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à vendana Livraria
FRANCISCO ALVES
DE OLAVO BILAC
sias Infantis, 1 vol. ilustrado, enc.
emprosa é emverso
= u Monbon monsie
Apprenes que tout latteur
Vit auxdépens de celui qui Nécoute ».
aFonta
“ACTO UNICO
SCENA PRIMEIRA
Alberto e Edmundo
EDMUNDO, sorrindo :
Creio que sim,
sm,
E então?
= um
O professor julgará.
ALB. ”
Mostra-me, Eu imagino! Ta tens uma riquissi a
veia poetica. Hei de sempre lembrar-me d'aquelle admi
as tas grammaticaes e-das interpre-
* tações camoneanas, é penedo.
“ BDM,, vaidos
Lembras-te 2 havia uma quadra bem feita.
ALE.
Uma quadra,..! Tudo ali era soberbo—quatorze |
versos que valiam por mil, Eo estylo,..!Ea opulência -
das rimas, ..!
EDM,
SCENA TI
Edmundo é Thereza
TH,
Enquanto em escrevi, elle dormiu. Só setrabalhou &
de manhã. EA a RE EE
8
EDM.
Para veras figuras dos jornães ilustrados,
E TH. x
Viste? :
EDM,
Elle mésniodisse-me,
TH: é
"Panto peior, Terá o que merece. (Prestando attenção).
Creio que elle ahi vem,
EDM.
“Palvezseja 0 professor e eu vou buscar os meuslivros.
SCENAHI
Therezae Alberto
De ondevens assimafogueado?
ALB,
Wui rever o meu exercicio. (Amuado :) O senhor mem
irmão fiscalisa demais os meus passos. Esteve a dizer mal
“é mim, com certeza : que dormi, que não me preocenpei
“tom a tarefa, Sim, domi, à noite, porque prefiro traba-
lar com a fresca da manhã, Demais, eu não tenho a
“imaginação ereadora de Edmundo, ném componhô por in- .
e
imação : vejo e descrevo o que vejo. A que horas nie le- -
Tn.
ALB,
“ Cinco e meia. Para que? Para vernascer o sol, onvir
passaros, sentir a madrugada.
vm,
E deserevela...?
aLB., idissimulando
SCENAIV
Os mesmos e Lucinda,
LUCINDA, ú direita :
Está ahio professor.”
Um momento. ( Á Lucinda :) Elle traz os oculos:
eres ? Er
LUCINDA
Não, senhor. =
ALB.
Os brancos ?
2 LUCINDA
Sim, senhor. SEA
ALB,
“Temos Camões. ..
«TH,
= Porque? o
à ALE,
“É que elle, para entender osclassicos, emprega len:
es de telescopio. Tem a vista muito curta, o pobre.
homem. ; E
TH.
E tu tens a lingua muito comprida.
ALB.
PO que sobra não prejudica. ( Suspirándo:) Ah!
Minha mãe, so & Henhoia imieindoso quanto me custd
= Supportar a vida nas horas da grammatica | Deus não fez
grammática,,, pelo contrario : confundiu as linguas e
Oque 1xós fazemos comtantas regras futeis é até sacrilego, |
Porque pretendemos corrigir a obra-do Creador, Os ver.
irregulares...
Não queres ser medico ?
“ALB.
Seilá!
LUCINDA
Posso mandarentrar ?
TH.
Podes. (Lucinda entra é direita.)
ALB,, suspirando :
E lá fóra as cigarras cantam... Falta de coração !
( Senta-se ). e u Ea
SCENA V
Estimodusin rebus...
am1., baixo a Alb. :
Já começas !
O PROF.
e ur. Ê
Essaestá emcondições magnificas. E
o PROP,
En sempre digo aos meninos que evitem as más com.
panhias. Ha um certo Augusto, que mora aqui ao lado...
* Ah! minha senhora, foi men alumno, .. é nm rochedo !
Nunca passondo substantivo, e para formar o plural... que
— Incta ! Ru dizia-lhe ;o plural fórma-se accrescentando-se
“ums... exemplo... Nada! embuchava, Uma rocha,
tinha senhora, É verdade que 9 pae-tambemé Rocha,
É AL
Não, professor, é Pimenta,
O PROP,
Como Pimenta? Ah! sim... tem razão=6 Piment
Rochaé outio, é o meu senhorio, Tambem duro, muito |
duro !(Zroca08 veulos bricos por outros escuros).
otulos. Estou livre do Camões, masnão
pror,
“Bem, Vamostrabalhar.
a ALE.
SCENA VI
Thereza e o Professor
TH,
Então, professor, acha que os meninos estão prep;
Yadospara 05 exames?
PROP.
É a opinião de V. Ex. 2
za.
detodos que pensam bem.
TH.
Não, exijo que elle diga Primeiramente —-eljomÀÉ
— dia!» como diziam os seus avós, depois. .
PROF.
Bemse diz que não ha regra sem excepção. Pois em
portuguez élles não estão lá muito fortes, isso não estão...
* mas em francez ! Sabem trechos de Racine, de Corneille,
E Lamartine, de Hugo. ]
E
TH.
E de Camões ?
PROP.
Camões 2... Camões é nosso, Agora é que elles co-
egaram com os Lusiadas. Mas ha tempo.
SCENA VII
Osmesmos, Edmundo, depois Lucinda
EDM,
( Butrando peluesquerda como livros: )
Bom dia, professor,
1. Este Dontro? (aBirmando à vista:) Ah n
SO. O ontro estava aqui, ha poços
sa. E
oi buscar os livros, 2
PROP,
ta,
“Die à Alverto que são horas da lição. —
LUCINDA
“Verbos da 1: conjugação.
PROP.
Muito bem, Porque ?
EDM,
Porque terminam em — ar.
Th.
|
PROF,
Sim, senhora — é da primeira conjugação.
à: TH.
PROF. ;
Este processo mnemonico é exclusivamente meu .
zm.
E tem algum outro para as demais conjugações ?
PROP,
Eston descobrindo, minha senhora.
da
— SCENA VIII
ALB.
Levantei-me às cinco horas, mamãe pôde dar teste-
unhodo que digo, e sahi ao jardim para surprehender
— a primeira luz. O que vi, mal ou bem, aquiestá.
