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Multiplicador no mercado de bens – O

Multiplicador Keynesiano
O Multiplicador em uma economia de dois setores
Inicialmente, considerando uma economia de dois setores em que há

 Famílias
 Empresas

E tomando como exemplo a seguinte função consumo e um dado nível


de investimento
C 1=10+0,8 Y ; I 1=20

Determina-se o produto e a renda de equilíbrio que será igual a


Y 1=10+ 0,8Y 1 +20 0,2 Y 1=30 →Y 1 =150

A questão é quando ocorre uma variação em algum dos termos


No caso, caso haja uma variação nos investimentos de 10, de maneira
que
ΔI =10
I 2=I 1 + ΔI → I 2=20+10 → I 2=30

Dessa maneira, calculando o novo produto e renda de equilíbrio


Y 2=C 1 + I 2

Y 2=10+ 0,8Y 2+30 → 0,2Y 2=40 → Y 2=200

E assim pode-se estabelecer uma relação entre a variação dos


investimentos e do produto
Uma variação de 10 no Investimento ( ΔI =10) repercutiu em uma variação
de 50 no produto, dada por
ΔY =Y 2−Y 1=200−150 → ΔY =50

E que dessa maneira


ΔI =10 → ΔY =50

E que em termos de uma relação entre as duas variações tem-se que


ΔY 50
= =5
ΔI 10

Dessa forma, lê-se que a variação de 1 no investimento repercute em


uma variação de 5 no produto da economia
ΔY
Essa relação é denominada por multiplicador do investimento → ΔI
É possível perceber então que uma variação nos investimentos provocou
uma variação superior no nível de renda e produto em decorrência de
uma variação provocada no consumo também, de maneira que:
C 1=10+0,8 Y →C 1=10+0,8. ( 150 ) → C 1=130C 2=10+0,8 Y →C 2=10+0,8. ( 200 ) →C 2=170

A partir de disso, tem-se a explicação do conceito de multiplicador em


Keynes

De acordo com Froyen: “o conceito de multiplicador é essencial na


teoria de Kyenes, pois explica a forma pela qual os deslocamentos nos
investimentos, causados por mudanças nas expectativas das firmas,
desencadeiam um processo que causa variações não só nos
investimentos, mas também no consumo”

Ou seja, um aumento no investimento provoca uma elevação na renda e


no produto, e por ser o consumo uma função da renda, este também se
eleva

E em termos cíclicos, a renda e o produto novamente se elevariam

E para Blanchard:

“Um aumento do consumo autônomo aumenta a demanda. O aumento


da demanda, então, leva a um aumento na produção. O aumento da
produção leva a um aumento equivalente da renda. O aumento da renda
aumenta o consumo, o que aumenta a demanda, e assim por diante”
Da mesma forma que se estabeleceu o multiplicador do investimento,
pode-se estabelecer o multiplicador do consumo

Tomando o mesmo exemplo inicial e supondo uma variação de 10 no


consumo, de maneira que
C 2=C1 + ΔC → C2=10+ 0,8 Y 2+10 → C2 =20+0,8 Y 2
Tem-se que a renda e o produto de equilíbrio passam a ser dados por
Y 2=C 2 + I 1 →Y 2 =20+0,8 Y 2 +20 →Y 2=200

E que da mesma maneira como feito no multiplicador do investimento,


tem-se que

Uma variação de 10 no Consumo ( ΔC =10) repercutiu em uma variação de


50 no produto, dada por
ΔY =Y 2−Y 1=200−150 → ΔY =50
E que dessa maneira
ΔC =10→ ΔY =50

E que em termos de uma relação entre as duas variações tem-se que


ΔY 50
= =5
ΔC 10

Dessa forma, lê-se que a variação de 1 no consumo repercute em uma


variação de 5 no produto da economia
ΔY
Essa relação é denominada por multiplicador do consumo → ΔC
Para se determinar os multiplicadores a partir de fórmulas, tem-se que
Y =C + I → Y =C a +cY + I

Variando o investimento e provocando por conseguinte uma variação na


renda e no produto
ΔY Δ C a cΔY ΔI ΔY cΔ Y ΔC a
= + + − = +1
ΔI ΔI ΔI ΔI ΔI ΔI ΔI
Considerando que o Consumo autônomo não varia em termos da
variação do investimento
ΔY cΔ Y ΔC a ΔY
. ( 1−c )=1 →
ΔY 1
− = +1 =
ΔI ΔI ΔI ΔI ΔI ( 1−c )

E da mesma maneira em termos do consumo


ΔY Δ Ca cΔY ΔI
= + +
ΔC a Δ Ca Δ C a Δ C a
ΔY cΔY ΔY ΔY 1
− =1 → . ( 1−c ) =1→ =
ΔC a ΔCa ΔC a ΔCa (1−c)
ΔY 1 1
Multiplicador do investimento = =
ΔI 1−c s

Ou seja, volta-se a hipótese de que a propensão marginal a consumir (c)


e a propensão marginal a poupar (s) são
1>c >0 ;1> s>0
Ou seja, as famílias tendem a consumir/poupar parte do aumento de suas
rendas, mas nunca a sua totalidade

