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PARECER TECNICO ADPF 6524 - 4º Do Art. 57 Da CF/1988
PARECER TECNICO ADPF 6524 - 4º Do Art. 57 Da CF/1988
PARECER IURÍDICO
5 24
:23 I 6
EMENTA: Direito Constitucional. Interpretação do § 4o do art. 57, da Constituição
:32 AD
Federal, no que se refere à sua parte final. Limites constitucionais da reeleição das
mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Limites da regulamentação §
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4a do art.57, da Constituição Federal pelas Casas legislativas, no âmbito do conceito
0 - 8-
de matéria interna corporís.
02 .69
2/2 367
DA CONSULTA
1/1 4.
: 0 : 01
Fl. 7 de 28
Mnncos AunÉllo PrngRR VnmoÃo
PRopessoR pr DrRsrro CorusrrrucroNAL E TrusurÁru0
24
constituição Federal, i.e., se o dispositivo se aplica à reeleição
5
(recondução) dentro da mesma legislatura ou também em legislaturas
:23 I 6
subsequentes?
:32 AD
2) o texto remete à competência restrita (matéria interna corporis) na
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elaboração do regimento interno de cada uma das casas legislativas? E,
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se for o caso, quais os limites no exercício desta competência?
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4-
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1/1 4.
: 0 : 01
Em por
sso
pre
Im
Fl. 2 de 28
Mancos AunÉuo PrnErnn VnmoÃo
PRorsssoR ns DrRsrro CoNsrrrucroNAL E TnrsurÁru0
FUNDAMENTAÇÃO
PRIMEIRO PONTO
24
CotustrrurçÃo FrnEnRr, I.E., sE DlsposlTrvo sE epr,rce
5
(nncorunuçÃo) »rrutRo DA MESMA TEGTSLATURA ou raMsÉrr{ EM TEGTsLATURAs
:23 I 6
suBsEQUErurns?
:32 AD
transcrever o dispositivo objeto deste Parecer fcom redação dada pela
Cabe
dezembro:
t...)
1/1 4.
com vedação de reeleição para as mesas das Casas legislativas já era preexistente,
embora com outra redação. Desta forma, não foi uma inovação, embora tenha sido
Im
Y Fl. 3 de 28
Mnncos AunÉlro Prnrrnn VRmoÃo
PnorsssoR os DrRrrto CoNsrrrucr0NAL E TnreurÁnto
Art. 30. A cada uma das Câmaras compete elaborar seu regimento
interno, dispor sôbre sua organização, polícia e provimento de
cargos de seus serviços.
Parágrafo único. Observar-se-ão as seguintes normas regimentais:
24
t...)
h) será de dois anos o mandato para membro da Mesa de qualquer
5
das Câmaras, proibida reeleição. IDestacou-se).
:23 I 6
Esse dispositivo gerou muita discussão pela sua imprecisão, mas
:32 AD
possibilitava uma interpretação possível de ser a proibição da reeleição somente
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dentro da mesma legislatura, pois ao contrário, uma vez eleito um parlamentar para
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compor a mesa, nunca mais poderia se reeleger para a mesa da Casa. Para se corrigir
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que o parlamentar não tenha sido membro da mesa. Observe-se que sempre deverá
haver, pelo menos, um interstício de dois anos, entre uma eleição e a outra. Assim,
1/1 4.
: 0 : 01
"Projeto 4", o texto que foi aprovado não trazia a citada expressão. Ou seja, o tema
foi discutido no âmbito Assembleia Nacional Constituinte e a decisão foi pela
Im
redação atual [i.e., sem o termo "dentro da mesma legislatura", embora houvesse
constituintes com essa posição).2
2 Cabe aqui a referência à parte transcrita do Parecer do Consultor Legislativo do Senado Federal João
Trindade Cavalcante Filho na Nota Informativa Nq 5.128, DE 2020 da Consultoria Legislativa do
Senado Federal, de autoria do Consultor Legislativo Arlindo Fernandes de Oliveira, p. 4-5.
