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Desenvolvimento de produtos em bambu laminado colado e a

passagem das informações para o assentamento rural Terra Nossa

Marco Antônio dos Reis Pereira (UNESP) pereira@feb.unesp.br


Rodrigo Rocha Carneiro (UNESP) rocha_carneiro@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho é um conjunto de atividades no campo do Ecodesign e do Design


Solidário utilizando como foco a matéria-prima renovável bambu e sua utilização na
viabilidade do desenvolvimento de produtos em bambu laminado colado (BLC), que possam
substituir o uso de madeira nativa de floresta. Espera-se também permitir que esta
tecnologia, que engloba muitas variáveis do desenvolvimento sustentável, chegue até a
sociedade através da Incubadora de Cooperativas Populares da Unesp (Incop) que capacita
e assessora o Assentamento Rural Terra Nossa desde 2005. Como metodologia, quatro
protótipos foram confeccionados comprovando-se a viabilidade do BLC na confecção de
produtos que, pelo caráter sustentável surgem como importante alternativa ao corte de
madeira de floresta. Por conseguinte, todo o conhecimento adquirido neste projeto foi
repassado aos assentados por meio de palestras e oficinas como alternativa de geração de
renda. Como resultado observou-se que além do caráter sustentável o bambu revela uma
incrível versatilidade estética e comercial, podendo ser aplicado em diversos tipos de
produtos. O trabalho solidário deste projeto despertou interesse dos assentados no sentido de
que estes já iniciaram as primeiras produções de mudas em sua região. Pretende-se que, a
médio prazo, os conhecimentos transmitidos possam gerar desenvolvimento sustentável aos
assentados.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Ecodesign; Design Solidário; Confecção de Produtos;
Geração de Renda.
Summary: This work is a set of activities in the field of ecodesign and solidary design using
as a focus the bamboo, a renewal raw material, and its use in the feasibility of development
of the glued laminated bamboo (BLC) products, which can replace the use of wood from
native forests. It is also expected to allow that this technology, which includes many variables
of the sustainable development, reach the society through the Incubator of Popular
Cooperatives of Unesp (Incop) that works with the Rural Settlement “Terra Nossa” since
2005. As methodology, four prototypes were made to show the viability of BLC products using
a renewal and sustainable material that is an important alternative to the cut of our timber
forest. Therefore, all the knowledge acquired in this project was allocated to settlers through
lectures and workshops as an alternative to generate income to them. As a result it was
observed that in addition of the sustainable aspect, the bamboo shows an incredible aesthetic
commercial versatility and, can be applied in various types of products. The solidary work of
this project aroused great interest of settlers in the sense that they have started the first
production of seedlings in their region. It is intended that in the medium term, the knowledge
transmitted could generate sustainable development to the settlers.
Keywords: Sustainability; Ecodesign; Solidary Design, Manufacture of Products; Income
Generating

