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Capitulo 2 - Impostos e Depreciação.

2.1 - Influência dos impostos no fluxo de caixa.

Os impostos são despesas e devem ser considerados no fluxo de caixa.


Podemos classificar os impostos em três grupos:
1.) - impostos que não dependem da produção, como, por exemplo, o im-
posto predial.
2.) - impostos que dependem diretamente da produção, como o IPI, o ICM.
3.) - imposto de renda.
Para considerar a influência dos dois primeiros grupos basta incluir os valores
correspondentes, a cada instante, no diagrama de fluxo de caixa do projeto.
O imposto de renda, porem, exige um tratamento separado, pois é baseado no lu-
cro.

2.2- Imposto de renda.

A legislação e a jurisprudência sofrem constantes alterações, mas vamos apresen-


tar aqui apenas os elementos essenciais, que pouco mudam, para mostrar como levar em
consideração o imposto de renda na análise econômica de projetos.
O imposto de renda é baseado no lucro tributável do exercício, LT , definido co-
mo:
Lucro Tributável = Receitas - Despesas - Deduções
Entre as deduções permitidas está a depreciação do ativo imobilizado.
A compra de um equipamento, que vai durar alguns anos, se fosse considerada
como uma despesa do exercício, introduziria uma distorção no balanço da empresa, e,
diminuiria o montante de imposto a pagar. Daí a exigência fiscal de que ela seja conside-
rada um investimento, que será recuperado ao longo da sua vida útil (depreciação contá-
bil).
Geralmente considera-se despesa aquilo que tem duração inferior a um ano, e in-
vestimento o que tem duração superior a um ano.
A empresa, de modo geral, tem interesse em deduzir o máximo no menor tempo
possível, mas o Fisco estabelece prazos mínimos para a depreciação ( vida útil legal ) e,
no Brasil, não aceita métodos de depreciação que levem a deduções maiores que a obtida
pela depreciação linear.
Alguns exemplos de vida útil legal admitidos no Brasil:
Computadores (Hard e Software) 5 anos
Edifícios e construções 25 anos
Maquinas em geral 10 anos
Moveis e utensílios 10 anos
Veículos em geral 5 anos
Os terrenos não são depreciáveis.
Para equipamentos utilizados intensivamente, admite-se uma depreciação acele-
rada, multiplicando a taxa anual (inverso da vida útil ) por 1,5 para funcionamento em 2
turnos de 8 horas e por 2,0 para funcionamento em 3 turnos.
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A depreciação acelerada também é usada, ocasionalmente e por prazo determina-


do, como incentivo fiscal para incentivar a compra de novos equipamentos.
Quando a firma vende um ativo imobilizado a diferença entre o valor da venda e
o valor contábil é considerada lucro tributável
.
2.3 - Depreciação.

Os elementos que constituem o ativo fixo da empresa - equipamentos, edifícios,


instalações, etc. - sofrem uma perda de valor com o uso ou com o passar do tempo. Esta
perda de valor, não recuperada pelos serviços de manutenção, se denomina depreciação
real.
A depreciação real pode ser causada por:
• desgaste.
• obsoletismo.
• inadequação (obsoletismo do produto).
• acidentes.
Ë difícil determinar o valor da depreciação real ao longo do tempo; apenas nos
casos em que ha um mercado de equipamentos usados, como o de automóveis, por e-
xemplo, é possível ter uma idéia mais objetiva da variação do valor no tempo.
Não confundir a depreciação real com a depreciação contábil, que consiste em
lançamentos contábeis, feitos no final de cada exercício, de forma a distribuir a perda de
valor do ativo durante a sua vida útil. O saldo depois deste lançamento é o valor contábil.
Como a depreciação contábil influência o imposto de renda, ela é feita de acordo
com a legislação e praticas aprovadas pelo Fisco. A empresa não tem liberdade para usar
o sistema que quiser.
Geralmente a depreciação contábil é baseada no tempo decorrido desde a instala-
ção do ativo, mas em casos especiais pode ser baseada na produção. do equipamento.
É oportuno lembrar que estamos interessados apenas na influencia do imposto de
renda no nosso fluxo de caixa, e não na depreciação como elemento do custo do produto.