0 Duronte a leitura Edmundo não se contém, accusando,
porgestos desensofiridos, a su indignação. O professor
acena-lhe para que se acalme; Thereza obri .
tar-se, contém-no. Alberto não se pertuba e, à medida que
Tê, accende-se-lho o entlusiasmo : )
«Esmaecida côr aclara o céu tranquillo. A barra do
horizonte córa, tinge-se de pnrpura — uma faixa de
«onto risca-a vesplandecendo. Os ninhos despertam e à
passarada foge alegre, chilteando pelo livre espaço. As:
arvores rebrilham, humidas de orvalho, gottas rútilas |
tremem nasfolhas tenras, e as aguas ligeiras fazem uma
Surdina...
EDM., sempader conter-se ;
Masisto é meu !
Silencio !
Elle furtou.
: aus.
Eu copiei?!
EDM.
Copiaste, sim.
TH.
Mascomofoi isso 2
EDM,
Foi aqui mesmo, Eu tinha acabado de estudar quando
Alberto entrou perguntando seenhavia feito a composição.
Disse-lhe que sim e elle, que tem labia, poz-se a elogiar-
me:> que eu devia ter escripto uma linda pagina, que en
tenho muito talento, que faço versos admiraveis. .e...
PROF.
de io irne
Pois não. (Desdobra “o papel é é tranquillament 2a
«Esmaecidacôr... Ê
TH, fingindo lêr no livro, mesmo tom .-
«««Belara 0 céu tranquilo. (Movimento de Alberto.
Os dois meninos entreolham-se pasmados, O professorsub:
Btitue os Oculos, -atarantado.) Vamos, continia.
ALB,
« A barra do horizonte córa,
3 TH.
« ««.tinge-se de purpura,
PROF.
E extraordinario !
= ALB., Com-voz tremula >
«uma faixa de ouro...
aLB., já desorientado ;
« Os ninhos despertam... .
TH,
«ea passarada foge alegre chilreando pelo livre
o » Vamos !
ALB., com voz sumida
« As arvores rebrilham. .,
2H.
-humidas de orvalho
PROF.
Prodigiosa memoria tem V. Ex. !
TH.
Vamos adeante.
ALB., amiado +
Não leio mais,
Ta.
Nem é pao: Ambos merecem Furna Castigo,
aLB,
Está visto,
1 “Edmundo. uto dos meninos—ulegre, de Edmundo ;
indignação, do Alberto.) Puz empratica um estrata-
ma é resultado foi além do que eu esperava. Aqui
riginal do Edmundo de que me servi pará a lei-
obra de Alexandre Herculano que está em mi-,
mãos 6, . 0 almanachd'este amo. (A Alberto:
E. agora ? tens alguma consa a dizer. contra teu irmão ?
PRor., ú parte:
Tem sangue de Salomão nas veias esta senhora,
ALR., vezado :
Euestava brincando, .
PANXO
À Borboleta Negra
CosepiA EM 1 ACTO
ACTOUNICO.
Leonor e Maria
MARIA
É umacoisa... Deixe por minha conta.
LEONOR
E tu tens visto casos ?
MARIA
Se tenho visto. ! Quantos ! minha Nossa Senhora...
mem têm conta. (Mysteriosa :) Olhe, certa vez, lá em .
casa, estavamosfazendo serão na sala de jantar quando, |
porvolta dasoito e meia, entrou wma borboleta negra,
exactamente igual à que lheappaieceu, é poz-se a voar
ponsando no tecto, nos moveis, com as grandes azas espar-
“ximadas. Minha mãe, que Deus tenha,logo a esconjurou
com uma oração muito forte, tão forte, menina, que, ás
vezes, à gente não tinha ainda chegado à metade é já 01
milagre estavafeito. Foi uma halburdia, ninguem mais,
pensou em costura, pozemo-nos todas a enxotar O agouro.
aa LEONOR
“Equeaconteceu ?
é MARIA
— Nada, por causa da oração de mamãe. Outra vez foi
im vidro de sal que se derramon na mesa. Ah! menina.
*fiquei sempingade sangue é tratei logo de fazer uma
promessa à Santo Antonio. Pois, apezar disso, um
ano depois mew irmão mais velho rolon a escada e que-
brou um braço. Se eu não tivesse feito a promessa, nem
sei que teria acontecido ao rapaz. Não, com essas coisas |
não quero brincadeira. Dens me livre! ( Persigna-so.)
Trago sempre commigo os meus breves, uma figa de aze-
viche, duas de guiné, trés de chifre, umade coral e te-
nho á cabeceira de minha cama uma deste tamanho ! E
esta... (mostra una figa à cinta ). E ainda umdente de
Vezonro. A menina deve tambem possuir a sua figuinha,
uma pelo menos. Não brinque com essas coisas.
LEONOR
E se eu morro, Maria... !
MARIA
Não, não morre. Conte commigo ( Com importancia:
Então eu não sou sua amiga ? Eu, mal acabe o serviço,
metto-me no quarto é rezo.
LEONOR :
Então vae já. Eu faço a limpeza porti.
THEATRO INFANTIL 4
MARIA
= A menina ? Re
LEONOR
Sim. Que tem ?
MARIA
É que a patrôa póde zangar-se.
LEONOR
Não, eu digo que eu mesma quiz, para fazer um pon-
co de exercicio. ( Outro tom : ) E tu sabes onde ha figas ?
MARIA
Sei.
LEONOR
Quaes são as melhores ?
MARIA
Isso é conforme, Para quebranto, as de guiné ou dé
| azeviche. Para fortuna, as de coral. Para... eu sei,
“A menina deve usar uma de azeviche.
LEONOR
Tu és capaz de comprar-me ?
MARIA
Sou.
Ê “LEONOR
Como és bôa, Maria.
MARIA
Al! eu quando estimo, estimo.
e a LEONOR
É :
E; Dácá espanador, . .e vae fazer a oração,
MARIA
Então até já. E não tenha medo: em eu rezando.
não ha mal que vença. Não sesembra d'aquelle copeiro |
que esteve aqui? o Feliciano? Eu tinha-lhe um odio!
Tanto rezei, tanto rezei que o patrão pol-o na rua.
