeiçoamento da inteligência e da formação do caráter.
Em todos os lares daquela época, pareciam reinar as mesmas misérias e os
jovens estavam sendo asfixiados dentro desse ambiente sombrio e melancólico.
Poder-se-ia dizer que eles não suportavam mais esse estado de saturação.
Nessas circunstâncias, uma vez encontrados os companheiros jovens da
mesma idade, podiam esquecer do ambiente familiar estagnado. Assim,
despertavam entre eles, as idéias construtivas.

* * *

O Grêmio da Confraternização denominado Kyoyu-kai, no qual Shín-iti


Yamamoto pertencia, era uma agremiação de jovens dessa natureza. Entretanto,
a sua dedicação era séria e extremamente bem intencionada.

170
Talvez em virtude do apoio dos economistas que viviam na vizinhança,
dos graduados da Universidade de Tóquio e dos doutores titulares dotados de
uma personalidade excelente, Kyoyukai possuía contatos extensos com inúmeras
pessoas, resultando intensas atividades nos movimentos de absorção dos
conhecimentos humanísticos, literários e científicos, tais como: a Cultura, a Arte,
a Política, a Economia, a Filosofia, etc.
As profissões dos membros eram diversas. Havia estudantes, técnicos ou
funcionários públicos e outros, com idade entre 20 a 30 anos, formando um
grupo de cerca de 20 pessoas. Não havia o elemento feminino.
Numa certa noite, um membro relatou o resultado da pesquisa sobre o
Espírito da Renascença Italiana através da leitura da "Divina Comédia" de
Dante. Numa outra noite, um outro membro trouxe o assunto sobre o "Estado
Inflacionário da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial", com a pesquisa em
dois ou três livros de consulta. Em seguida alertou sobre o perigo da inflação
galopante do Japão, nessa época. Uma vez debatia-se em torno do Governo
Democrático ou Comunista e em outra ocasião, a respeito da posição do
Imperador.
Assim, os conhecimentos, mesmo os de amplo aspecto, foram sendo
absorvidos naturalmente e quase sem resistência dentro da árida massa cerebral
dos jovens.
Eis por que razão Shin-iti Yamamoto lembrou-se imediatamente dos
assuntos complexos como a Filosofia de Bergson ou de Schopenhauer quando
ouviu a respeito da "Filosofia da Vida" por intermédio de Sakata.
Yamamoto convidou à reunião do dia 14 à noite, sem perda de tempo, dois
ou três membros do seu grupo que possuíam uma forte inclinação à Filosofia.
Eles julgavam que pareciam estar procurando as culturas elevadas,
reunindo-se todas as noites; no entretanto, começaram a perceber que isso era
apenas um mero prazer de acumular os conhecimentos, mas que absolutamente
não serviriam para resolver as questões vitais.
O próprio Yamamoto sentia o desejo de possuir uma forte convicção e a
profunda visão atinente à vida e à humanidade.

171
O que eles desejavam conhecer sinceramente era a resposta direta e uma
questão muito importante — O que é a vida no senso real e correto?
Quantas e quantas espécies de vidas corruptas e anarquizadas, cercavam o
redor desses jovens. O "modus vivendi" dessa espécie foi visto por eles como
fatos corriqueiros, apesar de estarem rejeitando com toda sua reação. Então, qual
é a vida humanamente melhor? Na tentativa de encontrar a compreensão por si
próprios, eles chegaram a reconhecer que não possuíam uma resposta claramente
convincente.
Além disso, eles suportavam o peso de uma dúvida muito séria no tocante
a atitude que deveria tomar diante das peripécias da vida.
Eis a questão: — O que é um patriota? Qual é o critério de avaliação do
bem e do mal?
Apesar de crescerem no meio da guerra, mesmo que o seu país fosse
derrotado, não podiam deixar de amar a Pátria, assim como amavam o seu corpo
e o seu amor próprio.
Ao redor da sua residência, na zona industrial, desfraldavam as bandeiras
vermelhas e ecoavam as canções revolucionárias, a fim de incentivar as
passeatas e as demonstrações, ofendendo e rebaixando o Japão derrotado. Ouvia-
se, em seguida, os gritos das pessoas clamando que "a União Soviética é a terra
natal dos trabalhadores!". Pareciam ser fortes e corajosos em comparação com o
grupo Yamamoto que era incapaz de fazer algo em particular. Não somente isso,
chegaram até a pensar no heroísmo do senso de justiça como quem marcha com
tal convicção. Por outro lado, perceberam com perspicácia, a existência de um
odor mau intencionado contido nas suas palavras.
O patriotismo da ideologia militarista havia impregnado como manchas
negras na pureza branca dos cérebros dos jovens membros da Kyoyukai, desde a
sua infância. Isso também, eles perceberam que não passava de uma farsa.
Uma vez um certo liberal disse: — Quem foi mais desleal durante a
guerra, foram os oficiais do Governo que se dedicaram ao Imperador, para

172
seu proveito e glória, aproveitando-se do próprio Imperador.
O patriotismo desses jovens era completamente diferente. Almejavam um
patriotismo puro que superasse todas as épocas. Estavam cientes de tal
sentimento que ardia ao queimar dentro do seu corpo, sem saber por que razão,
pois, ainda não havia sido liquidado completamente o balanço final do término
da guerra no mundo espiritual deles.
Eram apenas rapazes seriamente dedicados. Por isso mesmo, poder-se-ia
dizer que sofriam em torno de duas questões: o patriotismo e a justiça do bem e
do mal. "Quem respondesse satisfatoriamente essas questões seria o nosso
verdadeiro mestre. Uma vez encontrado tal mestre, ele deverá ser seguido por
nós e para sempre". Assim era o pensamento unânime e com esse intuito eles
trocavam suas idéias, como se estivessem assistindo um sonho.
Em virtude da impulsividade própria dos jovens, o seu ideal filosófico
estava avançado ao ponto de transportá-lo na prática à procura de um Mestre.

* * *

Chegou a noite de 14 de agosto.


Com todo o entusiasmo confiante, Mikawa e Sakata vieram convidar
Yamamoto, mas ele aguardava a chegada de mais dois companheiros do seu
grupo, comprometidos a irem juntos. Eles não vieram ainda e pareciam estar
demorando.
Nessas condições, Sakata e Mikawa tentaram levar apenas Yamamoto;
porém ele rejeitou com firmeza e obstinadamente.
A preocupação não era apenas o atraso dos companheiros; mais do que
isso, ele estava exausto em virtude do seu estado febril, desde o início da tarde,
em conseqüência da tuberculose pulmonar. Suportava a fadiga do seu corpo,
tossindo levemente. Com obediência na promessa, ele aguardava a vinda dos
dois companheiros, apesar de que, no seu intimo, desejasse cancelar o compro-
misso da noite.
Entretanto, os dois companheiros chegaram com uma hora de atraso e ele
resolveu levantar o seu corpo febril.

173
Os cinco jovens foram andando pelas ruas escuras, em direção à casa de
Mikawa. Era uma casa isolada em Kita-Kojiya, Kamata, Tóquio.
Uma rua estreita em frente, separava a casa que felizmente se escapou do
incêndio e do campo inteiramente incendiado pelos bombardeios. Uma vasta
extensão de vários quilômetros, desde a linha Tóquio-Yokohama, passando pela
Estação de Kamata, até ultrapassar a linha principal Tokaido, era uma planície
devastada em conseqüência das bombas incendiárias.
Naquela época, havia barracas de fábricas provisórias com armação de
ferro e filas de casas populares ocupando pequenos espaços; porém no tempo de
início da cessação do fogo, era um deserto amplo de queimadas em toda sua
extensão visual.
O setor de Kamata, chamado também de "Jonan" era habitualmente, o
centro da área industrial de Tóquio. Portanto, a intensidade dos bombardeios
superava toda a descrição expressiva. Por incrível que pareça, as casas de Sakata
e Mikawa foram salvas desse violento incêndio.
O pai de Mikawa era um oficial técnico da Marinha e vivia praticamente
na linha de combate fora do país, mas a mãe era a fervorosa cultora da fé. Ambas
as famílas pareciam pertencer à classe média da época e portanto, suas casas
remanescentes do incêndio eram relativamente grandes. Essas casas que
restaram, serviram então, para cumprir suas missões, oferecendo o local para as
reuniões da Nitiren Shoshu.

* * *

Eram quase oito horas da noite, quando Yamamoto e seus companheiros


chegaram ao local da reunião, como convidados de Mikawa e Sakata.
Ao entrar pelo portão, ouviram voz grave de um homem no vigor da meia
idade.
Silenciosamente, os cinco jovens foram convidados a entrar na sala. Cerca
de vinte pessoas estavam sentadas em duas salas cuja parede divisória retrátil
havia sido removida.
Um homem de idade apreciável, de testa saliente com óculos de graus
acentuados, falava tranqüilamente, em frente à sala do fundo.

174
Não apenas os jovens, mas as donas de casa, as pessoas de idade, os chefes
de família e outros, estavam também ouvindo atentamente, sem mover o seu
corpo.
O sabor de uma certa seriedade intensamente enérgica estava sendo
introduzido no meio da atmosfera silenciosa. Era um ambiente completamente
exótico.
Yamamoto e seus companheiros estavam certos de que seria uma reunião
exclusivamente de jovens. Ouviram atentamente, embora com sua estranha
indagação, procurando saber que espécie de reunião seria afinal. Estavam
completamente perdidos no meio dos assuntos ventilados. Apenas conseguiram
sentir uma espécie de impacto vigoroso.
Nesse momento, Jossei Toda estava em plena exposição do 'Rissho-
Ankoku-Ron', a tese pacificadora do país, da autoria de Nitiren Daishonin. Toda
prosseguia a explanação, à medida que uma senhora jovem ia lendo o trecho do
original.
"Como é trágico a situação das dezenas de milhares de pessoas iludidas
entre numerosas doutrinas budistas durante dezenas de anos e consequentemente
perdidas nas circunstâncias diabólicas".
— Refere-se à seita Nembutsu, uma religião nova para aquela época,
fundada por Honen. Iludidas pelas influências nocivas da heresia, as pessoas
daquela época, ignorantes no Budismo, foram caindo no estado de infelicidades.
Não há outra circunstância pior do que isso.
— Quando o Honzon que é o objeto de adoração for incorreto, por
mais que se dediquem à fé, com todo esforço e pureza, o resultado será a
infelicidade. Tal princípio não se refere apenas ao passado. Aplica-se também
para o presente. O mundo religioso da atualidade é da pior qualidade e portanto,
as provas resultantes dessa toxicidade são bem mais profundas.
— Referindo-se a isso, Daishonin disse que "a maioria está perdida no
Budismo". A causa original de todas
as infelicidades da sociedade atual é a conseqüência real
de "a maioria estar perdida no Budismo" pelo desconhecimento da Verdadeira
Religião. Vamos adiante.

175
"Esqueceram-se do verdadeiro, atraído pelo provisório. Como os Deuses
Budistas deixarão de manifestar a ira? Abandonaram o Perfeito, dando
preferência ao Parcial. Como deixarão de atrair os demônios?".
— Esse conselho sagrado é a revelação da grande convicção de Nitiren
Daishonin, como um espesso paredão de ferro. Os homens modernos, ao
ouvirem essas palavras, aceitam apenas como se fosse alguma superstição
misteriosa. Isso acontece devido à ignorância na Filosofia do Budismo. Por não o
conhecerem, poderão então afirmar que não existe neste mundo? Nunca poderão
dizer isso. Na realidade, os homens vivem na maioria das vezes, desconhecendo
os fatos existentes.
— Uma vez conhecida a Filosofia da Vida, os dizeres de Daishonin
tornam-se evidentemente compreensíveis. Infelizmente, entretanto, os homens
modernos ficam perdidos diante dessa verdade, que é a tradição ortodoxa da
Filosofia do Budismo.
— Com base na Filosofia da Vida Eterna de Sakya-muni, na Teoria de
Itinen-Sanzen ou de Tien-tai e nos princípios da Eternidade-lnstante e do Eu-
Universo revelados na Magna Filosofia da Prática do Itinen-Sanzen de Nitiren
Daishonin, a compreensão torna-se clara e perfeita. Uma vez compreendido isso,
na verdade, tudo se torna mais fácil. Se analisarmos o Japão com esses prin-
cípios, poderemos chegar à conclusão de que, atualmente, não existem mais
"Shoten Zenjin", os Deuses Protetores da nação e das famílias.
— Os objetos de adoração, os mascotes e os amuletos xintoístas que
não possuem fundamentos na profunda filosofia do Budismo, agem somente
como veículos do trabalho dos demônios e absolutamente, não são condutores
para a felicidade. Pelo contrário, levam diretamente à infelicidade.

* * *

À medida que foram ouvindo, Yamamoto e seus companheiros


compreenderam que o assunto era sobre o Budismo. Apesar disso, não era um
tipo de sermão que louvasse

176
a graça divina. Yamamoto sentiu uma sensação estranha.
O assunto parecia estar perto e ao mesmo tempo, distante e profundo.
Shin-iti observava atentamente a face de Toda. Às vezes, Toda lançava os
olhares sobre o rosto de Shin-iti. Com o passar dos minutos, começou a notar
que aqueles olhares estavam sendo lançados especialmente para ele.
Em seguida, no encontro dos olhares, Yamamoto não podia deixar de
esquivar seus olhos, imotivadamente, como aquela atitude tomada por um
menino retraído.
Periodicamente, Toda fazia uma pausa, tomando a água a todo o seu gosto
e continuava sua lição. Mesmo na sua atitude livre de "Laissé faire et laissé
passe", continha sempre a atenção que não podia deixar de fazer sentir a tensão
emocional.

"Deve-se evitar "Uma desgraça" em vez de promover dezenas de milhares


de preces sem proveito".

— Esta é uma frase que não poderia ser pronunciada, senão, por
alguém que possuísse uma coragem extraordinária. Nitiren Daishonin definiu
que o Buda Amida é "uma desgraça" apesar de estar sendo adorado por todas as
camadas sociais, desde as autoridades feudais até à massa popular daquela
época. Sem dúvida, a reação de ira do povo e a perseguição das autoridades do
governo eram tão evidentes, como perceber o fogo na escuridão. Apesar disso,
Nitiren Daishonin, por ser o Buda Original de Mappo, afirmou sem ódio e sem
temor, que a heresia é "uma desgraça", a fim de salvar, sem distinção, os
perdidos na falsa doutrina, considerando toda essa massa popular como se
fossem os próprios filhos.
— Como um líder "Jiyú-no-Bossatsu e ao mesmo tempo o discípulo de
Nitiren Daishonin, eu também não posso deixar de proclamar a sustentação da
"Suprema Santidade" rejeitando "dezenas de milhares de seitas here-ges" para
salvar o povo do Japão que atualmente está no sofrimento infernal. A "Suprema
Santidade" significa Nitiren-Shoshu Fuji-Daissekiji, que possui a tradição his-
tórica de setecentos anos.

177
Era uma voz serena, dotada de uma convicção transbordante.
O auditório ouvia atentamente e o ambiente estava em silêncio completo
como águas tranqüilas.
A Shin-iti e seus companheiros, não havia chance de lembrarem pilhérias
nessa situação.
"O visitante reage com a surpresa especial, dizendo. .."
Uma jovem senhora começou a ler o parágrafo seguinte; mas a leitura foi
interrompida nesse momento por Toda.
— Vamos deixar por aqui, hoje. Mesmo com a lição de hoje em apenas
algumas linhas do 'Rissho-Ankoku--Ron', podemos compreender que Daishonin,
sozinho, dominava toda a essência da Filosofia do Budismo. Por isso, é
admiravelmente grandioso.
— Podemos considerar que é o Testamento escrito há setecentos anos e
deixado para nós que vivemos logo após a guerra. Enquanto não tentarem
resolver os problemas com base na Filosofia do Budismo, a paz e a felicidade
não poderão ter seus inícios nos indivíduos, nas famílias e no país.
— Uma vez que os senhores possuem o Gohonzon, a questão
individual do "Jobutsu" ou felicidade absoluta será seguramente resolvido.
Entretanto, pensando na família, no país e além disso, neste agitado século XX,
desejo eliminar todas as infelicidades e as tragédias deste mundo. Esse
movimento chama-se 'Kossen-rufu, para a Paz Mundial. Como acham? Vamos
realizá-lo juntos? É a paixão do pioneirismo em prol da felicidade para a hu-
manidade! Além disso, a sua decisão heróica era como alguém que hasteasse a
bandeira da Lei e marchasse na vanguarda com a convicção de completar a obra
da propagação com o risco da própria vida!
Ouvindo a grandiosa decisão de Toda, os jovens responderam
corajosamente:
— Vamos realizá-lo juntos!
Os chefes de família e as donas de casa concordavam com os gestos de
profunda meditação.

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Shin-iti Yamamoto era um rapaz seriamente assíduo e alheio aos traquejos
sociais. Mesmo assim, ele não podia deixar de sentir uma profunda admiração na
primeira impressão.
Prosseguiram as perguntas de duas ou três pessoas sobre os termos
budistas.
Toda ouvia as perguntas, mastigando as pílulas de cânfora. Em seguida,
respondia com todo seu prazer, olhando freqüentemente para Yamamoto, seus
companheiros e vizinhos.