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1 Introdução
O desenvolvimento sustentável entendido como o melhor equilíbrio entre crescimento
econômico, preservação ambiental e desenvolvimento social tem intenção de promover a
melhoria do padrão de vida como um todo e garantir esta continuidade para as gerações
futuras. No entanto a realidade humana apresenta os problemas sociais e ambientais cada vez
mais comprometidos em prol da manutenção do crescimento econômico vigente. Hoje em dia,
poucos duvidam que os problemas ecológicos vão condicionar cada vez mais o
desenvolvimento, os processos industriais e os assentamentos humanos, sendo já considerado
o século XXI como o século do meio ambiente. Assim, a busca por materiais renováveis e
fontes energéticas não convencionais tem-se convertido em uma prioridade mundial neste
início de século (Saleme & Viruel , 1995).
De acordo com Holmberg (1995), citado por Ezio Manzini e Carlo Vezzoli (2008) a
sustentabilidade ambiental é um objetivo a ser atingido e não, como hoje muitas vezes é
entendido, uma direção a ser seguida. Em outras palavras, nem tudo que apresentar algumas
melhorias em temas ambientais pode ser considerado realmente sustentável. Para ser
sustentável cada nova proposta apresentada deve responder aos seguintes requisitos gerais:
Basear-se fundamentalmente em recursos renováveis (garantindo ao mesmo tempo a
renovação);
Otimizar o emprego dos recursos não renováveis (compreendido como o ar, a água e o
território);
Não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de renaturalizar (isto é, fazer
retornar às substâncias minerais originais e, não menos importante, às suas
concentrações originais);
Agir de modo com que cada indivíduo, e cada comunidade das sociedades “ricas”
permaneça nos limites de seu espaço ambiental e, que cada indivíduo e comunidade das
sociedades “pobres” possam efetivamente gozar do espaço ambiental ao qual potencialmente
têm direito.
Com o crescente desmatamento e pressão sobre as florestas tropicais, bem como sobre
as áreas de reflorestamento, torna-se cada vez mais necessária a busca por materiais
renováveis e soluções alternativas capazes de atenuar em parte este processo. A cultura do
bambu, embora seja milenar em nosso planeta, tem sua utilização e pesquisa, em sua maioria,
restritos aos países orientais, sendo que ultimamente no ocidente, uma maior atenção vem
sendo dedicada a esta cultura. O bambu é uma cultura predominantemente tropical, renovável,
perene, de produção anual, de rápido crescimento, com centenas de espécies espalhadas por
todo o planeta e com milhares de aplicações além de ser considerado um rápido seqüestrador
de carbono atmosférico (Pereira & Beraldo, 2007).
Segundo Ezio Manzini e Carlo Vezzoli (2008) a contribuição para o efeito estufa
proveniente do gás carbônico supera os 50%, dos CFC é em torno de 20%, o restante é
determinado por outros gases. O tempo de absorção da atmosférica para estes gases superam o
século. Do gás carbônico, 80% provêm dos processos de transformação energética (em
particular o petróleo e o carvão), 17% através das produções industriais e os 3% restantes dos
desmatamentos florestais.
Analisando estes dados entende-se a significativa contribuição que o cultivo do bambu
pode exercer na atual realidade. Além de seu caráter ecológico o bambu possui, ainda,
características físicas e mecânicas que o tornam apto a ser utilizado no desenvolvimento de
produtos normalmente produzidos com madeira nativa ou de reflorestamento.

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O Bambu pertence a categoria de madeiras de média densidade o que abre um leque
de possibilidades para uso projetual. Sua cor pode ser alterada com a carbonização o que
significa que de um mesmo colmo é possível se obter outros padrões de cores. Sem o bambu,
essa possibilidade só seria possível com a extração de tipos específicos de madeiras, até
mesmo madeiras protegidas por lei. Em relação aos resíduos gerados a partir da confecção de
produtos e placas de BLC, estes podem ser reutilizados para a confecção de placas de
aglomerado que, se combinadas às placas de BLC podem servir como uma alternativa mais
barata e sustentável de confecção de outras placas para diversos fins.
Jaramillo (1992, apud PEREIRA, 2001), comenta ser o bambu o recurso natural que
menos tempo leva para ser renovado, não havendo nenhuma espécie florestal que possa
competir em velocidade de crescimento e aproveitamento por área. Possui grande potencial
agrícola por ser uma cultura tropical, perene, renovável e produzir colmos anualmente sem a
necessidade de replantio, é um excelente seqüestrador de carbono, podendo ser utilizado em
reflorestamentos, mata ciliar e como protetor e regenerador ambiental, além de poder ser
empregado como matéria-prima em diversas aplicações.
Os aumentos da escassez e da valorização dos produtos florestais madeireiros
contribuem para que sejam direcionadas pesquisas visando o uso do bambu em diversas
aplicações visto que respeita vários quesitos de sustentabilidade.
2 Objetivos
2.1 Gerais:
Promover o desenvolvimento sustentável
Comprovar a viabilidade técnica da fabricação de produtos em bambu laminado colado
(BLC)
Permitir que este conhecimento chegue até camadas sociais desfavorecidas
2.2 Específicos:
Desenvolver e confeccionar quatro protótipos de produtos com bambu laminado colado
entre eles: tábua de frios, bandeja, cabo de ferramenta e mesa pequena;
Promover palestras, juntamente com a Incop-Unesp acerca das potencialidades do bambu
para toda a comunidade do Assentamento Rural Terra Nossa;
Promover a instrução e capacitação, dos agricultores interessados, através de oficinas
práticas, na confecção de mudas de bambu, seu plantio apropriado, seu manejo adequado
e seu uso na cadeia produtiva e no processamento e desenvolvimento de produtos;
3 Metodologia
3.1 Materiais
O material de estudo escolhido para a realização deste projeto é o bambu em forma de
placas de BLC. Apesar de ser uma tecnologia amplamente difundida no oriente e que
atualmente vem sendo explorada no ocidente, sua utilização ainda é reduzida, principalmente
aqui no Brasil.
O bambu é uma planta predominantemente tropical e que cresce mais rapidamente do
que qualquer outra planta do planeta, levando em média de 3 a 6 meses para um broto atingir
sua altura máxima de até 40 metros em espécies gigantes. Sua admirável vitalidade, grande
versatilidade, leveza, resistência, facilidade em ser trabalhado com ferramentas simples, sua
formidável beleza ao natural ou processado, são qualidades que tem proporcionado ao bambu
o mais longo e variado papel na evolução da cultura humana do que qualquer outra planta