< Fl.4 de 28
I
Mnncos AunÉuo Prngna VnmoÃo
PRorussoR pe DrRsrro CoNsrrrucroNAl E TrusurÁru0
5 24
Enfim, não é admissível afastar, nem ampliar além do limite
:23 I 6
semântico intransponível, uma regra constitucional com base num
princípio, por ser a regra a própria solução constitucional para
:32 AD
determinado conflito de interesses. Ainda mais considerando que a
Constituição Federal não tem apenas um princípio que possa
afastar ou ampliar uma determinada regra, mas vários princípios,
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nem todos apontando numa só direção. A interpretação que se
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centra exclusivamente num princípio desconsidera o ordenamento
constitucional como um todo. O mesmo ocorre com interpretações
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3 Conforme Humberto Ávila ao tratar da eficácia externa dos princÍpios: "O mais importante aqui é
salientar a eficácia externa que os princípios têm: como eles estabelecem indiretamente um valor
pelo estabelecimento de um estado ideal de coisas a ser buscado, indiretamente eles fornecem um
parâmetro para o exame da pertinência e da valoração. ÁVIf,a, Humberto. Teoria dos Princípios: da
definição à aplicação dos princípios jurídicos. 1,7a ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2016, p.125.
Adicionalmente, as normas principiológicas não podem ser interpretadas sem que outros princípios
se interconectem a elas. No dizer de Robert Alexy: "Os princÍpios são enunciados normativos de um
alto nÍvel de generalidade que, normalmente, não podem ser aplicados sem agregar premissas
normativas adicionais e, muitas vezes, experimentam limitações por meio de outros princípios."
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação furídica: A Teoria do Discurso Racional como Teoria da
Fundamentação lurídica. Trad. Zilda Hutchinson Schild Silva. 3a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p.
255.
4 ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 1,7a ed.
Fl. 5 de 28
Mnncos AunÉlro PEnErRa VnuoÃo
PRorpssoR pr Drnslro CoNstrrucroNAL E TnrsurÁru0
24
eleição que se segue à anterior, sem nenhum qualificativo adicional. Isso quer dizer
5
que é vedada a reeleição seja dentro da mesma legislatura, seja na legislatura
:23 I 6
imediatamente subsequente. Lembrando que o termo "legislatura", na parte inicial
:32 AD
do dispositivo, é definido, no parágrafo único do art. 44 da Constituição Federal,
como sendo o período de quatro anos (coincide com a duração do mandato de
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deputado, sendo que o mandato de senador abrange duas legislaturas). Assim não
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cabe a interpretação de que poderia já na legislatura seguinte haver uma reeleição,
02 .69
do dispositivo que passaria a ter uma nova redação imaginária onde se leria "dentro
: 0 : 01
da mesma legislatura". A locução é colocada justamente no início para não dar este
Em por
ensejo, sendo o seu sentido de que marcar a obrigação de que a eleição seja feita no
início de cada legislatura (ainda que os senadores tenham mandatos
sso
< Ft.6 de 28
Mnncos AunÉlto PEngnn VnmoÃo
PRorsssoR ns Dtnetro CoNsuructoNAL E TrusurÁru0
24
Mandato/
Períodos Legislatura
5
:23 I 6
2 anos
Período A Mandato =
:32 AD
2 anos Legislatura (1)
Período B
11 92
0 - 8-
Mandato/
02 .69
Períodos Legislatura
2 anos
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Período A Mandato =
Período B
: 0 : 01
e de B para B.
Senadores (mandato de oito anos)
pre
PerÍodo A M
2 anos Legislatura 1 A
Período B N
2 anos D
Período A Legislatura 2 A
2 anos T
Período B o
é o mesmo para as duas casas, e não traz nenhuma menção a tratamento diferente.
