A ficção científica descreve o futuro não no sentido de fazer adivinhações,
entenda o porquê.
Quando ouvimos falar de ficção científica o primeiro que
normalmente ocorre é se pensar em algo que acontecerá no futuro.
É inegável que a maioria das histórias de FC são ambientadas
no futuro, e a técnica mais comum é a da extrapolação científica de determinados processos atuais. Por exemplo, extrapolando a ideia dos carros com a dos aviões pode-se facilmente imaginar um futuro com carros voadores. Extrapolações com a medicina pode levar a um futuro onde as pessoas seriam quase imortais. Todas as atividades humanas são passíveis dessas predições augurais do futuro, entretanto isso não é ficção científica, mesmo que no início do gênero tenha sido bastante utilizadas essas descrições das “maravilhas do futuro”, hoje a FC já não pretende mais adivinhar o futuro, nem mesmo antecipar um estado da humanidade no sentido mais restrito, mas sim, especular sobre o que poderia acontecer se ocorrerem determinadas condições. 2
Assim que a característica principal da FC não reside na
ambientação futurista, mas no seu caráter especulativo a partir da nossa realidade e das suas possibilidades implícitas.
Desta forma, coexistem os diversos
subgêneros da FC que não descrevem o futuro, especialmente a Fantasia com suas histórias ocorridas num passado hipotético e mitológico. Também histórias como ‘A Guerra do Fogo’ de J.-H. Rosny Ainé, narrando um acontecimento entre os grupos humanos anteriores ao uso da linguagem padronizada, é pura ficção científica.
Outra forma de extrapolação histórica é com
a Idade Média, de onde há muitos exemplos de uma espécie de futurismo-feudal, um claro retorno dos mitos medievais em um futuro distante. A novela mais emblemática desta situação é ‘Um Canto para Leibowitz’ de Walter Miller Jr., com a história pós-atômica da instituição de um neo-obscurantismo monacal devido ao banimento da ciência e dos cientistas, culpados da hecatombe nuclear que arrasou a terra e trouxe monstruosas mutações, que agora vagam na ignorância supersticiosa, entre as poucas terras não contaminadas do planeta.
Felizmente, a ficção científica não é somente ir em direção ao
futuro, tanto que a maior parte das máquinas do tempo mais criativas já inventadas são as que levam os indivíduos ao passado, veja-se a máquina feita de feixes de táquions para ser portadora de mensagens ao passado na novela ‘Timescape’ de Gregory Benford, ou no estilo da série “Patrulha do Tempo” criadas por Poul 3
Anderson, ou nos contos de Fritz Leiber
agrupados em ‘The Big Time’ todos voltados para a ideia de ir ao passado para corrigir imperfeições da nossa própria época. Veja-se também o subgênero Steampunk, com histórias em um passado meio alternativo, envolvendo técnicas científicas anacrônicas, como a existência de robôs movidos a vapor, por exemplo. (Steam significa vapor em inglês).
Portanto, a ficção científica não pretende adivinhar o futuro, e
quando o faz (pois muitas vezes suas extrapolações são realizadas) não é como um fim, mas sim como um meio. Pois a finalidade básica da FC é ampliar a nossa perspectiva temporal para oferecer- nos uma visão mais distanciada e mais livre da nossa realidade em suas contradições intrínsecas.
Bibliografia citada:
J. –H. Rosny Ainé. A guerra do fogo. 1911.
Walter Miller Jr.. Um cântico para Leibowitz. 1960.