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(Farrely, 1984 ).
O Laboratório de Experimentação com Bambu possui uma coleção com
aproximadamente 23 espécies de bambu, sendo 13 consideradas prioritárias (INBAR, 1985).
A espécie utilizada neste trabalho será o bambu gigante – Dendrocalamus giganteus, o qual é
relativamente comum em nosso meio rural e de fácil reprodução e cultivo. As mudas deste
bambu provenientes de moitas existentes na região foram plantadas no ano de 1995 e desde o
ano 2001 produzem anualmente colmos viáveis para utilização em pesquisas e
desenvolvimento de produtos em bambu laminado colado (BLC). No total, 25 moitas desta
espécie foram plantadas e através do manejo efetuado obtém-se uma produção média de 225
colmos anualmente.
3.2 Métodos
3.2.1 Palestra junto à comunidade
Em parceria com o Incop, Incubadora de Cooperativas Populares, realizou-se uma
divulgação junto aos assentados para despertar o interesse ao evento. Essa palestra foi
realizada no dia 16 de maio de 2008 no próprio Assentamento Rural Terra Nossa, localizado
em Pederneiras, contando com a presença de vinte famílias além do Incop e tinha como
intuito instruir os assentados quanto às potencialidades do bambu e despertar o interesse para
a próxima etapa do projeto: a formação de turmas para oficinas de instrução e capacitação do
uso do bambu.
Através de recursos áudio visuais foram apresentadas todas as características do
bambu, desde a fase de plantio e cultivo até o de processamento e confecção de produtos e sua
aplicação em diversas áreas. Alguns objetos feitos em bambu foram levados até o local dessa
palestra para que os assentados pudessem ter a chance de vê-los e tocá-los.
Essa palestra teve cerca de 01h30min de duração e foi realizada de maneira horizontal,
ou seja, os conhecimentos dos assentados e os diálogos que foram abertos complementaram e
enriqueceram a transferência de informações. Realizada a palestra, formaram-se dois grupos
para iniciarem o curso sobre bambu a ser ministrado semanalmente na Unesp – Campus de
Bauru.
3.2.2 Instrução e capacitação no plantio e manejo
Esta etapa do projeto consistiu na visita dos assentados ao campus e ocorreu em quatro
dias. As informações foram passadas através de oficinas práticas no plantio experimental de
bambu da Unesp.
3.2.3 Instrução e capacitação no processamento
Tendo passado os conhecimentos necessários para o cultivo e manejo, a etapa seguinte
consistiria em divulgar alguns dos diversos usos do bambu, no caso, a confecção de produtos
de placas de BLC. O conhecimento foi transmitido através de oficinas práticas onde cada um
dos assentados pôde passar por todas as etapas do processamento do colmo. As fases de
processamento foram vivenciadas em uma manhã (29/05).
3.2.4 Oficinas de confecção de produtos de bambu in natura
Através de discussões com o Incop entendeu-se que para atender as necessidades dos
assentados tornar-se–ia essencial compreender suas reais dificuldades para que fosse possível
tornar o cultivo e beneficiamento do bambu viáveis como alternativa de geração de renda.
Neste caso, o uso do bambu in natura como matéria-prima para a confecção de produtos