Y. Fl.7 de 28
Mnncos AunÉllo PrnElnn VnuoÃo
PRornssoR pE DtRrtro CoNsrrruct0NAL E TnlnurÁnto
Ou seja, para Senador, a vedação para reeleição é, também, dos períodos A para B, e
24
renomados constitucionalistas e publicistas. Adiante ilustra-se com exemplos.
5
:23 I 6
|osé Afonso da Silva se manifesta sobre o tema nos seguintes termos:
:32 AD
Fica a questão de saber se isso só vale dentro da mesma legislatura
11 92
ou se também se aplica na passagem de uma para outra. 0 texto
proÍbe recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente
0 - 8-
subsequente; para nós isso significa, também, proibir a reeleição de
02 .69
6 SILVA,
José Afonso. Comentário Contextual à Consütuição. 6a ed. atual. São Paulo: Malheiros,
2008, p.430.
@ Ft.Bde28
Mnncos AunÉuo PEngnn VamoÃo
PRorssson ur DtRerro CoNsrttuctoNAL E TnlsurÁnlo
24
Senado Federal).2 [Destacou-se).
5
:23 I 6
Ou seja, A melhor intepretação é de que não é possível reeleição entre
:32 AD
legislaturas subsequentes.
11 92
0 - 8-
DoS RTCTMENTOs IrurrRnOS DAS CASAs LEGIsLATIVAS E A REGULAÇÃO DA
02 .69
Srrunoo
1/1 4.
< Ft.ede28
Mnncos AunÉllo PEnEtnn VnuoÃo
PRopnssoR oE DtRrtro CoNsrtructoNAl E TrueurÁRIo
Com a devida vênia à conclusão do citado Parecer, parece-me que houve um erro de
24
lógica e um erro conceitual, que permitiram chegar a uma conclusão incorreta. O
5
primeiro erro, de lógica semântica, está demonstrado acima no presente Parecer
:23 I 6
furÍdico, no que diz respeito à interpretação e possibilidades semânticas do
:32 AD
dispositivo. O segundo erro, de natureza conceitual, decorre de entender que a
vedação à recondução na eleição imediatamente subsequente se trataria de uma
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restrição de direito no sentido amplo do termo e, portanto, comportaria uma
0 - 8-
de 28
4/FL70
Mnncos AunÉuo Prnrtnn VRmoÃo
PRoressoR ps DIREITo CoNsrtrucl0NAL E TnleurÁru0
24
pelo Regimento Interno, que deve se ater à literalidade quando reproduz uma norma
5
expressa da Constituição Federal,
:23 I 6
:32 AD
Percebe-se que tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado ocorreu
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uma distorção na aplicação do § 4e do art. 57 da Constituição Federal. Na Câmara
dos Deputados por extrapolação dos limites normativos do próprio Regimento
0 - 8-
Ft. LL de 28
Y
Mnncos AunÉuo PrnrlRA VALADÃo
PnopsssoR os DtRrtro CoNsuructoNAL E TnleurÁru0
24
reeleição em2017).lsso porque o dispositivo do § 4o do art.57 da Constituiçáotraz
5
a previsão de eleição para mandato de dois anos, vedando reeleição, mas não traz
:23 I 6
norma que resolva a situação em caso de vacância antecipada, antes de se
:32 AD
completarem os dois anos de mandato [independentemente do motivo que possa
ocorrer). Nesse caso, há que se fazer, outra eleição para o "mandato tampão", mas
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não há regulação dessa situação na Constituição Federal. Assim, como não tem
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previsão constitucional, torna-se de competência regulatória do próprio Poder
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Legislativo. Ou seja, trata-se de matéria Ínterna corporis, tema que será analisado
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adiante. Mas veja-se, não se trata de reeleição nos mesmos termos, mas de uma
eleição para um mandato que não é o mandato de dois anos (para o qual é vedada a
1/1 4.
reeleição) e, por conta disso, e somente por conta disso, a Constituição não veda a
: 0 : 01
reeleição (o que pode ser feito via Regimento Interno, ou não, a depender do que
Em por
Ournos ASPECToS
pre
Im
B Conforme Norberto Bobbio, a lacuna ou incompletude "consiste no fato de que o sistema não
compreende nem a norma que proíbe um certo comportamento nem a norma que o permite."