* * *

Quando as perguntas e as respostas estavam praticamente no fim, Eiko


Mikawa se levantou subitamente e apresentou os seus convidados para Toda.
— Mestre! Trouxe o senhor Shin-iti Yamamoto. É meu colega de
classe!
— Muito prazer!
Yamamoto cumprimentou-o inclinando prontamente a sua cabeça.
Toda recebeu-o com um sorriso satisfeito e começou a conversar como se
fosse com o filho do seu amigo.
— Yamamoto, quantos anos você tem?
Toda não disse "qual é a sua idade". Em vez disso, perguntou "quantos
anos você tem". Apesar do primeiro encontro, ele falou como se fosse a um
conhecido de muitos anos.
— Tenho dezenove anos.
— Compreendo. Eu também cheguei a Tóquio aos dezenove anos. É a
idade com que eu vim para Tóquio, pela primeira vez, deixando Hokkaido, norte
do Japão. Fiquei totalmente desnorteado. Sem conhecidos e sem dinheiro, fiquei
muito triste. Apesar do meu gênio otimista, senti-me completamente abismado.
As suas reminiscências do passado, relatados humoristicamente,
provocaram sorrisos na fisionomia das pessoas que permaneciam na sala. Tentou
dizer algo em seguida, mas, subitamente, se emudeceu.
Os ouvintes aguardavam as palavras seguintes. Toda acendeu o cigarro e
fumando, mostrou-se contemplativo. A meditação continuava.

179
O ambiente estava sendo envolvido por um clima algo caloroso.
— Mestre! — de repente, Shin-iti Yamamoto quebrou
o silêncio. Os olhares de todos voltaram-se para ele.
— Tenho um assunto e peço-lhe que me ensine.
Toda observou Yamamoto com os olhos semi-cerrados, através do fundo de seus
óculos.
— Qual é o assunto? Ouvirei tudo que desejar.
— Mestre! Que espécie de vida seria uma existência humana correta?
Quanto mais penso, mais me sinto
confuso — perguntou Yamamoto, com atitude séria mirando os olhos bem
abertos.
Os supercílios levemente alongados deixavam sombras em brisas ao redor
dos olhos ingênuos, que estavam sendo envolvidos pelas impressões de
melancolia nas proximidades.
— Bem. Essa questão é a mais difícil de todas as questões difíceis —
disse Toda ressaltando as maçãs do rosto e esmagando o seu cigarro aceso.
— Penso que não há uma pessoa que atualmente possa responder
corretamente essa pergunta. Entretanto, posso responder essa questão, pois,
felizmente, consegui ler suficientemente, de corpo e alma, a Grande Filosofia da
Vida do Budismo de Nitiren Daishonin.
Dentro de sua voz tranqüila, transbordava toda sua convicção.
— Surgem diversas questões difíceis numa longa existência humana;
por exemplo, a questão da alimentação e da moradia. Além disso, nesta vida não
sabemos quais são as questões que eventualmente poderão surgir, como as da
sobrevivência, da economia, do amor, da doença, da guerra, da família e outras.
Nessas circunstâncias, as pessoas são torturadas como se a própria vida tivesse
espoliada e os sofrimentos, seriam consequentemente, como as ondas que
surgissem na superfície das águas e apesar disso, tais problemas são bem mais
fáceis de serem resolvidos. Existe ainda um sofrimento inteiramente original que
é impossível de ser solucionado.
Um ser humano, para viver, como deve resolver a questão da vida e da
morte? Eis a questão fundamental. Chama-se Círculo de Nascimento-Senectude-
Doença-Morte no

180
não forem resolvidas corretamente, não poderá haver uma vida humana
verdadeiramente correta que é a felicidade absoluta. Lamentar-se da culpa de ter
nascido e desculpar-se da própria infelicidade por ter vindo realmente a este
mundo, tudo isso de nada adiantaria.
Todos estavam na eminência de explodir em gargalhadas diante da sua
palestra humorística, mas, talvez em virtude do enorme peso da grande
complexidade do assunto que Toda explanava, eles procuraram dominar os risos
para aguardar seriamente as palavras seguintes.
Introduzir o humorismo e habilidade nas conversações é uma necessidade,
a fim de estreitar os laços de intimidade com os ouvintes.
Sabe-se que na Inglaterra, onde funciona o Parlamentarismo, admirado
como o modelo pela política mundial, por mais que os partidos entrem em
violentos debates, os políticos nunca esquecem do seu senso de humor.
Até mesmo na tormentosa Dieta japonesa, desejaria que os conservadores
e os liberais lutassem juntos à vontade, exigindo cada qual o direito de
argumentações, pelos seus representantes mas que sejam dignos e merecedores
de aplausos e apoio sinceros do povo.
— Absolutamente, não quero envelhecer. Pretendo permanecer moça
para sempre na flor da minha idade. Nada adiantariam esses desejos, pois, o
tempo passará e aos 40 a 50 anos as moças transformar-se-ão em senhoras idosas
de peles enrugadas. Mesmo que digam: "Desculpe, mas eu não aceito a doença";
isso também seria inevitável para esse corpo humano que ao envelhecer ficaria
com os órgãos todos desgovernados. Finalmente, a questão da morte. — Isso é
muito rigoroso. Todos pensam que podem viver muito, mas, cada um dos
presentes não poderá viver senão, no máximo 60 a 70 anos e depois não estará
mais nesta terra. Não adianta teimar que não quer morrer. Nem para os
possuidores de fortuna ou privilégio, que nada adiantaria. Da morte, ninguém
poderá escapar.
— A questão fundamental da vida, não poderá ser resolvida, mesmo
que se intensifiquem os esforços ou que se afirme a inabalabilidade da fé. É uma
triste realidade. Não há outro meio de viver, senão, conformar com essa

181
realidade e escolher as atitudes de resignação ou gozar de prazeres
momentâneos. Que absurdo!
— Entretanto, Nitiren Daishonin já resolveu para nós
essa questão fundamental da vida, tão difícil e complexa.
Além disso, orienta de maneira concreta a todo e qual
quer mortal comum, para que todos consigam chegar seguramente a tal situação
solucionadora. Onde poderão encontrar uma filosofia majestosa como esta?
Shin-iti compreendeu intuitivamente. Pareceu-lhe que a reunião pertencia
a uma das seitas do Budismo de Nitiren Daishonin, mas, ali não se viam bonzos
profissionais. Era completamente diferente daquela seita que ele conhecera na
infância, dirigida por gentes ignorantes que batiam tambores com trajes de
"quimono" branco. Era por demais estranho.
A palestra de Toda prosseguia.
— Faz bem pensar nessa indagação: "O que é uma
vida dignamente correta?" Porém, antes disso, aconselho
a aplicação do Budismo de Nitiren Daishonin na vida diária, em vez de perder
seu tempo em meditações. O senhor
é jovem ainda. Certamente, um dia descobrirá, mesmo
contra sua vontade, que estará dando passos certos sobre o verdadeiro caminho
da vida. Pelo menos nessa
questão, posso garantir com certeza, o que eu estou afirmando.
Após essa afirmação, ele acendeu o cigarro. Shin-iti Yamamoto observava
atentamente com o brilho de seus olhos cintilantes.
— Peço esclarecer mais uma pergunta. Como se define um verdadeiro
patriota?
— Ah! Isso é fácil. Massashigue Kussunoki era um patriota, assim
como Shoin Yoshida e o General Nogui. Não é verdade? Entretanto, o conceito
de "patriota" muda com a transformação da época. Vejamos então. O patriota é
aquele cidadão que mantém a fidelidade ao seu país e à nação. Como o Estado e
a nacionalidade mudam com o decorrer dos tempos, consequentemente poderão
mudar até a personificação do patriota. Se indagarmos a existência do patriota
que supera as épocas, a resposta final seria o devoto da Lei Mística. A razão
disso é que os seguidores fiéis ao Verdadeiro Budismo, conseguem salvar uma
por uma, a vida dos seres humanos e além disso,

182
constituem a fonte da salvação dos países atualmente infelizes e servem de bases
para a constituição da sociedade feliz e perene.
— É natural que aqueles que crêem e atuam a sua
fé na Doutrina Única e Suprema do "Myoho" são conceituados como os
melhores patriotas. Isso não é mera teoria. Nunca! Certamente surgirão nações e
sociedades com bases no Verdadeiro Budismo. Isso não traz dúvidas, mesmo
analisando através das transformações da história, da
ideologia e das nações. Absolutamente, não haverá outra alternativa. O futuro irá
provar tudo isso, na realidade.
Muitos poderão não acreditar no que estou dizendo. Um
dia ficarão surpresos quando os resultados começarem a
ser vistos na realidade. O Nam-myoho-rengue-kyo do Budismo de Nitiren
Daishonin é, com toda segurança, o possuidor dessa força propulsora. Daqui a
cem ou duzentos anos, os historiadores irão confirmar as minhas afirmações.
Toda encerrou a resposta como se estivesse correndo para o futuro distante
com a máxima velocidade.
Foi uma resposta espetacular, apesar da simplicidade. Talvez desejasse
explanar com mais profundidade, usando os termos técnicos exigidos pelo
Budismo. Entretanto, parece que ele concluiu com a explanação geral, julgando
que Shin-iti e seus companheiros não poderiam compreender o Budismo em
termos elevados.
— O que significa, justamente, o Nam-myoho-rengue-kyo mencionado
agora há pouco?
— No sentido rigoroso, a explanação tornar-se-ia complexa e diversa.
O assim chamado "Hatiman-hozo" ou "80 mil bibliotecas do ensino budista", em
última análise, pode-se dizer que são meios de elucidação do Nam-myoho-
rengue-kyo.
— Falando sumariamente, como conclusão é o princípio básico de
todas as leis existentes. Todos os fenômenos do Universo, desde os fenômenos
cósmicos e até o trabalho dos seres humanos e vegetais, tudo é o trabalho do
Nam-myoho-rengue-kyo. Portanto possui forças para fazer transformar até o
destino de todos os homens, É O princípio das forças do Universo que no
Budismo se chama "Kuonganjo", o início do infinito passado.
— Visto isso em outro ponto de vista, significa Buda de "Mussa-
sanjin" ou seja, Buda Original ou nome da Vida

183
do Buda Eterno. Dos mil anos após Sakyamuni, portanto, uma vez entrando na
Era de Mappo, o Buda é Nitiren Daishonin que inscreveu o Dai-Gohonzon,
possuidor da força e da vida do próprio Budismo de Kuonganjo.
Os complexos termos budistas começaram a saltar aos pulos. Shin-iti não
podia deixar de sentir um pouco de embaraço.
Toda, ainda continuou:
— Falando mais detalhadamente, a Pessoa e a Lei do Honzon são
uníssonos e formam uma entidade única ou Nimpo-lkka, chamada "Gohonzon"
ou Entidade real do Nam-myoho-rengue-kyo. Sakyamuni afirmou no "Muryo-
guikyo", a Introdução da Sutra de Lótus, que as "múltiplas leis surgem de um
princípio único". Esse princípio único é o Nam-myoho-rengue-kyo, o
fundamento de todos os fenômenos, pensamentos ou filosofias.
— Mesmo com essa explanação, não seria possível compreender ao
ponto de dizer 'já entendi'. Entretanto, sem o conhecimento desse princípio, a
vida, seja qual for, torna-se vã, por mais que se esforce na tentativa de não ser
arrastado para a infelicidade. A religião e a filosofia que ensinam erroneamente
esse princípio conduzem sempre os seus adeptos à infelicidade. Portanto, aqui
surge a diferença fundamental entre a religião verdadeira e a falsa. O fato mais
temível é acreditar no erro como se fosse correto. Eis aqui, a causa original de
toda infelicidade humana. ... Se me permite, desejo falar a noite inteira ou mais.
Entretanto, sr. Yamamoto, não acharia melhor estudar um pouco primeiro?
Toda dialogava pessoalmente com o rapaz, sem nenhuma desigualdade.
Suas palavras eram sinceras e a atitude também era sincera.
Shin-iti Yamamoto percebeu isso intuitivamente e adquiriu uma simpatia
profunda pela lealdade do caráter de Toda, apesar de não compreender o assunto
de Budismo. Por outro lado, era o rapaz que também gostava de criticar para
levantar críticas, como os outros rapazes da época.
Muitas vezes, alguém levanta criticas, previamente, a fim de elaborar a sua
opinião confirmadora. Se é para criticar apenas por criticar, poderão atirar
inúmeras flechas

184
do criticismo de qualquer lado, desde que se altere a situação avaliadora.
Shin-iti entretanto, sentiu-se completamente satisfeito no seu íntimo, na
sua sensibilidade profundamente complexa, sem contudo, cogitar as suas razões.
— Entendi. Estaria mentindo se afirmar que compreendi e portanto,
estudarei também. Desejo, finalmente, solicitar mais uma pergunta.
— Qual é o assunto?
— Como o senhor encara o Imperador?
Era uma época em que a questão do Imperador estava sendo cogitada
como uma questão de suma importância.
Toda começou analisar a situação com absoluta serenidade.
— Não há nada de extraordinário na questão do Imperador ou do
Regime Imperial, e nem deve ser encarado de um modo especial, quando é visto
aos olhos do Budismo. Não há razões para destruir a tradicional família imperial
que vem sendo conservada desde as gerações remotas. Por outro lado, não é
necessário, também, fazer um tratamento especial. Em ambos os casos, acho que
o Imperador está numa situação penosa.
— Visto pelo Buda, o Imperador é também um ser humano como os
outros semelhantes. Pode ser que exista diferença em algum lugar, mas eu não
acho. Na verdade, a existência do Imperador, não é a causa primordial da
felicidade ou da infelicidade atual da nação japonesa. A época mudou-se
completamente. Vendo-se a última Constituição Nova, podemos compreender
que a soberania do país passou para o povo e o imperador ocupa agora, apenas
uma posição simbólica. Concordo satisfatoriamente.
— O importante é como restaurar quanto antes, esse pais derrotado,
para um país cultural, pacífico e tranqüilo. Caso contrário nunca se tornará num
país capaz de contribuir para o bem-estar da humanidade. Não acha assim?
Foi uma resposta simples e direta. Era uma simplicidade surpreendente.
Não havia nenhuma sombra de diálogo demagógico. Shin-iti Yamamoto
permanecia com os olhos fixos sobre a face de Toda.

185
Justamente, foi nesse momento que chegou a hora decisiva da sua
afirmação.
— Que conclusão rápida! Além disso, não há uma
sombra de dúvida. Assim, posso confiar na orientação
desta pessoa.
Vivem na sociedade, muitas personalidades ilustres, aparentando ser
eminentemente nobres. Há, também, muitos eruditos convencidos, exibindo as
teorias, as ideologias e as filosofias como se fossem grandes professores.
Uma vez, um jornalista disse:
"Como são numerosas as pessoas que mostram ser grandes teóricos ou
políticos que, uma vez retornados aos seus respectivos lares, são derrotados pela
teoria da esposa ou que são desrespeitados pela mulher e pelos filhos ao ponto de
serem incapazes de vencer a própria política familiar".
— Nesta noite, entretanto, este homem correspondeu-
me atenciosamente, com lealdade e sem desperdícios.
Afinal, o que significa, para mim, este homem?
Para evitar a inconveniência quanto ao monopólio do diálogo, Shin-iti
sugeriu aos seus companheiros que fizessem também as perguntas.
— Vamos Ito e Massaki, aproveitando esta oportunidade, vocês não
querem perguntar algo, já que viemos até aqui?
— Não. Dispenso as perguntas.
Infelizmente, ambos concordaram sumariamente e emudeceram sem
nenhuma reação.
Na reunião dessa noite compareceram quase todos os dirigentes da cúpula
da Gakkai. Começando com o trio de Kamata que eram Harayama, Konishi e
Seki (Samba--Garassu, os três corvos) estavam juntos, Mishima, Yamadaira,
Takimoto, Yoshikawa e outros.
Eles acompanhavam com suas emoções aflitas, o desenrolar da tramitação
evolutiva do diálogo até à conversão de Shin-iti Yamamoto, sem afastar os olhos
sobre Toda e Yamamoto.
Toda permaneceu sem nada dizer. Yamamoto contemplava algo, com
olhares atentos, deixando a sua face inteiramente corada. Parecia estar
impaciente, desejando pronunciar algo, novamente.

186
Súbito, levantou-se decisivamente e cumprimentou, para falar:
— Muito obrigado, professor. Há o seguinte ditado célebre no Tratado
Preceitual Chinês 'Li Ching': "Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde; é
bom pensar mais uma vez, embora discorde". Creio na sua afirmação que
aconselha o estudo e a prática, especialmente aos jovens e sendo assim, peço-lhe
que o permita seguir, para poder aprender. Como prova do meu agradecimento,
peço licença para declamar uma poesia. Apesar de pouca habilidade. ..
Toda concordou silenciosamente.
Todos os presentes ficaram surpresos.
Shin-iti fechou levemente os olhos e começou a declamar com sua voz
sonora.

* * *

ó viajante!
De onde vens?
E para onde irás?

A lua desce
No caos da madrugada;
Mas, vou andando,
Antes de o sol nascer,
À procura de luz.

No desejo de varrer
As trevas da minh'alma,
A grande árvore eu procuro
E que nunca se abalou,
Na fúria da tempestade.
Nesse encontro ideal,
Sou eu quem surge da terra!

* * *

Os dois jovens literatos que o acompanharam, enviaram as salvas de


palmas e todos os demais saudaram batendo palmas também.