LEONOR
- Porque lhe furtava os charutos,
MARIA
Historia! menina, quem furtava os charutos era eu,
LEONOR
Hof? =
MARIA
Sim, senhora,
Lroxor
E fumas?
MARIA
Deraiva. Naquele tempo fumava.
LEONOR
“E não ficavas tonta..?
MARIA
Mas parece que não foram as orações, Mai
MARIA
Os charutos.,.Ora ! se eu não tivesse rezado,0 pa-
tão nem teria dado pela falta. A menina ha de ver.
LEONOR
Então vae. Não descanço emquanto não fóres rezar.
MARIA
Pois vou.
LEONOR
Vaee. ..olha...Podes ficar com a mantilha de renda.
MARIA
E a menina ?
é LEONOR
Tenho outra.
MARIA
Dens lhe acerescente, (Entra à direita).
SCENA II
“Leonor e Mathitde
Leonor põe-se a espanay machinalmente
pensativa, >
diaria,entrandopela esq.dê
Onvque isto? Denctoafebredoaseio ?
Distraio-me.
z MATHILDE
Bôa distracção, não ha duvida. (Vendo-a chorar)
— Que tens?
LEONOR
Tenho tanto medo de morrer, mamãe!
: MATHILDE,
Morrer... Mas estás sentindo algumacoisa ?
LEONOR .
q Unaborboleta negra entron no meu quarto, pousou
no quadro das parasitas,
MATIILDE
Que tem isso 2
q LEONOR
É um aviso,
J MATHILDE
Aviso de que ? Ora, minhafilha... Quem te metem|
MATHILDE
An! D'esta veza prophecia vae realisar-se. Manda-a
cá, Quero onvil-a, Tenho interesse em conhecer todo «
* proguostico mysterioso.
SCENA IL
Mathilde e Maria
MATHILDE
E gafanhoto ?
lo escuro—desgostos. Beija-lsrrórde, cartafeliz; par
“fo, más noticias, Grillo em casa, doença ; no jardim, pro-
xima chegada de úm parente. Andorinha em volta d:
MATHILDE
MARIA
Eu sei porque é que a patrõa pergunta...
5 MATHILDE.
Sabes ? E
MARTA
SCENA IV
MATHILDE, 86:
Pobre rapariga! A culpa, afinal, é dos que a educa-
ram. Entre nós é com o terror que procuram corrigir a
treança—em vez de lhe mostrarem o mal, assustam-na
com o mysterio, ameaçam-na com o imaginário e, en |
chendo sombriamente o espirito infantil de extravagan-
eias, dispoem-no para todas as idéas falsas, tornam-no-
— pusillanime euserros e prejuizos que cabem na ignorancia,
adubada pela mentira, multiplicam-se em superstições.
Por mim a pobre rapariga continuava no seu posto—o
seu vicio não me intimida, estou bem forrada contra |
elle; infelizmente, porém, o espirito de Leonorainda nã E
E ore, depois o grilo, depois éoem
Hvitemos à tempo maior mal.
SCENAV
Mathilde e Leonor
LEONOR
«Entra a correr, profundamente abatida, e deixa-se cahir em
umacadeira estendendo à Mathitde umpapel. Voz surda:
Leia, mamãe. Eu não tenho coragem.
MATHILDE
Que é?
LEONOR
Um telégramma.
MATHILDE
Recebeste-o agora?
LEONOR
Neste momento.
MATHILDE
De onde vem?
LEONOR
Das Laranjeiras... (Voz tragiea:) A borboleta...
MATHILDE
que o tronxe?
LEONOR
MATHILDE
Sa Estão agora empregadas nos telegraphos, as borho-
letas? Não sabia.
* Leonor
Não ria, mamãe, Eu contava com isto,
MATHILDE.
Com o telegramma ?
LEONOR
É o
Ou com outra coisa... com uma desgraça qualquer,
Maria estava rezando, mamãe chamou-a... ahi tem 0 re-.
sultado.
MATHILDE ã
Realmente a desgraça não poília ser mais ligeira—
para não perder tempo veim pelo telegrapho. (Leonor.
chora:) Mas não te afílijas, se ainda não leste otele:
gramma, nem sabes de quem é.
' LEONOR
Té de Engénia,
MATHILDE
Que Eugenia?
LEONOR
Engenia de Lima, que móra nas Laranjeiras,
TMEATRO INFANTIL
MATHILDE
Algama colega? (Signal afirmativo de Leo; o
“estava doente ? -
LEONOR
Nãosei... Morreu com certeza.
MATIILDE
Entãoo telegramma não vem das Laranjeiras, filha,
vem do outro mundo.
LEONOR
Oh! mamãe...
MATHILDE
Vamos ver. Calma. (Abre o telegrama e té sorrindo.)
— Realmente à bonboleta.*.
LEONOR,Sobresaltada :
Morreu!
MATHILDE, lendo tranquilamente :
«Leonor, Espero-te amanhã sem falta, baptisado
Mimi. Eugenia —
LEONOR, surprehendida :
Ah!
MATHILDE
Parece que a noticia não obriga a lucto ?
LEONOR
É o baptisado da boneca. Eu son a madrinha, (Respi-
ranto :) Que allivio !
E MATHILDE
Já vês que foste injusta com a borboleta.
x LEONOR
Al! mas quemsabe lá o que pódeainda acontecer,
MATHILDE
Sim, póde ainda acontecer muita coisa. Podes, por.
“exemplo, achar que 0 vestido que à costureira mandou
não vae bem com o ten chapéo novo... E
LxoxoR
Veiu o vestido ?
MATHILDE
Ha ponco. É
LEONOR
E mamãe tão calada.
MATHILDE
conjuros de Maria.
LEONOR
É porque mamãe não viu a borboleta.
MATRILDE
E
E is alo coleta dE orhletado erradu “ndara
nhotos? Acreditas que,Eaeanmuncio os sens designios de
à fiebrâniio espelhos, o dt na seentnra sligplovis pode-
resextraordinarios para conjuraras suas intenções 2 Não
vês que isso tudo é contra. o senso commum e contra os
“mesmosprincipios da tua crença ? Falaste em borboleta
“negra e não tiveste, desde queestás em ferias, umdia
LEONOR
MATHILDE
Tu?