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surgiu como segunda alternativa para este fim, visto que a confecção de placas de BLC exige
o uso de recursos e técnicas que desprenderiam um capital alto demais para a realidade dos
assentados.
Sendo assim, estudou-se métodos de transformar o bambu in natura agregando função
e apelo comercial, utilizando-se de técnicas que necessitassem o mínimo possível de
equipamentos, visto que neste período do projeto o assentamento não dispunha de energia
elétrica. Essas informações foram passadas através de oficinas semanais na Unesp - Campus
de Bauru. Esse trabalho tem mostrado grandes resultados e não foi interrompido após o
término desse projeto (Figura 1).

Figura 1. Passagem de informações para os assentados e alguns dos resultados alcançados.

3.2.5 Obtenção da matéria-prima


3.2.5.1 Colheita
O manejo, considerado vital para a saúde, vitalidade e o desenvolvimento das moitas
consiste no corte de todos os colmos considerados maduros em termos de suas características
de resistência mecânica, o que ocorre a partir da idade de 3 anos. Como uma moita possui
colmos de várias idades à época do corte, a idade de cada um deles é definida previamente
pela marcação anual dos colmos à medida que nascem. Todos os colmos maduros colhidos
têm determinados, até hoje, suas dimensões físicas como o diâmetro à altura do peito (DAP),
altura e massa verde (biomassa) para o controle de seu crescimento. Os cortes dos colmos
foram executados com a utilização de uma moto-serra e, antes de passar pelas etapas de
processamento, fez-se necessária a retirada de seus galhos. Estes podem ser utilizados para a
obtenção de novas mudas.
3.2.6 Processamento dos colmos
O processamento dos colmos atende as seguintes etapas de beneficiamento:
3.2.6.1 Desdobro em serra circular
Também conhecida como destopadeira, a máquina que realiza o processo inicial de
desdobro. Nesta etapa, o colmo colhido é cortado transversalmente (Figura 2) para a obtenção
de partes iguais. Essa etapa definirá o comprimento final que as ripas terão. Para a realização
deste projeto determinou-se um comprimento padrão de um metro para todas as ripas a serem
utilizadas.

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Figura 2. Realização do corte transversal.

3.2.6.2 Desdobro em serra circular dupla e retirada do nós


A segunda parte do processamento tem como finalidade obter dos colmos repartidos
ripas de iguais dimensões. O processo é realizado passando a sessão de colmo no jogo de
serras em sentido longitudinal (Figura 3). Essa ação é realizada com o auxilio de uma mesa
móvel e é repetida outras vezes até o limite de circunferência da parede do colmo. Para cada
sessão de colmo foi possível se retirar uma média de sete ripas. Essa média pode ser alterada
se regularmos o espaço entre serras definindo consequentemente a largura final das ripas.

Figura 3. Realização do corte longitudinal e sobra de nó que posteriormente será retirada.


Após o desdobro, a sessão de colmo processada ainda possui a sua integridade formal
devido a presença dos nós. As ripas, portanto, apesar de já estarem cortadas, ainda estão
ligadas umas as outras nessa região do colmo. Para a separação destas, fez-se necessário após
o desdobro atirar os colmos no chão. O impacto garante que as ripas se desliguem dos nós
sem racharem ou quebrarem.
Tendo as ripas separadas, utiliza-se uma serra circular para a retirada das sobras de nós
que por ventura ficaram presas às ripas (Figura 3). Nesta etapa, desgasta-se também a região
externa dos nós, pois esta confere uma saliência à ripa o que pode dificultar a etapa de
desengrosso nas quatro faces das ripas.
3.2.6.3 Classificação das ripas
Essa etapa, além de aperfeiçoar a etapa seguinte, tem como objetivo maior reduzir a
geração de resíduos. A classificação de ripas é realizada com a utilização de um paquímetro
digital para a medição de espessura das ripas. Estas são organizadas em grupos.
Utilizou-se como parâmetro intervalos de 3mm para a definição dos grupos. A espécie
de bambu utilizada neste projeto permitiu a formação de grupos de ripas com as seguintes