187
Todos sentiram-se admiravelmente surpreendidos. — Que jovem
excepcional!
Até agora, nas reuniões, nenhum jovem havia recitado uma poesia sequer.
Ninguém podia reter o conteúdo daquela poesia em sua memória.
Somente Toda, porém, ficou muito contente, quando ouviu a última frase.
Yamamoto não podia saber da existência do termo budista Jiyú-no-
Bossatsu, os missionários do Buda que surgem da Terra para o Kossen-rufu.
Somente que, aquela última frase foi recitada por ele, devido à sua
inspiração espontânea pela potência da vitalidade e da maravilha do grande
universo, vendo o surgimento dos vegetais anônimos cobertos de folhas verdes,
nascendo energicamente da terra com a chegada do tempo.
Dois ou três dias antes, ele pretendia escrever um poema, porém, por
incrível que pareça, as circunstâncias levaram para que ele declamasse nessa
reunião.
Toda chamou Yamamoto, no momento em que ele sentou modestamente,
com timidez tênue.
— Sr. Yamamoto, parece que está bem disposto, mas
como vai o seu corpo?
Yamamoto sobressaltou-se.
— Não me sinto bem. Meu pulmão está um pouco afetado.
— É tuberculose? Não se preocupe. Eu tive também e muito pior. Um
lado estava completamente inutilizado, mas foi se recuperando sem eu saber. Vá
comendo muitos frangos assados e bastante arroz, à vontade, e repouse quando
estiver cansado. Não se preocupe. Cuide da saúde. Está bem?
Dito isso, ele murmurou consigo mesmo:
— Dezenove! Sim. Aos dezenove anos...
Jossei Toda, no encontro com Shin-iti Yamamoto que apareceu esta noite,
sentia uma afetuosidade toda especial, sem saber por que razão.
Os demais presentes estavam entretidos na decisão para a conversão de
Yamamoto e seus companheiros. Porém, Toda evitou quaisquer cogitações sobre
os problemas dessa natureza.
Levantou-se para despedir, dizendo:

188
- Virei outra vez. A próxima visita será no mês que
vem.
O relógio indicava quase dez horas da noite.
Toda cumprimentou gentilmente os membros da família Mikawa no
portão da sua casa e em seguida, desapareceu no caminho escuro, seguindo a
mesma direção que os seus dirigentes retornaram.
Yamamoto mostrou a fisionomia tristonha por um instante.
Mishima e Yamadaira, que ficaram na reunião, estavam orientando
minuciosamente, para que os três jovens conseguissem preencher os
requerimentos para suas respectivas conversões.
Os dois companheiros rejeitaram a conversão, dizendo:
— Não consigo decidir.
Aos seus amigos Yamamoto disse:
— Nas palavras de Goethe, que foram lidas por nós
juntos ontem, havia uma frase — "A caminhada seria incompleta, se pensar que
um dia chegará ao ponto final. Cada passo do caminho é o próprio ponto final e
cada passo deve possuir o seu valor!" — Agora, eu sinto profundamente o
significado dessa frase. Pela primeira vez, vi realmente um mundo chamado
Budismo, com meus próprios olhos. Procurarei compreendê-lo. Dessa maneira
chegou o momento em que eu não posso mais deixar de fazer a minha decisão.
Entretanto, sem saber por que motivo, os dois companheiros silenciaram.
Mesmo para Yamamoto, a conversão significa uma sensação de constrangimento
por algo e que era levado a um mundo completamente diferente e desconhecido.
Era um complexo de sentimentos mesclados com o temor das trevas e da
preocupação de insegurança. Entretanto, nada se podia fazer com o choque
emocional dessa noite.
A questão do registro da conversão, já não era mais o problema. Até
mesmo a Filosofia de Bergson já estava dispersa no longínquo mundo das
teorias.
Um homem chamado Jossei Toda — Esta pessoa, por mais estranho que
pareça, foi para ele, uma lembrança inesquecível de grande afeto e saudade.

189
Passados os dez dias, domingo, no dia 24 de agosto, Shin-iti Yamamoto
recebeu "Gojukai", a cerimônia de conversão no Kankiryô, atual templo Shorinji,
em Nakano, Tóquio, acompanhados por Yuzo Mishima e Tyuhei Yamadaira.
O Rev. Taissei Horigome era o administrador daquele templo naquela
época. Posteriormente, ele foi ocupar o lugar de 65.° Sumo Prelado da Nitiren
Shoshu.
Após uma longa leitura de Sutra e recitação de Daimoku, Shin-iti recebeu,
finalmente, o Gohonzon. Ele não podia esconder as manifestações do seu
sentimento complexo.
Para ele que encara tudo com seriedade e devoção, preocupava-se muito
com o seu estado de saúde. Não se podia dizer que o seu corpo era forte e
resistente. Pelo contrário, era necessário lutar diariamente contra a doença. Sem
dúvida, nem ele podia estar certo de que podia devotar-se ao Budismo durante a
vida toda, para se empenhar inteiramente à revolução religiosa.

* * *

Toda, ao sair da casa de Mikawa, onde se realizou a reunião, tomou o


expresso Keihin e desceu na estação de Shinagawa para pegar a linha Yamate.
Os dirigentes que o acompanhavam, esperavam que fosse receber
orientações diversas, mas, nessa noite, por razões ignoradas, ele permanecia em
silêncio.
Toda lembrava a primavera dos seus 19 anos, a nostalgia dos tempos em
que ele chegou para Tóquio, proveniente de Hokkaido, norte do Japão.
Fora justamente em agosto daquele ano que ele se encontrara com
Tsunessaburo Makiguti pela primeira vez. Contemplava-se na saudade
surpreendente dos tempos decorridos desde aquele dia, com grandes e novas
transformações no seu destino.
— Naquela ocasião, Toda tinha 19 anos e Makiguti, 48 anos. — Agora,
Toda está com 48 anos e Shin-iti Yamamoto disse esta noite que a sua idade era
19 anos.
Desde os 19 anos, Toda vinha lutando para seguir e defender o seu mestre
Tsunessaburo Makiguti. Os tempos passaram com a mudança das épocas e quem
sabe,

190
se por ventura ele não estaria aguardando secretamente o surgir de um
jovem discípulo verdadeiro que seria como a gloriosa alvorada vindoura?
Toda fez menção de chamar um dirigente que estava segurando a argola
da alça à sua frente, mas preferiu voltar ao silêncio.
Esse dirigente, de maneira idêntica, permanecia também em silêncio,
indagando consigo mesmo a atitude estranha do seu mestre, naquela noite.

* * *

Jossei Toda lecionara no Grupo Escolar de Mayati, localizado numa vila


próxima às minas de carvão em Yu-bari, Hokkaido, a ilha ao norte do Japão, até
março de 1920 quando se mudara para Tóquio. É desnecessário dizer que era
uma vila fria e sem traços culturais.
Em 1917, ele tirara o diploma de professor primário, trabalhando e
estudando numa loja de atacados em Sap-poro, Hokkaido. Naquela época, um
conterrâneo e conhecido de sua mãe, chamado Amano, era o diretor do Grupo
Escolar de Mayati. Através dessa ligação pessoal, Toda fora indicado para
lecionar nessa escola.
Mayati era uma vila situada mais profundamente no interior da montanha.
Atualmente estende-se 16 km de estrada de ferro, desde Yubari. Mas,
naquela época, desde Numanossawa, situada 12 km adiante, até Mayati, que é
uma subida de 4 km, corriam os vagões puxados por cavalos, usados como
meios exclusivos para o transporte de carvão.
Mesmo para Hokkaido, deve ter sido, sem dúvida, um lugar monótono,
dentro de uma região dos minérios de carvão, no interior da montanha.
Apesar disso, a extração de carvão em Mayati já possuía uma
produtividade em grande escala, ao ponto de possuir no interior da montanha,
um grupo escolar com 8 classes e 400 alunos.
Um jovem professor de 18 anos, Jossei Toda que crescera nas praias, deve
ter ficado decepcionado, diante desse panorama rústico.

191
Lecionara para uma classe de alunos do 6.° ano. Porém, em fins de
fevereiro, subitamente pedira a sua exoneração, na véspera da graduação dos
alunos.
Toda dizia sempre, mesmo também aos seus alunos:
— Aqui não é o lugar para permanecer por muito
tempo. É melhor saírem daqui tão logo cresçam.
Ele pensara dessa maneira e ensinara também para os seus alunos.
Morava numa casa de mineiro e fazia suas refeições junto com a família
de um aluno que morava perto.
Um jovem professor da 2.a década, deve ter sido um bom companheiro dos
meninos e das meninas, durante as horas de lazer. Após as aulas, eles invadiam
freqüentemente a casa do professor, para brincar e estudar ao mesmo tempo.
O professor substituto do interior da montanha, fora intensivamente
estudioso. No verão de 1919, fora aprovado no exame de qualificação para
professor oficial e no fim desse ano tirara o diploma de autorização para lecionar
matemática e física.
Tal personagem fora muito estimado pelos alunos. O espírito dos meninos
e das meninas é puro e perspicaz. Muitos deles freqüentavam a sua casa para
estudar. A sua moradia, apesar de pequena, dava a impressão de um Liceu.
Ele deixava os alunos livre e espontaneamente à vontade nos estudos e até
mesmo nos momentos de travessu-ra e de brigas. Apenas observava-os com
sorriso.
Muitas vezes o comportamento dos alunos passava do limite de tal
maneira que chegava a disputar com o professor.
Uma aluna esperta, quando sentia que a sua situação estava em perigo,
tirava rapidamente os óculos dele. Imediatamente ele perdia a sua força de
ataque.
— Chega. Já perdi!
Ele temia que os seus óculos fossem danificados. Se os óculos fossem
quebrados, já, no dia seguinte, ele não podia mais ler nessa vila desprovida de
recursos.
Os alunos, orgulhosamente, davam os seus gritos de vitória, com o êxito
de uma única estratégia que podia derrotar o professor.

192
Raramente ele repreendia os alunos. Entretanto, repreendia-os
severamente, quando não faziam as tarefas por negligência ou mentiam
descaradamente. Realmente era rigoroso. Às vezes repreendia-os com lágrimas
nos olhos.
A sua permanência nessa escola fora apenas um ano e nove meses.
Portanto, os alunos que ele ensinara foram poucos. Apesar disso, os alunos
tiveram recordações mais fortes do que todos os demais professores.
Passado aproximadamente meio século, os ex-alunos e agora já idosos,
lembram ainda claramente na sua memória, a saudade dos tempos com o jovem
professor. Além disso, todos afirmam unanimemente:
— Era um bom professor. Havia aspectos rigorosos
nele, mas, até agora nunca vi um professor tão bom como
ele!
De acordo com a memória dos velhos alunos, sabe-se que Jossei Toda
desaparecera da vila Mayati, inesperadamente em fevereiro, na manhã de
inverno, na véspera do início das aulas. — Os alunos estavam fazendo as
algazarras na classe.
Naquele momento, subitamente abriu a porta de entrada para o professor.
Os alunos, imediatamente pararam de fazer barulhos.
Toda introduziu o rosto através da porta e olhou toda a extensão da classe.
Sem fazer perceber qualquer intenção, retirou a cabeça, fechou a porta e saiu
silenciosamente, sem dizer uma palavra sequer.
Desde então, o professor nunca mais apareceu na sala de aula. Faltava um
mês para a formatura dos alunos e das alunas do 6.° ano do qual ele se
encarregara. Nem mesmo apareceu na formatura de março.
A tristeza dessa época, mantém-se inesquecível, até agora, como uma
recordação evidente.
— Um dia tive a licença para investigar os diversos
registros do Grupo Escolar de Mayati. Entretanto, o motivo inesperado e
apressado da exoneração de Toda, estava completamente ignorado. — Havia
apenas o registro de sua demissão datada em 30 de março de 1920.
Por outro lado, há um ponto a ser investigado. O Diretor Amano, que o
admitiu, já havia sido exonerado e em seu lugar sucedeu o Diretor Endo.

193
Esse Diretor afastou-se no dia 30 de março, na mesma data em que Toda
pediu a demissão.
Depois disso, até à chegada de um outro Diretor substituto houve uma
vacância na cadeira do diretor por quase seis meses.
O afastamento do Diretor Endo não era por transferência. Não seria
errôneo concluir a investigação, se houvesse uma desavença entre os professores
que explodisse inesperadamente na manhã daquele dia.
Pode-se imaginar também que houve uma situação forçando a demissão
do Diretor Endo e o jovem Jossei Toda, partidário da sinceridade e da justiça,
não podendo manter-se alheio a tal situação, ficou solidário ao diretor.
Seja o que for, deve ter sido um fato inesperado.
Uma vez decidida a demissão, deve ter-se dirigido à classe, a fim de
comunicar sumariamente o motivo. Entretanto, no momento em que viu a
fisionomia inocente dos alunos que ora brincavam sadia e livremente, provavel-
mente, mudou de idéia.
Talvez evitara de falar para não magoar a inocência das crianças que nada
tinham que ver com os atritos exclusivos dos adultos. Na verdade, ele amava os
seus alunos, mais do que quaisquer outras pessoas. Não teria outra alternativa
senão fechar silenciosamente a porta, oprimido com a sua profunda emoção.
Nesse mesmo dia arrumou as malas e desceu pelos caminhos cobertos de
neve. Resolutamente e só, ele deixou atrás, o mundo prateado de Mayati.
Não deve ter havido nenhum remorso por abandonar a vila Mayati que
'dispensa a longa permanência'. Somente que, no caminho para Numanossawa,
dentro do trenó puxado a cavalo, teria ele sentido uma dolorosa contrariedade
por ter deixado os alunos que tanto amara.
De Numanossawa tomou a linha variante para Yuba-ri, deixou as malas
em Sapporo e quando chegou à casa dos pais. na Vila Atsuta, que parecia como
uma ilha isolada sobre a planície, seriam já, altas horas da noite.
No frio rigoroso de fevereiro, as roupas ficavam cobertas de neve e a sua
respiração gelava em branco. Apesar disso a sua convicção não se dava por
vencida

194
pelo frio; pelo contrário, mantinha-se forte, vigorosa e ardente de esperança.
As nuvens azuis da sua decisão devem ter encorajada a sua tomada de
atitude. Em poucos dias, ele se aprontou para ir a Tóquio, caminhando
continuamente a grande planície Ishikari, coberta de uma imensa camada de
neve.
Após a retomada, apressada, de bagagens deixadas na casa do seu amigo
em Sapporo, ele tomou o trem para a Ilha Principal.
Havia um irmão que possuía um bazar em Shiogama, Miyagui. Ali, ele
permaneceu por certo tempo e parece que, nessa estadia, elaborara os planos para
o futuro.
Quando chegou a Tóquio, já era início de março.
Procurou os amigos conterrâneos e permaneceu numa pensão junto com
eles.
Tóquio em flor! Meses de lutas árduas esperavam entretanto por ele até o
encontro com Tsunessaburo Makiguti.
Se por acaso, desde a sua chegada a Tóquio tudo corresse tão bem e
tivesse bons empregos e facilidades para o estudo, talvez terminaria a sua vida
sem ter encontrado com Makiguti.
Se, por acaso, não tivesse encontrado com o Mestre de toda sua vida,
chamado Tsunessaburo Makiguti, a existência e o destino de Jossei Toda estaria
caminhando para um rumo final totalmente diferente. Assim sendo, sua luta deve
ter sido árdua para poder chegar até o encontro com Tsunessaburo Makiguti.
Toda não podia permanecer estável. Ora trabalhava como servente na casa
do médico, ora como empregado provisório. Apesar disso, o seu grande ideal
permanecia inabalável.
Houve um filósofo ocidental que disse:
"Não há outra educação melhor do que o tempo e a dificuldade".
Uns jovens marcham corajosamente, vencendo os sofrimentos e as
dificuldades, enquanto outros, vencidos pelas circunstâncias adversas, caem na
vida de corrupções.

195
Alguns jovens transformam os sofrimentos e as dificuldades em sua
experiência e patrimônio, indispensáveis para o sucesso da vida, tal como diz o
provérbio:
"As ondas aumentam suas forças, toda vez que se encontram com os
obstáculos mais sólidos”.

* * *

Assim estava escrito no seu diário daquela época:


"Dia 1.° de abril de 1920.
Passou um mês, desde que cheguei a Tóquio. Embora fossem curtas e
pequenas luzes e sombras de um mês comparando-se com a existência de meio
século, a transformação espiritual nesse intervalo, ultrapassou bem longe os
meus vinte anos passados.. . Medito profundamente. Sou homem . . Devo ser
merecedor de uma grande missão e não devo deixar de aperfeiçoar o meu corpo
e espírito para cumprir a grande responsabilidade. Portanto, não devo deixar de
polir o meu caráter, a fim de preparar a capacidade para merecer uma grande
missão, como valor humano do país e líder da humanidade... Embora seja
pequeno o meu corpo, qual seria a sua qualidade? . . Não sei. Tenho apenas a
disposição para lutar.
Abandonando tudo, ainda resta apenas a dedicação ao aperfeiçoamento. A
inveja e a crítica das pessoas de hoje, não estão dentro dos meus olhos. Apenas,
desejo concretizar o meu propósito último e somente estou disposto a viver com
a força da fé.
Aperfeiçoamento. 1) Estarei estudando bastante? 2) Estarei orando para a
felicidade dos pais? 3) Estarei defendo os pequenos desejos mundanos para
pensar como cidadão do país e líder da humanidade? 4) Serei homem de grande
visão? 5) Não desperdicei por acaso o meu precioso tempo? 6) Sou sincero?".

* * *

Jossei Toda dos 19 anos estava escrevendo o diário dessa espécie em


Tóquio que lhe era estranho, numa pensão, debaixo de uma luz escura.

196
Apenas vivia, vigorosamente para o futuro depositando todo o seu talento
no aperfeiçoamento de si mesmo.
Foi um período da juventude, em que os jovens de boa família herdavam
grandes heranças dos respectivos pais que acumularam com árdua experiência.
Se por acaso, tornassem líderes da sociedade por herança, como poderiam
compreender o sentimento do povo? Uma das causas do erro e da infelicidade da
sociedade é proveniente disso.
No seu diário está escrito:
"Viver com a força da fé. . ." Mas, não possuía ainda a sua fé certamente
definida. No meio da luta árdua, ele estava à procura do Mestre e Soberano.
Dez dias depois, foi escrito no seu diário:

* * *

"Dia 11 de abril.
Ainda não encontrei o meu Mestre. Não achei o meu soberano. Por isso
mesmo, ainda não defini a minha filosofia.
Sinto, no meu íntimo, a necessidade de encontrar o Mestre e não posso
deixar de encontrá-lo. Para que serve a Universidade? Para que serve o Colégio?
Devo lutar intensamente na sociedade, conhecendo antes o lugar que o
meu íntimo procura, e assim, devo lutar intensamente.
Progredir dia por dia, somente com a satisfação íntima, não inclinando os
ouvidos para as conversas alheias.
O difícil é crer no espírito das pessoas. Seja independente e respeitado.
Mesmo que a chave do destino não possa abrir a porta da sorte, para abri-la, é
necessário cultivar a si próprio e por si próprio.
Observe, com a ampla visão e não, unilateralmente. Veja a extensa área de
terra por onde irá travar a sua luta. Tenho fé em mim, pois em nada adiantaria o
desprezo e a crítica dos outros".
O diário de Toda continuava:
"Não se deve temer o desprezo dos outros e nem a crítica da sociedade. . .
Uma vez que se levanta, adquira a habilidade e a convicção. Possua
conhecimentos através

197
de uma centena de gerações passadas. Não procure ser conhecido pela existência
atual. Procure a responsabilidade que lhe é atribuída e cumpra-a'".