LEONOR
Mamãedisse-me, la pouco, que é por ignorancia que
ella faz taes coisas,
MATHILDE
Sim,é
LEONOR
Pois a ignorancia é um malque se corrige facilmente, |
E aqui eston eu para corrigil-o : vou ensinar-lhe a ler.
“MATHILDE
E MATHILDE
Se promettes cumprir o que disseste...
LEONOR
Prometto. Ella trouxe-me a treva, eu respondo-lhe —
com a Inz.
MATHILDE
Muito bem. Agora à sibylla. Maria !
“MARIA, limpando os olhos;
Senhora !
MATHILDE g
Leonor pede-me que te conserye e eu não quero dar-
lhe um desgosto para que ella não o attribua à influencia
da borboleta negra.
MARIA
A malvada!
MATHILDE
Se a casa te agrada...
MARIA, deixando cahir a trouxa É
“Se me agrada !. . Masonde encontrarei eu o trata- ú
mento, o carinho que tenho aqui ? Ê
MATHILDE g
Pois bem, podes ficar comnosco todo o tempo que
a proposito de tudo,
E MARIA
Prometto, patrôa. En mesma já vivo muito abor
“cida com essas coisas, “Tudo sahe às avessas, Querà u
LEONOR
E então?
= MARIA
Tudo branco, E a borboleta yae para o quarto da
“menina é é sobre mim que a casa cabe. e
MATHILDE
MARIA, radiante:
* Amenina!?
E e LEONOR
Sim.
MARIA e
Ah! a mariposa brancade ante-hontem...
MAmiLOE, operar
Aro açÕ
E a ultima vez, patrõa... (Baixinho :) A mariposa.
braneg... (De mãos postas :) Ler ! A vontade que en tenho-
de Ter, de andar com os olhos pelos livros. Dizem quea
gente lendo é como se tivesse azas—vae onde quer, vê 0
“quequer... E eu tênho tanta vontade de ver é sou como
uma ceguinha... Ah! menina. Não, a borboleta não era
negra... não polia ser... Ab! menina... Eu vivo deante
de um palacio de ouro e marfim... As portas estão todas
fechadas, lá dentro ha riquezas... que riquezas ! e vema
. menina e diz-me ; «Maria, aqui tens a chave do palacio,
abre as portas e entra». Ler !
MATIILDE
Então, queres ?
MARIA
Se quero? Ó patrõa.,.
MATHILDE
Epromettes nunca mais andar com tolices como as |
que dizias à Leonor ?
MARTA
Eu dizia porque acreditava, mas agora estou con-
“xencidadeqne tudoisto é mma historia. Borboletas, gafa-
“ nhotos, corujas... (Depois do uma pausa :) Ler! (De re
— pento:) Mas à meninaviu bem...?
LEONOR
e E Ea
— As. Não... não... Juro, patrôa, quenuncam a
— em borboletas (Baixinho :) Ler... Aprendera ler... N
não possivel quefosse uma borboleta negra... Era azul
«<om certeza, cor do céu...
E MATHILDE
Então, Maria ?
MARIA, dum cataso ;
Côr do céu...
LEONOR, rindo ;
MATHILDE
Pobre rapariga ! Decididamente era uma crueldade
fazel-a voltar á escuridão,
Manoel
Martha
«A morte do dia» !
AMELIA,
“E já está prompto ?
f CARLOS
F Ainda não.
Só fiz por oraum quarteto. .
Ouve!
AMELIA
* Son toda attenção !
-
CARLOS (lendo, com emphase):
* Já não passa ninguem pelo caminho ;
O sol desmaia no horizonte caimo;
Voam as aves, procurando o ninho,
Ea noite,..e a noite. .cresce palmo a palmo...”
AMBLIA
Palmo a palmo 2 agora entendo !
(dá uma grande risada)
CARLOS
* (enfiado)
Mas de que é que você ri ?
AMBLIA
(rindo sempre )
e uma peça de chita
Sobre o balcão desdobrada,
E você, abrindo a mão,
A medil-a ... Sim, senhor! |
Teve uma imagem bonita !
* (com ironia ) Mas palmo é medida antiga... -
Édo Passado um espectro,
Cheirando a moto e a bolor ...
Corrija esse verso, e diga :
"Cresce a noite metro a metro !"”
É mais moderno...
( continuando a rir ) Temgraça!
E cakLos
(cungado )
Já vem você com a chalaça !
Nãolhe acho graça nenhuma !
É uma mania infeliz
A da gente que costuma
Andarmettendo o nariz
Emconsas que não entende !
AMBLIA
(abraçandoso )
Nãote zangues ! que tolice!
Foi brincadeira o que eu disse...
Bem sabes quanto te estimo !
indo ouço Angusto, teu primo,
Zombare mofar de ti...
E “Não te zangues ...
— (persuasiva) Mas, aqui,
Entre nós dois, em segredo ;
“Tu tens apenas treze annos ...
Ficam-te mal esses ares
Sabichões e soberanos...
Não achas que é muito cedo
Para fingir de grande homem ?
Esses modossingulares
Só servem p'ra que-te tomem
Por gabola é patarata |
caRLOS
* (Ceomum ar superior )
Cada um sabe de si
E Dens de todos ...
AMELIA
Pedante!
Cousa peior nunea vi ...
Tuasciencia barata
É comoluxo de pobre :
De ridiculo te cobre,
Sem que teu nome levante !
— (Caros dá-lhe as costas, e vae sentar-se ú mesa, escrevendo)
AUGUSTO
Carlos! Amelia ! é a hora!
Vamos á nossa partida!
Temos sombra no jardim. .
AMBLIA
“Vamos !
NAZARETH
Vamos sem demora !
ALFREDO
Vamos, Carlos?
aveusro(dirigindo-se tambem a Carlos)
Yamos ?
caRLOS (sem se voltar)
Não!
Deixem-me com a minha vida,
Que nãoprecisam de mim !
AMELIA (carinhosa)
Vamos, Carlos, meu irmão !
0, dando um soco sobre a mesa)
Não! não ! e não ! que maçada!
AUGUSTO (Ironico)
Deixemos o sabichão !
Não pódejogar a bola
Quem tem como elle a cachola
Deidéas abarrotada.. .
Brincar ? isso é bom p'ra nós,
Pobres diabos sem talento...