2.4 - Modelos de depreciação contábil.

A literatura cita diversos modelos de depreciação contábil, mas vamos nos limitar
aos efetivamente usados para fins de imposto de renda.

2.4.1 - Depreciação Linear

A depreciação linear supõe que a depreciação por período é uma porcentagem


constante do valor inicial do ativo, e portanto é a mesma em todos os períodos. O valor
contábil do equipamento cai linearmente com o tempo de uso.
Chamando VC0 o valor de aquisição do equipamento, VCn o valor residual após
os n períodos (vida útil fiscal), a depreciação por período DLin será:
DLin = (VC0 - VCn ) / n (2.4.1.1)
VC t = VCt-1 – DLin (2.4.1.2)
O valor contábil do equipamento após t períodos será:
VC t = VC0 - DLin x t (2.4.1.3}
Exemplo:
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Um equipamento custa $20.000 e deve ser depreciado em 5 anos, quando deverá


ter o valor residual $2.000. Construir a tabela de depreciação linear e valor contábil.

DLin = (20000-2000) / 5 = 3600

Instante Depreciação Valor Contá-


bil
0 20.000
1 3.600 16.400
2 3.600 12.800
3 3.600 9.200
4 3.600 5.600
5 3.600 2.000

2.4.2 - Depreciação exponencial.

No modelo de depreciação exponencial a depreciação contábil Dexp em cada pe-


ríodo é uma fração constante d do valor contábil do inicio do período. A depreciação é
maior no primeiro período e vai decrescendo exponencialmente até o final.
DExp t = dVCt-1 (2.4.2.1)
VC t = VC t-1 – DExp t = (1-d)VC t-1 (2.4.2.2)
O valor contábil do equipamento após t períodos será:
V t = VC0 (1-d) t (2.4.2.3)
Dados VC0 , VC n ≠ 0 e n podemos calcular a taxa d. Entretanto, se o valor re-
sidual for nulo, VC n = 0 , isto não é possível, pois n teria de ser infinitamente grande.
Ora, este é o caso mais freqüente, pois na quase totalidade das situações reais o
valor residual contábil VC n é considerado como sendo zero.

2.4.3 - Depreciação mista

Para sanar este problema, os países que aceitam a depreciação exponencial para
fins fiscais fixam o prazo e a taxa, mas utilizam um sistema de depreciação misto em que
se compara, sucessivamente, a depreciação exponencial e a depreciação linear baseada
no tempo restante de vida útil e toma-se a maior delas para calcular o valor contábil. A
partir do instante em que a depreciação linear passar a ser mais vantajosa prossegue-se
com ela até o final (switchover).
Desta forma, não há dificuldade em adotar-se o valor residual zero.
DMist t = máximo ( DExp t , VC t-1 / (n-t-1) ) (2.4.3.1)
VC t = VC t-1 – DMist t (2.4.3.2)
Este modelo ainda não é aceito no Brasil para fins fiscais, mas é a base do impos-
to de renda norte-americano, onde é conhecido como DB ( declining balance).
Exemplo:
Um equipamento custa $20.000 e deve ser depreciado em 5 anos, sem valor re-
sidual. Construir a tabela de depreciação exponencial à taxa de 40%, com mudança para
depreciação linear quando esta for maior.
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t Depreciação Valor Contábil Depreciação Tempo Depreciação Valor Contábil


Exponencial Exponencial Linear restante Mista Misto
0 20.000 5 20.000
1 8.000 12.000 4.000 4 8.000 12.000
2 4.800 7.200 3.000 3 4.800 7.200
3 2.880 4.320 2.400 2 2.880 4.320
4 **1.728 2.592 **2.160 1 2.160 2.160
5 1.037 1.555 2.160 0 2.160 0
Soma 18.445 20.000

A mudança de exponencial para linear foi feita no período 4.