BOB-BIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Trad. Maria Celeste Cordeiro Leite dos
Santos. 9a ed. Brasília: ed, UnB, t997 , p.115. No caso, tem-se norma que proíbe comportamento de
forma bastante clara (vedação à "recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente
subsequente", e sem ressalvasJ.
Fl. 1-2 de 28
€
I
24
particulares da interpretação de texto constitucional - conforme o que foi
5
anteriormente comentado.
:23 I 6
:32 AD
Observe-se, por fim, que o fato de terem ocorrido reeleições de presidentes
das Casas, mesmo após 198810, em princípio motivadas pela mudança derivada da
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Emenda Constitucional nq t6/1997,pela qual passou-se a permitir a reeleição para
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o poder Executivo, não tem o poder de impactar a interpretação do § 4q do art. 57
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e Conforme Carlos Maximiliano, assumir-se que que in claris cessat interpretaüo é um equívoco
porque não há no adágio nenhum valor científico. Ver MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e
Àplicação do Direito. 1Ba ed. Rio de faneiro: Forense, 2000, p' 33-39'
,o por e"emplo: no Senado, Antônio Carlos Magalhães, eleito em 1,997 e reeleito em 1999; e na Câmara
dos Deputaàos, Michel Temer, eleito em 1.997 e reeleito em L999 [dentre outros
casosJ.
11 SILVA, osé Afonso. Os atuais presidentes da Câmara e do Senado podem postular a reeleição? NÃO:
f
em
Fraude à Constituição. Folha ãe São Paulo. Opinião. 5 de dezembro de 1998' Disponível
<
Ft.1'3 de 28
tÇ)
MnRcos AunÉllo PEnElRn VRmoÃo
PRopnsson nr DtRslto CoNsrrructoNAL E TrusurÁru0
24
já mencionada
encontra uma barreira intransponível no presente caso que é a
5
impossibilidade semântica. Mutação constitucional não significa alteração
da
:23 I 6
literalidade do texto constitucional sem emenda formal' O eminente
:32 AD
constitucionalista e atual Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, tratando
dos
-éí) Ft' 74 de 28
Mnncos AunÉllo PrnEInR VRmoÃo
PRoFESSoR ns DtRstro CoNsuructoNAL E TntsurÁru0
Analisando os efeitos de mutação inaceitável, posto que vai além do que diz
a Constituição prossegue o constitucionalista:
24
persistência de tal disfunção identificará a falta de normatividade
da Constituição, uma usurpação de poder ou um quadro
5
:23 I 6
revolucionário, A inconstitucionalidade, deverá resolver-se, seja
por sua superação, seja por sua conversão no Direito vigente'r+
:32 AD
[Destacou-se).
11 92
Claro está que não é cabível, à vista de norma expressa com sentido
semântico preciso, que de acordo com os princÍpios hermenêuticos comporta uma
0 - 8-
Fl. L5 de 28
Mnncos AunÉlto PrnrlRn VRuoÃo
PRorrssoR oE DtRuro CoxsuructoNAL E TrusurÁru0
24
SEGUNDO PONTO
5
:23 I 6
:32 AD
2) O rnxro REMETEÀcorupErÊNcTaRESTRITA (unrÉnn INTERNAconronrs) xe
DE CADA UMA DAS CASAS LEGISLATIVAS? E,
ELABSRAÇÃo no REGIMENTo INTERNo
11 92
0 - 8-
SE FOR O CASO, eUAIS OS TIMITES NO EXERCÍC1O DESTA COrupprÊruCn?