Mas uma aguia, um albatroz,
Descer das suas alturas,
Do cume do Pensamento,
Para fazer travessuras... -
“Isso é quenão pódeser!
O Genio não joga a malha,
Não gosta da cabra cega :
Só aos prazeresse entrega
Do Estudar e do Saber...
AMBLIA(intervindo)
Que é isso, Augusto ?
— CARLOS(levantando-se, com um ar importante)
Ê O motejo
Ta arma dos imbecis!
AvGUsTO
Bravo ! bonito lampejo!
Teve uma phrase feliz !
(Gartos encolhe os hombros, é vae até dá porta)
CARLOS (chamando)
José!
(entra José)
Não veio o correio?
Não tronxe nada ?
José
Trouxe jornaes. ..
é Ondeestão ?
Vêse algum é para mim !
CARLOS (condescendente)
Espero a «Revista Nova» .
Enviei-lhe um madrigal
Para o concurso mensal.
E sujeitei-me essa prova
Nacerteza de vencer !
Assim hei de responder
Á zombaria banal
Dosinvejosos...
NAZARET
Augusto,
Apanha, que te dou eu !
E ALFREDO
Fala bem, que é mesmo um gosto !
AvGUSTO (sarcastico)
E com certeza venceu...
Ganhon o premio sem custo !
“Nas lojas...
CARLOS (Eangando-se)
* Eporque não?!
Valho tanto como os mais!
NAZARETI (inclinando-se)
Vale mais... -
ALEREDO (imitando-a)
Sem discussão...
AMBLIA (conciliadora)
Basta ! basta de contendas!
CARLOS (colerico)
GRrros (furioso)
Hapor lá uns tres ou dois,
Que não me valem !
ALFREDO
Apoiado !
CARLOS (exasperado) .
Que ousadia !
— (sue, brutalmente, batendo com à porta)
SCENA HI
Oa mesmos, menos Carlos. Depois, José.
AMELIA (4 Augusto)
Você é máu... Que conflicto !
Porque o não deixa tranquilo?
AUGUSTO
É preciso corrigil-o,
E salval-o d'esse vicio !
Elle é um monstro de vaidade, ..
E a vaidade é um precipício...
Onde se viu um rapaz
Viver assim, como um frade,
Sem querer rir, nem brincar,
“o Pepe é a Rei jo Dar a?
Não posso ver a formiga
Por aguia quererpassar...
(Entra José, trazendo a «Revista Nova»)
Dê cá!! vejamos o caso
Dotal concurso ! E
=(sae Jos)
E Cá está !
Mendo) É
É «Os certamens do Parnaso»...
Tiveram premios...
“(é em voz baixa, o depois exelama) :
Não ha
Nenhum Carlos premiado... a
AMELIA (condoída)
Que desilusão ! Coitado !
(Augusto continia a ler q Revista, é de reponto dá uma
— grande risada),
NAZARETH
Que é?
ALFREDO
Que foi?
aveusto
Bella pilheria !
E que castigo tremendo !
O AMELIA -
- Masdize o que é que estás lendo !
“AvGusTO
Desta vez a cousa é seria !
Mas que sóva ! Onçam só isto !
É nasecção do «Correio»
AMBLIA
Coitado |
AtqusTO
Coitado, não !
Talvez este desengano
Seja a sua salvação...
(reflecte um pouco, é depois) *
Vamos tratar de cural-o ;
(guardando no bolso a « REVISTA »
Guardemos isto porora :
Havemosde aproveital-o,..
Agora escutem. Nós yamos
Usar de meiosextremos ;
Ou doente salyamos,
On só o tempo perdemos,
Vou escrever-lhe umacarta,
Em nome.. .da Academia,
AMELIA
Mas...para que?
AUGUSTO o
Vaes ouvir. E
Havemosde rir à farta SRA
Dasua pedanteria !
Mas não é só pararir
Que o metto n'esta tortura.
Porque o ridiculo é forte ;
Póde ás vezes dar a morte,
Porém quasi sempre cura !
AMELIA (rindo)
E você crê que elle pense
Queesta carta é verdadeira ?
AUGUSTO (com contieção)
Se pensa... Prompto !
* (fecha a carta, vae a porta, é chama)
José !
MR)
"Toma nota no que digo ;
— Guarda esta carta comtigo ;
“Tu-nãosabes de quem é...
E, quando Carlosentrar,
Entrega-lh'a ! Estás ouvindo 2
JOSE
Sim, senhor.
Quizer saberde onde veio
Dirás que a trouxe um correio
Agaloado...Onvebem!
Velá! por mais queelle insista,|
Não lhe has de dizer mais nada VE
Enãolhedigas tambem
Que me entregaste a Revista...
“disfarçando)
Enma simples cazoada...
JOSÉ
Sim, senhor.
NAZARETI (que temestado vigiando a porta)
Eil-o que vem! E
“saem todos, menos José)
SCENA IV
Carlos e José, Depois, Cartos só.
CARLOS (entrando sem dar pela presença de Jost)
Foram-se, emfim ! Oh! que gente !
Com tanta amofinação,
Perturbam-me a inspiração,
Põem-me nervoso e doente !
Vasmesde novo ao soneto...
Para o segundo quarteto,
(recitando)
“E anoite.
O J0sÉ (intervompendo-o)
Seu Carlos !
CARLOS
Que é?
JOSÉ
Inda ha pouco
“Trouxeram isto...
* caRLOS (recebendo a carta)
S Dá cá!
(emquanto elle abre acarta, José vao saindo pé ante pé)
— Uma carta. .Que será ?
“(á medida que vae Tendo, vie dando mostras de grande
“agitação ; por fim, tem um grande espanto)
Que é isto? estarei eu lonco ?
Da Academia ! Meu Deus!
| É certo que a Academia
Deseja ter-me entre os seus !
Que victoria ! que alegria! |
E E Que triumpho! .
(vaeàjanelta)
Amelia ! Augusto !
SOENA V
Todos, menos José
AMBLIA
Que é que você tem ? que susto! !
CARLOS(enthusiasmado)
Venham ! onçam ! que ventura!
NAZARETH
Mas que ha de novo 2
CARLOS(agitando a carta no ar)
Hade novo
Que en son, de todo este povo,
A mais feliz creatura !