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espessuras: menores de 7mm, de 7mm a 10mm, 10mm a 13mm e maiores de 13mm. A
definição de intervalos possibilita a otimização do processo seguinte, evitando paradas
excessivas para ajuste de máquina e possibilitando que este seja feito em ordem crescente ou
decrescente.
3.2.6.4 Desengrosso nas quatro faces
Esta é a ultima etapa do processo e tem como finalidade eliminar a casca e a curvatura
do bambu ainda presente nas ripas. Para a realização desta etapa foi utilizada uma
desengrossadeira composta de quatro tupias: duas para cortes laterais, uma para corte superior
e uma para corte inferior. As tupias podem ser reguladas para a obtenção de uma medida final
de largura e espessura de ripa. Utilizou-se um padrão de largura final de ripa para este projeto
de 23mm, as espessuras finais variaram de 4mm a 10mm.
Uma nova triagem foi realizada separando as ripas boas das defeituosas, estas foram
corrigidas com o auxílio de uma desengrossadeira comum. Os principais defeitos que foram
encontrados em ripas durante este processo foi:
A não eliminação completa da casca (Figura 4);
A não eliminação completa da curvatura interna da ripa (Figura 4);
Rachaduras;
Variações mínimas de medidas ao longo da ripa.
Os dois primeiros itens são de caráter reversível é devem ser corrigidos pois
impossibilitam a etapa de colagem das ripas para a formação das placas de BLC. A casca, por
exemplo, não adere à cola utilizada e a curvatura presente impossibilita a união das faces das
ripas na colagem, pois é responsável pela formação de vãos gerando regiões de fragilidade nas
placas.
Os dois últimos itens são de caráter irreversível, porém não impossibilita a utilização
das ripas para a confecção de placas de BLC, visto que o número de ripas defeituosas
comparado ao de ripas boas é sempre muito inferior. Alguns destes defeitos costumam ser
mínimos e, dependendo do tipo colagem e das perdas de material comuns na confecção de
produtos, acabam sendo eliminados até a finalização dos produtos.

Figura 4. Defeitos de caráter reversível: a não eliminação completa da curvatura interna da ripa (à esquerda) e a
não eliminação completa da casca (à direita).

3.2.6.5 Reclassificação de ripas, armazenamento e secagem


Finalizada todas as etapas de processamento as ripas são reorganizadas por espessura
utilizando um paquímetro digital para conferência. Nessa fase de reorganização não são
determinados intervalos de medidas, pois as espessuras estão mais precisas. No caso, cada