2.5 - Fluxo de caixa depois do imposto de renda.


Como o IR é uma despesa, deve ser incluído no fluxo de caixa. A depreciação
não é despesa ( não há desembolso de dinheiro) e, portanto, nunca pode aparecer num
fluxo de caixa.
Para efeito da análise econômica de projetos vamos supor, em nosso modelo, que
o imposto de renda é pago no fim do exercício. Na realidade, atualmente ele é pago
mensalmente, por estimativa, acertando-se o montante exato no final do exercício.
É usual que o imposto de renda tenha taxas progressivas, por faixa de lucros. Se o
lucro adicionado pelo nosso projeto não mudar a faixa em que está o lucro da Empresa, a
taxa a ser usada é a mesma da faixa correspondente. Porem, se causar mudança de faixa,
a parte do lucro do projeto que cair na nova faixa pagará uma taxa maior e nos nossos
cálculos temos de usar uma taxa média, calculada proporcionalmente.
Esta taxa média é denominada taxa marginal ρ .
O fluxo de caixa depois do I.R., FCd é simplesmente o fluxo de caixa antes,
FCa menos o imposto de renda IR .
Sejam R a receita, D a despesa, I o investimento do nosso projeto, Depr a
dedução por depreciação, ρ a taxa marginal do IR , IR o imposto de renda a ser pago
devido ao projeto e LT o lucro tributável do projeto. Temos:
FCa = R - D - I
FCd = FCa - IR
IR = ρLT = ρ( R - D - Depr )
FCd = R - D - I - ρ( R - D - Depr ) = (1-ρ)( R - D ) -I + ρDepr
Suporemos, salvo aviso expresso em contrario, que doravante os fluxos de caixa
que usaremos são pós IR.
Exemplo - Uma empresa está estudando a aquisição de um equipamento que cus-
ta 100 mil reais. A receita esperada é 55 mil reais e o custo operacional 10 mil reais,
por ano, durante toda a vida útil que é estimada em 8 anos, quando se calcula o equipa-
mento poderá ser vendido por 40 mil reais. A vida útil legal é 10 anos. O equipamento
será usado em 3 turnos de trabalho. Montar o diagrama de fluxo de caixa após o I.R., sa-
bendo-se que a taxa marginal de I.R é ρ = 30%.
Usando a depreciação acelerada, temos a taxa de depreciação d = 1/10 *2 =0,20.
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A tabela 2.5.1 mostra os cálculos.

Instante Investi- Receita Depreci- Lucro Tri- Imposto Fluxo de


mento Líquida ação butável de Renda Caixa pós IR
0 -100.000 -100.000
1 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
2 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
3 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
4 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
5 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
6 45.000 45.000 13.500 31.500
7 45.000 45.000 13.500 31.500
8 85.000 85.000 25.500 59.500
Tabela 2.5.1

2.6- Exercícios

2.6.1 - Uma empresa está considerando duas alternativas de equipamento para fa-
bricar determinada peça. A previsão de vendas é de 10.000 peças por ano, ao preço unitá-
rio de $2,00 .
O equipamento A custa $4.500 e tem uma vida esperada de 10 anos, quando
pode ser vendida por $500 . Seu custo de produção é $0,12 por peça.
A maquina B custa $8.000 , tem uma vida esperada de 15 anos, sem valor re-
sidual. Seu custo de produção é $0,10 por peça.
O material empregado custa $0,50 por peça.
Se a taxa de imposto de renda é 35% para qualquer valor do lucro, e a vida útil
legal de ambas as maquinas é 10 anos, construir o fluxo de caixa pós I.R. para cada uma
das duas maquinas, usando depreciação linear.
2.6.2 –Resolver o exercício 2.7.1, usando depreciação exponencial com taxa 0,40
com mudança para linear ( sistema misto).

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