Eu pertenço à Academia!
TODOS
Á Academia ?!
CARLOS (como um lwuco)
Sim ! sim
queé que eu lhes dizia 2!
AUGUSTO
Mil parabens!
NAZARETH
“Agora, sim ! é quetens
Razão p'ra ser orgulhoso !
E caRLOS
— (aparte, como sonhando)
E Que futuro esplendoroso !
avausTO
(mai contendo o riso )
“E que honra para teu pae ! |
[O NAZARBTH 6 ALFREDO
“Certamente!
CARLOS
Ah! é verdade !
Nem mé lembrava. , estou tonto, . -
Parece-me um sonho, um conto...
A papão... Atéjá
AMELIA
( Carlos sae correndo )
SCENA VI
Es
(rindo)
M NAZARETH
SA
Agora é que vão serellas ! :
ALFREDO
(chegando à janella )
Vae como um doudo, a correr, .
AMELIA (apprehensiva)
E depois?. . .só quero ver
Como é que desemmovellas |
Tão complicado novello...
avGusro (calmo)
Nada mais simples ! vaes vel-o.
Ten pae, onvindo-o, espantado,
Põe-se a rir, acha-lhe chiste.
eiaenthusiasmado,
Mostra a carta é 0 sobrescripto ;
velho perde a paciencia,
: 'a-se, passa-lhe um pito,
“Corrige-lhe a impertinencia,
E manda-o embora, corrido
De vergonha !
AMELIA
O que não sei
É se tudo o que fazemos
Não é trabalho perdido...
“Acreditas que o emendemos 2
AUGUSTO
“O remedio que empreguei
É poderoso e infallivel.. .
Vamos enral-o, verás !
AMELIA
Duvido... mas é possivel !
SCENA VI
Osmismos e Carlos +
(Caros entra, furioso, Tança um olhar de colera á irmã |
é aos primos, e vae sentar-se a um canto dasala,
calado). é
aveusro (depois de um curto silencio)
Então, teu pae que te disse ?
Beijou-te ? ficou contente ?
antando-se indignado)
que é tudotolice !
ue eu sou um impertinente,
Que a carta é falsa !
É mentira!
É caçoada!... é malyadez 1...
(outraves sangado)
Mas en bem sei quem me atira
A esta vergonha... bem sei !
Bem sei quem é que me odeia...
(chorando)
Quem me quer mal... são vocês!
Só por inveja !
AMELIA
(aproximando-se)
Que idéa,
Carlos!
CARLOS
(cangado e chorando)
Que mal lhes cansei ?
(Quelhes fiz eu 7 É despeito!
Éinveja !
AUGUSTO
oz Duixa aos outros )
Vamios com geit
Sim | fomos nós que esei
Aquela carta. Porém,
Tudo quanto te fazemos,
Fazemol-o por teu bem.
Ouve-me ! à !
CARLOS
“(batendo o pé )
ER Não onço nada !
É inveja ! é inveja damnada !
mxugando os olhos )
Pois sim ! Mas tenho um recurso.
Hei de mostrar-Jhes à prova
De que não sou um *”* pichote ” ...
Hei de vencer o concurso ;
Espero à ”” Revista Nova ” !
: auqusTo
a Amelia )
Vamos ao ultimo bote !
(entregando a Carlos a ** Revista Nova ”*, e indicando-lho
a pagina )
Pois bem! passa os olhos n'isto,
Lê comcuidado, ê bem,
E vê o que é queahi vem ;
Para Carlos Evaristo ! E
vista Nova», eeae sobre uma cadeira. Os outros, que
schaviam conservado afastados emquunto elle Tia, apro
Quevergonha !
augusto
Qual vergonha !..
Não te vás amofinar !
Desmancha essa carantonha !
Consola-te, e vem brincar !
Isso prova simplesmente
Esta suprema verdade :
É que, nºeste mundo, à gente
Para tudo tem idade...
NAZARETH
(abragando-o )
A Revista tem razão...
ALFREDO
- quando aconselha que não
“Deves perder a esperança !
Carlos ! ha duas idades:
Uma,para ser criança
Com todas as liberdades ;
E umaoutra para ser homem !
Ninguem muda o seudestino !
AUGUSTO
Não queiras mais que te tomem
Poridiota ... Menino !
(repetindo as palavras da Revista, e rindo)
» Estude, trabalhe, cresça,
E, depois d'isso, apareça !"*
« Carlos, que tem estado suceumbido, levanta-se de repente,
transfigurado )
CARLOS
Têm razão ! eu delirava. .
Foi um sonho enganador !
Era um marreco, e pensava x
Serum possante condor, ..
Quetolice ! que impostnra !
Mas, agora, estou curado !
Eston salvo !... e a minha cura
Devo-a a vocês : obrigado !
ALFREDO
Bravo !
AMBLIA
( contentissima )
. Agora, sim !
CARLOS
( apanhando a bola )
E,para mudar de vida...
AUGUSTO
“apanhando as pás )
Vamos á nossa partida !
"Temos sombra no jardim...
( Saem todos, correndo, )
Cue o panno,
E
MONOLOGOS
5 E
k
(MONOLOGO PARA MENINO )
É Grammatica, Arithmetica,
Gymnastica, Geographia,
Desenho, Cartographia,
Agronomia, Moral.
Lições de consas, dictado,
E toda a Historia Estrangeira,
Toda a Historia Brasileira,
Toda à Historia Natural!
rmeárionever : y
Emfim, a gente res
E vae aprendendo à custo.
Mas não seria mais justo, .
Masnão seria mais brando
Que a gente, quando nascesse,
Nascesse logo sabendo,
Comoaagua nasce correndo,
E o peixe nasce nadando?
Nãofalamnem patavina ! é
Parecem gente defunta!
Nem sei que lhes succedeu...
Se lhes faço uma pergunta,
e Quem me responde...sou en !
COMEDIA EM UM ACTO
Atualidade. — Sala mobiliada, — Portas 40 fundo, é direita
áesquerda,
“scesa TO
“Manoela é, depois, D. Maria
(Bmanhã. Manoela acaba de espanar08 moveis dasala. )
MANOBLA -
Ponhamos tudo direito,
Que faz annos o patrão !