Sendo dado a propensão marginal a consumir na função consumo,


assumindo o valor de 0,8
ΔY 1 1
= = =5
ΔI 1−c 1−0,8

E da mesma maneira para o multiplicador do consumo em que

ΔY 1 1
= =
ΔC 1−c s

Ou seja
ΔY 1 1
= = =5
ΔC 1−c 1−0,8

Dessa forma

Quanto maior for a Propensão marginal a Consumir (c), ou menor a


Propensão marginal a Poupar (s), maior será o multiplicador (e maior
será a variação no nível de renda e produto em decorrência de uma
variação em um dos componentes autônomos agregados
Em um dos casos extremos (PmgC = 1; PmgS = 0), tem-se extrema
instabilidade na Renda e no Produto, uma vez que qualquer viabilidade
nos dispêndios de investimento, de um período para o seguinte, será
amplificada por um dispêndio de consumo induzido continuamente
crescente

Um outro caso extremo (PmgC = 0; PmgS = 1), a instabilidade na renda


e no produto será muito menor, dado que a viabilidade dos dispêndios
de investimentos de um período para o seguinte, não será maximizada
por dispêndios de consumo induzidos
Multiplicador em uma economia aberta e com
governo
Em um modelo de 4 setores, deve-se incluir, na determinação da renda e
do produto da economia, as variações dos gastos do governo (G), da
tributação autônoma (T ) ,das transferências (R), das exportações ( X ), e
a a

das importações ( M ) a

Por exemplo, sendo


C=10+0,8 Y d ; I =20 ;G=30 ;X =50 ;M =10+ 0,1Y T g=5+ 0,2Y R=5

Tem-se que o equilíbrio é


Y =10+ 0,8 [ Y −( 5+0,2 Y −5 ) ]+ 20+ 30+50−( 10+ 0,1Y )
Resolvendo
Y =100+ 0,8(0,8 Y )−0,1 Y

Y =100+ 0,54 Y →0,46 Y =100; Y =217,39(Eq . 1)

Todavia, se ocorrer uma variação no consumo autônomo em +10, o que


acontece com a renda e o produto de equilíbrio?

Resolvendo
Y =100+ 10+0,8 ( 0,8 Y )−0,1 Y →0,46 Y =110

Y =239,13(eq . 2)
Dessa forma, houve uma variação de
ΔY =eq .2−eq .1=239,13−217,39=21,74

De maneira que
ΔC a=+10 → ΔY =21,74

E assim, o será para a variação de qualquer outro termo autônomo da


determinação da renda, em caso de variação de mesma magnitude (+10)
Uma observação importante a ser feita em termos de identidade
macroeconômica é no caso de um aumento nas importações
Para surtir o efeito de redução no nível de renda e produto da economia,
deve-se considerar que
 Os agentes econômicos deverão reduzir o seu consumo por bens nacionais e
aumentar o seu consumo por bem importados
 Caso o aumento das importações não for acompanhado por uma redução no
consumo de produtos nacionais, o produto não se reduz*
 E isso é explicado pela identidade (Y = C + I + G + X – M), em que a importação
aparece com sinal negativo para anular os produtos importados que estão compondo
as demais variáveis positivas e que trazem consigo componentes ou uma totalidade de
produtos importados.
 E dessa forma, um aumento de M entraria subtraindo Y por meio de M, mas
somando Y por meio de C, I, G, X, anulando o efeito sobre Y

Ainda sobre as importações, o seu aumento poderia acarretar uma


elevação da renda e produto da economia caso fosse representado por
um aumento da demanda por insumos importados
A questão muda quando as variações envolvem termos localizados
dentro de partes que envolvem a renda

E neste caso, menciona-se as transferências e os tributos


Para o caso de uma variação das transferências de +10, tem-se que:
Y =10+ 0,8 {Y − [ 5+ 0,2Y −(5+10) ] }+20+ 30+50−( 10+ 0,1Y )

Resolvendo
Y =100−0,1 Y +0,8 ( 0,8 Y +10 ) →Y =108+ 0,54 Y →Y =234,78(eq . 3)
Dessa forma, houve uma variação de
ΔY =eq .3−eq .1=234,78−217,39=17,39

E assim, pode-se dizer que


ΔR=+10 → ΔY =17,39

Para o caso de uma variação nos tributos em +10, tem-se que


Y =10+ 0,8[Y −(5+0,2 Y +10−5)]+20+30+ 50−( 10+0,1 Y )

Resolvendo
Y =0,8 [ 0,8 Y −10 ] + 100−0,1 Y →Y =0,54 Y +92 →Y =200(eq . 4)