* * *

É um entusiasmo ardente. Pode-se dizer que ele o conservou até o fim da


vida. Até então, naturalmente ele mesmo não sabia qual era a sua missão.
Deve ter entrevistado, sem dúvida, muitos conhecidos e veteranos.
Ele confessa aqui: "difícil é confiar na mente das pessoas. Seja
independente..." Não posso deixar de compreender que é uma frase que fala da
sua luta árdua.
Entretanto, nunca se lamentou.
Além disso, no diário desse dia, estão escritos quatro poemas em japonês.
Num deles, escrevia o seu passado em Mayati.

Sempre que me lembro,


Da Vila Mayati,
Onde, como dragão, eu deitava
Vendo o rosto das crianças
Incentivando-me sempre. . .

Ele não possuía nenhum desejo de permanecer em Hokkaido. muitos


menos em Mayati. Entretanto, ele ficava atormentado ao pensar nas crianças
inocentes que lá ficaram, deixadas após a sua partida inesperada.
Um dia, em abril, ele escreveu uma carta desculpan-do-se da sua atitude
para com os seus alunos, em Mayati.
"O professor de vocês está em Tóquio. Vocês devem ter ficado tristes pela
minha ausência, durante a cerimônia de formatura. Peço mil desculpas. Acho que
se assustaram com a minha partida brusca, mas não tive outra alternativa. Nunca
me esqueci de vocês. Quando tiverem alguma dificuldade, venham dizer-me
como sempre".
Em seguida, ele enviou os papagaios de papel, como presentes para as
crianças.
Levantando os papagaios bem alto no céu, os alunos devem ter enviado
"vivas" ao lembrar do seu professor.

198
Dessa época em diante, as correspondências entre o professor e os alunos
entrelaçaram-se durante o período de 15 a 16 anos.
Uma vez ele chamou um dos alunos para Tóquio e arrumou-lhe até um
emprego. Além disso, quando teve a notícia de que um aluno inteligente não
podia cursas a a notícia de que um aluno inteligente não podia cursar a teza, ele o
incentivou, enviando como presente, um pequeno dicionário da língua nacional.
Este menino, agora um homem idoso, ainda vive em Hokkaido. Lembra-se
com saudade profunda, a gratidão afetuosa por Toda, acariciando sempre aquele
dicionário, ainda que tornasse completamente desgastado com o tempo.
— O período que o professor Toda esteve em Mayati, foi muito curto e
nós aprendemos com ele, em pouco menos de um ano. Apesar disso, quando nos
ajuntamos com os nossos colegas, as conversas ficam animadas como sempre em
torno do professor Toda, mesmo que passem os anos. Agora, ele se tornou um
homem famoso, mas ainda não encontramos um outro professor tão profunda-
mente humano como ele.
É surpreendente o coração puro de uma criança. Poder-se-ia dizer que,
naturalmente, sem que eles percebessem, foram personificando a figura exata de
um homem.

* * *

A primavera também se foi e em seu lugar chegou um verão quente.


Para Jossei Toda não havia um dia de folga sem luta, desde que chegou a
Tóquio.
Lembrou-se intencionalmente de um parente de sua mãe que era general
do Exército chamado O e, apesar do parentesco distante, ele foi procurá-lo em
sua residência.
A família deixou entrar na sala o parente que veio da terra distante mas,
com muita tristeza, o portão da imponência não se abriu, para compreender o
ideal elevado de um pobre rapaz.
A esposa do general viu o rapaz que usava o velho uniforme tradicional de
Kimono forrado de algodão e de

199
Hakama (a calça em forma de saia longa e larga), em plena véspera de julho.
Apesar do trato formal, impecavelmente recebido, sentiu-se a existência de
preconceito social perfeitamente palpável no íntimo da mulher.
Em vez de procurar se entender na intimidade, evitava-o com distância,
para não se envolver com o rapaz.
No inicio, ele conversava inocentemente e com as boas intenções, diante
das boas maneiras, próprias da sociedade citadina. Mas, uma vez percebido que a
tal delicadeza não passava de um mero coquetismo, procurou retirar-se quanto
antes.
Ao despedir-se, a esposa do general pegou doces que estavam sobre a
mesa, embrulhou-os num papel branco e tentou entregar ao rapaz, forçando um
sorriso formalmente cortês. Nesse momento, ele rejeitou a tal atitude formal,
com indignação.
— Não vim aqui para receber isso.
A seguir, Toda deixou imediatamente a residência do general O, sem
voltar os olhos para trás. Nunca mais ele entrou naquela casa.
Durante toda a sua vida, nunca mais ele conseguiu esquecer desse insulto.
Sempre que lembrava dessa ocorrência, ele aconselhava a sua esposa, dizendo
reitera-damente:
— Jamais se deve julgar uma pessoa pela sua aparência. É impossível
julgar o futuro e a missão das pessoas, olhando somente as aparências. Na minha
família, nunca se deve julgar as pessoas com as aparências.
— Uma amarga lembrança, essa indignação, ele não desejava que
ninguém tivesse a mesma passagem.
Isso foi apenas um episódio, que mostra como ele lutou com sacrifícios,
naquela época desesperadora, em que chegou a Tóquio.
Foi nessa época que ele conheceu estudantes provenientes de Hokkaido e
sofridos pela própria subsistência. Encontrou-se também, com os veteranos
desses amigos.
No meio dessas pessoas, havia um que conhecia Tsu-nessaburo Makiguti.
Nessa oportunidade, nos meados de agosto, Jossei Toda conseguiu obter
uma apresentação para Tsunessaburo

200
Makiguti, por intermédio de um dos amigos conterrâneos, que também era
proveniente de Hokkaido, ora Diretor do Grupo Escolar do Setor Oeste do Bairro
Shita-tyô, Tóquio.
Quando Toda visitou a residência do professor Makiguti, sua esposa
estava tirando a água do poço, mas ao perceber que era a visita de um rapaz
desconhecido, veio imediatamente para recebê-lo no portão.
Makiguti ocupava uma posição exótica no mundo educacional em Tóquio,
naquela época. A sua teoria e a prática, única e exclusiva no método educacional,
era o ponto de atração para onde convergia a atenção dos intelectuais. Entretanto,
os magistrados arrogantes e ignorantes consideravam-no como uma "persona
non grata". Mesmo antes da guerra, Makiguti criticava o "Ato Educacional do
Império" consagrado como lei áurea ou artigo cristalino do ensino, rejeitando,
segundo sua opinião; como sendo mera "Moralogia Rudimentar".
— Com certeza, ele teria também sentido a mesma
tristeza de um pioneiro.
Os políticos-mandatários não devem esquecer que a causa fundamental do
grande atraso na construção, no progresso e na felicidade da sociedade e da
nação, está no impedimento da ação livre dos pioneiros, e isso acontece em todos
os países e em todas as sociedades.
Makiguti, homem de poucas palavras, mas dotado de uma dignidade
impecável, observou Jossei Toda de 19 anos, com o seu olhar profundamente
rigoroso.
Teria ele recebido com amabilidade, ao saber que o rapaz é proveniente de
Hokkaido?
Makiguti ouviu silenciosamente a apresentação dos antecedentes de Toda.
bem como suas opiniões. Através dessas informações, ele sentiu a pureza do
gênio e do idealismo entusiástico de Toda.
— Trouxe o seu "Curriculum Vitae"?
Ao perguntar, um sorriso gentil percebia-se nos cantos dos olhos de
Makiguti.
— Sim, professor. Está aqui.
Desabotoando o uniforme de estudante, ele tirou do bolso interno, o seu
"Curriculum Vitae" guardado dentro de um envelope.

201
Nesse momento precioso, Toda então desinibiu-se, dizendo:
— Professor, por favor, dê-me uma oportunidade
sem falta.
Apesar do primeiro encontro, por incrível que pareça, ele se aproximou
com tanta intimidade e afeto.
Makiguti estranhou um pouco. Mas. Toda repetia frisando o seu pedido
com sua inteira seriedade.
— Certamente conseguirei transformar os alunos retardados, ou sejam
quais forem, em excelentes alunos. Por favor, professor, se o senhor me admitir,
mais tarde sentirá a satisfação de ter encontrado um excelente instrutor.
— Está bem. Está bem.
Makiguti já estava sorridente, concordando com o seu gesto. Toda ficou
um pouco acanhado, mas sabendo que é o seu momento mais importante, disse
novamente a Makiguti:
— Por favor! Eu lhe peço, professor.
— Sim. Compreendi. Darei todo o meu apoio.
Nesse dia. a partir desse instante, ambos compenetraram-se mútua e
seriamente no entrosamento das idéias sobre a pesquisa e a prática da Educação,
por longas horas.
Não mais foi cogitado o assunto do emprego.
— Nessa época, Makiguti contava 48 anos de idade.
Nesse dia. Toda voltou para casa com uma alegria no seu íntimo, por ter
encontrado o Diretor Makiguti, mestre de plena confiança; a alegria essa que
jamais fora encontrada até então, no encontro das pessoas.
Logo após. ele foi admitido como instrutor dos alunos no Grupo Escolar
de Nishimati, Shitaya, Tóquio.
Em seguida, quando sentiu os prazeres e os sofrimentos dos trabalhos
junto com Makiguti, ele compreendeu que esse "chefe" seria realmente o mestre
para a sua vida inteira.
Era um Mestre rigoroso. Nunca na sua vida, Toda foi elogiado por ele.
Apesar disso, pela diferença de idade, parecia ser também, um pai carinhoso.
Enfim, Toda descobriu as virtudes de Soberano-Mestre-Pai na pessoa
chamada Makiguti, um educador ímpar

202
e lhe serviu com toda a sua fidelidade, devotando tudo de si, até o fim da vida.
Ele atravessou o caminho do discípulo, sendo mestre, Makiguti. Esta
profunda relação, chama-se SHITEI--FUNI no Budismo, ou Princípio Único do
Mestre-Discípulo.
Posteriormente, em 1928, Makiguti e Toda converteram-se à Nitiren
Shoshu. Antes da conversão, eles não conheceram o termo budista Shitei-Funi,
mas sabiam desta existência, evidentemente, no íntimo de cada um.

* * *

Agora, decorridos quatro anos, desde que Toda perdeu o seu Mestre —
Esse período, quatro anos de batalha em sucessão à obra do seu Mestre, foi como
o de um exército único que enfrentasse todos os inimigos.
Será que Toda, nessa época, estaria aguardando ansiosamente o
surgimento de um discípulo verdadeiro e confidencialmente seu, como ele serviu
para Makiguti?
As janelas do bonde estavam quase completamente sem vidraças. Não
foram colocados os vidros novos em virtude do déficit orçamentário.
Era um aspecto comum, que parecia identificar a cidade invadida de
Tóquio, e transformada em devastações.
Entretanto, o bonde corria sobre os trilhos, com seus barulhos
característicos, e indiferentes aos pensamentos próprios de cada passageiro.
Aproximando-se às onze horas da noite, os passageiros que
congestionavam os veículos em pleno dia, já diminuíam nessa hora e assim,
podiam sentir a brisa agradável da noite de verão, através das janelas de vidros
danificados.
O bonde passou por Ozaki e parou em Gotanda. A próxima estação era
Meguro.
Parecia que Toda estava ainda meditando.
Em cada estação, as pessoas cansadas desciam do bonde e outras pessoas
entravam, também exaustas.
Enfim, ele percebeu que havia chegado aos 48 anos de idade.
Nessa noite, quando Toda ouviu de Shin-iti Yama-moto que tinha 19 anos,
recordou a sua idade dos 19, há

203
29 anos. Mas, nesse momento ainda não conseguia lembrar da sua idade.
Dentro do bonde, ao se recordar dos diversos momentos de sua juventude,
surgiram nele, as reminiscências vividas de Tsunessaburo Makiguti.
Em seguida, ao perceber que o saudoso Mestre estava com 48 anos,
quando Toda tinha 19, surpreendeu-se, espantado.
— Estou com 48 anos. Shin-iti Yamamoto disse-me
que tinha 19 anos.
Através da janela, nos solavancos do bonde, ele contemplava a escuridão,
lá fora.
— Há muitos jovens com 19 anos. Entretanto, quem
me fez recordar as diversas passagens do encontro com
Makiguti, há 29 anos e de Toda nesses dias, não foi justamente o rapaz que me
encontrou hoje?
Ele pensou no dia seguinte. — Amanhã será dia 15 de agosto.
Recordou-se dos dois anos que passaram como sonhos, desde o dia da
derrota. Uma vez por ano, esse dia será uma data inesquecível, para sempre.
— Uns considerarão como o dia da humilhação.
Outros farão dessa data, como o dia da reflexão para dar
o início de partida, para um Japão Novo. Cada ano que
passa, as pessoas lembrarão desse dia, cada qual na situação em que vive.
Para Jossei Toda, o dia da derrota foi justamente o dia que ele viu com
seus próprios olhos, o maior prenuncio para o alcance do Kossen-rufu no Japão.
Infelizmente, a derrota é uma recordação triste e dolorosa, mas era
evidentemente uma conseqüência fatal da história de setecentos anos de
perseguição contra o Ensino de Nitiren Daishonin.
Antes de mais nada, a benevolência de Nitiren Daishonin deve ter feito
com que Jossei Toda levantasse sozinho com sua própria convicção, na missão
para a realização do desejo premente do Kossen-rufu no Japão. Sua decisão deve
ter nascido pelas circunstâncias de ser o verdadeiro discípulo de Makiguti e que
junto com ele enfrentou todas as dificuldades, com a coragem inabalável.
Aparece, agora, um jovem destinado a dividir os esforços com Toda que
contava 48 anos, a fim de suceder

204
à obra de Makiguti. Se o Budismo é certo, deverá surgir infalivelmente uma
relação de Mestre-Discípulo entre as duas pessoas que fatalmente deverão
realizar uma revolução religiosa, sem precedentes na história da humanidade.
— Aquele rapaz nada sabe disso, É bom que não saiba nada agora.
Procurando fazê-lo compreender a si, Toda desceu sorridente da
plataforma da estação de Meguro.

205
O Eixo

O ano de 1947, foi o período em que a nação sentiu mais intensamente a


miséria pela derrota no corpo de cada habitante. Todos aqueles que conseguiram
sobreviver naquela época, lembrariam de uma série de recordações das
perseguições diversas da pior espécie contra sua sobrevivência que, para isso.
não havia nem vergonha e nem compostura.
Numerosos delinqüentes que vagueavam na estação de Ueno, vozes de
tumultuações no mercado de câmbio negro em frente à estação de Shimbashi,
faces pálidas com ossos salientes nos transeuntes, olhos lânguidos; todos
estavam envolvidos no egocentrismo, no imediatismo e no exclusivismo e em
lugar algum na sociedade não podia descobrir o sopro da reconstrução heróica.
Não havia um lugar tranqüilo sequer, dentro do Japão. Apenas reinava o
privilégio do dinheiro proveniente dos negócios do câmbio negro. Portanto, foi
um período em que se via tamanha reviravolta no espirito das pessoas, que em
nenhuma outra época poderia ser visto.
Era uma absoluta falta de gêneros alimentícios. Vivia o povo com olhos
congestos na luta para vencer a sobrevivência do dia após dia, desprendendo até
os instintos que nada diferiam de outros animais.
O Governo tentou o seu plano de mportação de gêneros alimentícios do
Sudeste Asiático, a fim de aliviar a fome do país, no entanto, esse meio foi
proibido pelas Forças de Ocupação e assim, essa rota de suprimentos foi
interrompida. O único meio era depender das rações

206
farináceas que as Forças Americanas distribuíam. Essas rações foram
distribuídas como gêneros de primeira necessidade, para as medidas de
emergência. Para suprir a fome, embora precariamente, foram distribuídas as fa-
rinhas de trigo e de milho, junto com as assadeiras rápidas feitas à mão, que se
popularizaram.
Além disso, as batatas e as beterrabas foram as substitutas do arroz, e até
os galhos das beterrabas indistintamente trituradas, foram também transformados
e incluídos nas rações. As calorias eram extremamente baixas e cada pessoa
recebia apenas 1.200 calorias em média, por dia.
O aspecto era tal que, afinal, as pessoas recordavam os fatos passados e
ocorridos antigamente, na Era de Kamakura, quando na véspera do genocídio da
Família Miura, comiam a carne humana após esgotados todos os alimentos, e do
canibalismo que ocorreu nas Ilhas Filipinas, durante a Segunda Guerra Mundial,
também, peta falta de alimentos.
Realmente, a guerra é o pior de todos os males. Terminantemente, deve-se
varrer a guerra desta terra, que sacrifica a humanidade e que arrasta os povos
inocentes à tragédia.
Particularmente, pode-se dizer que os líderes belicistas que provocaram as
guerras foram os adultos. As crianças não tiveram culpa disso.
É necessário dizer que os adultos tem, por obrigação, impedir essa miséria,
ao se lembrar das crianças que estão na idade que necessita de alimentação à
vontade.
O mesmo drama acontecia com as roupas. Os tecidos distribuídos durante
a guerra pelo Governo, duravam pouco tempo e apenas uma peça íntima era,
realmente, um artigo de valor apreciável. Os homens de paletó em forma de
capa, com calças de soldados e as mulheres de tamanco, vestidas com sueter e
calças gaúchas, e com tais aspectos iam trabalhar nos escritórios do centro de
Tóquio, no Edifício Marunouti, mas, apesar disso, ninguém achava isso
engraçado. Trajes individuais, inventados por si próprios, foram sendo
combinados de acordo com a própria conveniência. Nunca, a não ser nessa
época, a

207
moda foi tão livre e enigmática, fora de quaisquer críticas ou nenhuma
obediência aos uniformes.
Entretanto, o instinto feminino impulsiona a mulher jovem a despertar o
desejo de vestir as roupas melhores e mais lindas. Não seria, também, natural,
que a vontade dos pais é procurar fazer vestir da melhor maneira, atraente e bela,
a sua filha em plena mocidade, que é um período muito curto?
A verdade é que, havia uma completa infelicidade da época, chegando ao
ponto de não poder condicionar nenhuma satisfação,e libertar-se desse traje que
é um pouco melhor do que o de um mendigo.
Quem mais sofre com a guerra é a mulher. Quem mais se desespera é a
mulher. Absolutamente, deve-se evitar a guerra mesmo para defender a mulher.
É justamente no período de paz que todos deveriam protestar contra a guerra.
As moradias também estavam em condições precárias e fora de quaisquer
cogitações. As cidades, naquela época estavam repletas de pessoas desabrigadas,
amontoando-se entre si.
Nas moradas em abrigos anti-aéreos, casebres cobertos de zinco deixando
atravessar as chuvas, as casas improvisadas construídas a baixo custo e outras
habitações. Assim, muitos viviam num sistema bem próximo à era primitiva.
Nisso, juntavam-se os soldados desmobilizados, os repatriados, os
desabrigados pelos incêndios, os desapropriados pela evacuação compulsória e
assim, nos seus lares, necessariamente precisavam dormir promiscuamente,
homens, mulheres, velhos e novos, todos juntos, umas dez pessoas num espaço
de apenas 6 'tatamis' ou 6 pessoas sobre 4,5 'tatamis'*.
O plano habitacional do Governo era praticamente inexistente. Nenhuma
solução era condicionada quanto o rápido aumento populacional e algumas
medidas de emergência eram apenas, como gotas d'água lançadas na areia seca.
Os velhos que desejavam passar tranqüilamente pelo menos o resto da sua
vida e os jovens que sonhavam com

* Tatami: Colchão para forrar o assoalho.