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espessura final define um grupo. Esse cuidado aperfeiçoa a produção de placas, pois ajuda a
planejar o projeto de produtos e consequentemente o tipo de colagem a ser realizada.
Para o armazenamento e preservação das ripas durante a secagem aplicou-se um
pesticida (Pentox Super Dupla Ação) indicado para o uso em madeira no controle preventivo
e curativo. As ripas então são sobrepostas, mantendo-se um espaço entre elas e em camadas
alternadas para facilitar o processo de secagem que ocorre em um túnel de vento. Este
processo acelera o tempo de secagem que varia de acordo com a umidade do meio externo.
Utiliza-se periodicamente, durante esta etapa um medidor de umidade, para avaliar quando as
ripas estarão prontas para a confecção das placas.
3.2.7 Obtenção das placas de BLC
3.2.7.1 Seleção de ripas
A confecção de placas de BLC inicia-se com um processo de seleção de ripas.
Dependendo do tipo de colagem a ser efetuada o critério dessa seleção muda. No caso de
colagem de ripas pela espessura, a triagem das ripas é feita seguindo o critério de
agrupamento por espessura realizado antes do armazenamento em túnel de vento, pois esta
colagem só permite formação de conjuntos de ripas com mesma espessura. Estas são
posicionadas em uma superfície plana na posição de colagem para avaliar se esta apresentará
falhas. As ripas que não se combinam são recombinadas com outras e essa permutação ocorre
até a obtenção de um resultado satisfatório. Utiliza-se também uma prensa manual para
avaliar se, com a aplicação de força, a placa apresentará vãos entre ripas.
Para colagens pela largura da ripa faz-se necessário detectar a presença de casca na
mesma, pois a cola utilizada não adere nesta região. Avalia-se também se existe presença de
vãos entre ripas, que ocorrem devido a variação da espessura ao longo da ripa e a presença de
curvatura interna em uma das faces da ripa que, se acentuada, pode determinar pontos frágeis
na placa.
A quantidade de ripas a ser utilizada é determinada pela dimensão da placa a ser
confeccionada. Para colagem por espessura a triagem de algumas ripas pode ser menos
criteriosa quando a placa a ser colada ficar na região externa da placa final, pois o processo de
confecção de produtos pode exigir etapas de desengrosso permitindo a eliminação dos
defeitos superficiais.
Para colagem de caibros o critério de seleção de ripas pode ser igual aos usados para
os outros tipos de colagem, podendo também utilizar todos os critérios ao mesmo tempo se o
caibro for confeccionado por técnicas de colagem mista.
3.2.7.2 Preparação da cola
A cola utilizada neste projeto é uma cola de madeira com catalisador (Casco-rez 2590
/ Catalisador CL). Sua preparação é realizada através do uso de uma balança de precisão. Para
cada quantidade de cola, deposita-se 5% desta quantidade de catalisador. Os dois elementos
são misturados manualmente até a obtenção de uma mistura homogênea.
3.2.7.3 Colagem
Dependendo do tipo de colagem faz-se necessária uma determinada quantidade de
cola. A região da ripa onde a cola será passada também dependerá do tipo de colagem: para
colagem pela espessura a cola é aplicada na face da espessura (Figura 5), para colagem pela
largura a cola é aplicada na face da largura da ripa. Algumas colagens, porém necessitam de
combinação de placas, é o caso de caibros e das placas confeccionadas por colagem pela

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espessura. Neste caso, após as colagens iniciais, as placas que serão combinadas devem ser
desengrossadas para uniformizar as superfícies que receberão cola. Dependendo do tamanho
da superfície a ser aplicada a cola, utiliza-se uma espátula para aperfeiçoar o processo (Figura
5).
O tempo de cura da cola é de quatro horas, porém este valor pode variar de acordo
com o clima (em climas úmidos recomenda-se mais tempo de espera de cura).

Figura 5. Colagem de ripas (à esquerda) e colagem de placas (à direita).

3.2.7.4 Prensagem
Esta é a etapa final e tem como objetivo conter as ripas em suas devidas posições
durante a cura da cola. Neste projeto utilizaram-se dois tipos de prensagem: prensagem com
prensa manual (Figura 6) e prensagem com prensa hidráulica (Figura 6). A utilização de
prensas é necessária para garantir a qualidade da colagem.
A prensagem com prensa manual caracteriza-se por permitir a distribuição de forças
tanto no sentido longitudinal quanto no sentido transversal. Essas forças, além de alinhar as
ripas forçam-nas umas nas outras garantindo uma melhor fixação.
A prensagem com a prensa hidráulica combina a aplicação de força com o uso de
calor, porém só permite a prensagem em apenas um sentido. Neste projeto, utilizou-se deste
recurso para colagens entre placas. O tempo de prensagem neste processo é menor (para a
confecção das placas da bandeja foi necessário apenas quatro minutos de prensagem), porém
devido ao uso de calor fez-se necessário repousar a placa por mais doze horas para a cura
completa da cola.

Figura 6. Execução de colagem em prensa manual (esquerda) e em prensa hidráulica (direita).

3.2.8 Desenvolvimento e design dos produtos

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Para o melhor desenvolvimento dos produtos propostos nesse projeto algumas etapas
básicas de Design foram seguidas.
3.2.8.1 Esboços
Esta etapa consiste em produzir um número suficiente de possibilidades alcançáveis
em termos de forma para uma tomada de decisão final. A confecção de esboços fez-se
necessário para a escolha de forma da tábua de carnes , da mesa e da bandeja.
Após a avaliação das formas apenas uma é escolhida para ser avaliada a partir de
parâmetros técnicos e de viabilidade de execução.
3.2.8.2 Desenhos técnicos
Essa etapa é de fundamental importância para a determinação precisa de dimensões
dos protótipos. O detalhamento técnico orienta a confecção e pode prever possíveis falhas de
projeto. Esta etapa foi necessária para a confecção da mesa (Figura 7) e da bandeja devido a
complexidade projetual de ambas.