Dessa forma, houve uma variação de


ΔY =eq .4−eq .1=200,00−217,39=−17,39

E assim, pode-se dizer que


ΔT =+10 → ΔY =−17,39

Assim, é possível descrever quantas vezes o nível de renda variou mais


que o componente autônomo considerado
Para isso, é necessário dividir cada variação de renda e produto pela
variação do componente autônomo
Equação Multiplicador
∆ Y 21,74 multiplicador do consumo
= =2,174
∆ Ca 10
∆ Y 21,74 multiplicador do Investimento
= =2,174
∆I 10
∆ Y 21,74 multiplicador dos gastos do Governo
= =2,174
∆G 10
∆ Y 21,74 multiplicador das exportações
= =2,174
∆X 10
∆ Y 21,74 multiplicador das importações
= =−2,174
∆M 10
∆ Y 17,39 multiplicador das transferências
= =1,739
∆R 10
∆ Y −17,39 multiplicador dos tributos
= =−1,739
∆T 10

Observações importantes

 O efeito sobre o produto da economia é diferente quando o


governo gasta e quando tributa
 Se for o caso de aumentar o gasto sem alterar a renda, devera
aumentar o tributo em um montante maior do que o do gasto

Froyen: “[...] como o multiplicador de impostos é menor, o corte


apropriado dos impostos precisa ser maior que o aumento necessário nos
gastos para gerar os mesmos efeitos finais”
 Todavia, em termos de transferências e tributação, como o efeito
multiplicador são iguais em valores absolutos, basta as variações
serem equivalentes para não alterar o nível de renda e produto
Deduzindo o modelo completo
Y =C + I + G+ X−M

Em que
C=C a+ c Y d ;Y d =Y −T ;T =T g−R ;T g=T a +tY ;

Dessa forma
C=C a+ c [Y −( T a +tY −R ) ]

Deduzindo o modelo completo


Y =C a +c [ Y −( T a +tY −R ) ] + I +G+ X−M
E
M =M a +mY

Resolvendo
Y =C a +cY −c T a −ctY + cR+ I +G+ X −M a−mY

Y −cY +ctY +mY =C a−c T a+ cR+ I +G+ X− M a

Y (1−c+ ct+ m)=C a−c T a +cR+ I +G+ X −M a

Resolvendo
Y [1−c(1−t)+m]=C a−c T a +cR+ I +G+ X −M a

E assim
1
Y= .(C a−c T a +cR + I +G+ X−M a )
[1−c (1−t)+ m]
Dessa maneira, os multiplicadores são dados por
∆Y 1
= → Multiplicador doConsumo
∆ C a [1−c (1−t)+ m]

∆Y 1
= → Multiplicador do Investimento
∆ I [1−c (1−t)+m]

∆Y 1
= → Multiplicador do Gasto do Governo
∆ G [1−c (1−t)+m]

∆Y 1
= → Multiplicador das Exportações
∆ X [1−c( 1−t)+m]

∆Y −1
= → Multiplicador das Importações
∆ M [1−c (1−t )+ m]
∆Y c
= → Multiplicador das transferências
∆ R [1−c (1−t)+m]

∆Y −c
= → Multiplicador dos tributos
∆ T [1−c (1−t)+m]

Tomando um exemplo duas economias

 Em uma economia fechada


PmgC=0,8 ;PmgT =0,25PmgM=0,1=0¿ (economia fechada)

Sendo o multiplicador keynesiano dado por


1
=multiplicador keynesiano
[ 1−c (1−t )+ m ]

Substituindo na fórmula
1
=2,5
[ 1−0,8 ( 1−0,25 )+ 0 ]
Tomando um exemplo duas economias

 Em uma economia aberta


PmgC=0,8 ;PmgT =0,25 ;PmgM=0,1

Sendo o multiplicador keynesiano dado por


1
=multiplicador keynesiano
[ 1−c (1−t )+ m ]

Substituindo na fórmula
1
=2
[ 1−0,8 ( 1−0,25 )+ 0,1 ]

E dessa maneira, conclui-se que quanto mais aberta for a economia,


menor tende a ser o multiplicador de seus componentes autônomos
Há ainda outros dois desdobramentos da equação quando
 Se considera o Investimento como função da renda
I =I a +iY

 Se considera as transferências como função da renda


R=R a +rY

Para o caso do Investimento ser considerado uma função em relação a


renda
Y =C a +cY −c T a −ctY + cR+ I a +iY + G+ X−M a −mY
Y −cY +ctY +mY −iY =C a−c T a+ cR+ I a +G+ X −M a

Y (1−c+ ct+ m−i)=C a −c T a +cR+ I a +G+ X−M a

Y [1−c(1−t )+m−i]=Ca −c T a +cR+ I a +G+ X−M a

1
Y= .(C a−c T a + cR+ I a +G+ X−M a )
[1−c (1−t)+ m−i]

1
Em que: [1−c (1−t)+m−i] → Multiplicador keynesiano
Para o caso das transferências serem consideradas uma função em
relação a renda
Y =C a +cY −c T a −ctY + c R a+ crY + I +G+ X −M a−mY

Y −cY +ctY +mY −crY =C a−c T a+ c R a+ I +G+ X −M a

Y (1−c+ ct+ m−cr )=C a−c T a+ c R a+ I +G+ X −M a

Y [1−c(1−t + r)+m]=Ca −c T a +c R a + I +G+ X−M a


1
Y= .(C a−c T a + c Ra + I +G+ X −M a)
[1−c (1−t +r )+ m]

1
Em que: [1−c (1−t+r )+m] → Multiplicador keynesiano

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