Vae haver grande funeção. ..
Merece... É um homem perfeito :
- Serio, fino, delicado...
É a perola dos patrões!
Temos hoje figurões.. .
Se o patrão é deputado...
: D. MARIA
= Centrando)
Tudo prompto ?
MANOELA
Quasi tudo...
Poraqui não falta nada.
Sómente as flôres... A escada,
O gabinete de estudo,
Osquartos, — tudo está prompto,
“Tudo lavado, varrido,
Lustrado ponto por ponto,
Ponto por ponto brunido,
Tudo promptinho a brilhar...
EREMAREE E
Bem ! e a sala dejantar?| É
Arrunada ? : E
MANOELA E
Sim, senhora !
“D. MARTA
Ea louça ?
MANOBLA
Está sobre a mesa,
Quer que à arrumemos agora ?
De MARIA
D'aqui a ponco.., E
(sue Manoela)
SCENA II
De MARIA
Ora vamos
Que demora ! que moleza !
Quero que façam tres ramos,
Tres ramos muito bem feitos !
Heamores perfeitos,
Cravinas... Vamos a isso.
( Foda aJason um ramo ; as crianças imitam-n'a )
: Quero ver quem é que faz
- Mais esmerado serviço...
Nãoentra em concurso o mei.
ALICE
Sou eu!
JULIA
“Pu nãoéscapaz !
OOTAVIO.
Nem tu, é nemtu !... sonen!
D. MARIA
Nada de brigas | veremos!
Não sei julgar um trabalho
Que ainda não apareceu !
aLICk
(compondoo seu ramo )
Aqui estes erysanthemos...
ooTAvIO (idem)
Estasrosas...
JULIA (idem)
Este galho
De angelicas...
(idem) o
Estecrayo.;.
otavio (contemplando o trabalho jáfeito)
Bonito !
JULIA (idem)
Perteito !
ALICE(idem)
Bravo!
D, MARIA
E aspoesias ?
JULIA (precipitadamente)
Tenho a minha
Na ponta da lingra, — aqui...
De MARIA,
De cór?
JULIA
E linha por linha !
D. MARIA
Quando a estudaste ?
ocravIo
Onde?
aLiem
Quando ?
JULIA (embaraçada)
Nojardim... hontem... passeiando...
D. MARIA (em tomreprohensivo)
Júlia [.. :
FABIOR, a
x Mentira !
ocrÁvIo
Mentira !
JULIA (zangando-se)
Já tardava a caçoada|
Ninguem a fama me tira !
isto | vivo mentindo...
Minto de noitee de dia,
Minto acordada é dormindo...
Já não é vício, é mania !
ALICE
E é mesmo !
OCTAVIO
E é mésmo, pois não !
É bom que tu mesmao digas !
D. MARIA (a Alice o Oclavio)
Que é isso 2 não quero brigas!
Já disse quediscussão
Entre irmãosé consa feia!
A gente sempre carrega
Com a fama que grangeia...
Mas não te zangues, socega !
Veremos logo, ao jantar,
Quem dá conta do recado...
—, OETAvIO
Eu não precisoestudar !
Vou fazer um improviso...
Que está todo decorado.
Começa assim: «Papaezinhio !
Cheio de flôres e riso
Seja o ten anniversario !
Angura-te o meu carinho,
Um disenrso extraordinario !
Mastirar-lhe não desejo
O saborda novidade ! S
ALICE
Eu por mimdigo-o sem pejo :
Só sei, por ora, a metade,
Ou ponco mais, da poesia ;
Tenho quasi todo o dia
Para estudar...
J0LIA(apresentando o ramo)
Acabei!
otavio (idem)
Eu tambem !
ACE (idem)
E tambem en !
Creio que o premio ganhei!
-D. MARIA (examinando os ramos)
Não ha tal ! todos ganharam...
- Um beijo! (Beija-os). Fiquem sabendo :
Fiz um fiasco tremendo !
O ramo mais feio... é 0 mei!
E, já que me derrotaram,
Beijem-me mais !
os TRES (beijando-a)
Mamãezinha !
(D. Maria, depois de collocar 08 ramos nos vasos, deposita- —
os sobre a mesa e sobre a etagiro.)
MANOBLA (entrando)
A caldaestá prompta !
D. MARIA (aos filhos)
Agora
Que já fizeram os ramos,
Emquanto vou á cozinha,
Vãovocês lápara fóra,
Estudem os versos!
VALICE
Yamos!
(saem Alice, Octavio e Julia pela porta da direita)
MANOBLA
Já puz a calda a ferver. —
Que doces quer ?
De MARIA
Vamos ver!
(Saem pela porta do fundo)
SOENA II
Julia, só.
(entra pela porta da direita, espia para fóra, e adianta-se,
até a bocca da seena)
JULIA
A verdade verdadeira
irando do bolso o papel em que estão eseriptos 0 versos
que deverecitar)
Éque eu não seinada d'isto !
E vou fazer, está visto,
Uma figura... faceira !
(depois de reficetir um poueo) &
Mas quemmê mandou dizer,
Ha pouco, que já sabia
Toda, de cór, a poesia...
Se inda nem a pudeler ?
“Dizem que mentir é feio...
“Será ! não digo que não!
Mas que fazer ? não ha meio
De fugir à tentação...
Ás vezes, faço um esforço,
A lingua torço e retorço,
” Para dizer a verdade ;
Mas ilá-me um nó na garganta,
Minhalingua se ataranta,
Perco todaa liberdade,
E minto, queira ou não queira !
Não sou má nem deshonesta...
Eu minto por vicio... É esta
A verdade verdadeira!
afiado
a(reupparecendo)
toda a porcelana, -
SOENAIV
D. Maria e Manoela
“
MANOELA(entra: ogo)
: Hein?! jáse vin cousaassim?
Lá se foi, despedaçada, -
A porcellana da China !
D. MARIA (entrando)
Foi Julia ! Aquellamenina... o
MANOBLA
Mas se ella está-nojardim... a
D. MARIA
E os convidados?! -
MANOBLA
Que azar !
E o buffetdepois das dansas?
E o patrão? ?
:
gi
* MANOBLA (bonsendo-se ainda umavez),
* Comlicença da senhora,
Vou'ver a calda !