Figura 7. Desenho técnico da mesa.

3.2.8.3 Planejamento
Nesta etapa foram determinados os métodos de confecção a serem utilizados, assim
como o tipo de colagem necessária para cada protótipo.
A confecção do cabo de ferramenta, por exemplo, apesar de possuir uma forma
padrão, necessitou do uso de um molde para a sua confecção (Figura 8) e, diferente dos outros
três produtos, utilizou-se um caibro de BLC, devido a sua forma final torneada (Figura 8).

Figura 8. Etapas de confecção do molde para cabo de ferramenta e detalhe da estrutura física e da colagem
necessária para a confecção de um caibro de BLC.

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Para a mesa e a tábua de carnes foram confeccionadas placas com o tipo de colagem
pela largura de ripa (Figura 9), pois desta maneira obtém-se em uma única colagem a
espessura final de placa necessária para o projeto.

Figura 9. Tipo de colagem utilizada para a confecção da mesa e da tábua de carnes (esquerda) e detalhe do tipo
de colagem utilizada para a confecção das placas da bandeja (direita).
Na confecção da bandeja, devido as proporções reduzidas de espessura, optou-se pelo
tipo de colagem por espessura de ripa (Figura 9) para a obtenção de placas mais finas que
posteriormente foram coladas umas nas outras para a obtenção das placas finais.
3.2.9 Confecção de protótipos em BLC
Para a execução de protótipos foi necessária a utilização de técnicas e equipamentos de
marcenaria (Figura 10) visto que a placa de BLC se comporta como uma madeira. Cada
protótipo exigiu um método de confecção ora mais simples, ora mais complexo.

Figura 10. Desengrosso de placa de BLC (esquerda) corte em serra circular (direita).

4 Resultados

Figura 11. Tábua de carne e bandeja.

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Figura 12. Cabo de ferramenta e mesa pequena.

5 Conclusões
A qualidade de vida das próximas gerações tornou-se a principal preocupação deste
milênio. Modificar os meios de produção e o uso dos recursos faz-se necessário para
determinar o que terá poder comercial e permanecerá em nosso cotidiano. Diante deste
cenário a eco-eficiência do bambu torna-o um importante aliado na obtenção de bens de
consumo. A confecção dos protótipos provou muito bem a sua versatilidade, seja nos tipos de
colagens possíveis, seja nos resultados finais obtidos.
Sendo assim, diante de suas características físicas e mecânicas, dos processos
necessários para a sua transformação, suas possibilidades de forma e o seu caráter estético,
conclui-se que o bambu em sua forma de placas de BLC é comercialmente e industrialmente
viável, sendo uma ótima alternativa de substituição da madeira na produção de móveis e
utensílios.
Concluiu-se também, que por sua facilidade de cultivo, adaptabilidade ao meio e
rápido crescimento, o bambu apresenta-se como uma grande alternativa de geração de renda,
seja na produção e venda de mudas ou colmos, seja na transformação e produção de produtos
através de técnicas artesanais ou industriais.
6 Referências bibliográficas
SALAME, H., VIRUEL,S.C. de . Estructuras de bambu en la arquictetura moderna. In :
JORNADAS SUDAMERICANAS DE INGENIERIA ESTRUCTURAL, 27., 1995,
Tucuman - Argentina. Anais..., Tucuman, 1995
PEREIRA, M. A. dos R. Bambu: Espécies, Características e Aplicações. Departamento de
Engenharia Mecânica/Unesp. Apostila. Bauru. 2001.
PEREIRA, M.A.dos R. & BERALDO, A.L. Bambu de corpo e alma. Canal 6 editora. Bauru,
SP. 2007. 239p.
MANZINI E. & VEZZOLI C. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. Os requisitos
ambientais dos produtos industriais. ed. EDUSP / 2008.

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