208
seu casamento feliz, quantas pessoas sacrificaram tão profundamente a própria
felicidade, no meio desse drama habitacional!
Apesar de que a guerra fosse indesejável pelo povo e que o mesmo odiasse
a guerra, as propriedades e as casas que foram construídas com o suor precioso
de uma vida, tudo transformou-se em cinzas. Não pode existir tamanha decepção
e tragédia maior do que a guerra. Para essas pessoas também, nunca deve existir
a guerra.
A dificuldade do trânsito era, realmente, o próprio inferno. Os
congestionamentos dos bondes e dos trens eram fatos corriqueiros. Ainda
estavam bem, se pudessem viajar mesmo com esses veículos, apesar de que esti-
vessem na maioria desprovidos de vidros, mesmo em pleno inverno e além disso,
com as tábuas pregadas em seus lugares, fazendo escurecer mais o interior dos
vagões.
Nas viagens a longa distância, as passagens eram limitadas e
consequentemente não se podiam encontrar com as pessoas desejadas e isso
causava grandes inconveniências nos negócios.
Havia fila de passageiros nos guichês em cada estação para esperar horas e
horas a fim de conseguir apenas uma passagem para cada pessoa. O desperdício
de tempo na compra de passagens era muitas vezes bem maior do que o tempo
de viagem.
Indo ao mercado de câmbio negro nas cidades, quaisquer gêneros
alimentícios ali eram encontrados, desde que tivesse o dinheiro. — Um
provérbio que diz: "mesmo as disputas no inferno, também se resolvem com o
dinheiro", nunca em outras épocas a não ser nesta, foi tão inflamado e
impregnado no espírito das pessoas. Entretanto a maioria não possuía nem
mesmo esse dinheiro. A marcha da inflação ia desvalorizando o preço da moeda,
à vista dos olhos do povo.
Os lares, em todo o Japão, viviam diariamente sob terrível déficit, com
exceção da minoria, os donos do câmbio negro.
Por exemplo, o preço do arroz na tabela subiu 25 vezes em apenas dois
anos, até dezembro de 1947, em comparação ao preço da tabela, vigorado em
dezembro de 1945, ano da cessação do fogo. Além disso, o índice de aumento
saltou para 60 vezes no ano seguinte. Apesar

209
de ter sido realizada a reforma salarial, o povo não podia acompanhar esse ritmo
de aumento.
Para cobrir o déficit, cada família era obrigada a vender suas roupas e
utensílios adquiridos antes com tanto custo. Portanto, não havia outro meio de
viver, senão, vendendo-as. A manutenção da sobrevivência era muito penosa, se
não adquirisse os artigos necessários no câmbio negro. O clima de
intranqüilidade na vida social aumentava cada vez mais.
O maior problema da vida diária era onde conseguir e como conservar os
alimentos. Se não comprasse no câmbio negro, mesmo por meios ilícitos, não
havia outra alternativa senão morrer. Por incrível que pareça, o Japão
transformou-se na era dos cem milhões de negociantes em câmbio negro.
Nunca e absolutamente, os dirigentes deverão deixar repetir no futuro esse
quadro drástico para a nação.
Por outro lado, o povo deverá gravar no fundo da sua consciência, a
temeridade contra os seus dirigentes ineficientes.
Nessa ocasião, os professores de Filosofia e os Juizes de Direito, fiéis à
Verdade e à Justiça, considerando que o dever do cidadão é respeitar a lei de um
país civilizado, rejeitaram com vontade própria, todas as compras no câmbio
negro. Consequentemente, surgiram nessa época, as notícias com os casos de
morte pela fome.
Um Juiz de Direito deixou assim escrito no seu diário:
"A Lei do Controle de Gêneros Alimentícios ó uma lei maldosa.
Entretanto, como é lei, a nação deverá obedecê-la absolutamente. Respeito
sempre o espírito de Sócrates, que apesar de estar ciente da lei maldosa contra
ele, aceitou-a corajosamente e morreu em sua obediência. .. Evidentemente, a
minha luta com a morte pela fome, foi contra o mercado de câmbio negro e
assim sendo, a minha vida diária foi uma verdadeira luta contra a morte".
A marcha para a morte não se encontra somente nos campos de batalha,
onde voam as balas, incessantemente. Infelizmente, a marcha para a morte
ocorre também na plena simplicidade de uma vida diária honesta em que deveria
existir a paz, desde que se obedecesse a lei. Isso mostra claramente a completa
anormalidade existente nos

210
aspectos da vida diária do povo daquela época. Portanto, o que deixou escapar da
morte pela fome, foi naturalmente a existência do câmbio negro em circulação
no mercado, alheio à existência da lei.
No meio dessa situação, Jossei Toda e seus discípulos estudavam as lições
sobre Budismo, promoviam as reuniões e palestras, saíam para o Chakubuku,
faziam as Peregrinações ao Daissekiji e além disso, participavam nas viagens de
orientações regionais, com o espírito de voluntarismo próprio.
Como devem ter sido penosas as atividades!
Além disso, para fazer o Gongyo da manhã e da noite e orar Daimoku,
tanta coragem e quanto esforço foram necessários, além da extraordinária fé!
Seria um sacrifício que ninguém hoje poderia imaginar.

* * *

Jossei Toda estava prognosticando profundamente a conturbada situação


da época, analisando através de "Rissho-Ankoku-Ron, a Tese da Pacificação do
País com o Verdadeiro Budismo". Percebeu, então, que os Sete Desastres que
Nitiren Daishonin interpretou nessa Tese, sucedera agora, em ordem inversa.
Os dois últimos dos Sete Desastres, que são bem maiores, chamam-se a
revolução interna e a invasão externa conhecidos como "Jikai-Hongyaku" e
"Takoku--Shimpitsu". Destes, dir-se-ia que o pior de todos foi a invasão externa
ocorrida pela primeira vez no Japão e culminada pela Rendição Incondicional
sem precedentes, com a ocupação das Forças Aliadas em 15 de agosto de 1945.
Em seguida, os desastres sucederam em ordem inversa e vieram mostrar os
indícios de "Jikai-Hongyaku". É a luta interna, como a briga entre os
companheiros. Essa, em escala maior, é a luta incessante dentro de uma nação.
Houve caso de homicídio dentro do lar, proveniente de ódio por causa de
comidas. Dentro do bonde havia sempre discussões em altas vozes, entre os
passageiros.
No mundo econômico percebia-se que a produção estava sendo deixada de
lado pelo antagonismo do capital e do trabalho provocando a greve sem proveito
para a

211
melhoria da vida diária, apesar dos esforços sacrificados de ambas as partes
antagônicas.
Os partidos políticos, ora se congregavam e desagregavam por repetidas
vezes e parecia que iam sendo divididos em pequenas facções partidárias. Apesar
de estarem diante do desastre nacional dessa natureza os políticos permaneciam
ocupados até noites em claro travando as lutas partidárias, deixando de lado o
povo cada vez mais pobre. A máquina administrativa do Poder, flutuava como
um barco na tempestade.
Enfim, as pessoas perderam a confiança mutua para cometerem as
traições, forçosamente entre uns e outros, para defender a própria sobrevivência.
Não faziam exceções as numerosas agremiações diversas. Contudo, apesar
das diferenças quanto ao grau, começavam a aparecer os sinais de tumultuações
dentro dessas agremiações.
Sucederam-se as lutas internas dentro das organizações religiosas, quer
entre as religiões antigas, quer entre as novas. As religiões novas, especialmente,
se dividiam e se subdividiam, formando as outras religiões novas.
As meditações de Jossei Toda superpunham -se umas sobre as outras. —
O avanço e a construção da Nitiren Shoshu dia a dia mais importante, e a sua
responsabilidade também aumentavam cada vez mais. Como deve ser a estrutura
da Nitiren Shoshu?
Foi, nessa época, em que ele começou a trocar as idéias sobre tais assuntos
com seus dirigentes imediatos, diante da desagregação resultante em outras
agremiações diversas. Disse Toda:
— No mundo atual, qualquer agremiação é muito difícil de se escapar da
luta interna. Pode ser que haja causas diversas. Porém, a causa fundamental está
na profanação à Verdadeira Doutrina. Somente a organização leiga da Nitiren
Shoshu poderá, na realidade, escapar-se de tal destino. O motivo é simples. É a
única organização que possui o Verdadeiro Budismo. Possuir o Gohonzon para
defender o Budismo é o eixo básico e tron-cular. Portanto, se o eixo for
resistente, não haverá nenhuma preocupação, mesmo que um par de rodas cha-
madas Nitiren Shoshu se torne enorme, que aumente a sua velocidade propulsora
ou que corra à grande distância.

212
Agora estou dispendendo o máximo do meu esforço para consolidar um eixo
absolutamente inquebrantável e duro como diamante. Para isso, não há outra
alternativa senão o trabalho da forte e intensa fé.
— Inúmeras e diversas associações civis e religiosas iniciaram seus
movimentos atraentes, mas apesar disso não devem dar atenções para tais
eventos. Um dia, serão condenados para o destino da dissolução ou da
desagregação. Não há neles, as razões para evitar o desastre da luta interna. Essa
desagregação é o destino inevitável, profetizado na Escritura Budista.
— Futuramente, quando a Gakkai tiver um progresso enorme, surgirão
numerosos líderes de méritos e vendo isso, a turma de fora, dirá que "Gakkai irá
desagregar" ou que "surgiu a facção partidária na Gakkai", por razões de ciúmes
ou de tática... Entretanto, não há nenhuma necessidade para sentirmos
abalados. Se marcharmos com a fé em primeiro lugar e na base do Verdadeiro
Budismo até o dia da Paz Mundial, poderemos avançar com o admirável
companheirismo e surpreendente união, impossíveis de serem compreendidos
pelos outros. O mais importante é o dirigente. É a fé em ação. Todos devem
marchar juntos harmoniosamente, de sã consciência, para o alcance do Kossen-
rufu, a Paz Mundial, a fim de não serem repreendidos por Nitiren Daishonin.
Os lideres sentiram-se estranhos por não perceberem por que razão Toda
dizia isso como se fosse um assunto importante, pois não podia haver e nem
podia existir, mínimo de divisionismo na Gakkai, daquela época. Em primeiro
lugar bastava dizer que não era ainda uma organização em grande escala.
Durante a guerra, Gakkai foi destruída pela supressão do Governo Militar, mas
nunca evidentemente a sua destruição foi causada pela própria responsabilidade
ou pela sua luta interna.
Vendo as fisionomias desapontadas nos presentes, Toda começou a se
irritar.
— Talvez vocês não compreendam o que estou dizendo agora. Apesar
disso, gravem sempre na memória. Se, por ventura, a Nitiren Shoshu esquecer a
sua missão fundamental e criar as impressões desagregacionárias, então, a
organização será dissolvida imediatamente. O que acontecerá, se trincar o eixo
de diamante, mesmo que a

213
sua ranhura fosse mínima, do tamanho da raiz dos pelos? A sua função como
eixo estará totalmente perdida. A nossa Gakkai é diferente das outras
organizações devido ao próprio eixo que é completamente diferente.
— Quem viola "Wagosso", isto é, destrói a união harmoniosa, comete
um dos Cinco Maiores Atos Criminosos, chamados "Gogyakuzai". Como a
Nitiren Shoshu é uma organização fundamentada na fé pura e verdadeira, cer-
tamente conseguirá a união, de conformidade com os Ensinos de Nitiren
Daishonin. Se a Gakkai for dirigida por líderes e adeptos que visam a fama e os
proveitos próprios, tais intenções serão tão medíocres e por não entenderem a
sublime e a grande missão da Gakkai, um dia irão à falência. É preferível que
mudem o quanto antes para as outras organizações de fins lucrativos. Entretanto,
a união não se consolidará por mais que gritem "união" e mais "união". Para uma
união sólida é necessário um eixo indestrutível como diamante. É o dinamismo
da fé pura e forte. É a decisão consciente do dirigente e do senso da sua missão a
cumprir. Se cada um crescer a passos largos para o seu objetivo, evidenciando ao
máximo a sua própria força, se criará, então, uma união naturalmente profunda.
— Assim sendo, não há o que temer neste mundo, É exatamente como
diz Daishonin: " Tudo se faz com a união. É "Itai-Doshin". Itai, significa o
desenvolvimento máximo da personalidade, na circunstância em que se situa a
própria vida. Doshin, significa a fé chamada "Shin-jin" e sua atuação consciente
sobre o objetivo comum chamado "Kossen-rufu". Eis a questão chave para a Paz
Mundial. Todos nós e eu inclusive, devemos proceder exatamente como ensina
Daishonin. Isso é o espírito da Gakkai.
Toda fez uma pausa aqui e ergueu a cabeça como se tentasse contemplar
algo. A sua fisionomia era sadia e corada mas apesar disso, sua expressão era
severa.
— Repito mais uma vez a minha afirmação, pensando para o bem do
progresso daqui para frente e do futuro após o progresso. Peço a vocês que são
dirigentes, "sintam-se como sendo sempre o eixo da Gakkai". Todos
pensam que estão atuando a respectiva fé a todo vapor,

214
e penso que isso seria a realidade. Mas, apesar disso, peço não esquecer nunca a
missão específica que cada um irá cumprir dentro da Gakkai possuidora da
missão importantíssima.
— Enfim, falando explicitamente, eixo da Gakkai deixará de ser
indestrutível como diamante, quando surgir os mínimos e desnecessários atritos
entre vocês e eu, mesmo com a intromissão de um pequeno fio de pelo. .. por
acaso, estão me entendendo? Para evitar o tal atrito, deverão aperfeiçoar mais
genuinamente a fé e conservar a devoção fortalecida durante toda a vida. A
verdadeira união não se cria com o pensamento ou com a atitude formal. A união
sólida se formará naturalmente com a devoção persistente na fé pura e devotada
ao Dai-Go-honzon.
— Aqui difere fundamentalmente de outras organizações como os
Sindicatos e outras que tem a base no interesse econômico. Seus destinos finais
são sempre a dissolução, pois, não há outro objetivo, senão o interesse
econômico. Por outro lado, a nossa união nunca terá a divisão. Se por acaso, a
união for impossível, isso significa a própria destruição.
— Na época em que vivia Nitiren Daishonin, surgiram Daishimbô e
alguns outros tolos contraventores do Verdadeiro Budismo. Todos eles,
entretanto, receberam a Punição Divina e tiveram o seu fim muito triste. Na épo-
ca de Nikko-Shonin, havia também os desejosos da fama e do interesse próprio
como os Cinco Velhos Bonzos, mas destinaram-se à decadência, contrária a
união sucessiva em torno do Verdadeiro Ensino e da Verdadeira Prática.
— A Nitiren Shoshu é uma organização ímpar que nasceu da vontade e
da expressão do Buda. Portanto, possui uma união surpreendente, muito além da
imaginação de vocês. Quem faz movê-la e progredi-la admiravel-mente é o eixo.
Portanto, chegou a hora imperiosa de construir um eixo indestrutível como
diamante... desejo que cada um de vocês se torne um elemento admirável como
constituinte desse eixo. Concordam? Entenderam-me? Entenderam alguma
coisa? .. . Por favor, entendam-me!