02 .69
4)\_ Ft.16 de 28
Mnncos AunÉlto PEnElnR VRt-RoÃo
PRopsssoR os DtRstto CoNsrtructoNAl E TnlsurÁru0
24
atribuÍda ao Poder fudiciário que, via de regra, tem como entidade
máxima uma corte suprema, incumbida de pronunciar o veredito
5
definitivo sobre Direito constitucional, que é um Direito de cunho
:23 I 6
eminentemente político.to
:32 AD
A pergunta desse segundo ponto remete precisamente a esse limite, ou
11 92
limites, i.e., a se precisar os limites de interferência de um Poder em outro, o que,
0 - 8-
diga-se de passagem, não está sujeito a enumeração fechada (numerus clausus),
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aceitar pedidos de interferência. Assim, esses casos seriam não sindicáveis, e sendo
infensos ao escrutínio judicial não se lhe aplicaria o art. 5e, XXXV, da vigente
sso
referido inciso: "a lei não excluirá da apreciação do Poder fudiciário lesão ou ameaça
a direito".
16 VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira. Sustação de atos do Poder Executivo pelo Congresso Nacional
com base no artigo 49, inciso V, da Constituição de 1988. Revista de Informação Legislativa,
a. 38,
n. L53 jan/mar. 2002, P. 287 -288.
:q F\.77 de 28
Mnncos AunÉlto PenelnR VRlRoÃo
PRorgsson os DIRglro CoNsttructoNAL E TrueurÁru0
certos importantes poderes polÍticos, no exercício dos quais ele pode usar
seu
24
políticos'
caráter político e pela sua própria consciência...' Esses assuntos são
5
questões de
(S)endo confiada ao Executivo, a decisão do Executivo é conclusiva' As
:23 I 6
natureza política ou que sejam, pela Constituição e pelas leis, submetidas ao
:32 AD
Executivo, nunca poderão ser submetidas a este tribunal.". A decisão
destaca
governance),
corresponde ao que se denomina questão interna corporís (internal
do Congresso
ainda no âmbito da teoria das questões políticas, relativamente a atos
1/1 4.
sempre,
norte-americano. Nessas situações: "Frequentemente, mas certamente não
: 0 : 01
governança
a Corte tem mantido que as decisões congressionais relativas à sua
interna (internal governance) não devem ser revistas pelo judiciário federal"'2l'
Em por
sso
da doutrina (embora
Bernard Schwartz dá notícia de ocorrência que seria a primeira manifestação
pre
17
que um tribunal inglês não conheceu
não tecnicamente uma politicat question),no âno de 1,460, em
Bernard' A commentary
um pedido do Duque de york em tema de direito sucessório' Cf' SCHWARTZ'
Im
Q rt. 78 de 28
Mancos AunÉlto PEnrlnR VnmoÃo
PnopnssoR on DIREITo CoNsrtructoNAL E TnrsurÁru0
24
inicial), com proeminente atuação de Rui Barbosa, ainda no séc' XIX'22 Uma
5
especificidade da doutrina das questões políticas é a teoria das questões interna
:23 I 6
corporis, denominação que passou a ter no Brasil, especialmente para as
questões
:32 AD
afeta ao Legislativo, i.e. aos atos levados a efeito pelo Poder Legislativo para cumprir
que se seguiram, o tema dos atos interna corporis foi diversas vezes levado ao
2/2 367
Congresso Nacional). Embora o caso tenha sido prejudicado por ter o impetrante
deixado a função, conforme destaca fosé Teixeira, o ministro Themístocles
pre
Im
questões políticas e os
e.g.,HORBACH, Carlos Batiste. Controle ludicial da Atividade Política: as
22 Cf ,,
atos de governo. Revista de Informaçao Leiistativa, n. 46, !}2-abr-jun' 2009, p' L1''13; ARAGÂQ,
dapolíüca no Brasil: influência sobre atos interna corporís
Joao Caios Medeiros de. tudicializaçáo
âo Congresso Nacional. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara,
201'3,p' 104-105'
23 Cf. TÉIXEIRA, José Elaeres Marques. A Doutrina das Questões Políücas no Supremo Tribunal
(art' 68) e de
Federal. Porto Alegre: Fabris, 200!, p. 154, Cumpre notar que as constituições de L934
tratar de questões políticas' redação
L937 {art.9+) prãibiam ao Judiciário, expressamente, _De
coinciàente, ós dispositivos diziam: "É vedado ao Poder fudiciário conhecer de questões
exclusivamente políticas." Tal determinação não mais constou das constituições que se sucederam,
até hoje.