D. MARIA
Pois vae!
Maria vao à porta da direita e chama)
“Olá! vocês ! sem demora !
SCENA YV.
Maria, Alice, Julia e Octavio
É serio?
JULIA(atrapalhada)
Eu nada quebrei !
(chorando)
Eu levo a culpa de tudo !
Sou douda, son mentirosa,
Sou vadia, não estudo,
Som feia, son orgulhosa,
Sujo a casa, furto o doce,
E... inda da lonçadou cabo !
É isto! .. .comose eufosse,
Nemsei o que... umdiabo !
De MARIA (insistindo)
Minhafilha ! espera. .. calma !
Dizetudo, sem receio :
Porquea mentira é o mais feio
Dos sete peccados da alma.
Yamos! ninguem te censura,
Ninguem contra ti conspira; |
Perdoa-se a travessura. ,.
Não se perdoa a mentira !
Confessa ! dize a verdade !
JULIA (teimando).
Se não fui eu! Que maldade !
Quebraram a porcellana ?
(apontando Octavio)
Foi omano...
montando Alice) -
ou foi a mana...
Foi o gato... on a Manoela !
Mas não fui en!
(eae sentar-so a um canto da sala, é fica immovel, amuada,
escondendo a cabeça no braço dobrado)
OCTAVIO (depois de um breve silencio)
Pois, foi ella !
D. MARIA (depois de reflectir um pouco e parte) |
Feio peccado !
“ (torna a reflectir, e,
tivesseuma inspiração ita
Ah! já sei! : ê
+ Koi com certeza a criada! ê s
.A Manoela é estabanada...
Tantas vezes a avisei !
(Julia tira a cabeça de sob o braço, é começa a presta)
attenção) ;
Mas, desta vez, tambem, basta !
É demais ! ponho-a na rua !
(Julia estremece)
Se aqui dentro continúa,
Toda a casa me devasta...
É demais ! voudespedil-a !
(chamando)
Manoela!
OCTAVIO & ALICE (a um tempo)
Mamãe ! que é isso?!
(D. Mariafaz-lhes umgesto breve. Julia levanta-se, efica,
no seu canto, muito assustada, com os olhos arrega
tados)
SOENA VI
Os mesmos e Manoela
MANOELA(entrando)
A senhora chamon ?
De MARIA (fingindo mão humor)
Sim!
"Stoufarta do seu serviço,
* * Que não me deixa tranquilla,
Você abusa de mim !
Vá tratarda sua vida...
Mexa-se !'está despedida |
MANOBLA (espantada)
Eu ?... eu, minha ama?!
ALICE
Coitada !
D. MARIA.
Eejá!
Julia, , no seu-canto, dá mostras de uma grande agitação
Nãoà quero em casa,
Nem mais um dia queseja !
OBTAVIO
Mamãe!
MANOELA(rompendo a chorar)
Masse eu não fiz nada!
D. MARIA (sempre fingindo estar zangada)
Você a vida me atraza !
Éjá! vá ser malfazeja
Em outra parte... É bastante
O prejuizo que me deu !
“(Tulia, pouco à pouco, sé vem aproximando do grupo).
PaeU
MANOBLA(soluçando, e di
Que injustiça revoltante !
(Julia, num impeto, correndo, vem ficar de pé, no meio,
grupo, com« cabeça erguida e'o olharsereno)
JULIA (com voz forte)
Quem quebron tudo... fui en!
= (corre para D. Maria) Y
Perdão, mamãe!
D. MARIA (commovida, colhendo-a nos braços)
; Minha filha!
— Coração, não me enganavas !
Realison-se a maravilha,
O milagre que esperavas !
QUTAVIO
Bravo!
ALICE
f Quefelicidade !
Isso demonstra que a gente,
Quando é mentirosa, mente,
Porém mente sem maldade...
MANOBLA (embasbacada)
Não entendi patavina |
D. MARIA
Já vaes entender...
(7
Perdão pela accusação !
MANOBLA
Oh ! minha boa menina...
Perdão de que ?
JULIA
Doque fiz !
Calummiei-te,
MANOELA
Que diz?! É
É lá possivel !
JULIA
É certo,
Mas estou arrependida ;
Do meu engano desperto,
E vejo que, nºesta vida,
Ha mentiras innocentes,
Porém ha outras terriveis.
D. MARIA,
Todassão inconvenientes,
E E todas são despreziveis,
Todas! E, para fugir
Aosseus perigos... -
ocravio (idem)
«se deseja ser prudente...
aLtcE (concluindo) -
«não deve nunca mentir !
JULIA
E isso mesmo é o que furei,
> Fui bastantecastigada,
à E nunca mais mentirei.
D, MARIA
Esperemos ! Deus o queira ! .
Seassim fôr, abençoada.
Seja a tua brincadeira,
Bemdita a louça quebrada !
O aaei(comironia)
o, agora, um caso engraçado:
Sabesde cór a poesia?
JULIA (rindo)
Nem patavina ! eu mentia...
ocTAvIO
Mentia6tempo passado...
Felizmente, felizmente !
Mas tomar cuidado juro
Nãosó no tempo presente.
Comono tempo futuro !
De MARIA
Então, não recitas ?
JULIA
Não !
Não direi versos de cór,
Mas farei cousa melhor ;
Falarei com o coração.
Direi; ”” Grandedia é este!
“Dia de grande virtude!
“Vamosfolgar, vamos rir !
"É o dia em que tu nasceste,
"E em que eu deixei de menti
“Papae, à nossa saude
topos (menos Manoela)
Bravo!
MANOELA (que tem estado afastada, triste)
Então, minhasenhora, :
- Sempre me devo ir embora? |.
Que tola ! Pois, rapariga,
E - Nãoentendeste o que viste ?
& “Tude remedio serviste !
Nãoés eriada, és amiga !
E o remedio aproveitou...
(a Julia) Ê
Vae abraçar a Manoela:
- Porque, semquerer, foi ella
Quem do vicio telivrou!
OELHO NETTO |
1º sente ã
OLAVO BILAC.
2isente
O Presumpçoso, comedia em um acto,
O mundoestá torto, monologo
As Bonecas, »
Quando eu for grande, »
O Nariz, 0. o
E “A Mentirosa, comedia em um acto.
pe