215
Nessa noite, após o encerramento da reunião e dispensado os demais
dirigentes, um certo número de líderes mais chegados a Toda, permaneceram na
sede, em Nishi-Kanda, para ouvir essa orientação.
Os líderes ouviram as vozes de Toda, com profunda seriedade, ainda que
severamente grave. Entretanto, como o assunto estava completamente fora de
cogitação, dir-se-ia talvez que eles não chegassem a compreender as palavras de
Toda.
Ele dedicava intensivamente para a formação das raízes para uma árvore
enorme e magnífica, seguindo o princípio "das raízes quanto mais profundas seus
ramos são mais densos". Sabia que as raízes sendo pequenas e frágeis não
poderiam sustentar as lindas flores com as densas ramagens, para manter a
continuidade da sua vida.
Nas falsas religiões é muito comum encontrar o seu fundador que julga
ser, apenas ele, o dono da iluminação e os demais seguidores são tratados como
ignorantes e tolos. Seus crentes permanecem como escravos do seu chefe
fundador.
O Verdadeiro Budismo prega o verdadeiro princípio da Unidade Mestre-
Discípulo conhecido como "Shitei--Funi" e orienta de tal maneira que os
discípulos devem caminhar juntos com o mestre e evoluir mais que o próprio
mestre a fim de prestar os benefícios para a sociedade.
As primeiras são ilógicas e comumente são conhecidas como "A Religião
para o proveito da própria Religião" e que se transformam numa empresa de
religião para negócios. A última é uma fonte originária e necessária para viver. É
o princípio vital da vida cotidiana. Portanto, possui o fundamento na Filosofia,
sem nenhuma contradição.
O Budismo foi considerado genericamente como sendo algo
incompreensível e intangível, situado a distância e envolvido por um nevoeiro.
Entretanto, abrindo os olhos ao Verdadeiro Budismo, compreende-se claramente
que é o princípio concretizador da absoluta felicidade encontrada tão perto de
nós.
As Doutrinas cujo ensinamento é forçado a se alterar com o progresso dos
tempos ou cuja religião é cheia de

216
contradições, estas devem ser rejeitadas por serem religiões incorretas.
Toda abriu-se em direção para o futuro e atirou todos os tipos de
orientações para os discípulos, com base no Verdadeiro Budismo. Sobre um
ramo de crisântemo surge uma flor inteiramente amarela. Abre-se a bela flor de
narciso, nascida de uma pequena raiz bulbar. Com o impulso da genuína fé pelos
devotos da Lei Mística, a Gakkai também cresceria e além disso, iria florescer
maravilhosamente as novas e modernas construções dentro da sociedade. —
Talvez Toda desejasse explicar dessa maneira.
Quando ele disse: "por favor, entendam-me", eles
sentiram profundamente a sua imaturidade e inexperiência como discípulos.
Alguns sentiram-se envergonhados e outros, ficaram emocionados com o
idealismo profundo de Toda, ao ponto de se apresentarem com atitude digna
de respeito.
— Um dia irão compreender o que lhes disse esta
noite. Virá a época em que deverão lutar cada qual na
sua situação, arriscando a própria vida, em defesa de
um grande número de membros da Gakkai. Então, nessa
hora, mesmo que não queiram, compreenderão! Eis aqui
o princípio básico da organização da Gakkai... hoje à
noite parece que eu trouxe assuntos tão complexos! Entretanto, se alguém
marchar para frente com a coragem
como discípulos de Nitiren Daishonin, tal pessoa é o próprio diamante
indestrutível. Mesmo sendo um diamante,
se não for polido, não compreenderá o seu valor como
uma pedra preciosa. A ordem é polir a própria fé, no
meio de uma disputa séria para conquistar a vitória e não
a derrota. Uma vez vitorioso, a boa sorte será acumulada,
sem dúvida, imensuravelmente.
Os ouvintes em silêncio completo, chegaram, afinal, a responder:
— Sim.
— Sim, senhor, compreendemos.
Enfim, parece que apareceu um sorriso na face de Toda.
— Vamos, então, comemorar, hoje à noite? Que tal
o frango assado com aperitivos? Venham todos.

217
Sairam para a rua e foram andando na brisa noturna e suave do início de
outono.
Desde que o saudoso Mestre Tsunessaburo Makiguti se foi, era
desnecessário dizer que Jossei Toda seria o eixo único. Não somente isso, era o
único eixo remanescente que sobreviveu até após a guerra.
Esse eixo solitário, ao se levantar com o ideal do grandioso movimento de
"Obutsu-Myogo" isto é, pacificar a nação pela democracia budista, ele estava
ciente de que o tipo de organização deve ser originalmente diferente de todas
outras, tais como a dos militares e a dos sindicatos. Sabia que a Gakkai merece
uma organização que nunca existia até então.
Por falar em organização, o corpo humano é também um sistema
inteiramente organizado. Em toda sociedade há sua organização. A época exige-
a pela sua necessidade imperiosa de organizar-se. Portanto, a ela deve ser
elaborada, visando a meta no cumprimento da missão, de tal maneira que as
orientações e as divulgações sejam bem mais eficientes, valorosas e proveitosas
e sobretudo, devem trazer a felicidade para todos os seus membros, pelo usufruto
do seu benefício.
Pela primeira vez, hoje à noite, ele revelou uma parcela do seu
pensamento para o futuro. Entretanto, o grau de compreensão dos lideres, ao seu
redor, estava muito lento.
Ele não podia deixar de reconhecer novamente, a sua própria solidão.

* * *

... No templo Supremo, realizou-se o Curso de Verão com mais de oitenta


pessoas. Comparando-se com os 29 participantes do ano passado, notava-se o
progresso de aproximadamente três vezes. As lições do Hokekyo entraram na 5.a
série em setembro, havendo um aumento considerável nas freqüências. Dir-se-ia,
portanto que, tudo isso é a prova resultante da curva ascendente no sucesso do
Chakubuku.
Diante dessa expectativa, porém, a chave mais importante da Gakkai
estava na consistência do seu eixo, em suportar ou não, tal desenvolvimento.
Toda decidiu

218
fazer algo para fortalecer o eixo, que na época, ainda era frágil e imaturo. Por
exemplo, analisando a Segunda Assembléia Geral realizada no dia 19 de outubro
de 1947, no Centro Educacional em Kanda, notava-se o visível aumento
numérico dos participantes em relação à Primeira Assembléia do ano anterior. O
sucesso foi grande; apesar disso, a ressonância não foi o que se esperava na
Assembléia.
A Assembléia, dividida em dois períodos, durou desde às 9:00 horas da
manhã até às 16:00 horas. Talvez devido à longa duração, notava-se o cansaço
no auditório. Provavelmente, foi devido à ausência de uma espécie de
rigorosidade, que não faltou por ocasião da Primeira Assembléia realizada junto
com a cerimônia comemorativa do falecimento do ex-Presidente Makiguti.
Entretanto, deve ter alcançado em todo país, o fio da organização que se
estendeu no período de um ano.
Isso se mostra bem claro, com o resultado progressivo das atividades,
relatado pelo Diretor Yoshizo Mishima, no início da Assembléia.
— A Sede atual da Nitiren-Shoshu promovendo as diversas atividades
conforme as atribuições dos 6 Departamentos, a saber: Administração, Estudo,
Informações, Jovens, Senhoras e Finanças. Existem atualmente 12 Capítulos em
Tóquio e 11 no interior, cada qual realizando as reuniões mais de uma vez por
mês, objetivando o aperfeiçoamento ativo da fé, paralelamente com o avanço do
Chakubuku. Agora, desejo relatar as principais atividades decorridas no período
de um ano, desde a Primeira Assembléia realizada no dia 17 de novembro do ano
passado.
— Inicialmente, um relato a respeito da lição sobre a Sutra de Lotus,
que é uma série de explanações dos Dez Volumes do Hokekyio inclusive a
Introdução e a Conclusão. A lição que teve seu início no dia 1.° de janeiro do
ano passado e em setembro desse ano já entrava na quinta série. As lições
semanais de segunda, quarta e sextas feiras, das 18 às 20 hs., são assistidas,
atualmente por cerca de cincoenta pessoas. São jovens, rapazes e moças, prove-
nientes de Tigassaki e Hiratsuka, da Prefeitura de Kana-gawa, ou rapazes que
vieram de Sagamihara ou jovens da cidade de Shiki. da Prefeitura de Saitama,
todos com

219
o espírito fervoroso em procurar o Verdadeiro Caminho, lotaram o assoalho da
Sede da Gakkai, situada no primeiro andar do Nihon-Shogakkan. Estão sendo
criados, sucessivamente, os excelentes líderes, jovens desejosos de se tornarem
os alicerces da Propagação do Ensino de Nitiren Daishonin, pelos incentivos
emanados profundamente do coração de mestre Toda.
A seguir, Mishima começou a relatar os aspectos da formação dos Núcleos
Regionais.
"O Capítulo Suwa foi fundado após a orientação do Diretor Geral Toda em
fins de agosto desse ano, com apenas vinte e poucas pessoas, com sinais de
brilhante ânimo para o futuro. Tivera o primeiro contato através de Eizo
Matsuzaki durante a guerra, quando ele se retirou para aquela região, e no ano
passado foram enviados pela Sede, por duas vezes numerosos dirigentes àquela
região”.
O Capítulo Izu que abrange os setores de Izu e Shi-moda, recebeu a visita
do Diretor Geral Toda e mais 6 ou 7 dirigentes da Sede e após então, mais de 10
novos convertidos estão praticando fervorosamente.
O Capitulo Ito desde que chegaram os três dirigentes enviados nela Sede, a
partir de abril deste ano, conseguiu mais de trinta novos membros recém
convertidos, em conseqüência das sucessivas reuniões animadoras e plenas de
sucessos.
O Capítulo Kyushu recebeu as visitas de orientações em janeiro por três
dirigentes da Sede, divididos em dois setores: Fukuoka e Oita. Entretanto, era
uma região que foi deixada ao abandono contínuo por muito tempo e portanto, as
orientações foram penosas. Apesar disso, graças a essa dedicação, entrou
recentemente em franca atividade e está para ser previsto o grande progresso na
região.
O Capítulo Nassu, como todos sabem, é o local onde foi realizada a
primeira viagem de orientação e Chakubuku regional de pós guerra, em setembro
do ano passado. A família Massuda, que é líder central da região, é merecedora
de altos respeitos pelos moradores, pela fervorosa devoção com pura fé. Kyuitiro
Massuda foi aclamado vereador e agora, progrediu tanto, que chegou ao ponto de
purificar a administração da cidade. Ao mesmo tempo, devo lembrar que a sua
filha teve um noivado feliz e acabou casando-se com um jovem intelectual.

220
O Capítulo Kiriu também promoveu conferências e reuniões cheias de
sucesso por duas vezes, com a participação do Diretor Geral Toda e seus
dirigentes, desde a última primavera. Como resultado, as atividades se
transformaram de tal maneira que apareceram os lutadores dotados de
habilidades eficientes.
Comparando-se com as brilhantes atividades dos Capítulos Regionais,
qual é o aspecto dos Capítulos em Tóquio?
O Capítulo Kamata, situado ao sul de Tóquio, aumentou intensivamente as
suas atividades, ultrapassando inclusive as intensidades dos tempos anteriores a
1943, antes da guerra, conseguindo subdividir-se para criar dois novos Capítulos
em Urayassu, Prefeitura de Tiba e em Shiki, Prefeitura Sailoma.
O Capítulo Ada-Ei, com o surgimento de novos dirigentes, também está
atualmente, ampliando as atividades de Chakubuku, atingindo até as regiões de
Saitama e Aomori, extremo norte da Ilha Principal.
O Capítulo Honjo situava-se na área devastada pelos incêndios; porém,
com os esforços incansáveis, reorganizou-se por intermédio dos dirigentes puros
da nova geração a tal ponto que, agora, irradia a sorte e a oportunidade para o
progresso.
Os relatos de atividades foram explanados com a apresentação minuciosa
dos resultados de cada Capítulo.
Esses relatos fizeram lembrar os diversos aspectos da Nitiren Shoshu em
1947, nos diferentes pontos de vista. Entretanto, apenas o Capítulo Kamata
parecia ter alcançado, por fim, a era culminante da Soka-Kyoiku-Gakkai de antes
da guerra.
Os relatos de atividades passadas eram excelentes, de um modo geral, mas
o próprio Toda percebia que havia falta de elementos excepcionalmente
valorosos.
Podia-se dizer que a organização se estendeu a uma escala nacional;
apesar disso poder-se-ia dizer que, infelizmente e por alguma razão, faltava na
realidade, a força dinâmica para propulsionar o desenvolvimento.
Jossei Toda percebia claramente a situação geral dessa natureza mais do
que qualquer outra pessoa. Ao mesmo tempo, investigava com o seu próprio e
rigoroso

221
censo crítico, o eixo que é o fundamento básico da Organização Nitiren Shoshu.
Ele ouvia o relato de Mishima com dolorosa consternação.
A maioria dos dirigentes estava eufórico, pensando que o progresso da
organização ao ponto de se estender a todo o país fora devido aos seus próprios
esforços. Não houve dúvidas que tal progresso foi o fruto de seus esforços. Por
outro lado, não conseguiram ainda atribuir, necessariamente, a causa do
crescimento natural dos membros regionais.
Finalmente, o relato foi encerrado com a consideração sobre a importância
significativa do último Curso de Verão de cinco dias.
A seguir, houve o relato de experiência com o número elevado de dez
pessoas.
O 64.° Sumo Prelado Nissho-Shonin compareceu pela primeira vez na
Assembléia, nesse dia, junto com o 59.° Sumo Prelado aposentado Nitiko-
Shonin, e os Reverendos Taiei Horigome, Seido Hossoi e Kotyo Kakinuma,
ocupando seus lugares na plataforma central. Seus discursos entusiásticos, foram
ouvidos, no período de orientação especial.
As afirmações de Nissho-Shonin na Assembléia, anunciavam a chegada de
uma era para a paz mundial pela benevolência ilimitada e imensurável de Nitiren
Dai-sronin. Estendeu-se ao relato da situação em que se achava o Templo
Supremo.
— Como é do conhecimento de todos, o Templo Supremo enfrentou no
ano passado um desastre sem precedentes, no momento em que decidia a
grandiosa obra da reconstrução inadiável. Além disso, com a imposição da Lei
da Reforma Agrária, foram confiscados todos os terrenos cultiváveis da área do
Daissekiji, área essa, adquirida em centenas de anos passados. Atualmente
estamos como que, etimologicamente nus, diante de tal situação. Apesar disso,
dir-se-ia que é um fato evidentemente natural comparando-se com o tempo em
que vivia o fundador Nitiren Daishonin. Tudo foi por água abaixo exceto a
doutrina de Nitiren Daishonin, que permanece majestosamente, iluminando a
transformação da Sociedade na época mais corrompida. — Nós, discípulos do
Mestre, oramos

222
esperançosamente que agora é hora de revelar toda nossa fé, para a reconstrução
da Nitiren Shoshu e do pais, dispendendo todo o nosso esforço e toda a nossa
luta para o bem supremo...
Jossei Toda estava com as lágrimas nos olhos, emocionado pela sensação
dolorosa despertada pelas palavras do Sumo Prelado que falava na plataforma
frontal. Ele compreendeu o sentimento doloroso do Sumo Prelado, em todos os
seus detalhes.
A extrema dificuldade nunca ocorrida nos setecentos anos passados;
enfim, ele sabia de tudo, nos mínimos detalhes. Estava ciente de que a
reconstrução da Nitiren Shoshu é a maior de todas as responsabilidades dos
devotos.
Toda ouvia atentamente e atemorizado, mantendo o domínio sobre a dor
no seu coração.
Nissho Shonin encerrou o seu discurso, dizendo o seguinte:
— Oro incessantemente neste momento precioso para que os crentes se
unem e conjuguem seus esforços, visando à restauração do Verdadeiro Budismo
e da Pesquisa sobre a Doutrina, sob proteção dos Três Tesouros do Buda
Fundador, para o alcance dos dias livres de um céu azul do Kossen-rufu e ao
mesmo tempo o sucesso e o progresso da Gakkai. Finalmente, encerro, orando
pela saúde dos senhores presentes.
Toda levantou-se e abaixou sua cabeça reverentemente, assim,
demonstrando profundas considerações para com Nissho-Shonin. Intimamente
ele dizia, certamente em altos brados, — Sumo Prelado, peço aguardar a
oportunidade. Enquanto Jossei Toda estiver vivo, conseguirei realizar, sem
dúvida a restauração do Templo Supremo e ainda irei tranquilizar o seu espírito,
no tocante ao alcance do Kossen-rufu. . .
Em seguida o Sumo Prelado aposentado Hori-Nitikô-Shonin iniciou o seu
discurso citando o movimento da revolução poética liderado por Basho (Matsuo
Basho, 1644-1694, restaurador da poesia de 17 sílabas, Haikai).
Basho como poeta pioneiro, levantou o movimento de aperfeiçoamento
poético sobre a Escola Danrin, que dominava a Era Edo e conseguiu eliminar a
degenerescência

223
da arte para fundar a mais pura linhagem do 'Haikai' que durou mais de 200
anos.
Por outro lado, a nossa Religião possui 700 anos de tradição, desde Nitiren
Daishonin, com sucessivas luzes da herança ortodoxa. Por ser uma Doutrina
Verdadeira, ou devido à sua propagação sincera, ou que o tempo ainda não
chegasse, a propagação religiosa não teve sucesso e nem formou o seu ânimo na
própria religião. Assim, ele lamentou. Em seguida, o seu discurso revelou a
essência do Budismo e sua profunda filosofia. Encerrou as suas palavras com a
esperança de que agora é a época para promover intensivo Chakubuku.
Sem dúvida, até mesmo as palavras do Hori-Nitikô-Shonin devem ter
penetrado profunda e fortemente no coração de Toda. Ele não podia deixar de
reconsiderar mais uma vez que todo o futuro da Paz Mundial recaía sobre os seus
ombros.
Nessa Assembléia, Toda falou por duas vezes: de manhã e de tarde.
Na lição matinal, Toda falou a respeito do significado sobre Filosofia da
Vida Eterna em Três Existências, como premissa para a elucidação do
Verdadeiro Budismo.
Toda provocou emoção impressionante nos presentes, através da
elucidação do Budismo.
— No Japão atual, prolifera-se intensamente, apenas o Budismo que o
destrói. A religião está corrompendo o país. Não posso deixar de afirmar
veementemente a necessidade da reconstrução do país, com bases no Budismo
que revela a Visão da Vida nas Três Existências. Assim, pode-se conhecer
evidentemente a realidade da existência pela causa e efeito do Verdadeiro
Budismo. Sem esse princípio já não é mais possível resolver a prosperidade da
nação japonesa e nem escolher o caminho para a paz e a tranqüilidade. —
Mesmo o Budismo de Sakyamuni, se tirar o Princípio da Causalidade, nada mais
restaria do seu ensino. Portanto, nós que confiamos no Budismo de Nitiren
Daishonin, somos levados imperiosamente a acreditar na Verdadeira Lei da
Causa e Efeito. Como as pessoas poderão crer na Vida Eterna, se elas nem
mesmo podem crer no Princípio da Causalidade como o de Sakyamuni que é
superficial? Além disso, como poderão