24 MS lBZg3/DF, Mandado de Segurança, Relator(a): Min. AMARAL SANTOS, Julgamento:
'Publicação:
o3lo4/t968, 29/08/Lg6g, Órgão julgador: Tribunal Pleno' Disponível em
htips //jurisprudencia'stf. jus'br/pages/search/siu
:
rt0t57 6 / false
Ft. 7e de 28
€
Mnncos AunÉuo PEnEtnn VnmoÃo
PnopnssoR os DlRslro CoNsrtrucl0NAL E TRIsurÁru0
Cavalcante não se furtou de proferir o seu voto e se manifestar sobre o tema, que
24
Baker v. Carr, todos julgados pela Suprema Corte dos EUA, bem
5
como a doutrina prevalecente do Tribunal norte-americano e no
:23 I 6
Supremo Tribunal Federal, segundo a qual " a questão deixa de ser
política, quando há um direito subjetivo a ser amparado", concluiu
:32 AD
por afirmar que, se "a questáo interna corporis poderia ser tida
como política, porque envolve o princípio da separação dos
poderes", havia perdido, nesse caso, essa característica, dado que o
11 92
titular de um direito subietivo a um cargo, disciplinado em norma
0 - 8-
regimental com assento na Constituição, apresenta-se reclamando
o seu exercício.25 (ltálicos no original).
02 .69
como assenta a doutrina norte-americana26, o certo é que nos casos tidos como
leading cases pela doutrina, nenhum há em que a Suprema Corte dos EUA se eximiu
Em por
v. McCormackzT,
Disponível em https://www.law.cornell,edu/supremecourt/text/395/a86#fn5-1-ref
<;' Ft.2o de 28
MnRcos AunÉllo PrRrtnn VauoÃo
PROFESSoR pr DtnnIro CoNsuructoNAL E TrusurÁru0
24
Esse ponto é importante porque na situação Ín casu não há que se falar em
5
lacuna, no caso de uma sucessão normal (sem interrupção durante o mandato),
pois
:23 I 6
a vedação à recondução além de expressa, é a interpretação mais adequada.
:32 AD
portanto, trata-se de interpretar a Constituição e não os regimentos [o que poderia
a extensão dos seus termos etc. No caso presente não se trata de interpretar os
Em por
regimentos das Casas, mas se trata de interpretar a Constituição, e isto não é questão
sso
do STF.
pre
Im
<' Ft.21de 28
Mnncos AunÉllo PEnrlRn VRmoÃo
PRoressoR ps DtRntro CoNsrtructoNAL E TrueurÁru0
24
Uma vez definido o sentido constitucional, o segundo passo é decidir em
que
5
pontos os regimentos internos devem seguir o mandamento constitucional. Esse
:23 I 6
segundo passo é de resolução mais simples, pois o Regimento Interno ao tratar
da
:32 AD
pois
eleição da Mesa será inconstitucional se não seguir o texto da Constituição,
violaria o procedimento definido pela constituição para a eleição dos Presidentes
11 92
das Casas do poder Legislativo. Considerando-se que um deles é o Presidente
do
0 - 8-
poder Legislativo (Presidente do Senado) e o outro fPresidente da Câmara dos
02 .69
geral,
República, é matéria de interesse geral. Como se trata de matéria de interesse
não se configura como matéria interna corporis'
1/1 4.
: 0 : 01
A se permitir que o texto de regimento interno que define uma regra básica
eleição das mesas diretoras das Casas, que inclui a vedação ou não de reeleição,
Em por
da
choque de frente com um mandamento constitucional, estar-se-ia, literalmente,
sso
competência deste controle, não o pode permitir, sob pena de o próprio STF
pre
uma
desobedecer também a Constituição. Dito de outro modo, seguir ou não seguir
Im
Assim, o texto contido no art. 5s, § 1s, do Regimento Interno da câmara dos
Deputados que diz:
=4!i; rt.22 de 28
MRncos AunÉllo PrnrtRn VnmoÃo
PRopsssoR os DtnpIro CoNsrttuctoNAL E TnlsurÁru0
reconduçãoparaomesmocargonaeleiçãoimediatamente
subsequente. ["caput" do artigo com redação dada pela Resolução
nq 19, de2072)
considera recondução a eleição para o mesmo
§ 1s Não se
cargo em legislaturas diferentes, ainda que sucessivas'
§ 2q Enquanto não for escolhido o Presidente, não se
procederá à apuração para os demais cargos' (Destacou'se)'
24
conforme
Constituição Federal e não se trata de matéria interna corporis'
5
:23 I 6
demonstrado.
:32 AD
não traz dispositivo semelhante'
fá o Regimento Interno do Senado Federal
conforme se lê abaixo: 11 92
0 - 8-
quanto
§ 1e Na constituição da Mesa é assegurada, tanto
possível, a representação proporcional dos partidos e blocos
1/1 4.
datadadiplomação.§3eNocasodevagadefinitiva'o
Em por
os trabalhos do
§ 4o Enquanto não eleito o novo Presidente,
Senado serão dirigidos pela Mesa do período anterior'
pre
já mencionado Parecer
interpretação oficial do Senado Federal consubstanciada no
nq 555/1998, claramente o faz quando diz em suas conclusões:
Quandoaexpressãofinaldo§49doart.5TdaConstituição
federal [assim também a do caput do art. 59 do Regimento Interno
para o
do Senado Federal) veda a recondução de membro da Mesa
mesmo cargo, no período imediatamente subsequente' ela
está
{in. za de 28
Mnncos AunÉllo PEnrlnR VnmoÃo
PRorsssoR oe DIRrtro CoNsrlrucl0NAL E TrunurÁru0
24
Esses aspectos e conclusões são corroborados pela jurisprudência do STF, no
5
:23 I 6
sentido de que intervenção do STF é aceita no âmbito das normas constantes de
:32 AD
que
regimentos internos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal somente no
-
diz respeito àquelas em que se reproduzem normas constitucionais como
é o caso
11 92
presente. Veja-se por exemplo, o MS 22.503-3/DF, em que ficou assentado
0 - 8-
(transcreve-se da Ementa apenas a parte que importa aqui):
02 .69
2/2 367
MS 22503-3/DF
EMENTA: [...]
t.)
1/1 4.
22503. órgão julgador: Tribunal Pleno. Relator(a): Min, MARCO AURÉLIO. Redator[a)
28 MS do
,.j.ãaã'rrain. rraa"unÍóldCoRRÊA, Julgamento: 08/05/1,996. Publicação 06/06/L997. Disponível
em <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85766>
zs MS zzLB3lDF - MANDeôo-nr 5EGURANÇ"A- Relaioiial: Min. MARCo AURÉLIO - Redator(al do
os/04fisbíPublicação: 12112/tee7 Órgãojulgador:
,.;;ãí",ü;úeuniCiocónnÉe;rtgrmento:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&doclD=85696>
* ,,.24 de 28
Mnncos AunÉllo Prnrtnn VauoÃo
PnorrssoR ou DtRsrro CoNsrltuctoNAl E TrusurÁRIo
corporÍs.30
24
que expressam entendimento semelhante, a exemplo fosé Afonso da Silva, com
5
fulcro em Hely Lopes Meirelles, reconhecendo a possibilidade de judicialização da
:23 I 6
questão, mesmo se tratando de matéria Ínterna corporis, quando houver
:32 AD
questionamento sobre observância da Constituição, ou mesmo de regimento, e
[Destacou-se).