224
nascer dessa maneira, a convicção de ser um missionário para a Paz Mundial?
Ele prosseguiu dizendo que Hokekyo de Sakyamuni revelou a Filosofia
mais elevada de todas as sutras e demonstrou o mais profundo e original
'Princípio Místico da Verdadeira Causa e do Verdadeiro Efeito', refutando a 'Lei
da Causalidade Primitiva' naturalmente existente. Apesar disso, na Era de
Mappo, isso não passaria de uma simples teoria. A seguir, ele ensinou o
fundamento último do Budismo de Nitiren Daishonin, da seguinte maneira:
— .. .nós, os mortais comuns, tornamos forçosamente obrigados a
destruir o Princípio da Causa e Efeito imediatos e necessitamos de um Princípio
que revele naturalmente o corpo de Buda. Foi Nitiren Daishonin quem
estabeleceu o Princípio da Transformação do Destino para o melhor, fazendo
destruir inicialmente o mau destino passado, conforme sua necessidade na vida
prática. Portanto, o melhor método de transformar o destino cada vez para
melhor é aceitar o Gohonzon e recitar Nam-myoho-rengue-kyo. — Por esse
método, apagam-se as causalidades intercorrentes e deixam de ser mortais
comuns para se revelar a sua vida eterna. . . A pior de todas nossas
predestinações desde Kuon-Ganjo é o Crime de Ofensa contra o Buda. Chama-se
"Hobo". Portanto nós nos preocupamos seriamente com as Dez Piores Pre-
destinações (Jufuzengo) e com as Oito Maiores Dificuldades citados no
Hatsunaionkyo.
— Se devotarmos fervorosamente, poderemos purificar a nossa vida
numa existência, por suportarmos levemente os "grandes males" — que
deveríamos apagar um por um dispendendo tempos infinitos até às existências
futuras. Assim, nós sentimos sucessivamente as nossas predestinações nocivas
durante as devoções e portanto, devemos estar cientes de que essas dificuldades
são os males que necessariamente surgem como obstáculos no caminho para a
revelação da vida eterna e portanto, nunca devemos nos preocupar com isso ou
pensar que estamos sofrendo consequentemente pelo procedimento da prática do
Budismo.
Foi um discurso memorável na sua época e que nos faz refletir o profundo
pensamento de Toda em diversos pontos de vista daquela época.

225
Ele nos ensinou como deve ser o verdadeiro caminho da fé, no mundo
atual, para o coração dos martirizados.
A devoção religiosa não significa "resignação", como dizem
habitualmente; nem é o meio para o exercício e para o aperfeiçoamento do
caráter ou para o repouso mental; nem tampouco é o meio impulsivo da vontade
dirigida para o mundo vago e nem pode ser o caminho da fuga para rejeitar o
mundo da realidade.
Somente com a correta devoção da fé orientada para o verdadeiro objeto
de adoração é que se consegue libertar da predestinação infeliz. Toda desejava
dar a todos, o estado de plena satisfação com desejos completamente realizados e
orientar a criação de valor na vida cotidiana, da seguinte maneira: — Para isso é
absolutamente necessário devotar-se intensivamente à fé, durante toda a vida.
Ele falou à tarde, sob o tema: "A Missão da Gakkai'.
Descreveu a violenta transformação social. Para salvar as pessoas
mergulhados nos sofrimentos da época, conclui — é necessário ensinar a Única
Lei Magna do Nam-myoho-rengue-kyo de Nitiren Daishonin — e convocar
todos para a salvação de si e do próximo; não somente a nação, mas toda
humanidade.
Relatando a sua imensa alegria pela sorte de ter transpassado o Buda no
seu corpo de um mortal comum durante a prisão, confessou que é o seu dever
natural, dividir esta alegria com as pessoas que sofrem.
— Esta atitude espontânea qualifica portanto, os missionários do Buda
como nós e sendo assim, devemos enviar a fonte original de salvação a todos,
envolvendo-a com a misericórdia do Buda. Tal atitude chama-se Chakubuku.
É a missão primordial da Gakkai, uma condição "sine qua non" para sua
existência. Sendo assim, modestamente, sou uma pessoa de grande sorte por ter
conseguido sentir o Buda e tenho, ao mesmo tempo, o dever de transmitir esta
grande convicção para a humanidade.
— Não é admissível que exista um Buda miserável. Como o Buda pode
ser abandonado indefeso pelos Deuses e Budas nas três existências?
— Portanto, devemos reconhecer que a Nitiren Shoshu é uma
organização que congrega os missionários do Buda para convidar e conduzir as
pessoas infelizes e

226
descrentes para o Buda, ou melhor, para o Gohonzon da Nitiren Shoshu. Por
conseguinte, nunca se deve aproveitar a fé e o Chakubuku para ganhar dinheiro
ou aproveitá-los para a conveniência própria. Se conhecessem a "punição divina"
em conseqüência dos atos abusivos contra o Verdadeiro Budismo, nunca
poderiam proceder desta maneira e isso é por assim dizer, o pior de todos os
males que existe no mundo. Gakkai nunca deve agir a fim de obter fama ou
títulos honoríficos, ganhar dinheiro ou receber as contribuições.
Em certos momentos, Toda falava da fé em tons repreensivos.
Também o assunto foi transportado para os tempos vividos do ex-
Presidente por ter-se lembrado de Makiguti, homem de rigorosa seriedade.
— Na metade final da vida do Mestre, portanto, após os movimentos da
Nitiren Shoshu, as críticas, as calúnias e os ataques maldosos, foram como que
totalmente concentrados sobre a pessoa dele. No meio dessas circunstâncias, ele
se dedicou inteiramente à propagação do Budismo da Nitiren Shoshu, sem
nenhum temor. Além disso, foi uma pessoa que deu a vida ao Buda, falecendo
afinal na prisão, suportando o despotismo dos militares e os maus tratos dos
ignorantes e baixos policiais da época. — Nós que o sucedemos, portanto vamo-
nos dedicar com afinco e sem temeridades, devotando mesmo que surjam os
fulminantes ataques de "Sansho-Shima", os Três Obstáculos e Quatro Maldades,
acreditando fielmente nos Ensinos de Nitiren Daishonin, mesmo que soframos
ataques; para que possamos conseguir encontrar de peitos abertos o Gohonzon
Perene das Três Existências, no momento do nosso retorno ao "Ryojussen",
Paraíso dos Budas.
Parecia como um verdadeiro bramido de um leão para o ataque. O
auditório recebeu um profundo choque emocional.
Encerrou-se com a canção da Gakkai.
Durante a "Canção dos Companheiros", Toda limpava discretamente as
lágrimas. Sentiu-se profundamente decepcionado com o ambiente extremamente
pesado, contrário à sua expectativa. Em outras palavras, parecia que, algo como
o baixo espírito de comodismo chamado

227
"Dassei" estivesse infiltrando na Assembléia para retardar sua circulação.
Cerca de um mês antes dessa Assembléia ele havia murmurado sobre isso
aos líderes chegados, quando se lembrava do eixo. Sua previsão era correta e
surgiu nesse ambiente.
O comodismo é a tendência conservadora e isso leva as pessoas à
degenerescência. Neste caso, já não pode ter mais o espírito cumpridor da
missão. Então, o vigor da construção e o espírito de pioneirismo estavam sendo
esquecidos.
Forçosamente, ele foi obrigado a investigar um por um, os elementos
constituintes do eixo. Em seguida, ele compreendeu que a culpa não cabia à
Assembléia, e sim, ao eixo.
Nitiren Shoshu, após guerra, libertou-se espetacularmente da Soka-
Kyoiku-Gakkai de antes da 2.a Guerra Mundial — assim pensava Toda.
Com certeza, o próprio Toda já não era mais o Jossei Toda de antes da
guerra. Entretanto, os altos dirigentes que o rodeavam, eram todos os mesmos
líderes que giravam em torno do ex-Presidente Makiguti.
A tendência ao maneirismo, profundamente arraigada na vida de cada um
desses dirigentes, desde os anos passados, não foi eliminada com a própria
devoção. Nem a sua fé e nem o próprio objetivo que atravessaram a
transformação social tão dramática como a guerra não conseguiram eliminar a
ilusão proveniente do poder da ignorância, a causadora da infelicidade e inerente
à própria vida, no Budismo, denominado de "gampon-no mumyô".
Com o aproximar das atividades da Gakkai para o seu apogeu, os quatro
diretores do grupo econômico pareciam estar cada vez mais convencidos de que,
tudo se resolveria com a rotina e com suas experiências anteriores à guerra.
Os líderes da nova geração como Harayama, Konishi, Kiyohara e outros,
iniciaram suas atividades, mas ainda não eram suficientemente crescidos ao
ponto de substituí-los.
Os diretores de antes da guerra, inegavelmente possuíam o passado que
caiu na situação de abandono da fé

228
por ocasião da prisão pela repressão do governo militar. A compaixão de Toda
fez com que eles levantassem de novo e foram regenerados como diretores, mas,
quando a reconstrução se montava sobre os trilhos, eies enfim, mostraram o
limite da sua fé. Entretanto, eram eles, os elementos de maior gabarito na cúpula.
Esse resultado apareceu na Assembléia, daquela forma. O sofrimento de Toda
era profundo. Ele teve que esperar, pacientemente o crescimento dos líderes da
nova geração.

* * *

A primeira diferença nas atividades da Nitiren Shoshu antes e depois da


guerra, foram a lição do Hokekyo e a refutação das religiões heréticas.
A lição do Hokekyo foi mais tarde transformada em lições de Gosho e
chegou a ser a espinha dorsal do atual Estudo de Budismo da Gakkai.
Toda sabia perfeitamente pelas experiências anteriores à guerra, como é
facii e medíocre uma associação religiosa que não possui o estudo e a filosofia
de base.
— Entretanto, na Nitiren Shoshu, há um amplo siste
ma filosófico fundamentado com base lógica e fortemente
consolidado. O estudo sobre Budismo necessita absolutamente da comprovação
na fé devota e que a lógica filosófica por sua vez vai se aprofundando na
devoção da fé.
Ele sempre frisava essa lógica. Há um filósofo ocidental que disse: "o
prolongamento da razão culmina sempre na fé".
— Quem não estudar, não será mais o discípulo de Toda. — Assim, ele
sempre orientava, como se fosse um hábito.
— Aqueles que olham a Nitiren Shoshu com o mesmo olho com que
observam as religiões novas encontradas na redondeza, desconhecem, mesmo,
um fragmento sequer da Filosofia do Budismo e devem ser totalmente rejeitados,
pois, é o mesmo que se comparasse o rato com o leão. — Os intelectuais que
criticam a Gakkai, antes de criticá-la devem primeiro estudar o "Gosho", Obras
Completas de Nitiren Daishonin com setecentos anos de tradição e "Fuji-
Shugaku-Yoshu", a Coleção de todos os Estudos sobre Doutrina de Nitiren
Daishonin. Uma vez interpretadas maravilhosamente essas obras, estarão quali-

229
ficados a dizer, orgulhosamente, a respeito da Gakkai. Sinto-me triste por não
encontrar um professor de alta categoria que possa proceder desse modo.

* * *

A segunda diferença era o treinamento da Divisão dos Jovens.


Antes da guerra, a Gakkai girava em torno da Divisão dos Adultos e pode-
se dizer que não havia orientações para os jovens da geração vindoura.
Os jovens, ora dotados de espíritos ativos, começaram a se dedicar na
ofensiva da luta decisiva e constante para a refutação das outras seitas religiosas.
Toda tolerava suas atividades. A razão disso, ele sabia que é um meio de
conseguir o reconhecimento verídico da Nitiren Shoshu e da realidade em
relação as outras religiões, através das experiências na prática. Compreendia
também que isso os ajudaria para ganhar suas próprias convicções.
Para eles que são jovens, parece que essa luta foi muito divertida. Com
suas presenças e ataques súbitos nas diversas religiões faziam gelar o espírito dos
fundadores que pregavam orgulhosamente as histórias medíocres. Apesar disso,
nunca ouviram falar que uma religião fosse à ruína por causa das refutações.
Uma noite, um dos jovens, representando os seus companheiros,
perguntou para Toda:
— Mestre, fizemos muitos debates doutrinários neste
ano e apesar disso as influências das religiões heréticas
ainda não perderam suas forças. Pelo contrário, até existe
uma certa Associação Religiosa, por incrível que pareça,
está aumentando os inúmeros adeptos. Como pode explicar isso?
Toda deu uma gargalhada. Talvez, ele não resistisse em conter o seu
carinho pela ingenuidade dos jovens.
— Todos estão com a fisionomia que não aproveitaram nada hoje! É
natural que vençam nos debates. Mas, nada adiantaria estar com a fisionomia
aborrecida, após a sucessiva vitória!
— Está na hora de começarem a reconhecer como foram transformados
os debates doutrinários contemporâneos. Antigamente, ambas as partes
arriscavam tudo num

230
debate religioso. Portanto, após o debate, quem perdesse iria pertencer
forçosamente à religião do vencedor para se tornar seu discípulo. Realizou-se o
debate com esse trato. Assim, a própria vida estava em jogo e portanto precisava
possuir uma confiança própria e o debate decorria com toda seriedade. Por
exemplo, Dengyo, o Grande, realizou o Debate Público na frente do Imperador
Kammu, contra os 14 eminentes bonzos das 6 seitas e dos 7 Templos de Nara,
Capital do Sul, inclusive Gonso e Tyoyo.
— Nitiren Daishonin, também cita essa época em que, 14 bonzos foram
completamente refutados por Dengyo, o Grande, na Origem da Advertência do
Rissho-Ankoku-Ron: "Não somente as próprias seitas foram refutadas. Todos
eles reconheceram as próprias heresias'. Assim, as autoridades máximas das seis
seitas escreveram cartas de apologia ao Imperador e todos mudaram para Tendai-
Hokke-Shu', a seita dirigida por Dengyo, para se tornarem discípulos. Essa
passagem é célebre. Se assim aconteceu com seis bonzos cheefs de cada seita,
naturalmente a totalidade dos templos, mesmo os mais afastados, tiveram que
mudar para a Seita Tendai.
— Isso se chama Kossen-rufu do Shakumon ou Ensino Provisório.
Nessa base foi construído Kaidan, o Santuário Mór no Monte Hiei em 827 e
desde então, nasceu a era mais pacífica e próspera de toda história do Japão,
chamada Heian. Pode-se pensar que é a difusão do Budismo na política, um
exemplo de Ôbutsu-Myogô da era passada.
— Entretanto, a sociedade daquela época era eminentemente
aristocrática e além disso, foi uma era do Hokekyo Provisório ou de Zohn.
Portanto, a doutrinação do Imperador e da classe dos mandatários, eram apenas
suficientes, para levar a prosperidade à sociedade, bem como fazer cada pessoa
feliz e livre.
Os jovens ouviam atentamente, brilhando os olhos na sua fisionomia.
— Por isso mesmo, se comparar com 'Ôbutsu-Myogô'
que nós cogitamos no momento, as raízes infelizmente não
eram tão profundas. Por causa disso, na época do ter
ceiro sucessor Jikaku, a doutrina herética do Shingon foi
introduzida para a seita Tendai e tudo foi anarquizado.

231
Lamentando desse fato, Nitiren Daishonin diz o
seguinte no Sandai-Hiho-Sho:
"Desde que estabeleceu (Kaidan) em Monte Hiei, o terceiro e o quarto
sucessor Jikaku e Tisho traíram o mestre verdadeiro Dengyo e Guishin, o
segundo sucessor, ridicularizaram o nosso Monte Preceitual, com suas tolices de
loucura dizendo: — "Igual na Teoria e Superior na Prática" (Rido-Jisho) — Em
virtude disso, o Mandamento Budista, rigorosamente seguido pelo Templo em
Hiei (En-ryakuji) que tem sido o Ensino Místico da pureza perfeita, foi assim
violado e manchado de lama por essa travessu-ra. Foi um evento terrível que não
adiantaria mais lamentar. . .".
— Portanto, o período áureo do 'Kossen-rufu-Sha-kumon' no Japão
durou apenas 30 anos, mas graças a esse reflexo, pode-se pensar que teve um
longo período relativamente pacífico de centenas de anos. Se procurarmos a
origem, a resposta se encontra na vitória do mestre Dengyo no debate religioso
contra as seis seitas. Sendo assim, pode-se dizer que foi um debate muito signifi-
cativo. Em última análise, era uma época em que foram rigorosamente
respeitadas as regras do debate.
— No "Rissho-Ankoku-Ron", que Nitiren Daishonin enviou para o
Governo Feudal Hojo, declara com ardente e veemente exigência desse modo:
— "Se V. Excia. duvidar do Ankoku-Ron, ordene publicamente o debate, con-
vocando os bonzos heréticos. Assim, V. Excia. saberá claramente onde está a
verdade e a falsidade".
— Entretanto, os bonzos da época assim como Ryo-kan do Templo
Paraíso e outros, sabiam que iam ser derrotados no debate com Nitiren
Daishonin. A era de Kamakura já era o início de Mappo e portanto, as criaturas
humanas tornaram-se astutas e inescrupulosas. Não somente fugiram
maneirosamente, inventando pretextos vários, como também, queixaram ao
Governo, fomentando o poder público para sufocar Nitiren Daishonin. Foram
realmente uma turma de covardes e traiçoeiros. Apesar disso, Nitiren Daishonin
exigiu sempre o debate público, apenas das imensas dificuldades. Uma vez,
quase conseguiu realizar o debate. Mas, infelizmente isso não foi realizado. Daí
surgiram protestos veementes nas "Onze Cartas" endereçadas aos principais
administradores e bon-

232
zos do país. Foi uma atitude tão bravia que os revolucionários atuais nem
chegariam aos pés. Pode-se dizer que não haveria as dificuldades, como os
exílios na Península de Izu ou na Ilha de Sado, se Nitiren Daishonin não
propusesse o debate. Enfim, a vida de Nitiren Daishonin foi uma vida de luta
sucessiva para o debate público.
— Apesar disso, acabou sem ter uma oportunidade.
Daí podem compreender como os homens tornaram-se covardes. Mesmo assim,
na era de Kamakura, os bonzos heréticos fugiam dos debates, sabendo da
existência de uma rigorosa regra no debate. Então, na surdina, eles
planejavam as armadilhas traiçoeiras. Agora no mundo
religioso atual, absolutamente não existe mais a regra
para o debate, É uma anarquia completa. Dá-se mais
importância ao dinheiro do que a própria fé. Como os homens ficaram tão
malvados! Já é um conto remoto do passado, a questão do reconhecimento da
derrota no debate, seguida de mudança honrosa para a seita do vencedor para se
tornar discípulo. É um verdadeiro aspecto da maldade e da impureza em Mappo.
Toda continuou falando com um sorriso.
— Vocês debateram seriamente em diversos lugares e os adversários
ficaram totalmente sem fala. Pensam que a vitória está claramente com vocês, e
no entanto, os adversários não confessam a derrota. É uma época terrível, esta.
Nós desejamos realizar a verdadeira Paz Mundial nesta época desumana e
portanto, não é tarefa tão fácil como pensam. Além disso, estamos numa era em
que a humanidade não se move apenas pela vontade da classe minoritária dos
dirigentes. A soberania está no povo. A Paz Mundial deve ser realizada com a
vontade e com a voz do povo. Portanto, não é um movimento simples. A nossa
revolução religiosa é uma grandiosa obra que nunca poderá ser realizada sem a
fé, a coragem e a inteligência.
— Nada adiantaria ficarmos esperando o resultado de um debate à
maneira antiga. Não teria resultado quando os homens, a época e os países estão
repletos de impurezas. Não somente no campo dos debates, o mesmo ocorre nos
tratados internacionais elaborados pelos diplomatas entre os países. Estamos
numa época moderna

233
em que até os tratados de não agressão, estão sendo violados. Por mais que vocês
fiquem indignados achando que a turma dos hereges é covarde ou que é
intolerável, isso nada adiantaria para Kossen-rufu e por mais que consigam
vitórias sucessivas. Só com isso, não se destroem as atuais religiões heréticas.
Não há outro problema pior do que isso para se resolver. Em conclusão,
Chakubuku um por um é o método mais seguro para atingir a Paz Mundial. É
também, o método que está de acordo com o melhor sistema democrático. A
nossa marcha parece ser uma caminhada penosa, mas é o mais seguro. Uma onda
forma duas e por fim chegam a formar milhares e milhares até atingir a meta. O
que vocês acham?
Jossei Toda falava prazerosamente, esquecendo-se da hora.

* * *

— Realmente isso é terrível.


Quando um jovem relatava desse modo as condições de uma associação
religiosa, outros contavam as situações abomináveis de outras. O relatório
prosseguia por muito tempo, desviando-se para os aspectos das diversas sedes
que eles visitaram com aquela finalidade.
A esse momento, um jovem interrompeu a reunião e disse olhando para o
teto do primeiro andar da Sho-gakkan, sede da Gakkai.
— Mas, todos eles possuem bonito prédio para sua
sede. Mestre, desejaria que a Gakkai também tivesse
pelo menos um prédio que pudesse acolher duzentas ou
trezentas pessoas.
Toda respondeu imediatamente, após essas palavras inocentes,
retomando a atitude respeitosa.
— A Gakkai não é comércio. Se é para o comércio,
necessitaria de belos prédios para atrair os fregueses.
Assustando os crentes com o prédio, coleta-se o dinheiro; isso é uma tática
maldosa de uma empresa religiosa.
É assunto realmente vergonhoso. A Gakkai não é empresa. O nosso objetivo
difere fundamentalmente deles. Se
no caminho da Paz Mundial, os prédios forem absolutamente necessários para a
salvação da sociedade e das pessoas, surgirão quantos forem necessários, pela
cristalização da boa vontade dos companheiros. Por outro lado,

234
se é absolutamente necessário para a Paz Mundial, não é possível que Gohonzon
irá deixar de atender.
— Enquanto vocês estão invejosos e constrangidos,
vendo os prédios de umas e outras religiões, ainda não
estão compreendendo o verdadeiro espírito da Gakkai. O
mais precioso é "chinjin", a dedicação à fé, em vez de
prédio. Além disso, o mais importante no momento é o
valor humano do que o prédio.
Toda olhou a fisionomia dos jovens e dirigiu os olhares para as paredes até
o teto. As paredes eram velhas e caídas em alguns lugares. O teto estava escuro,
deixando mostrar as marcas de chuvas que o atravessou. Pode-se dizer que não
haveria uma outra sede mais humilde. Apesar disso, por estranho que pareça, o
ambiente estava sempre radiante e vigoroso.
— No momento, o prédio não está funcionando suficientemente? A
situação do Japão é pior e é mais triste do que esta sala. Nós vamos sustentar
como o Pilar do Japão, suportando sobre os ombros, o destino do Japão. A
missão da Gakkai é transformar, espetacularmente, em seguida, o destino do
pais. Vocês não devem lamentar por causa dos prédios. Em vez disso, devem
purificar a si próprios. Acho que deveriam marchar para frente, sem duvidar do
Budismo de Nitiren Daishonin, nem por um sonho sequer e tomar a disposição,
cheios de esperanças, ao ponto de dizer: "eu farei Kossen-rufu".
— Não são vocês, o tronco da Gakkai do futuro? Tornem-se o eixo
indestrutível como diamante. Aqueles que estão com a Lei Mística são dignos de
maior respeito e o 'Gosho também ensina assim. Apesar disso, pensar que é
vergonhoso ser visto pelos convertidos esta sede que parece medíocre; dessa
maneira, não poderão ser chamados de jovens revolucionários.
Os jovens, uma vez envergonhados e acanhados, não podiam deixar de
afastar os seus olhares que ora dirigiam para Toda.
Há um mau costume nas pessoas, em querer julgar o conteúdo, vendo o
tamanho do prédio. No Japão existe o hábito de conceituar uma empresa,
contando o número de empregados. No entanto, acontece justamente o contrário
na Europa e nas Américas. A apresentação deve ser sempre de acordo com o
conteúdo.

235
Toda começou a sorrir, olhando os jovens e prosseguiu:
— Em vez disso, há um assunto sério a ponderar. É "Kyakuden" o
Salão de Recepção do Templo Supremo. Desde que foi incendiado, na véspera
do término da guerra, permanece ainda como está. Sentimos o reconhecimento
da profunda preocupação do Sumo Prelado, através das suas palavras, na
Assembléia realizada há pouco tempo. Como se pode cogitar, do prédio da sede,
esquecendo-se da restauração do auditório do Templo Supremo? A atitude
natural da Gakkai não seria devotar antes a nossa sincera dedicação para a
reconstrução do Kyakuden, mesmo que a sede fosse de barraca ou que as nossas
casas estivessem em franco desmoronamento?
— A sede está bem, assim, por enquanto. Onde Toda está, é a sede da
Gakkai. Uma vez reconstruído o Templo Supremo, então, poderá iniciar a obra
da construção da sede. Até lá, vocês estejam com a força e a boa sorte
acumuladas a tal ponto de não precisar mais sujar o assoalho de Tatami com suas
meias furadas exalando o mau cheiro. Seria horroroso ver num prédio decente e
moderno, a entrada e saída de gente esfarrapada como desempregados.
Riu, ele, prazerosamente.
Os jovens deram também gargalhadas, mas, dentre eles, haviam uns
coçando sua cabeça e outros escondendo suas meias.

* * *

Em fins de 1947 — O vento que soprava sobre a fileira de ilhas japonesas,


trazia um frio mais intenso.

A manhã gelada
A noite fria
Um dia severo
Um mês tão rigoroso — Eis a época.

Terminada a guerra, dois anos se passaram e apesar disso, ainda não se via
nem a sombra do alvorecer da reconstrução.
A crise econômica cronificava-se. A nação de cem milhões vivia na
agonia da sobrevivência.
Ao infortúnio sobrepujava-se um outro infortúnio.

236
O tufão chamado "Catarina" invadiu a ilha principal e provocou as
inundações sem precedentes na região de Kanto, planícies em volta de Tóquio.
Entretanto, não foram tomadas as medidas de emergência contra os danos e as
estradas entre as montanhas ficaram abandonadas. Embora tivesse o governo,
nada se fazia senão, aguardar a ordem, observando os sopros que saem das
narinas das Forças de Ocupação.
No mundo agitado estava sendo travada guerra fria e invisível, resultante
do conflito de oposição entre as duas ideologias em torno da União Soviética e
dos Estados Unidos. Eram realmente os dois eixos que começaram mover o
mundo cada vez mais para as trevas. Em nenhum lugar havia, um eixo sequer
para poder orientar o mundo no sentido claro e pacífico.
No continente asiático, a índia com sua população enorme, libertou-se da
Inglaterra e proclamou sua independência no dia 15 de agosto do mesmo ano.
Na China continental, ao mesmo tempo com o encerramento da Segunda
Guerra Mundial, iniciou-se a guerra civil entre os nacionalistas e os comunistas.
A seguir, os Estados Unidos enviaram uma grande quantidade de armamentos,
os conselheiros militares e dois bilhões de dólares como ajuda militar para o
Governo Nacionalista de Chang-Kai-Shek.
Desde junho de 1946, o Governo Nacionalista começou atacar
intensamente o exército comunista, com o plano de esmagar totalmente, até o
fim do ano. Nessa época, o poderio militar era 1,2 milhões de soldados para
comunistas e 4,3 milhões de soldados para os nacionalistas. Além disso, o
Governo Nacionalista possuía uma vultosa ajuda americana e levava uma
diferença muito grande nas vantagens. Entretanto, a massa popular estava
desanimada de tantas guerras e conflitos. Por essa razão, o povo rejeitou a luta
interna em oposição ao totalitarismo e a decadência. Portanto, o próprio anseio
popular foi naturalmente mudando para o lado do exército comunista.
As batalhas não se decidem apenas com os poderes humanos, econômicos,
autoritários ou tradicionais. O mais importante, em última análise, é o poder do
eixo capaz de conduzir o espírito das massas à paz e à tranqüilidade.

237
No dia 12 de setembro de 1947, o exército comunista chegou enfim a
declarar uma contra-ofensiva geral para o exército nacionalista. Desse dia em
diante, após dois anos passados, até proclamar a República Popular da China, em
outubro de 1949, seiscentos milhões de chineses, foram envolvidos em
sucessivas guerras.
A partir dessa época, iniciaram-se as colisões em diversos países do
mundo, resultantes das pressões das potências: o mundo livre liderado pelos
Estados Unidos e o mundo vermelho manobrado pela União Soviética.
Os Estados Unidos exercia pressões contra o domínio comunista como
sendo o único possuidor da bomba atômica. A União Soviética sentia essa
bomba como um tumor frontal sobre os seus olhos; sem dúvida, por estar em
desvantagem, a Rússia deve ter passado seus momentos difíceis.
Entretanto, no dia 6 de novembro de 1947, o Ministro das relações
Exteriores, Molotov, declarou que "a Bomba Atômica já não é mais a Arma
Secreta" e anunciou para todos os países do mundo que a Rússia também é o país
possuidor de armas nucleares.
As repercussões das armas nucleares foram abalando o espírito das
pessoas no sentido de se preocupar forçosamente pela sensação de insegurança.

A vida temerosa
O Japão na escuridão
O mundo nas trevas.

Apesar de que o sol se levanta sempre com suas luzes brilhantes, o espírito
das pessoas totalmente impregnadas em negro, parecia como parte dos
demônios.
Jossei Toda percebia na sua carne, a vinda de uma época que não
permitiria nenhum descuido.
Na época em que não podia saber quando ia receber um golpe de rasteira,
ele, só e mais ninguém, firmava seus pés no chão como Hercules o fazia, a fim
de manter ereto o mastro para desfraldar a bandeira da Paz Mundial.
Assim mesmo, contra sua vontade, foi obrigado a reconhecer que ele
próprio, era o eixo para o progresso da Nitiren Shoshu e perceber que dali para
frente, as batatas ainda mais intensas, estavam à sua espera.

238
RETROSPECTO

A "REVOLUÇÃO HUMANA" chegou enfim até ser publicado o Segundo


Volume. Isso é motivo de minha alegria surpreendente e não cesso de agradecer
realmente aos numerosos e inesperados leitores que depositaram suas atenções
desde o Primeiro Volume, publicado em outono do ano passado.
Sou apenas um amador. Além disso, é um romance histórico tendo como
fundamento, a Essência do Budismo. Embora dispendesse os meus esforços a
fim de expressar mais facilmente possível em relação ao pensamento budista
bem como o uso de terminologias habitualmente estranhos aos ouvidos, devem
ter surgidos muitos trechos difíceis de serem lidos. Apesar disso, mereci os
incentivos, as orientações e as críticas, dentro e fora da Nitiren Shoshu. Acatei
tudo construtivamente, desejando-os considerar como sendo o material que
alimentasse para o futuro.
O motivo por que estou dedicando os meus esforços não qualificados no
meio de intensos e variados afazeres diários, é única e exclusivamente para
deixar documentado autenticamente para a posteridade, o caminho que o mestre
Jossei Toda seguiu e seus princípios de orientação. Isso é o meu propósito único
e não tenho outras intenções.
A existência do mestre foi dedicada inteiramente à Paz Mundial. Firmando
seus pés como estandarte no meio do vendaval de críticas e calúnias injustas de
toda espécie, ele indicou, orientou e provou na prática, o caminho para a
felicidade absoluta. Foi um mestre excepcional. Apesar disso, herdei o ideal
majestoso do mestre embora

239
fosse um discípulo imaturo. Francamente falando, a minha vida cotidiana é um
esforço contínuo e intenso na tentativa de revelar o seu ideal.
Como responsável pela Nitiren Shoshu Soka-Gakkai, dedico-me
naturalmente e também à revolução humana da minha vida e trabalho com o
desejo de não medir os esforços, se é que isso ajuda pelo menos para o bem da
Lei e de outrem. O meu prazer seria realmente profundo, se for reconhecido o
meu trabalho, apesar da minha falta de habilidade no manuseio da caneta.
Não houve uma época em que o senso de humanismo fosse tão desprezado
como atualmente. Além disso, nunca houve também uma outra época em que
tantas personalidades talentosas fossem enterradas no mundo. Os assim
chamados e considerados líderes, a maioria pode-se dizer que possuem na
retaguarda, o poder de dinheiro ou de privilégio. — Não é certo que os valores
humanos não existam. Estão apenas submersos. — A minha alegria seria imensa,
caso os preciosos valores humanos imersos lessem para conhecer algo proveitoso
para a reviravolta do seu destino, conduzir uma existência pura e irredutível,
tornar um devoto exemplar da Nitiren Shoshu e revolucionar o seu caráter a fim
de que possam emergir tanto mais benfeitores possíveis projetando-se na
sociedade e no mundo visando o progresso de outrem e da humanidade. Como
um ser humano, desejo apenas o fluxo de numerosas pessoas repletas de alegria,
esperança e convicção despertadas pelo senso de humanismo e pelo Legítimo
Budismo sobre a superfície da Terra. Isso, almejo sinceramente com esperanças.
Não sou profissionalmente, um religioso. Represento-me apenas como um
simples devoto. além disso, não pretendo entrar no mundo político e nem tenho
as mínimas intenções para se mostrar como um líder perante o público.
Surgem críticas freqüentes e sem fundamentos; porém, desejaria não
comentar a respeito da minha pessoa e nem da Gakkai. Reconheço a minha falta
de habilidades e sei que sou apenas um homem comum entre outros.

240
Pretendo apenas lutar nesta existência como uma pessoa simples. É um
principio que o Budismo adota e isso deve ser o verdadeiro significado da
democracia.
Agradeço sempre ao Sumo Prelado atual, Nittatsu--Shonin pela orientação
valiosa desde o início desta novela. Além disso, devo acrescentar que a maioria
dos veteranos-ex-discípulos do Presidente Makiguti estão vivos e sadios
informando os fatos ocorridos desde a época da reconstrução. Sobre suas
memórias evidentes, vinha baseando a minha narração e continuarei contando
com suas colaborações para que possa progredir seguramente para o êxito final.
Agradeço, por fim, a colaboração do prof. Teikiti Mi-yoshi, pintor de
gravuras. Relato ao mesmo tempo a permissão da contribuição do Imposto de
Publicação como donativo para o Empreendimento da Paz Mundial.
Dia 16 de Março
O Autor

Revolução Humana 2.° Volume. 6.a


Publicação Showa Editora S/A.
Lançada pelo Seikyo-Shimbun em 1966
Editor: Einosuke Akiya.
Autor: Daisaku Ikeda

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