Im
so Cita-se como exemplo, por serem referências da jurisprudência do STF: MS 20257 /DF - Relator:
Min. DÉCIO MIRANDA - Redator do acórdão: Min. MOREIRA ALVES - fulgamento:08/L0/1980 -
Publicação:27/o2/L981'-ÓrgãojuIgador:TribunalPleno.Disponívelem<
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&doclD=850 46> e MS 24831/DF -
-
Relator: Min. CELSO bS Napl,Lb IulÀamento: 22/06/2005 - Publicação: 04/08/2006. Orgáo
julgador: Tribunal Pleno. Disponível em
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>
31SILVÀ José Afonso. Os atuais presidentes da Câmara e do Senado podem postular a reeleição? NÂO:
Fraude à Constituição. Folha de São Paulo. Opinião. 5 de dezembro de 1998. Disponível em <
https: //r,vwwL.folha.uol,com.br/fsp/opiniao/fz0 5 1 29 B09.htm>
:g F\.25 de 28
Mnncos AunÉllo PEnrlRa VRmoÃo
PRorusson ne DtRrtto CoNsrlructoNAl E TrusurÁru0
Ainda que se entenda que se trate de matéria interna corporis, mas não o é,
no específico caso de aplicação do 4s do art.57 da Constituição e sua reprodução
nos regimentos internos das Casas legislativas do Congresso Nacional,
ainda assim,
24
essa matéria estaria sujeita ao controle judicial. Isso porque há violações
de direito
5
:23 I 6
tem
subjetivo envolvido na decisão pela reeleição em sequência, pois a sociedade
parlamentares,
seu direito de ver a constituição cumprida, bem como os demais
:32 AD
possíveis candidatos, Se Veem em desvantagem, no campo polÍtico, ao competir com
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quem já exerce a presidência podendo se recandidatar ao arrepio da Constituição'
0 - 8-
violando,ou restringindo, seu direito público subjetivo à candidatura em iguais
02 .69
condições.
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@" Ft.26 de 28
Mnncos AunÉllo PEnEtnn VnuoÃo
PnoressoR pB DtRstro CoNsrtructoNAL E TrusurÁru0
mera mudança
executadas sob o pálio do texto Constitucional e não a partir de uma
24
regimental inconstitucional, ou mesmo uma interpretação contra a constituição,
5
:23 I 6
em
feita ao talante da maioria que eventualmente controlar a Mesa de cada Casa,
:32 AD
detrimento da minoria.
11 92
0 - 8-
CONCLUSÕES
02 .69
2/2 367
sistemático em
Constituição Federal, seja pelo aspecto histórico, seja pelo aspecto
Em por
4e do
procedimento, a única interpretação possível é a de que o dispositivo do §
mesa
art.57 da Constituição Federal de 1988, veda a reeleição de membro da
pre
FL27 de 28
Y
Mancos AunÉlto PEnrlnn VnuoÃo
PRorrssoR »e DtRstto CoNsrttuctoNAl E TrusurÁru0
24
nos regimentos internos das duas casas legislativas federais,
Esse imperativo
eleição de suas mesas diretoras é um imperativo constitucional.
5
:23 I 6
inovação
constitucional tem natureza de regra de procedimento e não comporta
:32 AD
interpretativa regimental por não se tratar de matéria interna corporis' Os
regimentos internos não podem alterar o texto constitucional
pela via
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interpretativa, tornando-se sujeitos ao controle pelo Poder Iudiciário se o
fizerem'
0 - 8-
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F\.28 de 28
Assinado de forma digital
por LUIZ GUSTAVO
PEREIRA DA CUNHA
Dados: 2020.10.16
18:14:14 -03'00'